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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Pedro Dutra: premio da Academia Brasileira de Letras pela biografia de San Tiago Dantas (2015)

Transcrevo do blog do advogado do advogado Pedro Dutra, com data de 2/10/2015:

Agradecimento na recepção do prêmio Senador José Ermírio de Moraes




Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Brasileira de Letras, Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti.

Excelentíssimo Senhor Presidente da Comissão do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes – Acadêmico Marcos Vilaça.

Excelentíssimo Senhor Relator da Comissão do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes – Acadêmico Alberto Venâncio Filho.

Excelentíssimas Senhoras Acadêmicas.

Excelentíssimos Senhores Acadêmicos.

Excelentíssimo Senhor Professor José Pastore, digno representante do Instituto Votorantim.

Senhoras e Senhores.

O prêmio Senador José Ermírio de Moraes, que essa Academia vem de outorgar àA Razão Vencida, é uma generosa retribuição ao esforço de seu Autor.

Mas este prêmio tem um outro – e maior – destinatário: Francisco Clementino de San Tiago Dantas.

1.0. Cumprindo mandato de deputado federal, no início de 1964 San Tiago tentou unir, em uma frente parlamentar, as forças políticas de sustentação do presidente da república, João Goulart. Estava San Tiago advertido de que a extremação ideológica em curso, aprofundando o dissídio entre as correntes de direita e de esquerda, iria ter o seu desfecho, como veio a ter, na ruptura da ordem democrática.

Então, a doença já o visitara, e ele sabia contados os seus dias, assim como vencidos estavam os seus dias no poder, breves, mas superiormente exercidos, em meio a maior crise política vivida na frágil república de 1946.

Por essa altura, San Tiago buscou a Academia, onde contava com inúmeros amigos de mocidade, entre eles, Alceu Amoroso Lima e Afonso Arinos; e, ainda hoje, conta nessa Casa com seus jovens amigos, o crítico literário Eduardo Portella e o advogado Alberto Venâncio Filho.

San Tiago formalizou a sua postulação e cumpriu os procedimentos de praxe. Mas a eleição realizou-se a dois de abril de 1964, já vitorioso o golpe militar e deposto o governo João Goulart.

E o nome de San Tiago não alcançou a maioria necessária à sua admissão a essa Casa. Meses depois, a 6 de setembro, morria, aos 53 anos incompletos.

2.0. Não foi a Academia Brasileira de Letras a única Casa a lhe recusar ingresso. Em junho de 1962, os seus pares na Câmara de Deputados lhe haviam negado a chefia do gabinete, no curto interregno parlamentar então aberto na vida política nacional.

O regime parlamentar surdira de um golpe: os militares, estimulados por radicais da UDN, negavam posse ao vice-presidente João Goulart, alegando a sua simpatia e leniência às forças de esquerda, em sequência à renúncia de Jânio Quadros.

Ao aceitar a implantação do regime parlamentarista em troca de sua posse na presidência da república, Jango começou a trabalhar contra a sobrevivência desse regime. E nesse ofício contou com apoio de candidatos que já abertamente postulavam a sua sucessão.

No turbilhão em que a vida política do país se transformou, San Tiago distinguia-se: era um homem de Estado.

3.0. Tinha ele a noção moderna da democracia renovada pelos valores apurados pela experiência dramática da Segunda Guerra.  E entre esses valores renovados, San Tiago reclamava fosse assegurada ao trabalho a mesma ordem de garantias jurídicas havia muito o nosso Direito já assegurava ao capital.

Essa reforma seria a nutriz de outras reformas estruturais, mas estas reformas não poderiam ser, como observou, “ocasionadas pela avulsão de certos valores, pela eclosão revolucionária”; ao contrário, elas deveriam ser, todas elas, debatidas com a sociedade e aprovadas pelo Congresso.

San Tiago mirava as reformas das principais instituições político-jurídicas do país, e estava ciente das palavras de Rui Barbosa, a quem votava justa admiração: a República “não é uma série de fórmulas, mas um conjunto de instituições, cuja realidade se afirma pela sua sinceridade no respeito às leis e na obediência à justiça”.

