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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Fracasso da Politica Externa do PT, da diplomacia Sul-Sul - Reinaldo Goncalves
Mas eu sempre disse isso, sem a elaboração econômica do autor, apenas com base em minhas percepções de política externa, de conhecimento das relações econômicas internacionais e em simples bom-senso.
Não poderia fazer sucesso uma política externa enviesada unicamente para "parceiros estratégicos" no Sul, uma política comercial inibida pelo favorecimento de acordos no mesmo âmbito, uma diplomacia manietada pelas esquisitices companheiras. Só podia redundar em fracasso, como agora comprova Reinaldo Gonçalves, com base em uma análise cuidados dos fluxos comerciais bilaterais em direção desses parceiros, comprovando que eles só fizeram o Brasil recuar e a política externa fracassar.
Paulo Roberto de Almeida
Cooperação Sul-Sul, Mercosul e Relações Comerciais Bilaterais do Brasil: Fracasso da Política Externa do PT
Reinaldo Gonçalves
Texto para Discussão
Instituto de Economia – UFRJ, 15/6/2016
Resumo:
A Cooperação Sul-Sul era a prioridade número UM da política externa dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil em 2003-15. Esse artigo discute a hipótese de fracasso dessa política externa. A análise foca no comércio bilateral de bens e o indicador de integração comercial é o Índice de Intensidade do Comércio Bilateral em 1995-2014. A evidência empírica é conclusiva e confirma a hipótese. O fracasso é particularmente evidente e significativo no caso do Mercosul. Dentre os principais determinantes do fracasso destacam-se as transformações fragilizantes sofridas pela economia brasileira no período, os erros de avaliação dos formuladores da política externa petista e o déficit de governança no Palácio do Planalto e no Ministério das Relações Exteriores.
Não vou transcrever todo o estudo, mas vale destacar estas conclusões:
Comparativamente ao governo FHC, o governo Lula mostra uma maior integração comercial com todas as regiões do mundo. No governo Dilma há, de modo geral, recuo dos indicadores de todas as regiões, inclusive, em relação ao governo FHC. O retrocesso é mais forte no caso dos países da América do Sul, que eram prioridade da política externo dos governos do PT.
O fracasso da estratégia de Cooperação Sul-Sul é evidente, particularmente no que se refere às relações comerciais com os países-membros do Mercosul, IBAS e BRICS. A intensidade do comércio bilateral do Brasil com todos os países-membros fundadores do Mercosul cai significativamente durante os governos Lula e Dilma. O fracasso do Mercosul é, portanto, uma marca da política externa dos governos do PT.
(...)
A evidência é conclusiva: no que se refere à Cooperação Sul-Sul os ganhos significativos de integração comercial limitam-se à Bolívia, Índia e Nigéria. Esses países responderam por 8,8% do total da corrente de comércio do Brasil com os 17 países do painel. Entretanto, os avanços mais significativos ocorrem no caso dos países (Estados Unidos, Alemanha e Japão) que não eram prioridades da política externa dos governos do PT. Ou seja, resultado oposto ao pretendido pela política governamental.
Vale destacar que os processos de recuo da integração comercial com os países da América do Sul, do BRICS e do conjunto de países em desenvolvimento são observados já no primeiro mandato do governo Lula. Portanto, se levarmos em conta todo o período dos governos do PT (a partir de 2003) os indicadores apontam para tendências de recuo da integração comercial com os países da América do Sul, do BRICS e do conjunto de países em desenvolvimento.
A comparação das tendências de integração comercial com os principais parceiros mostra resultados diametralmente opostos aos pretendidos pela política externa do PT. Por um lado, não há tendência de intensificação do comércio bilateral com a China e há tendência de queda significativa da integração comercial com a Argentina. Por outro, há incremento significativo da intensificação das relações comerciais com a Alemanha e, principalmente, com os Estados Unidos.
