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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 11 de maio de 2014

A Doutrina Obama e o Brasil - Marcos Troyjo

Se doutrina existe, o que é duvidoso, pois se trata apenas de retraimento, depois da mais longa guerra em que os EUA estiveram envolvidos, ela deveria ser chamada de "minimização de riscos".
O Brasil faz beicinho para a espionagem americana, e exige desculpas formais, como se isso fizesse alguma diferença no resultado final.
Cuidasse o governo de interesses concretos do país, já teríamos muito mais negócios....
Negócios???!!!
Aquele coisa de abrir mercados, regras estáveis para investimentos, respeito aos contratos???
Que coisa chata...
Paulo Roberto de Almeida 

Notas sobre a Doutrina Obama

Marcos Troyjo
Folha de S.Paulo, 9/05/2014

A atual fase da política exterior dos EUA é um exercício de introversão. Encolhimento da presença diplomático-militar no mundo. Menor interesse em Europa, América Latina e Oriente Médio. Suposta atenção prioritária à Ásia.
A Doutrina Obama contempla, como método, negociação sobre unilateralismo. Em termos de foco regional, deslocamento para o Pacífico. A essência da doutrina, contudo, reside em os EUA estarem mais voltados a si que a dilemas globais. Tal introversão é escolha, não sinal de enfraquecimento relativo. Nenhum país rivaliza com os EUA em forças convencionais, orçamento de defesa ou dissuasão nuclear.
Com o desmantelamento da Al-Qaeda, os EUA veem-se menos confrontados pelos "nanodesafios" geopolíticos que emergiram com o 11 de Setembro. Mediante a utilização intensa de drones para ataques cirúrgicos, dão-se ao luxo de "voltar para casa".
Já na grande geopolítica, Washington voltou a aceitar um mundo organizado em esferas de influência. Evita tabuleiros de elevado risco. É o caso da Ucrânia.
Republicanos criticam a tíbia liderança de Obama. Estivessem à frente do Departamento de Estado, pouco haveria de diferente. Mesmo o velho Kissinger tem vocalizado contra intervenções nessas "esferas", como o entorno geográfico russo. A propósito de eventuais intervenções, afirmou recentemente que "a gente sabe como essas coisas começam, não como terminam".
O principal legado dos anos Obama até agora é o combate ao terror e a morte de Bin Laden. Thomas Friedman brinca que "Obama é o drone mais rápido do Oeste". Em nome desses objetivos, promoveu-se onda de espionagem mesmo junto a parceiros tradicionais. A bisbilhotagem tirou peso moral de Washington. Os EUA são vistos cada vez mais como cínicos –pouco comprometidos com transparência, democracia e livre comércio.
A influência da política interna sobre a externa tem sido um pesadelo. A colaboração Casa Branca-Congresso é nula. Obama fala mais com teleprompters do que com parlamentares. Como nos EUA há dois partidos majoritários, mas inúmeras facções, o jogo político é um balaio de gatos tão confuso quanto o nosso. Resultado: Obama arrisca-se a não obter mandatos que o autorizem a concluir acordos de comércio no Pacífico e no Atlântico.
A exemplo das relações com o Brasil, muitos intercâmbios bilaterais murcharam. Nesse quadro, o Brasil oscila entre momentos de maior ou menor interesse em Washington. Estamos num daqueles períodos de "desapontamento" com o "no profile" da política externa brasileira e a percepção de que o sobe e desce recente de nossa economia configura mais um voo de galinha.
As relações governo a governo com Brasília estão oceanos aquém das oportunidades. Isso é muito ruim. Em comércio, investimento ou defesa, hoje não há iniciativas de monta entre as duas maiores democracias do Ocidente.
Tal distanciamento representa um dos principais desperdícios de parceria do mundo contemporâneo. E, no potencial irrealizado, perde mais o Brasil.
mt2792@columbia.edu
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2014/05/1451623-notas-sobre-a-doutrina-obama.shtml

Yankee, DO NOT Go Home, Please - Tom Friedman, de Kiev a Hanoi

Parece que a Doutrina Obama é a do retraimento, a de se desvencilhar dos problemas do mundo.
Mas o mundo não quer.  O mundo quer a presença americana.
Menos os companheiros, claro.
Esses preferem a companhia de russos, chineses, cubanos, essas maravilhas da democracia e dos direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida 

