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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Seis décadas de livros relevantes: escolha os seus - Paulo Roberto de Almeida

Uma relação, sem qualquer ordenamento pré-determinado, sobre os livros mais importantes publicados em cada um dos anos desde 1949 até 2014. Faltam os mais recentes, que um dia farei...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/11/2019


Um registro sintético de livros que merecem ser lidos, de 1949 a 2014

Paulo Roberto de Almeida


1949:
George Orwell: 1984 (Nineteen Eighty-Four)
C. W. Ceram: Deuses, túmulos e sábios: a história da arqueologia
Victor Nunes Leal: Coronelismo Enxada e Voto
Fernand Braudel: La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II
Ludwig von Mises: Human Action: A Treatise on Economics
José Honório Rodrigues: Teoria da História do Brasil

1950:
Thor Heyerdahl: Kon-Tiki
Octavio Paz: El Labirinto de la Soledad y otros escritos
Ernet Gombrich: A História da Arte;
Will Durant: The Age of Faith (Story of Civilization, vol. 4)

1951:
J. D. Salinger: The Catcher in the Rye
Hannah Arendt: The Origins of Totalitarianism
Ludwig von Mises: Socialism: An Economic and Sociological Analysis
George Kennan: American Diplomacy

1952:
José Honório Rodrigues: A Pesquisa Histórica no Brasil;
J. A. Soares de Souza: Um diplomata do Império: Barão da Ponte Ribeiro
Ernest Hemingway: The Old Man and the Sea
Heinrich Harrer: Seven Years in Tibet
Frantz Fanon: Peau Noire, Masques Blancs
Alan Bullock: Hitler: A Study in Tirany
J. Mortimer Adler: Great Books of the Western World

1953:
Pierre Renouvin: Histoire des relations internationales (Paris: 8 vols.: 1953-1958)
Lançamento dos Cadernos do Nosso Tempo (IBESP-RJ: 5 números até 1956);
Robert L. Heilbroner: The Wordly Philosphers
Czeslaw Miloz: A Mente Cativa
Isaiah BerlinL The Hedgehog and the Fox: An Essay on Tolstoy’s View of History

1954:
Criação do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, Palácio Itamaraty (RJ)
John Kenneth Galbraith: The Great Crash of 1929
Georges Politzer: Principes Elementaires de Philosophie
Vinicius de Moraes: Antologia Poética

1955:
Costa, Hipólito José. Diário de Minha Viagem para Filadélfia, 1798-1799;
Lançamento da Revista Brasiliense (publicada até 1964);
Cornelius Ryan: The Longest Day
Claude Lévi-Strauss: Tristes Tropiques
Werner Keller: E a Bíblia Tinha Razão (The Bible as History)

1956:
Erich Fromm: The Art of Loving
João Guimarães Rosa: Grande Sertão, Veredas
C. Wright Mills: The Power Elite
Ludwig von Mises: The Anti-Capitalist Mentality
Winston Churchill: A History of the English Speaking Peoples

1957:
Boris Pasternak: Doutor Jivago
Ayn Rand: Atlas Shrugged
Mircea Eliade: Le Sacré et le Profane
Karl Popper: The Poverty of Historicism
Norman Cohn: Pursuit of the Millenium: Revolutionay Millenarians and Mystical Anarchists of the Middle Ages

1958:
Hélio Jaguaribe: O Nacionalismo na Atualidade Brasileira;
Hélio Vianna: História diplomática do Brasil;
Lançamento no Rio de Janeiro da RBPI
Jorge Amado: Gabriela, Cravo e Canela
John Kenneth Galbraity: The Affluent Society
Claude Lévi-Strauss: Anthropologie Structurelle
Hannah Arendt: The Human Condition

1959:
Carlos Delgado de Carvalho: História diplomática do Brasil;
Luis Vianna Filho: A vida do Barão do Rio Branco;
Celso Furtado: Formação Econômica do Brasil
Karl Popper: The Logic of Scientific Discovery

1960:
Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro: Atlas de Relações Internacionais;
William L. Shirer: The Rise and Fall of the Third Reich
David H. Lawrence: Lady Chatterley's Lover sells 200,000 copies in one day following its publication since being banned since 1928

1961:
Foreign Affairs: Jânio Quadros: “Brazil’s new foreign policy”;
José Honório Rodrigues: Brasil e África: outro horizonte;
René Goscinny, Albert Uderzo: Astérix le Gaulois

1962:
Boxer, Charles R. The Golden Age of Brazil, 1695-1750;
San Tiago Dantas: Política externa independente;
Alexander Soljenitsin: Um Dia na Vida de Ivan Denisovich
The works of Pierre Teilhard de Chardin are denounced by the Roman Catholic Church
Milton Friedman: Capitalism and Freedom
Thomas Kuhn: The Structure of Scientific Revolutions
John Steinbeck: Travels With Charley: In Search of America
Barbara Tuchman: The Guns of August

1963:
Hannah Arendt: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil
Morris West: The Shoes of Fisherman

1964:
Herbert Marcuse: One-Dimensional Man
Prêmio Nobel de Literatura para Jean-Paul Sartre, que recusa
Ernst Mayr: What Evolution Is
Mao Tse-tung: O Livro Vermelho do Presidente MTt (Citations from...)

1965:
Werner Baer: Industrialization and Economic Development in Brazil;
Edmar Morel: O Golpe começou em Washington
Erico Veríssimo: O Senhor Embaixador

1966:
E. Bradford Burns: The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations
Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada com cortes na URSS
Jorge Amado: Dona Flor e seus dois maridos (?)
Barbara W. Tuchman: The Proud Tower: A Portrait of the World Before the War, 1890-1914
Barrington Moore Jr.: Social Origins of Dictatorship and Democracy: Lord and Peasant in the Making of the Modern World
Carrol Quigley: Tragedy and Hope: A History of the World in Our Time

1967:
Robert T. Daland: Brazilian Planning;
John W. F. Dulles: Vargas of Brazil;
Thomas E. Skidmore: Politics in Brazil, 1930-1964: An Experiment in Democracy;
Gabriel Garcia Marquez: Cien Años de Soledad

1968:
Richard Graham: Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914;
Arthur C. Clark: 2001, A Space Odissey
Alexander Soljenitsyn: Pavilhão dos Cancerosos; O Primeiro Círculo
Paul R. Ehrlich: The Population Bomb

1969:
Werner Baer: The development of the Brazilian steel industry;
Jorge Amado: Tenda dos Milagres
Dean Acheson: Present at the Creation: My Years at the Department of State

1970:
John W. F. Dulles: Unrest in Brazil: Political-Military Crises, 1955-1964
Henri Charrière: Papillon
Alvin Toffler: Future Shock

1971:
Alfred Stepan: The Military in Politics: changing patterns in Brazil;
Alexander Soljenitsyn: Agosto 14

1972:
Frank D. McCann Jr.: The Brazilian-American Alliance, 1937-1945
Jorge Amado: Tereza Batista Cansada de Guerra
Walter Rodney: How Europe Underdeveloped Africa

1973:
John W. F. Dulles: Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1935;
Moniz Bandeira: Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história;
Celso Lafer e Felix Peña: Argentina e Brasil no sistema de relações internacionais;
Golpe no Chile (11/09): morte de Victor Jara, no Estadio (16), assassinado, e de Pablo Neruda (23),
Alexander Soljenitsyn: novela O Arquipélago de Gulag, escrita em 1958-1968, publicada em Paris, de um manuscrito contrabandeado da URSS;
Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada completa na URSS
Mario Vargas Llosa: Pantaleón y las visitadoras
E. F. Schumacher: Small is Beautiful

1974:
Alexander Soljenitsyn, preso e expulso da URSS; seus livros começam a ser publicados no Ocidente.
John Le Carré: Tinker, Tailor, Soldier, Spy
Nicholas Meyer: The Seven-Percent Solution

1975:
Stanley E. Hilton: Brazil and the great powers, 1930-1939: the politics of trade rivalry; Brazil and the Internacional Crisis: 1930-1945;
Romain Gary, escrevendo sob o pseudônimo de Émile Ajar, ganha o Goncourt pela segunda vez, com o romance: La Vie Devant Soi
Philip Agee: Inside the Company: CIA Diary

1976:
Luciano Martins: Pouvoir et Développement Économique: formation et évolution des structures politiques au Brésil;
Alex Haley: Roots: The Saga of an American Family
Ira Levin: The Boys From Brazil
Richard Dawkins: The Selfish Gene
Michel Foucault: Histoire de la Sexualité: 1. La volonté de Savoir
Jean-François Revel: La Tentation Totalitaire

1977:
Ronald Schneider: Brazil: Foreign Policy of a Future World Power
Pedro Malan et ali: Política econômica externa e industrialização do Brasil (1939-52)
Jorge Amado: Tieta do Agreste
Alfred D. Chandler Jr.: The Visible Hand: The Managerial Revolution in American Business

1978:
Dulles, John W. F. President Castelo Branco: A Brazilian Reformer;
Lançamento em Brasília da revista Relações Internacionais (UnB);
Graham Greene: The Human Factor

1979:
Peter Evans: Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and Local Capital in Brazil
Henry Kissinger: White House Years

1980:
Gerson Moura: Autonomia na Dependência: 1935-1942
Umberto Eco: Il nome della Rosa
Carl Sagan: Cosmos
Alvin Toffler: Third Wave
Mario Vargas Llosa: La Guerra del Fin del Mundo
Martin Cruz Smith: Gorky Park
Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man

1981:
Stanley Hilton: Hitler’s Secret War in South America;
Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man
Gore Vidal: Creation

1982:
Laurence Hallewell: Books in Brazil: a history of the publishing trade

1983:
Lançamento em São Paulo da revista Política e Estratégia (Soc. Convívio);

1984:
O ano de George Orwell:
Barbara W. Tuchman: The March of Folly: From Troy to Vietnam

1985:

1986:
Gerson Moura: Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana;
A. L. Cervo e C. Bueno: A Política Externa Brasileira, 1822-1985;
Richard Dawkins: The Blind Watchmaker

1987:
Steve Topik: The Political Economy of the Brazilian State, 1889-1930
Paul M. Kennedy: The Rise and Fall of the Great Powers: Economic Change and Military Conflict From 1500 to 2000

1988:
Thomas Skidmore:  The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85;
Winston Fritsch: External constraints on economic policy in Brazil, 1889-1930
Stephen Hawking: A Brief History of Time
Prix Goncourt: Erik Orsenna: L'Exposition coloniale

1989:
Gerald K. Haines: The Americanization of Brazil: a study of U.S.: cold war diplomacy in the Third World, 1945-1954
Moniz Bandeira: Brasil-Estados Unidos: A Rivalidade Emergente, 1950-1988;
Gelson Fonseca Jr. e Valdemar Carneiro Leão (orgs.): Temas de Política Externa Brasileira I;
João H. P. de Araújo, M. Azambuja e Rubens Ricupero: Três Ensaios sobre Diplomacia Brasileira
Khomeiny decreta uma fatwa contra Salman Rushdie por causa dos Versos Satânicos; em 1991 o tradutor japonês seria esfaqueado e morto, na Universidade Tsukuba, segundo a fatwa.
Umberto Eco: O Pêndulo de Foucault

1990:
Gerson Moura: O Alinhamento sem Recompensa: a política externa do Governo Dutra

1991:
Gerson Moura: Sucessos e Ilusões: relações internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial;
Rubens A. Barbosa: América Latina em perspectiva;

1992:
A. L. Cervo; Clodoaldo Bueno: História da Política Exterior do Brasil;
Lançamento da revista Política Externa (SP: Ed. Paz e Terra-NUPRI/USP);

1993:
Paulo R. Almeida: O Mercosul no contexto regional e internacional;
1º número da série de Brasília da Revista Brasileira de Política Internacional;

1994:
Roberto Campos: A Lanterna na Popa;
Vasco Leitão da Cunha: Diplomacia em Alto Mar;

1995:
José H. Rodrigues e Ricardo Seitenfus: Uma História Diplomática do Brasil);
MRE: A Palavra do Brasil nas Nações Unidas: 1946-1995;
Moniz Bandeira: O Expansionismo Brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata;
R. Ricupero: Visões do Brasil;
C. Bueno: A República e sua Política Exterior

1996:
Steve Topik: Trade and Gunboats: The United States and Brazil in the Age of Empire;
Lançamento da revista Parcerias Estratégicas (CEE-SAE);

1997:
Marshall C. Eakin: Brazil: the once and future country;
Iris Chang: The Rape of Nanking
Jared Diamond: Guns, Germs and Steel

1998:
Thomas M. Cohen: The Fire of Tongues: Antonio Vieira and the Missionary Church in Brazil and Portugal;
Moniz Bandeira: De Marti a Fidel: a revolução cubana e a América Latina;
Paulo R. Almeida: Relações internacionais e política externa do Brasil;

1999:
Paulo R. Almeida: O Brasil e o multilateralismo econômico; O estudo das relações internacionais do Brasil;

2000:
H. W. Brands: The First American: the Life and Times of Benjamin Franklin

2001:
Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: en route toward the First World;
Paulo R. Almeida: Os primeiros anos do século XXI: relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2001)

2002:
Stephen Jay Gould: I Have Landed
Francisco Doratioto: Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai;
Rubens A. Barbosa Marshall Eakin e Paulo R. Almeida (orgs.): O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000;
Carlos Henrique Cardim e João Almino (orgs.): Rio Branco, a América do Sul e a Modernização do Brasil;

2003:
Clodoaldo Bueno: Política externa da Primeira República: os anos de apogeu
Moniz Bandeira: Conflito e integração na América do Sul: Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da Tríplice Aliança ao Mercosul 1870-2003);
Valerio Mazzuoli e Roberto Luiz Silva (orgs.): O Brasil e os acordos econômicos internacionais;
Ricardo Seitenfus: O Brasil vai à Guerra: o Processo do Envolvimento;

2004:
Jared Diamond: Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed;
Moniz Bandeira: As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004);
Luís Claudio V. Gomes Santos: O Brasil entre a América e a Europa: o Império e o interamericanismo (do Congresso do Panamá à Conferência de Washington;
Demétrio Magnoli: Relações Internacionais: teoria e história;

2005:
Tony Judt: Postwar: A History of Europe since 1945
Jung Chang & Jan Halliday: Mao: the Unknown Story;
Paulo Roberto de Almeida, Rubens A. Barbosa: Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências;
Moniz Bandeira: A formação do Império Americano;

2006:
Richard Dawkins: The God Delusion;
Eugênio Vargas Garcia: Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920;
Fernando Mello Barreto: Os Sucessores do Barão: relações exteriores do Brasil, 1964-1985;

2007:
Christopher Hitchens: God is not Great;
Luís Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (organizadores): A Abertura dos Portos;
Carlos Henrique Cardim: A Raiz das Coisas: Rui Barbosa, o Brasil no Mundo;

2008:
Sérgio Corrêa da Costa: Le nazisme en Amérique du Sud: Chronique d’une guerre secrete 1930-1950;
Vasco Mariz: Temas da política internacional: ensaios, palestras e recordações diplomáticas;

2009:
Guy Sorman: Economics does not lie;
Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão: A Revolução de 1817 e a História do Brasil: um estudo de história diplomática;

2010:
Mario Vargas Llosa: El Sueño del Celta;
Denis Rolland; Antônio Carlos Lessa (coord.): Relations Internationales du Brésil;

2011:
Richard Dawkins: The Magic of Reality: How We know What’s Really True?
Daniel Yergin: The Quest;
Paulo Roberto de Almeida: Globalizando, ensaios sobre a globalização e a antiglobalização;
Alberto da Costa e Silva (coord.): História do Brasil Nação: 1808-2010; vol. 1: Crise Colonial e Independência: 1808-1830;
Eugenio Vargas Garcia: O Sexto Membro Permanente: o Brasil e a criação da ONU;
Rubens Barbosa: O Dissenso de Washington: relações Brasil-Estados Unidos;
Sidnei J. Munhoz e Francisco Carlos Teixeira da Silva (orgs.), Relações Brasil-Estados Unidos: séculos XX e XXI;

2012:
Manoel Gomes Pereira (editor), José Maria Paranhos da Silva Jr.: Obras do Barão do Rio Branco (12 vols.);
Manuel Gomes Pereira (org.): Barão do Rio Branco: 100 Anos de Memória;
Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos (curador): Rio Branco: 100 anos de memória;
Paulo R. de Almeida: Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização;
Fernando de Mello Barreto: A Politica Externa Após a Redemocratização (2 vols.);
Luís Cláudio Villafañe G. Santos: O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira;

2013:
José Vicente Pimentel (org.): Pensamento Diplomático Brasileiro, 1750-1964 (3 vols.);
Paulo R. de Almeida: Integração Regional: introdução;
Vasco Mariz: Nos bastidores da diplomacia: memórias;
Rogério de Souza Farias: A palavra do Brasil no sistema multilateral de comércio (1946-1994);
Synesio Sampaio Goes Filho: As Fronteiras do Brasil;

2014:
Paulo Roberto de Almeida: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais;
Francisco Doratioto: O Brasil no Rio da Prata (1822-1994);
Luiz Felipe Lampreia: Aposta em Teerã: o acordo nuclear entre o Brasil, Turquia e Irã;
Lauro Escorel: Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel (3a. ed.);
Fernando Cacciatore de Garcia: Como Escrever a História do Brasil: Miséria e Grandeza;  

Memórias Intelectuais (2009) - Paulo Roberto de Almeida


Memórias Intelectuais
Uma biografia das ideias que permearam a minha vida

Paulo Roberto de Almeida
Concepção e primeira redação em 18.10.2009
(numa dessas noites de insônia)
Revisão resumida: 22.12.2009
Postado nesta versão no blog DiplomataZ (1.01.2010;


Uma pequena introdução que se poderia chamar de metodológica
Comecei a conceber a redação destas “memórias intelectuais” numa dessas noites de insônia que me acontecem frequentemente. Não que eu seja um insone ou que tenha dificuldades para dormir, ao contrário: como estou sempre lendo, ou escrevendo, no limite de minhas possibilidades físicas, quando vou dormir já estou dormindo em pé, ou sentado em frente ao computador, não sendo raro que eu cochile quase em cima do teclado, abatido pelo cansaço do dia, das muitas leituras, da fadiga visual em face da tela, da falta de sono enfim. Quando vou para a cama, portanto, caio como uma pedra e durma apenas o suficiente, pois necessariamente tenho de acordar antes de ter feito o ciclo completo de sono, antes de gozar daquele sono reparador que todos os médicos recomendam, seja porque tenho de trabalhar, seja porque tenho de dar aulas, o que para mim não é exatamente o mesmo que um trabalho, e sim o equivalente de um hobby, uma atividade que assumo voluntariamente, mais por prazer do que por necessidade.
Ocorre, porém, que, em algumas ocasiões, eu não consigo pregar o sono de imediato, seja porque minha cabeça fervilha com novas ideias adquiridas ao sabor das leituras cotidianas, seja porque algum outro problema perturbou o meu sono, apenas algumas horas depois de tê-lo iniciado.  

Pois aqui estou eu, tentando dar início a uma nova obra que vai, provavelmente, ocupar outras noites de insônia ao longo dos próximos meses e anos à frente, na redação paulatina, gradual, lenta e necessariamente interrompida do que eu chamei de “memórias intelectuais”, que nada mais são, como indica o subtítulo, do que uma história das ideias que permearam a minha vida. Por que isso? Por que esse título e não uma simples biografia ou memórias de vida, como todo mundo faz? Já explico.
Como qualquer leitor contumaz, também li muitas histórias de vida: grandes e pequenas biografias, autobiografias, relatos de vidas de homens (e mulheres) famosos, extratos de aventuras fabulosas (algumas verdadeiras, outras semi-inventadas), notas pessoais, currículos, enfim, uma variedade de escritos pessoais que sempre me interessaram mais pelo lado das ideias do que propriamente pelos feitos ou eventos. Sou assim, fascinado pelas ideias e pelos processos mentais, mais até do que pelos feitos e acontecidos. Interesso-me particularmente pelas reflexões e elaborações mentais dos homens (e mulheres, para não deixar de ser politicamente correto) que representaram alguma importância na história da humanidade. Lembro-me de ter lido, ainda em minha infância ou primeira adolescência, diversas biografias de grandes homens (e algumas mulheres) de autores como Hendryk Van Loon, Stefan Zweig, Monteiro Lobato (este mais um adaptador, do que um verdadeiro biógrafo) e vários outros autores.
Nunca imaginei, pelo menos até alguns anos atrás, escrever minha própria biografia, e continuo achando que não tenho nada de particularmente interessante a dizer em matéria de relato de vida: a minha não foi suficientemente relevante no plano nacional, ou interessante no plano individual, para merecer uma biografia no sentido clássico, inclusive porque não sou um homem de grandes realizações práticas ou de qualquer impacto na vida nacional. Tampouco prestei depoimentos, até o presente momento, nem jamais mantive diários ou anotações regulares quanto a minhas atividades e ocupações. Sou, sim, um homem de leituras e de anotações, mas isso de livros, basicamente, o que faço de forma totalmente desorganizada e anárquica – o que parece redundante, mas não é – sem qualquer preocupação com o ordenamento sistemático dessas notas ou seu alinhamento cronológico. Simplesmente, me interesso por tanta coisa, e leio tantos livros diferentes, que sempre me foi impossível manter uma linearidade nas anotações de maneira a sustentar qualquer relato ordenado sobre a minha vida, se ela fosse relevante, ou sobre as minhas ideias, se por acaso eu tivesse um punhado delas representativa de alguma grande “filosofia” particular, o que obviamente não é o caso. Meu anarquismo literário e redacional nunca me permitiu manter notas organizadas o suficiente para escrever o que se chama classicamente de biografia, ainda que de simples ideias.
Por que, então, me permito chamar estas minhas anotações de “Memórias Intelectuais”, um título aparentemente prometedor e, ao mesmo tempo, enganador? Não sou um intelectual, pelo menos não oficialmente: não me reconheço como tal, e não creio que eu seja conhecido como tal. Sou simplesmente um homem de leituras e de escritos, os mais diversos, tocando um pouco em todas as áreas das humanidades, o que faço mais de metido do que de sabido. O adjetivo “intelectuais” apegado ao substantivo memórias quer dizer simplesmente que este meu relato não é de vida, propriamente, nem de eventos ou de processos reais que aconteceram comigo, mas sim de elaborações mentais, de ideias, como aliás confirmado pelo subtítulo, como já escrevi acima. Ou seja, eu pretendo, sobretudo, tratar das ideias que eu defendi, que eu “freqüentei”, que permearam a minha vida ao longo de cinco ou seis décadas (dependendo de quando se deve começar a contar minha vida “intelectual”).
Não são todas ideias minhas, está claro, e sim ideias que movem o mundo, como já disse, a propósito de um livro seu, o historiador Felipe Fernandez Armesto (ver o seu Ideas That Changed the World, publicado em 2003, um livro que já resenhei, em sua edição brasileira). São, especialmente, ideias que movimentaram o meu mundo, ou que pelo menos influenciaram a minha formação, o meu pensamento, e algumas das minhas ações (sim, também as houve, e as relato aqui, conforme apropriado, mas sem muita ênfase, preferindo ficar mesmo no terreno das ideias). Não sei se sou um homem de ideias, mas sou, sim, um homem que viveu com ideias, para ideias e em função de ideias, embora (pelo menos acredito) sempre com um sentido prático, isto é, sempre com a intenção de colocá-las em “funcionamento”, ainda que poucas tenham de verdade “funcionado”. Isso nunca me deixou frustrado, ao contrário, pois eu atribuo às ideias as mais importantes transformações do mundo, ainda que nem todas tenham tido esse poder. Vale uma pequena elaboração a esse respeito, o que faço agora, à maneira de parênteses.

O mundo, na concepção marxista e materialista – à qual eu aderi, voluntária e conscientemente, por boa parte de minha juventude e da vida adulta – é movido por forças materiais, por processos objetivos, que emergem do entrechoque de interesses sociais (de classe, obviamente) e do confronto entre relações sociais, algumas decadentes, outras, as vencedoras, avançadas, ou correspondendo a uma etapa superior das forças produtivas. No máximo os homens são prisioneiros de ideias do passado, segundo a fórmula de Marx no Dezoito Brumário. Keynes também disse algo semelhante, a respeito de ser a geração atual (qualquer uma) prisioneira de economistas mortos, o que se aplica perfeitamente ao seu próprio caso e à geração atual, ainda presa às suas ideias dos anos 1930, ou seja, de duas gerações passadas.
As ideias são algo importante, e coisas vivas, no entanto. São elas que dão sentido à nossa existência consciente, são elas que guiam as nossas ações, são elas que nos impelem a novas aventuras do espírito ou empreendimentos práticos, são elas, finalmente, que sustentam a defesa de alguns princípios e valores que julgamos relevantes, seja para a “economia política” de nosso comportamento, seja para a elaboração de algum julgamento moral sobre nossas próprias ações e as dos outros. Ideas do matter, dizem os ingleses, ou americanos, whoever... As ideias têm importância, e elas tiveram uma tremenda importância em minha vida, toda ela feita de leituras, reflexões, escritos e debates em torno de ideias, todas elas, as minhas, ou seja, as que eu adquiri com leituras ou pessoas mais espertas, as emprestadas ocasionalmente, as dos outros, com as quais eu poderia concordar, ou não, assim como ideias que eu já defendi e que depois vim a recusar, até mesmo rejeitar, e que passei a combater, como foi o caso com boa parte de minha formação intelectual marxista da primeira juventude (depois explico como foi isso).
Não tenho nenhum problema em aceitar, confessar, reconhecer essa mudança de ideias, de percepções, de atitudes em minha vida juvenil e adulta, posto que a vida é um processo continuo de incorporação de novas ideias, de sua submissão aos testes da lógica formal e da realidade, e da sua sustentação ou rejeição em função dos resultados desses “testes”, que nada mais são do que experiências de vida, novos aprendizados, incorporação de conhecimentos, aceitação de novos princípios e fundamentos para a ação social. Repito aqui o que Keynes parece ter dito, uma vez, a um interlocutor que o acusava de ter mudado frequentemente de ideias: “sim, eu mudo de ideias cada vez que muda a realidade; e você, o que faz?”

Este livro, portanto, não se ocupa apenas de minhas ideias, ainda que seja difícil distinguir o que é meu e o que pertence aos seus autores originais, na minha incorporação particular, individual, das ideias que li ou ouvi ao longo de uma vida extremamente bem recheada de leituras e de palestras, a que assisti ou de que participei, interagindo com membros da mesa ou com o público inquisidor (sim, sempre acreditei que aprendemos muito com nossos interlocutores, mesmo os que nos contestam, como ocorre ocasionalmente com alguns alunos e mais frequentemente com outros debatedores). São ideias que “estavam no ar”, que eu peguei, usei, transformei, reelaborei, introduzi em novas ideias que eu mesmo possa ter elaborado e que sai por aí, distribuindo à vontade, em meus escritos, aulas e palestras. Fiz isso durante toda a minha vida adulta, seja na profissão diplomática, seja nas lides acadêmicas, assumidas em caráter voluntário e em tempo parcial durante quase todo o tempo em que fui diplomata de carreira.
Sim, sou daqueles que acreditam e defendem ideias próprias, mesmo trabalhando numa corporação de ofício, a casta dos diplomatas, que tem algo de Vaticano em sua maneira de ser e em sua forma de proceder. Na veneranda Casa que foi minha durante várias décadas, um funcionário subalterno é suposto acatar ideias dos superiores, quando não defendê-las como se fossem suas. Consoante meu espírito anarquista e libertário, eu nunca fiz isso, jamais; sinceramente não me lembro de ter alguma vez acatado, em sã consciência ideias “superiores” apenas porque elas emanavam dos semi-deuses que nos governavam, quando eu era secretário: conselheiros, ministros, embaixadores. Sempre formulei alguma observação, seja para assinalar minha concordância (quando eu efetivamente concordava com o que estava sendo exposto), seja para argumentar em algum outro sentido (quando eu tinha alguma objeção de princípio ou alguma observação tópica a fazer a respeito do assunto em pauta). Nunca fui daqueles que quando parte para o trabalho deixa o cérebro em casa, ou deposita a sua capacidade de reflexão na portaria, ao adentrar no serviço: sempre levei comigo minha disposição a pensar com minha própria cabeça e a levantar elementos factuais ou argumentos opinativos, sempre quando o tema tratado me parecia padecer de alguma inconsistência formal ou de deficiência substantiva. Nunca tive qualquer hesitação em contestar chefes ou outros superiores em reuniões de trabalho, acumulando com isso (pelo menos suspeito) sólidas inimizades ao longo da carreira (não de minha iniciativa, mas provavelmente da parte dessas personalidades contestadas, que provavelmente nunca toleraram a arrogância desse mero secretario ou conselheiro que ousava discordar de suas brilhantes ideias e propostas).
Sou assim, e não me escuso de sê-lo, pois acredito que devemos ser, publicamente, como somos na intimidade, ou seja, nos comportar exatamente como comandam nossos instintos, modo de ser, vocação inata. Eu nasci para ser um leitor, um “absorvedor” e um processador de ideias, e tendo a expressar as minhas, conforme julgo apropriado ou oportuno. Se os demais, os superiores, não concordam com elas, não me importo minimamente, pois considero que num mundo de ideias, como o que vivemos, devemos sempre lutar para que as boas ideias prevaleçam sobre as más, ou inadequadas. Não sou, nem me considero, um “salvador” da humanidade, pelas ideias ou pelas ações, mas considero, sim, que a humanidade pode e deve avançar pela defesa das boas ideias, pela sua prevalência sobre as más, ou negativas, pela promoção das soluções “corretas” aos enormes problemas da humanidade, de pobreza, de desigualdade, de injustiça, de infelicidade. Sim, também tenho esse lado um pouco milenarista ou messiânico de pretender “melhorar” a humanidade pela ação consciente dos homens de bem, dos cientistas, dos engenheiros, dos humanistas, que buscam algo mais na vida do que o simples prazer pessoal ou a satisfação individual. Considero-me comprometido com uma causa superior, que é, em primeiro lugar, a elevação espiritual, ou “mental”, da humanidade, base indispensável para sua elevação material, ou para a busca incessante de melhores padrões de vida para o maior número.
Talvez seja esse o legado de meu passado socialista ou marxista: pretender “melhorar” a humanidade, ainda que eu tenha há muito desistido de qualquer projeto de “engenharia social”, ou seja, a pretensão de mudar os homens para mudar a sociedade, como ocorreu na triste história do socialismo real ao longo do século 20. O “homem novo” deve ser simplesmente construído em nível individual, pela educação de qualidade, livre, diversificada, totalmente liberta de qualquer crença fundamentalista – como o marxismo esclerosado, por exemplo – e não imposto por qualquer programa de “reeducação social” mediante projetos autoritários de transformação social, como os conhecidos nessa triste experiência político-messiânica. Dessas ideias eu creio que me libertei, a partir da juventude tardia e da entrada na etapa adulta de minha vida, ainda que eu não tenha conseguido me libertar desse ideia básica de pretender promover o “bem comum” e a “felicidade dos povos” (mas, aqui e agora, sem qualquer sentido autoritário ou mandatório). De todas as minhas visitas e experiências no socialismo real – o que poucos intelectuais do mundo capitalista realmente fizeram – retirei a certeza de que o sistema criado pelo partido de vanguarda trouxe mais infelicidade do que bem-estar aos povos que pretendeu transformar, e nem sempre num sentido meramente material, de disposição de bens correntes; no mais das vezes, a miséria moral e a degradação dos indivíduos foram bem mais relevantes do que a penúria de bens e serviços.

Creio que os parágrafos acima já oferecem um resumo do que são as ideias que pretendo discutir neste ensaio de biografia intelectual, basicamente uma historia das ideias para consumo próprio, uma espécie de balanço de uma vida de leituras, de reflexões e de escritos, que foi tudo o que me foi dado fazer ao longo de uma carreira diplomática e acadêmica sem muitas emoções ou grandes acontecimentos. Talvez as poucas ideias aqui contidas possam servir de motivo de reflexão aos mais jovens, aqueles que como eu começam ou começaram a sua vida cheios de entusiasmo juvenil por grandes projetos de transformação do Brasil e do mundo. Eu fiz a minha parte, tentei, sim, transformar o Brasil – nem sempre no bom sentido, confesso, como quando pretendia fazer do país uma economia socialista, seguindo o exemplo cubano – e tentei, depois, ajudar na transformação do mundo, seja como diplomata, seja como professor, seja ainda como autor de alguns escritos que podem ter influenciado a formação de alguns poucos jovens que tiveram contato com esses escritos.
Uma coisa é certa: ainda que eu possa ter errado algumas (ou muitas) vezes, eu sempre tentei ser honesto comigo mesmo e com as ideias que estavam à minha disposição, ou seja, ao usá-las de modo racional e sempre visando ao bem comum. A honestidade intelectual não é apenas uma virtude, para mim, mas uma necessidade imperiosa, uma condição inseparável de minha personalidade e disposição de vida. Nunca consegui defender ideias nas quais não acreditava, nunca fui hipócrita no trabalho diplomático ou acadêmico, sempre defendi (e expressei) o que pensava, mesmo ao risco de prejuízos materiais ou morais. Nunca me escondi atrás de “falsas ideias”, apenas para contentar um superior ou sugerir uma ilusória concordância intelectual com quem quer que seja na academia, e por isso mesmo devo ter granjeado inimizades e criado alguns problemas para mim mesmo, aqui e acolá. Isso nunca me importou: sempre preferi estar em paz com minha consciência do que ganhar algum favor de um superior por submissão a ideias que não defendo ou que rejeito. Nunca fui carreirista, numa ou noutra “profissão”, aliás, nunca me classifiquei apenas como diplomata ou como acadêmico; sempre disse que eu era diplomata, ou professor, mas em meus escritos e palestras eu me apresentei sempre como sociólogo ou “doutor em ciências sociais”, conforme o caso, o que são títulos, não condições profissionais. Acho que nunca escrevi como diplomata – ou seja, a langue de bois, ou o bullshit, típicos da profissão e da linguagem diplomática – e tampouco me comportei como acadêmico, ou seja, apenas um pesquisador ou professor de uma instituição de ensino e pesquisa.
Sempre fui um ser livre, tanto quanto me permitiram minha condição de servidor público e de contratado de uma instituição de ensino, ou seja, cumprindo minhas obrigações mínimas, mas me reservando o direito de pensar com minha própria cabeça e de expressar o que me ia na cabeça, por vezes de forma algo agressiva, reconheço. Mas é porque o meu entusiasmo pelas ideias, meu cuidado em recolhê-las dos livros e colocá-las à disposição dos demais, meu empenho em “ensinar” aos outros as “boas ideias” são tais que em algumas (ou varias) ocasiões eu acabei me chocando com ideias antigas, conservadoras, inadequadas, incorretas, francamente equivocadas. Isso seria porque minhas ideias eram melhores do que as dos outros? Talvez, e aqui confesso algum orgulho de estar um pouco à frente de meus contemporâneos, exclusivamente em função de minha obsessão pela informação, pelo conhecimento, pela argumentação lógica e bem fundamentada. Sim, eu me impaciento com a lentidão de algumas pessoas (talvez a maioria) em perceber a realidade, que está ali, à disposição de quem quer ver, bastando se informar corretamente – mas a maioria das pessoas lê pouco e se informa de maneira deficiente – e refletir com base em preceitos mínimos da lógica formal e da argumentação bem sustentada. Não tenho culpa se sempre tive mais informações do que a média de meus colegas de trabalho e de academia: isso foi alcançado ao custo de muito sacrifício, de muitas noites de leitura, de muito esforço em buscar e apreender os dados da realidade. Como estou fazendo agora mesmo, neste momento de reflexão e de registro de minhas memórias intelectuais. Mas, encerro no momento, pois já são 9h25 de uma manhã de domingo, e eu vou dormir um pouco antes de retomar minhas leituras e lides acadêmicas um pouco mais tarde. Boa noite (ou bom dia).

Brasília, 18.10.2009
Revisão: 22.12.2009