Os principais determinantes do fracasso da política externa dos governos do PT são: transformações globais; declínio sistêmico; falhas de modelo; déficit de poder; divergências de estratégias; e falhas de governo. As transformações globais envolvem, no contexto da globalização econômica, a perda de competitividade da indústria de transformação brasileira que implica perdas de mercados em países em desenvolvimento, com destaque para os mercados latino-americanos. O declínio sistêmico da inserção internacional do Brasil decorre da tendência de deterioração estrutural do padrão de inserção internacional do Brasil ao longo de todo o período 1995-2014. As falhas de modelo referem-se às transformações estruturais fragilizantes que são próprias ao Modelo Liberal Periférico adotado no país desde meados dos anos 1990.
(...)
Por fim, como determinante do fracasso da política externa brasileira, cabe destacar as falhas de governo. Se, de um lado, é verdade que a Presidência da República no governo Dilma é sinônimo de incompetência, também é verdadeiro que, durante o governo Lula, há grande dispersão e desperdício de escassos recursos alocados para a política externa. Recursos diplomáticos, financeiros, organizacionais etc. que foram dispersados em um número extraordinário de eventos da diplomacia presidencial. Recursos escassos de poder foram desperdiçados em centenas de iniciativas que se destacam por voluntarismo político. A política externa do governo Lula é marcada por “muita alegoria e pouco enredo”.
A insuficiência de resultados sugere que a instrumentalização de atores estatais pela Presidência da República – focada na diplomacia presidencial do governo Lula – tenha aumentado o déficit de governança no âmbito da política externa brasileira. (...) Vale notar, ainda, o redirecionamento do Ministério das Relações Exteriores para a diplomacia presidencial. Isso indica, claramente, que o MRE é um órgão de governo e, não, segundo a narrativa corporativa, um órgão de Estado.
Ultima frase das conclusões:
A política externa dos governos do PT teve como prioridades as relações comerciais no âmbito da Cooperação Sul-Sul, a integração comercial com os países sul-americanos e, particularmente, com os países-membros do Mercosul. O resultado é o fracasso. Fracasso evidente e significativo.
PRA: Como escrevi a meu amigo Maurício David, quem me enviou esse trabalho, e ao próprio autor:
"Uau, será que vou, por uma vez, concordar com o Reinaldo Gonçalves?
Na verdade, eu sempre concordei com as suas deduções empíricas mediante o uso adequado e correto das séries estatísticas.
O que eu sempre discordei era, ou é ainda, a sua visão de uma política estatizante, dirigista, anti-mercado, uma vez que ele sempre se situou entre os românticos à esquerda do PT, pretendendo sempre dobrar o mercado, punir os capitalistas, e estabelecer a felicidade eterna da cornucópia estatal jorrando leite e mel para os desfavorecidos.
Sou, sempre fui, um capitalista, ou melhor, um adepto das economias de mercado, mesmo quando era um marxista convencido, ou seja, no sentido puramente Manifesto Comunista: a burguesia revolucionou o mundo, e o capitalismo civiliza reinos bárbaros, e isso é uma tarefa civilizatória largamente inconclusa, pois mais da metade do mundo vive ainda em regimes pré-capitalistas ou semi-capitalistas, como o Brasil.
Os companheiros se enganaram de mundo, mas por um pequeno lado, o da sensatez econômica, resolveram não fazer uma política à la Salvador Allende, e preferiram algo mais à la Felipe Gonzalez, o que foi bom para o país, até que Madame Pasadena resolveu retroceder para a barbárie do keynesianismo de botequim, ou seja, um cepalianismo mal digerido e mal aplicado, da era Prebisch quero dizer. Até a Cepal evoluiu um pouco, pois como dizia Mário de Andrade, "o progresso também é uma fatalidade."
Por fim, Reinaldo Gonçalves cita apenas dois trabalhos meus em sua bibliografia:
ALMEIDA, Paulo Roberto. A diplomacia da era Lula: balanço e avaliação. Política Externa, 20 (3), p. 95-114, 2012.
ALMEIDA, Paulo Roberto. Never before seen in Brazil: Luís Inácio Lula da Silva´s grand diplomacy. Revista Brasileira de Política Internacional, 53 (2), p. 160-177, 2010.
Se procurasse mais, encontraria muitos outros artigos críticos, praticamente desde o início da era companheira, contra a política externa aloprada dos lulopetistas, razão de meu ostracismo durante TODA a era do Nunca Antes.