O homem de Estado era, e é, uma figura estranha à política nacional. Esta, mesmo quando contou com razoável número de parlamentares talentosos, o que certamente não é o caso hoje a ocorrer, não conseguiu afirmar linhas ideológicas, que reclamassem aos partidos a elaboração e a defesa de programas de governo consistentes, a serem oferecidos à consideração do eleitor.

Antes, a política nacional atrai, quando não o celebra, o político que opera distante de temas e de ideias, e sobretudo de procedimentos, que consultem os interesses maiores do Estado brasileiro.

Nesse contexto, em que a ação política é reduzida à destreza em manipular as cordas do governo e o Tesouro Nacional, não surpreende San Tiago ter sido visto como um adversário da cultura política nativa. E, assim, negar-lhe a investidura na chefia do gabinete afigurou-se um imperativo inafastável à maioria dos deputados, para ser evitado o risco de ele conduzir a nação ao regime parlamentar.

San Tiago estava ciente da desconfiança que o seu nome suscitava, ainda que publicamente exibisse a crença em sua aprovação. Defendeu a sua indicação, apresentando, em um dos mais notáveis discursos feitos ao plenário da Câmara dos Deputados, o seu programa de governo, cujo núcleo seria as reformas de estrutura do Estado brasileiro, muitas delas até hoje reclamadas.

A derrota sofrida na Câmara dos Deputados não o desencantou. Já muito doente, serviu ao país à frente do Ministério da Fazenda no primeiro semestre de 1963, buscando a um só tempo combater a inflação e reanimar a economia.

Mas não achou o apoio da classe política; o seu próprio partido, então liderado por Leonel Brizola, somou-se à oposição tradicional da UDN ao governo e promoveu uma agitação social sem precedentes, precipitando o país em uma crise cujo desfecho, dali a pouco, poria termo à ordem democrática.

4.0. Qual o legado desse fidalgo da inteligência, do mestre da sua geração, do advogado excepcional? Qual o legado desse raro homem de Estado, talhado para o exercício superior do poder, mas que acumulou sucessivas derrotas políticas? Qual o legado desse escritor extraordinário, de um estilo de uma severa simplicidade, onde não sobram adjetivos, não se acha o verbo mais exato e não se tem a síntese mais justa?

Não há uma resposta única e precisa, ao se lidar com uma personalidade tão rica e complexa, mas a sua obra pode nos indicar caminhos. Ela é uma obra de circunstância, produto da sua ação múltipla, de professor, de advogado, de jurista, de político, de ensaísta, atividades exercidas simultaneamente, incansavelmente, excelentemente.

A maior parte dessa obra notável está por publicar, e deve compor, como esperamos, os escritos já conhecidos. A esses trabalhos soma-se a sua correspondência, extraordinária pela sua riqueza documental, e é sem dúvida uma obra literária superior.

Nela surge o homem austero e grave, que amava a família e via nos sobrinhos os filhos que não pode ter, e era o companheiro fiel cujos amigos de mocidade com ele estiveram até a última hora.

5.0. O percurso ideológico de San Tiago é riquíssimo, e traz o selo da coerência e do desassombro, como mostram os seus escritos.

Defendeu suas ideias energicamente, publicamente. Foi capaz de rejeitar aquela que primeiro abraçou ao vê-la infiel aos propósitos que ele, como tantos outros, aspirou ver realizados.

Passou a defender uma ordem social democrática, onde o trabalho e o capital se alinhassem em um mesmo plano de direitos e deveres.

Um dos maiores advogados do país e um intelectual justamente respeitado, não hesitou em buscar infundir ao trabalhismo brasileiro – atrelado ao Estado e cevado por suas verbas – as ideias reformistas do trabalhismo britânico, que no poder transformara a vida social e econômica daquele país.

