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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

25 fundamentos do socialismo cubano - Henrique Rossi

As 25 proibições mais absurdas em Cuba

   
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Neste artigo vamos apresentar uma lista de 25 proibições mais absurdas que os Cubanos sofrem.

Vale ressaltar, que o Governo Socialista de Cuba aplica muitas destas apenas aos cidadãos cubanos, não se aplicando aos turistas estrangeiros e estrangeiros que vivem na Ilha.

1. Os cubanos são proibidos de acessar a internet em suas casas ou telefones celulares.

ETECSA é o monopólio estatal de telecomunicações em Cuba. Segundo sua política empresarial, o serviço de internet em casas não é permitido a cidadãos cubanos. É exclusivo para empresas estatais e estrangeiras, e também para estrangeiros que residem no país.

Segundo o site da empresa socialista, é estabelecido que:

“O serviço de acesso a internet é oferecido a pessoas jurídicase a pessoas estrangeiras com residencia temporária ou permanente em Cuba. Por enquanto este serviço não está disponível para pessoas naturais de Cuba, (…) nem ao setor residencial cubano.”

2. Construir embarcações turísticas

Não existe uma lei que proíba aos cubanos de construir embarcações, porém, as autoridades aplicam esta restrição há muitos anos. Segundo Cubatur (agência estatal de viagens), “Aos cubanos – onde quer que vivam – não é permitido a eles vender pacotes que incluam passeios de catamarã ou outros barcos de turismo. Este reservado apenas aos turistas estrangeiros”.

O Departamento Nacional de Capitania estabelece que nenhum cubano está autorizador a navegar em Cuba, a única exceção é para aqueles casados com cidadãos de outros países, mas que estes devem solicitar autorização previamente.”

Recentemente, depois da nova política de Barack Obama em relação a Cuba, a companhia Cuba Cruise está permitindo que americanos viagem em Cruzeiros Marítimos a Cuba, porém, nenhum cubano (sem visto ou passaporte americano) tem sido autorizado a embarcar neste ou outro qualquer outro cruzeiro, devido a restrição que há décadas é imposta pelo Governo de Cuba a população.

3. Contratar serviço de televisão a cabo

A empresa socialista Telecable, (CIMEX), é a única que oferece televisão a cabo e este serviço é exclusivo para instalações turísticas, diplomáticas, para empresas estrangeiras e a estrangeiros residentes em Cuba. Telecable oferece uma grade de canais internacionais como CNN, Discovery, HBO, Ritmoson Latino, ESPN… A população cubana, pelo simples fato de ser cubana não pode ter acesso a este serviço e deve consumir unicamente os canais nacionais estatais.

4. Viver em Havana sem permissão

Pode alguém de São Paulo viver no Rio de Janeiro? Ou, uma pessoa de Los Angeles pode viver em Washington DC? A resposta é óbvia para nós. Mas em Cuba: Pode alguem de Bayamo viver em Havana? A resposta é Não, se não tiver permissão para isso.

O Decreto-Lei 217, de 22 de abril de 1997, sobre “Regulamentos Migratórios Internos para Cidadãos de Havana” estabelece que pessoas de outras províncias não podem viver na capital sem um documento “transitório”, uma autorização concedida pelos escritórios de registro de identidade do Ministério do Interior.

Certamente, este Decreto Cubano viola o artigo 13.1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado”

5. Matar uma vaca

Inacreditável, mas é verdade. Em Cuba está proibido e passível de pena matar uma vaca, segundo o Decreto 225 de 1997 de “Contravenções pessoais dos regulamentos para o controle e registro de bovinos” que proíbem expressamente o abate de bovinos.

Esta carne está reservada exclusivamente para ser consumida por turistas e é vendida unicamente em moeda estrangeira (dólar, euro).

6. Manifestar-se

A Constituição de Cuba (1976) reconhece o direito a manifestação, porém que se utilize os “meios corretos para isso”, e o Código Penal, em seu artigo 209 diz que “Comete um delito contra a ordem pública quem participa de reuniões e manifestações que violam as disposições que regem o exercício de seus direitos”

Porém, durante os últimos 39 anos da Constituição de 76, não foi redigida ou incluída nenhuma lei que regule o exercício deste direito em Cuba. Isso é uma inconstitucionalidade da Assembléia Nacional que falha no seu dever de legislar.

