O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Irlanda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Irlanda. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Irlanda: o desconforto da riqueza (2005) - Paulo Roberto de Almeida

 Irlanda: o desconforto da riqueza

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8 de fevereiro de 2005.

 

            A Irlanda foi um dos países que mais cresceu nos últimos vinte anos. Partindo de patamares muito baixos de desenvolvimento – não considerando aqui a tradição secular de “exportação” de irlandeses por motivos de miséria econômica –, os progressos econômicos obtidos pela Irlanda foram particularmente impressionantes na última década do século XX, depois que o país se organizou para enfrentar os desafios de sua integração à Europa comunitária e à abertura de mercados prometida pelo Ato Único de 1986, que previa um mercado unificado em 1992. Entre 1991 e 2001, o PNB cresceu à média de 6,4% ao ano em termos reais, alcançando a média européia em 2003 (em termos de PIB, o crescimento foi ainda maior, pois o PIB per capita supera a média da UE em 15%, mas é preciso considerar que a Irlanda é um país de atração de investimentos estrangeiros, por excelência, o que diminui, portanto, o seu PNB em relação ao PIB). Ao mesmo tempo, o desemprego crônico, que existia anteriormente, foi sensivelmente reduzido, passando de uma média de 15% da PEA a menos de 4% no mesmo período. 

            Esses resultados se devem, segundo a análise de Marialuz Moreno Badia, do Departamento da Europa do FMI (boletim do FMI de 31 de janeiro de 2005, disponível no link: http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/spa/2005/013105S.pdf), à aplicação de políticas econômicas corretas, como a abertura comercial, a participação na UE e ao contexto econômico externo favorável. Em especial, o ingresso na união econômica e monetária da UE suscitou um forte decréscimo das taxas de juros reais e estimulou o investimento direto estrangeiro. A consolidação fiscal reduziu a dívida pública, que passou de 100% do PIB em 1988 para apenas 36% em 2001, e criou espaço para reformas tributárias que ampliaram os investimentos e o emprego. 

            A Irlanda pode estar vivendo hoje uma situação similar à da Holanda no século XVI, segundo a análise histórica de Simon Schama (The Embarassment of Riches), quando os holandeses dispunham de bastante conforto material, a ponto de poderem se entregar a luxos antes proibitivos, como o investimento em arte, em conforto pessoal e até em especulações em bolsa (como provado pela “febre das tulipas”, que provocou um dos primeiros estouros de “bolha financeira” já estudados pelos historiadores econômicos). Segundo um artigo recente na imprensa americana, os irlandeses poderiam estar vivendo uma “crise de identidade”, pois nunca antes tinham desfrutado de tal nível de vida.

            Em face dessa crise de identidade, como poderíamos situar o Brasil, com o seu “desconforto da miséria”? Segundo o presidente, a miséria atingiria algo como 44 milhões de brasileiros (ou 11 milhões de famílias, aquelas mesmas que ele pretende alcançar mediante o programa Fome Zero, englobado no Bolsa Família). A primeira providência para uma comparação objetiva entre esses dois “desconfortos” antitéticos seria analisar as causas da pobreza em ambos os países e as estratégias adotadas para superá-la. Ao que se conhece, a Irlanda não colocou em vigor nenhum programa de “alívio da fome”, embora tenha conhecido, no passado, episódios dramáticos de fome epidêmica, que determinaram a saída de centenas de milhares de irlandeses para outros países, os Estados Unidos em especial. 

O que a Irlanda fez, de verdade, foi ter decidido, pouco mais de duas décadas atrás, tornar-se um país desenvolvido. Para fazê-lo, ela tomou o caminho mais rápido, que não é o da distribuição de dinheiro para quem é pobre ou dispõe de rendimentos mínimos. Ela o fez, basicamente, pela via da educação nacional, a única rota segura para a elevação dos padrões de produtividade do trabalho humano, que por sua vez ainda é o caminho mais rápido para a elevação dos níveis de renda e de bem-estar material. O projeto nacional dos irlandeses foi assim, tão simplesmente, dar uma educação de qualidade a cada um dos seus filhos, prolongando a formação nas etapas técnico-profissional e depois universitária. Por certo, isto não foi tudo: eles também liberalizaram a economia e se abriram ao capital estrangeiro: de fato a Irlanda foi um dos países da Europa que mais recebeu investimento direto estrangeiro, em proporção do PIB, nos três últimos lustros. Esse investimento veio para a Irlanda porque tinha certeza de que iria encontrar um ambiente de negócios favorável e de que a mão-de-obra seria adequada para os empreendimentos relativamente sofisticados – geralmente na indústria eletrônica – que iriam ser estabelecidos. 

            E quanto ao Brasil, o que poderíamos dizer? O diagnóstico e, sobretudo, os prognósticos não são os mais favoráveis. Nossa mão-de-obra dispõe de escassos 4,3 anos de estudo, na média (contra algo como 9 anos para um operário coreano), o que é simplesmente inaceitável do ponto de vista do capitalismo moderno. O ambiente de negócios não é exatamente aquele que mais atrai investidores: segundo o Banco Mundial, o prazo médio para se abrir uma empresa vai a mais de 150 dias, e o de fechamento então se perde no horizonte do tempo. Encargos trabalhistas, contribuições previdenciárias, impostos diretos e indiretos, custo dos serviços que devem ser terceirizados, condições precárias de logística, intervencionismo excessivo e regulacionismo estatal exagerado são apenas alguns dos obstáculos que se antepõem a um ritmo sustentado de crescimento e expansão para qualquer empresário que se arrisca a tentar negócios no Brasil. 

            Temos, ao que parece um longo caminho pela frente antes de nos livrarmos do atual “desconforto da miséria”. Esta, em sua faceta mais extrema, não é exatamente devida à ausência de condições materiais para que a sociedade possa manter um processo sustentado de redistribuição de renda, mas mais exatamente à falta de qualificação geral de capacidade produtiva da maior parte da mão-de-obra, o que vale dizer, em primeiro lugar, de ausência de formação educacional dessa mesma população. O único projeto nacional que faz sentido, no Brasil, é o de um pacto pela qualidade do ensino. Assim, em lugar do “fome zero”, deveríamos estar pedindo “educação dez”. 

 

Paulo Roberto de Almeida

é sociólogo e diplomata.

