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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 9 de março de 2019

Olavo, o mal informado, o maledicente, o ridiculo: PRA como orientador de tese de doutorado

Em uma postagem recente, feita diretamente por ele, o sofista da Virgínia, o Rasputin de subúrbio, depois de afirmar pela enésima vez que me "deu uma surra" sobre a questão desse monstro metafísico que ele mesmo criou, o tal de "globalismo" – sofistas são assim, eles acham que suas próprias palavras "provam" qualquer coisa –, diz que eu sou orientador do Cel. Roquetti, que faz parte do gabinete do ministro da Educação.
Tenho de desmenti-lo gentilmente, pois não chego a tanto. Apenas dei parecer sobre um projeto de tese que recebi no primeiro semestre de 2017. Nada mais do que isso e apenas isso.
Para provar o que digo – não tenho os hábitos dos sofistas – transcrevo aqui a ficha desse trabalho e logo em seguida o próprio. Apenas limitei-me a apontar questões tópicas em um projeto que se destinava a ser aceita por algum outro orientador no curso de Ciências Políticas da Universidade Católica de Portugal, o que não sei se aconteceu. Se eu fosse orientador, eu teria conversado com o candidato e alterado profundamente objeto, metodologia, escopo e objetivos desse trabalho de tese. Limitei-me ao essencial, uma vez que sou apenas orientador dos alunos que tenho nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub. Não era o caso desse projeto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de março de 2019

3118. “Notas a projeto de tese de doutoramento”, Brasília, 22 maio 2017, 5 p. Comentários e observações ao projeto de tese do Cel Av R1 Ricardo Wagner Roquetti, sob o título de “Força Aérea e a Guerra Cultural: Estudo Comparativo entre o Ensino da Liderança da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e seus Centros de Gravidade Ético e Axiológico”.



Projeto de Tese de Doutoramento

[Observações Paulo Roberto de Almeida]

Força Aérea e a Guerra Cultural: Estudo Comparativo entre o Ensino da Liderança da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e seus Centros de Gravidade Ético e Axiológico.
[A primeira observação que se poderia fazer quanto ao título, e que se supõe seja o próprio tema do tese, é quanto à equivalência de objetos, de um lado a FAB e de outro a OTAN. Ora, a FAB é um dos componentes das FFAA brasileiras, que representam uma das instituições do Estado, junto com outros ministérios, no quadro do Executivo, que é um dos três poderes de um Estado soberano. A OTAN, por sua vez, é uma organização internacional plurilateral, congregando um número limitado de atores possuindo afinidades políticas, baseadas no conceito de solidariedade coletiva (nisso assemelhando-se e retirando seus princípios e valores de uma entidade precedente, o TIAR), e possuindo FFAA organizadas segundo um duplo comando: o político (que é o Conselho dos Estados membros da OTAN) e o militar, a cargo de um comandante de seu dispositivo militar, uma força militar plurinacional, retirando componentes das FFAA nacionais (e alguns outros corpos ad hoc) de seus Estados membros. Não existe, a priori, portanto, uma equivalência ou identidade institucional entre esses dois “animais”, embora isso não devesse impedir um estudo do “ensino da liderança” e cada um deles. Deve-se, no entanto, considerar que tarefas, mandatos, atribuições, formas de organização, comandos e, sobretudo, valores e princípios podem ser diferentes qualitativamente, de um para o outro “animal”. Caberia, por outro lado, definir logo ao início do projeto de tese, o que seriam, exatamente, esses “centros de gravidade ético e axiológico”, que podem ser percebido prima facie pela próprio conceito, primariamente tomado, mas que requer uma definição mais elaborada.]
  
Projeto de Tese de Doutoramento a ser apresentado à Universidade Católica Portuguesa para a obtenção de título de Doutor em Ciências Políticas e Relações Internacionais, especialização em Segurança e Defesa.
Cel Av R1 Ricardo Wagner Roquetti

Sob as Orientações dos:
Prof. Doutor Paulo Roberto de Almeida
Prof. Doutor Ricardo Vélez-Rodríguez



Capítulo 1 – Identificação do Tema a ser pesquisado
Em 2015, a Força Aérea Brasileira (FAB), como um todo, e sua estrutura de Ensino, particularmente, iniciou processo de modernização derivado da percepção da necessidade de se conceber uma Força Aérea moderna e eficaz, coerente com a busca da pronta resposta operacional suportada por uma capacidade gerencial que permita alta qualidade [do quê?; do capital humano?] e custos adequados [do empreendimento com esse objetivo?] (DCA 11-45, 2015).
Para atingir esse objetivo, a FAB busca trabalhar de forma sistêmica, tanto internamente, com a implantação operacional, logística e administrativa de seus diversos projetos de modernização da frota, quanto externamente, com a necessidade de atuação sinérgica com os sistemas nacionais de Segurança e Defesa preconizados para a Marinha do Brasil (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul - SISGAAz) e para o Exército Brasileiro (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras - SISFRON), bem como interagências governamentais, em coalizões internacionais em Forças de Manutenção da Paz ou em exercícios operacionais conjuntos com Nações Amigas. [este é um conceito subjetivo, e talvez redutor; por que não “parceiros seletivos”?]
Quando trabalha com sistemas, a Aeronáutica brasileira é demandada a planejar, coordenar e executar ações envolvendo pessoas (humanware), conhecimento (software) e infraestrutura (hardware).
Dentro dessa vertente sistêmica, este pesquisador não poderia deixar de se preocupar com o fator humano e seu conhecimento, pois são os indivíduos, com suas culturas, crenças, atitudes morais, valores, vontades e intelectos que criam o [sugestão apenas: ambiente humano, a estrutura institucional e o] amálgama que dá sustentação [intelectual e organizacional] à equipe que cumpre a missão constitucional da Força.
Ao observar o fenômeno Ensino na Força Aérea, especificamente a formação de sua liderança nas atividades aéreas e de engenharia, nos campos delimitados da Ética e da Axiologia, este proponente entendeu estar diante do seguinte problema de pesquisa:
O ataque, via Guerra Cultural, aos Alvos Estratégicos, compostos pelas mentes dos futuros líderes da Força Aérea, poderá destruir os Centros de Gravidade Éticos e Axiológicos da Força, com possível paralisia total ou parcial do Sistema de Liderança e Comando, e com isso mudar voluntária ou involuntariamente a política da FAB, transformando-a em instrumento da revolução cultural? [O problema de pesquisa do proponente, mencionando um “ataque, via Guerra Cultural”, aos Alvos Estratégicos...”, surge um pouco como um raio no céu azul, pois não vem precedido de uma explicação abrangente sobre o que seriam esse ataque, a natureza da “Guerra Cultural”, cuja consistência e realidade podem ser efetivas para o proponente, mas podem não ser imediatamente perceptíveis ou reconhecidas como fatos criadores de um problema digno de ser investigado para os professores da UCP, ou futuros membros da banca. Para que o projeto não sofra contestação logo em sua apresentação, seria útil e até mesmo necessária a preparação de um parágrafo ou dois, precedendo esse acima com vistas a explicar, justificar, legitimar, enfatizar a pertinência do projeto e de todo o trabalho de preparação da tese. Usar, provavelmente, Olavo de Carvalho e Coutinho para isso.]
Esta proposta de pesquisa recortou a realidade, o Ensino dentro da Força Aérea. [Correto: este é o “animal” a ser examinado, o objeto que se situa no centro da pesquisa e da elaboração da tese]
Escopo de estudo definido, focou-se na Liderança da Força, principalmente na formação do Oficial-Aviador pela Academia da Força Aérea (AFA), e do Oficial-Engenheiro pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), pois tem-se como hipótese secundária a relação dialética entre os quadros de Oficiais-Aviadores e Oficiais-Engenheiros nascida pela tensão entre o mito do desbravador de fronteiras, representado por Eduardo Gomes e o mito do desenvolvedor tecnológico representado por Casimiro Montenegro Filho. [Utilidade ou necessidade de pequena nota explicativa, em rodapé, ou no corpo do texto, apresentando os personagens, que podem não ser conhecidos dos examinadores portugueses do projeto.]
Dentro dos limites da formação desses dois quadros, esta proposta pretende focar nos aspectos Éticos e Axiológicos, pois esses campos são Centros de Gravidade de um Centro de Gravidade Principal: A Liderança (Warden, 1988).
Ao delimitar finalmente a pesquisa nesses dois centros de gravidade, o proponente chega à sua hipótese principal de que estes são alvos da denominada Guerra Cultural, ou Marxismo Cultural, ou seja, a interpretação e execução da obra marxista não pela tomada do poder via violência das armas (Leninismo), mas via pacífica, atuando num processo lento, gradual e contínuo de hegemonia do ideal revolucionário de Marx na mente e no comportamento do indivíduo e da sociedade onde está inserido, até que esse comportamento se torne um imperativo categórico kantiano (Gramscismo). [Caberia aproveitar parte da rationale aqui exposta para montar um ou dois parágrafos explicativos como mencionando acima, ao se introduzirem esses conceitos.]
Para que este estudo tenha um padrão comparativo entre o que define a concepção estratégica da Aeronáutica, bem como sua sustentação tecnológica, no escopo a ser pesquisado, optou-se por utilizar como parâmetro de excelência as normas e procedimentos da OTAN, tendo em vista as tradições históricas e culturais, além de cooperações nas áreas de Ensino e Tecnologia que países membros dessa Organização, com ênfase nos Estados Unidos da América, França, Portugal e Reino Unido, possuem com as Forças Armadas brasileiras, principalmente a FAB. [Questão, ou dúvida: a OTAN é um centro de coordenação de forças nacionais; caberia explicitar se ela também possui uma missão de ensino, de estilo e qualidade comparáveis com o que se oferece na FAB, para efeitos de análise em bases semelhantes ou similares às dos centros de ensino da FAB. A Otan deve ter cursos regulares de formação, de treinamento, de manutenção, bem como estudos e simulações quanto a emprego real, em situações de conflito, mas a questão preliminar seria a de apresentar e explicitar o que são esses centros, cursos, programas de ensino, para determinar ex-ante se o “animal” em questão poderá ser examinado na sua interação com a alegada Guerra Cultural gramsciana.]
            Exposto o Problema de Pesquisa, escolheu-se o seguinte Tema:
Força Aérea e a Guerra Cultural: Estudo Comparativo entre o Ensino da Liderança da FAB e da OTAN e seus Centros de Gravidade Ético e Axiológico.
[Creio ser factível, mas deixo expostas as minhas considerações preliminares sobre os termos do problema e sobre a proposta analítica.]