Ou seja, o código penal de Cuba te castiga se você não se manifestar de acordou com a Lei, porém, ironicamente não existe nenhuma lei que regule como se deve manifestar.

De novo, Cuba viola a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhece em seu artigo 20.1 que: “Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas”.

7. Ter dupla cidadania

Diz a própria Constituição de Cuba em seu artigo 32: “Não se admite a dupla cidadania. Em consequência disso, quando se adquire uma cidadania estrangeira, perde-se a cubana. A lei estabelece o procedimento que deve ser seguido para a formalização dessa ‘substituição’ e quais são as autoridades competentes para formalizar essa decisão”

Apesar disso, o imigrante cubano portador de outra cidadania é obrigado a tirar um passaporte cubano (e pagar os custos corresponderes) para poder entrar em Cuba.

8. Proibidos partidos políticos

Ainda que a Constituição de Cuba permita a todos os cidadãos serem eleitos, a mesma carta magna deixa explícito em seu artigo 62 que: “Nenhuma das liberdades reconhecidas aos cidadãos pode ser exercida contrária ao estabelecido na Constituição e nas leis, nem contra a existência e interesses do estado socialista, nem contra a decisão do povo cubano de construir o socialismo e o comunismo. A infração desde princípio é passível de punição” 

A Constituição também declara que “O Partido Comunista de Cuba, Marti e Marxista-Leninista, é a força dirigente superior da sociedade e do Estado, que organiza e orienta os esforços comuns e objetivos no progresso do socialismo e avanço da sociedade comunista.”

Portanto, qualquer partido político que não seja o PCC está passível de punição pela Lei.

9. Investir em empresas grandes e médias

A Lei 188, de investimento estrangeiro, regula os investimentos em Cuba de pessoas e empresas estrangeiras, assim como de pessoas jurídicas cubanas que invistam de forma conjunta com estrangeiros. Mas não se fala em nenhum momento de pessoas naturais de Cuba que tenham o direito de investir em Cuba.

A única possibilidade para o cubano que queira ser empresário é de se se tornar um “cuentapropista“* (profissional independente, dono de um pequeno negócio), mas este deve ser autorizado pelo Governo e em algumas poucas atividades permitidas como: pedreiros, cabeleireiros, vendedor ambulante de alimentos, lenhador, massagista, faxineiro de banheiros públicos.

*Os “cuentapropista” geralmente são do setor informal da economia Cubana, trabalham por conta própria. Em sua grande maioria são homens que desenvolvem atividades no setor agropecuário e de serviços e mulheres do setor de pequenas vendas e serviços.

10. Importar microfones sem-fio, walkie talkies e equipamentos de comunicação via satélite.

A Resolução 10 de 2006 diz em seu parágrafo segundo que as pessoas que desejam importar microfones sem-fio, walkie talkies, equipamentos de comunicação via satélite… “necessitam uma prévia autorização de entrada no país e uma licença ou permissão que assegure sua instalação, exploração e funcionamento, ambas emitidas pela Agência de Controle e Supervisão do Ministério de Informática e Comunicações” e para que ninguém fique muito iludido, a resolução é clara: “a apresentação desta solicitação de autorização não significa necessariamente que ela será concedida”.

11. Convidar um estrangeiro a passar a noite em sua casa

Para um cubano, convidar um estrangeiro para passar a noite em sua casa não é algo tão simples como parece. Os estrangeiros que escolham se hospedar em casa de amigo que possua um local não autorizado para o aluguel (segundo o Decreto-Lei nº 171 / 1997 de 15 de mayo, “sobre o aluguel de casas, quartos ou espaços”), ou que não pagaram pelo aluguel, devem viajar com Visto de Turista, mas uma vez que se encontrem em Cuba deverão solicitar alteração para um visto do tipo Familiar (A-2) na Direção de Imigração e Estrangeiros (DIE) do município onde vai residir.

Se a polícia ou as autoridades de imigração encontram um estrangeiro dormindo sem autorização em uma habitação de um cubano, o proprietário da casa pode ser severamente multado.

12. Vender lagosta e camarão

Você quer vender lagosta ou camarão em Cuba? Sinto muito, só o Estado pode fazer isso e os estrangeiros, é claro!

O artigo 51 do Decreto-Lei 164 “Regulamentos da Pesca” estabelece as seguintes multas a qualquer um que “Capture, desembarque ou comercialize as seguintes espécies destinadas exclusivamente para a pesca comercial:

a) langosta e siri, de 500, até 5000 pesos;
b) camarão, de 50 até 5000 pesos.”

