O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador 2020. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 2020. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Análise crítica dos documentos da Defesa (PND, END e LIBDN), 2020 - Eduardo Brick


Análise crítica dos documentos de alto nível da defesa do Brasil (PND, END e LBDN, versão 2020)

por Eduardo Siqueira Brick
publicado por UFFDefesa (2020)
(PRA: destaco um trecho crítico mais abaixo)
Este Sumário Executivo tem como propósito apresentar os principais resultados, conclusões e recomendações extraídos da análise crítica dos documentos de alto nível da defesa, submetidos à aprovação do Congresso Nacional pelo Ministério da Defesa, no dia 22/07/2020: Política Nacional de Defesa (PDN), Estratégia Nacional de Defesa (END) e Livro Branco da Defesa Nacional (LBDN). 
O assunto é muito complexo e sua análise exigiu ampla fundamentação teórica e empírica, resultando em um texto muito extenso, contido em um outro documento. Por este motivo, no intuito de facilitar o acesso aos seus resultados, foi preparado este Sumário Executivo, contendo apenas conclusões, recomendações e algumas informações fundamentais para o seu entendimento. 
Esses dois textos são complementares e devem trabalhar juntos. 
Quem desejar conhecer com mais profundidade a fundamentação e o detalhamento da análise deverá consultar o Documento Completo:
http://www.defesa.uff.br/images/Textos/Analises/Anlise%20PND_END_LBDN_Sumrio%20Executivo.pdf Trecho: "Três aspectos muito negativos chamam imediatamente a atenção de quem analisa os documentos sob a perspectiva da gestão estratégica da defesa: a) Não apresentam orçamentos para os projetos propostos pelas FFAA e, muito menos, sua distribuição ao longo do tempo. O Livro Branco da Defesa Nacional (LBDN) olha apenas para o passado e, não para o futuro, como são os livros brancos de todos os países. A única alternativa considerada é pedir mais recursos (2% do PIB), sem definir bem para quê. b) Não existe qualquer indicação de prioridades. (Tudo é prioritário? E se o orçamento não for suficiente para tudo?) c) Não existe um Plano B, que considere a hipótese (altamente provável) de não ser possível aumentar o orçamento. Nessas condições, é razoável esperar que se procure eliminar coisas que agreguem pouco valor à defesa (efetivos e meios e instalações obsoletas, por exemplo) e implementar reformas para aumentar a eficácia e a eficiência do sistema, liberando recursos. A maioria dos países vêm recorrendo a esta medida nos últimos anos, premidos, que são, assim como o Brasil, por restrições orçamentárias (este foi o principal problema detectado na análise dos documentos)."

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Um adivinho que acerta os vencedores das eleições nos EUA: Allan Lichtman

He Predicted Trump’s Win in 2016. Now He’s Ready to Call 2020.

Most historians just study the past. But Allan Lichtman has successfully predicted the future.
The New York Times, August 5, 2020
Video by Nayeema Raza and 
Right now, polls say Joe Biden has a healthy lead over President Trump. But we’ve been here before (cue 2016), and the polls were, frankly, wrong. One man, however, was not. The historian Allan Lichtman was the lonely forecaster who predicted Mr. Trump’s victory in 2016 — and also prophesied the president would be impeached. That’s two for two. But Professor Lichtman’s record goes much deeper. In 1980, he developed a presidential prediction model that retrospectively accounted for 120 years of U.S. election history. Over the past four decades, his system has accurately called presidential victors, from Ronald Reagan in ’84 to, well, Mr. Trump in 2016.
In the video Op-Ed above, Professor Lichtman walks us through his system, which identifies 13 “keys” to winning the White House. Each key is a binary statement: true or false. And if six or more keys are false, the party in the White House is on its way out.
So what do the keys predict for 2020? To learn that, you’ll have to watch the video.
Allan Lichtman (@AllanLichtman) is a professor of history at American University.
2274 COMMENTS

SE vocês assistira ao filme, já viram quem vai ganhar...

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Previsões pessimistas para a economia mundial - IEDI

Coronavírus e o Cenário Econômico Mundial
Carta IEDI n. 994, 4/05/2020
Sumário
A pandemia do coronavírus provocou a maior crise econômica e financeira global desde os anos 1930, sendo denominada pelo FMI de “great lockdown”. De acordo com o cenário básico do Fundo de abril, o PIB da economia global cairá -3% em 2020. Ou seja, mais de 6 pontos percentuais (p.p.) inferior à sua projeção anterior, divulgada em jan/20 (+6,6%). A “grande recessão”, no contexto da crise financeira global de 2008, havia registrado recuo de -0,1% em 2009.
A primeira hipótese subjacente ao cenário considerado mais provável pelo FMI é que a pandemia será controlada no segundo semestre de 2020, permitindo a retirada gradual das medidas de isolamento social tanto nas economias avançadas como nas economias emergentes e em desenvolvimento. Com isso, a economia global voltará a crescer em 2021 a um ritmo de +5,8%. 
A segunda hipótese é que as medidas de combate à crise do coronavírus, adotadas de forma praticamente generalizada pelos governos de muitos países, como mostraram as Cartas IEDI n. 987, 991 e 992, evitarão um colapso ainda maior da atividade econômica e serão mantidas no próximo ano ou ampliadas, se necessário. 
Ainda mais grave será o efeito do coronavírus sobre o comércio internacional, cujo volume cairá -11% em 2020, segundo o FMI. A alta +8,4%, projetada para 2021, não será capaz de compensar integralmente o recuo deste ano.
No caso dos preços das commodities, um parâmetro importante para um grande exportador de bens primários como o Brasil, o FMI estima que seu índice de matérias-primas agrícolas e metálicas recuará -1,1% em 2020 e -0,6% em 2021. Importante influência virá dos metais que, por serem insumos da produção industrial, têm preços muito mais sensíveis ao ciclo econômico. 
Retrocesso maior ficará por conta das commodities energéticas, como já apontou a cotação negativa do barril WTI, referência para o mercado americano, em 20/04. A previsão do Fundo é de uma deflação de -42% em 2020, devido à baixa demanda global, e uma recuperação muito parcial em 2021 (+6,3%).
O Fundo alerta, porém, para o alto grau de incerteza em relação ao seu cenário básico na medida em que o desempenho da economia global dependerá da interação de fatores de difícil previsão, como a evolução da pandemia, a intensidade e a duração das medidas de isolamento, a dimensão do choque de oferta devido à interrupção de cadeias, a repercussão do choque financeiro etc. Ou seja, o desempenho global poderá ser ainda pior do que o apresentado acima. 
No cenário básico, o grupo das economias avançadas será o principal responsável pela contração da economia global em 2020, com queda do PIB prevista de -6,1%. Para 2021, a previsão é de uma forte retomada: +4,5%. Em outros termos, o Fundo aponta para uma curva em “V” para a recuperação. 
O maior declínio do PIB será registrado na Área do Euro (-7,5%), devido à gravidade da epidemia na Itália e na Espanha e, em menor medida, na França e na Alemanha. Recuos intensos também são esperados no Reino Unido (-6,5%), EUA (-5,9%) e Japão (-5,2%). Em um quadro não tão adverso estão países que contiveram mais rapidamente a disseminação do vírus sem a necessidade de drástico isolamento social, como Singapura, Hong Kong, Coréia do Sul etc. 
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a crise virá em múltiplas dimensões: choque sanitário, face a sistemas precários de saúde pública, e choque econômico, com colapso da demanda externa; deflação dos preços das commodities; reversão dos fluxos de capitais; aumento dos prêmios de risco nos mercado financeiro; queda dos preços das ações; e fortes depreciações cambiais. 
A previsão do FMI é de uma queda de -1% do PIB no grupo das economias emergentes e em desenvolvimento. Este resultado esconde, contudo, forte heterogeneidade. Enquanto a Ásia emergente deve apenas se desacelerar, mantendo-se no azul (+1% em 2020), em função de China (+1,2%) e Índia (+1,9%), outras regiões, como a América Latina e a Europa emergente não escaparão de queda acentuada: -5,2% em ambos os casos. 
Para o Brasil, o FMI espera um recuo de -5,2%, em linha com o desempenho da Rússia, mas não tão severo como o do México, que tem maior dependência da demanda externa dos EUA, bem como das exportações de petróleo. Para o Banco Mundial, a queda do PIB brasileiro em 2020 não será muito diferente: -5%, embora projete um declínio mais acentuado para a América Latina como um todo (-4,6%).