Recomendaria, particularmente, estes outros trabalhos:
- “O Mercosul aos 25 anos: minibiografia não autorizada”, Mundorama (IRel-UnB; n. 103; 27/03/2016; ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/03/27/o-mercosul-aos-25-anos-minibiografia-nao-autorizada-por-paulo-roberto-de-almeida/).
- Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2015, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8; edição eletrônica; link: http://www.editoraappris.com.br/produto/e-book-nunca-antes-na-diplomacia-a-politica-externa-brasileira-em-tempos-nao-convencionais).
- “Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria”, Monções, Revista do Curso de Relações Internacionais da UFGD (vol. 4, n. 7, jan.-jun. 2015, pp. 113-129; ISSN: 2316-8323; link para o artigo: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/article/view/4134/2265).
- “A diplomacia presidencial brasileira em perspectiva histórica”, In: João Paulo Peixoto (org.), Presidencialismo no Brasil: história, organização e funcionamento (Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2015. 304 p.; ISBN: 978-85-7018-674-4; p. 163-213).
- “Da diplomacia dos antigos comparada à dos modernos”, Mundorama (20/05/2015; link: http://mundorama.net/2015/05/20/da-diplomacia-dos-antigos-comparada-a-dos-modernos-por-paulo-roberto-de-almeida/).
- “A política externa companheira e a diplomacia partidária: um contraponto aos gramscianos da academia”, Mundorama (4/10/2014; link: http://mundorama.net/2014/10/04/a-politica-externa-companheira-e-a-diplomacia-partidaria-um-contraponto-aos-gramscianos-da-academia-por-paulo-roberto-de-almeida/).
- “A política externa das relações Sul-Sul: um novo determinismo geográfico?” Texto guia para palestra de encerramento na Semana RI de Florianópolis, em 5/10/2012. Disponível no site pessoal (link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2425RelacoesSulSul.pdf).
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Ja ouviram falar do tal modelo liberal-periferico? Claro: coisa de academicos na estratosfera... - Reinaldo Goncalves, Paulo Roberto de Almeida
Como todos sabem, não faço nenhuma concessão a acadêmicos puros, ou seja, os que vivem num mundo em que ninguém afere custos de manutenção, e todos querem viver às custas do Estado, que é pago sempre pelos mais pobres.
Já de início, percebo que vou discordar da filosofia, ainda que suas análises possam ter consistência em algumas áreas. Por isso faço desde já minhas críticas preventivas com base neste resumo de sua entrevista mais recente.
O aprofundamento do Modelo Liberal Periférico; Governo Temer aproveita “caldo de cultura” criado por FHC, Lula e Dilma
Reinaldo Gonçalves
“A questão central é quem paga os impostos. Penso que a turma da FIESP tem que pagar mais impostos. Ao mesmo tempo, o governo tem que se mostrar capaz de moralizar e racionalizar os gastos públicos”.
PRA: Quanta bobagem. Essa coisa de modelo, de qualquer tipo, é típico de acadêmicos que vivem na estratosfera. Governo NENHUM se pauta por modelos, ainda que seus responsáveis políticos e econômicos possam ter algumas ideias (e preconceitos) na cabeça. Governos, quando assumem as rédeas de um país, quando o ministro da economia senta naquela cadeira, tem primeiro de olhar os números, para saber o que dá para fazer. Se os políticos puderem aumentar os impostos sobre todos, não duvidem que eles vão fazer, pois são pagos para gastar o nosso dinheiro. Olhando os números, e olhando a base de apoio, no parlamento ou na sociedade, os governos, ou seja, os dirigentes eleitos, vão fazer aquilo que é possível fazer, dentro do que cabe fazer, com as forças de que dispõem. Essa coisa de modelo, desenvolvimentista, liberal, periférico ou não, isso é bobagem de acadêmico.