Mas o artigo 26 do mesmo decreto ainda diz que: “O uso de pesca comercial só pode ser efetuado pelas entidades subordinadas ao Ministério da Indústria da Pesca ou entidades autorizadas por este, ou por pessoas e empresas estrangeiras autorizadas pelo Comitê Executivo do Conselho de Ministros”.

13. Ficar mais de 2 anos fora de Cuba

Segundo a lei vigente de Imigração, um cubano pode ficar até 2 anos fora da ilha antes de ser considerado “imigrado” pelas autoridades cubanas. Depois desse período fora do território nacional sem uma justificativa aprovada, o cidadão cubano perde seus direitos em Cuba incluindo o de residir por lá.

14. Dar carona a um estrangeiro em um carro particular

A polícia cubana pode multar ou apreender o veículo se um cidadão cubano sem licença de táxi, dar carona a um estrangeiro. Não existe uma lei explícita que proíba, mas as autoridades assumem que um estrangeiro em um veículo cubana é sinônimo de enriquecimento ilícito.

15. Trazer 25 unhas postiças do exterior

A recente Lei Aduaneira de Cuba estabelece exaustivas proibições sobre os bens que podem ser trazidos do exterior para a ilha. Limitações ridículas colocam dificuldades na hora de trazer a Cuba artigos que não podem ser encontrados dentro do país. A resolução aduaneira 206, em seu artigo 5 explica que “A autoridade aduaneira confiscam valores que excedam o limite estabelecido na presente resolução…” E no caso das unhas artificiais, o limite é de 24.

16. Educar seus filhos de forma alternativa a estabelecida

Em 1959, o Governo nacionalizou as instituições acadêmicas e criou um sistema operado exclusivamente pelo Estado.

A Constituição cubana diz que a educação em Cuba se fará conforme o “Ideal marxista” onde se promoverá a “formação comunista”.

O método educativo em Cuba é um só, salvo para filhos de estrangeiros e que possam entrar em uma escola internacional, onde não existe a formação ideológica, ainda que esta também seja estatal.

17. Possuir um sistema de saúde diferente do estatal

Em 1959, o Governo de Cuba estatizou também a saúde. Não são permitidas alternativas ao setor de saúde estatal. Existe um hospital em Havana chamado Cira García com boa qualidade, higiene e bons médicos onde exclusivamente atendem a estrangeiros, mas igualmente é um centro médico estatal.

18. Trazer doações a Cuba

Para o envio de doações ou donativos a Cuba, é necessária uma Autorização para Importação (AI).

O beneficiário deve fornecer informações e apresentar algumas documentações necessárias para a Empresa executora de Donativos (EMED), do Ministério do Comércio Exterior, a fim de obter as garantias e cumprir os requisitos para a formulação do pedido de autorização para importação.

Se este pedido for aceito, a EMED emite a Autorização e o beneficiário é informado.

Por exemplo, se um estrangeiro trouxer em sua mala medicamentos para serem doados a um hospital e os declara como doação, estes serão confiscados no aeroporto.

19. Pertencer a um sindicato independente

O Convênio 87 da Organização Internacional do Trabalho (ILO), parte da ONU, diz: “os trabalhadores… sem nenhum distinção e sem necessidade de autorização prévia, tem o direito de constituir organizações que estimem conveniente, assim como se filiar a estas organizações”

Mas em Cuba, mais uma vez, pouco importa o que a ONU diz. O Decreto-Lei 67, da Organização da Administração Central do Estado, em seu artigo 61, “confere ao CTC (Partido Comunista de Cuba) a representação legal e institucional dos trabalhares cubanos”

Na Lei 49, Código do Trabalho, os artigos 15 e 16 fazem referência explícita “a existência e filiação de trabalhadores ao CTC e a seus Sindicatos Nacionais”, não deixando portas abertas a sindicatos não vinculados ao CTC.

20. Criticar os Governantes

As empresas socialistas cubanas incluem em seus contratos com os trabalhadores, em letras minúsculas, o seguinte trecho: “é proibido criticar ou contradizer aos diretores da empresa e aos líderes do país”.

21. Transportar alimentos de uma província a outra

As malas dos viajantes são continuamente revistadas pela polícia em trens, ônibus, carros particulares, bicicletas ou qualquer outro meio de transporte que cruza os pontos de controle ou fronteiras de províncias.

