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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 25 de junho de 2020

Why the Central Bank "Bailout of Everything" Will Be a Disaster - Daniel Lacalle (Mises)

Why the Central Bank "Bailout of Everything" Will Be a Disaster

Mises, 06/24/2020
Despite massive government and central bank stimuli, the global economy is seeing a concerning rise in defaults and delinquencies. The main central banks’ balance sheets (those of the Federal Reserve, Bank of Japan, European Central Bank, Bank of England, and People’s Bank Of China) have soared to a combined $20 trillion, while the fiscal easing announcements in the major economies exceed 7 percent of the world’s GDP according to Fitch Ratings.
This is the biggest combined stimulus plan in history. However, businesses are closing at a record pace and unemployment has reached extremely elevated levels in many countries.
There is an important risk in what I call the "bailout of everything," or the conscious decision by governments and central banks to provide any needed support to all sectors and companies with access to debt. Most of these stimulus packages and liquidity measures are aimed at supporting current government spending and providing liquidity to companies with assets, with access to debt, and in traditional sectors. It is not a surprise, then, that at the same time as we see the largest fiscal and monetary support plan since World War II, we are already witnessing two dangerous collateral effects: the rise of zombie companies and the collapse of small businesses and startups.
According to the Institute of International Finance (IIF), the figure of global corporate bond defaults has risen to $50 billion in the second quarter of 2020 despite historic low interest rates and high liquidity. Additionally, according to Deutsche Bank and the Bank of International Settlements, the number of zombie companies in the eurozone and the US, large companies that cannot cover their interest expenses with operating profits, has rocketed to new all-time highs. In 2019 Professors Petroulakis (ECB) and Andrews (OECD) stated, "Europe’s productivity problem is partly due to the rise of zombie firms that crowd out growth opportunities for others" ("What Zombie Firms Tell Us about Europe’s Productivity Problem,” World Economic Forum, April 2019). This problem is only increasing in the current crisis.
The rise in bond defaults is a consequence of previous high leverage in a weakening operating income environment. This should not be a concern if creative destruction works to improve the economy, as inefficient companies are taken over by efficient ones and new investors restructure challenged businesses to make them competitive. The big problem is how massive liquidity and low rates are perpetuating overcapacity and keeping an extraordinary amount of zombie firms alive.
Maintaining and increasing zombie firms destroys any positive effect from restructuring and innovation. Additionally, to maintain cash flows and stay alive, companies are cutting investment in innovation, technology, and research. Meanwhile, small businesses that do not own hard assets or have access to debt are dissolving every day. In most developed economies, where 80 percent of employment comes from small businesses, the "bailout of everything" is becoming a massive transfer of wealth from the new economy to the old economy, preventing a stronger and more productive recovery.
In the eurozone, the main beneficiaries of the European Central Bank corporate bond purchases are large industrial conglomerates that were already facing weak margins, poor growth, and bloated balance sheets in 2019. In the United States, the financing channel of the real economy is more diverse, and the impact of zombification is smaller, but not negligible or irrelevant.
Some of these problems may have been inevitable in a crisis, but the majority of them could have been mitigated significantly by implementing supply-side policies instead of large government-directed stimuli and recovery plans based on adding more debt to already challenged sectors.
The Bailout of Everything (as long as it is large) creates significant risks.
Low-productivity and indebted sectors survive, creating a perverse incentive that benefits malinvestment and poor capital allocation. Additionally, as these sectors already had overcapacity and structural problems, their bailout does not lead to higher job creation or stronger investment. Furthermore, high-productivity sectors will likely suffer the rising tax burden after these governments’ rescue plans diminish the employment potential and the likelihood of rising real wages as productivity growth stalls.
Finally, when governments bail out large and overcapacity-ridden conglomerates, investment in innovation, efficiency, and restructuring of loss-making divisions is severely diminished. Why? Because the reason why governments agree to take stakes or bail out large sectors is precisely to prevent them from restructuring in the first place. Tax cuts and supply-driven liquidity measures to small businesses and technology would have worked significantly better and at a lower cost for taxpayers.
What we are seeing today may have long-term negative implications.
A weaker than expected recovery, with low-productivity growth and a challenging return of the lost employment as well as poor investment growth, are likely the collateral damage of the misguided and panic-driven Bailout of Everything. Unfortunately, it will also generate more debt and higher taxes that will further complicate things for taxpayers and innovative sectors.
Author:
Daniel Lacalle, PhD, economist and fund manager, is the author of the bestselling books Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), The Energy World Is Flat (2015), and Life in the Financial Markets (2014).
He is a professor of global economy at IE Business School in Madrid.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Um curso sobre as Constituições brasileiras - Rodrigo Marinho (Mises Brasil)

