O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador relações Brasil-Argentina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador relações Brasil-Argentina. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Novo surto de twitaços anti-argentinos do chanceler acidental

Ernesto Araújo sobre o presidente eleito Alberto Fernández, da Argentina 

Introdução por Paulo Roberto de Almeida 

O chanceler acidental se expressa por twites. Nada contra, se pelo menos eles fossem minimamente coerentes com certa deontologia diplomática, que recomenda nunca ofender os vizinhos, mesmo que você, pessoalmente, possa discordar da filosofia política, da religião, das opções econômicas ou do modo de vestir de seus contrapartes. Representando um país, seria recomendável manter certo recato, discrição, cortesia, gentileza, boa-vontade e predisposição para o diálogo respeitoso e aberto à cooperação, em benefício de milhões de concidadãos que podem não partilhar de sua ideologia ou crenças políticas, e que tiram muito do seu sustento nas trocas comerciais e vários outros tipos de intercâmbios com esses vizinhos.
Ofender vizinhos logo de partida não constitui apenas o mais deplorável comportamento antidiplomático, mas uma simples demonstração de grosseria gratuita, sem qualquer benefício que possa ser alcançado em seu próprio proveito. Trata-se de uma perfeita demonstração de uma daquelas atitudes que o historiador italiano Carlo Maria Cipolla analisou em seu magnífico panfleto sobre As Leis Elementares da Estupidez Humana, ou seja, causar mal aos outros, sem retirar nenhum benefício para si próprio.
Por falar em mal, a referência a “forças do mal” remete a um tipo de discurso teológico ou religioso, que se acomoda muito mal, ou praticamente nada, a uma postura diplomática isenta de vieses ideológicos ou apenas cordata, como soem ser a quase totalidade dos diplomatas profissionais.

Outro registro curioso a ser observado nos twites do chanceler é o seu profetismo apressado, antecipando de imediato — ou seja, sem sequer aguardar alguma declaração formal do presidente recém eleito — que as políticas do futuro governo serão essas descritas: fechamento comercial, economia retrógrada e apoio a ditaduras. Mesmo que os twitaços não tivessem sido feitos em meio a uma tournée diplomática por algumas das ditaduras mais vistosas do mundo, esse profetismo totalmente subjetivo já seria uma terrível ofensa, não apenas aos novos governantes do país vizinho, como à própria inteligência da diplomacia brasileira, que jamais tinha se deixado arrastar a grau tão extremo de descortesia antidiplomática.
O chanceler acidental faria bem se deixasse todas essas grosserias ao próprio presidente, que já se arvorou em juiz universal dos bons comportamentos eleitorais, ao dizer que o povo argentino “escolheu mal”, o que é uma nova agressão gratuita a um povo consciente de sua plena soberania política e sua liberdade de escolha.

O presidente — notoriamente inepto em política externa, senão em todas as demais vertentes das políticas públicas — e o seu chanceler acidental estão cavando um fosso nas relações bilaterais e no âmbito do Mercosul com o nosso mais importante vizinho, depois de já terem isolado o Brasil de uma lista enorme de outros grandes parceiros tradicionais, para não relembrar que ambos já expuseram a diplomacia brasileira ao ridículo universal, com suas atitudes histriônicas e francamente inadequadas, segundo padrões consagrados em nossa história ou num simples manual de boas maneiras, não apenas as diplomáticas.

Os quatro twites do chanceler acidental reproduzidos abaixo constituem, em minha opinião, exemplos execráveis de tudo o que não poderia ocorrer nos anais da diplomacia brasileira, agregando aos muitos registros deploráveis já acumulados no curto espaço de menos de um ano, este que já pode ser classificado de anus horribilis da diplomacia brasileira. Espero que esse espetáculo de horror tenha um fim o mais breve possível.
Paulo Roberto de Almeida 
São Paulo, 28/10/2019

Twites de Ernesto Araújo em 28/10/2019:

1/Não há muita ilusão de que o fernandez-kirchnerismo possa ser diferente do kirchnerismo clássico. Os sinais são os piores possíveis. Fechamento comercial, modelo econômico retrógrado e apoio às ditaduras parece ser o que vem por aí.

2/As forças do mal estão celebrando. As forças da democracia estão lamentando pela Argentina, pelo Mercosul e por toda a América do Sul. Mas o Brasil continuará inteiramente do lado da liberdade e da integração aberta.