Poderíamos pensar que isso é uma forma da polícia inibir o transporte de armas, drogas ou outros produtos ilegais mas o que a polícia confisca é café, carne, verduras, pão, entre outros produtos. E o confisco acompanha uma multa. A desculpa oficial do Governo é “O enriquecimento ilícito por comercializar produtos liberados”.

22. Voltar a viver em Cuba depois de emigrar

Você vive fora do seu país e deseja voltar a sua pátria? Não, o Estado Cubano decide quem tem esse direito e quem não.

Desde janeiro de 2013, todas as saídas de Cuba se fazem com uma permissão de permanência no estrangeiro de até 24 meses, independente do tipo de visto que se obtenha. Depois dos 24 meses, se não for solicitada (e autorizada, principalmente) uma permissão de residência no exterior, as autoridades cubanas declaram que a pessoa se tornou “emigrada”

E para que um “emigrado” possa voltar a Cuba é necessária uma autorização e para isso é preciso apresentar uma solicitação perante os organismos competentes. Apenas quando receber o passaporte cubano com um selo de emigrante, é que o cidadão cubano tem o direito de visitar e voltar a pisar na ilha.

23. Organizar qualquer atividade esportiva ou artística sem permissão do Governo

Os eventos esportivos e culturais estão proibidos sem uma prévia autorização do Governo cubano. Realizar algum destes sem uma dita autorização pode ser considerado uma provocação, tendo como resultado a prisão de seus organizadores e participantes. Um exemplo recente ocorreu com Tania Bruguera em 30 de dezembro de 2014. Ela teve seu passaporte devolvido apenas em Julho de 2015, conforme noticiado pela Folha.

24. Existir meios de comunicação privados

A Constituição de Cuba, em seu artigo 53, estabelece que: “a imprensa, a rádio, a televisão, o cinema e outros meios de difusão em massa são de propriedade estatal ou social, e não podem, em nenhum caso, ser de propriedade privada.”

25. Distribuir informações vindas do Governo dos Estados Unidos, agências ou entidades particulares.

O Controle da informação é um trabalho minucioso realizado pelo Governo Cubano e pelas equipes de inteligência. Qualquer informação que circule em Cuba que não seja previamente aprovada pelo Partido Comunista é considerada ilegal e seus difusores podem enfrentar processos criminais.

Segundo o artigo 11 da Lei 88 de Proteção da Independência Nacional e a Economia de Cuba (Lei Mordaza), “Qualquer um (…) receber, distribuir ou participar da distribuição de recursos financeiros, materiais ou não, por parte do Governo dos Estados Unidos da América, ou de suas agências, departamentos, representantes, funcionários ou entidades privadas, será punido com prisão de três a oito anos ou uma multa de três mil pesos ou ambas”.

Como dizem os Cubanos: “Y lo que no es prohibido es obligatorio.” (E o que não é proibido é obrigatório).

Artigo Original Publicado em Yusnaby.com [em espanhol]
Tradução e Adaptação por Henrique Rossi

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Como foi bom o meu Impeachment - Reinaldo Goncalves

Texto para Discussão 003| 2016
Discussion Paper 003 | 2016

Interrupção de presidências, reequilíbrio e bônus macroeconômico
Lições da América Latina para o impedimento de Dilma Rousseff

Reinaldo Gonçalves
Professor Titular, Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

This paper can be downloaded without charge from:

http://www.ie.ufrj.br/index.php/index-publicacoes/textos-para-discussao

Resumo
Impedimento interrompe e reverte o processo de desequilíbrio decorrente de crises políticas. Com o impedimento inicia-se um processo de reequilíbrio que implica, entre outros fatores, o fortalecimento do regime democrático e o melhor desempenho econômico. A evidência para a América Latina indica um "bônus macroeconômico" em consequência da elevação da taxa de crescimento da renda, da queda da taxa de desemprego, e dos ajustes das finanças públicas e das contas externas. A redução da Inflação e o aumento do investimento são processos mais lentos devido à inércia inflacionária e ao ajustamento do hiato do produto, respectivamente. No início de 2016, na medida em que pelo menos dois terços das causas mencionadas na literatura podem ser identificadas, a situação brasileira aponta para o impedimento de Dilma Rousseff.

Palavras-chave: Interrupção de presidências; América Latina; efeitos positivos; impacto macroeconômico; impedimento de Dilma Rousseff.

