Um ano depois de minha exoneração do IPRI-MRE
Um ano atrás, em março de 2019, já estava claro que havia uma tropa organizada do olavo-bolsonarismo, para assassinar reputações e atacar jornalistas e mesmo assessores do governo que não se situavam na linha dos fanáticos totalitários. Fui instado a comentar a “thread” feita em torno dessa tribo, mas evitei me envolver na confusão.
Um ano depois do ocorrido, minha exoneração do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, do Itamaraty, na manhã da segunda-feira de Carnaval, 4 de março, transcrevo alguns “flashes” desses episódios, apenas para registro histórico.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/03/2020
Marlos Ápius (sic, um nome de fantasia ?) traçou, em 7/03/2019, o roteiro da ação dessa tribo, de quem transcrevo apenas alguns tweets dentre dezenas de outros:
@apyus:
“Jair Bolsonaro levou para dentro do Palácio do Planalto uma "máquina" de promover linchamentos virtuais e assassinar reputações de qualquer adversário externo ou mesmo interno.
Essa longa thread irá explicar o problema a quem ainda não o compreende.”
- O CONTEXTO
“O combate às “fake news” era uma preocupação anterior à campanha de 2018. Tanto que Luiz Fux, na condição de presidente do TSE, habituou-se a vir a público dizer que as eleições poderiam ser anuladas “por causa de fake news”.”
“Criaram perfis falsos ridicularizando o trabalho dos jornalistas Andreia Sadi, Reinaldo Azevedo, Mônica Bergamo, Patricia Campos Mello e vários outros. O próprio presidente da República seguia e compartilhava o resultado da fraude.”
“Mas antes, durante e depois da campanha, observou-se um fenômeno que ia muito além da proliferação de notícias falsas. Tocado por milhares de contas, as redes sociais foram tomadas por hordas que assassinavam a reputação de alvos específicos...”
“...até que a vítima restringisse o acesso aos próprios perfis, calasse sobre o tema que deu origem aos ataques ou, em casos mais graves, deixasse de fazer uso público da internet como um todo. Esse nítido ato de censura é o que chamamos aqui de “linchamento virtual”.
“A prática é abjeta. Além de tolher a liberdade de expressão do cidadão brasileiro, dificulta a proliferação de informações valiosas, radicaliza o debate político e afasta profissionais que agiam de boa fé – abrindo espaço à má fé explícita.”
“Com a reputação manchada, as vítimas chegam a perder empregos, enfrentam dificuldade para se recolocarem no Mercado e, em casos extremos, como o narrado por Gustavo Bebianno, vivem episódios depressivos que podem dar fim à própria vida.”
“A insanidade, contudo, parecia ter método. Porque os alvos tinham algo em comum: por formarem opiniões contrárias ou se apresentarem como eventuais adversários políticos, eram entendidos como obstáculos ao projeto de poder de Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil.”
“As vítimas podiam ser desde cidadãos comuns donos de uma opinião polêmica que viralizou, passando por jornalistas que traziam informações ou opiniões incômodas, e chegando até mesmo a presidenciáveis que, de tão agredidos, desistiam do pleito.”
“Isso, claro, levantou suspeitas de que o próprio Bolsonaro poderia estar por trás dos ataques. Com o tempo, o noticiário forneceria fortes evidências de que a suspeita tinha razão de ser.”
“Hoje, resta evidente que a prática continuou mesmo após a posse do presidente, voltando-se até mesmo contra membros do governo que de alguma forma desagradam uma ala mais radical — justo a que toca os linchamentos virtuais.”
2. CASOS EMBLEMÁTICOS:
“Qualquer cidadão que surja como um obstáculo ao discurso político de Jair Bolsonaro pode ser convertido em alvo de um linchamento virtual. Mas a preferência clara é por jornalistas que apresentam fatos ou opiniões incômodas.”
“Contudo, como surgirá nos exemplos a seguir, nem membros do Governo Bolsonaro estão livres dos ataques. Nem mesmo o vice-presidente da República.”
“Hamilton Mourão foi alvo de ataques que passaram por Olavo de Carvalho. Mas os vice-presidente descobriu que os ataques foram incentivados por Filipe Martins, assessor internacional de Jair Bolsonaro.”
“Em alguns casos, perfis falsos foram criados para ludibriar a opinião pública, com o próprio presidente da República compartilhando o resultado da fraude.”
Sobre o meu (PRA) caso, assim com sobre vários outros, Marlos Apyus coletou alguns tweets dissimulados de Filipe Martins, cada vez que ele, em estreito contato com Carlos Bolsonaro e o “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto, conseguia demitir ou afastar alguém do cenário totalitário que eles projetam para o governo Boldonaro.
Começaram pelo Secretário de Governo Gustavo Bebbiano (pelo controle da Secom), continuaram pela interdição a Ilona Szabó de uma assessoria ao ministro Sergio Moro, continuaram sabotando militares do Planalto, se rejubilaram com minha exoneração do IPRI-MRE, ganharam muitos pontos fabricando tweets falsos contra o general Santos Cruz (também por causa da Secom), atuaram na demissão do Coronel Roquetti do MEC (depois na própria demissão do ministro Vélez), e continuaram atuando todas as vezes que precisavam consolidar o seu poder no Planalto e isolar o PR de outras influências que não as da pequena tropa de totalitários olavistas.
