Uma deriva geológica na política brasileira: a divisão do país em dois extremos prejudiciais ao futuro da nação
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a fratura ideológica na sociedade brasileira, começando pelo divisionismo inaugurado pelo lulopetismo, até chegar na exacerbação estimulada pelo bolsonarismo.
Não me pronuncio, nem escrevo sobre as eleições municipais no Brasil, e nem é porque em Brasília, onde resido, não existe essa eleição (ainda que deveria existir, pois o nível da representação é bem mais baixo do que em várias capitais).
A única coisa sobre a qual eu me manifesto tem uma dimensão NACIONAL, mas que já contaminou inclusive a maioria das eleições nas grandes cidades e talvez em todas as capitais.
O lado mais lamentável desde as eleições locais de dois mandatos atrás é a tremenda POLARIZAÇÃO IDEOLÓGICA que não deveria ter nada a ver com objeto próprio destas eleições que são com os prosaicos problemas municipais, da vida diária.
Essa é a HERANÇA MALDITA do lulopetismo, surgido ainda lá atrás quando o PT embarcou no jogo eleitoral, com seu divisionismo doentio “nós e eles”, ou seja, eles, o suposto povo verdadeiro, de um lado, e todos os “inimigos do povo”, do outro lado, o que incluía até os tucanos social democratas, tudo o que não fosse petista puro sangue.
Esse divisionismo, mais a ENORME CORRUPÇÃO do PT, jogou a classe média nas mãos do antipetismo, que, por acaso e circunstâncias próprias do período 2013-2018, foi empolgado e monopolizado pela extrema-direita mais burra, mais sectária e mais ignorante que poderia ter surgido no país: o bolsonarismo rústico, odioso e odiento, elogiador de torturadores e negacionista estúpido.
O bolsonarismo, então, levou aos extremos a GRANDE DIVISÃO do país, arrastando consigo mesmo liberais sinceros e muitos conservadores centristas, que são, basicamente antipetistas, não necessariamente reacionários extremados e adeptos de um psicopata boçal como é aquele que aparece como chefe da tropa.
Os dois extremos se reforçam, incitam e exacerbam essa divisão, pois que só conseguem se manter “atrativos” apelando para os mais baixos instintos dos eleitores e para os sentimentos primitivos de cidadãos cansados do jogo político normal, geralmente tido por corrupto (como se os dois extremos fossem exemplos de virtudes e propositores de boas políticas).
Essa divisão geológica, essa fratura monumental na política nacional deve se arrastar até a morte (natural ou política) dos dois representantes de cada extremo, dois carismas negativos, medíocres e paralisadores de qualquer progresso na construção de vias alternativas para o exercício de disputas políticas normais e saudáveis para o Brasil.
Lulopetismo e bolsonarismo são duas excrescências que diminuem qualquer vida inteligente na política brasileira. São uma espécie de deriva genética que distorce um panorama que poderia ser menos divisivo e menos ignorante na vida da nação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4746, 1 outubro 2024, 2 p.
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