Interruption of presidencies, reequilibrium and macroeconomic bonus. The lessons from Latin America for the impeachment of Dilma Rousseff

Abstract
Impeachment causes the standstill and rollback of the disequilibrium that stems from political crises. Impeachment brings about a re-equilibrium that implies, among other factors, the strengthening of democracy and the better economic performance. The evidence for Latin America shows that there is a "macroeconomic bonus" as a result of an increase of the rate of income growth, a fall of the unemployment rate, and the adjustment of the public finances and the external accounts. The reduction of inflation and the increase of investment are slower processes due to inflationary inertia and adjustment of the product gap, respectively. At the beginning of 2016, insofar two thirds of the causes identified in the literature may be found, the situation points out the impeachment of Dilma Rousseff.

Key-words: Interruptions of presidencies; Latin America; reequilibrium; positive effects; macroeconomic impact; impeachment of Dilma Rousseff.

IE-UFRJ DISCUSSION PAPER: GONÇALVES, TD 003 - 2016. 4

Introdução
O objetivo geral desse artigo é examinar a hipótese de que interrupções de presidências têm impacto positivo. A ideia central é que há procedimentos, como o impedimento (impeachment) do presidente, que são instrumentos constitucionais de resolução de crises de governo. Essas crises estão, frequentemente, associadas às crises sistêmicas (ética, social, econômica, política e institucional). O objetivo específico é examinar a hipótese de que nos anos subsequentes ao impedimento há um processo de reequilíbrio que envolve "bônus macroeconômico". Esse bônus é decorrente do crescimento econômico, da queda da taxa de desemprego, e dos ajustes das finanças públicas e das contas externas após o impedimento.

O texto está dividido em 3 seções. Após essa introdução, na seção 1 apresentam-se os fundamentos conceituais e analíticos básicos. Nessa seção discutem-se: (i) tipologia de mecanismos de interrupção de governos em distintos regimes e sistemas políticos; (ii) tipologia de causas de presidências interrompidas; e (iii) consequências de processos de interrupção de presidências. Essa seção propõe, ainda, um exercício de identificação de causas para o impedimento de Dilma Rousseff em 2016. A seção 2 examina empiricamente o desempenho macroeconômico dos países após a interrupção de presidências na América Latina no período pós 1985. O painel inclui 15 situações de interrupção de presidências em sistemas democráticos em 9 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela).

Encontro Nacional da Associacao Brasileira de Estudos de Defesa, Flops, 6-8/07/2016

Prezados Associados,

Está no ar o site do IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa:
"Forças Armadas e Sociedade Civil: Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século XXI"!

O IX ENABED acontecerá em Florianópolis, no campus da UFSC, entre os dias 06 e 08 de julho de 2016. Acesse já o nosso site para a chamada de trabalhos, cronograma de inscrições e informações gerais das áreas temáticas.

Diretoria ABED (2014-2016)
http://www.enabed2016.abedef.org/

Varnhagen na Brasilia (Jose e Gita Mindlin) da USP - livros disponiveis

Pesquisando para escrever meu trabalho sobre o pensamento estratégico de Varnhagen, e portanto relendo suas obras fundamentais, fui levado a examinar suas primeiras edições.
Obviamente que a Brasiliana dos Mindlin, hoje na USP, se coloca na vanguarda de todos os recursos disponíveis ao pesquisador, uma vez que a Biblioteca Nacional (por acaso pública?) não consegue se modernizar com tal rapidez.
Um levantamento de Varnhagen apenas como autor, resultou nesta lista, disponível neste link:

http://www.brasiliana.usp.br/search?filter=Varnhagen&filtertype=author_t&submit_search-filter-controls_add=Buscar

Adelante, pesquisadores, pesquisai.
Paulo Roberto de Almeida


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Corrupção no Brasil: desmorona o castelo de mentiras petralhas


O manancial de mentiras lulopetistas e petralhas (são fenômenos diferentes) chegou ao seu limite, graças à  Lava Jato. Já não era sem tempo. 
Na China comunista é conhecido o fenômeno dos "princelings", isto é, os filhos e netos dos companheiros de Mao que aproveitam a posição dos pais e avôs na hierarquia do Partido e do Estado para enriquecer à base de corrupção. Não é diferente entre os nossos comunistas-capitalistas. 
Paulo Roberto de Almeida 
 

Delator vai entregar Lula: “Sofri pressão para ajudar o filho do ex-presidente”

 

Chegou o carnaval e começa a cair a máscara do 'chefão'

Segundo a imprensa, o presidente licenciado da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, decidiu revelar em delação premiada informações sobre a sociedade entre a antiga Telemar e a Gamecorp, empresa que tem como sócio o filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luís Lula da Silva.