Ao ver de San Tiago, a política não é um conjunto de ações mecanicamente executadas. Ela deve desdobrar, congruentemente, ideias nascidas pela consulta à realidade e aos valores de cada país.

Em um de seus notáveis ensaios, San Tiago desenhou o seu perfil político, ao traçar o de Rui Barbosa: “todo o verdadeiro grande homem, observou, é um ideólogo: seus pensamentos, sua vida pública, vestiram certos imperativos da existência brasileira, deram forma e teoria a impulsos vitais, que se formaram na sociedade de seu tempo”.

Em uma de suas notas pessoais, San Tiago escreveu que sabia ter a inteligência de um grande homem, mas não era um grande homem, pois a sua inteligência ainda não encontrara um norte ao qual deveria concentrar-se.

San Tiago enganou-se, como tantas outras vezes ao falar de si próprio.

A sua luta política, de maior projeção, não durou mais de cinco anos; e, como a de nenhum outro grande politico brasileiro, à exceção de Rui Barbosa, levantou tanta incompreensão, tanta crítica, mesmo daqueles que o admiravam.

San Tiago estaria fora de seu lugar. Aquele homem refinadíssimo, tendo à sua disposição todos os favores materiais que o seu talento reunira, e era uma das máximas expressões da elite do país, assombrava a todos ao defender a causa trabalhista, em meio aqueles que a agitavam com um discurso populista, frenético e irresponsável.

Mas a sua determinação era inabalável. Ali ele deveria estar, pois, como a entendia, “o dever da inteligência é esclarecer”.

San Tiago era um homem só, na política brasileira. Porém ele já se preparara para essa caminhada.

Isso nos disse ainda em 1947 em seu ensaio sobre a obra maior de Cervantes. No cavaleiro manchego, em sua insânia, na entrega delirante a tarefas irrealizáveis, San Tiago viu “o dom de si mesmo”, isto é, o domínio integral sobre a própria existência, subtraindo o cavaleiro ao destino o seu comando.

Contudo, o heroísmo do Quixote é frustro, e ele só pode ser compreendido reversamente, não pelo seu “resultado imediato alcançado, mas pela repercussão do exemplo”. Esse exemplo, diz San Tiago, é o heroísmo qualificado, paradoxalmente, pelo aparente fracasso da empreitada: os atos malogrados do Quixote são recebidos “a crédito, para compensação das injustiças e agravos que ele não soube ver, nem reparar”, nas palavras do próprio San Tiago.

O dom de si mesmo restitui ao homem a sua liberdade suprema, que só a pureza da ação que não busca crédito pode dar, e, por isso, é capaz de frutificar em exemplos transcendentes; o “dom de si mesmo”, conclui San Tiago, “resolve o problema do destino, vence as hesitações que o temor do erro tanto nos infunde, e, fazendo-nos olhar para fora de nós, permite que, um dia, nos reencontremos”.

Estamos certos de que San Tiago reencontra-se a si mesmo nessa Casa, neste dia de hoje.

Muito obrigado.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Como os holandeses perderam o Brasil? Um livro do pesquisador Michiel van Groesen

Como os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais perderam o Brasil? Bem, eles nunca o possuíram, de verdade. Conquistaram, pela força das armas, num momento em que a administração portuguesa tinha sido enfraquecida pela incorporação do reino de Portugal aos domínios da Casa espanhola (União Ibérica, 1580-1640), e depois tiveram dificuldades em manter, inclusive porque não pretendiam fazer nada de muito diferente do que os colonizadores portugueses já estavam fazendo. Esta exposição, e livro, jogam mais luz sobre a questão.

Paulo Roberto de Almeida

How Dutch Brazil was lost

The Amsterdam media played a major role in the rise and fall of Dutch Brazil, the colony held briefly by the Dutch West India Company in the 17th century. This is the conclusion reached by Professor of Maritime History Michiel van Groesen in his book ‘Amsterdam’s Atlantic’.
Amsterdam's Atlantic: Print Culture and the Making of Dutch Brazil 
Penn Press 272 blz. Hardcover | ISBN 978-0-8122-4866-1 | € 41,50 
Ebook | ISBN 978-0-8122-9345-6


Colony was front-page news

Few Dutch people know that from 1630 to 1654 Brazil was a Dutch colony even though in the Golden Age events in Brazil were for years front-page news for the period's many newspapers and pamphlets. This is the conclusion reached by Van Groesen based on his research on how contemporary media reported on the colony. 

