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terça-feira, 22 de março de 2011

Teoria dos sapatos soberanos: você prefere revista pouco soberana, talvez?

Um dos argumentos mais calhordas que eu já ouvi, pessoalmente, da boca de certos ministros preocupados com a defesa da soberania nacional, é o de que os sapatos que a gente usa constituem o repositório da soberania nacional.
Pois é, todo mundo sabe dos controles exigidos nos aeroportos americanos depois dos ataques terroristas de 11 de setembro. Eu mesmo acabo de voltar dos EUA, para uma reunião acadêmica e, como TODO e QUALQUER TURISTA OU VIAJANTE, tive de tirar os sapatos. Procedimento absolutamente rotineiro, destinado a salvar vidas, de TODOS.
Autoridades podem invocar sua condição para eximir-se da obrigação, mas é preciso avisar antes, para que a segurança determine essa isenção. Chegando assim de surpresa, todo mundo tira os sapatos em aeroportos americanos.
O importante é ressaltar que toda e qualquer autoridade nacional tem o direito de estabelecer regras de segurança, soberanamente.
Independentemente disso, os calhordas da soberania sapateira sempre aproveitaram um episódio com um ministro do governo neoliberal para invocar que, com eles era (ou seria) diferente. Não era, mas eles faziam tudo, antecipadamente para que algo do gênero não ocorresse, e para que depois continuassem invocando o argumento calhorda da soberania.
O presidente do nunca antes chegou até a dizer que ministro dele que tirasse os sapatos nos EUA já voltava para o Brasil destituído da condição de ministro.
Pois bem, tampouco foi, como verificamos agora no próprio território nacional.

Assim, seria interessante ouvir agora as mesmas pessoas a respeito do episódio ocorrido com ministros brasileiros NO BRASIL que foram SUBMETIDOS A REVISTA PESSOAL por agentes da segurança do presidente americano, quando da recente visita de Barak Obama ao Brasil. Constrangedor, não é mesmo? Pouco soberano, pois não?
Não vão invocar o princípio da soberania brasileira para defender o respeito à autoridade de ministros brasileiros no próprio Brasil?

Quem quiser saber o que penso a respeito dessa lamentável exploração de um ato corriqueiro de segurança por pessoas destituídas de caráter que adoram equiparar sapatos e soberania, pode ler este meu post:

Sapatos e soberania: um argumento idiota sempre repetido (14 Jul 2010)
Como alguém teve o mau-caratismo de invocar, pela enésima vez, a tal história dos sapatos, sempre contada com aquela baba de prazer indigno que acometem pessoas que não possuem argumentos melhores a esgrimir, permito-me republicar aqui...

Bem, vou esperar pelas explicações dos ministros revistados e pelos comentários daqueles que também acham que a soberania do país está depositada em seus sapatos (neste caso atual, nas roupas e até, quem sabe?, nas partes íntimas...).

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Politica externa: continuidade assegurada...

Talvez não pelos bons motivos, mas cada um tem o direito de dizer o que pensa (ou se não pensa, aquilo que lhe parece conveniente, em função da tal de "correlação de forças").
Talvez o ministro da Defesa (mas parece mais do Ataque) esteja apenas tentando se posicionar como um anti-imperialista de carteirinha, para ficar parecido com outras vozes altissonantes do governo atual, para se credenciar na continuidade, ou talvez até um alto posto na novíssima República ao feminino (que poderia até escolher uma mulher para a Defesa, como foi Bachelet, no Chile, mas isso não creio).

Curiosa sua afirmação sobre Cuba: "país pobre". Pobre? Cuba tinha a segunda ou terceira maior renda per capita da América Latina até 1959. Se ficou pobre depois disso não deve ter sido apenas pelo embargo americano, inclusive porque os outros países sempre puderam comerciar normalmente com Cuba -- a ilha permaneceu no GATT, apesar de ter saído do FMI, durante todo esse período --  e ela desfrutou do "mensalão" soviético durante mais de três décadas. Isso inclusive lhe permitiu investir na saúde e educação, que se tornaram piores agora, mas que já foram satisfatórios justamente porque a ilha podia "concentrar recursos" nessas duas únicas justificativas de uma férrea ditadura. Se a ilha ficou pobre, foi por sua própria culpa. Nos últimos anos ela vem sendo sustentada pelo "mensalão" bolivariano, na forma de generosos subsídios do coronel amigo (e sucessor presumido) de Fidel.

Curioso também que o anti-imperialismo primário ainda seja uma credencial em certas áreas.
Paulo Roberto de Almeida

Jobim faz duras críticas aos Estados Unidos

GLAUBER GONÇALVES - Agência Estado
03 de novembro de 2010 | 21h 29

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez duras críticas aos Estados Unidos hoje, no Rio. Em tom áspero, ele afirmou que o Brasil não aceita discutir assuntos relativos à soberania do Atlântico enquanto os norte-americanos não aderirem à convenção da ONU sobre o direito do mar, que estabelece regras para exploração de recursos em águas nacionais. Jobim também condenou veementemente a expansão das fronteiras de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e atacou o embargo dos Estados Unidos a Cuba.
"Os direitos do Brasil aos fundos marinhos até 350 milhas do litoral, onde está nosso pré-sal, decorre da convenção. Ou seja, só é possível conversar com um país que respeite essa regra", disse durante a 7ª Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, no Rio. "Não pensamos em nenhum momento em termos soberanias compartilhadas. Que soberania os Estados Unidos querem compartilhar? Apenas as nossas ou as deles também?", questionou.
Jobim também se disse contrário a alianças militares entre a América do Sul e os Estados Unidos. "Nossa visão é a de que podemos ter relações com os EUA, mas a defesa da América do Sul só quem faz é a América do Sul", disse o ministro. Segundo ele, o Brasil não deve se aliar a forças militares que não possam ser por ele comandadas. "Os EUA não participam das forças humanitárias da ONU porque não admitem ser comandados por outros exércitos. Não podemos aceitar esse tipo de assimetria", declarou.
O ministro mostrou contrariedade à expansão da área de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar da qual os Estados Unidos fazem parte. "Aprovou-se uma nova estratégia em que o teatro de operações da Otan passou a ser o mundo todo, em locais em que se possam ferir os interesses dos países membros. Isso significa que teríamos dois organismos internacionais: a ONU e a agora Otan, que também estaria se arrogando a isso. Mas nós somos contra", disse.
Na avaliação de Jobim, as relações entre os países signatários do Tratado Sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares também é assimétrica e penaliza aqueles que buscam gerar energia nuclear. Para ele, não há problemas no interesse da Venezuela em dominar essa tecnologia. "A Venezuela sentiu o problema da sua base de energia elétrica ser hidrelétrica e teve inclusive que fazer racionamento", disse. "A Venezuela fez tal qual o Brasil. E nós aplaudimos", complementou sobre o país vizinho, considerado um problema no continente pelos EUA.
As críticas de Jobim aos norte-americanos ainda abordaram a relação do país com Cuba. "Qual foi o resultado do embargo a Cuba? Produziram um país orgulhoso, pobre e com ódio dos EUA", disse.
Para o ministro, os riscos à segurança da América do Sul e os conflitos do futuro estarão relacionados à água, minerais e alimentos. "Isso a América do Sul tem. Temos aqui o aquífero Guarani, a Amazônia, somos os maiores produtores de grãos e de proteína animal do mundo", enumerou. "Temos que nos preparar para isso", advertiu sobre possíveis ameaças futuras.