(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

A fabulosa história econômica da Irlanda, de um dos países mais pobres da Europa para um dos mais ricos - Adam Tooze (Chartbook)

From Adam Tooze Chartbook, April 15, 2022 

“The Irish economy during the century after partition” 

Cormac Ó Gráda,Kevin Hjortshøj O'Rourke Economic History Review May 2022

Ireland, which had not been particularly rich to begin with, had fallen significantly further behind other western European economies by 1958, being overtaken by Finland and Italy. The mid-1950s represented a nadir for the Irish economy, a period when observers from near and far were questioning its future viability. A key public policy document of the time noted that ‘a sense of anxiety’ about Ireland's economic prospects was indeed justified, and that ‘after 35 years of native government people are asking whether we can achieve an acceptable degree of economic progress’.16 The Irish economy's relative position had barely improved by the mid-1980s (column 3), implying only very mild convergence since the 1950s. Greek and Spanish incomes had by this stage also caught up with Irish ones. However, by 2018 the doleful picture painted by Lee had been reversed … household consumption per head in Ireland being more or less on a par with that in Germany,


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Europe: follow the Irish experiment - Daniel Lacalle (Mises)

Europe Needs to "Harmonize" to Ireland's Tax Level, not to France's

Whenever we talk about tax cuts and growth-oriented tax programs in Europe, many tell us that “it is not possible” and that the European Union does not allow it.
However, it is false. Attractive, growth-oriented tax systems are not only possible in the European Union, but those countries that implement them have higher economic growth rates, less unemployment, and a well-funded welfare state.
To deceive us, we are forced to ignore Ireland, The Netherlands, and Luxembourg as well as most of the technology and job creation leaders.
Lower taxes and greater liberalization than in the rest of the Eurozone means higher growth, better wealth, and greater social welfare. The economic miracle of Ireland is not statism. Its secret is to put budgetary stability, investment attraction, private initiative, and maximize disposable income of citizens as the pillars of its economic policy.
Ireland has a corporate tax of 12.5% ​​and a rate of 6.25% on income from patents and intellectual property, a key factor to attract technology companies. Its minimum salary is almost double that of Spain, Portugal, and other Eurozone countries, the average pension is higher as well and its health and education systems are of the highest quality, with nine universities among the best in the world according to the Best Global Universities Ranking 2018.
Ireland’s debt to GDP is 73%, unemployment is 5.1% (youth unemployment at 11.4%), public deficit is just 0.7% of GDP.
Only a few years ago, Ireland was close to the edge financially, and its 10-year bond yield rose to 14%. Ireland was considered one of the highest risk of default countries with Spain, Portugal, Greece, or Italy. Since then, low taxes, budget control, and reforms oriented at attracting capital have made Ireland become the fastest-growing European economy, with an unemployment rate that is less than half that of Spain, for example.
Deficits have been slashed, debt is under control, the economy is expected to grow 5.1% in 2018, and the economy is expected to reach full employment in 2019.
The European Union does not need to harmonize fiscal systems, but if it did, it should do so implementing the systems that promote growth and jobs, not the ones that promote stagnation.
A confiscatory tax system and a hypertrophied public sector have only created debt and stagnation in the Eurozone countries that have implemented them. France is a key example.
The last time France had a balanced budget was in 1980, and since 1974 it has never generated a surplus. Public debt reached 97% of GDP and the economy has been stagnating for two decades. Unemployment stands at 9.2% (with 20.4% youth unemployment ) and in 2017 it still had a current account deficit of 6.5 billion euros while the Eurozone has a surplus. In a country where public spending exceeds 57% of GDP, where public administration spending has grown by more than 13% since 2008, and 22% of the active population works for the State, local governments and public entities, talking of austerity is a bad joke. In addition, France has spent tens of billions on ‘stimulus plans’ since 2009. Specifically, 47 billion euro in 2009, 1.24 billion to the automotive industry, and two ‘growth plans’ under the Hollande mandate: 37.6 billion euro (‘investments’) and 16.5 billion (‘technology’).
When we talk about taxation in the Eurozone, we usually talk about tax revenues vs GDP, and not the tax wedge, which is what each one of us pays in taxes on our total income.
According to the PricewaterhouseCoopers Paying Taxes study of 2018, European companies suffer a tax wedge of 40%. That fiscal wedge is almost 40% lower in countries like Luxembourg, Ireland, or Denmark and 12% lower in the Netherlands.
rates2.PNG
If we look at families, it is very similar. Most Eurozone countries have a tax wedge on families with one salary and two children that is twice the average of Ireland, Switzerland, or Luxembourg and 20% higher than the Dutch.
Tax-Wedge-Families.jpg

But what about social protection and welfare? Ireland, the Netherlands, or Luxembourg have some of the most easily-accessible and well-funded welfare systems.
Interventionists always talk of the Nordic countries as nations with very high taxes, and yet their tax wedge is lower for companies and families than the average of the Eurozone.
Countries with higher taxes do not have better welfare or social protection, but do have higher unemployment rates, weaker growth and higher debt. High taxation discourages economic activity, investment, and consumption and, on top, tax revenues weaken.
Macron is calling for a harmonization of the tax systems in Europe. I agree. Let us harmonize to the Ireland level. But no, what Macron implies when he uses the word “harmonizing” is “increasing taxes.” The recipe for unemployment and stagnation.
Governments willingly ignore the beneficial effect of growth-oriented taxation because their objective is not growth, investment or employment, but control.
Europe’s tax model cannot be to impose what does not work. We need to lower taxes to grow and create more employment. High taxes do not guarantee the welfare state, they make it unsustainable.
Daniel Lacalle has a PhD in Economics and is author of Escape from the Central Bank TrapLife In The Financial Markets and The Energy World Is Flat.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Islandia e Irlanda: as verdadeiras causas da crise (nao as atribuidas...)