Quanto à receita, o economista delira mais uma vez. O que ele chama de turma da FIESP é apenas a parte superior da economia de mercado, os grandes capitalistas, que não são os que fornecem mais empregos e renda à sociedade, e sim os milhões de pequenos capitalistas e informais que concentram o grosso da força de trabalho, os que são ao mesmo tempo os provedores de emprego e de renda. Os grandes capitalista são inovadores e deveriam, se pudessem, criar mais riqueza, investindo mais e empregando mais. Por que eles não o fazem? Porque deixam um terço, ou mais, do que faturam para o governo, e não empregam mais porque o custo da mão-de-obra é muito elevado, com todos os penduricalhos da CLT, salário mínimo de base, etc. Ou seja, fazê-los pagar mais impostos significa simplesmente expatriar os grandes capitalistas (que são os que podem se mover) para outros lugares, onde o ambiente de negócios é mais favorável, o custo da mão-de-obra mais baixo, etc. Quanto aos demais, eles vão continuar operando como podem, muitos com trabalho informal, elidindo o fisco, etc. Quem não percebe isso só pode ser acadêmico…
Governo não tem de moralizar nenhum imposto. Tem é de cobrar o mínimo de impostos necessários para as tarefas básicas comuns — aquelas coisas clássicas do Estado, e ponto — e deixar o máximo possível com a sociedade, que saberá o que fazer com a riqueza que ela própria criou (e certamente gostaria de ter mais dinheiro, se o governo deixasse). Racionalizar gastos públicos também é a palavra errada: governo tem é de cobrar menos impostos para gastar menos.
Quanto menos dinheiro o governo arrecada, menos ele pode gastar e isso é o ideal, inclusive para não ter tanta corrupção.
Sempre vou me surpreender com a inconsciência dos acadêmicos.
Uma última recomendação: a economia brasileira é muito regulada e dirigida pelo Estado, que se encarrega de dizer quem pode e quem não pode oferecer bens e serviços para consumo privado. Em consequência, a economia é ultra-cartelizada e monopolizada. Concorrência sempre é bom, inclusive nos serviços públicos.
Uma última recomendação: as universidades públicas no Brasil são muito ruins em relação ao dinheiro que recebem do governo justamente porque são públicas, e não prestam conta do dinheiro recebido. Proponho dar-lhes total autonomia, e limitar o seu financiamento a um "mensalão básico". Elas deveriam ter um conselho de gestão independente dos professores, e conseguir dinheiro com projetos, pagando o que desejam aos seus "trabalhadores", segundo o mérito, sem isonomia, sem estabilidade de início, sem penduricalhos negociados por máfias sindicais. Trabalhadores de academia devem ser livres para vender sua força de trabalho: quem merece mais vai ganhar mais. Que tal?
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Paulo Roberto de Almeida
O aprofundamento do Modelo Liberal Periférico; Governo Temer aproveita “caldo de cultura” criado por FHC, Lula e Dilma
Entrevista especial com Reinaldo Gonçalves
Por Patricia Fachin
Instituto Humanitas Unisinos, Segunda, 06 de junho de 2016
http://ihu.unisinos.br/entrevistas/555950-o-aprofundamento-do-modelo-liberal-periferico-governo-temer-aproveita-caldo-de-cultura-criado-por-fhc-lula-e-dilma
"Calculo que o custo econômico acumulado no período 2011-18 é de 4 trilhões de dólares caso não haja o impedimento de Dilma Rousseff. O custo econômico é medido como a diferença entre a renda potencial e a renda efetiva. Nunca antes na história do país houve custo econômico tão elevado em termos absolutos e relativos.
O pacote econômico anunciado pelo governo interino de Michel Temer indica que “na essência” se trata de uma continuidade do Modelo Liberal Periférico - MLP, que vinha sendo adotado nos governos anteriores. A diferença é que “nosgovernos Lula e Dilma o MLP aparecia disfarçado de um social-liberalismo frágil, enquanto no governo Temer o MLP arreganha sua cara conservadora e liberal”, afirma Reinaldo Gonçalves em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Foto: Fundação Lauro Campos |
"Calculo que o custo econômico acumulado no período 2011-18 é de 4 trilhões de dólares caso não haja o impedimento de Dilma Rousseff. O custo econômico é medido como a diferença entre a renda potencial e a renda efetiva. Nunca antes na história do país houvecusto econômico tão elevado em termos absolutos e relativos. " |
"A reforma tributária é a prioridade número 1 quando se trata de instrumentos" |
"Quem são as novas autoridades econômicas? Nada além de representantes, despachantes, dos grandes bancos brasileiros e internacionais" |