Carta aos meus leitores: infelizmente, fechando o blog
Diplomatizzando
Paulo Roberto de Almeida
Ocasionalmente, quando consulto o pequeno quadrilátero dos
“leitores” deste blog, ou quando constato algumas estatísticas relativas a
temas mais acessados – e, invariavelmente, os campeões são todos os assuntos
relativos à carreira diplomática: dicas de concurso, características da
profissão, orientação de estudos, etc. – fico com vontade de tomar da pluma –
ops, mania de velho escritor: acessar o teclado – para escrever a todos e a
cada um para, em primeiro lugar, agradecer a fidelidade e os comentários, dos
quais uma parte vai anexa aos posts pertinentes; em segundo lugar, para relatar
algum fato novo, ou simplesmente comentar a atualidade, do mundo, do Brasil,
deste blog.
Por exemplo, verifico, nesta data, 1ro de Abril de 2012 (usualmente
consulto minhas estatísticas no final do mês, mas desta vez me passou), que o
número de acessos, e o de leitores, tem aumentado constantemente:
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Visualizações de página de hoje
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1.101
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Visualizações de página de ontem
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2.167
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Visualizações do mês passado
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46.030
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Histórico de todas as visualizações
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692.412
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Pela contagem do próprio blogger, os “membros” inscritos neste blog
seriam 535 – inclusive um cachorro que detectei, e agradeço também ao simpático
quadrúpede, pois o considero o melhor amigo do homem, junto com o cavalo
(antigamente), o uísque (para alguns), e os livros (para mim, claro) – mas
entendo que o número de leitores efetivos é bem menor, pois pouca gente tem
paciência para ler todas as coisas enfadonhas que acabo postando aqui,
sobretudo aquelas coisas horríveis sobre o governo maravilhoso que temos (e
como sou injusto nessas críticas infundadas à sapiência dos nossos líderes).
Bem, mas hoje não tenho boas notícias para todos esses leitores,
sobretudo para todos esses jovens desesperados por ingressar na carreira
diplomática, e que aqui comparecem para saber como se aperfeiçoar para
finalmente chegar um dia a entender o bullshit
diplomático. Infelizmente vou ter de fechar o blog, ou pelo menos dele me
afastar por um tempo indefinido. As razões são várias e me limito a apontar
algumas. Talvez não as mais importantes a critério dos leitores, mas as mais
relevantes do meu ponto de vista.
Em primeiro lugar, e me desculpo uma vez mais sinceramente, o blog
tem ocupado um espaço maior do que o esperado em minha vida e em meus afazeres.
Já com um tempo exíguo para ler tudo o que gostaria num dia de apenas 24 horas
– e tudo o que é humanamente produzido me interessa – ainda dedico várias horas
por dia a ler e a selecionar material para postar neste espaço. E só os
leitores mais fieis sabem quanto besteirol entra, ao lado de coisas mais
interessantes e palatáveis, que aliás deveriam corresponder ao espírito
original e à especialização primeira deste blog: relações internacionais e
política externa do Brasil, ponto. Pouco a pouco fui adentrando em temas de
economia doméstica, de política, de corrupção, e zut, voilà que o blog se
tornou generalista demais, podendo causar certo aborrecimento em leitores mais
exigentes. Mas o fato principal, e esta é a razão primordial pela qual decidi
interromper temporariamente (ou sem prazos) o serviço, é que tenho ficado com
muito pouco tempo para ler, para escrever os textos já projetados e estudar alguns
temas que figuram em meu programa pessoal de pesquisas. Esta é a razão
principal, portanto, e nisso espero ter a complacência, se não a concordância,
dos leitores e fieis seguidores.
Outra razão é que venho detectando invasões em meu computador, seja
via e-mail, seja via site (e o próprio provedor, que por vezes se comporta
estranhamente, não reconhecendo meu password, por exemplo), seja via o próprio
blog, que muda misteriosamente de configurações, sem que eu – que sou um
incompetente notório em todas essas coisas – tenha jamais entrado nos settings
para mudar qualquer coisa. Estranho tudo isso, não é?