 

Três anos depois de fechar o negócio, Lula teria alterado a legislação para permitir que a Telemar/Oi se fundisse com a  Brasil Telecom.

 

Azevedo deverá dizer que a Telemar, que tinha a empreiteira entre seus controladores, comprou 30% da Gamecorp “a pedido de Lula”. E AGORA?

 

Em relato a seus advogados, Azevedo teria dito que após a mudança na lei, sócios da Gamecorp e integrantes do governo passaram a exigir mais ajuda financeira da Andrade Gutierrez.

 

A empreiteira então, por meio da Oi, teria passado a contratar serviços desnecessários da Gamecorp, estabelecendo “um canal permanente de repasse de dinheiro” para Lulinha e seus sócios, entre eles Fernando Bittar e Jonas Suassuna, donos do sítio em Atibaia reformado pela Odebrecht e frequentado pela família de Lula.

 

Revista Veja       


O Brasil vai continuar estagnado? Vai voltar a crescer. Depende! - Marcos Troyjo

O Brasil e a sabedoria do Mestre Zen

País está fadado à mediocridade? Mestre Zen responde: "depende"

MARCOS TROYJO

 Folha de S. Paulo, Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016


O início do semestre letivo nas universidades norte-americanas é marcado por uma série de atividades multidisciplinares.

Numa delas, há alguns dias, na Universidade Columbia, onde leciono relações internacionais, sentei-me ao lado de uma colega professora da Escola de Saúde Pública.

Não nos conhecíamos – ela é nascida na Ucrânia, mas residente nos EUA desde que concluiu seu doutorado em neurologia. Eu sou brasileiro.   

Ela então me perguntou: “há alguns anos seu país pareceria destinado à grandeza, mas agora vocês estão passando por percalços de toda ordem. Você acha que o Brasil ainda é uma nação emergente?”

Meu primeiro impulso foi o de dizer “sim”.

Para sustentar tal resposta, a primeira narrativa que me passou pela mente foi a de que em fins de 2002 havia em todo o mundo uma espécie de “brasilfobia”.

Ante o temor de uma vitória de Lula nas eleições daquele ano, o risco-país havia superado 2.500 pontos.

E não eram poucos os que achavam que o Brasil, antes mesmo do pleito presidencial de outubro, entraria em graves dificuldades financeiras – de consequências politicas frangmentárias –, à semelhança do que ocorrera com a Argentina naquela época.

Nunca é demais lembrar que, no cerne do que se convencionou chamar de “Grande Depressão” argentina, a Casa Rosada acomodou quatro diferentes presidentes de dezembro de 2001 a maio de 2003.

No Brasil, já em 2009, boas políticas macroeconômicas, mobilidade social, crescimento acima da média mundial, petróleo pré-sal, pujança no agronegócio exportador, sediar Copa do Mundo e Olímpiada etc inspiravam em todos uma verdadeira “brasilmania”.   

Por essa lógica, o atual desalento com o Brasil poderia ciclicamente ser revertido. Essa mesma mecânica de pensamento, no entanto, pode apontar que o Brasil jamais conseguirá emergir.

Apenas para ficar na história dos últimos 50 anos, resta claro que nossos arranques de crescimento econômico e de importância relativa no cenário internacional são contrarrestados por corrupção, incompetência administrativa, populismo, elites disfuncionais e, sobretudo, um brutal déficit de estratégia nacional.

Para então responder à minha colega professora se o Brasil continuaria a emergir, preferi mandar um “depende”.

Inspirei-me, para tanto, num dos diálogos do filme “Jogos do Poder” (Charlie Wilson’s War, 2007). O longa-metragem retrata a atuação de um parlamentar do Texas nos anos oitenta para levantar recursos em prol dos guerreiros “mujahedin” contra a ocupação soviética do Afeganistão.

No contexto da Guerra Fria – um jogo de soma zero – fazia todo sentido a Washington buscar maneiras de desmoralizar e derrotar Moscou.

No filme, após suas iniciativas de financiar a compra de armas para os mujahedin terem sucesso e a União Soviética anunciar que abandonaria o Afeganistão, o protagonista (interpretado por Tom Hanks), comemora o “êxito” junto a um dos que ajudaram na empreitada, um funcionário da CIA (papel de Philip Seymour Hoffman).