Introdução

Esta carta IEDI apresenta o cenário atual para o desempenho da economia global do Fundo Monetário Internacional (FMI), que provocou a maior crise econômica e financeira desde os anos 1930. A primeira seção apresenta esse cenário e, a título de comparação, a projeção atualizada do Banco Mundial para a América Latina. As demais instituições multilaterais ainda não divulgaram a atualização dos seus cenários. 
A segunda seção sintetiza o impacto do choque do Covid-19 sobre a economia global, subjacente ao cenário do FMI, com base, principalmente, nos primeiros capítulos do World Economic Outlook e do Global Financial Stability Report de abril de 2020. As demais referências utilizadas são informadas ao longo da análise. 

Cenário para a economia global

A pandemia do coronavírus provocou a maior crise econômica e financeira global desde os anos 1930, denominada pelo FMI de “great lockdown”. De acordo com o cenário básico dessa instituição multilateral, a economia global contrairá -3% em 2020, mais de 6 pontos percentuais (p.p.) inferior à projeção de janeiro (+6,6%). A intensidade desta queda é muito superior ao registrado no contexto da crise financeira global de 2008 e da “grande recessão”: -0,1% em 2009. 
Além da maior gravidade da crise atual, a diferença no desempenho da economia mundial nas vésperas das duas crises também chama atenção do Fundo. Enquanto a crise financeira de 2008 foi precedida por um boom de crescimento de cinco anos consecutivos a taxas superiores a +4% ao ano, atingindo pico de +5,7% em 2007, nos anos anteriores ao “great lockdown” decorrente do covid-19 a economia global já estava em desaceleração. 
O ritmo de expansão do PIB mundial em 2019 foi de +2,9% em contraste com projeção do FMI que indicava +3,6%, em outubro do ano passado. Ademais, o período 2012-2016 caracterizou-se por um baixo crescimento da economia global e falta de sinais consistentes de aceleração, com o que o PIB global variou entre +3% e +3,5%, num contexto de vários eventos desestabilizadores, dentre os quais a crise da área do euro, a volatilidade das condições financeiras globais e a queda dos preços das commodities a partir de 2014.
A primeira hipótese subjacente ao cenário básico do FMI é que a pandemia será controlada no segundo semestre de 2020, permitindo a retirada gradual das medidas de isolamento social, tanto nas economias avançadas (EA) como nas economias emergentes e em desenvolvimento (EMED). Com a consequente retomada do nível de atividade, a economia global voltará a crescer em 2021 a um ritmo de +5,8%. 
A segunda hipótese é que as medidas de estímulo adotadas de forma praticamente generalizada pelos governos dos dois grupos de economia (ver Carta IEDI n. 987, 991 e 992), evitarão um colapso ainda maior da atividade econômica global e serão mantidas no próximo ano, sendo ampliadas, se necessário. 
Neste cenário, a retração de -11% do volume de comércio internacional prevista para 2020, como reflexo da contração da atividade econômica global, será sucedida por um crescimento de +8,4% em 2021, bem acima do ritmo anterior à crise de 2020. 
No caso dos preços das commodities, com base nos preços vigentes nos mercados futuros no final de março, o FMI estima que seu índice de matérias-primas agrícolas e metálicas recuará -1,1% em 2020 e -0,6% em 2021, como resultado da queda muito mais expressiva do preço dos metais (de -15% em 2020 e -5,6% em 2021) que, por  serem insumos da produção industrial, são muito mais sensíveis ao ciclo econômico global. 
Já para os preços das commodities agrícolas, a projeção é de um recuo de -1,8% e uma alta de +0,4% em 2021. Por sua vez, o índice das commodities energéticas será muito mais afetado. A previsão é de uma deflação de -42% em 2020 e uma pequena recuperação em 2021 (+6,3%) em função não somente do maior impacto da crise sobre a demanda por petróleo, mas também da inexistência de um acordo de corte de produção entre os países da OPEC+ até o fechamento das projeções do FMI (ver próxima seção). 
 O Fundo é muito cauteloso, alertando para o alto grau de incerteza em relação ao seu cenário básico na medida em que o desempenho da economia global dependerá da interação de fatores de difícil previsão, como a evolução da pandemia, a intensidade e a duração das medidas de confinamento,  a dimensão do choque de oferta decorrente da interrupção da atividade em vários setores, a repercussão do choque financeiro provocado pela forte deterioração das condições financeiras globais, a possível mudança nos padrões de gasto e, inclusive, comportamentais (como pessoas evitando shopping centers e transporte público). Assim, os riscos de que um desempenho pior do que o previsto nesse cenário são muito elevados. 
Para conter esses riscos e evitar que um cenário mais adverso se manifeste, o FMI destaca que um amplo conjunto de políticas em âmbito doméstico e multilateral é necessário para conter as consequências da pandemia Covid-19 tanto no curto como no médio e longo prazo. Mesmo as medidas adotadas para reduzir o contágio, que têm levado à forte queda da atividade econômica, devem ser vistas como um importante investimento de longo prazo na saúde população e da economia. 
A prioridade imediata é mitigar os efeitos do choque Covid-19, especialmente mediante o aumento das despesas para fortalecer a capacidade e os recursos dos sistemas de saúde, simultaneamente às iniciativas para conter o contágio. 
As políticas econômicas também são essenciais para amortecer o impacto da inevitável queda da atividade econômica nas empresas, famílias e no sistema financeiro, bem como garantir a normalização gradual da atividade econômica logo que a pandemia se dissipe e as medidas de confinamento sejam retiradas. 
Políticas de natureza fiscal, monetária e financeira, com foco em setores específicos, são igualmente necessárias para apoiar as empresas e famílias afetadas. 
É positiva a avaliação do Fundo sobre as políticas monetárias e fiscais contracíclicas de dimensão inédita adotadas até o início de abril. Todavia, segundo o FMI, políticas adicionais terão que ser acionadas se a paralização no nível de atividade se revelar persistente ou se a recuperação for anêmica após a remoção do confinamento.