Capítulo 2 – Itens da Pesquisa.
            2.1 Objetivo Geral
Para que o Problema de Pesquisa seja respondido, delineou-se o seguinte Objetivo Geral:
            Estudar, comparativamente, o Ensino da Liderança da FAB e o da OTAN identificando como a Guerra Cultural afeta a formação da Liderança da Força Aérea Brasileira e seus Centros de Gravidade Ético e Axiológico. [Para estudar essa questão, seria preciso determinar precisamente a existência de uma Guerra Cultural dirigida a esses centros de ensino. Ou seja, os centros de ensino e seus programas de estudo são coisas reais, que podem ser localizadas, descritas, definidas. A Guerra Cultura precisa ser descrita e identificada claramente, para que os examinadores não considerem se estar em face de fantasmas, ou construções míticas, ou arbitrárias.]
            2.2 Objetivos Específicos e Questões Norteadoras
            Para que o Objetivo Geral seja atingido, dividiu-se esta Proposta nos seguintes objetivos específicos e suas respectivas questões norteadoras.
                        2.2.1 Objetivo Específico e Questão Norteadora 1
                        Objetivo Específico 1: Identificar como funciona o Ensino da Liderança da FAB como uma Unidade em si. [Correto.]
                        Questão Norteadora 1: Até que ponto essa Unidade é vulnerável à Guerra Cultural? [Correto, mas desde que se tenha definido antes o que é, como atual, onde existe, como se manifesta essa GC. Necessidade de ter essa definição preliminar.]
                        2.2.2 Objetivo Específico e Questão Norteadora 2
                        Objetivo Específico 2: Identificar como essa Unidade atua no Todo Comando da Aeronáutica (COMAER), do qual é Elemento.
                        Questão Norteadora 2: Até que ponto esse Todo é vulnerável à Guerra Cultural? [Aqui se partem de hipóteses, que precisam ser formuladas a partir da definição indicada como necessária antes de se falar em GC.]
                        2.2.3 Objetivo Específico e Questão Norteadora 3
                        Objetivo Específico 3: Identificar como essa Unidade atua na Série, pertencente como Etapa do Ensino de Defesa.
                        Questão Norteadora 3: Até que ponto essa Série é vulnerável à Guerra Cultural?
                        2.2.4 Objetivo Específico e Questão Norteadora 4
                        Objetivo Específico 4: Identificar como essa Unidade atua no Sistema de Ensino Nacional, no qual é integrado funcional e tensionalmente. [Este conceito implica a existência de um estado de tensão; seria este o caso?.]
                        Questão Norteadora 4: Até que ponto esse Sistema é vulnerável à Guerra Cultural? [Idem acima; descrever o “agressor”, antes de supor sua existência confirmada.]
                        2.2.5 Objetivo Específico e Questão Norteadora 5
                        Objetivo Específico 5: Identificar como essa Unidade atua no Universo Ocidental de Ensino (OTAN). [Este animal me parece mais difícil de examinar, mas por outro lado me parece mais transparente e acessível do que o próprio Brasil.]
                        Questão Norteadora 5: Até que ponto esse Universo é vulnerável à Guerra Cultural? [Grande questão, que se estende durante toda a Guerra Fria e atualmente.]
            2.3 Arcabouço Teórico e Metodológico
            A presente proposta de Tese ambiciona colaborar em dois campos.
2.3.1     O Tema
Entende-se que o produto do trabalho final terá aplicabilidade real na condução de políticas de prevenção, detecção e obstrução de ameaças ao cumprimento da missão constitucional da Força Aérea Brasileira. [Em suma, a tese não é puramente acadêmica, ou metodológica, ou visa avançar o estado da arte no plano analítico, como outra tese qualquer, ou seja, vinculada puramente ao universo de um projeto de pesquisa que possui méritos acadêmicos, mas não necessariamente práticos. Ao contrário, a tese pretende ser parte de um projeto de organização, ensino e sobretudo resistência a um perigo percebido como real. Esta questão precisa ser reforçada para não exibir fragilidade na montagem da pesquisa e depois na apresentação dos resultados.]
2.3.2   O Método
Será utilizada uma metodologia dedutiva para viabilizar a pesquisa e corroborar a interpretação do problema, auxiliando o pesquisador no planejamento e execução de seu trabalho científico.
[...] o (argumento) dedutivo tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas; [...] Analisando isso sob outro enfoque, diríamos que os argumentos dedutivos ou estão corretos ou incorretos, ou as premissas sustentam de modo completo a conclusão ou, quando a forma é logicamente incorreta, não a sustentam de forma alguma; portanto, não há graduações intermediárias [...] Resumindo, [...], ao passo que os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação do conteúdo para atingir a certeza (MARCONI; LAKATOS, 2009, p.91).
[Os examinadores do projeto podem requerer mais formalização e explicitação do que seria o método dedutivo aplicada e este objeto.]
Quanto à sua finalidade, a pesquisa, será aplicada uma vez que os conhecimentos a serem obtidos possuem um propósito inicial, conforme definidos acima. [Nesse caso, hipóteses de trabalho e objetivos a serem alcançados precisariam ser melhor explicados antes.]
Com base no objetivo geral e na busca de como a Guerra Cultural afeta a formação da Liderança da FAB e seus Centros de Gravidade Ético e Axiológico, classificar-se-á esta tese como descritiva. [Justamente por isso, tanto a ofensiva gramsciana, quanto sua materialização sob a forma de uma GC precisaram ser descritos antes, neste projeto.]
A pesquisa também será classificada como bibliográfica uma vez que livros de diversos autores, nacionais e estrangeiros, teses, dissertações, relatórios e artigos científicos serão consultados para extrair a base documental que norteará os trabalhos.
Contudo, o trabalho também poderá ser classificado como documental, pois, leis, normas, relatórios, documentos do COMAER e da OTAN, com especial atenção às Forças Aéreas dos Estados Unidos da América, da França, de Portugal e do Reino Unido, ligados à área de Ensino, nos campos da Ética e da Axiologia, serão manuseados durante a execução da pesquisa.
Posteriormente, à luz da Teoria das Evocações, focando nos seus conceitos, o pesquisador traçará um paralelo entre os modelos de ética aplicada a um universo amplo, de tipo internacional, comparando os arcabouços conceituais que sustentam a concepção ética da liderança militar da Aeronáutica, no Brasil, com os similares fundamentos dos modelos éticos adotados pela liderança de Força Aérea nos países da OTAN, com ênfase nos países dessa aliança supramencionados.
É fundamental esse paralelismo para descrever as características da atividade de Ensino da FAB, bem como analogá-la [Seria, portanto, um exercício comparativo tentando identificar universos semelhantes, ou similares, entre FAB e OTAN, e isso precisa ficar claro no projeto também. Acho isso factível, mas vai dar um bocado de trabalho.] a OTAN, já que aquelas estão mais voltadas para as atividades de defesa nacional e estas para a defesa regional internacional.
Esses campos seguirão a mesma lógica já explanada anteriormente e servirão como guia para os entregáveis previstos no cronograma, bem como darão sustentação científica para os capítulos da Tese, sem perder o foco na resposta ao Problema de Pesquisa.
                        2.3.3 Referenciais Teóricos
                        Para que se possa percorrer o estudo comparativo cobrindo o amplo espectro de análises dedutivas correspondentes a cada passo já comentado, este proponente usará como base teórica central a obra de Eric Voegelin denominada História da Ideias Políticas, Volumes de I a VIII, onde o autor desenvolve a Teoria das Evocações, que se baseia na percepção de que a História se desenvolve primeiro com o Mito, seguido por seus Símbolos, e depois com a Evocação de uma Ideia Política, que finalmente determinará o curso dos acontecimentos. [Excelente base de trabalho.]
            2.4 Capítulos propostos
            Para que a obra em formato de Tese possa ir ao encontro do ineditismo pretendido, cabe desenhá-la para que tenha coerência com a metodologia proposta.
            Ficaria, então, a Tese disposta da seguinte forma:
[Se a Guerra Cultura é o principal “inimigo”, ou “contendor” a ser identificado, exposto, debatido e combatido, seria preciso ter esse elemento explicitado na estrutura do projeto.]
AGRADECIMENTOS
SIGLAS E ABRIVIATURAS  [ABREVIATURAS.]
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA  [Sobre o quê, exatamente?]
            2.1: Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo
            2.2: Idade Média até Tomás de Aquino
            2.3: Idade Média Tardia
                        2.3.1: Feudalismo
                        2.3.2: Patrimonialismo [Dúvida sobre sua inserção nesta categoria temporal]
            2.4: Renascença e Reforma
                        2.4.1: Monarquias Feudais
                        2.4.2: Monarquias Patrimoniais
            2.5: Religião e Ascenção da Modernidade  [Ascensão.]
                        2.5.1: Estado Moderno
                        2.5.2: Estado Patrimonial
            2.6: Revolução e a Nova Ciência
                        2.6.1: Independência de Novas Nações
                        2.6.2: Independência brasileira
                                    2.6.2.1: Monarquia
                                                2.6.2.1.1: Civis
                                                2.6.2.1.2: Militares
                                                            2.6.2.1.2.1: A Marinha do Brasil
                                                            2.6.2.1.2.2: O Exército Brasileiro
2.6.2.2: A República
                                                2.6.2.2.1: Civis
                                                2.6.2.2.2: Militares
                                                            2.6.2.2.2.1: A Marinha do Brasil
                                                            2.6.2.1.2.2: O Exército Brasileiro
                                                            2.6.2.1.2.3: A Força Aérea Brasileira
                                                                        2.6.2.1.2.3.1: O Mito Desbravador
                                                                        2.6.2.1.2.3.2: O Ensino
                                                                        2.6.2.1.2.3.3: A Pesquisa & Desenvolvimento.
            2.7: A Nova Ordem
                        2.7.1: No Mundo
                                    2.7.1.1 A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
                        2.7.2: No Brasil [O TIAR, de 1947, precede e inspira a OTAN]
                                    2.7.2.1.: Civis
                                    2.7.2.2: Militares
                                                2.7.2.2.1: A Marinha do Brasil
                                                2.7.2.2.2: O Exército Brasileiro
                                                2.7.2.2.3: A Força Aérea Brasileira
                                                            2.7.2.2.3.1: O Mito Desenvolvedor
                                                            2.7.2.2.3.2: O Ensino
                                                            2.7.2.2.3.3: A Pesquisa & Desenvolvimento.
2.8: Crise e Apocalipse do Homem  [Um tom Oswald Spengler? Catastrofista?]
                        2.8.1: No Mundo
                                    2.8.1.1: A OTAN
                        2.8.2: No Brasil
                                    2.8.2.1.: Civis
                                    2.8.2.2: Militares
                                                2.8.2.2.1: O Ministério da Defesa
                                                2.8.2.2.2: A Marinha do Brasil
                                                2.8.2.2.3: O Exército Brasileiro
                                                2.8.2.2.4: A Força Aérea Brasileira
                                                            2.8.2.2.4.1: O Novo Mito
                                                            2.8.2.2.4.2: O Ensino
                                                            2.8.2.2.4.3: A Pesquisa & Desenvolvimento.
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA 
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS ESPERADOS
            [Não tenho certeza de que se deva adiantar os artigos científicos que se pretende publicar, pois pode parecer que o candidato quer colocar o carro na frente dos bois. Seria melhor tratar esta série como problemas que serão objeto de elaboração sucessiva ao longo da pesquisa.]
O proponente intenciona, a partir dos objetivos específicos, publicar os seguintes artigos científicos:
            4.1: Funcionamento do Ensino da Liderança da FAB como uma Unidade em si.
4.2: Atuação dessa Unidade no Todo Comando da Aeronáutica (COMAER), do qual é Elemento.
            4.3: Atuação dessa Unidade na Série, pertencente como Etapa do Ensino de Defesa.
            4.4: Atuação dessa Unidade no Sistema de Ensino Nacional, no qual é integrado funcional e tensionalmente.
            4. 5: Atuação dessa Unidade no Universo Ocidental de Ensino (OTAN).
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO [Em nenhum momento do projeto, são antecipados os grandes argumentos que se pretende enfatizar ao longo do projeto de pesquisa, como possíveis antecipação de conclusões, ou major findings.]
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
            Exposto a forma da Tese, entende este proponente ser o momento oportuno para apresentar o calendário tentativo da empreitada.