Este último, no entanto, se manifesta contra assumir atitudes autocongratulatórias. 

Os objetivos mais profundos dos EUA não deveriam simplesmente limitar-se a desancar a URSS, mas evitar que aquela região do mundo se tornasse foco de intolerância e ódio antiocidental.

Foi exatamente o que aconteceu com a tomada do poder por parte do Talebã e a subsequente imersão da região em profundas trevas.

O funcionário da CIA conta ao parlamentar texano que, num distante vilarejo em tempos remotos, alguns aldeões informam ao Mestre Zen que um dos garotinhos ganhara um cavalo de aniversário. “Não é um maravilhoso presente?”, perguntam, a que o Mestre Zen responde: “depende”.

Passado algum tempo, o menino cai do cavalo e quebra a perna. Todos acreditam então que o cavalo é uma maldição e, ao buscarem o parecer do Mestre Zen, ouvem o sábio afirmar: “depende”.

De repente, aquele vilarejo entra em guerra contra outra tribo. Graças à contusão, o menino não é convocado para a batalha. Todos creem então que o cavalo era uma benção disfarçada, a que o Mestre Zen comenta: “depende”.

Para muitos, as atuais agruras alimentadas pelo lulopetismo relegam o Brasil à perpétua mediocridade. As amputações institucionais e o legado de incompetência conferem ao Brasil associação vitalícia ao subdesenvolvimento. Bem, “depende”.

Para tantos outros, o processo de depuração da coisa pública que hoje se faz por meio sobretudo da Operação Lavajato constitui um verdadeiro “refundar” do país. Ora, “depende”.     

Os equívocos do período Lula-Dilma em economia e política exterior, acrescidos da corrosão moral que se alastrou no país, dão ao Brasil futuro uma verdadeira aula magna sobre o que “não fazer”.  

Os bônus em termos de lisura, transparência e respeito na condução dos assuntos de Estado e na gestão de empresas públicas que certamente resultam  da Lavajato ajudam a aprimorar o país.

Indagado sobre o futuro do Brasil, o Mestre Zen aplaudiria evitar os erros do estado-capitalismo e a adoção de ações jurídicas que curam e firmam exemplo.  

Tais realizações não bastam, contudo, para retomar a trajetória de crescimento que pode conduzir o Brasil ao núcleo das nações mais dinâmicas do século 21.

O Mestre Zen diria que o Brasil depende do que os brasileiros fizerem agora. E o sábio provavelmente perguntaria: “vocês têm um plano para o caminho adiante?”

mt2792@columbia.edu

@MarcosTroyjo

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2016/02/1736325-o-brasil-e-a-sabedoria-do-mestre-zen.shtml


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Grande Destruicao, vista por Ilan Goldfajn (OESP)

Queda de arrecadação, muito além do PIB
ILAN GOLDFAJN*
O Estado de S. Paulo, 2 de Fevereiro de 2016

