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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Relações internacionais, política externa do Brasil e carreira diplomática: reflexões de um diplomata não convencional (resumo) - Paulo Roberto de Almeida

Relações internacionais, política externa do Brasil e carreira diplomática: reflexões de um diplomata não convencional

Paulo Roberto de Almeida

Notas para aula inaugural no quadro do curso do Ibmec Global Affairs, em 20/08/2021, 19hs (Sala Virtual Teams: https://bit.ly/3szvGzn).

Resumo, para os que não leram o trabalho completo (linkado ao final) ou não puderam assistir ao debate, realizado há pouco.

 

 

Como sempre faço, tomo notas do que gostaria de expor, mas como também sempre acontece, fica muito grande, e por isso acabo não lendo, mas colocando à disposição de todos as minhas reflexões do momento, para que todos possam ler com mais calmo do que numa exposição ex-catedra, que teria virtudes dormitivas.

 

Comecei pelo assunto do momento, a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão e o reflexo nisso para as relações internacionais e para a posição dos EUA, e para isso me vali de um interessante artigo na revista The New Yorker, da colunista Robin Wright, “Does the Great Retreat from Afghanistan Mark the End of the American Era?”, (16/08/2021; que coloquei à disposição de todos em uma postagem no meu blog Diplomatizzando: “A Grande Retirada do Afeganistão marca o fim da Era Americana?”

Faço uma série de considerações sobre a questão dos Impérios, um pouco com base na conhecida obra de Arnold Toynbee, Estudo da História, mas também recomendo um livro que estou lendo atualmente: Empires in World History, de Jane Burbank e Frederich Cooper, que downloadei no meu Kindle (Princeton, 2010). É um livro diferente das histórias convencionais, pois que justamente trata das questões de poder, desde a antiga Roma e a China até o fim do sistema imperial, o que não está perto de ocorrer. Não vou retomar aqui tudo o que escrevi sobre os variados impérios, com destaque para o americano, em aparente declínio, até a irresistível ascensão da China e a sua volta ao seu antigo status imperial. Apenas me refiro ao fato de que o moderno sistema de relações internacionais, baseado numa representação supostamente igualitária dos Estados nacionais, têm no máximo 75 anos, ou seja, pouco mais de três gerações. O próprio sistema de Estados nacionais, se sistema existe, têm aproximadamente quatro ou cinco séculos, mas isso de uma perspectiva ocidental, pois que outros impérios e civilizações existiram, coexistiram se combateram e se suplantaram durante muitos séculos antes, e em várias outras regiões do mundo. 

 

O império chinês, que existiu por meio de mais de duas dezenas de dinastias, através dos séculos, por mais forte e inovador que tenha sido, não pode evitar sua conquista por povos de fora de suas muralhas supostamente inexpugnáveis: os mongóis, no século XII, e os manchus, no século XVII. O império romano do Ocidente, com sua capital em Roma, existiu durante mais de quatro séculos, até ser submerso pelos povos germânicos ou eslavos que viviam na sua periferia, no século V despois de Cristo. O império romano no Oriente, com sua capital em Constantinopla, ou Bizâncio, sobreviveu durante mil anos, aproximadamente, até ser conquistado pelos otomanos, que mantiveram, por sua vez, o seu império por mais de 600 anos. 

Mais próximo de nós, o império britânico, o maior do mundo entre o final do século XIX e o início do XX, dominou o comércio internacional, pagamentos e financiamentos durante décadas, até o seu declínio, a partir da Grande Guerra e finalmente em Suez. Foi a partir de 1917 que tem início a era do império americano, começando pelo lado financeiro para depois se traduzir num domínio econômico e estratégico claramente preeminente, pelo resto do século XX: o século americano parecia predestinado a durar mais um século inteiro, todo o século XXI. A China recém emergia dos anos destruidores de maoísmo demencial – depois do fracasso mortífero do Grande Salto para a Frente e dos anos turbulentos da Revolução Cultural – e não parecia estar minimamente em condições de desafiar a superpotência americana.

O que assistimos, nos últimos trinta anos, desde os anos 1990, quando começa, verdadeiramente, a fulgurante ascensão da China, foi algo absolutamente excepcional na história econômica mundial, jamais visto nos registros de crescimento econômico e de capacitação tecnológica e de construção de poderio militar. 

