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sábado, 21 de agosto de 2010

G20 na Coreia do Sul: uma agenda cheia de deja-vus e platitudes

O site Korea.net acaba de publicar os grandes temas para a agenda do encontro de cúpula do G20 a ser realizado na Coréia do Sul.
Acho que tem para todos os gostos, dentro do politicamente correto. A destacar o penúltimo item, abordando energia e anti-corrupção. Não sei se é intencional, ou seja, buscar uma corrupção mais energética, ou colocar mais energia na luta contra a corrupção. Vai lá saber...
Em todo caso, já sabemos o que esperar: aquelas declarações mornas, cheias de boas intenções, para que cada país continue a fazer exatamente o que estava fazendo antes...
Paulo Roberto de Almeida

Key phrases for the G20 Summit revealed
Korea.net, Aug. 17, 2010

The key phrases for the G20 Financial Summit meeting have been disclosed. The Presidential Committee for the G20 Seoul Summit explained that the new phrase “Shared Growth Beyond Crisis” reflects the main theme of the G20 Summit, which aims to establish a framework for strong, sustainable balanced growth worldwide.

The agenda for the G20 Summit was classified into eight categories: ▲ global economy ▲cooperative framework for balanced growth ▲reform of the international financial regulatory system ▲modernization of international financial institutions and the global financial safety net ▲development ▲trade and investment ▲energy and anti-corruption ▲ business summit.

The government has already held a high level working group meeting in Seoul on July 19 and 20, followed by the Sherpa meeting from July 20 to22. The high-level meeting, attended by some 100 representatives from member nations and global institutions, discussed specifying the existing agendas and decided on the future directions for talks.

The Sherpa meeting, which is a closed-door event, was attended by another 100 deputy representatives and aides from member nations and relevant institutions to review the general direction for the G20 agenda. The name of the meeting is derived from the Sherpas of the Himalayas, guides and porters for those who seek to scale the mountains.

The Presidential Committee will continue to hold preparatory meetings related to finance, budget, energy, and development, and seek the advice of other countries to coordinate before the official meeting.

By Kim Hee-sung
Korea.net Staff Writer

domingo, 4 de julho de 2010

Brasil-EUA-Coreia do Sul: trajetórias divergentes

Tem gente que ainda acha que o Brasil vai crescer a 7% e diminuir a distância em relação aos Estados Unidos. Pode até ser, mas sem investir em educação (que não significa mais dinheiro apenas, e sim reformas restruturais), vai ser difícil.
O Brasil é um país totalmente preparado para não crescer...
Paulo Roberto de Almeida

Comparado a EUA, poder de compra retrocede no Brasil
ÉRICA FRAGA
Folha de S.Paulo, 04/07/2010

O Brasil teve crescimento econômico maior que o dos Estados Unidos nos últimos seis anos. Cerca de 19 milhões de pessoas deixaram de viver na pobreza entre 2003 e 2008.

Ainda assim, a enorme diferença de nível de renda que separa brasileiros e norte-americanos é maior agora do que em 1980.

O PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Brasil medido em PPC (paridade do poder de compra) era de US$ 10.514 em 2009, equivalente a 22,7% do mesmo indicador para os Estados Unidos.

O percentual módico aumentou em anos recentes, mas segue menor que os 30,5% registrados em 1980, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). Ou seja, em termos relativos, os brasileiros são mais pobres que os norte-americanos hoje do que há 30 anos.

A tendência brasileira e de outras economias latino-americanas grandes, como a argentina e a mexicana, contrasta fortemente com o que ocorre em alguns países asiáticos, onde o nível de renda vem convergindo para padrões de nações desenvolvidas a um ritmo rápido.

SUCESSO COREANO
A Coreia do Sul é um exemplo marcante. Era quase tão pobre em relação aos Estados Unidos em 1980 quanto o Brasil é hoje: o PIB per capita em PPC do país equivalia a 18,8% do norte-americano naquele momento. Mas esse percentual saltou para 60,3% no ano passado.

O país asiático tem passado por um processo chamado convergência econômica, que prevê que o nível de renda de nações pobres deve gradualmente se aproximar do padrão mais alto de rendimentos de países avançados à medida que os primeiros se desenvolvam.

A principal explicação para as diferentes trajetórias entre Brasil e Coreia está ligada à capacidade de sustentar uma taxa relativamente alta de crescimento econômico por um período longo.

O Brasil cresceu fortemente nos anos 60 e 70, depois passou por duas décadas comumente descritas como perdidas em termos de expansão sustentável do PIB e, desde o início dos anos 2000, iniciou nova recuperação.

Já a Coreia do Sul cresceu fortemente e de maneira sustentada nas últimas cinco décadas.

PRODUTIVIDADE
Segundo José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-RJ, a convergência econômica ocorre normalmente depois de um período de forte crescimento de produtividade (medida importante de eficiência de uma economia).