Europe's media capital

Amsterdam at that time was Europe's media capital because of the city's relatively high level of press freedom. Newspapers were published weekly and there were also many pamphlets in circulation in the city. The Amsterdam media had significant influence on public opinion not only in the Netherlands but also in the rest of Europe where Dutch reports were translated into local languages.    
Andries van Eertvelt, The Dutch Conquest of  Salvador (Antwerp?, 1624?).
At that time it took seven to nine weeks before a ship brought news from Brazil to the Republic. 

Media initially enthusiastic

Initially, the papers wrote enthusiastically about the conflict in the New World. In the seventeenth century the Dutch Republic was at war with Spain, and in 1624 decided to launch a second front in Brazil, a Portuguese colony under Spanish rule. There were positive reports in the media about the many opportunities in the region: for the trade in sugar, for example, and as a means of expanding geopolitical influence. 

Lost battles and corruption

Opinion makers were under the influence of Amsterdam regents and merchants, who were originally positive, Van Groesen comments. But the newspapers quickly turned their attention to issues that the elite preferred to keep under wraps: battles lost and corruption in the colony being two such issues. Surprisingly enough, the slave trade was paid little attention by the media. The West India Company used African slaves for work in the colony.
A news report on the Dutch war fleet that was used in Brazil, Courante extraordinarij, 27 August 1624

Public opinion reversed

Brazil never came completely under Dutch control, which meant that money and troops had to be sent repeatedly to the colony. The media began to include critical reports of Amsterdam regents who were sceptical about the situation, unlike the regents in Zeeland who were more favourably disposed towards Brazil. Under the influence of the media, public opinion turned slowly but surely against the money-guzzling colony.   
Claes Jansz. Visscher, news print of the conquest of Olinda and Recife by the West India Company (Amsterdam, 1630)

WIC criticised

The propaganda bulletins from the WIC were ineffective in turning the tide of public opinion. Van Groesen also examined the correspondence of politicians and merchants of the period. Amsterdam merchants, too, began to oppose the monopoly enjoyed by the WIC, and consequently withdrew their support. 

‘Brazil was neglected’

When in 1645 the Portuguese were threatening to drive the Dutch out of Brazil, the Amsterdam regents blocked a proposal to send a fleet to the region. In 1654 the Portuguese managed to expel the Dutch completely and returned the colony to Portuguese rule. This loss was felt for a long time as a 'national disgrace', according to Van Groesen. Those who had wanted to retain Brazil talked about a 'Neglected Brazil'. 'People no longer wanted to talk about this scandal, which explains why so few Dutch people today know that Brazil was ever a Dutch colony.' 

(LvP)
Amsterdam's Atlantic: Print Culture and the Making of Dutch Brazil 
Penn Press 272 blz. Hardcover | ISBN 978-0-8122-4866-1 | € 41,50 
Ebook | ISBN 978-0-8122-9345-6

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Post-Western World: um livro e um debate com Oliver Stuenkel (IPRI, 13/12/2016)

Com a presença do autor, e uma audiência composta de diplomatas, professores e estudantes, o IPRI e a Funag realizaram nesta terça--feira 13/12/2016, no auditório do Anexo II do Itamaraty, um debate-apresentação em torno deste livro: 

Oliver Stuenkel
Post-Western World: How Emerging Powers Are Remaking Global Order
(Malden, MA: Polity Press, 2016, 252 p.; ISBN: 978-1-5095-0457-2)