O mundo está próximo, agora, de ver a China conquistar o primeiro lugar na formação do PIB global, como já é o caso em grande parte do comércio internacional e será certamente o caso dos investimentos diretos e dos financiamentos em mais alguns anos. Os chineses, não alcançarão, provavelmente, o PIB per capita dos americanos no corrente século ou em qualquer tempo, mas existem outros elementos que sinalizam a mudança de cenário. 

Três observações podem ser feitas a esse respeito. Em primeiro lugar, a ascensão da China não significa, inevitavelmente, o declínio, mesmo relativo, do poderio científico e tecnológico ocidental, ou seja, americano, europeu, japonês (e de alguns outros membros do clube das nações avançadas). Em segundo lugar, o impulso excepcional da China pode não ser tão irresistível quanto parece atualmente, sobretudo em vista de tremores geopolíticos na Ásia Pacífico ou no próprio Império do Meio, Em terceiro lugar, não se pode conceber que, após essa “era americana” – que ainda não terminou, cabe esclarecer – virá uma “era chinesa”, o que está longe de ser admitida universalmente ou consensualmente. 

A China também foi humilhada ao longo de sua história, duas vezes por invasores que não se intimidaram com o seu tamanho e desprezaram solenemente a Grande Muralha, e mais algumas outras vezes pelas potências ocidentais, nas guerras do ópio e na destruição do Palácio de Verão, em meados do século XIX, 

Os impérios que humilharam a China já não poderão voltar a fazê-lo novamente, e os impérios que ainda restam já não podem ignorar solenemente os Estados nacionais, como frequentemente fizeram no passado. O mundo mudou, mas veleidades imperiais permanecem presentes, assim como as mesmas paixões e instintos que deslancharam a guerra de Troia permanecem invariavelmente humanas, mesmo a uma distância de milhares de anos. 

 

Como se situa o Brasil no presente contexto de uma incerta multipolaridade?

Nos trinta anos precedentes, o Brasil e o Itamaraty construíram as bases conceituais de suas relações exteriores e os instrumentos operacionais de uma diplomacia autônoma e soberana, identificadas, ambas, com os grandes interesses do desenvolvimento nacional, em todos os planos: bilateral, regional e multilateral. 

A política externa, a gestão ambiental, a condução da cultura e a da educação nunca corresponderam, no atual governo, a padrões compatíveis com o que se espera de uma administração normal, dotada de um programa qualquer que pudesse garantir estabilidade macroeconômica e programas setoriais voltados para o crescimento, o emprego e ganhos de produtividade necessários para enfrentar a competição econômica num mundo globalizado. 

 

Examinei, em quatro livros digitais, fase de demolição completa dos fundamentos conceituais e de sua substância operacional nos dois anos e três meses em que perduraram os desatinos e loucuras perpetrados por quem chamei de “chanceler acidental”, sendo que os efeitos da virtual derrocada de nossa credibilidade no exterior não foram ainda totalmente superados, uma vez que a política externa continua a ser marcada pela mesma autoridade incompetente. Esses livros receberam os significativos nomes de Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019), O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira e Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (ambos de 2020) e O Itamaraty Sequestrado: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo, 2018-2021, o mais recente. A esses, se seguirá um novo livro, Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (em versão impressa, pela Editora Appris). 

Não pretendo refazer aqui todas as críticas e comentários que já formulei a propósito da miséria da nossa atual política externa e dos descompassos de nossa diplomacia – no momento felizmente liberta das loucuras alucinadas e alucinantes do ex-chanceler acidental –, tanto porque já disso tudo o que poderia ser dito nesses cinco livros mencionados acima. Mas cabem algumas palavras de alento aos que pensam em seguir a carreira diplomática e que se preparam seriamente para tal. 

Como diz o famoso bordão: não há bem que nunca acabe, e não há mal que sempre dure. O Itamaraty e a política externa passaram por turbulências inéditas em nossa história independente, mas uma recuperação está em curso, e ela se completará no próximo governo.

A carreira diplomática é uma das mais atraentes na burocracia federal, pelo menos para aqueles que não estão apenas à procura de um emprego público, mas que, sim, tenham a vocação internacionalista, possuam um bom preparo intelectual e se sintam totalmente à vontade numa vida nômade, feita de postos excelentes, muitos médios e algumas situações de dificuldades materiais no vasto mundo da periferia do capitalismo global. 

“Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 de julho de 2001; 19/08/2021: link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/08/regras-modernas-e-sensatas-de.html).

Se ouso concluir, seria por uma nota de otimismo. No Brasil, depois de surpresas e frustrações, retomaremos nosso inevitável processo de crescimento econômico, visando um grau maior de desenvolvimento social, o que virá, no devido tempo, e reconstruiremos também a nossa política externa e a diplomacia de qualidade, uma vez afastados os novos bárbaros do poder. É uma questão de persistência, de resiliência, de insistência no caminho iniciado 200 anos atrás, que construiu uma das melhores diplomacias entre novas nações saídas do colonialismo e uma política externa das mais respeitadas entre países em desenvolvimento. 

De minha parte, continuarei me exercendo em minhas vantagens comparativas relativas, que estão na pesquisa, no estudo, na reflexão e na escrita e publicação de materiais diversos atinentes às relações internacionais do Brasil, à sua política externa e à sua diplomacia, cujo itinerário estou concluindo com plena satisfação intelectual e um registro de boas obras realizadas, no plano profissional e no acadêmico.

Muito obrigado. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3960, resumo: 19 agosto 2021, 15 p.

Trabalho completo: 

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/50940045/3960_Relacoes_internacionais_politica_externa_do_Brasil_e_carreira_diplomatica_Reflexoes_de_um_diplomata_nao_convencional_2021_) e anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/08/relacoes-internacionais-politica_19.html).

 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Relações internacionais, política externa do Brasil e carreira diplomática: Reflexões de um diplomata não convencional - Paulo Roberto de Almeida

 Relações internacionais, política externa do Brasil e carreira diplomática: Reflexões de um diplomata não convencional


Paulo Roberto de Almeida

Diplomata de carreira, professor universitário

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

Brasília, 17-19 agosto 2021, 15 p.

Notas para aula inaugural no quadro do curso do Ibmec Global Affairs, em 20/08/2021, 19hs (Sala Virtual Teams: https://bit.ly/3szvGzn).

  

Vamos começar pelo maior assunto do momento: a momentosa retirada dos Estados Unidos do Afeganistão e o que isso significa para as relações internacionais, para a tensão existente no sistema internacional entre os dois grandes impérios do momento, como o Brasil se situa nesse novo quadro global, e o que faz a nossa diplomacia nesse quadro algo confuso. Creio que estou habilitado para comentar um pouco sobre essa decisão de enorme impacto, sobretudo moral, do ponto de vista da potência que pretendia garantir o bom funcionamento de uma ordem internacional aberta, liberal e garantidora das liberdades democráticas.

Residente que fui nos Estados Unidos, por duas vezes, ademais de diversas outras viagens de trabalho, acadêmicas ou de simples lazer naquele país continente, que atravessei duas vezes costa a costa, do Atlântico ao Pacífico, e várias outras vezes no sentido Norte-Sul ou em diagonal, percorrendo a quase totalidade dos seus estados federados – faltou o Dakota do Norte, no território continental, o Alaska e o Havaí, no Pacífico, e o estado associado de Porto Rico, para completar toda a nação – posso dizer que conheço razoavelmente aquela grande nação. Aliás antes mesmo de visitar ou residir nos Estados Unidos, eu já era assinante da New York Review of Books, da Foreign Affairs, assim como fui, em épocas diversas, assinante da Foreign Policy, do Washington Quarterly, do Washington Post, do New York Times e, por duas vezes, da provocante revista The New Yorker

(...)

Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/50940045/3960_Relacoes_internacionais_politica_externa_do_Brasil_e_carreira_diplomatica_Reflexoes_de_um_diplomata_nao_convencional_2021_


terça-feira, 17 de agosto de 2021

Aula inaugural: Global Affairs do Ibmec, 20/08/2021, 19hs - Paulo Roberto de Almeida

Relações Internacionais, Política Externa do Brasil e carreira diplomática 


Notas para aula inaugural no quadro do novo curso do Ibmec Global Affairs
20/08/2021, 19hs (Sala Virtual Teams: https://bit.ly/3szvGzn).