Capítulo 3 – Cronograma de trabalho para o desenvolvimento da pesquisa.
[Talvez, em lugar do calendário gregoriano, indicar o número de meses sucessivamente, sem conexão com um calendário real; seria mais prudente, e deixaria os examinadores à vontade quanto à capacidade do proponente, sem lhes impor um calendário. Mas reconheço que tal expediente pode ser útil como prova de forte decisão no término do trabalho.
ATIVIDADE
INÍCIO
TÉRMINO
OBS
Início do Projeto - TESE DE DOUTORAMENTO - RWR
09/04/2017
BRA-POR
IDENTIFICAÇÃO DO TEMA A SER PESQUISADO
19/04/2017
22/04/2017
BRA
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
20/04/2017
23/04/2017
BRA
INDETIFICAÇÃO DO OBJETIVO-GERAL
25/04/2017
28/04/2017
BRA
IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS E QUESTÕES NORTEADORAS
05/05/2017
07/05/2017
BRA
APRESENTAÇÃO DO PROJETO AO ORIENTADOR
15/05/2017
17/05/2017
BRA
LOOPINGS DE REFINAMENTO ORIENTADOR-ORIENTANDO
25/05/2017
24/06/2017
BRA
VALIDAÇÃO DO PROJETO PELO ORIENTADOR
24/06/2017
29/06/2017
BRA
APRESENTAÇÃO À BANCA DE APROVAÇÃO DO PROJETO
29/06/2017
29/07/2017
POR
TRABALHO DE PESQUISA
29/07/2017
20/05/2019
BRA-POR
PUBLICAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍFICO 1 (ENSINO DA FAB COMO UNIDADE EM SI)
08/08/2017
06/11/2017
POR
PUBLICAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍTICO 2 (ENSINO DA FAB COMO ELEMENTO DO TODO COMAER)
06/11/2017
04/02/2018
POR
PUBLICAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍFICO 3 (ENSINO DA FAB COMO ETAPA DA SÉRIE ENSINO DE DEFESA)
04/02/2018
05/05/2018
POR
PUBLICAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍFICO 4 (ENSINO DA FAB COMO UNIDADE INTEGRADA TENSIONAMENTE AO SISTEMA DE ENSINO NACIONAL)
05/05/2018
03/08/2018
POR
PUBLICAÇÃO DO ARTIGO CIENTÍFICO 5 (ENSINO DA FAB COMO UNIDADE ATUANTE NO UNIVERSO OCIDENTAL DE ENSINO - OTAN)
03/08/2018
01/11/2018
POR
APRESENTAÇÃO DA TESE AO ORIENTADOR
30/01/2019
01/03/2019
BRA
LOOPINGS DE REFINAMENTO ORIENTADOR-ORIENTANDO
01/03/2019
31/03/2019
BRA
VALIDAÇÃO DA TESE PELO ORIENTADOR
31/03/2019
10/04/2019
BRA
APRESENTAÇÃO PARA A PRÉ-BANCA DE AVALIAÇÃO
30/04/2019
30/05/2019
BRA
Fim do Projeto: APRESENTAÇÃO DA TESE PERANTE A BANCA DE AVALIAÇÃO (POR - GB)
30/05/2019
29/06/2019
POR - GB

            Apresentado o cronograma, segue a bibliografia a ser juntada na confecção da Tese.