Estímulos fiscais de grande escala podem impedir um colapso da confiança das empresas e famílias e contribuir para o aumento da demanda agregada, evitando um recuo ainda maior da atividade econômica. No âmbito da política monetária, a ação contracíclica dos bancos centrais das principais economias avançadas, bem como de várias emergentes e em desenolvimento, contribuíram para reduzir o risco sistêmico e evitar um aumento ainda maior da aversão aos riscos, colocando a economia global numa melhor posição de largada quando a retomada se iniciar. Assim, devem ser mantidas e ampliadas, se necessário. 
A provisão de liquidez para os bancos e instituições financeiras não-bancárias, especialmente aquelas que emprestam para pequenas e médias empresas, é vista como essencial na tentativa de evitar colapso maior da atividade econômica. Já as autoridades de regulação e supervisão financeira devem encorajar os bancos a renegociaram empréstimos de famílias e empresas em condições financeiras adversas.
O FMI ressalta que ações sincronizadas das autoridades monetárias dos países avançados podem ampliar seu impacto em cada país e contribuir para aumentar o raio de manobra dos países emergentes para a adoção de medidas de estímulo monetário.  
A cooperação multilateral também é vista como essencial para que os efeitos da pandemia sejam superados, inclusive para ajudar os países com restrições financeiras que enfrentam um choque “gêmeo”, de saúde e de financiamento, e para direcionar recursos para países com sistema de saúde frágeis. Os países também devem unir esforços tanto para que o espraiamento do vírus diminua, como para o desenvolvimento de uma vacina e outros tratamentos médicos contra a doença. 
Os riscos subjacentes ao cenário básico do FMI estão presentes nas projeções tanto para as economias avançadas com para as emergentes e em desenvolvimento. O primeiro grupo será o principal responsável pela contração da economia global em 2020, com uma queda prevista de -6,1% no PIB (contra -3,4% na “grande recessão”), decorrente do forte espraiamento da pandemia e das consequentes medidas de contenção, que levaram à paralização de diversos setores de atividades, aumento do desemprego e forte redução da demanda agregada. Para 2021, a previsão é de uma forte retomada, a um ritmo de +4,5%, uma diferença de 10,5 p.p. frente a 2020 (contra 6,5 p.p. entre 2009 e 2010). 
O maior declínio do PIB será registrado na Área do Euro (-7,5%) diante da severidade da epidemia em alguns países, como Itália e Espanha, que devem retrair -9,1% e -8%, respectivamente. Nas duas economias líderes (na Alemanha e França), o FMI prevê uma contração no patamar de -7%. 
Os demais países desenvolvidos também enfrentaram recessões agudas: em ordem decrescente, os recuos serão de -6,5% no Reino Unido, -5,9% nos Estados Unidos e -5,2% no Japão. Nos demais, a queda do PIB será um pouco menor (-4,6%), em função seja da adoção de medidas mais frouxas de confinamento (caso da Suécia), seja do desempenho menos adverso das economias de Singapura, Hong Kong, Coréia do Sul e Taiwan, que há alguns anos ascenderam à categoria de economia avançada na classificação do FMI. 
As economias emergentes e em desenvolvimento (EMED) também estão enfrentando uma crise de múltiplas dimensões diante da combinação do choque sanitário em sistemas precários de saúde pública aos diversos choques econômicos amplificadores: colapso da demanda externa, deflação dos preços das commodities, reversão dos fluxos de capitais, aumento dos spreads (prêmios de risco), queda dos preços das ações e fortes depreciações cambiais (ver próxima seção). Mesmo algumas EMED, onde o surto do Covid-19 ainda não atingiu a gravidade observada na China e em várias EA, já enfrentam crises econômicas de maior proporção devido à sua maior vulnerabilidade externa que amplifica os canais de transmissão do choque inicial.
A previsão do FMI, todavia, é de uma queda de somente -1% do PIB conjunto das EMED em 2020, seguida por uma expansão de +6,6% em 2021, maior taxa de crescimento desde 2010. Contudo, o ritmo da retomada (7,7 p.p.) é inferior ao estimado para as EA. A recessão bem mais suave do que nas economias avançadas encobre, porém, uma grande heterogeneidade regional. 
A Ásia emergente será a única região desse grupo com taxa positiva de crescimento em 2020 (+1,0%), embora 5 p.p. inferior à média da década anterior e 4.5 p.p menor que a registrada em 2019. Esse resultado, por sua vez, decorre, sobretudo, do desempenho das economias chinesa e indiana (+1,2% e +1,9%, respectivamente). Excluindo a China, a contração seria de -2,2 %. 
Já o PIB conjunto das economias da ASEAN, que também um peso relevante na dinâmica regional, retrairá -0,6%, mas as divergências entre os países membros também são expressivas (enquanto a Indonésia deve crescer +0,5%, a previsão para a Tailândia é de uma queda de -6,7% do PIB).
Nas demais regiões emergentes e em desenvolvimento, o desempenho será negativo, mas em diferentes intensidades. Tanto na Europa emergente e em desenvolvimento e na América Latina e o Caribe, o PIB regional retrairá -5,2% sob a influência das maiores economias regionais. As previsões para a Rússia e o Brasil são semelhantes (recuos de -5,3% e -5,2%, respectivamente), enquanto o México deve registrar uma recessão mais severa (-6,6%) diante da sua maior dependência da demanda externa dos Estados Unidos, bem como das exportações de petróleo. 
Segundo as projeções realizadas pelo Banco Mundial e divulgadas igualmente em abril de 2020, a retração do PIB da América Latina deve ser um pouco menos intensa do que o esperado pelo FMI: recuo de -4,6% para a região como um todo. Este desempenho será influenciado negativamente pelo Brasil, cujo declínio chegará a -5%, e também pela queda de -6% do México.
Já a retração no Oriente Médio e Ásia Central, segundo o FMI, será de -2,8%. Além do desempenho da Arábia Saudita (-2,3%), maior economia da região, a previsão é de queda do PIB na maioria dos países (exportadores e não-exportadores de petróleo). 
Finalmente, o PIB da África subsaariana deve declinar -1,6% como reflexo, principalmente, do desempenho das suas duas principais economias (recuo de -5,8% na África do Sul e -3,4% na Nigéria). O FMI também divulgou a projeção para o PIB dos países exportadores de petróleo (queda de -4,4%), com grande presença nessas duas últimas regiões e especialmente atingidos nessa crise.