Olá! Tudo bem? 
Tenho certeza que em algum momento da sua vida, independente da sua idade, você já ouviu dizer que o Brasil é o país do futuro. Entra década e sai década e essa frase continua sendo dita. Mas você já parou para pensar por que esse futuro nunca chega? Por que parece que estamos estagnados e presos no passado e que não conseguimos sair do lugar?
Agora, através do mais novo curso online do Instituto Mises Brasil “Por Que o Brasil Não Dá Certo: A História das Constituições", com aulas ministradas por Rodrigo Marinho, você irá entender os reais motivos pelo qual o nosso país é tão atrasado na política  e na economia.
Trata-se de um curso perfeito para aqueles que têm interesse na área do Direito e para aqueles que desejam aprofundar mais o seu conhecimento.
E para você já ir sentindo um pouco do gostinho do curso, estamos disponibilizando a primeira aula inteiramente GRÁTIS. Para assistir, basta clicar abaixo.
Quero assistir! 
O curso é vitalício, 100% online, totalmente adaptável à sua rotina, e após a conclusão você recebe um certificado digital do Instituto Mises Brasil.
Qualquer dúvida, você poderá tirá-la entrando em contato conosco através das nossas redes sociais ou pelo e-mail contato@mises.org.br.
Atenciosamente,
Equipe Mises Brasil.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Afinal, os nazistas eram capitalistas, socialistas ou “terceira via”? - Chris Calton (Mises)

Afinal, os nazistas eram capitalistas, socialistas ou “terceira via”?
Chris Calton
é estudante da Mises University e historiador econômico. 
Ludwig von Mises, à época, já havia explicado tudo