Vou preparar minha aula, com base numa conversa em torno do conhecimento acumulado em torno dos temas selecionados neste título. Posto aqui apenas os primeiros parágrafos. O resto fica para segunda-feira 20/08. Até lá...
Paulo Roberto de Almeida

Relações internacionais, política externa do Brasil e carreira diplomática

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

Residente que fui nos Estados Unidos, por duas vezes, ademais de diversas outras viagens de trabalho, acadêmicas ou de simples lazer naquele país continente, que atravessei duas vezes costa a costa, do Atântico ao Pacífico, e várias outras vezes no sentido Norte-Sul ou em diagonal, percorrendo a quase totalidade dos seus estados federados – faltou o Dakota do Norte, no território continental, o Alaska e o Hawai, no Pacífico, e o estado associado de Porto Rico, para completar toda a nação – posso dizer que conheço razoavelmente aquela grande nação. Aliás antes mesmo de visitar ou residir nos Estados Unidos, eu já era assinante da New York Review of Books, da Foreign Affairs, assim como fui, em épocas diversas, assinante da Foreign Policy, do Washington Quarterly, do Washington Post, do New York Times e, por duas vezes, da provocante revista The New Yorker

Recebo boletins diários ou regulares de todos esses periódicos, assim como newsletters de muitos thinks tanks, centros de pesquisa universitária, boletins empresariais, anúncios dos principais museus, assim como as circulares de associações como LASA – Latin American Studies Association – e da BRASA – Brazilian Studies Association, da qual já fui um dos diretores e frequentadores de seus encontros anuais ou bianuais. Também publiquei alguns livros que me colocaram em contato direto com a comunidade acadêmica e empresarial dos Estados Unidos, como um sobre a produção dos brasilianista – O Brasil dos Brasilianistas, com edições no Brasil e nos Estados Unidos –, um outro sobre as relações Brasil-Estados Unidos, em português, assim como atuando na publicação no Brasil de alguns livros editados nos Estados Unidos, um do ex-embaixador Lincoln Gordon, o “homem do golpe” de 1964, outro sobre o famoso Consenso de Washington, do grande John Williamson.

Na área da pesquisa acadêmica, li dezenas, centenas de livros sobre a maior economia do planeta (até aqui), sobre a grande e tradicional democracia e sobre o país mais poderoso do mundo, nos planos econômico, tecnológico, geopolítico, livros de história econômica, sobre as relações internacionais em geral e dos Estados Unidos, sua política externa, sobre sua influência na América Latina e em outras regiões, sobre as relações Brasil-EUA e diversos outros aspectos menores, como vida acadêmica e cultural. Escrevi muitos artigos, notas, comentários sobre tudo isso que li, que pesquisei, que assisti, que acompanhei em muitas décadas de estudo acadêmico, que superam em vários anos meus 44 anos de vida diplomática, sobre todas essas questões de relações internacionais estrito senso, de política externa e de diplomacia brasileira, por obrigação profissional, mas também de história diplomática, de história econômica e de relações econômicas internacionais, por gosto pessoal e por interesse intelectual sobre o desenvolvimento desigual e diferenciado dos muitos países que compõem o chamado sistema internacional. 

Creio, portanto, estar razoavelmente preparado para discorrer sobre esses diferentes aspectos sobre os quais escolhi discorrer nesta oportunidade: as relações internacionais, a política externa do Brasil e sua diplomacia, e a carreira diplomática em especial, em direção da qual muitos jovens aspiram caminhar – a despeito de percalços eventuais em todas essas esferas – e na qual eu me desempenhei com muita satisfação pessoal e enriquecimento intelectual ao longo das últimas décadas. Todas as épocas e todos os processos humanos e sociais possuem as suas fases críticas, os seus momentos de ruptura e de transição, as suas eras de ascensão ou de declínio, enfim, sua dinâmica própria e seu ciclo de vida. A minha trajetória política começou com o golpe de 1964, continuou por um longo exílio de estudos e de atividades políticas contra a ditadura militar na Europa, depois no próprio Brasil, e teve prosseguimento nas últimas três décadas e meias de regime democrático, com uma dupla dedicação, à carreira diplomática e às lides acadêmicas. 


(...)

continua...

 

quarta-feira, 23 de junho de 2021