3/A esquerda é totalmente ideológica no apoio aos regimes tirânicos da região. Mas, quando se relaciona com as democracias (das quais depende), a esquerda pede “pragmatismo”. Curioso. “Pragmatismo” significa sempre a direita se acomodar aos interesses da esquerda.

4/Seremos pragmáticos na defesa dos princípios e interesses do Brasil: um Mercosul sem barreiras internas e aberto ao mundo, uma América do Sul sem ditaduras.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Politica exterior do Brasil, relacoes com Argentina - entrevista PRAlmeida

Em meados de 2017, recebi em meu escritório um doutorando argentina de uma universidade turca, que fazia uma pesquisa comparativa entre blocos regionais na Ásia Central e no Cone Sul da América do Sul, mais especificamente Brasil-Argentina. A tese deve ser apresentada em inglês, daí as perguntas previamente formuladas, mas toda a entrevista foi conduzida em espanhol, naturalmente.
Abaixo o registro da entrevista, cuja íntegra está disponível na plataforma Academia.edu.

3179. “Política exterior brasileña: depoimento Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 16 outubro 2017, 22 p. Texto transcrito de entrevista concedida a Ariel Gonzaléz; PhD Candidate, Department of International Relations; College of Administrative Sciences and Economics - Koç University. Disponível na plataforma Academia.edu (29/12/2018; link: https://www.academia.edu/38058832/Politica_Exterior_do_Brasil_uma_entrevista_a_doutorando_2017_).

Política Exterior do Brasil: uma entrevista a doutorando

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: depoimento gravado e transcrito em espanhol; finalidade: subsídios a tese de doutorado]
  
Researcher/Interviewer: Ariel González (Koç University, International Relations Department; Graduate School of Social Sciences and Humanities, Istanbul, Turkey)
Interviewed: Paulo Roberto de Almeida; Category: Expert; Director of the BrazilianInstitute of International Relations (IPRI); Alexandre de Gusmão Foundation, Ministry of Foreign Affairsof Brazil)
Research Project
The central empirical reference of this Ph.D. dissertation are the cases of the Central Eurasian, and the South American regional orders in the period 1991-2016, which will be analyzed by answering to two central questions: How these regional orders has managed regional conflict? What is the role of regional institutions in the overall dynamics? The next interview will be focused on the South American regional dynamics from 1991 until 2016, by focusing on Brazil-Argentina relations.


Interview Paulo Roberto de Almeida: 
Mi posición actual, desde agosto de 2016, es como director del Instituto Brasilero de Relaciones Internacionales (IPRI), vinculado a la Fundación Alexandre de Gusmão (Funag). El IPRI se ocupa de encuestas, investigaciones sobre las relaciones internacionales actuales;  hay otro órgano de la Funag, que está en Río de Janeiro y que es el CHDD (Centro de História e Documentação Diplomática). El IPRI tiene una agenda diferente de la agenda diplomática corriente, involucrando temas históricos, discusiones políticas, e invitando personas no necesariamente vinculadas al ministerio, sobre todo personas independientes que pueden venir a exponer su postura. Siempre estamos invitando intelectuales académicos extranjeros o brasileños para venir al IPRI. 