A controvérsia parece nunca ter fim: afinal, qual era a ideologia econômica dos nazistas?
Recentemente, deparei-me com uma postagem no Twitter até bem espirituosa. A pessoa, de esquerda, afirmou o seguinte, parafraseando: "Pessoas que dizem 'Os nazistas eram socialistas; o próprio nome do partido assume isso!' devem se sentir atordoadas ao lerem 'buffalo wings'[1]."
Hoje, parece ter virado senso comum dizer que os nazistas eram capitalistas, e não socialistas, apesar do capcioso nome do seu partido: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei ou Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Traga o assunto à baila e a reação sempre será a mesma: os intelectuais arregalarão os olhos e dirão que qualquer pessoa com formação universitária tem a obrigação de saber que os nazistas eram capitalistas; se não no nome, ao menos em princípio.
Obviamente, tal alegação não faz nenhum sentido, pois não sobrevive ao mais básico teste de lógica, como será mostrado mais abaixo. No entanto, o primeiro mistério a ser desvendado é: de onde surgiu este mito de que os nazistas eram capitalistas?
Ludwig von Mises, com efeito, já havia respondido a esta pergunta em 1951 em seu ensaio "Planned Chaos".
Durante o século XIX, quando o socialismo estava começando a ficar em voga na Europa, não havia nenhuma distinção entre "socialismo" e "comunismo". Sim, havia formas distintas de socialismo, mas estas não eram diferenciadas pelos termos "socialismo" e "comunismo". Cada intelectual possuía a sua preferência, mas os termos "socialismo" e "comunismo" eram utilizados de maneira intercambiável.
Sobre isso, Mises escreveu: "Em 1875, em seu Crítica ao Programa de Gotha, do Partido Social-Democrata Alemão, Marx fez uma distinção entre a fase precoce e a fase posterior da sociedade comunista. Mas ele não reservou o nome "comunismo" à fase posterior, e não rotulou de "socialismo" a fase precoce, para diferenciá-la do comunismo".
Segundo Marx e sua teoria sobre a história, o socialismo era inevitável. De acordo com sua análise determinista, todos os países do mundo estavam destinados a seguir o mesmo caminho: do feudalismo para o capitalismo, e do capitalismo para o socialismo, quando a história acabaria. Para Marx, essa progressão era inevitável.
Na Alemanha, os primeiros propagadores do "socialismo de estado" surgiram um pouco antes de Marx. Johann Karl Rodbertus, assim como Marx, rejeitava várias das teorias socialistas então em voga, dizendo que eram insustentáveis. Rodbertus foi o primeiro pensador socialista a defender o controle tanto da produção quanto da distribuição. Segundo ele, para alcançar isso, os socialistas teriam de usar o estado. Já o maior propagador dessas idéias foi Ferdinand Lassalle, cujo proselitismo levou a um rápido crescimento da popularidade daquilo que Mises viria a rotular de "socialismo de padrão alemão".
O socialismo alemão, como Mises o definiu, diferia do "socialismo de padrão russo". O socialismo de padrão alemão, disse Mises, "mantinha, ao menos aparentemente, a propriedade privada dos meios de produção e permitia, ao menos nominalmente, o empreendedorismo e as transações de mercado".
No entanto, tal arranjo era apenas superficial. Por meio de um abrangente e complexo sistema de regulações e intervenções econômicas, a função empreendedorial dos proprietários dos meios de produção era totalmente controlada pelo estado. Industriais e comerciantes, por exemplo, não mais tinham a função empreendedorial de tentar antecipar quais seriam as demandas futuras dos consumidores para então fazer as devidas alocações de recursos visando à satisfação desta demanda e, consequentemente, ao lucro. Assim como na União Soviética, essa função de especulação empreendedorial e alocação de recursos era feita exclusivamente pelo estado.
Consequentemente, dado que era o estado quem estava no controle efetivo da alocação de recursos, o cálculo econômico de preços e custos se tornava impossível.
"Na Alemanha nazista", disse Mises,
Os proprietários dos meios de produção eram chamados de dirigentes comerciais, ou 'Betriebsführer'. O governo dizia a estes supostos empreendedores o que produzir, como produzir, em quais quantidades e a que preços. O governo também determinava de quem eles deveriam comprar, a quais preços e a quem poderiam vender. O governo decretava os salários que deveriam ser pagos para cada trabalhador. E determinava também para quem e sob quais condições o capitalista deveria investir seus fundos.
As transações de mercado não eram genuínas; eram apenas um fingimento, uma simulação.
E, dado que todos os preços, salários e taxas de juros eram estipulados pelas autoridades, eram preços, salários e juros apenas na aparência. Com efeito, eram termos meramente quantitativos em meio a um ordenamento autoritário que determinava a renda, o consumo e o padrão de vida de cada indivíduo. Era a autoridade, e não os consumidores, quem comandava a produção.