Oliver Stuenkel é Professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, onde coordena a Escola de Ciências Sociais e o MBA em Relações Internacionais. Tem graduação pela Universidade de Valência, na Espanha, Mestrado em Políticas Públicas pela Kennedy School of Government de Harvard University, e Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha. É colunista da revista Americas Quarterly e autor de outros livros, entre eles este anterior:


O índice do livro Post-Western World é o seguinte: 

Introduction, 1
1. The Birth of Western-Centrism, 29
2. Power Shifts and the Rise of the Rest, 63
3. The Future of Soft Power, 97
4. Toward a Parallel Order: Finance, Trade, and Investment, 120
5. Toward a Parallel  Order: Security, Diplomacy, and Infrastructure, 154
6. Post-Western World, 181
Conclusion, 195
Notes, 206

Sua apresentação, intitulada "Rumo ao mundo sinocêntrico?: as transformações globais e suas implicações para o Brasil", consistiu num resumo geral das principais teses do livro, entre elas a visão ainda enviesada, construída pelo mundo ocidental, da ordem global, que vem sendo transformada significativamente ao longo dos séculos, e especialmente nas últimas décadas de retomada do processo de globalização e de ascensão de novas potências emergentes, entre elas, com destaque, a China, que já foi a maior economia do planeta até o final do século 18. 

A ascensão da China não se faz apenas com soft power, mas também  com base em fatores reais de poder, ou seja, crescimento econômico, expansão comercial, domínio de finanças e construção de novos vetores de poder real, que conformam o que ele chamou de "ordem paralela" expressa em novas instituições nas financas (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, e Novo Banco de Desenvolvimento, dos Brics), comércio (explosão de acordos de liberalização e de livre comércio e de preferências em diversos esquemas regionais e mais além), investimentos (grandes obras e cooperação com um grande número de países, não só em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos), segurança (esquemas negociados com vizinhos e países selecionados, medidas de construção de confiança), diplomacia (ofensiva de charme e de realpolitik em formatos diversos, entre eles o Brics) e infraestrutura (nova rota da seda, grandes obras em outos continentes, como um canal na Nicarágua).
Essa "ordem paralela" não pretende substituir as instituições existentes, mas complementar os arranjos que resultaram da ordem anterior, com uma abordagem adaptada aos requerimentos dos emergenes, e com isso a ordem global se aproximaria do cenário do mundo pós-ocidental.  

Eis a apresentação sumária do livro "Post-Western World" e link na Amazon: 


With the United States’ superpower status rivalled by a rising China and emerging powers like India and Brazil playing a growing role in international affairs, the global balance of power is shifting. But what does this mean for the future of the international order? Will China dominate the 21st Century? Will the so–called BRICS prove to be a disruptive force in global affairs? Are we headed towards a world marked by frequent strife, or will the end of Western dominance make the world more peaceful?

In this provocative new book, Oliver Stuenkel argues that our understanding of global order and predictions about its future are limited because we seek to imagine the post–Western world from a parochial Western–centric perspective. Such a view is increasingly inadequate in a world where a billions of people regard Western rule as a temporary aberration, and the rise of Asia as a return to normalcy. In reality, China and other rising powers that elude the simplistic extremes of either confronting or joining existing order are quietly building a "parallel order" which complements today’s international institutions and increases rising powers′ autonomy. Combining accessibility with expert sensitivity to the complexities of the global shift of power, Stuenkel’s vision of a post–Western world will be core reading for students and scholars of contemporary international affairs, as well as anyone interested in the future of global politics.

Eu teria várias observações a fazer  às teses e argumentos do livro de Oliver Stuenkel, mas ainda tenho de ler o livro atentamente para comentar seus elementos mais importantes. Não que eu discorde do sentido geral da tese principal, ou seja, a de que estamos caminhando para uma ordem global, não só no terreno econômico, mas também no político, estratégico e militar, bastante diferente daquela ordem implementada na imediata sequência da Segunda Guerra Mundial, ou seja, Bretton Woods, Gatt-OMC, OCDE, e uma governança consolidada no G7 a partir dos anos 1970, mas que veio a termo nos anos 1990-2000, em especial com a ascensão da China e da Índia.
Existem vários desafios ao Brasil nesse novo cenário, e este é um debate que teremos de fazer novamente com Oliver Stuenkel, na primeira oportunidade que tivermos em 2017.