What are the main traditions in the Brazilian Foreign Policy? How it fits with the development of ‘diplomatic lulopetismo’ during the PT’s rule?
"Lulopetismo diplomático" es un término que utilicé esencialmente para describir los 13 años de dominio del PT sobre la política exterior de Brasil, aunque estrictamente fueron los 8 años de Lula. Después, bajo su sucesora, Dilma Roussseff, de 2011 a mayo de 2016, las políticas publicas se ha deteriorado en su la calidad, debido a la implementación de políticas erráticas. Lula teníaun rol mucho más de estadista que Dilma Rousseff que era mediocre en todas las cosas, sea política económica, sea diplomacia. Pero la política externa estuvo de alguna manera vinculada a los grandes temas, opciones, preferencias, ideas del PT, porque durante los 13 años y medio estuvo el mismo asesor presidencial para RRII en el palacio presidencial, Marco Aurelio Garcia, que murió en septiembre 2017.
Él fue un tipo identificado con la antigua izquierda trotskista en Brasil que después se "cubanizó" por cuestiones propias del exilio, de las relaciones, de la debilidad del trotskismo en Brasil. Él se ha vinculado al PT desde el inicio (1980); el PT tiene 3 bases principales, humanas, políticas e ideológicas. En primer lugar, hay el componente sindical, partiendo del sindicalismo alternativo de los años 70, contra la inflación, las condiciones salariales, la represión, y que después se ha transformado en el sindicalismo "mainstream". El sindicalismo en Brasil es como en Argentina, mafioso. Es un negocio, pero se ha instituido de manera mucho más sofisticada en Argentina, lo que se llamaba "República sindical", algo que era muy temido si se reproduciera en Brasil, por las oligarquías, por los industriales liberales, por los militares. La "República sindical" fue una de las amenazas que se presentaban en Brasil en los años 60, y por eso los militares dieron el golpe en el 64. Con la llegada de Lula al poder, volvió la “república sindical”, muy corrupta, muy mafiosa, pues todos los sindicatos queganan plata del ministerio del Trabajo, o tienen sus maneras de evadir a los órganos de control. 
Hay otro componente que en el caso del PT es muy importante para la política externa, lo que yo llamo los "guerrilleros reciclados". En Brasil, durante la dictadura militar, hubo pocos muertos, muchos torturados, algunos desaparecidos, pero mucha gente fue al exilio o se quedó en prisión por algún tiempo. Volvieron todos y se reincorporan a la vida política a partir de la amnistía al final del gobierno militar en el 79; estos son los que yo llamo guerrilleros reciclados. No eran los viejos comunistas que continuaron en el partido hasta que se fragmentó al final del socialismo; eran los guevaristas, los fidelistas, algunos maoístas, la extrema izquierda que fue a la lucha armada, militantes que volvieron para integrar la lucha política pero que preservaron su espíritu leninista, conspirativo, del aparato del revolucionario profesional. Este elemento es muy importante porque es el que conformó el partido como organización. No digo que el PT es un partido ‘neo-bolchevique’,porquelos sindicalistas tienen sus pretensiones políticas, algunos se destacan en la vida política y el caso del PT es el único en que algunos grandes sindicatos como los bancarios, metalúrgicos y otros sobre todo con la CUT ilegal en la legislación anterior y aún hoy, es el único núcleo sindical que estuvo adentro de un partido y lo controla en parte. La otra parte es controlada por estos guerrilleros reciclados, gente que ya tenía una vida partidaria de la guerrilla, del exilio en Cuba, Méjico, Chile, Europa, Argelia, y muchos no han abandonado su espíritu revolucionario de los años 60, y sobre todo no han abandonado la voluntad de vengarse de los militares. 
El tercer componente no tiene importancia política en el partido, pero tiene importancia política electoral. Es un poco formado por estas masas de pobres urbanos, trabajadores de clase media baja, muy movilizados por concepciones de la teología de la liberación, la iglesia progresista católica de izquierda como la JOCB, la juventud de estudiantes católica, la CNBB creada en los años 50. Los cristianos de izquierda constituyen una amplia base electoral, la masa de maniobra del PT.
Hay un cuarto componente, pero de naturaleza diferente, que es la categoria que yo llamo “académicos gramscianos”; como sabemos, en América Latina están en las facultades de humanidades, en casi todas las universidades; son marxistas, o seguidores de la Escuela de Frankfurt, de izquierda, progresistas, socialistas, pro-cubanas, antiimperialistas, antiamericanas, lo que sea. Este gramscianismo académico platicó una espécie de revolución cultural, o sea, la penetración a los órganos de la información, y todo eso es muy evidente en Brasil, en el aparato educacional. Desde los años 60, mismo durante el gobierno militar, con ideologías supuestamente de derecha, con un gobierno conservador, todo el aparato educacional de Brasil era pro marxista, con base en la pedagogía de Paulo Freire: los "petistas" lo han hecho patrón de la educación brasileña. Era un maoísta ignorante en varias cosas, pero supuestamente profesor de izquierda que ha elaborado algunas tesis sobre la “pedagogía del looprimido”. Es un poco el maoísmo adaptado a la clase de alfabetización. Este freirismo es la base de toda la educación brasileña y ha influenciado la enseñanza en las últimas 4-5 décadas. Toda la educación,yno exclusivamente la pedagogía, toda la enseñanza de la historia de Brasil, en las ciencias sociales, dominan concepciones muy ingenuas de economía, que tiene poco que ver con el "mainstream economics" de las facultades anglosajonas; tienen que ver bien más con la economía política latinoamericana: prebischiana, cepaliana, las oposiciones entre centro-periferia, norte-sur, necesidad de desarrollo, proteccionismo, integración, deterioro de los términos de intercambio, etc.Todo esto es una ideología típica de la izquierda y todo eso hace parte del PT. Hago esta introducción para comprender el universo mental en que ellos trabajan.
(...)