O comitê central de gerenciamento da produção era supremo. Todos os cidadãos se transformaram em meros funcionários públicos. Isso nada mais é do que um arranjo socialista camuflado sob uma aparência externa de capitalismo. Alguns termos que remetiam a uma economia capitalista foram mantidos, mas seu significado era totalmente diferente daquele de uma genuína economia de mercado.
Em suma: os nazistas praticaram controle de preços, controle de salários e arregimentaram toda a produção. A propriedade dos meios de produção continuou em mãos privadas, mas era o governo quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem tais produtos seriam distribuídos, bem como quais preços seriam cobrados, quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber.
Desnecessário ressaltar que determinar preços e salários, e estipular o que deve ser produzido, como e para quem, representam um claro ataque à propriedade privada, pois retiram dos produtores as opções que eles teriam no livre mercado para aplicar seus recursos. Trata-se de uma intervenção estatal que, na prática, proíbe os proprietários de investirem seus recursos onde e como bem quiserem.
A propaganda soviética
Mas os próprios soviéticos também tiveram um papel crucial em criar o mito de que os nazistas eram capitalistas. Os nazistas nunca tentaram esconder suas propensões socialistas (afinal, não obstante os twitteiros sarcásticos, o socialismo estava no nome deles); eles simplesmente estavam implantando o socialismo seguindo uma estratégia diferente daquela dos socialistas marxistas.
Os soviéticos rotularam os nazistas de capitalistas simplesmente porque eles já haviam começado a redefinir os termos "socialismo" e "comunismo". Os membros de seu partido, os bolcheviques, agora eram diferentes dos outros grupos socialistas rivais. Os termos "comunismo" e "socialismo" ainda eram usados de maneira intercambiável, e a própria União Soviética era apenas uma abreviação de "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas". Só que, ao rotularem seu grupo de "Partido Comunista", o título "Comunista" — que agora significava um membro do partido de Lênin — se tornou uma maneira de dizer que aquilo era "o socialismo verdadeiro", por assim dizer.
"Foi somente em 1928", explicou Mises, "que o programa da Internacional Comunista ... começou a diferenciar o comunismo do socialismo (e não somente comunistas de socialistas)." Essa nova doutrina afirmava que, no arcabouço marxista, havia outro estágio de desenvolvimento entre capitalismo e comunismo. Esse estágio, obviamente, era o socialismo, e era neste estágio que se encontrava a União Soviética.
Em sua teoria original, Marx fez uma distinção entre o comunismo em sua fase inicial e o comunismo em sua fase final: a verdadeira igualdade só seria alcançada no estágio final do comunismo, após o estado ter sido bem-sucedido em seguir todas as políticas recomendadas por Marx e os seres humanos já terem evoluído para alem de sua "consciência de classe". Na nova doutrina, "socialismo" simplesmente se referia ao estágio inicial do comunismo marxista, ao passo que o verdadeiro comunismo — a fase final do comunismo marxista — só seria alcançada quando todo o mundo fosse comunista.
Assim, a União Soviética era meramente socialista, mas os membros do partido eram comunistas, pois representavam os poucos iluminados que já estavam trabalhando em prol do objetivo supremo do comunismo.
Por outro lado, os nazistas ainda alegavam ser socialistas e, com efeito, agiam de maneira muito semelhante à teoria socialista, com suas abrangentes e autoritárias intervenções econômicas. Só que, como ainda havia desigualdade econômica entre os cidadãos da Alemanha nazista (assim como havia na União Soviética, mas isso não interessava à narrativa), e como os nazistas mantiveram alguns dos termos técnicos de uma sociedade capitalista — especificamente, ainda havia a existência superficial de propriedade privada, ainda que em termos meramente nominais —, isso já bastava para serem vistos como o exato oposto de seus congêneres comunistas.
E então, quando os nazistas invadiram a União Soviética, Josef Stálin e seus lacaios recorreram à nova narrativa comunista para redefinir o socialismo nazista — o qual, embora não fosse marxista, se baseava nas teorias dos socialistas alemães originais que influenciaram diretamente as idéias de Marx — como "capitalista".
De acordo com essa nova narrativa, os nazistas estavam na etapa suprema do capitalismo, a qual seria a pior de todas.
Em uma época em que vários membros da intelligentsia européia estavam encantados com a União Soviética, essa narrativa de que os nazistas eram capitalistas passou a ser uma falácia extremamente conveniente. Mas trata-se de uma ideia sem o mais mínimo fundamento em princípios econômicos. É apenas uma deturpação soviética com base no arcabouço marxista. Os nazistas, que apregoavam orgulhosamente seu socialismo e que implantaram políticas socialistas com grande consistência, passaram a ser chamados de capitalistas pelo simples motivo de que eles não se encaixavam pristinamente na visão de mundo soviético-marxista.
Esta narrativa segue viva até hoje.

