Com a presença do autor, e uma audiência composta de diplomatas, professores e estudantes, o IPRI e a Funag realizaram nesta terça--feira 13/12/2016, no auditório do Anexo II do Itamaraty, um debate-apresentação em torno deste livro:
Oliver Stuenkel
Post-Western World: How Emerging Powers Are Remaking Global Order
(Malden, MA: Polity Press, 2016, 252 p.; ISBN: 978-1-5095-0457-2)
Oliver Stuenkel
é Professor de
Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, onde
coordena a Escola de Ciências Sociais e o MBA em Relações Internacionais. Tem graduação
pela Universidade de Valência, na Espanha, Mestrado em Políticas Públicas pela
Kennedy School of Government de Harvard University, e Doutorado em Ciência
Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha. É colunista da
revista Americas Quarterly e autor de outros livros, entre eles este anterior:
O índice do livro Post-Western World é o seguinte:
Introduction, 1
1. The Birth of Western-Centrism, 29
2. Power Shifts and the Rise of the Rest, 63
3. The Future of Soft Power, 97
4. Toward a Parallel Order: Finance, Trade, and Investment, 120
5. Toward a Parallel Order: Security, Diplomacy, and Infrastructure, 154
6. Post-Western World, 181
Conclusion, 195
Notes, 206
Sua apresentação, intitulada "Rumo
ao mundo sinocêntrico?: as transformações globais e suas implicações para o
Brasil", consistiu num resumo geral das principais teses do livro, entre elas a visão ainda enviesada, construída pelo mundo ocidental, da ordem global, que vem sendo transformada significativamente ao longo dos séculos, e especialmente nas últimas décadas de retomada do processo de globalização e de ascensão de novas potências emergentes, entre elas, com destaque, a China, que já foi a maior economia do planeta até o final do século 18.
A ascensão da China não se faz apenas com soft power, mas também com base em fatores reais de poder, ou seja, crescimento econômico, expansão comercial, domínio de finanças e construção de novos vetores de poder real, que conformam o que ele chamou de "ordem paralela" expressa em novas instituições nas financas (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, e Novo Banco de Desenvolvimento, dos Brics), comércio (explosão de acordos de liberalização e de livre comércio e de preferências em diversos esquemas regionais e mais além), investimentos (grandes obras e cooperação com um grande número de países, não só em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos), segurança (esquemas negociados com vizinhos e países selecionados, medidas de construção de confiança), diplomacia (ofensiva de charme e de realpolitik em formatos diversos, entre eles o Brics) e infraestrutura (nova rota da seda, grandes obras em outos continentes, como um canal na Nicarágua).
Essa "ordem paralela" não pretende substituir as instituições existentes, mas complementar os arranjos que resultaram da ordem anterior, com uma abordagem adaptada aos requerimentos dos emergenes, e com isso a ordem global se aproximaria do cenário do mundo pós-ocidental.
Eis a apresentação sumária do livro "Post-Western World" e link na Amazon:
With the United States’ superpower status rivalled by a rising China and
emerging powers like India and Brazil playing a growing role in international
affairs, the global balance of power is shifting. But what does this mean for
the future of the international order? Will China dominate the 21st Century?
Will the so–called BRICS prove to be a disruptive force in global affairs? Are
we headed towards a world marked by frequent strife, or will the end of Western
dominance make the world more peaceful?
In this provocative new book, Oliver Stuenkel argues that our
understanding of global order and predictions about its future are limited
because we seek to imagine the post–Western world from a parochial
Western–centric perspective. Such a view is increasingly inadequate in a world
where a billions of people regard Western rule as a temporary aberration, and
the rise of Asia as a return to normalcy. In reality, China and other rising
powers that elude the simplistic extremes of either confronting or joining
existing order are quietly building a "parallel order" which
complements today’s international institutions and increases rising powers′
autonomy. Combining accessibility with expert sensitivity to the complexities
of the global shift of power, Stuenkel’s vision of a post–Western world will be
core reading for students and scholars of contemporary international affairs,
as well as anyone interested in the future of global politics.
Eu teria várias observações a fazer às teses e argumentos do livro de Oliver Stuenkel, mas ainda tenho de ler o livro atentamente para comentar seus elementos mais importantes. Não que eu discorde do sentido geral da tese principal, ou seja, a de que estamos caminhando para uma ordem global, não só no terreno econômico, mas também no político, estratégico e militar, bastante diferente daquela ordem implementada na imediata sequência da Segunda Guerra Mundial, ou seja, Bretton Woods, Gatt-OMC, OCDE, e uma governança consolidada no G7 a partir dos anos 1970, mas que veio a termo nos anos 1990-2000, em especial com a ascensão da China e da Índia.
Existem vários desafios ao Brasil nesse novo cenário, e este é um debate que teremos de fazer novamente com Oliver Stuenkel, na primeira oportunidade que tivermos em 2017.
Creio que esse debate, que foi transmitido online e registrado em vídeo (que estará disponível no canal YouTube da Funag, dentro de algum tempo), constituiu uma excelente oportunidade para que Oliver Stuenkel apresentasse a um público seleto (e a todos os que assistiram, e os que ainda vão assistir, ao vídeo) suas principais teses sobre o mundo pós-ocidental.
Na sequência, mantive um diálogo de 20 minutos aproximadamente com Oliver Stuenkel em torno dessas teses, e algumas outras questões, para a série "Relações Internacionais em Pauta", entrevistas em vídeo que vem sendo acumuladas no canal YouTube do site do IPRI, e que editaremos para fazer um próximo upload. Aguardem.
Nos agradecimentos prévios ao livro, Oliver agradece à sua esposa, Beatriz, em que reconhece trabalho extra, entre o ativismo político e a dedicação acadêmica, assim como a seus três filhos: Anna, Jan e Carlinha, que ele acredita crescerão num mundo pós-ocidental.
Acredito que sim, mas seus filhos vão continuar bebendo Coca-Cola, mascando chiclete -- que são velhas contribuições da civilização ocidental, neste caso americana, ao mundo, assim como vão usar algum sucedâneo do iPhone e sucessores do iPad, até que os chineses ofereçam os seus equivalentes, provavelmente de performance maior, e custo menor, mais ainda assim baseados num conceito ocidental do mundo e das comunicações, que o mundo emergente ainda imita, sem verdadeiramente superar, até o momento. Vamos ver o que os pós-ocidentais oferecem de produtos e gadgets tão revolucionários quanto estes.
Vamos continuar esse debate de alto nível nos próximos meses, talvez anos, com a participação de todos os diplomatas e acadêmicos engajados em temas de política mundial e relações econômicas internacionais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de dezembro de 2016
(Fotos de Carmen Lícia Palazzo, a quem agradeço a cessão)
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