O impacto do choque COVID-19 sobre a economia global

O choque do covid-19 é significativamente distinto daqueles que geraram as reversões anteriores do ciclo econômico global: 
     •  infecções reduzem a oferta de trabalho; 
     •  quarentenas, confinamentos e distanciamentos sociais – essenciais para conter o vírus – restringem a mobilidade, com efeitos particularmente intensos nos setores que dependem da interação social (como turismo e entretenimento); 
     •  o fechamento de fábricas e escritórios leva à ruptura das cadeias de valor e à redução da produtividade; 
     •  demissões, queda na renda, medo da contaminação e aumento da incerteza levam à redução do consumo, implicando fechamento de outras empresas e novas demissões. 
Em suma, parte substancial da economia é paralisada. Somente as despesas com saúde aumentam mais do que o esperado. 
Já a propagação do choque inicial ocorreu por canais semelhantes aos observados nas desacelerações ou crises precedentes, mas numa intensidade muito maior devido à natureza particular do choque covid-19 mencionadas acima. 
Dois canais foram rapidamente acionados: o comércio e as cadeias de produção globais. 
Como o choque eclodiu inicialmente na China, que tem um papel central tanto no comércio como na produção mundial, a queda abrupta da produção industrial, das vendas do varejo e do investimento fixo, em janeiro e fevereiro, registradas neste país contaminou o desempenho econômico das economias com vínculos com a economia chinesa (principalmente, países do sudeste asiático, Japão e outras EAs, como Alemanha e Estados Unidos), bem como países emergentes exportadores de commodities). 
Com o espraiamento da pandemia para a Europa e os Estados Unidos e a consequente adoção de medidas de confinamento a partir de fevereiro (embora em diferentes escalas), esses canais se reforçaram. Os índices de gerentes de compra indicam o colapso da atividade econômica em março na área do euro, Japão e Estados Unidos.
Outros canais se manifestaram a partir de meados de fevereiro com a propagação global do covid-19 e os receios cada vez maiores dos seus efeitos econômicos adversos. 
Os preços dos ativos de risco e das commodities despencaram numa velocidade inédita. Simultaneamente, diante o movimento de fuga para a qualidade dos investidores globais, os preços dos ativos considerados “porto-seguro”, como os títulos do governo americano (mas, em menor medida, alemão), inclinaram para cima e sua rentabilidade caiu fortemente como reflexo da queda dos spreads e da expectativa de políticas monetárias acomodatícias por um longo período.
Os mercados acionários experimentaram a queda mais rápida já registrada (o índice Standard & Poors 500 (S&P 500), o mais representativo das bolsas de valores dos Estados Unidos, caiu -20% frente ao seu pico desde a crise financeira global de 2008 em somente 16 pregões e a volatilidade dos preços dos ativos atingiu níveis não vistos desde aquela crise. 
Os spreads dos títulos corporativos de alto risco também aumentaram expressivamente, sobretudo das empresas do setor de energia e de atividades mais afetadas pela pandemia, como transporte. As condições se deterioraram ainda mais a partir do final de fevereiro como reflexo do aumento dos riscos de crédito e de liquidez. 
Com isso, os spreads dos títulos com grau de investimento, mas com risco de redução (downgrade) de suas classificações de risco de crédito (ratings), se ampliaram. Todavia, o mercado continuou aberto para empresas americanas com grau de investimento, que recorreram ao mercado de bônus para captar recursos diante da provisão parcial das necessidades de caixa pelas linhas de crédito bancário e o virtual congelamento dos mercados de commercial papers
Neste contexto, os bancos centrais das economias avançadas adotaram um conjunto de medidas para aliviar as tensões nos mercados financeiros e conter a deterioração das expectativas, como cortes nas taxas de juros básicas, provisão de liquidez mediante seja linhas já existentes, seja novos instrumentos, e programas de compra de ativos mais amplos vis-à-vis aos adotados no contexto da CFG (ver Cartas IEDI n. 987, 991 e 992).
O ajuste dos portfolios em direção a ativos líquidos (inclusive moeda) e seguros também resultou em sinais de escassez de funding em dólar americano, a moeda-chave do sistema monetário internacional. Esses sinais levaram o Federal Reserve (Fed), único capaz de atuar como emprestador em última instância em âmbito global, a acionar em meados de março suas linhas de swaps com outros bancos centrais, adotadas pela primeira vez na crise financeira de 2008. 
Além das linhas com os bancos centrais da área do Euro, Canadá, Reino Unido, Suíça e Japão,  que se tornaram permanentes em outubro de 2013 (as chamadas standing facilities), o Fed também estabeleceu linhas temporárias de seis meses de duração com os bancos centrais da Austrália, Suécia, Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Singapura, Coréia do Sul, México e Brasil, os mesmos contemplados em 2008. Autoridades monetárias de outras economias avançadas e da China também ativaram suas linhas de swaps.
No início de abril, os mercados de ativos começaram a recuperar parte das perdas diante do impacto positivo sobre as expectativas dos investidores das ações de política monetária e fiscal de escala sem precedentes adotados pelos países desenvolvidos para conter os efeitos econômicos da pandemia. 
Contudo, as tensões nos segmentos de maior risco dos mercados de crédito (bônus corporativo, empréstimos alavancados e crédito privado) persistiram. Elas começaram a ceder após o Fed e os bancos centrais da área do euro e Japão ampliarem e/ou criarem novas linhas emergenciais direcionadas ao crédito corporativo.
O impacto sobre os preços das commodities foi igualmente devastador em função não somente do choque financeiro, mas também do colapso em curso e previsto da demanda global.  
As commodities energéticas foram as mais atingidas, tendo o preço do petróleo acelerado seu movimento de “queda livre” a partir do início de março em função do fracasso da tentativa de acordo de corte de produção entre os países da OPEC+. O segundo grupo mais atingido foram as commodities metálicas, sobretudo as utilizadas como insumo da produção industrial. 
Vale mencionar que o acordo da OPEC+, que anunciou um corte inédito da produção a partir de maio, foi concluído somente em meados de abril (após o lançamento do cenário atual do FMI), detendo a espiral descendente dos preços do petróleo. 
Contudo, essa espiral foi retomada rapidamente, pois o corte anunciado foi insuficiente para compensar o colapso no consumo global. Diante do excesso de oferta global, no dia 22 de abril, o preço do petróleo Brent, uma das cotações internacionais de referência, atingiu o menor nível em duas décadas após a segunda cotação de referência (West Texas intermediate - WTI) registrar um valor negativo pela primeira vez na história. Isto porque, os agentes com posições compradas no mercado futuro de WTI tiveram que pagar para liquidarem seus contratos antes do vencimento devido à escassez de terminais de armazenamento. 
A pandemia do covid-19 foi o gatilho de múltiplos choques externos sobre as economias emergentes e em desenvolvimento (EMED). A combinação da queda dos preços das commodities, aumento da aversão ao risco global e a perspectiva de uma recessão mundial resultou numa liquidação em massa de ativos emitidos por essas economias nos mercados internacionais e domésticos. Os preços das ações dos mercados emergentes registraram quedas sincronizadas e em intensidade semelhante, recuando em torno de -20% entre meados de janeiro e início de abril. 
Já nos mercados de câmbio, as moedas dos países exportadores de commodities (Brasil, México, África do Sul, Colômbia e Rússia) foram as mais atingidas. Com exceção da Colômbia, esses países também se destacam pela maior liquidez dos seus mercados de câmbio (à vista e/ou de derivativos) em comparação com seus congêneres regionais, o que pode ter contribuído para as fortes depreciações registradas. As moedas das demais EMED foram relativamente menos afetadas, seja devido às intervenções dos bancos centrais, seja da menor vulnerabilidade externa. 
No mercado externo de títulos soberanos, os spreads atingiram no final de março os níveis mais altos desde a crise financeira de 2008. Nesse mercado, houve igualmente diferenciação entre os países, com as maiores altas sendo registradas naqueles com elevadas dívidas externas e/ou déficits em conta corrente (como Argentina e Turquia). 
Até o início de abril, os países importadores de petróleo tinham sido menos afetados pelo efeito-contágio do choque do covid-19, mas a redução das remessas de imigrantes, contração do financiamento externo e menor demanda externa deve se sobrepor ao efeito positivo do baixo preço do petróleo nos próximos meses.
Os movimentos nos preços dos ativos e dos spreads foram provocados, em grande medida, pela saída recorde de investimentos de portfólio de não-residentes tanto em dólares (mais de US$ 100 bilhões), como em porcentagem do PIB no primeiro trimestre de 2020. Todas regiões e mercados foram afetados, embora o impacto inicial tenha sido mais significativo na Ásia (a primeira região atingida pelo choque inicial) e nos mercados acionários devido a sua maior sensibilidade ao crescimento global. 
A abrangência da saída de capitais (em termos do número de países atingidos) foi a maior desde a crise global de 2008, mas sua intensidade variou entre os países. Na Tailândia e na África do Sul, por exemplo, ela atingiu mais do que 1% do PIB somente em dois meses. No caso do mercado de títulos, o impacto foi maior nos títulos denominados em moeda estrangeira (ou seja, no mercado internacional). 
Para conter o impacto adverso da reversão dos fluxos de capitais, os bancos centrais das EMED intervieram nos mercados de câmbio mediante venda de reservas, estabeleceram linhas de suporte de liquidez aos mercados de capitais e bancário e recorreram às linhas de swapcom os bancos centrais das economias avançadas (sobretudo do Fed), quando disponíveis. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Nossa tortura anual: o Imposto de Renda - informações preliminares

Encaminho alguns links recebidos do amigo Airton Dirceu Lemmertz: 

Divulgadas as regras sobre a entrega da Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física 2020: 

A entrevista coletiva que apresentou as regras do IRPF 2020: 

A entrevista com o auditor-fiscal Joaquim Adir, supervisor nacional do IR: 

A entrega da Declaração do Imposto de Renda 2020: início às 8 horas do dia 2 de março e termina às 23h59min59s do dia 30 de abril de 2020

Não sofram muito...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Um preview de 2020: apertem os cintos - Mike Madden (The Washington Post)

2020: The year in preview

We know this much already: There will be an election next year. People will spend money, eat food, watch (and play) sports, use phone apps and play video games, and countries around the world will engage in diplomacy — and conflict. The details of all those things, as always, will be what make the year interesting. To get a jump on the future, we asked Washington Post beat reporters and columnists to think about the big stories, themes and questions that we’ll look back on this time next December. Here is Outlook’s fourth Year in Preview.
TV by Steven Zeitchik | Brexit by Karla Adam | Food by Laura Reiley | Russia by Will Englund | Tech by Tony Romm | Sports by Barry Svrluga | The economy by Heather Long | Hollywood by Elahe Izadi | World by Ishaan Tharoor | The White House by Josh Dawsey | Gaming by Gene Park | The Supreme Court by Robert Barnes | Politics by Michael Scherer 
Previous years: 2017 | 2018 | 2019 
Illustrations and animation by Igor Bastidas 

New big streaming services will mean new big hits (and new big bills)

The last few months of 2019 were filled with streaming news. Buckets of it. From the nonstop marketing of Jennifer Aniston in Apple TV Plus’s “The Morning Show” to that ubiquitous Baby Yoda from Disney Plus’s “The Mandalorian,” it seemed like the spigot might never turn off.
And it won’t, not anytime soon. This will be a year of new digital programming — and new services to deliver it.
Just two weeks into 2020, Comcast will unveil more details about Peacock, its new service with content from across NBC Universal properties, set to launch several months later. The spring will also bring HBO Max, the prestige-branded service with all manner of TV shows and movies from the WarnerMedia empire. Disney Plus and Apple TV Plus, both of which launched in November, will add more content throughout the year, too — as will Netflix, Hulu and Amazon Prime Video (Amazon founder and chief executive Jeff Bezos owns The Washington Post).
Viewers will have an ever-wider choice of fresh programming. Want new seasons of fan favorites “Search Party” and “The Boondocks”? They’ll be on HBO Max. It’s the final episodes of “BoJack Horseman” you crave? Where else but Netflix. Looking for “The Falcon and the Winter Soldier” to give you a fix between Marvel movies? Disney Plus has you covered.
Finding out when new episodes premiere, let alone whether they’re worth watching, will be a task far more complicated than your Twitter feed can keep up with.
All these services know they need to offer some reliable hits to complement the new stuff. That means many popular sitcoms are migrating from Netflix. “The Office” is headed to Peacock; “Friends” to HBO Max.
And it will all be expensive. Turns out spending sacks of cash on new shows and movies — Netflix alone is expected to shell out in excess of $15 billion in 2020 — isn’t easy without ad revenue. Services have to charge, whether that’s the $5 a month for Apple TV Plus or the $15 for HBO Max. For consumers, that means piling on to a monthly entertainment bill or making tough choices about what to forgo.
But don’t get too despondent. If some of the recent sitcoms you seek are too unwieldy or costly to find on streaming services, there’s a suddenly appealing option: traditional television. Many shows, after all, will continue to air in syndication.

Britain will leave Europe. And then the negotiations will continue.

Prime Minister Boris Johnson, fresh off an election victory, has vowed to “get Brexit done.” Brexit will probably not be “done” in 2020, but it will — finally — get started.
In January, 3 1/2 years after voting narrowly in favor of Brexit, Britain will officially split from the European Union. Expect a big party and fireworks, but don’t expect a big rupture in relations between London and Brussels. The status quo will largely continue as the country enters an 11-month transition period, during which Britain will attempt to negotiate a trade deal with the E.U., its largest trading partner, as well as come to agreements on issues including security and law enforcement. Analysts think this is a crazy tight timetable, especially if Johnson wants to diverge substantially from E.U. rules. If a deal isn’t completed by the end of the year, it’s possible Johnson could break his pledge and seek to extend the transition period. Alternatively, Britain could crash out of the E.U. without a trade pact, reviving anxieties about an abrupt, chaotic and economically damaging “no-deal” Brexit.
One reason it’s tricky to predict how Johnson will tack in the upcoming negotiations — Does Britain stay closely aligned with the E.U.? Or does it tilt toward less regulation, in the spirit of Margaret Thatcher? — is that the prime minister is hard to pin down politically.
But he could be tempted to keep Britain more in lockstep with the E.U., not least because his whopping majority means he won’t be beholden to Euroskeptics in his party anymore. Plus, closer alignment could help with his political problems in Scotland and Northern Ireland: As the reality of Brexit sinks in, nationalist movements could gain momentum outside England, and a closer relationship with the E.U. could help head off those threats.
Food by Laura Reiley

You will soon taste meat grown in a lab, not on a farm

Plant-based meat was so 2019. Big Beef st(e)aked out territory, demanding legislation that put this interloper on the defensive, mostly in anticipation of what will surely be the food world’s biggest game changer in the year to come: Cell-cultured meat, poultry and seafood products derived from muscle tissue grown in a lab with cells harvested from a living animal.
Laura Reiley covers the business of food.
@lreiley
It is unclear which U.S. company will be first to market — chicken and duck from Memphis Meats in Berkeley, Calif., with investors such as Bill Gates, Richard Branson and Tyson Foods; Wagyu beef or chicken nuggets from Just (formerly Hampton Creek), whose investors include Salesforce chief executive Marc Benioff, Yahoo co-founder Jerry Yang and Peter Thiel’s Founders Fund; or bluefin tuna from Finless Foods — but Barclays analysts say “alt meat” could in the next decade capture 10 percent of the $1.4 trillion global meat industry.
Much of it hinges on rates of adoption. The numbers of vegans and vegetarians aren’t growing much. These new products are geared toward omnivores and “flexitarians,” but as with genetically modified organisms more than a decade ago, some consumers distrust food that has been tinkered with in a laboratory.
As it happens, that will also be an issue with another trend this coming year: grocery store foods that are gene-edited with CRISPR-Cas9 technology. Romaine and white potatoes that don’t brown or bruise, and a gene-edited farmed tilapia that grows quickly, are among the foods improved via tiny DNA snips, essentially accelerating the selection of desirable traits that Gregor Mendel achieved via crossbreeding his peas. Whether consumers will embrace these new foods is unknown. For now, the Food and Drug Administration has proposed overseeing gene-edited animals as drugs, something the meat industry thinks will disadvantage American producers.
Russia by Will Englund

Putin will press his advantage in the Middle East

If Russian President Vladimir Putin suspects that President Trump has been irretrievably weakened or distracted — and especially if he thinks Trump will be replaced by a more mainstream alternative — expect him to redouble his efforts to secure a deeper Russian role in the Middle East while he still has a chance.
Russia has been on a roll in the region, with a winning military intervention in Syria; a strengthening of diplomatic and commercial ties with Saudi Arabia, Turkey, Egypt and Israel; a mercenary involvement in Libya; and a toe in the waters of the western Mediterranean through joint naval exercises with Algeria. But Moscow’s gains have come through craft, stealth and a large measure of luck, rather than through major-power prowess, and the challenge will be to sustain and build on those achievements.
Will Englund a former Moscow correspondent, now covers energy.
@willenglund
Potential pitfalls abound. Putin has forged a generally useful working relationship with Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu, but he may have to start fresh in a post-Netanyahu era, depending on Israel’s third round of elections in March. Turkey and Saudi Arabia have been receptive to Russian dealmaking, but neither is a client state of Moscow by any measure. And the real key to Russia’s Middle Eastern success almost certainly depends on its longtime ally Iran, now shaken by violent protests.
In Syria, the Russian military effort has come with little cost and less pain. The real fighting on the ground on behalf of the government of Bashar al-Assad has been carried out by Iran and its Hezbollah allies. But anti-Hezbollah unrest in Lebanon, anti-Iran unrest in Iraq and upheaval on the streets of Iran itself could significantly alter the calculation.
If Iran stumbles, would Putin be forced to bail out Assad, at the risk of getting ensnared in Syria and sparking disquiet at home? Could he continue to avoid a confrontation with Turkey? Would the Saudis be as friendly with Moscow if they thought Iran was distracted by its own troubles? Will the mood shift unpredictably in Washington?
In 2019, Russia demonstrated its agility in the Middle East. The real test may still lie ahead.
Tech by Tony Romm

Washington will try to lock down Silicon Valley

Very few things unite President Trump and the Democrats vying to take his place in the White House, but both are readying for battle against Big Tech.
AmazonFacebookGoogle and their Silicon Valley peers could face the first major consequences in the coming year from investigations by state and federal regulators into whether they undermine privacy, mishandle sensitive online content, damage elections or quash competition.
Amazon is in the crosshairs for the tactics it’s used to dominate e-commerce, Facebook for the way it gobbles up users’ data (and its corporate rivals) and Google for its dominance of the online ad business. (Amazon founder and chief executive Jeff Bezos owns The Washington Post.) Attorney General William P. Barr has said the Justice Department plans to wrap up its wide-ranging look at search, social media and online shopping in 2020. That could result in calls for new regulations and potentially punishments — the most extreme being an attempt to break up one or more companies.
The House Judiciary Committee spent 2019 demanding internal documentsfrom Apple, Amazon, Facebook and Google. In 2020, it’s expected to issue a report on whether the industry has, in effect, subverted federal antitrust protections. And if Trump loses the White House, the pressure will mount: Democratic contenders, especially Sen. Elizabeth Warren (Mass.), have promised to unwind some of the mergers that helped the giants become so big in the first place, such as Facebook’s purchases of the photo-sharing app Instagram and the messaging platform WhatsApp.
Internet companies spent $55 million over the first nine months of this year to lobby Washington, and they’ll throw more political weight around as the threat grows. Facebook chief executive Mark Zuckerberg hinted about a fierce counteroffensive in a talk with employees last summer. “At the end of the day, if someone’s going to try to threaten something that existential, you go to the mat and you fight,” he said. That fight is about to intensify.
Sports by Barry Svrluga

It’s finally safe to believe here in the District of Champions

Whatever awaits the rest of the country, not to mention “official Washington,” in 2020, our little sports town occupies a fundamentally different space than it did just 20 months ago. Then, the default setting was dread. The expectation was not just for a loss, but a loss that would come in the most excruciating manner imaginable. How will I be kicked in the stomach today?
Now? This is new territory, with pain replaced by possibility. Think about how the following sentences would have sounded in, say, December 2017: “The Capitals are good. Really good. They might be the best team in hockey. They could definitely win the Stanley Cup.” “The Nationals should be good. Really good. One more offseason move, and they could be favored for a division championship. If things break right, maybe they could win the World Series.”
Two years ago, that would have seemed outlandish and preposterous. Now, it sounds reasonable. Because it actually happened.
While basketball’s Wizards might not be where hockey’s Capitals and baseball’s Nationals are at the moment — expecting to contend — the environment is such that their rebuilding project seems less laborious and more fun. A slow simmer of anger about another losing season is replaced by the joy of finding hope for the future. Plus, the Mystics won the WNBA title in 2019. We know winning basketball here!
It must be noted that the football team exists in a different reality, separate from the rest. It’s as if the expectations for Washington sports have been turned around — with the football team left behind. What awaits that outfit in 2020 — a new coach, for sure, and perhaps even new leadership above him — will be monitored closely. But the fans who have fled the football team have other places to land.
There’s no way to tell what will happen with Washington sports in the year ahead. What we know, though, is that the reality has finally met the expectations, and that completely alters what we believe is possible.
The Economy by Heather Long

A fragile boom keeps going and going

Although risks remain, the U.S. economy appears unlikely to fall into a recessionin 2020. Another year of decent growth will probably make it easier for even more Americans to find jobs — and boost President Trump’s chances of reelection. And the trade wars that dominated economic discussion in 2019 seem to be over, at least for now.
Growth is expected to be 1.8 percent next year, according to a closely watched survey of economists. That’s far from the boom that Trump promised and slower than this year’s pace of about 2.2 percent and last year’s rate of 2.9 percent — but the president and the Federal Reserve may have it in their power to nudge the figure upward.
Trump just reached trade agreements with ChinaCanada and Mexico. The deals are more modest than what he vowed he could achieve, but they signal that he is hitting pause on his trade battles, a welcome relief for Wall Street investors and many business leaders. Although consumers continue to spend at a healthy clip, companies had dramatically scaled back purchases this year because of the trade uncertainty. If Trump keeps the peace on trade, business spending could resume.
Economists and investors also expect the Fed to lower rates at least once morein 2020, providing another boost. Three rate cuts by the Fed in 2019 were a major reason the stock market hit record highs and recession fears abated.
Although unemployment is at a 50-year low, the position of the middle class remains precarious. Jobs that pay middle-income wages are increasingly going away, replaced by positions paying over $100,000 or under $30,000. That socially destabilizing phenomenon will be a focus of the presidential race.
Economists, meanwhile, are also keeping a vigilant eye on robots — because firms typically accelerate the automation of jobs done by temporary and low-skilled workers in the months leading up to a significant downturn.
But the general expectation is that the longest expansion in U.S. history, which began in mid-2009, will last at least one more year.
Hollywood by Elahe Izadi

No one will stay canceled for good

We’ve had a full year of hand-wringing over “cancel culture,” particularly as it relates to comedians. Shane Gillis, for example, hired and then fired by “Saturday Night Live” for racist language on podcasts, was denounced on social media by celebrities — and also defended by famous comedians.
But 2020 may be the year when we learn that no one is canceled forever.
The controversies will continue, yes. The society-wide reckoning with sexual harassment and assault won’t abate. There will be more denounced jokes; comedy, more than most art forms, ages terribly. Norms and tastes rapidly evolve. More performers will come under fire for past or recent statements, jokes, offstage behavior or allegations of sexual misconduct.
“Getting canceled,” though, means suffering professional and personal consequences, not being permanently silenced.
Look at Aziz Ansari, who was embroiled in controversy in 2018 after Babe.netpublished an anonymous accusation of sexual impropriety (Ansari said that the interaction “by all indications was completely consensual”). He retreated from the limelight for a while, but then he returned to stand-up, doing small shows to work out material before hitting the road to perform in packed theaters. He even addressed the allegation in an acclaimed Netflix special.
Louis C.K., who admitted to sexual misconduct after the New York Times published allegations from five women, lost his manager, publicist and all of the cultural cachet he had built up in his career. But he had a massive email list pre-scandal, and he can still promote himself to his diehard fans, the ones most likely to have remained as subscribers. C.K. is still performing, and as he announced to his list, he has several club and theater gigs in the United States and abroad in 2020.
Even Bill Cosby, convicted of assault, has found an audience — albeit behind bars — eager to listen to him opine.
Corporate entities putting together TV shows and movies will remain skittish about backing performers accused of problematic behavior, or ones criticized for offensive material. But there will still be audiences willing to watch.
World by Ishaan Tharoor

Protests won’t stop. Neither will government crackdowns.

The motives of the millions who took to the streets in Santiago, La Paz, Algiers and Basra were as varied as their geography. But the demonstrators were united in what has become an epochal display of global discontent, an explosion of popular unrest that capped a decade of angst and anger. When they weren’t clamoring for greater freedoms and democracy, protesters were marching against corruption, inequality and state brutality. In their wake, presidents fledprime ministers resigned and governments fell.
And the movements that flared in 2019 aren’t about to peter out.
Across Latin America, a creaking social contract seems on the verge of collapse: In Chile, widely viewed as one of South America’s most stable societies, weeks of protests against austerity measures compelled the center-right president to shuffle his cabinet and announce reforms. But protesters remain on the streets, demanding a wholesale remaking of the socioeconomic order. Demonstrators in Ecuador, Colombia, Argentina and Haiti echoed the call for economic justice. An uprising in Bolivia chased out a long-ruling leftist president, while autocrats in Venezuela and Nicaragua cling to power despite popular challenges. More polarization, paralysis and violence may follow.
That’s all the more on view in the Arab world, where a stunning wave of protests unseated leaders in Algeria, Sudan, Lebanon and Iraq. But an entrenched and often corrupt old guard is desperately trying to stay in control. In Iraq, security forces and pro-Iran militias have killed about 500 people and are preparing for a deeper crackdown.
Iran hasn’t been spared, either. In November, authorities cut off Internet accessand killed potentially hundreds to quash protests that erupted after a rise in fuel prices. As Iran’s theocratic regime enters its fifth decade, a tanking economy and widespread public anger over political elites’ mismanagement and corruption only add to the sense of a brewing existential crisis.
In Hong Kong, a sustained pro-democracy movement remains grimly determined, defying the authoritarian leadership in Beijing and its local proxies. China has no intention of acceding to protesters’ demands, though, and 2020 could mark a bloody tipping point for Asia’s financial capital.
President Trump, known more for his coziness with autocrats than commitment to democracy struggles abroad, has been conspicuously silent about most of these displays of people power. But only in a few instances — Hong Kong’s American-flag-waving youth come to mind — are any of these movements explicitly calling for U.S. support. The immediacy of social media still allows us to bear witness and hold repressive governments to account. There will be plenty to watch in the year to come.
The White House by Josh Dawsey

President Trump knows you don’t like him. He doesn’t care.

President Trump has begun admitting what polls have shown for three years: Many, many people hate him. And he’s okay with that.
“You don’t like me. You have no choice but to vote for me,” he told Wall Street bankers last month. “You’re … not nice people at all, but you have to vote for me,” he said to a room of Jewish supporters in December. “You have no choice … you’re not going to vote for the wealth tax!”
It is a rare admission from a politician. But it’s key to a campaign strategy built around an awareness that Trump’s favorability — even before he was impeached by the House — is near record lows and that he won’t stop tweeting, offering bombast and insults, saying things that aren’t true, or making polarizing decisions. So Trump’s advisers are leaning in.
“He’s no Mr. Nice Guy,” said the narrator in a $1 million-plus ad that ran during the World Series, highlighting some of the president’s accomplishments while admitting that voters might not like him. “But sometimes it takes a Donald Trump to change Washington.”
The idea is to talk more about his record and less about his personality — while slashing and burning Democratic opponents. At a briefing with reporters in mid-December, campaign manager Brad Parscale and senior adviser Jared Kushner showed data from 2016 indicating that people who said they disapproved of Trump still voted for him. They said many people don’t want to publicly admit that they back Trump, but they ultimately will. Their targets are primarily suburban women and independents.
Essentially, Trump’s bet is: If your paycheck is better, and we can make you hate the other candidate, you will vote for the president, even if you find him detestable.
The campaign expects to send surrogates who are less bombastic, such as Ivanka Trump, into areas where suburban women might be persuaded to vote for him.
Officials point to statistics that cut in the president’s favor. For example, a recent Quinnipiac poll showed that 57 percent of voters nationally say they are better off than before Trump’s presidency. He regularly scores high marks on the economy, which has continued to improve.
That same poll, though, found Trump losing to Bernie Sanders, Elizabeth Warren, Mike Bloomberg, Pete Buttigieg and Amy Klobuchar. And his approval ratings are mired below 50 percent.
But to Trump’s team, that’s no reason for panic: On Election Day in 2016, 61 percent of the country rated Trump unfavorably. Now he’s running for a second term.
Gaming by Gene Park

The newest celebrities will play video games

With $152 billion in revenue expected in 2019, gaming has become the dominant entertainment medium of the past decade. And if gaming is this century’s rock-and-roll, its biggest personalities are becoming a new class of rock stars.
Gene Park covers video games and gaming culture.
@genepark
These celebrities are much closer to the irreverence of rock and rap icons than any of the Hollywood guard: They’re younger, have little interest in social filters and are mostly unimpressed by the lingering sheen of 20th-century stardom. But they’re still causing “utter destruction” in hotel rooms across the world, like the famous troublemakers who came before them.
Tyler “Ninja” Blevins, the most visible such star recently, has been at the forefront, with an unprecedented exclusive contract with Microsoft’s Mixer streaming platformOthers have followed suit, signing lucrative (and secretive) contracts. PewDiePie, arguably the most powerful person on the Internet, hit two milestones in 2019: becoming the first YouTuber to accumulate 100 million subscribers and marrying his longtime girlfriend, Marzia, in a royal wedding for the meme generation. And Dr. Disrespect, who brings the pomp and panache of pro wrestling to Twitch, just signed a TV deal, another first for a pro gamer.
Besides building careers as gamers, they also share brushes with controversy — which may have been inevitable, given the challenges of communicating to an always-online, always-posting, always-angry audience. Celebrities have had to watch what they say for generations. But gamers grew up with social media, which often rewards the loudest in the room, no matter what.
All signs point to a messy integration between the populist media darlings of Gen Z and the existing power structure for politically correct pop. Ready or not, this clash of cultures is looming — and Player One is determined to win the game at any cost.
The Supreme Court by Robert Barnes

Impeachment will land squarely on the chief justice

Chief Justice William H. Rehnquist added the famous Gilbert-and-Sullivan-inspired gold stripes to his black robe long before he wielded the gavel at President Bill Clinton’s Senate impeachment trial in 1999.
But he did borrow from the operetta “Iolanthe” in describing his role at the trial: “I did nothing in particular, and I did it very well,” he told a television interviewer two years later.
Now on deck: Chief Justice John G. Roberts Jr. The man who made judge-as-umpire his credo during his confirmation hearing would be only the third chief justice to preside at a presidential impeachment trial. It would also be the first trial of any kind where the lawyer turned appellate judge has been in charge.
Roberts was a law clerk to Rehnquist and shares with his predecessor the goal — perhaps only aspirational, probably unobtainable — of convincing the public that he and his fellow justices are impartial to outcomes and immune to partisan influence and bias.
Although the Supreme Court itself has no formal role in President Trump’s impeachment, Trump has, perhaps wishfully, imagined that it might. He tweetedthis month: “Shouldn’t even be allowed. Can we go to Supreme Court to stop?” Trump has also asked the court to protect his financial records from prosecutors and members of Congress, separate from impeachment; the justices will review that question in the spring.
But it is the chief justice, usually just one of nine, who by constitutional design plays the lone judicial role in presidential impeachment.
Like Rehnquist, Roberts is a student of history and the Constitution. Rehnquist wrote a book on impeachment; those who’ve studied the Clinton trial say he was reluctant to make broad rulings that could be overruled by a simple majority of senators. He left it to lawmakers to work out details over motions and witnesses. Roberts, who has chided Trump for suggesting that judges’ views are more political bias than studied reasoning, will be looking to preserve his own reputation in a process that by design is more political than legal.
Politics by Michael Scherer

The billionaires are coming

Call it influence inflation: Back when Bill Clinton was president, $100,000 was enough to get a political donor invited to sleep over in the Lincoln Bedroom. These days, top political benefactors dole out $100 million or more to elect favored candidates. The amount of money spent on presidential campaigns by independent groups rose from almost $129 million in 2008 to nearly $670 million in 2016, according to the Campaign Finance Institute. And essential functions like collecting and analyzing voter data, voter registration drives and spending on political ads are increasingly funded by America’s 607 billionaires, outside the direct control of politicians or parties. (One of the richest, Amazon founder Jeff Bezos, owns The Washington Post, and in the 2018 cycle, donated $10.1 million to a super PAC supporting military veterans running for office, as well as $52,400 to five other federal PACs and campaigns, according to public records.)
Next year will set new records, reaffirming the second coming of a gilded age for political money. What Brookings Institution scholar Darrell West calls the “wealthification” of American politics is changing the players as well as the game. Two Democratic billionaires, Mike Bloomberg and Tom Steyer, are self-funding presidential campaigns to dethrone the billionaire president, Donald Trump (and to replace his Cabinet, the wealthiest in modern history, including billionaire Education Secretary Betsy DeVos). A co-chair of the Republican National Committee, Thomas Hicks Jr., is the son of one of the country’s wealthiest families, as is the party’s finance chairman, Todd Ricketts, while Linda McMahon, a former head of the Small Business Administration whose husband is a billionaire, chairs the top pro-Trump super PAC.
Polls have shown for years that strong majorities of voters think there is too much money in politics. But that hasn’t changed the bottom line: The exceedingly wealthy increasingly fund the political world. You just vote in it.