[1] Buffalo wings, ou asas de Búfalo, nada mais são do que asas de frango apimentadas. O nome se deve ao fato de tal prato ter sido inventado na cidade americana de Buffalo, Nova York.
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Leia também:

sábado, 4 de janeiro de 2020

Por que os jovens ainda preferem o socialismo? - Nicholas Crovitz (Mises)

Este artigo, esclarecedor sobre as razões de porque tanta gente, sobretudo os jovens, continuam manifestando preferência pelo socialismo, a despeito de todas as terríveis consequências, se conclui por uma frase de Thomas Sowell, que poderia ter sido também dita por ninguém menos do que George Orwell (Eric Blair), se é verdade que não foi dita por ele: 

Como disse Thomas Sowell, "O histórico de desastres do socialismo é tão óbvio, que somente intelectuais poderiam ignorá-lo".

Desfrutem...
Paulo Roberto de Almeida

É fácil entender por que os jovens dos países mais ricos tendem a defender mais socialismo
Mises Brasil, 5/11/2019
Essa é a consequência de se viver na abundância


Há um fenômeno ocorrendo em comum nos países mais ricos e prósperos do mundo: os jovens afirmam ter sentimentos positivos em relação ao socialismo.
Em uma pesquisa de 2017, 51% dos millennials se identificavam como socialistas, com adicionais 7% dizendo que o comunismo era seu sistema favorito. Apenas 42% preferiam o capitalismo.
Em alguns casos, a defesa do socialismo ocorre abertamente, como nos EUA, onde os jovens que apóiam o Partido Democrata — principalmente Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez — abertamente se auto-rotulam como socialistas. Em outros, a defesa é menos explícita, como nos recentes protestos do Chile
Em comum, vemos jovens de países prósperos, que vivem em meio a uma abundância nunca antes alcançada na história do mundo, exigindo mais poder estatal, mais intervenções e estatizações, e menos liberdade de mercado — o mesmo mercado que lhes forneceu toda esta abundância.
O que explica essa contradição?
É tentador dizer que todo o problema se resume a uma completa ignorância tanto sobre economia básica quanto sobre história. De um lado, tais pessoas não entendem como funciona uma economia de mercado (embora vivam em uma); de outro, aparentam desconhecer por completo o histórico do socialismo.
De concreto, há uma total falta de apreço por quão rapidamente suas condições materiais melhoraram.
A armadilha nutricional
Em um passado não tão distante, as pessoas não "trabalhavam duro", no sentido de longas e cansativas horas de trabalho. De certa forma, elas trabalhavam menos do que nós atualmente. E era assim não pelos motivos que os socialistas de hoje imaginam.
Não havia aquele cenário cor-de-rosa de "camponeses felizes trabalhando poucas horas por dia nos campos, e então passando o resto do dia no ócio e no lazer". Todos eles eram raquíticos, muito mal alimentados e simplesmente não tinham energia para trabalhar duro. Longe de levarem uma vida idílica, ver seus filhos sofrerem de desnutrição e estar fraco demais para ajudá-los deve ter sido uma experiência tenebrosa.
Em seu livro A Grande Saída, o vencedor do Nobel Angus Deaton explica a "armadilha nutricional" que a população da Grã-Bretanha vivenciou:
A população da Grã-Bretanha, no século XVIII e início do século XIX, consumia menos calorias que o necessário para as crianças crescerem ao seu máximo potencial e para os adultos manterem seus organismos em níveis saudáveis de funcionamento, o que lhes impedia de efetuarem trabalho manual produtivo e remunerativo.
As pessoas eram muito magras e muito pequenas, talvez tão pequenas quanto nos períodos de tempo anteriores.
Deaton explica como a escassez de nutrição afetou o organismo da população. Os trabalhadores dos séculos anteriores não eram robustos; um físico atrofiado era o que oferecia a melhor esperança de sobrevivência:
Ao longo da história, as pessoas se adaptaram a uma escassez de calorias da seguinte maneira: elas não cresciam e não ficavam altas. A atrofia corporal não apenas é uma consequência de não ter muito o que comer, especialmente na infância, como também corpos menores requerem menos calorias para seu sustento básico, e eles possibilitam trabalhar com menos comida do que seria necessário para uma pessoa mais fisicamente avantajada.
Um trabalhador de 1,85m e com 90kg teria as mesmas chances de sobreviver no século XVIII quanto um homem na lua sem uma roupa espacial.
Na média, simplesmente não havia comida o bastante para alimentar uma população de indivíduos com as dimensões físicas de hoje.
O britânico médio do século XVIII ingeria menos calorias do que o indivíduo médio que vive hoje na África subsaariana. Como eles não tinham o que comer, estes pobres britânicos trabalhavam pouco. Deaton prossegue:
Os pequenos trabalhadores do século XVIII estavam efetivamente aprisionados em uma armadilha nutricional: eles não tinham como ser bem remunerados porque eram fisicamente fracos, e não tinham como comer porque, sem trabalhar e produzir, não tinham o dinheiro para comprar comida.
Johan Norberg, em seu livro Progresso, relata as descobertas do historiador econômico e vencedor do Nobel Robert Fogel:
Duzentos anos atrás, aproximadamente 20% dos habitantes da Inglaterra e da França simplesmente não conseguiam trabalhar. Na melhor das situações, eles tinham energia suficiente para apenas algumas horas de caminhada lenta por dia, o que condenava a maioria deles a uma vida de mendicância.
E então, tudo começou a mudar. Deaton explica:
Com o início da revolução agrícola, a armadilha começou a se desintegrar. A renda per capita começou a crescer e, talvez pela primeira vez na história, passou a existir a possibilidade de uma melhora contínua na nutrição.
Uma melhor nutrição permitiu às pessoas crescerem mais fortes e mais altas, o que, por sua vez, possibilitou aumentos na produtividade, criando uma sinergia positiva entre aumentos na renda e melhorias na saúde, com um se apoiando no outro.
A partir do momento em que o capitalismo realmente se consolidou, as condições de vida não apenas melhoraram sensivelmente, como todo o progresso ocorreu de maneira acelerada.
E isso, paradoxalmente, começou a gerar as sementes de sua própria destruição.
A ignorância da história
Ao fim de minha carreira de professor, estudantes universitários totalmente ignorantes sobre história já eram um fenômeno extremamente comum. Eles desconheciam totalmente a pobreza abjeta na qual viveu a vasta maioria da humanidade durante milênios. Eles simplesmente não acreditavam que o passado pudesse ter sido tão brutal, como foi vivamente descrito por Matt Ridley em seu livro O Otimista Racional.
Pior ainda, quando expostos a evidências concretas, alguns estudantes se recusam a questionar suas posições.
Sobre isso, quem melhor explicou o fenômeno foi a sempre interessante crítica cultural Camille Paglia. Em uma entrevista ao The Wall Street Journal, ela afirmou que a atual juventude dos países mais ricos enxerga suas atuais liberdades de escolha (inéditas na história da humanidade) e a atual riqueza de bens de consumo à disposição (algo também inédito na história da humanidade) como um fato consumado, como algo que sempre foi assim e que jamais irá mudar. Consequentemente, eles estão desesperadoramente necessitados de um contexto mais rico e profundo para a própria era que eles estão denunciando.
Diz ela:
Tudo é muito fácil hoje em dia. Todos os supermercados, lojas e shoppings estão sempre plenamente abastecidos. Você pode simplesmente ir a qualquer lugar e comprar frutas e vegetais oriundos de qualquer lugar do mundo.
Jovens e universitários, que nunca estudaram nem economia e nem história, acreditam que a vida sempre foi fácil assim. Como eles nunca foram expostos à realidade da história, eles não têm idéia de que essa atual realidade de fartura é uma conquista muito recente, a qual foi possibilitada por um sistema econômico muito específico.
Foi o capitalismo quem produziu esta abundância ao redor de nós. Porém, os jovens parecem acreditar que o ideal é ter o governo gerenciando e ofertando tudo, e que as empresas privadas que estão fornecendo essas coisas em busca de lucro, fornecendo produtos e serviços para eles, irão de alguma forma existir para sempre, não importam as políticas adotadas.
Em outras palavras, indivíduos ignorantes sobre história e economia acreditam que a abundância atual sempre existiu e sempre foi assim.
Daí é compreensível que eles se sintam atraídos pela idéia de um socialismo idílico: eles genuinamente acreditam que, sob o socialismo, toda esta abundância será mantida, mas agora simplesmente será gratuita para todos. Haverá MacBooks, smartphones, roupas de grife, comida farta e serviços de saúde amplamente disponíveis a todos, e gratuitamente. Como resistir?
Acreditando que poderão seguir usufruindo toda esta fartura, eles sonham que irão conseguir ainda mais coisas caso haja um governo redistribuindo para eles a riqueza confiscada de terceiros.
Paglia argumenta que a atual geração se esqueceu até mesmo do passado mais recente.
Nossos pais foram da geração da Segunda Guerra Mundial. Eles tinham uma noção da realidade da vida. Já a juventude de hoje foi criada em um período muito mais afluente. Mesmo as pessoas pobres de hoje têm telefones celulares, televisores, meios de transporte e amplo acesso a alimentos diversificados.
Similarmente, Schumpeter também se preocupava com a hipótese de que as pessoas vivendo sob a opulência passariam a ver sua situação como um fato consumado, e assim preparariam o terreno para sua própria destruição.
Em seu livro Capitalismo, socialismo e democracia, ele prognosticou que as sociedades capitalistas seriam destruídas pelo seu próprio sucesso. Para Schumpeter, o capitalismo "inevitavelmente" se transforma em socialismo.
Seu argumento, de maneira resumida, é o seguinte: uma economia de mercado, com indivíduos fortemente empreendedores, gera um grande crescimento econômico e aumenta acentuadamente o padrão de vida das pessoas. Ironicamente, no entanto, a sociedade se torna tão próspera e tão inovadora, que passa a ignorar a fonte de toda a sua riqueza, dando-a como natural, corriqueira e automática. Pior ainda: torna-se abertamente hostil a ela.
O empreendedorismo e o mercado enriquecem tanto a sociedade, que as pessoas se esquecem do quão necessária e do quão frágil a economia de mercado realmente é. Elas até mesmo começam a acreditar que os mercados — e a ordem social e cultural que mantém os mercados funcionando — são inferiores à burocracia estatal e ao planejamento centralizado. 
Com o tempo, a sociedade acaba abraçando idéias socialistas.
Nas palavras de Schumpeter:
Os padrões crescentes de vida e, sobretudo, o lazer que o capitalismo moderno põe à disposição das pessoas que têm emprego e renda. . . bem, não há necessidade de terminar esta sentença e nem de elaborar aquele que é um dos argumentos mais verdadeiros, antigos e enfadonhos. O progresso secular, o qual é visto como algo natural e automático, em conjunto com a insegurança individual, que alimenta a inveja, é naturalmente a melhor receita para alimentar a inquietação social.
Entretanto, todo esse processo de transformação requer mais do que apenas a acumulação de riqueza: alguém tem de ativamente insuflar hostilidade às instituições da economia de mercado. Esse papel é desempenhado pelas classes intelectuais, que frequentemente abrigam um profundo ressentimento em relação às instituições empreendedoriais.
Os intelectuais incitam descontentamento entre um crescente número de pessoas cuja riqueza, em última instância, depende da produtividade do empreendedorismo, mas que, na prática, vivem majoritariamente fora da concorrência do mercado. Pessoas mais jovens são particularmente mais vulneráveis a esse preconceito anti-mercado, o qual é normalmente instilado por meio de escolas e faculdades. 
Segundo Schumpeter, portanto, o capitalismo poderia se destruir a si próprio ao criar:
a) uma classe de intelectuais que vituperam o progresso material e o individualismo e exaltam um eventual arranjo que seria baseado no "bem comum" (o qual seria, obviamente, definido e organizado pelos intelectuais), e
b) pessoas que aceitam como fato consumado aquelas prateleiras de lojas e supermercados repletos da produtos de ampla variedade (como bem disse Paglia).
Falando mais coloquialmente, nós nos tornamos gordos e preguiçosos, e passamos a ficar obcecados com a distribuição de riqueza, e não com os pilares sobre os quais sua criação é possibilitada.
E é a partir daí que as tragédias começam a ocorrer. No caso do socialismo, elas tomam a forma de homicídios em massa.
Conclusão
No final, não importa se o tipo de socialismo defendido é idílico e bem-intencionado. Aquelas pessoas, normalmente adolescentes ricos, artistas e intelectuais acadêmicos, que professam idéias socialistas aparentemente não se lembram de como realmente era o mundo quando o socialismo era realmente aplicado. É fácil defender idéias socialistas quando se vive em um mundo opulento em que a comida é farta e barata. É fácil defender o regime venezuelano morando-se em um país rico.
O fato é que, onde quer que tenha sido tentado, desde a União Soviética em 1917 até a Venezuela atual, o socialismo foi um desastre, não importa quais eram as intenções originais. Socialistas sempre prometeram uma utopia marcada por igualdade e abundância. Em vez disso, sempre entregaram tirania e inanição. Seus propagandistas sempre devem ser sempre e incansavelmente cobrados por isso.
Como disse Thomas Sowell, "O histórico de desastres do socialismo é tão óbvio, que somente intelectuais poderiam ignorá-lo".