Capítulo 4 – Bibliografia consultada na elaboração do projeto.
            [Esse tipo de menção pode ser considerado pelos examinadores portugueses como expressão de certa arrogância intelectual do proponente. Por isso se deveria evitar, tanto quanto possível, esse numerus clausus de leituras, pois os orientadores e examinadores podem achar que existem vários outros títulos a serem lidos e processados.]
Para efeito de entendimento do escopo bibliográfico, os autores referenciados, em sua totalidade, são do conhecimento do proponente.
Ou foram lidos diretamente ou lidos em forma de análises de suas obras por terceiros.
Cerca de 75% das obras abaixo já foram acessadas e lidas em sua totalidade, sendo que o restante será incorporado ao longo do período planejado no cronograma de atividades.
São os autores:  [Eu não colocaria essa “explicação” antes desta excelente e amplíssima bibliografia. Por outro lado, ela não está referenciada de forma completa, o que pode deixar alguns examinadores pensando se originais ou traduções serão utilizadas. Por fim, entradas como esta podem ser contraproducentes: SPINOZA, a definir.]
1.1  ACTON, Lord: Ensaios, Uma Antologia
1.2 ADORNO, Theodor: a definir
1.3 AGOSTINHO, Sto: Confissões.
1.4 ______________: Cidade de Deus.
1.5 ALBALAT, Antoine: A arte de escrever.
1.6  ALMEIDA, Paulo Roberto de: A diplomacia presidencial em perspectiva histórica.
1.7 ______________: O Homem que pensou o Brasil. Trajetória intelectual de Roberto Campos.
1.8 ______________: Tese de Doutoramento: Révolutions bourgeoises et modernisation capitaliste: Démocratie et autoritarisme au Brésil.
1.9 ALTHUSIUS, Johannes: Política.
1.10       ALTHUSSER, Louis: Por Marx.
1.11       ANDERSON, Perry: Components of the National Culture
1.12       _______________: Antinomies of Antonio Gramsci.
1.13       ARISTÓTELES: Ética a Nicomano.
1.14       ____________: A Política.
1.15       ____________: Metafísica.
1.16        BABBIT, Irving: Democracia e Liderança.
1.17       BAHRO, Rudolf: From Red to Green.
1.18       BASTIAT, Frederic: A Lei.
1.19       BENJAMIN, Walter: a definir
1.20       BEAUD, Michel: A arte da Tese.
1.21       BODIN, Jean: Os seis livros da República.
1.22        BÖHM-BAWERK, Eugene von: A teoria da exploração do socialismo-comunismo
1.23        BRASIL, Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA), 11-45/2016. Concepção Estratégica - “Força Aérea 100”. Aprovada pela Portaria nº 94/GC3, de 27 de janeiro de 2016 e publicada pelo BCA, nº 017, de 1º de fevereiro de 2016.
1.24        ________, Plano de Modernização do Ensino na Aeronáutica (PCA), 37-11/2015.
1.25       _________Programa de Formação de Valores: Academia da Força Aérea.
1.26       ________, Lei nº 5692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências.
1.27       __________, Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA), 400-06/2007. Ciclo de Vida de Sistemas da Aeronáutica.
1.28       BURCKHARDT, Jacob: Cartas.
1.29       BURKE, Edmund: Reflexões sobre a Revolução Francesa.
1.30       CAPRA, Fritjof: a definir.
1.31       CARPEAUX, Otto Maria: Caminhos para Roma. Aventura, queda e vitória do Espírito.
1.32       CARVALHO, Olavo de: O imbecil coletivo.
1.33       __________. A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antônio Gramsci.
1.34       __________. O Jardim das Aflições.
1.35       __________. A Dialética Simbólica.
1.36       __________. A Inversão Revolucionária.
1.37       __________O Futuro do Pensamento Brasileiro. Estudos sobre nosso lugar no mundo.
1.38       __________Visões de Descartes: entre o gênio mau e o Espírito da Verdade.
1.39       __________Aristóteles em nova perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos.
1.40       __________Maquiavel ou A confusão demoníaca. Campinas, SP: Vide Editorial, Edição Kindle, 2014.
1.41       __________Os EUA e a Nova Ordem Mundial: Um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho.
1.42       __________Apoteose da vigarice. Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil. Volume I.
1.43       __________O mundo como jamais funcionou. Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil. Volume II.
1.44       __________A fórmula para enlouquecer o mundo. Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil. Volume III.
1.45       __________A inversão revolucionária em ação. Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil. Volume IV.
1.46       __________Curso de Guerra Cultural.
1.47       __________Curso de Política e Cultura.
1.48       CARVALHO DA CRUZ, Ubirajara: Precursores da Aeronáutica: Seleção de Fatos e Pensamentos
1.49       CHESTERTON, G.K: Considerando todas as coisas.
1.50       __________Santo Tomás de Aquino.
1.51       COCHRANE, Charles Norris. Cristianismo & Cultura Clássica. Um estudo das ideias e da ação, de Augusto a Agostinho.
1.52       CONSTANT, Benjamin: Princípios de Política aplicáveis a todos os Governos.
1.53       COSTA, Alexandre: Introdução à Nova Ordem Mundial.
1.54       COUTINHO, General Sérgio. A Revolução Gramscista no Ocidente: A Concepção Revolucionária de Antônio Gramsci em Cadernos do Cárcere.
1.55       CROCE, Benedetto: História como História da Liberdade.
1.56       D’ARAÚJO, Maria Celina e CASTRO, Celso: Ernesto Geisel.
1.57       DARYMPLE, Theodore: A Vida na Sarjeta, o círculo vicioso da miséria moral.
1.58       __________Qualquer coisa serve.
1.59       __________Em defesa do preconceito: a necessidade de se ter ideias preconcebidas.
1.60       DESCARTES: Discurso sobre o Método.
1.61       DOS SANTOS, Mário Ferreira. Filosofia e Cosmovisão
1.62       __________Lógica, Dialética e Decadialética.
1.63       __________Psicologia – São Paulo: Logos, 3ªEdição, 1958.
1.64       __________Teoria do Conhecimento, Gnoseologia e Criteriologia.
1.65       __________Ontologia e Cosmologia: A Ciência do Ser e a Ciência do Cosmos.
1.66       __________Tratado de Simbólica.
1.67       __________Filosofia da Crise
1.68       __________O Homem Perante o Infinito (Teologia).
1.69       __________Noologia Geral.
1.70       __________Filosofia Concreta.
1.71       __________Sociologia Fundamental e Ética Fundamental.
1.72       __________Filosofia Concreta do Valores.
1.73       __________Pitágoras e o Tema do Número.
1.74       __________Aristóteles e as Mutações.
1.75       __________Um e o múltiplo em Platão.
1.76       __________Métodos Lógicos e Dialéticos VOL I.
1.77       __________Métodos Lógicos e Dialéticos VOL II.
1.78       __________Filosofia da Afirmação e da Negação Métodos Lógicos e Dialéticos.
1.79       __________A Sabedoria dos Princípios.
1.80       __________A Sabedoria da Unidade.
1.81       __________A Sabedoria do Ser e do Nada.
1.82       __________A Sabedoria das Leis Eternas.
1.83       __________Curso de Oratória e Retórica.
1.84       __________Técnica do Discurso Moderno.
1.85       __________Curso de Integração Pessoal.
1.86       __________Práticas de Oratória.
1.87       __________Antologia de Famosos Discursos Brasileiros.
1.88       __________Invasão vertical dos bárbaros.
1.89       DUGIN, Aleksandr: a definir.
1.90       DWORKIN, Ronald: Taking Rights Seriously.
1.91       ENGELS, Friedrich: a definir.
1.92       EPICURO, de Samos: a definir.
1.93       FAORO, Raymundo: Os donos do Poder. Formação do patronato político brasileiro.
1.94       FREIRE, Paulo: Pedagogia do oprimido.
1.95       FREYRE, Gilberto: Brazil: an interpretation: Delivered at Indiana University during de autumn of1944.
1.96       FRIEDAN, Betty: A mística feminina.
1.97       FOUCAULT, Michel: As palavras e as coisas.
1.98       FRANKL, Viktor: O sentido da vida.
1.99       FRIED, Reis. Ciência Política e Teoria do Estado: Teoria Constitucional e Relações Internacionais.
1.100   GALBRAITH, J.K.: O novo Estado Industrial.
1.101   GRAMSCI, Antônio: Cadernos do Cárcere.
1.102   ___________: The Modern Prince and Others Writings.
1.103   GANDRA MARTINS, Ives; RABELO DE CASTRO, Paulo e outros: Lanterna na Proa. Roberto Campos: Ano 100.
1.104   GANDRA MARTINS, Ives: Desenvolvimento Econômico e Segurança Nacional: Teoria do Limite Crítico.
1.105   HABERMAS, Jürgen: Tecnologia e Ciência como ideologia.
1.106   HEGEL, Wilhelm Friedrich: a definir.
1.107   HOBBES, Thomas: Leviatã ou a Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil.
1.108   HORKHEIMER, Max: a definir.
1.109   HUMBOLT, Wilhelm Von: Os Limites da Ação do Estado.
1.110   HUME, David: Ensaios Morais, Políticos e Literários.
1.111   HUNTINGTON, Samuel P: The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order.
1.112   __________The Soldier and the State. The Theory and Politics of Civil-Military Relations.
1.113   KANT, Emmanuel: Fundamentação da Metafísica dos Costumes
1.114   KHALDUN, Ibn: a definir.
1.115   KENGOR, Paul. Takedown: From Communists to Progressives, How the Left has Sabotaged Family and Marriage.
1.116   KOLENDA, Christopher. Leadership, The Warrior’s Art.
1.117   LAING, R.D.: The Divided Self: a Study of Sanity and Madness
1.118   LASCH, Christopher. A Rebelião das Elites e a Traição da Democracia.
1.119   LOBACKWESKY, Andrew: Ponerologia: Psicopatas no Poder.
1.120   LENIN, Vladimir: O Estado e a Revolução.
1.121   LUKÁCS, György: Lenin: Estudo da Composição de seu pensamento.
1.122   MAQUIAVEL, Nicolau: O Príncipe.
1.123   MARX, Karl: a definir.
1.124   MARX, Karl & ENGELS, Friedrich: Manifesto do Partido Comunista.
1.125   MARCUSE, Herbert: a definir.
1.126   MEIRA PENNA, José Osvaldo de: O Espírito das Revoluções: da Revolução Gloriosa à Revolução Liberal
1.127   _________. A ideologia do Século XX.
1.128   MERCADANTE, Paulo. Militares e Civis: A ética e o compromisso.
1.129   MERQUIOR, José Guilherme: Tese de Doutoramento: Rousseau and Weber: two studies in the theory of legitimacy.
1.130   __________. Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamim.
1.131   MILL, John Stuart: Utilitarismo.
1.132   MINNICINO, Michael: The New Dark Age. The Frankfurt School and “Political Correctness”.
1.133   MISES, Ludwig: As Seis Leis.
1.134   MORAIS, Fernando: Cassimiro Montenegro Filho.
1.135   NIETZSCHE, Friedrich: a definir.
1.136   NOUGUÉ, Carlos: Suma Gramatical da Língua Portuguesa.
1.137   OAKESHOTT, Michael: Sobre a História e outros Ensaios.
1.138   ORTEGA Y GASSET, José: A Rebelião das Massas.
1.139   OTAN: Code of Conduct.
1.140   ________: The Antecedents of the Alliance.
1.141   ________: Juridical texts and formal agreements (1949-1997).
1.142   ________: Key policy documents.
1.143   PACEPA, Tenente-General Ian; RYCHLAK, Ronald J.. Desinformação: Ex-chefe de espionagem revela estratégias secretas para solapar a liberdade, atacar a religião e promover o terrorismo.
1.144   PACITTI, Brig. Eng. Tércio: Construindo o futuro através da Educação.
1.145   PAIM, Antônio: Do Socialismo à Social Democracia.
1.146   ___________ Liberdade Acadêmica e Opção Totalitária, um Debate Memorável.
1.147   ___________ Fundamentos da moral moderna.
1.148   ___________ Marxismo E Descendência.
1.149   ___________ O Apostolado Positivista e a República.
1.150   ___________ Plataforma Política do Positivismo Ilustrado.
1.151   ___________ Momentos Decisivos da História do Brasil.
1.152   ___________ O Liberalismo Contemporâneo.
1.153   ___________ Tratado de Ética.
1.154   Modelo de Desenvolvimento Tecnológico Implantado pela Aeronáutica.
1.155   PAIM, Antônio; LAMOUNIER, Bolívar; VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo; SCHWARZTSMANN: As Desgraças do Intervencionismo no Brasil.
1.156   PASSMORE, John: A perfectibilidade do Homem.
1.157   PHILLIPS, Robert L.: Is there an Ethic to NATO?
1.158   PIPES, Richard: O Comunismo.
1.159   PLATÃO: A República.
1.160   POLANYI, Michel: A Lógica da Liberdade.
1.161   POLLOCK, Friedrich: a definir.
1.162   PUFENDORF, Samuel: Os Deveres do Homem e do Cidadão de acordo com as Leis do Direito Natural.
1.163   PURYEAR JR. Edgar F.: 19 Star – A study in military Character & Leadership.
1.164   __________________: American Generalship, Character is Everything: The Art of Command.
1.165   ROUSSEAU, Jean-Jacques: Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
1.166   RORTY, Richard: a definir.
1.167   SANGER, Margaret: O eixo da civilização.
1.168   SARTRE, Jean-Paul: O Ser e o Nada.
1.169   SCHELLER, Max: a definir.
1.170   SCHWARTZMAN, Simon: Atualidade de Raymundo Faoro.
1.171   SCRUTON, Roger: Pensadores da Nova Esquerda.
1.172   _______________Como ser um conservador.
1.173   _______________O que é conservadorismo.
1.174   SIQUEIRA, Mauro Barbosa. A Eficácia do Poder Aéreo à luz das Estratégias da Paralisia e da Coerção: Teorias de John Warden e de Robert Pape.
1.175   SILVA, Ozires: A decolagem de um sonho.
1.176   SMITH, Adam: Conferências sobre Retórica & Belas Artes.
1.177   SOMBART, Werner. Os judeus e a vida econômica
1.178   SOWEL, Thomas. Da obrigação moral de ser cético.
1.180   TOCQUEVILE, Alex: a definir.
1.181   THOMPSON, E.P.: A formação da Classe Operária Inglesa.
1.182   TOMÁS, Aquino Sto- Suma Teológica – Volume I.
1.183   _____________ Suma Teológica – Volume II.
1.184   _____________ Suma Teológica – Volume III.
1.185   _____________ Suma Teológica – Volume IV.
1.186   _____________ Suma Teológica – Volume V.
1.187   TREVOR-ROPER, Hugh: A Crise do Século XVII. Religião, Reforma e Mudança Social.
1.188   TSUNETOMO, Yamamoto: Hagakure.
1.189   TZU, Sun. A Arte da Guerra. Os treze capítulos originais.
1.190   VALLE, Carlos Eduardo: Poder Aéreo: Guia de Estudos.
1.191   VEACH, Henry B.: O Homem Racional: Uma interpretação moderna da Ética Aristotélica.
1.192   VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo: A Grande Mentira: Lula e o Patrimonialismo Petista.
1.193   VOEGELIN, Eric. História das ideias políticas - Volume I: helenismo, Roma e Cristianismo primitivo.
1.194   ___________ História das ideias políticas - Volume II: Idade Média até Tomás de Aquino.
1.195   __________ História das ideias políticas - Volume III: Idade Média Tardia.
1.196   __________ História das ideias políticas - Volume IV: Renascença e Reforma.
1.197   __________ História das ideias políticas - Volume V: Religião e Ascensão da Modernidade.
1.198   __________ História das ideias políticas - Volume VI: Revolução e a Nova Ciência.
1.199   __________ História das ideias políticas - Volume VII: A Nova Ordem.
1.200   __________ História das ideias políticas - Volume VIII: Crise e Apocalipse do Homem.
1.201   WALLERSTEIN, Immanuel: A Universidade em Ebulição.
1.202   WARDEN, John: The Air Campaign.
1.203   WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.
1.204   WILLIAM, Raymond Henry: Culture and Society.