More Chopsticks, Please
The New York Times, May 10, 2014

HANOI, Vietnam — BY an accident of scheduling, I’ve visited Kiev and Hanoi in the last couple weeks, and it’s been accidentally extremely revealing. Ukraine is a middle power living next to a giant bear, and Vietnam is a middle power living next to a giant tiger. Ukraine is struggling with how to deal with a declining Russia that is looking for dignity in all the wrong places — like in Crimea — and Vietnam is struggling with how to deal with a rising China that is looking for oil in all the wrong places — like in Vietnam’s territorial waters. Russia’s attitude toward Ukraine has been: “Marry me, or I’ll kill you.” And China’s toward Vietnam has been a variation of that line from “There Will Be Blood”: “I have a long straw, so I think I’ll drink my milkshake and yours.”
Meanwhile, America is trying to figure out how to buttress both Vietnam and Ukraine in their struggles with their giant neighbors without getting entangled in either dispute. And in my jet-lagged torpor, all I’ve been trying to do is make sure I don’t order Chicken Kiev in Hanoi and Chicken Spring Rolls in Kiev.
Both conflicts tell us a lot about the post-post-Cold War world. Neither Russia’s intervention in Ukraine nor China’s in Vietnam’s territorial waters is based on grand ideology or global aspiration. Both are about regional control, spurred by nationalism and resource competition.
Another similarity is that both Russia and China have not engaged in traditional crossborder aggression with their neighbors, choosing instead to operate behind cutouts. Russia used “little green men” in Ukraine — camouflaged pro-Russia gunmen whose identities are unclear — and China deployed a flotilla of 70 civilian vessels and just a few navy ships to the South China Sea. They towed a giant deep-sea drilling rig 130 nautical miles off the coast of Vietnam — well within Vietnam’s continental shelf but also in range of the disputed Paracel Islands that China claims are its own and therefore entitle Beijing to control a wide arc of surrounding waters.
Vietnamese TV has been airing an animated re-enactment of the confrontation: When a Vietnamese navy patrol boat challenged a larger Chinese vessel, it rammed the Vietnamese ship, wounding six sailors. Then another Chinese ship used a giant water cannon to shoo away the Vietnamese boats. It’s a huge story here in Hanoi.
In both cases, Russia and China used tactics firm enough to get their way but calibrated not to galvanize the international community to react much. China’s timing, though, right after President Obama’s visit to the region — when he criticized China’s expansive maritime claims — seemed to be a squirt gun in his face.
“It has been a real shock for the whole region,” Ha Huy Thong, the vice chairman of the foreign affairs committee of the Vietnamese Parliament told me. “They use civilian vessels, and then if you attack them they say, ‘Why did you attack our civilians?’ ”
But Vietnam has limited options. China “is a rising power. The question is how can we deal with it?” said Thong. “It is not only a violation of our territory but of international law.”
The only way to deter such regional powers when they bully one neighbor is with a coalition of all the neighbors. But such coalitions are hard to build when the threat is to just one country, is relatively low level and when the threatening country (China or Russia) controls so much trade to the rest of Asia in the case of China and so much gas to Ukraine and Europe in the case of Russia.
 “We have a saying in Vietnamese,” added Thong: “It’s easy to break two chopsticks, but it’s very hard to break a bundle of them.” Until such a coalition gets built, Vietnam — in an irony of history — finds itself now looking to America for more protection from its historical predator, China.
Le Duy Anh, 24, a lecturer at Hanoi’s FPT School of Business (FSB), remarked to me when I visited his campus that whenever China does something to Vietnam these days people go to the American Embassy in Hanoi and demonstrate. For so many years, Vietnamese fought a war with Americans “trying to get you out,” he said, “and now we are demonstrating to get you to intervene. We don’t want bloodshed, so we need someone to tell someone else to calm down.”
So Americans may think we’ve lost influence in the world, but, the truth is, many people out here want our “presence” more than ever. This is especially true of those living on the borders of Russia and China, who are each sort of half in and half out of today’s globalization system — beneficiaries of its trading and investment regimes but revisionists when it comes to playing by all the rules in their own neighborhoods. We may not be so interested in the world, but a lot of the world is still interested in us — and saying: “Yankee come hither” more than “Yankee go home.”

We’re not going to go to war on either front. And Russia and China also have claims and interests that bear consideration. But if we are to persuade Moscow and Beijing to resolve these border disputes peacefully, not unilaterally, we’ll clearly need a few more chopsticks in our bundle. Which is why America’s ability to build coalitions is as vital today as the exercise of its own power.