Tweets de Marlos Ápyus (provavelmente um pseudônimo) de março de 2019, em torno do “Gabinete do Ódio” do Palácio do Planalto, na verdade uma transposição do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, do RJ:
“Filipe Martins atua oficialmente dentro do Palácio do Planalto como assessor internacional da Presidência da República, mas foi apontando como o estrategista de Jair Bolsonaro nas redes sociais desde a eleição de 2018.”
“Em 15 de fevereiro de 2019, pouco após a notícia de que Gustavo Bebianno seria exonerado, usou um salmo bíblico para atribuir a Carlos Bolsonaro o feito.”
“Filipe G. Martins
@filgmartins
Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão dum guerreiro, assim os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.”
Marlos Apyus:
“Quando os ataques surtem efeito, Filipe Martins costuma publicamente celebrar a queda de membros do governo, ainda que de forma dissimulada.”
“Há um "Math" trabalhando no Palácio do Planalto. Chama-se José Matheus Sales Gomes, ex-assessor de Carlos Bolsonaro que foi promovido a assessor do presidente da República após a posse.”
Outra postagem de Marlos Ápyus, a partir de matéria do Antagonista:
“Filipe Martins foi noticiado como alguém que teria incentivado os ataques do filósofo Olavo de Carvalho a Hamilton Mourão, vice-presidente da República.”
O Aspone “internacional” da PR na época se vangloriava do fato de ter conseguido minha (PRA) cabeça:
“Em 05 de março de 2019, foi a vez de marcar terreno no afastamento de Paulo Roberto de Almeida do Itamaraty – mais uma vez, com o cuidado para não mencionar diretamente o fato, nem o personagem.”
Tweets de 5/03/2019, um dia depois da decisão:
“A última da velha mídia é fingir que cargos de confiança existem p/ fomentar a oposição ao governo e que não admitir sabotadores é uma forma de autoritarismo, como se não houvesse instituições p/ esse fim no parlamento, nos demais entes federativos ou na sociedade civil. Risível.”
“Exonerar de cargos de confiança quem não possui o decoro mínimo p/ evitar ofensas pessoais aos seus superiores, ou quem não omite seu intuito de minar a política do governo, nem de longe é autoritarismo — é, se muito, evitar submeter-se à auto-sabotagem e ao masoquismo político.”
Em 7/03/2919, Marlos Ápyus reproduzia um trecho de postagem minha no blog Diplomatizzando:
“Disse Almeida:
"Também fui atacado ferozmente pelos olavistas, como a gente vê nas redes sociais. Os olavistas fanáticos ficam xingando seus adversários. Fui chamado de petista quando fui o único diplomata que me opus durante toda a gestão lulopetista à política externa deles."”
Uma mensagem de apoio a Filipe Martins:
“Carlos é um guerreiro que consegue exercer a vereança sem deixar de estar ao lado do pai sempre. Como os irmãos. Ah, e não é à toa que a mídia mainstream vive atacando os filhos, você, e outros assessores e ministros. É o time conservador e anti-globalista.”
Mais uma da mesma tropa de apoiadores:
“E direis a verdade e ela os libertará. Parabéns ao vc, ao Chefe MRE: Ernesto, pela luta contra o tirano maduro. Pela defesa da Democracia. Parabéns ao Presidente que exonerou o falso Bibiano que estava tramando com outros nefastos, midia e palácio. Era pra ser como PC fariasTSE”
Um alerta enviado ao FGM:
“Replying to @filgmartins
É verdade! Mas tem muita coisa que não se mostra em público! O Bolsonaro poderia ter resolvido tudo,sem que o Carlos falasse! É dar munição à toa para imprensa marrom que sempre perseguirá o Bolsonaro! É bom evitar stresses desnecessários no governo!”
Outro alerta, ainda de março de 2019:
“Aí Filipe, sei q vc está de acordo c/ tudo q foi feito, mas eu assim cm outros acreditamos q o Carlos tava certo mas errou no método.
O Felipe Moura disse a msma coisa e tá sendo execrado.
Vc cm referencial vai deixar o cara ser detonado por causa de 1 discordância de estratégia?”
E um grito de triunfo pelas “vitórias” conquistadas:
“Louvado seja Deus pelo "Clã Bolsonaro". #ForaBebianno #olavotemrazão”
Mas também tinha quem discordasse dos métodos e das táticas da tribo:
“Achei um gde equívoco exonerar Bebiano. Era algo q poderia ter sido resolvido de forma simples e silenciosa. @CarlosBolsonaro está instabilizando o governo desde o começo. É um cabeça de vento. Faz td errado. Q Deus proteja o governo Bolsonaro desse imbecil.”
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Concluo a seleção de tweets de um ano atrás (março de 2019).
Um ano depois de minha exoneração do IPRI, continuo com o mesmo estilo de trabalho que mantive durante todo o longo reinado do lulopetismo no poder, durante o qual não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, e fiz da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de leituras, reflexões e escritos, e do blog Diplomatizzando o meu quilombo de resistência intelectual.
No segundo ano do governo olavo-bolsonarista, e desde março de 2019, estou concentrado no mesmo tipo de atividade que foi a minha de 2003 a 2016: ler, me informar, refletir, produzir textos, divulgar minhas ideias e opiniões, contribuir para a melhoria da governança no Brasil, contra a horda de aproveitadores, oportunistas, patrimonialistas, que se apropriam do poder para fins particulares, muitas vezes escusos. Persistirei...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/02/2020