Creio que esse debate, que foi transmitido online e registrado em vídeo (que estará disponível no canal YouTube da Funag, dentro de algum tempo), constituiu uma excelente oportunidade para que Oliver Stuenkel apresentasse a um público seleto (e a todos os que assistiram, e os que ainda vão assistir, ao vídeo) suas principais teses sobre o mundo pós-ocidental. 

Na sequência, mantive um diálogo de 20 minutos aproximadamente com Oliver Stuenkel em torno dessas teses, e algumas outras questões, para a série "Relações Internacionais em Pauta", entrevistas em vídeo que vem sendo acumuladas no canal YouTube do site do IPRI, e que editaremos para fazer um próximo upload. Aguardem.
Nos agradecimentos prévios ao livro, Oliver agradece à sua esposa, Beatriz, em que reconhece trabalho extra, entre o ativismo político e a dedicação acadêmica, assim como a seus três filhos: Anna, Jan e Carlinha, que ele acredita crescerão num mundo pós-ocidental. 
Acredito que sim, mas seus filhos vão continuar bebendo Coca-Cola, mascando chiclete -- que são velhas contribuições da civilização ocidental, neste caso americana, ao mundo, assim como vão usar algum sucedâneo do iPhone e sucessores do iPad, até que os chineses ofereçam os seus equivalentes, provavelmente de performance maior, e custo menor, mais ainda assim baseados num conceito ocidental do mundo e das comunicações, que o mundo emergente ainda imita, sem verdadeiramente superar, até o momento. Vamos ver o que os pós-ocidentais oferecem de produtos e gadgets tão revolucionários quanto estes.
Vamos continuar esse debate de alto nível nos próximos meses, talvez anos, com a participação de todos os diplomatas e acadêmicos engajados em temas de política mundial e relações econômicas internacionais.

Os interessados em adquirir o livro de Oliver Stuenkel, podem encontrá-lo aqui:
https://www.amazon.com/Oliver-Stuenkel/e/B00P1ZSQP0

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 13 de dezembro de 2016
(Fotos de  Carmen Lícia Palazzo, a quem agradeço a cessão)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

San Tiago Dantas, antes de se tornar "diplomata" - Escritos Politicos, 1929-1945


O mesmo autor está escrevendo a biografia de San Tiago Dantas, e já publicou o primeiro volume, relativo à primeira fase de sua vida, como estudante, professor, advogado, antes de se tornar o tribuno, o político, e o "diplomata" que foi, numa segunda fase, infelizmente precocemente final, de sua vida, no final dos anos 1950 e início dos 60 (ele morreu em setembro de 1964, depois de ter sido chanceler e ministro da Fazenda).
 

Lançamento: ESCRITOS POLÍTICOS 1929-1945 de San Tiago Dantas
Organizado por Pedro Dutra
Data: 18 de novembro de 2016 (sexta-feira)
Horário: 19h
Local: Livraria da Travessa do Shopping Leblon,
           Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Rio de Janeiro



Editora Singular LtdaTel/Fax: 55 11 3862-1242

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"Memorial Organico (Uma proposta para o Brasil em meados do seculo XIX)" - Francisco Varnhagen (novo livro Funag)

FUNAG reeditou Memorial Orgânico (Uma proposta para o Brasil em meados do século XIX)

FUNAG reeditou "Memorial Orgânico (uma proposta para o Brasil em meados do século XIX)", de Francisco Adolfo de Varnhagen, com ensaios introdutórios de Arno Wehling. A obra constitui uma reflexão sobre os desafios que o Império enfrentava e impressiona por sua atualidade. Trata-se da expressão mais eloquente do pensamento  geopolítico e estratégico do autor.

O livro já está disponível para download gratuito na Biblioteca Digital da FUNAG.