Corre a versão, em certos setores ingênuos, mal informados, ou simplesmente deliberadamente deformados (ou seja, mistificadores, mentirosos, fraudadores, equivocados e enganadores, e nem preciso dizer quem é), de que as crises financeiras dos países desenvolvidos, a partir de 2008 -- sucedendo ao estouro da bolha imobiliária em 2007 -- foram provodadas por manobras especulativas de loiros de olhos azuis, pela ambição desmedida dos banqueiros de Wall Street, enfim pela cupidez habitual do capitalismo financeiro, sempre tão propenso a privatizar lucros e a socializar prejuizos.
A história, obviamente, é mais complexa do que isso, e se houve especulação, cabe lembrar que nenhum banqueiro ganancioso, nenhum especulador de Wall Street, nenhum manipulador de mercado, seja ele preto, loiro, azul ou vermelho, tem a capacidade de fixar os juros de referência.
Quem faz isso são os bancos centrais, que sinalizam, portanto, para o resto do sistema financeiro, e para a sociedade em geral, quais os níveis que serão praticados nos mercados imobiliários, de créditos para consumo, investimento, etc.
Juros baixos, obviamente, são uma benção para devedores, investidores e outros inadimplentes, enquanto são uma maldição para poupadores e credores. O mundo não é o ideal, e se os mercados fossem livres, realmente, como proclamam aqueles que acreditam equivocadamente que o sistema financeiro não tem regras (quando as tem, e muitas), esses mercados jamais fixariam as taxas de juros em níveis artificialmente baixos durante tanto tempo, como fizeram o Federal Reserve (de 2002 a 2005) e diversos outros bancos centrais.
Em resumo, quem provocou verdadeiramente as crises foram os bancos centrais, não os mercados, como demonstra este articulista sobre os casos mais dramáticos da Islância e da Irlanda...
Paulo Roberto de Almeida 

Ire and Ice: A Tale of Two PIIIGS
by Frank Shostak 

Mises Daily, November 22, 2012

There were a lot of commentaries regarding the Ireland and Iceland 2008–2012 financial crises. Most of the commentaries were confined to the description of the events without addressing the essential causes of the crises. We suggest that providing a detailed description of events cannot be a substitute for economic analysis, which should be based on the essential causes behind a crisis. The essential cause is the primary driving force that gives rise to various events such as reckless bank lending (blamed by most commentators as the key cause behind the crisis) and a so-called overheated economy. Now, in terms of real GDP, both Ireland and Iceland displayed strong performance prior to the onset of the crisis in 2008. During 2000–2007, the average growth in Ireland stood at 5.9 percent versus 4.6 percent in Iceland. So what triggered the sudden collapse of these economies?

Central-Bank Policy the Key Trigger for Economic Boom

What set in motion the economic boom (i.e., a strong real GDP rate of growth) in both Ireland and Iceland was an aggressive lowering of interest rates by the respective central banks of Ireland and Iceland. In Ireland, the policy rate was lowered from 13.75 percent in November 1992 to 2 percent by November 2005. In Iceland, the policy rate was lowered from 10.8 percent in November 2000 to 5.2 percent by April 2004.

In response to this, bank lending showed a visible strengthening with the yearly rate of growth of Irish bank assets rising from 7.4 percent in June 2002 to 31 percent by November 2005. In Iceland, the yearly rate of growth of bank lending to residents climbed from 26.5 percent in September 2004 to 57.8 percent by April 2006.

The growth momentum of the money supply strengthened visibly in both Ireland and Iceland. The yearly rate of growth of our measure of money supply (AMS) for Ireland jumped from minus 6.7 percent in March 2003 to 22 percent by March 2006. In Iceland, the yearly rate of growth of AMS climbed from minus 1.6 percent in January 2003 to 61.6 percent by June 2004 before closing at 47.7 percent by July 2004.

The aggressive lowering of interest rates, coupled with strong increases in the money-supply rate of growth, gave rise to various bubble activities. (The central banks' loose monetary stance set in motion the transfer of wealth from wealth-generating activities to nonproductive bubble activities.)

Central-Bank Policies Trigger Economic Bust

Because of strong increases in the money-supply rate of growth, a visible strengthening in price inflation took place in Ireland and Iceland. In Ireland, the yearly rate of growth of the consumer price index (CPI) rose from 2.9 percent in January 2006 to 5.1 percent by March 2007. In Iceland, the yearly rate of growth of the CPI jumped from 1.4 percent in January 2003 to 18.6 percent by January 2009.

To counter the acceleration in price inflation, the central banks of Ireland and Iceland subsequently tightened their stance. The policy interest rate in Ireland rose from 2.25 percent in January 2006 to 4.25 percent by July 2008. In Iceland, the rate shot up from 10.2 percent in January 2006 to 18 percent by February 2009. Furthermore, the pace of money pumping by the central bank of Ireland fell to minus 8.2 percent by July 2007 from 25 percent in January 2007. The pace of pumping by the Iceland's central bank fell to 43 percent by February 2008 from 123 percent in July 2006.

The yearly rate of growth of AMS in Ireland plunged from 32 percent in August 2009 to minus 30 percent by November 2011. In Iceland, the yearly rate of growth of AMS fell from 96 percent in October 2007 to minus 18 percent by September 2009.

The sharp fall in the growth momentum of the money supply, coupled with a tighter interest-rate stance, put pressure on various bubble activities that emerged on the back of the previous loose-monetary-policy stance.

Consequently, various key economic indicators came under pressure. For instance, the unemployment rate in Ireland rose from 4.4 percent in January 2006 to 14.9 percent by July 2012. In Iceland, the unemployment rate climbed from 2 percent in January 2006 to 9.2 percent by September 2010. Year on year, the rate of growth of Irish real retail sales fell from 3.8 percent in January 2008 to minus 25 percent by September 2009. In Iceland, the yearly rate of growth of real retail sales fell from 11.9 percent in Q1 2008 to minus 31 percent by Q1 2009.

Most commentators blame the crisis on the conduct of banks that allowed the massive expansion of credit. It is held that this was responsible for the massive property boom in Ireland and overheated economic activity in Iceland.

We hold that the key factor in the economic crisis was the boom-bust policies of the central banks of Ireland and Iceland. Loose monetary policy had significantly weakened the economies' abilities in both Ireland and Iceland to generate wealth. This resulted in the weakening of various marginal activities. Consequently, a fall in these activities, followed by a decline in the pace of lending by banks — and this, in turn, coupled with a tighter stance by central banks — set in motion an economic bust. With the emergence of a recession, banks' bad assets started to pile up and this in turn posed a threat to their solvency.

From May 2007, the banks' stock prices on the Irish stock market declined markedly — they had halved by May 2008. This had an inevitable effect on banks' capital-adequacy ratios and therefore their ability to lend the ever-higher amounts that were necessary to support property prices.

As a result, housing loans as percentage of GDP plunged from 70.5 percent in Q2 2009 to 49.2 percent by Q2 this year. At the height of the boom, a fifth of Irish workers were in the construction industry. The average price of a house in Ireland in 1997 was €102,491. In Q1 2007 the price stood at €350,242 — an increase of 242 percent. The average price of a home in Dublin had increased 500 percent from 1994 to 2006.

Now, in Iceland, at the end of Q2 2008, external debt was €50 billion, more than 80 percent of which was held by the banking sector — this value compares with Iceland's 2007 GDP of €8.5 billion. The liabilities of the three main banks were almost 10 times the size of the island's GDP.

With the emergence of the bust, Icelandic authorities allowed its banks to go belly up, while the Irish government decided to support the banks. According to estimates, the cost to the taxpayers of providing support to Irish banks stood at €63 billion. (The private debt of the failed banks was nationalized.) In Iceland, the government, by allowing Icelandic banks to fail, made foreign creditors, not Icelandic taxpayers, largely responsible for covering losses.

The fact that Iceland allowed the banks to go bankrupt was a positive step in healing the economy. Unfortunately Iceland introduced a program of safeguarding the welfare of the unemployed. Also, the collapse of the Icelandic krona was a hard hit to homeowners who borrowed in foreign currency. In response to this, the authorities orchestrated mortgage-relief schemes. Iceland has also imposed draconian capital controls. Obviously, all this curtailed the benefits of allowing the banks to go belly up.

Whether the Icelandic economy will show a healthy revival, as suggested by some experts, hinges on the monetary policy of Iceland's central bank. We suggest the same applies to Ireland. (What is required is to seal off all the loopholes for the growth of the money supply.)

However, it is clear that Iceland's economic situation is less bad than Ireland's, and that is largely due to the Iceland's allowing its banks to go bankrupt.

Bad Policies Are Coming Back

For the time being in Iceland, the yearly rate of growth of AMS jumped from minus 11.3 percent in May 2010 to 34 percent by May 2012. Also, in Ireland, the growth momentum of AMS is showing strengthening with the yearly rate of growth rising from minus 30.3 percent in November last year to 4.7 percent in September 2012.

The rising growth momentum of money supply is a major threat to sound economic recovery in both Ireland and Iceland.

Also note that the policy interest rate in Ireland fell from 1.5 percent in October 2011 to 0.75 percent at present. In Iceland, the policy rate was lowered from 18 percent in February 2009 to 4.25 percent by July 2011. All this again sets in motion a misallocation of resources and new bubble activities — and, in turn, economic impoverishment.

Summary and Conclusion
Many commentators blame reckless bank lending as the key cause behind the 2008–2012 financial crises in Ireland and Iceland. Our analysis, however, suggests that it was not the banks as such that caused the crisis but rather the boom-bust policies of the central banks of Ireland and Iceland. It is these institutions that set in motion the false economic boom and the consequent economic bust. While Iceland allowed its banks to go bankrupt, the Irish government chose to bail out its banks. So, in this sense, the Icelandic authorities did the right thing, and Iceland has consequently outperformed Ireland economically. We hold that despite this positive step, Iceland's authorities have introduced various welfare schemes that have curtailed the benefits of having let banks go belly up. Furthermore, both Ireland and Iceland have resumed aggressive money pumping, thereby setting in motion the menace of boom-bust cycles.

Frank Shostak is an adjunct scholar of the Mises Institute and a frequent contributor to Mises.org. His consulting firm, Applied Austrian School Economics, provides in-depth assessments and reports of financial markets and global economies. Send him mail. See Frank Shostak's article archives.

You can subscribe to future articles by Frank Shostak via this RSS feed.

Copyright © 2012 by the Ludwig von Mises Institute. Permission to reprint in whole or in part is hereby granted, provided full credit is given.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Voce quer virar irlandes? Facil, facil: basta 1 milhao de euros...

Enfim, estou falando de um irlandês sério, não daqueles beberrões inconvenientes, que vivem contando piadas indecentes nos pubs de cerveja morna...
Não é difícil: com a quebradeira geral do país, basta colocar um milhãozinho de euros, em alguma forma de investimento, que voce já tem a oportunidade de tornar-se irlandês e de conseguir um desejado passaporte comunitário. Infelizmente, eu não tenho, mas mesmo que tivesse, não seria minha intenção virar irlandês...
Mas acredito que o programa está aberto mesmo aos afrodescendentes.
Paulo Roberto de Almeida 



The Great Irish Opportunity
By Bob Bauman JD, Offshore and Asset Protection Editor
The Sovereign Investor, May 28, 2012

Dear Paulo Roberto,
These days, Greece is an economic disaster area – but it’s not alone. Spain, Portugal, Italy and Ireland are also suffering from the same EU financial indigestion.

A few years ago, the booming Irish economy was the envy of Europe. It earned the nickname “the Celtic Tiger” – and for good reason. However, times have changed.

Today, Ireland’s national economy is floundering. The Irish are living through what some regard as the greatest national crisis since the 1916 Easter Uprising against British rule. Then, the issue was Irish national sovereignty, now it’s fiscal and financial sovereignty.




Celtic Tiger’s Problems Create Bargains
But along with those problems comes a great opportunity – both in terms of investment and the possibility of holding an Irish passport – one of the most coveted passports in the world.

Like many countries, Ireland was hit hard in the global economic downturn. Between the beginning of the crisis and the end of 2010, Ireland’s GDP had contracted by 14% and unemployment levels surged to 14%, where they remain.

However, before 2008, Irish property prices had skyrocketed more rapidly than in any other developed economy in the world.

Since that 2007 peak, average house prices have plunged 47%. But that government figure may be a serious underestimate. Ronan McMahon of Pathfinder, an Irish real estate expert, says he has seen declines of as much as 90%. There has been virtually no activity in the Irish property market since 2007 and prices continue to fall, with no bottom in sight.

In an effort to save its faltering banks, the government set up the National Asset Management Agency (NAMA), now dubbed by the Irish people as the “Bad Bank.”

NAMA took over an estimated $100 billion in troubled commercial property and development loans from six major financial institutions. This “Bad Bank” now controls more than 10,000 foreclosed properties, including residential, commercial, resort and hotels, development land and even pubs.

But, so far, NAMA has offered very few of these properties for sale, casting a long shadow of unsold inventory over an already brutalized market.

And, so, we come to the creation of an opportunity for great bargains. With the Irish economy’s continued troubles, NAMA is under pressure to sell off its remaining inventory soon, which means investors can pick up some real bargains. A list of available properties can be obtained from NAMA on their website.
Become an Irish Citizen
The Irish government has also started a new program to attract both money and wealthy individuals from outside the EU. The program offers special immediate residence visas to foreign individuals willing to invest in Ireland.
This investment can eventually lead to full citizenship, and Irish citizenship opens the door to full personal and commercial access to all 27 countries in the European Union.
Under the new program, potential investor immigrants have these choices (all numbers are required minimums):
• Make a one-time payment of €500,000 ($666,000) to a public project benefiting the arts, sports, health or education.
• Make a €2 million ($2.7 million) investment in a low interest immigrant investor bond. The investment is to be held for a minimum of five years. The bond cannot be traded but must be held to maturity.
• Invest €1 million ($1.3 million) in venture capital funding in an Irish business for a minimum of three years.
• Make a €1 million mixed investment in 50% property and 50% government securities. Special consideration may be given to those purchasing property owned by the National Asset Management Agency (NAMA). In such cases, a single €1m investment in property may be sufficient.
There is a separate program is for foreigners with entrepreneurial ability who wish to start a business in an innovation area of the economy with funding of at least €75,000 (US$99,000). They will be given a two-year residence period for the purposes of developing the business.

Information is available at the Ministry of Justice webpage. Emails can be directed to investmentandstartup@justice.ie/.

Even if you don’t want to invest in the new visa program, you may be eligible for an official Irish passport if your parents or grandparents had Irish citizenship.

The Irish passport is one of the most sought-after travel documents in the world. Remarkably, with a resident population of only 4.7 million, Ireland has many millions of current passports in worldwide circulation.

Complete information about obtaining residence and citizenship in Ireland is available from the official Irish Citizens Information Board website. Tel: 0761 07 4000 (Monday to Friday, 9am to 9pm).

Now is the time to invest in the “Celtic Tiger.”

Faithfully yours,


Bob Bauman

P.S.
Obtaining a second passport can be a very important cornerstone of any asset protection plan. With our freedoms here at home eroding by the day, it’s now more important than ever to make sure you have a plan in place. No matter who wins this November’s elections, government attacks on our freedom and wealth are just going to get worse. Don’t wait to start planning until it’s too late. Click here for my latest video to see how you can get started protecting yourself today.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Os paises balticos, a Irlanda e a Italia e a Espanha: licoes da crise

The Baltic states and Ireland are not a model for Italy and Spain
Simon Tilford
Centre for European Reform, 27 January 2012


Eurozone policy-makers – from President Sarkozy and Wolfgang Schäuble to the former President of the ECB, Jean-Claude Trichet – advocate that Italy and Spain should emulate the Baltic states and Ireland. These four countries, they argue, demonstrate that fiscal austerity, structural reforms and wage cuts can restore economies to growth and debt sustainability. Latvia, Estonia, Lithuania and Ireland prove that so-called "expansionary fiscal consolidation" works and that economies can regain external trade competitiveness (and close their trade deficits) without the help of currency devaluation. Such claims are highly misleading. Were Italy and Spain to take their advice, the implications for the European economy and the future of the euro would be devastating.
What have the three Baltic economies and Ireland done to draw such acclaim? All four have experienced economic depressions. From peak to trough, the loss of output ranged from 13 per cent in Ireland to 20 per cent in Estonia, 24 per cent in Latvia and 17 per cent in Lithuania. Since the trough of the recession, the Estonian and Latvian economies have recovered about half of the lost output and the Lithuanian about one third. For its part, the Irish economy has barely recovered at all and now faces the prospect of renewed recession.
Domestic demand in each of these four economies has fallen even further than GDP. In 2011 domestic demand in Lithuania was 20 per cent lower than in 2007. In Estonia the shortfall was 23 per cent, and in Latvia a scarcely believable 28 per cent. Over the same period, Irish domestic demand slumped by a quarter (and is still falling). In each case, the decline in GDP has been much shallower than the fall in domestic demand because of large shift in the balance of trade. The improvement in external balances does not reflect export miracles, but a steep fall in imports in the face of the collapse in domestic demand.
Estonia had a current account deficit equivalent to 17 per cent of GDP in 2007, but by 2011 this has become an estimated surplus of 1 per cent of GDP. Latvia and Lithuania experienced shifts in their external balances of a similar magnitude. Ireland went from a deficit of 5.6 per cent of GDP in 2008 to a small surplus in 2011. There is little argument that all four countries needed to narrow their trade deficits. But countries that have experienced such enormous declines in domestic demand, and whose economic growth figures have been flattered by a collapse of imports (and hence improvement in trade balances) hardly provide a blueprint for others, let alone big countries.
Spain and Italy could close their trade deficits if they engineered economic slumps of the order experienced by the Baltic countries and Ireland. But a collapse in demand in the EU's two big Southern European economies comparable to that experienced in the Baltic countries and Ireland would impose a huge demand shock on the European economy. Taken together, Italy and Spain account for around 30 per cent of the eurozone economy, so a 25 per cent fall in domestic demand in these two economies would translate into an 8 per cent fall in demand across the eurozone. The resulting slump across Europe would have a far-reaching impact on public finances, the region's banking sector and hence on investor confidence in both government finances and the banks. The impact on sovereign solvency in Spain and Italy and on the two countries' banking sectors would be devastating.
There are other factors that undermine the relevance of the Baltic and Irish experiences. In the face of mass unemployment, emigration, especially from Ireland and Lithuania, has ballooned. In the year to April 2011 alone, Irish emigration topped 76,000. The figures are similar for Lithuania, with 83,000 leaving in 2010. Comparable totals for Italy and Spain would be 1 million and 750,000 respectively. Moreover, the Irish have overwhelmingly moved to countries outside the eurozone (Australia, Canada, the UK and US). By contrast, a significant proportion of the very much larger number of Spanish and Italians would presumably be seeking work elsewhere in the currency union. The robust German labour market could absorb some migrants, but nothing like the numbers involved.
Despite massive movements in external balances that could not be repeated elsewhere and emigration that could not easily be emulated by others, Ireland, Latvia and Lithuania has experienced dramatic deteriorations in their public finances. Including the cost of bailing out Ireland's banks, public debt has risen from just 25 per cent of GDP in 2007 to over 100 per cent in 2011. In Latvia the debt to GDP ratio increased from 9 per cent to 45 per cent over this period and in Lithuania from 16 per cent to 38 per cent. The exception is Estonia, which has managed to run largely balanced budgets over the last four years.
Italy and Spain have few lessons to learn from the experience of the Baltic countries or Ireland. Those advocating that Italians and Spanish emulate these economies should admit that they are arguing in favour of an unprecedented slump in domestic demand. They should then demonstrate how this would be consistent with the solvency of both governments and banks in Italy and Spain. Finally, they should explain how the European economy as a whole could cope with an economic shock of this order.


Simon Tilford is chief economist at the Centre for European Reform

domingo, 14 de agosto de 2011

Irlanda, da felicidade aos problemas - Colm Tóibín

Ao contrário do que o editor da revista afirma, a Irlanda não voltou à pobreza. Ela representa um dos mais extraordinários exemplos de desenvolvimento econômico e social, arrancando a si mesma da pobreza por políticas corretas. Recentemente, cometeu uma grande bobagem, devido ao excesso de riqueza, justamente: foi garantir a 100% depósitos bancários, atraiu mais capital do que deveria, e foi prejudicada pela crise dos derivativos americanos. Uma bobagem que não deveria ter feito. Mas ela não voltará à pobreza, e sim terá de administrar o buraco financeiro pelos próximos anos. Tem inteligência suficiente para superar um problema conjuntural, e continua a ter boas políticas em outras áreas.
Paulo Roberto de Almeida

O preço da felicidade, o custo da desgraça
por Colm Tóibín
Revista piauí, agosto 2011

Em texto exclusivo para a piauí, o escritor irlandês narra a trajetória de seu país, da pobreza à prosperidade e de volta à pobreza, em apenas quinze anos

Devia ser o verão de 1965, ou talvez um ano antes, e estávamos na praia na costa leste da Irlanda. Eu tinha 9 ou 10 anos. Minha mãe e meus irmãos provavelmente tinham ido nadar e isso significa que eu estava deitado no tapete escutando a conversa do meu pai com a irmã da minha mãe. A irmã da minha mãe gostava de discutir grandes assuntos como religião e política. Agora ela estava perguntando a meu pai, que era um membro ativo do partido do governo, o Fianna Fáil – que desde 1932 esteve quase sempre no poder – se ele apoiava todas as políticas e decisões de seus correligionários. Meu pai disse que sim, e isso me pareceu certo, pois nunca imaginara que ele pudesse pensar de outro modo. Eu sabia a opinião dele sobre o outro partido – o Fine Gael, principal partido oposicionista – que era a de que você podia cumprimentar seus membros quando cruzava com eles na rua, mas se alguma vez votasse neles sua mão direita gangrenaria e seria amputada.

O pai do meu pai era um nacionalista irlandês e tinha lutado contra os britânicos. Participou da rebelião de 1916, que, mesmo sendo derrotada, tornou-se o início do fim do domínio britânico na Irlanda. Em 1922, quando finalmente se retiraram, os ingleses decidiram dividir a Irlanda, ficando com o norte do país, que tinha uma população protestante maior e não queria se separar da Grã-Bretanha. E homens como meu avô eram totalmente contrários a esse arranjo. Meu avô e seus amigos queriam tudo ou nada, uma república formada por toda a ilha; os da outra facção, até ali seus camaradas na luta contra o domínio britânico, queriam aceitar a proposta britânica de uma Irlanda dividida. As duas facções, incluindo irmãos, travaram uma feroz guerra civil. Noventa anos depois, os dois principais partidos – Fianna Fáil e Fine Gael – descendem dessa guerra.

A política de ambos os lados era nacionalista, anti-imperialista e não propriamente de esquerda. O ideário não ia além da vaga noção de uma Irlanda autossuficiente. A guerra que travaram não foi uma guerra de classes. Assim, enquanto alguns ingleses partiram e perderam suas propriedades, a burguesia irlandesa não foi afetada pela independência. Os proprietários rurais mantiveram suas terras; os lojistas, suas lojas; os banqueiros, seus bancos. E a revolução irlandesa foi também comandada principalmente por católicos. O fim da guerra civil viu crescer, ao sul da fronteira, um Estado católico insular profundamente conservador e, ao norte, numa imagem especular, um estado protestante insular profundamente conservador. O partido do meu avô, Fianna Fáil, do qual meu tio também era membro, e no qual meu pai logo ingressaria, tomou o poder no sul em 1932; tornou-se ainda mais conservador e mais católico do que o outro partido, Fine Gael. O Partido Trabalhista continuou pequeno, sempre a terceira força; o movimento sindical também era conservador, e quase não tinha influência.

O problema para o novo Estado irlandês era como proporcionar trabalho à população. Os melhores empregos eram no funcionalismo público. Quase não havia indústria; a Irlanda era ainda um país basicamente agrícola. Dos anos 20 em diante muitos jovens emigraram para a Grã-Bretanha e Estados Unidos em busca de trabalho. Em 1939 Seán Lemass, que se tornaria primeiro-ministro vinte anos mais tarde, disse que os problemas econômicos da Irlanda tinham “criado uma situação em que o desaparecimento da raça era uma possibilidade que não podia ser ignorada”. O isolamento do país se acentuou ainda mais por causa da posição de neutralidade que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, enquanto a Europa era reconstruída com dinheiro do Plano Marshall, a Irlanda ficou, assim como a Espanha e Portugal, à margem da nova prosperidade.
Era, nos anos 50, um lugar atrasado, do qual era um alívio, quase um prazer, emigrar. Quatro em cada cinco crianças nascidas na Irlanda entre 1931 e 1941 emigraram. No final daquela década estava claro que era preciso fazer algo para modernizar o país. Em 1958 foi publicado o Primeiro Programa para a Expansão Econômica. A Irlanda tinha sido admitida no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional em 1957. A partir de 1958, o país se abriu para o investimento estrangeiro e para o capital externo, predominantemente americano.

(leia a íntegra deste artigo neste link)

sábado, 28 de maio de 2011

Irlanda e China em 2006 e agora...

Sempre na hora da saudade, e recuperando inéditos que tinham ficado para trás muito tempo.
Como antes, ver o que permanece válido e o que já se tornou perempto...

Irlanda e China como exemplos de desenvolvimento tecnológico
Paulo Roberto de Almeida
Respostas a questões colocadas por jornalista em 4 dezembro 2006
Brasília, 5 dezembro 2006

PERGUNTAS
- Nome, função de quem responde e breve resume
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor universitário, doutor em ciências sociais e mestre em planejamento econômico. Ingressou na carreira diplomática em 1977 e exerceu funções em postos do exterior, como embaixadas em Washington e Paris e delegações em Genebra em Montevidéu.

- Desde quando esses países investem em inovação tecnológica?
China
A China tem uma longa tradição científica, que ficou em segundo plano na longa trajetória de declínio econômico a partir do século XVIII. Depois de dois séculos de conflitos internos e guerras contra inimigos regionais, ela voltou a se ocupar da capacitação de seus cientistas e engenheiros. Se o “grande salto para a frente”, dos anos 1958-1962, foi um desastre incomensurável em termos de avanço industrial – com milhões de mortos de fome, literalmente, devido à desorganização da produção agrícola e o desvio de recursos e energias humanas para a confeção de aço em siderúrgicas artesanais – os preparativos para a primeira explosão nuclear, ocorrida em 1964, revelam uma certa capacitação científica e tecnológica.
A despeito de atrasos enormes no desenvolvimento da tecnologia de aplicação industrial, devido à obsolescência do sistema comunista de incentivos, o regime chinês deu importância para a formação educacional do povo e para a formação de mão-de-obra especializada. Mas, o salto decisivo se dá mesmo a partir do abandono das “teorias” econômicas marxistas por Deng Xiao-ping, a partir do final dos anos 1970, e da reinserção da China na economia mundial, da qual ela ficou afastada durante boa parte do século XX. Essa reinserção se dá, numa primeira etapa através da delimitação de ZPEs, zonas de processamento de exportações, funcionando como enclaves e regimes tributário e fiscal privilegiados em algumas regiões da costa – sobretudo meridional – em favor de investimentos diretos estrangeiros. Numa segunda etapa, esse modelo se dissemina por várias regiões, com ampliação constante de seu escopo e abrangência geográfica.
O investimento em C&T torna-se sistemático e direcionado a partir daí, como necessidade de se alcançar os níveis ostentados pelos países mais avançados.

Irlanda
A Irlanda sempre foi um dos países mais atrasados da Europa, até meados do século XX, praticamente, quando ela começa a se inserir no “mainstream europeu”. Mas, mesmo tendo ingressado na então Comunidade Econômica Européia, no início dos anos 1970, a Irlanda continuou desfrutando de uma precária base educacional, científica e tecnológica. Foi necessário uma decisão nacional, consensual, em favor da educação e da reforma econômica para que a formação de quadros capacitados para a indústria moderna começasse realmente, no início e em meados dos anos 1980.

- Como esse processo começou?
Na China, a base dessa mudança foi o reconhecimento de que o país estava completamente defasado tecnologicamente em relação ao Ocidente e que ele deveria tentar colmatar a brecha abrindo-se a esses investimentos, inclusive da Hong-Kong capitalista. Na verdade, muito dos investimentos feitos eram da diáspora chinesa, classe empreendedora espalhada por todo o sudeste asiático, sendo que as multinacionais passaram a afluir com mais intensidade a partir do final dos anos 1980, quando as mudanças políticas na China confirmaram um novo padrão de relacionamento com o capital estrangeiro.
A inovação tecnológica na China é, assim, a combinação de IDE – que realiza transferências diretas e indiretas de tecnologia – e capacitação própria, sob a forma de engenheiros e técnicos formados pelas escolas médias e superiores e pelos laboratórios nacionais especializados. O grande esforço chinês foi o de aumentar gradativamente a qualidade do seu ensino em todos os níveis, enviando inclusive milhares de estudantes para pós-graduação no exterior.
Na Irlanda, houve uma espécie de “pacto nacional” a favor da educação, pari passu à introdução de importantes reformas macroeconômicas, sobretudo na área fiscal, tributária e setoriais (industrial e comercial). Basicamente o que se fez foi reduzir impostos sobre os lucros das empresas e sobre o trabalho, abaixar substancialmente todas as tarifas alfandegárias, logo equiparadas às da CEE-UE, e conceder tratamento fiscal privilegiado para o capital estrangeiro desejoso de trabalhar na Irlanda.

- Quais as estratégias usadas pelo governo desses 4 países para garantir o suprimento de engenheiros necessários para a modernização tecnológica no país?
China
Um aspecto relevante da modernização tecnológica da China tem a ver com os processo de cópia, imitação e adaptação (muitas vezes ilegais) de produtos e processos proprietários estrangeiros, como ocorre em todos os casos de modernização e de industrialização rápidos. A China copia todo e qualquer produto que tenha sucesso, e portanto mercado, que seja suscetível de produção em massa. Mas, para que isso ocorra, é preciso dispor de um número razoável de engenheiros capacitados, prontos a fazerem engenharia reversa, a fragmentar processos produtivos estrangeiros em tarefas suscetíveis de serem imitados com sucesso, e a introduzir pequenas inovações incrementais que garantam uma produtividade superior em relação ao estado da arte naquele setor ou ramo industrial.
Deve-se levar em conta, também, as vantagens comparativas da China em termos de mão-de-obra e seu custo de “produção”: um engenheiro chinês sempre será mais barato que seu contraparte ou equivalente no Ocidente desenvolvido, mas relativamente bem pago para os padrões locais, o que garantiu um suprimento adequado para as indústrias que estavam sendo criadas.

Irlanda
Com base em incentivos fiscais, para as empresas e para atividades inteiras – produção para exportação, por exemplo – a Irlanda conseguiu integrar a “produção” de engenheiros com os programas de treinamento das próprias empresas (nacionais e estrangeiras), que passaram a pagar pelo menos a metade dos impostos que elas eram obrigadas a pagar no resto da CEE-UE.

- Como foi feito o investimento para a promoção do ensino de ciências exatas nas escolas e universidades?
- Foram criados mais cursos de engenharia?
Desconheço detalhes desse processo, mas entendo que ele foi intenso e contínuo, tanto na China quanto na Irlanda. A Irlanda se abriu bem mais a técnicos estrangeiros, que passaram a trabalhar em seu próprio território – em especial a partir de investimentos feitos por irlandeses emigrados nos EUA décadas antes --, beneficiando-se, inclusive, da utilização da língua inglesa como base inquestionável de seu sucesso na integração com os mercados externos. A China passou a formar expressivo número de engenheiros e técnicos industriais nas suas escolas técnicas e universidades. Os laboratórios nacionais mobilizam números expressivos de trabalhadores especializados.

- Quais os resultados já obtidos nesses países ?
China
A China integrou-se definitivamente aos circuitos mundiais de produção manufatureira e integra-se também, cada vez mais, às correntes de produção científica e tecnológica. A partir das cópias não autorizadas, ela já está fabricando produtos inovadores dotados de suas próprias marcas, o que lhe permitirá evitar o pagamento de royalties pela cessão de know-how estrangeiro.

Irlanda
A Irlanda tornou-se um “tigre celta”, como muitas vezes se disse, na verdade uma plataforma de exportações extremamente competitiva, com base em isenções amplas de impostos e benefícios fiscais não contemplados pelos demais países membros da CEE-UE.

- Gostaria de acrescentar algo que não perguntamos?
Não creio que as experiências da Irlanda ou da China possam ser reproduzidas pelo Brasil, uma vez que elas se baseiam num coquetel único e historicamente original de transformações produtivas e inserção nas correntes de comércio internacional, mobilizado por cada um desses países segundo circunstâncias específicas a cada um deles.
Independentemente de outros aspectos, sobretudo os educacionais, a Irlanda poderia ser equiparada a uma imensa Suframa, isto é, um território aberto ao investimento estrangeiro, dispondo de um regime fiscal privilegiado, praticamente sem travas nas conexões comerciais externas. Esse modelo dificilmente poderia ser generalizado para o conjunto do Brasil.
Da mesma forma, a China representa um caso único de vantagens comparativas absolutas no terreno da mão-de-obra, o que atrai as companhias estrangeiras que necessitam obter maiores ganhos de competitividade com base nesse fator trabalho. Esse sistema tampouco pode ser reproduzido no Brasil, que dispõe de uma legislação trabalhista “francesa”, com inúmeras garantias aos trabalhadores e que seriam incompatíveis com o modelo chinês de “exploração” da mão-de-obra.
Mas, o que deve ser registrado como ensinamento para o Brasil é a importância de se ter a economia nacional intimamente conectada com os circuitos de bens, serviços, know-how e aportes tecnológicos estrangeiros, o que se obtém via comércio internacional. Abertura ao comércio e aos investimentos estrangeiros são essenciais para assegurar patamares mais elevados de capacitação tecnológica. Similarmente, uma boa base educacional é extremamente relevante na mobilização da mão-de-obra para servir a essas indústrias conectadas com o exterior.
Finalmente, regimes fiscais favoráveis, mas essencialmente carga tributária modesta, ademais de câmbio competitivo e estabilidade das regras macroeconômicas e setoriais ajudam enormemente na tarefa de atrair e reter investimentos estrangeiros. A Irlanda e a China foram muito mais dependentes do capital estrangeiro no passado do que elas o são atualmente, já tendo adquirido capacitação própria em vários setores, o que torna esses dois países em participantes plenos do jogo da interdependência capitalista que caracteriza atualmente a globalização.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 dezembro 2006

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Do BRIC ao FISC - Cristovam Buarque

O FICS
Cristovam Buarque
O Globo, 08/05/2010

O mundo do século XXI está cheio de siglas que representam grupos de países. O grupo mais recente, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, é chamado de BRIC.

O que unifica esses quatro países são suas dimensões demográficas e territoriais – entre as maiores do mundo – e o fato de suas economias terem crescido nas últimas décadas, tornando-os nações emergentes no mercado mundial.

O PIB do BRIC equivale a US$ 16 trilhões, 23,51% do produto bruto global; suas exportações somam cerca de US$ 2 trilhões, 13,03% do total das exportações mundiais. Participações surpreendentes, se comparadas à situação desses países há até poucas décadas. Num mundo sem a polarização militar anterior à queda do Muro de Berlim e sem hegemonia política, esses países unidos formam um importante centro de poder. Por isso, a recente reunião do BRIC, em Brasília, foi um fato importante para o mundo, e chamou a atenção da imprensa internacional.

Outro grupo – nem criado nem batizado – pode ter mais futuro do que o BRIC. Trata-se do grupo Finlândia, Irlanda, Coreia do Sul e Suécia, que podemos chamar de FICS. O que caracteriza esses países é o fato de deterem o principal capital do futuro: o conhecimento.

Se os países do BRIC têm altas taxas de produção, consumo e participação no comércio internacional, os países do FICS fazem parte da elite educacional do mundo. A comparação entre os dados educacionais do BRIC e do FICS mostra a diferença entre eles.

Enquanto os países do FICS ficam entre o 1ª e 22ª lugares, os países do BRIC estão entre a 34ª e a 52ª posições, na avaliação da educação feita pela OCDE (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA) em 57 países, analisando o desempenho em leitura, matemática e ciências. Enquanto no FICS as taxas de conclusão do Ensino Médio ficam entre 62% e 91%, no BRIC ficam entre 15% e 57% da população.

Todos os países do FICS têm 100% de sua população adulta alfabetizada, mas no BRIC – com exceção da Rússia, que também atinge 100% – as taxas variam de 94% a 66%.

Os países do FICS têm posição modesta na produção global, apenas 2,97% do PIB mundial, mas participam com 5,41% do total das exportações. Graças à boa educação de base, os FICS produzem e exportam cada vez mais bens com alto conteúdo científico e tecnológico, enquanto os BRICs exportam principalmente bens agrícolas e minerais, produtos da indústria têxtil e mecânica com baixo teor de beneficiamento, produtos esgotáveis, como petróleo e gás, ou mesmo simples bugigangas.

A realidade mostra as vantagens do FICS sobre o BRIC: a renda per capita dos primeiros é 4,9 vezes maior que a dos últimos. O índice de Gini (quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda) do BRIC varia de 0,550 (este, o pior índice, é do Brasil) a 0,370; ao passo que no FICS, fica entre 0,250 e 0,343. O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento) no FICS varia de 0,937 a 0,965; enquanto no BRIC varia de 0,612 a 0, 817. Os países do FICS também levam vantagem na estabilidade social e política, na proteção ao meio ambiente, na ética da política e na paz das ruas. Mesmo em momentos de crise financeira, que pode ocorrer na Irlanda, a recuperação será possivelmente mais rápida.

Mas é sobretudo o indicador-de-futuro que coloca esses países em condições superiores. O FICS tem território insignificante, pequena população, consumo e produção baixos, reduzida participação no comércio internacional. Mas em uma economia cada vez mais baseada no valor do conhecimento, o futuro será muito mais brilhante para o FICS, se comparado com o atraso educacional do BRIC.

Daqueles, Coréia e Irlanda iniciaram suas revoluções há poucas décadas. A situação educacional deles não era melhor do que a brasileira há até poucos anos. Mas eles mostraram que era possível. Pena que seja tão difícil convencer os brasileiros a imaginarem nosso País com educação de qualidade para todos. É por isso que ficamos comemorando o BRIC, ignorando a vantagem discreta do FICS.