 [Mais de 200 títulos já é um começo relativamente excessivo, talvez desequilibrado em relação à carência de maiores desenvolvimentos quanto ao “fantasma” da “Guerra Cultural”. Esta é a principal dúvida que mantenho quanto a um projeto que reputo importante no plano intelectual, cultural (sobretudo) e também político, na medida em que visa preservar uma de nossas principais instituições do Estado do equivalente ao fundamentalismo que serve de base ao atual terrorismo. Estamos necessitados de uma recentragem no pensamento político das humanidades no Brasil e alhures, dentro e fora das FFAA, em qualquer país. Por isso o projeto e a própria tese precisa ter fundamentos sólidos, que é preciso construir desde já.]

 Paulo Roberto de Almeida, Brasília, 22/05/2017.


Os jesuitas na corte imperial chinesa (XVI-XVIII) - Carmen Lícia Palazzo

Tenho o prazer de transcrever neste meu blog o artigo de Carmen Lícia Palazzo sobre as interações entre jesuítas e chineses, mandarins da corte imperial em especial, nos séculos XVI a XVIII, que é explícito sobre a importância cultural dessa influência recíproca.
Paulo Roberto de Almeida

Os Jesuítas como atores privilegiados na comunicação de imagens da China para a Europa: século XVI a XVIII.
Carmen Lícia Palazzo
(Artigo publicado pela Revista da Universidade Tuiutí, do Paraná.)
Resumo: O presente artigo trata do papel dos jesuítas na divulgação de informações sobre o império chinês entre os séculos XVI e XVIII, informações estas que foram parte essencial na construção do imaginário ocidental sobre o Extremo Oriente. Os escritos dos inacianos circularam entre a elite letrada europeia, transmitindo múltiplas visões que refletiam seu fascínio por vários aspectos da sociedade chinesa. As fontes de pesquisa utilizadas se constituem nos relatos e cartas produzidos pelos jesuítas nos longos anos nos quais foram protagonistas, junto com o mandarinato chinês, de um rico processo de encontro de culturas. A análise das referidas fontes levou à conclusão de que os padres da Companhia de Jesus, em suas muitas atividades, integraram-se de modo excepcional na sociedade chinesa, alcançando posições de prestígio junto a diversos imperadores das dinastias Ming e Qing. Tal integração refletiu-se em suas opiniões muitas vezes favoráveis ao Confucionismo e a diversas práticas e representações do Império do Meio, o que atraiu críticas, em geral vindas de outras ordens que não aprovavam o método inaciano de missionação. Permaneceu, porém, no imaginário ocidental, o fascínio pela China largamente motivado pelas informações dos jesuítas.
Palavras-chave: Jesuítas. China. Encontro de culturas.
Introdução:
O fascínio do Ocidente pela China não é recente. Na Idade Média, diversos viajantes percorreram uma vasta rede de estradas, desertos e oásis que posteriormente, no século XIX, passou a ser conhecida como Rota da Seda. Muitos deles, como Pian di Carpine, Guilherme de Rubruck, Marco Polo e Odorico de Pordenone não apenas se aventuraram na difícil travessia da Ásia mas também deixaram relatos de grande valor histórico e antropológico sobre seus contatos com mongóis, chineses, tibetanos, uigures e tantos outros povos até então pouco conhecidos dos europeus (Palazzo, 2011).
A partir do século XVI, à medida em que se intensificavam as relações comerciais da Europa com a região do Pacífico, crescia também o interesse do papado pela expansão das atividades missionárias na Ásia. Franciscanos, dominicanos e jesuítas, entre outros, eram enviados para catequizar as populações do Oriente. Em algumas situações, como nas ilhas Filipinas conquistadas pelos espanhóis, as missões vinculavam-se a um projeto colonizador, mas não era este o caso da China. Os portugueses que se estabeleceram na concessão de Macau estavam interessados na península macaense como apoio para ampliar o comércio na região, tendo demonstrado sempre muito cuidado em não sinalizar nenhuma intenção de conquista do Império do Meio.
As atividades de catequese no interior da China vão se desenvolver com características bastante distintas das que se realizaram em territórios coloniais, tanto na Ásia quanto nas Américas portuguesa e hispânica, e o relacionamento dos missionários com os chineses também ganhará contornos próprios com um intenso e fecundo diálogo entre as partes. Os inacianos adotarão uma estratégia de aculturação durante os quase duzentos anos nos quais serão também protagonistas de uma densa comunicação com a Europa, através de relatos e cartas largamente difundidos entre os séculos XVI e XVIII.
A comunicação de suas atividades sempre ocupou um papel central no trabalho de missionação dos jesuítas. As fontes que são analisadas no presente artigo destinavam-se a uma ampla divulgação entre os leigos, ao contrário de cartas e relatórios que foram escritos apenas para leitura interna da Companhia de Jesus. A partir destes textos tornados públicos logo após a sua produção é possível lançar alguma luz sobre as imagens da China que, tendo circulado, influenciaram as visões europeias do Império do Meio. Tais imagens evidenciam, também, as características de um relacionamento excepcional que se desenvolveu por um longo tempo com base na curiosidade mas também na admiração pelo Outro.
O aprendizado em Macau
A China imperial, ciosa de sua força em grande parte enraizada no reconhecimento de tradições milenares e em uma férrea estrutura hierárquica, estava longe de ser um terreno fértil para a atividade missionária. O poder centralizado na Corte era exercido em todo o território, com a autorização do imperador, pelos mandarins, que se constituíam na elite letrada do país, selecionados sempre através de um rígido sistema de concursos.
A solução encontrada pelos jesuítas para a aceitação de suas atividades no interior do império foi tanto o aprendizado do idioma quanto a total familiarização com os comportamentos e códigos de conduta daquela sociedade. Como ponto de partida para suas atividades, foi importante a existência do enclave português de Macau, primeira etapa para contatos com os chineses e especialmente para o estudo da língua. Os missionários que tinham como objetivo entrar na China continental faziam da península macaense apenas o ponto inicial de seu aprendizado, diferente dos padres que ali se fixavam para atender aos católicos portugueses e a alguns asiáticos convertidos.
A cidade de Macau nasceu no lugar de uma antiga aldeia chinesa que vivia da pesca de caranguejos e de ostras, sendo conhecida como Haojing, “espelho de ostra” (Barreto, 2006, p.17-18). Porto pesqueiro, mas também escala ideal para comerciantes a caminho de Cantão e de outros portos no sudeste asiático, atraiu a atenção dos viajantes, e o estabelecimento luso foi se dando de forma gradual, sem o objetivo de uma expansão territorial mais ampla.
O rei D. João III de Portugal, sucessor de D. Manuel, entendeu desde muito cedo que os comerciantes portugueses teriam um importante papel a desempenhar no relacionamento com a China, favorecendo também a ampliação do intercâmbio com boa parte da Ásia. O monarca, então, “(…) optou por abandonar os planos de intervencionismo estatal reformulando os princípios políticos do relacionamento com o Império chinês.” (Alves, 1999, p. 58).
A dinastia Ming, no poder desde 1368, não possuía uma diretriz única com relação ao estabelecimento de estrangeiros na periferia do Império. O que se pode deduzir da leitura de grande parte das análises referentes aos primórdios da instalação dos
portugueses em Macau é que o mandarinato estava, em geral, bastante dividido, com algumas hostilidades evidentes mas também com inúmeros casos de apoio e de clara coincidência entre os interesses lusos e chineses, quase sempre ligados ao lucro do comércio marítimo.
Longe de se constituir em um enclave exclusivamente europeu, Macau era multifacetada e certamente multiétnica. Pequena em extensão, era povoada por chineses, portugueses, malaios, entre muitos outros mercadores e suas famílias. Dentre as diversas comunidades de religiosos católicos que ali se estabeleceram com o objetivo de dar apoio espiritual aos cristãos locais, a mais influente era a dos jesuítas, em “(…) regra geral juízes de paz de Macau e elite letrada nos contatos com as autoridades oficiais da Ásia Oriental” (Barreto, 2006, p.137).
Foi certamente a península macaense que propiciou aos inacianos o aprendizado inicial sobre a China. O contato entre europeus e asiáticos era ali uma realidade e ocorria de maneira natural e diária. Assim, quando a Companhia de Jesus decidiu que enviaria seus missionários para o interior do Império, o enclave português se mostrou um excepcional ponto de partida para o estudo do idioma e o contato com os hábitos chineses.
No domínio das línguas, a diferença e a novidade de Macau residem na aprendizagem contínua de múltiplas línguas orais e escritas. Macau torna-se, na época, lugar único onde, ao mesmo tempo, é possível aprender português, latim, chinês e japonês, onde existem mestres asiáticos e europeus que dão cursos de iniciação ou aprofundamento a estas línguas
(…)
É da junção destas duas componentes, a mais prática e oral e a mais erudita de aprendizagem de língua também escrita, que nasce o facto de a cidade portuária ser o primeiro lugar por excelência de cruzamento de chinês e do japonês com o latim, português, castelhano, italiano (Barreto, 2006, p.314).
É importante destacar, porém, que a história de Macau e a da missionação no interior do império chinês se entrecruzam mas não se confundem. No presente artigo é analisada a atuação dos inacianos dentro do império, enfatizando a importância das imagens que eles transmitiram para a Europa, em seus textos, entre os séculos XVI e XVIII, e que alimentaram o que se constituiu em um crescente interesse pelo Oriente.
Imagens do Império chinês nos séculos XVI e XVII
A entrada de estrangeiros em geral, e não apenas de missionários, no interior da China, era uma empreitada difícil, pois dependia sempre de autorização do imperador. Entre os missionários, os pioneiros foram dois padres jesuítas italianos, Michele Ruggieri e Matteo Ricci. Ambos teceram boas relações com diversos funcionários da Corte e, com muita habilidade e paciência, acabaram conseguindo a permissão para deixar Macau e penetrar no interior do continente, onde estabeleceram missões em mais de uma cidade (Ducornet, 2010, p. 25; p. 48-52). A parte mais importante da estratégia escolhida pelos inacianos para dar início a um bom relacionamento com os funcionários-mandarins de diversos níveis, foi o aprendizado da língua, no que Matteo Ricci se destacou (Zhu, 2010, p. 22-25).
Ricci viveu durante 28 anos na China, de 1582 até 1610, ano em que faleceu em Beijing. Durante muito tempo aguardou a autorização imperial que também se fazia necessária para o estabelecimento na capital, o que nem sempre era permitido, mesmo para os que, como ele, já estivessem oficialmente instalados no interior do continente. A autorização foi conseguida somente em 1601 por influência de diversos relacionamentos que o missionário soube cultivar, demonstrando seus conhecimentos científicos e presenteando as autoridades locais com objetos trazidos da Europa e que não eram conhecidos na China.
O pesquisador Zhang Xiping enfatiza o interesse motivado pelo que era considerado “estranho” pelos chineses Esta curiosidade favorecia os jesuítas pois suscitava diversos encontros com as autoridades, que sempre tomavam a iniciativa de procurá-los.
Quando os chineses letrados começaram a se aproximar dos missionários, muitos deles o fizeram por curiosidade.
(…) relógios e prismas triangulares eram mostrados pelos jesuítas e jamais tinham sido vistos [pelos chineses]. Quando Michele Ruggieri e Matteo Ricci chegaram em Zhaoqing, o que atraiu o governador local foi justamente ambos os objetos. Em Nanjing, muitos oficiais e letrados foram visitar Matteo Ricci assim que souberam que ele havia levado coisas estranhas para a cidade (Zhang, 2009, p.38).
Em toda a história da missionação na China, fica muito claro que os europeus eram para os chineses o exótico por excelência, o Outro que causava estranhamento, que surpreendia. No entanto, no caso dos jesuítas, pelo domínio do idioma e assimilação aos hábitos locais, tratava-se também do Outro que se fazia próximo. Com relação a Matteo Ricci, sua excepcional capacidade para o aprendizado da língua permitiu que escrevesse vários textos em chinês, contando provavelmente com o auxílio de mandarins convertidos, com os quais se relacionava (Laven, 2001, p. 104-105). Tal fato, sem dúvida, colaborou para alçá-lo à condição de letrado, honra máxima na sociedade chinesa.
Para o estudo das relações entre o mandarinato e os inacianos e também para que se possa avaliar a transmissão de imagens da China para a Europa, a primeira e uma das mais significativas fontes é o importante texto deixado por Matteo Ricci e intitulado por ele mesmo Della entrata della Compagnia di Giesù e Christianità nella Cina, já quase concluído por ocasião de sua morte, em 1610 (Ricci, 2010). (1 )
A ele o padre Nicholas Trigault acrescentou dezenove páginas, traduzindo-o integralmente para o latim e levando para Roma tanto o original quanto a sua tradução. Em seguida, a partir do texto latino, foram realizadas outras traduções para diversos idiomas, o que ampliou sua divulgação na Europa, ainda que, de maneira equivocada, sob o nome de Trigault. Este, porém, autenticou o manuscrito em 26 de fevereiro de 1615 como sendo efetivamente de autoria de do jesuíta italiano e nunca lhe negou o crédito (Ricci, 2010, p. LVI).
Matteo Ricci foi um observador atento e perspicaz da sociedade chinesa. A formação intelectual dos inacianos capacitava-os para entender o mundo à sua volta, principalmente no caso daqueles que, como ele, tiveram acesso ao qualificado corpo docente do Colégio Romano, posteriormente denominado Universidade Gregoriana.
A época era também repleta de ambiguidades. O século XVI foi marcado pelas lutas contra os heréticos, pela Reforma protestante, pela Contrarreforma mas, igualmente, pelos avanços da ciência renascentista cujas bases estavam de fato lançadas desde a Idade Média. O acúmulo do saber já se fazia notar na Europa há mais tempo e a formação recebida por muitos homens da Igreja era, em alguns aspectos, bastante avançada. Entre os professores de Ricci no Colégio Romano estava o brilhante matemático alemão Clavius “(…) que projetou um novo e mais acurado calendário promulgado sob Gregório XIII em 1582 para substituir o Calendário Juliano, sendo portanto o pai de nosso moderno sistema de cômputo do tempo” (Hsia, 2010, p. 14)( 2).
Destacar a formação intelectual dos jesuítas e seu empenho em dominar o idioma dos mandarins permite que se entenda a receptividade que os padres encontraram nos contatos com muitos dos altos funcionários imperiais. Era muito bem visto pelas autoridades o interesse que os missionários da Companhia de Jesus demonstravam pela cultura chinesa e em especial pelo confucionismo.
Matteo Ricci e seu companheiro das primeiras incursões no interior do império, Michele Ruggieri, procuraram, como estratégia de integração à sociedade local, assemelhar-se a monges budistas, já que os jesuítas eram também religiosos e celibatários. Os inacianos passaram então a raspar a cabeça e a barba e a usar as mesmas túnicas dos bonzos (Fontana, 2011, p.44). Porém, com o tempo, Ricci foi se dando conta de que, na China, os monges budistas não tinham tanto prestígio quanto no Japão e, apesar de algumas exceções, a elite intelectual e administrativa era majoritariamente confucionista.
Cientes desta especificidade chinesa e contando com o total apoio do visitador e supervisor das missões na Ásia, Alessandro Valignano os jesuítas deram o que viria a ser considerado um passo decisivo para sua aceitação por parte do mandarinato: abandonaram o hábito budista e passaram a endossar as refinadas vestes de seda dos letrados, deixando crescer os cabelos e a barba. Integraram-se, assim, ao mais alto patamar do Império.
Foi a imagem dos missionários-mandarins (Kircher,1667) que passou a circular na Europa, mantendo-se até o século XVIII, mas não isenta de considerações críticas, principalmente por parte dos franciscanos. Em resposta às muitas críticas da época, Valignano, grande incentivador do estilo de missionação dos jesuítas na China e profundo conhecedor das sociedades asiáticas, escreveu um texto contundente no qual deixou bem claro o que considerava “calúnias” contra os padres da Companhia de Jesus. De acordo com Valignano:
“(…) quanto ao que diz Frei Martín [um irmão missionário franciscano] que vestem-se [os jesuítas] em trajes de chineses e que não tratam de conversão, é verdade que andam vestidos à maneira de letrados chineses e que trazem as barbas crescidas e também os cabelos até as orelhas (…) isto se fez por ordem minha e pelo parecer de muitas outras pessoas sérias e letradas da Companhia (Valignano, 1998, p. 88).
E, mais adiante:
(…) entendemos que os Padres, fazendo ofício de homens letrados, teriam mais fácil entrada com todos e poderiam melhor e com mais autoridade divulgar nossa santa lei para os chineses, e não se deve reprender e nem ironizar este método, como faz o frade, a quem parece que toda a religião consiste no hábito, o qual, ainda que seja bom, “não faz o monge”, como se diz nos cânones sagrados (Valignano, 1998, p. 89).
O frade ao qual Valignano se referia era Martín Loinez de la Ascención, um crítico contundente do trabalho dos inacianos no Oriente. O visitador, porém, destaca em sua Apología que outros franciscanos também deram informações “muito caluniosas e prejudiciais para a nossa Companhia, e bem diferentes e contrárias do que se passa na verdade” (Valignano, 1998, p.1).
O historiador Horácio Peixoto de Araújo também se refere às críticas e aponta que que uma das acusações mais frequentes que franciscanos e dominicanos faziam aos métodos de catequese dos jesuítas era a de que estes não enfatizavam de forma muito firme a imagem de Jesus crucificado (Araújo, 2000, p. 239). É verdade que os inacianos deram sempre preferência a belas reproduções de telas européias representando a Sagrada Família, pois certamente já haviam percebido, em seus

contatos com os letrados, que a cultura chinesa era voltada para a busca do equilíbrio e da beleza na arte, sem nenhuma evocação de sofrimentos físicos. É possível afirmar que a escolha de não enfatizar a imagem dolorosa de Cristo demonstrava justamente a sensibilidade dos inacianos para com o pensamento do Outro, evitando que a catequese se desse através de um choque cultural.
Em sua obra, Matteo Ricci demonstrou justamente esta capacidade de apreender muitas características da cultura chinesa, analisando-as com real interesse:
O maior filósofo entre eles é Confúcio que nasceu quinhentos e cinquenta e um anos antes da vinda do Senhor ao mundo e viveu mais de setenta anos de uma boa vida ensinando esta nação com palavras, obras e escritos; de todos é tido e venerado como o mais santo homem que teve o mundo. E, na verdade, naquilo que disse e na sua boa maneira de viver, de acordo com a natureza não é inferior aos nossos antigos filósofos, excedendo a muitos deles (Ricci, 2010, p. 28-29).
Ricci demonstra admiração pelos ensinamentos de Confúcio, ao qual se refere em diversas passagens de seu texto destacando, com muita propriedade, que os chineses não o consideravam uma divindade, honrando sua memória como homem e não como Deus (Ricci, 2010, p. 29). Tal afirmação permitia que os missionários aceitassem as homenagens prestadas a Confúcio pelos chineses convertidos ao catolicismo, sem considerá-las como manifestações de idolatria.
O papel de grande relevância que era exercido pelos letrados tanto na Corte quanto nas mais altas funções da administração impressionou favoravelmente Matteo Ricci, que fez também referência aos rigorosos exames imperiais (Ricci, 2010, p. 32-38). Estas imagens de valorização do mandarinato, do estudo e sobretudo da obra de Confúcio são difundidas na Europa em grande parte como consequência dos relatos dos jesuítas que olham com evidente admiração para um império que prestigia sua elite intelectual.
O processo de imersão na sociedade chinesa permitiu aos jesuítas que eles lançassem um olhar positivo sobre o Outro, reconhecendo as diferenças, buscando as semelhanças mas mantendo-se essencialmente europeus. De certa maneira, seus textos se assemelhavam a um trabalho de antropólogo, o que não era totalmente incomum nos relatos de alguns viajantes europeus da época. Segundo Mondher Kilani, tal trabalho “é o de mediação entre a identidade e a diferença” (Kilani, 1994, p. 14). Ainda de acordo com Kilani: “O exotismo não é a reconfiguração do Outro a partir do mesmo, pois isto seria certamente a sua perda, mas o reconhecimento fascinado de sua distância” (Kilani, 1994, p.12). Nesta perspectiva, é possível afirmar que os textos dos jesuítas mantém o fascínio da diferença, ainda que os padres tenham buscado a integração na sociedade chinesa, através de sua identificação com o mandarinato letrado.
Este caminho aberto pelos pioneiros Ruggieri e Ricci foi seguido por muitos inacianos que mantiveram comportamentos semelhantes de abertura para as possibilidades de aculturação, sem perder a capacidade do encanto pelas diversas qualidades do Outro. O padre português Gabriel de Magalhães, que viajou para Macau em 1636, entrou no continente chinês em 1640 e ali viveu até 1667. Escreveu um importante relato sobre a China, que foi levado para Roma em 1681 pelo jesuíta belga Philippe Couplet e, em seguida, traduzido para o inglês e o francês, e publicado no mesmo ano de 1688 em ambas as línguas (Abreu, 1997, p. 9). A obra foi reeditada várias vezes e, dada a sua repercussão, pode ser considerada também como formadora do imaginário europeu sobre o Império do Meio. Em algumas passagens, o jesuíta não poupa elogios aos chineses:
Que reino existe, por mais universidades que possua, que tenha mais de dez mil licenciados como a China, dos quais seis a sete mil se reúnem todos os anos, em Pequim, onde depois de rigorosos exames, se admitem 365 ao grau de doutor? Creio que não existe nenhum estado que tenha tantos estudantes quanto há de bacharéis na China, onde existem 80.000 e que não há país algum onde o conhecimento das letras seja tão universal e comum, pois que, nas províncias meridionais, principalmente, não há quase nenhum homem, pobre ou rico, burguês ou aldeão, que não saiba ler e escrever (Magalhães, 1977, p. 129-130).
Sem dúvida há muito exagero nas informações de Magalhães. No entanto, corresponde à realidade das sociedades asiáticas a valorização do conhecimento e o respeito aos mestres. Fica também muito clara a admiração do jesuíta pela China e a imagem altamente positiva que seu relato veiculou na Europa. Em outra passagem, escreve:

Têm [os chineses] romances e livros de cavalaria, muito engenhosos e interessantes, semelhantes ao “Amadis”, “Rolando” e “Dom Quixote” etc., volumes de Histórias e de exemplos, de obediência de filhos aos seus pais, de fidelidade dos súbditos aos seus reis, da Agricultura, de eloquentes “Discursos”, de “Poesias” agradáveis e de belas inspirações. “Tragédias”, “Comédias”, enfim, tratados sobre uma infinidade doutros assuntos. Têm tanta facilidade em compor que há poucos licenciados e doutores que não publiquem, pelo menos, uma de suas obras (Magalhães, 1977, p.130).
O missionário coloca os chineses na mesma posição dos europeus em matéria de criação literária e descreve a China como uma sociedade que se encontra no mesmo patamar de desenvolvimento da Europa, e até mesmo mais avançada na consideração pelos acadêmicos e no papel que eles representam dentro do Estado. A qualificação do mandarinato, composto de homens letrados, desperta especial admiração junto aos jesuítas, eles próprios vinculados ao mundo das letras e do ensino.
O Extremo Oriente, com sua estrutura social que valorizava uma rígida hierarquia e que reconhecia a importância do estudo para a formação de um corpo de funcionários que passava obrigatoriamente pelos exames imperiais, exercia enorme fascínio sobre os inacianos. A recíproca também era verdadeira e os chineses, desde o final do século XVI, manifestavam grande interesse nos conhecimentos europeus de astronomia, matemática e cartografia. A astronomia era de extrema importância na China pois o imperador era considerado como “Filho do Céu” e o representava na terra, preservando os ritmos cósmicos, as colheitas e tudo o que se relacionasse com aspectos da fertilidade (Dinis, 2000, p. 273).
Os jesuítas, que tinham recebido uma excelente formação na Europa e dedicavam- se ao aprendizado do mandarim, tinham condições de realizar também traduções de textos europeus para o chinês:
“(…) livros de preces, obras devocionais, catecismos, imagens européias copiadas na China e obras teológicas serviram à população convertida que atingiu um pico de 200 mil pessoas em 1700, antes de entrar em uma fase de lento declínio. A existência de reimpressões e as múltiplas cópias dessas obras em grandes bibliotecas chinesas e européias dão testemunho de sua função e seu sucesso” (Hsia, 2008, p. 58).
No entanto, não apenas nos grupos de chineses catequizados os escritos dos jesuítas eram dignos de atenção e respeito:
“Fora das comunidades convertidas, os textos europeus causaram um impacto considerável nas décadas iniciais do século XVII, especialmente na reforma do calendário, na Astronomia, na Matemática e em outras ciências. Além disto, vários textos de Matteo Ricci sobre temas tanto greco-romanos como cristãos tiveram grande circulação entre os literatos das áreas urbanas, graças à sua reputação.” (Hsia, 2008, p. 59).
É possível afirmar, a partir de uma leitura atenta dos relatos dos inacianos, que ocorreu um efetivo encontro de culturas entre o Ocidente e o Oriente, encontro este que foi possível em virtude dos comportamentos de ambas as partes. De um lado, os jesuítas estavam abertos aos contatos, interessados em conhecer efetivamente a uma civilização que tinham em alta conta, ainda que esperassem convertê-la ao cristianismo. De outro lado, a elite chinesa, em um império que se encontrava fechado ao exterior por temer a permanente ameaça de invasões das tribos do norte, dava-se conta de que a ciência ocidental havia avançado em áreas nas quais a China tinha estagnado (3). Este desejo de conhecer os avanços científicos da Europa ia ao encontro também do desejo dos missionários de mostrar os seus conhecimentos das ciências renascentistas para estabelecer uma base a partir da qual os contatos pudessem se desenvolver. Foi, portanto, um duplo movimento em relação ao Outro que teve como característica a consciência de que havia a possibilidade de troca, de diálogo entre ambas as partes.
Os jesuítas foram autorizados pelos sucessivos imperadores das dinastias Ming e Qing a fundar missões dentro do império podendo realizar conversões, com a condição de que não se opusessem aos rituais confucionistas e nem às cerimônias de culto aos ancestrais, fundamentos da sociedade chinesa. Em alguns casos, como o do alemão Adam Schall von Bell e o do flamengo Ferdinand Verbiest, chegaram a ocupar um dos mais altos postos destinados a mandarins-cientistas. Schall, e depois dele Verbiest, foram nomeados pelo imperador para o prestigiado cargo de Diretor do Observatório Astronômico e Tribunal das Matemáticas.
Adam Schall enfrentou muitas dificuldades, principalmente pela inveja que causou entre alguns mandarins dado seu grande prestígio e também pelo fato de ter apontado erros importantes no calendário chinês da época, que justamente foi corrigido pelos inacianos (Dunne, 1962, p. 349-366). Posteriormente, no entanto, foi reabilitado e seu túmulo ocupa um lugar de honra, ao lado de Ricci e de Verbiest logo na entrada do cemitério Jesuíta de Beijing.
O agudo senso de observação por parte dos jesuítas conferiu credibilidade às suas informações sobre a sociedade chinesa. Os inacianos foram reconhecidos, entre os séculos XVI e XVIII, na Europa, como fontes privilegiadas na comunicação de imagens da China. O interesse por seus relatos foi imenso, o que é comprovado por suas inúmeras reedições e traduções. A posição de autoridade da qual se revestiam, pelo fato de terem sido aceitos como iguais entre os letrados chineses, era também responsável pela recepção positiva dos seus textos.
Uma obra que marcou época como sendo um compêndio síntese da imensa aventura da Companhia de Jesus no Império do Meio foi a China Illustrata, também conhecida como China Monumentis (4), de Athanasius Kircher, cuja primeira, entre muitas edições, data de 1667. Embora Kircher não tenha sido missionário no Oriente, a referida publicação foi de grande importância e constituindo-se em um trabalho enciclopédico, em grande parte de compilação e reprodução de diversos relatos de missionários, com gravuras de excepcional qualidade artística (Kircher, 1667).
É importante, porém, salientar que a imagem positiva da China divulgada pelos jesuítas estava associada ao confucionismo e ao mandarinato confucionista. O budismo não recebeu a mesma atenção por parte dos missionários e muitas vezes foi alvo de duras críticas. Matteo Ricci, em mais de uma oportunidade, demonstrou claramente nos seus escritos a opinião negativa que tinha a respeito dos budistas. Considerava-os idólatras, o que não ocorria com o confucionismo, cujos rituais entendia como manifestações cívicas (Hsia, 2010, p. 242-243).
É possível afirmar, então, que o julgamento dos missionários em relação às crenças dos chineses era balizado pelas possibilidades de convertê-los ao cristianismo. Na opinião dos padres, o confucionismo não impediria a conversão, o que se revelou ao menos em parte verdadeiro, já que diversos mandarins abraçaram o catolicismo, preservando a fidelidade aos ensinamentos de Confúcio sobre a família, a hierarquia na sociedade e o papel do imperador. Já os budistas e sua organização monástica eram, aos olhos dos jesuítas, menos permeáveis à catequese, pois se estruturavam de maneira mais firme e com maior visibilidade imagética em torno de suas crenças. É também importante salientar que a preferência pelo confucionismo se deu devido ao fato de que os ensinamentos do mestre chinês valorizavam uma estrutura administrativa na qual os letrados ocupavam um papel central, e as funções de destaque do império eram exercida por um corpo de mandarins que foi bastante receptivo aos igualmente letrados jesuítas. De certa forma, era o espelhamento em um Outro que muito se aproximava do mesmo, já que a ênfase na educação era parte essencial da Companhia de Jesus.
As “Cartas edificantes e curiosas” do século XVIII
Entre as muitas informações produzidas pelos jesuítas e difundidas através da Europa no século XVIII estavam as chamadas “Cartas edificantes e curiosas”. Tais cartas foram enviadas pelos inacianos franceses estabelecidos em várias partes do mundo, a diversas personalidades, e depois publicadas com o objetivo de divulgar o trabalho de catequese e dar maior visibilidade para a Companhia de Jesus, buscando também apoio para a continuidade da atividade missionária. No caso das cartas que foram escritas a partir da China, mais do que os detalhes das conversões em si, que não eram em tão grande número a ponto de impressionar os europeus, os padres franceses fizeram questão de mostrar, principalmente, a posição de destaque que desfrutavam no Império do Meio.
A história da chamada Missão Francesa remonta a 1685, quando o rei Luís XIV enviou para aquele país um grupo de jesuítas que chegou a Beijing em 1688. Com tal decisão, o monarca ignorava o Padroado português que, ao menos teoricamente, detinha a exclusividade do controle da atividade missionária no Oriente.(5) Os jesuítas franceses eram cientistas de excelente formação e tinham sido escolhidos com o apoio da Academia de Ciências de Paris, que não se interessava diretamente pela atividade missionária mas desejava enviar para diversas partes do mundo pessoas capacitadas a coletar informações visando um amplo trabalho que estava realizando, de aperfeiçoamento da cartografia. A ideia de que os padres da Companhia de Jesus seriam os mais indicados para tal função na China devia-se ao fato, já então bem conhecido na Europa, de que eles desfrutavam de boa acolhida na fechada corte imperial, o que não era o caso de outros estrangeiros (Vissière & Vissière, 2001, p. 10-11).
A Missão Francesa, no entanto, foi muito além de um simples contato científico- missionário. Kang’xi, que ocupou o trono imperial entre 1662 e 1722, afeiçoou-se aos inacianos tornando-se um grande admirador de suas atividades, mantendo a aura de prestígio da qual eles já desfrutavam e integrando-os também durante seu longo reinado ao corpo dos grandes letrados do Império (Spence, 1988).
Das muitas cartas enviadas pelos jesuítas a seus correspondentes europeus, destaca-se a de Jean de Fontaney, escrita em fevereiro de 1703 para o padre de la Chaise, confessor do rei francês Luís XIV. Nela, Fontaney descreve de modo muito positivo as honras que foram proporcionadas ao padre Ferdinan Verbiest na cerimônia de seu velório, ocorrido anos antes, em 1688. Relata também o papel de mediadores exercido pelos jesuítas em um confronto que havia ocorrido entre russos e chineses, em virtude do agressivo expansionismo russo.
A mediação dos padres foi fundamental naquela oportunidade para que se alcançasse a então chamada Paz de Nertchinski. Nela destacou-se a atuação dos inacianos Thomas Pereyra e Jean-François Gerbillon que estavam a serviço do imperador chinês, atuando nas reuniões entre ambas as nações como intérpretes e conselheiros. Fontaney escreve: “Esta paz muito honrou os dois missionários; todo o exército os felicitou (…)” (Fontaney, 2001, p. 65). Nesta mesma carta o jesuíta descreve ainda o grande interesse do imperador pelo estudo da matemática e da geometria euclidiana (Fontaney, 2001, p. 66) reafirmando, portanto, na Europa, uma imagem muito positiva do soberano chinês, curioso e interessado em aprender, o que era, efetivamente, uma característica de Kang’xi (Spence, 1988, p. xviii).
Outros missionários franceses mantiveram também uma ativa correspondência com diversas personalidades europeias. O padre Dominique Parrenin, que além de missionário era um cientista consagrado, trocou, entre 1728 e 1740, diversas cartas com Dortous de Mairan, físico e matemático que foi diretor da Academia de Ciências de Paris e depois seu Secretário Perpétuo (Parrenin, 2001, p.180). Em uma destas cartas o padre discorreu longamente sobre as ciências na China, fazendo análises interessantes sobre o fato dos chineses valorizarem mais a “história das leis e da moral”, o que ocorria em detrimento das “ciências especulativas”, como eram chamadas a geometria e a astronomia (Parrenin, 2001, p.184).
A situação descrita pelo jesuíta era real e justamente em função dela o trabalho dos inacianos mostrava-se de grande utilidade para o império. Parrenin, porém, destacou que o relativo atraso no qual se encontravam os chineses no século XVIII em relação às “ciências especulativas” não consistia em nenhuma deficiência inerente a eles mas era resultado de uma escolha, já que os concursos para mandarim, que davam acesso às funções de maior prestígio, exigiam principalmente conhecimentos ligados às leis e à moral. De acordo com o padre Parrenin os chineses eram “bem sucedidos em outros assuntos que não demandavam menos gênio e nem menos profundidade do que a astronomia e a geometria” (Parrenin in Vissière & Vissière, 2001, p.181).
O imperador Qianlong, que reinou de 1735 até 1796, sucedeu Kang’xi e manteve, como era praxe já há muitos anos, diversos jesuítas a seu serviço em Beijing, inclusive padres que eram também artistas e que trabalhavam como pintores oficiais da corte. Alguns deles alcançaram grande destaque, como foi o caso do italiano Giuseppe Castiglione “que fez (…) combinar as artes ocidental e oriental e formar uma nova escola de pintura da China (…)” (Seng, 2002, p. 131). No entanto os inacianos que, como seus antecessores, continuavam a viver sob a proteção imperial, estavam entre os derradeiros representantes de um rico encontro entre o Ocidente e o Oriente que em breve seria interrompido em função de acirradas discussões sobre as práticas da missionação.
As ásperas disputas que ficaram conhecidas como a “querela dos ritos”, motivadas pela intransigência da Santa Sé em aceitar as cerimônias de culto aos ancestrais e de homenagem a Confúcio, fizeram com que os missionários começassem a perder
o apoio até mesmo do próprio imperador e a sofrer perseguições de parte da população, já que os rituais que estavam sendo criticados pelo papado, representavam a própria essência da milenar cultura chinesa.
Na Europa, recrudesciam também as críticas aos métodos inacianos de aculturação o que, ao menos parcialmente, influenciaria na dissolução da Ordem. De parte dos jesuítas, já não havia mais uma personalidade forte, batalhadora por suas idéias e prestigiada em Roma, como Alessandro Valignano no século XVI, que pudesse defender a originalidade de seus métodos de aproximação com as populações locais, visando abrir caminho para a catequese.
Conclusão
Muitos são os enfoques possíveis para a análise das atividades da Companhia de Jesus na China mas evidencia-se sempre, sob qualquer aspecto, a importância dos inacianos na elaboração de imagens europeias do Império do Meio – importância esta que é tributária de um bem sucedido encontro cultural. Os mandarins foram vistos pelos missionários como interlocutores plenamente capacitados para o diálogo, o que permitiu que os contatos frutificassem de acordo com os múltiplos interesses de ambas as partes.
Considerando-se que os relatos dos missionários e muitas de suas cartas foram traduzidos em diversas línguas e circularam largamente entre os séculos XVI e XVIII, é lícito afirmar que se constituíram em importante veículo de comunicação das próprias vivências dos inacianos, depoimentos fundamentais nos quais a admiração ocupava maior espaço do que as críticas. Os padres jesuítas contribuíram, assim, para que a extrema alteridade se tornasse mais próxima.
A extinção da Companhia de Jesus, em 1773, pelo papa Clemente XIV, e o expansionismo imperialista europeu, que se tornaria mais agressivo no século XIX mas que já se delineava, destruíram as chances de continuidade de tão densos encontros, porém a ideia de um fascinante império chinês manteve-se muito presente no imaginário ocidental. E os jesuítas foram, sem dúvida, parte ativa na sua construção.
Na China, ainda hoje, a memória destes encontros é visível e bem preservada no denominado Antigo Observatório Astronômico Imperial, cujo acervo de instrumentos remonta aos padres-cientistas e no Cemitério Jesuíta de Beijing, com seus 63 túmulos de missionários, monumentos que ainda fazem ressoar uma época na qual os imperadores respeitavam e honravam aqueles que eram detentores de muitos saberes.
Referências
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NOTAS
1 As duas edições mais acuradas desta obra de Ricci são: 1) a comentada por P. Pasquale d’Elia, S.J., sob o título de Storia dell’introduzione del Cristianesimo in Cina ; 2) a editada por Piero Corradine a partir do manuscrito original do Arquivo Romano da Companhia de Jesus e comentada por Maddalena del Gatto, que mantém o título original dado por Ricci, Della entrata della Compagnia di Giesù e Christianità nella Cina. Esta última foi a fonte escolhida para o presente artigo já que, em sua fidelidade ao manuscrito, mantém a linguagem do autor (repleta de influências do português, do espanhol e mesmo do mandarim), sem alterações por parte do editor (Ricci, 2010).
2 Todas as traduções de fontes e bibliografia com originais em idioma estrangeiro são minhas.
3 Os mongóis haviam conquistado a China no século XIII e, após inúmeras invasões, permaneceram no poder entre 1280 e 1368. Foram abertos à presença de várias etnias asiáticas o que fez com que o mandarinato chinês perdesse muito de seu prestígio. O intercâmbio com o exterior desenvolveu-se em grande escala durante o periodo chamado de Pax Mongolica, no qual a Rota da Seda floresceu. Quando, porém, os chineses retomaram o poder e estabeleceram a dinastia Ming (1368-1644), temerosos de novas invasões das tribos do Norte, decidiram-se pelo isolamento do império, reservando novamente as altas funções administrativas aos mandarins de etnia chinesa. Na defensiva, porém, deixaram de se beneficiar do avanço da ciência e do conhecimento que ocorria em outras partes do mundo. Sobre os mongóis na China, ver Gelber, 2008, p. 63-82.
4 O nome completo da obra de Athanasius Kircher é China Monumentis, Qua Sacris, quà Profanis, nec non variis Naturae & Artis Spectaculis, Aliarumque rerum memorabilium Argumentis Illustrata.
5 Embora o sistema de Padroado vinculasse efetivamente os jesuítas à coroa lusa também na China, a situação ali era menos rígida. Padres de diversas nacionalidades estavam sempre prestando contas de forma mais direta a Roma e aos seus supervisores. O caso dos franceses enviados por Luís XIV era, por sua vez, totalmente excepcional, com independência completa de Portugal, o que não ocorreu sem fricções e problemas diversos. Horácio Peixoto de Araújo faz uma boa análise do sistema do Padroado e suas características na China (Araújo, 2000)e Isabelle e Jean-Louis Vissière apresentam o caso francês, na Introdução ao volume que editaram com as Lettres Édifiantes et Curieuses (Vissière & Vissière, 2001, p. 7-24)