Leitura obrigatória para todos aqueles que pensam (com desculpas antecipadas aos que pouco ou nada pensam, mas que de toda forma não vão ler esta postagem).
Thomas Sowell faz parte desse grupo restrito de pessoas inteligentes que, a despeito da modestíssima condição social de origem, souberam acumular conhecimentos e colocar todo esse conhecimento, e experiência de vida, a serviço daquilo que eu chamo de elevação espiritual da humanidade, uma tarefa nobre, praticada por todos aqueles que valorizam a sabedoria adquirida nos livros e na observação honesta da realidade do mundo, e colocam esse tesouro à disposição de todos os demais, por meio de livros, artigos, palestras.
Esta é uma postagem de leitura obrigatória.
Paulo Roberto de Almeida
27 de dezembro de 2016
Texto
originalmente publicado no WND
Tradução de
Rodrigo Constantino
Por
Thomas Sowell*
Mesmo
as melhores coisas chegam ao fim. Após aproveitar um quarto de século
escrevendo esta coluna para Creators Syndicate, eu decidi parar. A idade de 86
está bem à frente da idade usual de aposentadoria, então a pergunta não é por
que estou parando, mas por que isso levou tanto tempo.
Foi
muito enriquecedor poder compartilhar meus pensamentos sobre os acontecimentos
ao nosso redor, e receber o retorno de leitores pelo país todo – mesmo que
fosse impossível responder a todos eles.
Sendo
alguém à moda antiga, eu gostava de conhecer os fatos antes de escrever.
Isso demandava não só bastante pesquisa, como também exigia me manter
atualizado com aquilo que estava sendo dito pela mídia.
Durante
uma estadia no Yosemite National Park em maio passado, tirando fotos com alguns
amigos, fiquei quatro dias consecutivos sem ler os jornais ou ver os
noticiários da televisão – e a sensação foi maravilhosa. Com as notícias
políticas sendo tão terríveis este ano, isso pareceu especialmente maravilhoso.
Isso
me fez decidir gastar menos tempo acompanhando política e mais tempo com minha
fotografia, adicionando mais fotos ao meu website (www.tsowell.com).
Olhando
para trás pelos anos, como os mais velhos estão aptos a fazer, eu vejo
grandes mudanças, tanto para melhor como para pior.
Em
termos materiais, houve um progresso quase inacreditável. A maioria dos
americanos não tinha refrigeradores em 1930, quando eu nasci. Televisão era
pouco mais do que um experimento, e tais coisas como ar-condicionado ou viagem
aérea eram somente para os muito ricos.
Minha
própria família não tinha eletricidade ou água corrente quente em minha
infância, o que não era incomum para negros do sul naqueles tempos.
É
difícil transmitir à geração de hoje o temor que a doença paralisante da pólio
despertava, até que as vacinas pusessem um fim abrupto a seu longo reinado de
terror nos anos 50.
A
maioria das pessoas vivendo na pobreza oficialmente definida no século 21
possui coisas como TV a cabo, microondas e ar-condicionado. A maioria dos
americanos não tinha tais coisas, mesmo tão tarde quanto nos anos 1980. As
pessoas que a intelligentsia continua a chamar
de “despossuídos” hoje possuem coisas que os “abastados” não tinham,
apenas uma geração atrás.
Em
alguns outros sentidos, porém, houve sérios retrocessos ao longo dos anos. A
política, e especialmente a confiança dos cidadãos em seu governo, desabaram.
Em
1962, o presidente John F. Kennedy, um homem eleito de forma apertada há apenas
dois anos, foi à televisão dizer à nação que ele estava nos levando à beira de
uma guerra nuclear com a União Soviética, porque os soviéticos tinham construído
secretamente bases para mísseis nucleares em Cuba, a apenas 90 milhas da
América.
Muitos
de nós não questionaram o que ele fez. Ele era o presidente dos Estados Unidos,
e ele sabia coisas que o restante de nós não poderia saber – e isso era bom o
suficiente para nós. Felizmente, os soviéticos recuaram. Mas algum presidente
hoje poderia fazer algo desse tipo e contar com o apoio do povo americano?
Anos
de presidentes mentirosos – o democrata Lyndon Johnson e o republicano Richard
Nixon, especialmente – destruíram não só sua própria credibilidade, mas também
a credibilidade de que o cargo em si já gozou. A perda dessa credibilidade
foi uma perda do país, não apenas das pessoas que ocuparam o cargo nos anos
seguintes.
Com
todos os avanços dos negros ao longo dos anos, nada me fez constatar mais a
degradação nos guetos de negros do que uma visita a uma escola em Harlem alguns
anos atrás.
Quando
olhei pela janela para o parque do outro lado da rua, eu mencionei que, quando
criança, costumava passear com meu cachorro naquele parque. Olhares de horror
vieram do rosto dos alunos, ao pensamento de um garoto indo para
o buraco do inferno que aquele parque se tornou em seu tempo.
Quando
eu mencionei que dormia em uma escada de incêndio no Harlem durante as
noites quentes de verão, antes que a maioria pudesse bancar um ar-condicionado,
os jovens me olharam como se eu fosse de Marte. Mas negros e brancos vinham
dormindo em escadas de incêndio em Nova York desde o século 19. Eles não tinham
que lidar com tiros voando ao seu redor durante a noite.
Não
podemos voltar ao passado, mesmo que desejássemos, mas vamos esperar que
possamos aprender algo com o passado para construir um presente e um futuro
melhores.
Adeus
e boa sorte a todos.
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Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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