Isso depende de investimentos em capital físico (máquinas e equipamentos) e humano (educação).

Ele ressalta que tem havido no Brasil progressos em termos de investimento em capital físico e avanços regulatórios no mercado de crédito (o que aumenta o acesso de pessoas físicas e jurídicas a financiamentos).

Esses são fatores positivos do ponto de vista de perspectivas de maiores ganhos de produtividade. Mas há outros fatores limitadores do crescimento de longo prazo:

"A principal razão para a convergência mais lenta do Brasil é o investimento ainda baixo em educação, o que limita o crescimento de longo prazo", diz Camargo.

Já a Coreia do Sul, lembra o economista, investiu fortemente tanto em educação quanto em capital físico por muitos anos.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Do BRIC ao FISC - Cristovam Buarque

O FICS
Cristovam Buarque
O Globo, 08/05/2010

O mundo do século XXI está cheio de siglas que representam grupos de países. O grupo mais recente, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, é chamado de BRIC.

O que unifica esses quatro países são suas dimensões demográficas e territoriais – entre as maiores do mundo – e o fato de suas economias terem crescido nas últimas décadas, tornando-os nações emergentes no mercado mundial.

O PIB do BRIC equivale a US$ 16 trilhões, 23,51% do produto bruto global; suas exportações somam cerca de US$ 2 trilhões, 13,03% do total das exportações mundiais. Participações surpreendentes, se comparadas à situação desses países há até poucas décadas. Num mundo sem a polarização militar anterior à queda do Muro de Berlim e sem hegemonia política, esses países unidos formam um importante centro de poder. Por isso, a recente reunião do BRIC, em Brasília, foi um fato importante para o mundo, e chamou a atenção da imprensa internacional.

Outro grupo – nem criado nem batizado – pode ter mais futuro do que o BRIC. Trata-se do grupo Finlândia, Irlanda, Coreia do Sul e Suécia, que podemos chamar de FICS. O que caracteriza esses países é o fato de deterem o principal capital do futuro: o conhecimento.

Se os países do BRIC têm altas taxas de produção, consumo e participação no comércio internacional, os países do FICS fazem parte da elite educacional do mundo. A comparação entre os dados educacionais do BRIC e do FICS mostra a diferença entre eles.

Enquanto os países do FICS ficam entre o 1ª e 22ª lugares, os países do BRIC estão entre a 34ª e a 52ª posições, na avaliação da educação feita pela OCDE (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA) em 57 países, analisando o desempenho em leitura, matemática e ciências. Enquanto no FICS as taxas de conclusão do Ensino Médio ficam entre 62% e 91%, no BRIC ficam entre 15% e 57% da população.

Todos os países do FICS têm 100% de sua população adulta alfabetizada, mas no BRIC – com exceção da Rússia, que também atinge 100% – as taxas variam de 94% a 66%.

Os países do FICS têm posição modesta na produção global, apenas 2,97% do PIB mundial, mas participam com 5,41% do total das exportações. Graças à boa educação de base, os FICS produzem e exportam cada vez mais bens com alto conteúdo científico e tecnológico, enquanto os BRICs exportam principalmente bens agrícolas e minerais, produtos da indústria têxtil e mecânica com baixo teor de beneficiamento, produtos esgotáveis, como petróleo e gás, ou mesmo simples bugigangas.

A realidade mostra as vantagens do FICS sobre o BRIC: a renda per capita dos primeiros é 4,9 vezes maior que a dos últimos. O índice de Gini (quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda) do BRIC varia de 0,550 (este, o pior índice, é do Brasil) a 0,370; ao passo que no FICS, fica entre 0,250 e 0,343. O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento) no FICS varia de 0,937 a 0,965; enquanto no BRIC varia de 0,612 a 0, 817. Os países do FICS também levam vantagem na estabilidade social e política, na proteção ao meio ambiente, na ética da política e na paz das ruas. Mesmo em momentos de crise financeira, que pode ocorrer na Irlanda, a recuperação será possivelmente mais rápida.

Mas é sobretudo o indicador-de-futuro que coloca esses países em condições superiores. O FICS tem território insignificante, pequena população, consumo e produção baixos, reduzida participação no comércio internacional. Mas em uma economia cada vez mais baseada no valor do conhecimento, o futuro será muito mais brilhante para o FICS, se comparado com o atraso educacional do BRIC.

Daqueles, Coréia e Irlanda iniciaram suas revoluções há poucas décadas. A situação educacional deles não era melhor do que a brasileira há até poucos anos. Mas eles mostraram que era possível. Pena que seja tão difícil convencer os brasileiros a imaginarem nosso País com educação de qualidade para todos. É por isso que ficamos comemorando o BRIC, ignorando a vantagem discreta do FICS.