Não sou paranoico, nem adepto de teorias conspiratórias – o que não
é razão, diria um desses, para deixar de acreditar que estão me perseguindo –
mas pode ser que os meus passos estejam sendo cuidadosamente controlados,
vigiados, seguidos, medidos e examinados. Podem ser esses funcionários a soldo
das forças ocultas que povoam certas instâncias do poder – My God!: estou com a
linguagem dos paranoicos, já – podem ser os espiões da CIA, do sucessor da KGB,
o MI6, a Seguridad Cubana, quem sabe até o Vaticano (como eu sou irreligioso,
vai lá saber), enfim, podem ser todos esses burocratas que não têm mais nada a
fazer, e que acham que eu tenho alguma importância em algum esquema de poder
muito poderoso (com perdão pela redundância, mas por vezes ela é necessária).
E adianta eu dizer a todos esses meus malévolos seguidores que eu
não tenho poder nenhum? Eles acham que apenas porque eu posto certas coisas
incômodas, e questionadoras, eu devo estar a serviço de alguma causa não
identificada, forças ainda não definidas, interesses incógnitos, como é que eu
posso saber?
Enfim, não é por medo de todos esses bisbilhoteiros profissionais –
mas alguns têm um comportamento muito amador, fazendo provocações nos
comentários, que são obviamente armadilhas para que eu me desconcerte – que
estou encerrando a atividade deste blog, e sim pela razão primeira que apontei:
necessito de tempo, todo o meu tempo livre – e ele já é bem pouco, depois de
fazer as compras, lavar a louça e colocar os livros em ordem – para ler,
refletir, e sobretudo escrever aquilo que me propus há muito tempo: uma série
completa sobre a diplomacia econômica no Brasil – e ainda faltam dois volumes
–, um outro livro de história diplomática brasileira (mas um bem pensado, e
objetivo, não essas contrafações que existem por aí), e mais dois ou três dos
meus temas habituais: relações econômicas internacionais, integração, história
econômica.
Eu também preciso ler romances, pois tenho dezenas de clássicos nas
estantes que estão esperando “aquele dia”, que nunca chega, entre outros
motivos porque fico disperso numa série de atividades. Depois tem as viagens, o
material já acumulado nas estantes e no computador – que é preciso separar,
revisar e aproveitar nesses trabalhos – a gastronomia, sem falar em todas as
obrigações familiares que me escuso de não revelar dado meu natural reservoso e
um comportamento discreto como sempre foi o meu.
Por todas essas razões, e não querendo desgostar, descontentar,
desagradar meus poucos leitores e vários outros seguidores, tenho esse supremo
constrangimento de anunciar minha despedida temporária deste blog. Voltarei,
ocasionalmente, ou dentro de algum tempo, mas não sei ainda precisar quando e
em quais circunstâncias.
Juntando este blog, todos os demais, relacionados em algum canto
deste, meu site, e todos os demais textos e colaborações que já produzi, creio
que acumulei um bocado de papel sujo e de bits and bytes de arquivos digitais,
o que dá para alimentar a curiosidade e as necessidades dos leitores
interessados por meses e meses à frente. Se alguém conseguir toda a minha Gesamtwerke, com desculpas pela
expressão, só pode ser um maluco ou alguém muito curioso, desses funcionários
da Stasi que precisam fazer uma ficha completa sobre seus alvos. Enfim, espero,
finalmente, não descontentar o pessoal da CIA, do KGB, da ABIN, o que for, que
anda interferindo em minha vida, mas eu diria que eles podem ir catar coquinhos
em outra freguesia, que pretendo só fazer leituras amenas pelos próximos meses.
Quando eu entrar na política novamente eu aviso, tá?
Obrigado, minha gente, foi muito bom contar com a confiança de
vocês, e me desculpando mais uma vez, recomendo aos muito carentes que comecem
a ler para trás, até onde a vista alcança: vocês vão encontrar coisas muito
interessantes, e até escritos meus que eu próprio desconheço, por falta de
registro (tendo sido feitos no próprio blog).
Foi bom enquanto durou, mas tudo o que é bom um dia acaba, como diz
o velho ditado.
Sem cartas de condolências, ou de pêsames, por favor. Mantenhamos a
dignidade do momento, e a solenidade da ocasião...
Um abraço a todos,
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 2379: 1ro abril 2012, 4 p.