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Um imposto sobre as emissões de carbono? Seria racional? - Robert P. Murphy (Mises)

The IMF Wants the World to Embrace Sweden's Ineffective Carbon Tax

The IMF recently released a new study pushing for governments around the world to implement “a global carbon tax” that would rise to $75/ton by 2030, in order to limit global warming to at most the “safe” ceiling of 2 degrees Celsius. In order to reassure the alarmed reader that such a carbon tax is feasible, the IMF’s blog post on the new study explained, “Sweden has set a good example. Its carbon tax is $127 per ton and has reduced emissions 25 percent since 1995, while the economy has expanded 75 percent since then.”
In a future article I will dissect the IMF proposal more thoroughly, but in this initial post, I will focus just on the example of Sweden. Since the IMF writers themselves have held it up as a “good example” of how carbon taxes work, by all means let’s analyze the situation more closely. We’ll see that the United States has had comparable “success” in reducing emissions while maintaining economic growth, even though it has had much more modest government curbs on greenhouse gas emissions. The case of Sweden, far from proving the benefits of the IMF’s desired global carbon tax, if anything shows that a new carbon tax will be mostly pain and little gain.

The Carbon Tax in Sweden

The government of Sweden itself is very proud of its carbon tax, which was introduced in 1991 at a level of SEK 250 (about 24 euros at that time), and which has risen to SEK 1180 in 2019, which is about 114 euros or $126 at current exchanges rates. The Swedish government posts this graphic that illustrates the same claims made in the IMF post:
Murphy-1.png
Source: The Government Offices of Sweden
The moral is clear: Even with what seems to be a pretty aggressive carbon tax, the economy still expanded 78% between 1990 and 2017, while greenhouse gas emissions are down about a quarter. Doesn’t this prove the naysayers wrong? With the appropriate political will—so it seems—you can get significant emissions cuts without destroying the economy. Take that, Fox News!

Sweden vs. the United States

But hold on a second. What if we run the same metrics on the United States?
Well, from 1990 through 2017, its real GDP expanded 93 percent, compared to Sweden’s 78 percent.
Now it’s true that the U.S. didn’t experience a drop in emissions, but even though output almost doubled, emissions were just about flat during this time period, as this chart from the EPA shows:
Murphy-2-e1572463385800.png
Source: Environmental Protection Agency
Specifically, of the greenhouse gases tracked by EPA in this chart, total annual emissions (in CO2-eq terms) from 1990-2017 only increased 1 percent.
Does that surprise readers? I bet most Americans had no idea that US annual contributions to atmospheric greenhouse gases has been roughly flat for two decades running.

Combining the Measures

So now let’s ask how Sweden and the U.S. did, when we combine the two metrics. That is, we will ask how well Sweden and the U.S. did in reducing greenhouse emissions per unit of real GDP.
In the case of Sweden, recall that its emissions dropped 26 percent while its economy grew in real terms by 78 percent. So Swedish emissions/GDP dropped 58 percent from 1990 to 2017.
In the case of the United States, its emissions increased 1 percent while its real GDP increased 93 percent. So American emissions/GDP dropped 48 percent.
And there you have it: Despite Sweden’s relatively draconian carbon tax that now stands at $126/ton—the equivalent of about $1.10 per gallon in extra tax at the gasoline pump—its progress in reducing emissions while balancing economic growth hasn’t been much better than the United States’ experience. To repeat, Sweden in the last two decades has reduced its emissions/output by 58 percent, while the US has reduced them by 48 percent.

Other Countries

We can get a better perspective by looking at the World Bank’s charts, showing CO2 emissions divided by economic output. (Note that these World Bank charts just include carbon dioxide, not other greenhouse gases, and also that their economic baselines are possibly different than in the calculations we just made, but what’s important is the relative progress among different countries. Also, the World Bank data only goes through 2014.)
First, we’ll have the World Bank generate a chart just showing Sweden, the United States, and also Germany, which has a reputation of being a strong fighter against climate change and a responsible global citizen:
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Source: The World Bank
So yes, the United States emits more carbon dioxide per unit of economic output than Germany or Sweden. (This isn’t surprising, when you keep in mind how big the U.S. is, and how much more its people would like to drive, compared to Europeans.) But on the other hand, it has also made the most progress of the three countries in reducing that measure, measured in absolute terms.
Even if these three government “did nothing” more and history repeated itself, the gap would probably continue to shrink. The reason the United States would still emit more (in absolute terms) than Sweden or Germany, would be that its economy produced more stuff.
What’s really interesting, though, is when we add China to the mix. Now look at the World Bank chart:
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Source: The World Bank
Once China is included, we see that the United States looks even more like Germany and Sweden. It also shows why, if environmental activists are going to be lecturing governments on restraining their emissions, they should be focusing on China, where there are the largest “gains” still to be had.

Conclusion

This post might seem very defeatist to the climate activists. And yes, I do think the case for a carbon tax is weak. On the other hand, my post should be very optimistic for those who think climate change is a serious problem, but who aren’t wedded to political solutions. As the above charts show, normal economic growth naturally brings down emissions per unit of output, and the “improvement” has been faster in the U.S. and China than it has been in the most regulated Western countries.
To get a better sense of why Sweden, for example, hasn’t seen sharper emissions drops but also hasn’t seen an economic collapse, consider this table from page 3 of the IMF study:
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Source: The International Monetary Fund
So even though it currently has a carbon tax of about $127 (using their currency conversions), notice that that relatively draconian tax only applies to 40 percent of Sweden’s greenhouse gas emissions. In terms of textbook theory, it would make more sense—both economically and in terms of reducing humans’ carbon footprint—to apply a lower carbon tax rate to a wider base. And yet, political realities have limited the effectiveness of the carbon tax, even in Sweden.
Despite the IMF’s claims to the contrary, the case of Sweden actually shows that a political “solution” to climate change is ineffective. Even though certain segments of the Swedish economy have been slammed with a punitive tax, overall progress on reducing emissions while maintaining growth has been only modestly better than in the United States. And no matter what the West does, the real action on greenhouse gas emissions in the coming century will occur in China.
All in all, the case of Sweden reinforces my overall view, that human-caused climate change, though something to be monitored, is not an immediate crisis. It is a very conservative, sensible strategy to foster general economic growth, with various teams of scientists working on different strategies for dealing with climate change should they be necessary decades (or centuries) hence.
Originally published at the Institute for Energy Research
Robert P. Murphy is a Senior Fellow with the Mises Institute. He is the author of many books. His latest is Contra Krugman: Smashing the Errors of America's Most Famous KeynesianHis other works include Chaos Theory, Lessons for the Young Economist, and Choice: Cooperation, Enterprise, and Human Action (Independent Institute, 2015) which is a modern distillation of the essentials of Mises's thought for the layperson. Murphy is co-host, with Tom Woods, of the popular podcast Contra Krugman, which is a weekly refutation of Paul Krugman's New York Times column. He is also host of The Bob Murphy Show.