Desde 2011 o crescimento econômico vem desacelerando no Brasil, mas nos anos de 2015 e 2016 é que a economia terá a pior recessão da sua história. A situação fiscal também tem piorado, mas tornou-se ainda mais dramática desde o ano passado. Com a recessão e a queda da arrecadação, vários entes públicos estão com dificuldade para fechar o mês. O problema fiscal virou uma crise difícil de administrar. O que houve?
Infelizmente, nada que não soubéssemos que poderia ocorrer. O fim do ciclo de commodities aliado às incertezas causadas pelas políticas domésticas provocaram a queda contínua do investimento e a desaceleração do PIB. Mas foi preciso a desaceleração da atividade alcançar o mercado de trabalho e impactar o consumo e o setor de serviços para que atingisse em cheio a economia e provocasse a atual recessão.
Não faltaram alertas de que a fraqueza do PIB, a queda da indústria e a redução do investimento acabariam afetando o desemprego e a renda. Mas havia a esperança de que o Brasil tivesse descoberto uma forma de o mercado de trabalho dissociar-se da criação de valor medido pelo PIB.
O fato de a crise atingir o mercado de trabalho tem consequências. Em primeiro lugar, a piora do mercado de trabalho provoca a segunda rodada da recessão. Com queda de emprego e renda, cai a massa salarial real, reduzindo o consumo. As vendas sofrem, a produção tem de diminuir mais ainda e as demissões seguem. O círculo vicioso aprofunda a recessão. Em segundo lugar, a piora do mercado de trabalho torna o problema fiscal mais grave diretamente.
Há um diagnóstico muito claro de que o problema fiscal do Brasil tem raízes conjunturais, mas também estruturais pelo lado dos gastos. Houve um excesso de gastos e subsídios nos últimos anos, que transformou um superávit primário de 3%, 4% do PIB no início da década em quase -2% no ano passado. A tentativa de corrigir essa piora esbarra em dificuldades políticas, mas também de ordem estrutural. Boa parte das despesas é de natureza obrigatória e de difícil compressão no curto prazo. Há um conjunto de benefícios que não cabem mais no PIB. O exemplo mais claro são as despesas da Previdência. A aposentadoria média em torno de 55 anos de idade não encontra paralelo no mundo. Na ausência de correção de rumo, o déficit primário no Brasil deve piorar 0,3% a cada ano, elevando continuamente a dívida do governo. É necessário instituir uma idade mínima de aposentadoria para corrigir essa tendência insustentável.
O problema dos gastos crescentes no Brasil é da maior importância, até porque deve conviver com um período mais prolongado de fraca arrecadação pública. No ano passado, a queda de arrecadação foi o principal problema do governo federal, dos Estados e municípios. Sem receitas, os entes públicos têm tido dificuldades crescentes para pagar seus compromissos, alguns mesmo para pagar a folha, manter hospitais e outros serviços básicos.
Está claro que o aprofundamento da recessão é a causa principal da crise de arrecadação. Não haveria como escapar da pior recessão da História no Brasil.
Mas o fato de o mercado de trabalho ter sido atingido nesta crise tem tido impacto duplo sobre as contas públicas, talvez ainda não completamente entendido. O impacto mais óbvio é que a perda de emprego e renda aprofunda a recessão e tem impacto maior na arrecadação.
Mas muitos analistas estão surpresos que a arrecadação esteja caindo muito além do PIB (mesmo levando em conta que o PIB caiu quase 4%). Como se a sensibilidade da arrecadação ao PIB tivesse aumentado bem agora, no meio da recessão. Os economistas calculam que a elasticidade (impacto do PIB na arrecadação) está muito maior que o histórico. Consideram haver uma “quebra estrutural” nessa relação que não conseguem entender.
Uma tese recente de Luka Barbosa (orientada por Gino Olivares no Insper) mostra que não está havendo quebra estrutural na arrecadação. O que acontece é que a arrecadação depende muito mais da massa salarial e das vendas no varejo que do PIB, e essas variáveis estão recuando mais fortemente que o PIB (cerca de 10% em termos reais): 43% da arrecadação depende da massa salarial e 30%, das vendas.
Olhando o comportamento histórico (e mais recente) fica evidente a relação da arrecadação com o recuo na massa salarial formal e nas vendas no varejo. A elasticidade histórica (e mais recente) é unitária (para cada 1% de queda desses itens, a arrecadação também cai 1%).
Em suma, a fraqueza do mercado de trabalho e, portanto, das vendas tem causado outro efeito menos evidente nas contas públicas: atinge a arrecadação de forma mais potente que o próprio PIB. Não chega a surpreender que a queda da arrecadação e as dificuldades fiscais se tenham intensificado no ano passado.
O problema é que a arrecadação pode demorar mais a se recuperar por depender do mercado de trabalho. A retomada da economia deve ocorrer primeiramente no mercado de bens, o que significa que o PIB deve recuperar-se antes que o desemprego volte a cair. A retomada do investimento, quando se der, talvez seja mais vigorosa que a do consumo, que dependerá da recuperação da massa salarial. Sem falar que o ajuste atual nas contas externas favorece mais a recuperação do PIB que a do consumo.
Considero o problema fiscal/político como o núcleo da crise: sem resolver o fiscal, será difícil resolver o todo. Há o problema de excesso de gastos nos últimos anos e também do crescimento insustentável das despesas obrigatórias. No entanto, existe também um problema persistente na arrecadação, que depende da massa salarial (e, portanto, das vendas), cuja recuperação deve ser mais lenta que a do PIB. Administrar a escassez de arrecadação nos próximos anos vai ser um desafio e tanto. Mais um motivo para acelerar as medidas de contenção de gastos obrigatórios.

* ILAN GOLDFAJN É ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO