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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Grande Destruicao, vista por Ilan Goldfajn (OESP)

Queda de arrecadação, muito além do PIB
ILAN GOLDFAJN*
O Estado de S. Paulo, 2 de Fevereiro de 2016

Desde 2011 o crescimento econômico vem desacelerando no Brasil, mas nos anos de 2015 e 2016 é que a economia terá a pior recessão da sua história. A situação fiscal também tem piorado, mas tornou-se ainda mais dramática desde o ano passado. Com a recessão e a queda da arrecadação, vários entes públicos estão com dificuldade para fechar o mês. O problema fiscal virou uma crise difícil de administrar. O que houve?
Infelizmente, nada que não soubéssemos que poderia ocorrer. O fim do ciclo de commodities aliado às incertezas causadas pelas políticas domésticas provocaram a queda contínua do investimento e a desaceleração do PIB. Mas foi preciso a desaceleração da atividade alcançar o mercado de trabalho e impactar o consumo e o setor de serviços para que atingisse em cheio a economia e provocasse a atual recessão.
Não faltaram alertas de que a fraqueza do PIB, a queda da indústria e a redução do investimento acabariam afetando o desemprego e a renda. Mas havia a esperança de que o Brasil tivesse descoberto uma forma de o mercado de trabalho dissociar-se da criação de valor medido pelo PIB.
O fato de a crise atingir o mercado de trabalho tem consequências. Em primeiro lugar, a piora do mercado de trabalho provoca a segunda rodada da recessão. Com queda de emprego e renda, cai a massa salarial real, reduzindo o consumo. As vendas sofrem, a produção tem de diminuir mais ainda e as demissões seguem. O círculo vicioso aprofunda a recessão. Em segundo lugar, a piora do mercado de trabalho torna o problema fiscal mais grave diretamente.
Há um diagnóstico muito claro de que o problema fiscal do Brasil tem raízes conjunturais, mas também estruturais pelo lado dos gastos. Houve um excesso de gastos e subsídios nos últimos anos, que transformou um superávit primário de 3%, 4% do PIB no início da década em quase -2% no ano passado. A tentativa de corrigir essa piora esbarra em dificuldades políticas, mas também de ordem estrutural. Boa parte das despesas é de natureza obrigatória e de difícil compressão no curto prazo. Há um conjunto de benefícios que não cabem mais no PIB. O exemplo mais claro são as despesas da Previdência. A aposentadoria média em torno de 55 anos de idade não encontra paralelo no mundo. Na ausência de correção de rumo, o déficit primário no Brasil deve piorar 0,3% a cada ano, elevando continuamente a dívida do governo. É necessário instituir uma idade mínima de aposentadoria para corrigir essa tendência insustentável.
O problema dos gastos crescentes no Brasil é da maior importância, até porque deve conviver com um período mais prolongado de fraca arrecadação pública. No ano passado, a queda de arrecadação foi o principal problema do governo federal, dos Estados e municípios. Sem receitas, os entes públicos têm tido dificuldades crescentes para pagar seus compromissos, alguns mesmo para pagar a folha, manter hospitais e outros serviços básicos.
Está claro que o aprofundamento da recessão é a causa principal da crise de arrecadação. Não haveria como escapar da pior recessão da História no Brasil.
Mas o fato de o mercado de trabalho ter sido atingido nesta crise tem tido impacto duplo sobre as contas públicas, talvez ainda não completamente entendido. O impacto mais óbvio é que a perda de emprego e renda aprofunda a recessão e tem impacto maior na arrecadação.
Mas muitos analistas estão surpresos que a arrecadação esteja caindo muito além do PIB (mesmo levando em conta que o PIB caiu quase 4%). Como se a sensibilidade da arrecadação ao PIB tivesse aumentado bem agora, no meio da recessão. Os economistas calculam que a elasticidade (impacto do PIB na arrecadação) está muito maior que o histórico. Consideram haver uma “quebra estrutural” nessa relação que não conseguem entender.
Uma tese recente de Luka Barbosa (orientada por Gino Olivares no Insper) mostra que não está havendo quebra estrutural na arrecadação. O que acontece é que a arrecadação depende muito mais da massa salarial e das vendas no varejo que do PIB, e essas variáveis estão recuando mais fortemente que o PIB (cerca de 10% em termos reais): 43% da arrecadação depende da massa salarial e 30%, das vendas.
Olhando o comportamento histórico (e mais recente) fica evidente a relação da arrecadação com o recuo na massa salarial formal e nas vendas no varejo. A elasticidade histórica (e mais recente) é unitária (para cada 1% de queda desses itens, a arrecadação também cai 1%).
Em suma, a fraqueza do mercado de trabalho e, portanto, das vendas tem causado outro efeito menos evidente nas contas públicas: atinge a arrecadação de forma mais potente que o próprio PIB. Não chega a surpreender que a queda da arrecadação e as dificuldades fiscais se tenham intensificado no ano passado.
O problema é que a arrecadação pode demorar mais a se recuperar por depender do mercado de trabalho. A retomada da economia deve ocorrer primeiramente no mercado de bens, o que significa que o PIB deve recuperar-se antes que o desemprego volte a cair. A retomada do investimento, quando se der, talvez seja mais vigorosa que a do consumo, que dependerá da recuperação da massa salarial. Sem falar que o ajuste atual nas contas externas favorece mais a recuperação do PIB que a do consumo.
Considero o problema fiscal/político como o núcleo da crise: sem resolver o fiscal, será difícil resolver o todo. Há o problema de excesso de gastos nos últimos anos e também do crescimento insustentável das despesas obrigatórias. No entanto, existe também um problema persistente na arrecadação, que depende da massa salarial (e, portanto, das vendas), cuja recuperação deve ser mais lenta que a do PIB. Administrar a escassez de arrecadação nos próximos anos vai ser um desafio e tanto. Mais um motivo para acelerar as medidas de contenção de gastos obrigatórios.

* ILAN GOLDFAJN É ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os brasileiros ficaram mais pobres com o PT - Luiz Fernando Rudge

Reproduzindo, sem necessidade de agregar mais nada...
Ou talvez sim: em dois anos o Brasil volta ao FMI, ou vai ser o primeiro membro do BRICS a usar do seu próprio Acordo Contingente de Reservas.
Não é um sucesso companheiro?
Paulo Roberto de Almeida

Luiz Fernando Rudge
Domingo, 6 de setembro de 2015
O brasileiro se sente mais pobre do que quando o PT assumiu. Por quê?
Faltam três semanas cheias para o fim do terceiro trimestre de recessão econômica no Brasil, que ocorre no terceiro mandato do PT à frente da administração, e os principais analistas já reconhecem que este será o pior trimestre desta retração, porque a administração da Economia está sem rumo e “não há forças capazes de levar a uma retomada do crescimento”, segundo um rigoroso analista da situação nacional.
Os empresários que se preocupam com a gestão de seus empreendimentos devem, neste mês, iniciar o planejamento para enfrentar 2016 – e, inevitavelmente, projetar esse planejamento até 2018, por causa da questão política. Segundo os jornais, “lamentam o desalento dos consumidores, que temem demissões que eles mesmos tiveram ou terão de fazer”. E afligem-se com a indefinição dos rumos do país, exatamente na hora em que devem planejar o futuro.
Irão planejar o quê? As agências de classificação de riscos estão atrasadas, porque o mercado já antecipou que perdemos o grau de investimento, com o salto para cima nas taxas do CDS - principal medidor do risco real - superando por larga margem o CDS da Turquia – que não tem grau de investimento.
O Brasil aproxima-se do efetivo descontrole cambial, com o dólar precificado em função do risco, reforçado pelo bom desempenho da economia e pela valorização da moeda americana e pela queda nos preços de commodities.
O mau comportamento do real frente ao dólar ocasiona preocupantes pressões inflacionárias, reforçadas pelo insucesso do ministro da Fazenda em corrigir os desajustes fiscais a que se propôs, no que foi impedido pela presidente que o nomeou, e que sofre de recaída das iniciativas do seu mandato anterior. Com isso, o prêmio de risco da inflação cresceu sem controle, levando as taxas de juros bancários de prazo longo a aumentar, carimbando a inflação como um evento de alto risco.
O planejamento de gestão empresarial sofre ainda com os dados que a Economia apresentou nestes três trimestres de retração:
·        Incerteza no mundo empresarial;
·        Consumo em queda, com inadimplência em alta;
·        Aumento do nível de desemprego;
·        Aumento no estoque de imóveis à venda;
·        Retração do crédito;
·        Baixa taxa de investimento.
Esta última característica tem, na Petrobrás, um efeito adicional, já que a companhia normalmente responde por 10% da FBCF (formação bruta de capital fixo) na Economia brasileira, e agora vê-se a braços com dívidas em dólar acima de sua capacidade de pagamento, e plano de negócios que exige desinvestimento difíceis de realizar, porque a indústria do petróleo vive um momento de baixa.
Resta-nos apenas a última fala da presidente, de que já cortou todos os gastos de governo que podia cortar.
Ninguém acredita nisso.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Equivocos economicos do PT: Lula e a Loucura Agricola Europeia (2001) - Paulo Roberto de Almeida

Um dia eu acordei invocado, como disse certa vez o estadista de Garanhuns, o inefável capo di tutti i capi. Acordei invocado porque lia regularmente a imprensa brasileira mais cedo (estava em Washington, e tinha 2 hs para trás) do que o costume, e fiquei imediatamente invocado ao ler declarações do eterno candidato do partido esquizofrênico apoiando a loucura agrícola europeia, a política comum em matéria de agricultura que, mais do que prejudicar o Brasil (isso é o de menos, pois somos competitivos mesmo com a PAC), prejudica sobretudo os países africanos.
Pois invocado estava e invocado fiquei. Decidi escrever o artigo que vai abaixo.
Com base nessas minhas críticas, a revista Veja, sem saber de meu status profissional, me contatou para uma entrevista para as Páginas Amarelas. Pronto, foi só dar essa entrevista (que está disponível em meu site, aqui), onde eu dizia mais ou menos as mesmas coisas, que o Itamaraty resolveu me punir com uma advertência baseada na Lei da Mordaça, a coisa mais vergonhosa que possa ter existido na nossa Santa Casa (não a minha punição, isso é o de menos, mas a lei da mordaça).
Em todo caso, para mostrar que bobagens econômicas como as cometidas pelos companheiros não acontecem por acaso, nem de repente, transcrevo aqui o meu artigo e seus complementos.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 6 de agosto de 2015


O candidato do PT e a loucura agrícola europeia
(com post-scriptum em 13.10.01)

Paulo Roberto de Almeida
Washington, 5 de outubro de 2001

Segundo despacho de Paris reproduzido na imprensa brasileira na quinta-feira, 4 de outubro, o candidato Luís Inácio “Lula” da Silva, em viagem pela Europa e depois de ser recebido pelo primeiro ministro francês Lionel Jospin, defendeu o acertado da política agrícola européia.
A afirmação já seria absurda em seu mérito próprio, mas a postura também está equivocada substantivamente, historicamente, funcionalmente. Apenas posso interpretar que o candidato carece de informações adequadas tanto sobre a agricultura européia, como sobre a brasileira, caso contrário não poderia fazer esse tipo de afirmação, mesmo desejando hipoteticamente agradar seu interlocutor.
Vejamos essas afirmações um pouco mais de perto. Segundo Lula:

1) “Do ponto de vista da realidade européia, eles estão corretos.”
Ao contrário, os europeus estão absolutamente errados, mesmo do ponto de vista exclusivamente europeu. Poderia, eventualmente, ser parcialmente correto se os europeus vivessem em circuito fechado, sem qualquer tipo de intercâmbio com o mundo e sem interferir no comércio agrícola mundial. Esta não é a realidade porém, na medida em que eles são relativamente abertos ao comercio mundial, possuindo mesmo um alto coeficiente de abertura externa, de modo geral. O coeficiente apenas do setor agrícola é, contudo, sensivelmente menor, e sabemos instintivamente por que.
Sobretudo do ponto de vista exclusivamente europeu, entretanto, os europeus também estão errados e o candidato Lula parece ignorar que um punhado de agricultores lobistas e outros aproveitadores políticos arrancam um alto preço de seus concidadãos em virtude da “loucura” agrícola comum. Sabe o candidato Lula que os consumidores (cidadãos) europeus poderiam ter um orçamento alimentar reduzido praticamente à metade se não houvesse a PAC e se o comercio agrícola fosse totalmente liberalizado? Esse é o calculo efetuado por diversos economistas independentes, europeus aliás: a cesta de compras da dona de casa européia poderia ser obtida com metade do dinheiro da feira e do supermercado se não existisse a PAC.

2) “São países que passaram por guerras e mais guerras,..”
O candidato Lula sabe quando foi a última guerra que representou ruptura de abastecimento na Europa? Ela terminou em 1945, sendo que a anterior tinha terminado em 1918. É verdade que no pós-guerra, até 1948 em todo caso, o abastecimento ainda não estava completamente regularizado, mas os EUA contribuíram generosamente com doações alimentares no quadro do Plano Marshall. Ou seja, há cinqüenta anos, ou duas gerações completas, que não há nenhuma ameaça de ruptura de abastecimento na Europa, e não se tem noticia de algum europeu ocidental que tenha morrido de fome nesse período de meio século.
O medo de um passado de fome (ocasional e explicável) não poderia de nenhum modo justificar as distorções do presente, sobretudo porque, supostamente, os alimentos viajam melhor e mais barato atualmente do que sessenta ou oitenta anos atrás.

3) Os europeus “não vêem a necessidade de tratar a comida como uma simples mercadoria,...”
Se a comida não pode ser tratada como mercadoria, o que é, ela supostamente deveria ter sido objeto de disposições especiais nos tratados comerciais, a começar pelo GATT, que regula o comercio de bens no plano multilateral desde 1947. Ora, não existem tais dispositivos restritivos, e os bens alimentares são considerados bens como quaisquer outros.
Foi apenas devido a expedientes abusivos e distorcivos, que europeus e americanos lograram extorquir dos demais países participantes do sistema multilateral de comércio uma exceção “temporária” ao comércio agrícola. Ora, essa exceção se prolonga há mais de 50 anos, e hoje nada, absolutamente nada, justifica a continuidade de uma tal situação. Ela penaliza duramente os países mais pobres, justamente aqueles que supostamente o candidato Lula deveria defender e que são os mais dependentes da agricultura, atividade primária por excelência.
Como, nessa linha de pensamento, se chega a defender agricultores abastados contra os interesses da imensa maioria de agricultores pobres do Terceiro Mundo? Isso me parece uma contradição insanável no argumento de Lula, como aliás já se tinha manifestado na aliança pouco santa entre o MST e “agricultores “do tipo do Sr. José Bové. Para voltar ao argumento do candidato, caberia esclarecer que a imensa maioria dos agricultores pobres dos países em desenvolvimento desejam, apenas e tão somente, que seus produtos agrícolas sejam tratados como simples mercadorias, como quaisquer outras. Nada mais do que isto.


4) Os europeus “vêm (...) a comida (...) como uma questão de soberania nacional.”
Se abobrinha e cenoura são produtos que integram os cálculos estratégicos de soberania nacional, então temos aqui um sério problema de definição do que seja a soberania de uma nação, sobretudo no caso de países altamente industrializados, não dependentes da produção agrícola para a formação do PIB. O que fazer, por exemplo, em relação à educação e à saúde, para não mencionar a segurança pública, interna e externa?
Como fazem o Vaticano, Andorra, Mônaco e muitos outros países menores, que não conseguem ter, por mais que queiram, autonomia alimentar? Eles dispõem, por causa disso, de menos soberania nacional do que os grandes e melhor dotados de recursos naturais? Como fazem países situados em zonas árticas ou tórridas, que dependem do comércio internacional para o essencial de seu abastecimento alimentar? Eles também são menos soberanos por isso?
Consideremos porém países relativamente maiores como Bélgica ou Países Baixos: se eles amanhã deixassem de produzir, por acaso, alimentos, estariam ipso facto condenados à fome e à privação absolutas? Ou poderiam abastecer-se tranqüilamente com seus vizinhos e mesmo junto a países distantes? A segunda hipótese é a mais correta obviamente. Quando a Inglaterra decretou o livre comercio universal, no hoje distante ano de 1856, ela passou a ser uma importadora líquida de alimentos. Nem por isso, os ingleses deixaram de comer bem, ao contrário, seu padrão alimentar melhorou e se diversificou, com base em compras mundiais. A afirmação do candidato Lula revela aqui uma incompreensão quanto às relações entre auto-produção e soberania nacional, característica mais comum nos economistas da era fascista.

5) “Nós precisamos primeiro cumprir com a nossa parte para depois exigir alguma coisa.”
O que significa o Brasil cumprir primeiro a sua parte? Ficar calado e aceitar a loucura agrícola comum européia? Dizer aos nossos próprios agricultores que tenham um pouco mais de paciência com os “pobres” agricultores europeus, que vivem traumatizados com uma suposta ameaça de desabastecimento alimentar motivada por não se sabe qual guerra possível, ou que estão heroicamente defendendo a soberania nacional européia?
O que teríamos de exigir? Alguma concessão absurda dos europeus? Ou apenas um comércio leal, baseado em simples regras de reciprocidade, segundo as quais nos concordamos em abrir nossos mercados ao camembert e ao foie-gras francês, em troca da abertura dos mercados europeus de grãos e de carnes aos nossos produtos?
Essa “nossa parte” precisaria ser melhor esclarecida, do contrário poderíamos pensar que cometemos algum “pecado original” que o candidato Lula não explicou bem o que seria.

6) “Temos que ter uma boa política agrícola e investimento em tecnologia. É isso que vai nos dar competitividade”.
O que significa ter uma “boa” política agrícola? Uma que seja altamente subsidiada como a européia? Subsidiada a ponto de apresentar distorções e aberrações, quando não fraudes maciças, que fazem, por exemplo, com que uma vaca européia ostente uma renda per capita superior à do brasileiro comum? Uma política agrícola que resulta em fraudes repetidas, que nos confrontam a tomates “milionários”, a porcos e vacas que certamente têm conta em banco (na medida em que o pagamento da PAC é feito por cabeça de animal)?
Seria esse o significado de uma “boa” política agrícola? Seria isso, exatamente, de que o Brasil necessita, para tornar-se “grande e forte” como os europeus? Nesse caso estaríamos repassando dinheiro a uma fração muito pequena de cidadãos, condenando milhões de outros a não contarem com os investimentos necessários em saúde publica, educação de qualidade, estradas pavimentadas, segurança pública adequada etc. Sabemos, por experiência, que qualquer dinheiro que se conceder a uma categoria especial de cidadãos (chamemo-los de produtores) vai ter de sair do mesmo orçamento publico geral, que já é considerado insuficiente, pelo próprio candidato Lula, para os absolutamente indispensáveis investimentos sociais que ele reivindica com razão.
Quanto ao grau de competitividade da agricultura brasileira, ela pode não apresentar o mesmo desempenho da européia em todos ou em determinados setores (ainda que para a maior parte de nossos produtos comercializáveis externamente ela é propriamente imbatível), mas diferenciais de competitividade e de produtividade entre os países (que justamente são o motor do comércio mundial) não podem ser de nenhuma maneira invocados como justificativas para o protecionismo obsceno, sobretudo quando levado às raias do absurdo comercial e do irracionalismo econômico, como acontece com a política agrícola européia.
Infelizmente para o candidato Lula, porém, nossa competitividade agrícola não deixa nada a desejar quando confrontada à da Europa ou dos Estados Unidos, com exceção de poucos setores de notória especialização e de alta intensidade tecnológica. De fato, para ser mais dramática ainda a comparação, é justamente por sermos competitivos que estamos sendo penalizados no acesso ao mercado europeu de alimentos e insumos processados. Apenas podemos ingressar com algumas poucas commodities de baixo valor agregado.
O que faz um candidato como Lula, normalmente identificado com as causas do Terceiro Mundo e dos pobres em geral, defender um absurdo do tamanho da PAC? Que virtudes ele encontrou nessa imensa reserva de mercado que não apenas cerceia nosso direito de concorrer no próprio mercado europeu como também compete deslealmente, à custa de maciços subsídios, com nossos produtos em terceiros mercados? Que sentido existe em ver ricos agricultores europeus deslocando do mercado pobres agricultores africanos, asiáticos e latino-americanos, além do mais em setores tão “sofisticados” como o do açúcar, da carne, dos grãos? Que racionalidade existe em proteger esses abastados agricultores, que depois reivindicam mais subsídios ainda para despejar quantidades absurdas, verdadeiras montanhas, de excedentes agrícolas nesses mesmos países pobres da periferia, que não têm como concorrer com o rico tesouro da União Européia. A palavra está novamente com o candidato Lula...

(815: Washington, 5 outubro 2001, 4 pp)
Paulo Roberto de Almeida

Post-Scriptum de Paulo Roberto de Almeida em 13.10.01:
            Em novas declarações à imprensa, em 11 de outubro, ao retornar de sua viagem à Europa, o candidato do PT reafirmou sua compreensão em relação à loucura agrícola européia, e voltou a cobrar do Governo uma política de apoio à agricultura brasileira.
            Segundo Lula, “subsídio para exportação é prejuízo para os países pobres. Precisamos brigar para que os nossos produtos sejam mais competitivos. Queremos ser competitivos não só na agricultura, mas no aço, no setor têxtil, no de calçados e no de máquinas”.
            A questão, no entanto, não está na falta de competitividade dos produtos agrícolas brasileiros, mas sim no protecionismo europeu e na sua política de concorrência desleal contra esses mesmos produtos em terceiros mercados, mediante maciços subsídios que deslocam a produção brasileira. Se os europeus resolvem subsidiar seus aricultores (ou qualquer outra categoria de produtores nacionais), trata-se de decisão soberana de seus legisladores e, em última instância, de sua população, que aprovará ou não tais políticas (desde que transparentes e mensuráveis, em termos de orçamento público, o que permitiria a discussão de eventuais alternativas ao emprego do dinheiro alocado a uma fração reduzida da população).
            A questão central não é, entretando, de escolhas orçamentárias (ou, chamemos generosamente, de “políticas sociais”), mas de definição de políticas comerciais, e é contra isso que se insurge não apenas o governo brasileiro, mas todos os demais países que praticam uma agricultura não subvencionada. O Brasil não teria nada a objetar à política interna de subsídios europeus, se esta não interferisse diretamente com a liberdade dos mercados (algo que os europeus preconizam com uma certa insistência quando se trata de sua própria produção) e com o estabelecimento de condições uniformes de competição no plano internacional. Esse aspecto do problema não parece ter sido percebido pelo candidato do PT, que continua a reclamar da “falta de uma política agrícola” no Brasil (o que não tem nada a ver com o debate sobre a política comercial européia).
            Podemos, e devemos, certamente, buscar com que “nossos produtos sejam mais competitivos”, como afirma o candidato do PT, mas a questão está em que, a qualquer nível de competitividade dos produtos brasileiros, eles continuarão penalizados pela atual política agrícola européia em seu direito de acessar o mercado europeu. Quanto à competição em terceiros mercados, os produtos brasileiros apenas conseguiriam ser “mais competitivos” do que certos equivalentes europeus, se o Tesouro brasileiro os subsidiasse ainda mais maciçamente do que o fazem os europeus (isto é, a “caixa agrícola” de Bruxelas, que já consome metade do orçamento comunitário). Seria esse o objetivo do candidato do PT: entrar em um guerra de subsídios com o “Tesouro” da União Européia?; essa seria a finalidade de uma política agrícola responsável, no Brasil e no Mercosul?
            Não seria mais simples lutar, nos foros multilaterais, em prol da eliminação dos níveis obscenos de subsídios e do protecionismo agrícola europeu, e assim estabelecer condições verdadeiramente equitativas de competição, na qual a competitividade intrínseca a cada produto possa ser o critério único, ou principal, de seu posicionamento no mercado, em lugar de se ter, como hoje, uma luta desleal entre Produtos nacionais e tesouros? Ou Lula acredita que tamanho (orçamentário, neste caso) é documento? Com a palavra, o candidato do PT.
[Washington, 13.10.01]
(Artigo original da imprensa: 3 de outubro de 2001)

Lula justifica barreiras européias

Hugo Sukman, Correspondente - O GLOBO

PARIS. Depois de se encontrar ontem com o primeiro-ministro da França, Lionel Jospin, em Paris, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse entender a posição européia de impor barreiras alfandegárias a produtos agrícolas brasileiros.
- Do ponto de vista da realidade européia, eles estão corretos. São países que passaram por guerras e mais guerras, e não vêem a necessidade de tratar a comida como uma simples mercadoria, mas como uma questão de soberania nacional. Nós precisamos primeiro cumprir com a nossa parte para depois exigir alguma coisa. Temos que ter uma boa política agrícola e investimento em tecnologia. É isso que vai nos dar competitividade - disse.
Durante a viagem de três dias à França, Lula conheceu o sistema de segurança pública. Segundo ele, com adaptações à realidade brasileira, algumas medidas podem ser adotadas em sua futura política de segurança. Lula disse que quer estudar a adoção no Brasil de políticas como a "polícia de proximidade" francesa, que prepara para cada região uma política de segurança específica.
- A diferença entre o salário mais baixo de um policial francês e o mais alto é de apenas duas vezes e meia. No Brasil chega a 20 vezes, o que resulta num policial desmotivado e despreparado - disse Lula, que recebeu uma medalha da Polícia Nacional francesa.
Durante o encontro com o socialista Jospin, o assunto girou em torno das perspectivas de a esquerda chegar à Presidência tanto na França como no Brasil:
Eles têm grandes chances de ganhar as eleições e já ganharam uma vez. Nós temos chances de ganhar também - disse Lula.

Nova manifestação de Lula em 10.10.01, conforme notícias no site do PT:

Lula rebate críticas sobre questão agrícola:

11/10/2001 - Lula: problema da agricultura não está lá fora, mas aqui mesmo

O líder petista Luiz Inácio Lula da Silva respondeu hoje, em entrevista coletiva após seu retorno da Europa, aos ataques dos ministros do governo, Pratini de Moraes e Pedro Malan. Em declarações à imprensa, os ministros acusaram Lula de contrariar os interesses nacionais em solo francês, ao defender o subsídio à agricultura naquele país. Lula ressaltou que defende o princípio de que os países ricos não podem subsidiar as exportações tirando a competitividade dos países pobres. Em seguida, o petista leu trechos de suplemento do Estado de S.Paulo, em que representante de exportadores agrícolas defende que, em vez de criticar o subsídio estrangeiro, autoridades brasileiras deveriam apoiar a produção interna. Lula cita o exemplo do gasto com pedágio, que é maior que o de gasolina, no transporte de cargas, para demonstrar a falta de competitividade do produto brasileiro. “Cuidar da agricultura é dever do Estado, e esta é uma lição de casa que o governo brasileiro desaprendeu”, sentenciou Lula.

“Enquanto este governo não dá, sequer a totalidade do recurso previsto para a agricultura familiar, a multinacional Monsanto conseguiu, para montar o seu projeto em Camaçari, R$ 784 mi emprestados do BNDES, dos quais R$ 259 mi a fundo perdido financiado pelo Finor, para gerar apenas 309 empregos”, denunciou Lula, baseado nos 55% da verba do Pronaf e nos 7,5% do Orçamento da União previsto para a agricultura, liberados este ano. O líder petista afirma que, com esta política, não só perdemos em competitividade, como “iremos matar o que resta de produção de agricultura familiar neste país”.

Notícia de imprensa, 11.10.01, Agência Estado:

http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/out/11/222.htm
<http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/out/11/222.htm>

Para Lula, Malan e Pratini "venderam o Brasil"

São Paulo - O presidente de honra do PT e virtual candidato da legenda à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu hoje as críticas feitas a ele pelos ministros da Fazenda, Pedro Malan e da Agricultura, Pratini de Moraes. "Nem Malan nem o Pratini têm autoridade moral para falar em defesa nacional. Eles fazem parte dos que venderam o Brasil e conseguiram destruir em seis anos o que levou 60 anos para ser construído", disse.
Na quarta-feira, Malan considerou "lamentável" a declaração de Lula de apoio aos subsídios agrícolas feita durante viagem à França. Dias antes, Pratini disse que Lula era "quinta coluna da agricultura". Hoje, Lula reafirmou suas declarações feitas em solo francês.  Afirmou que cada país tende a adotar políticas para defender seus interesses, o que o Brasil não tem feito. Lula criticou os subsídios, mas considerou legítima a tentativa dos franceses de defender seus interesses.
"Subsídio para exportação é prejuízo para os países pobres. Precisamos brigar para que os nossos produtos sejam mais competitivos. Queremos ser competitivos não só na agricultura, mas no aço, no setor têxtil, no de calçados e no de máquinas", afirmou.  Para Lula, cuidar da agricultura "é um dever do Estado. Lição de casa que o nosso governo não tem feito." Lula e o deputado federal Aloizio Mercadante, também secretário de relações internacionais do PT, retornaram terça-feira da Europa, onde estiveram reunidos com autoridades da França, Portugal e Itália.
Eles consideraram a agenda de compromissos realizados diversificada e de "alto nível". Ambos defenderam a necessidade de aprofundar as relações entre a União Européia e o Mercosul.
Ana Paula Scinocca

domingo, 9 de novembro de 2014

Economia brasileira: companheiros neoliberais provocam desemprego,inflaçao e juros altos, baixo crescimento, cortam subsidios, o diabo...

Mais de 700 economistas, antirecessivos, estão justamente alertando o governo para não fazer essas políticas de austeridade, de cortes de investimentos, não aumentar os juros, nem cortar programas de estímulo, mas não adianta: o governo é neoliberal e vai fazer todas essas maldades mesmo contra a opinião de economistas amigos, que todos apoiaram o governo, ficaram contentes que a oposição tenha sido derrotada, e estavam esperando um outro cenário, que não esse do neoliberalismo aplicado. Esse governo é traidor, eles devem estar pensando.
Paulo Roberto de Almeida

Até agosto, 31,5 mil vagas já foram cortadas no estado, o pior resultado em 5 anos
por João Sorima Neto
O Globo, 26/09/2014


SÃO PAULO - O próximo ano será marcado por “uma crise brava”, com novas interrupções na produção industrial e desemprego elevado, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. Para o empresário, o assunto estará na pauta dos candidatos à Presidência no segundo turno. A entidade estima que, apenas neste ano, cem mil trabalhadores deverão ser dispensados na indústria paulista. Até agosto, 31,5 mil vagas já tinham sido cortadas no estado de São Paulo, no pior resultado dos últimos cinco anos.
Que cenário esperar em 2015 para a indústria, que já está patinando este ano? Depende de quem for eleito?
Acredito que 2015 não será um ano fácil. Vamos viver uma crise brava. Já estamos prestes a ver demissões em massa e mais paradas na produção, que já começaram. Não só na indústria, mas em todos os setores. É um período dos mais difíceis que vivi em termos profissionais. Mas acredito que 2015 também será uma oportunidade de ajustar o país para voltar à normalidade.
O que mais prejudica a indústria?
Precisamos de uma condição compatível com a que existe no mundo. O câmbio, por exemplo, tem que flutuar. Hoje, o real ainda está muito valorizado. Precisamos de um dólar a R$ 2,50 ou R$ 2,52 para que haja uma perspectiva de exportação e, ao mesmo tempo, se dificulte um pouco a importação. Se você começa a alterar artificialmente esses quesitos (o câmbio), você impede o desempenho normal da indústria e dos outros setores produtivos. Além disso, os juros altos asfixiaram a economia.
Mas o governo elevou os juros e vinha tentando manter o o câmbio em torno de R$ 2,25 para evitar mais inflação, cenário que também prejudica a indústria, não?
A preocupação do governo sempre foi a inflação, mas por causa da reeleição. Agora, essa preocupação é legítima. Mas acho que o desemprego é um risco maior ainda. Hoje, apesar de o governo estar segurando a inflação, o risco de demissões já está presente em todas as empresas. Além disso, os juros absurdos para o consumidor também trouxeram falta de confiança das pessoas para consumir, aliado ao medo do desemprego. Houve um desmonte do mercado interno, que sustentou o país nos últimos 12 anos.

O modelo de crescimento da economia via consumo se esgotou?
Eu acho que não. Acho que se tivéssemos uma gestão forte e o governo tivesse gastado menos poderia manter esse modelo de crescimento pelo consumo.
O que é necessário para retomar o investimento privado?
Se as reformas forem feitas no ano que vem, acredito que será preciso pelo menos dois anos para resgatar a confiança dos empresários e os investimentos voltarem. Há uma crise de confiança do capital privado com a falta de previsibilidade.
O intervencionismo do governo na economia atrapalhou a indústria?
Isso causou um mal-estar geral. Na nossa visão, o governo não tem que ser gestor. Tem que legislar e cobrar. A indústria, o sistema financeiro e o setor de serviços são maduros o suficiente para tocar as coisas.
É viável ter como interlocutor um ministro da Fazenda demissionário?
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Até sair, o ministro estará lutando para fazer o melhor pelo país. Nós também. Ele não tem interesse em sair e deixar o país numa situação perigosa.
Como analisar o uso do Fundo Soberano para fechar as contas?
Acho que isso é direito do governo. Mas mostra que a gente continua usando de artifícios para atingir os números desejados. Era melhor partir para uma redução do déficit e do gasto para buscar o equilíbrio. Se a gente arrecada menos tem que gastar menos. As coisas têm que ser bem administradas e de forma transparente, o que não está ocorrendo hoje.
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ECONOMIA
Segundo o documento, assinado por mais de 700 economistas, mercado está pressionando o governo a adotar austeridade fiscal e monetária, o que foi chamado de 'pragmatismo sob coação'
07.11.2014 | 18:15
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Fernando Ladeira - O Estado de S. Paulo
Description: elluzzoLuiz Gonzaga Belluzzo é um dos economistas que assina o documento

Um grupo de mais de 700 economistas assinou um manifesto online criticando a ideia de que a austeridade fiscal e monetária seja o único meio para resolver os problemas brasileiros. "Esperamos contribuir para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate econômico em nossa democracia", diz o texto. 
Sem citar nomes, o documento afirma que um dos vocalizadores do mantra pela austeridade chegou a afirmar que um segundo mandato de Dilma Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão substancial do mercado, o que foi chamado de "pragmatismo sob coação".
O manifesto, que conta com a assinatura de nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marcio Pochmann e João Sicsú, argumenta que durante a campanha presidencial foram colocados em votação dois projetos para o País, e o vencedor foi o projeto favorável ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social. O documento conta, até o fim da tarde desta sexta-feira, com 774 assinaturas.
Os economistas afirmaram que, na contramão deste projeto, desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma "a difusão de ideias deu a impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para os graves problemas da sociedade e da economia brasileira".
A avaliação de representantes do mercado financeiro de que a desaceleração da economia teria que ser combatida com a credibilidade proveniente de uma austeridade fiscal e monetária, afirma o manifesto, "é inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento". Para eles, se essa proposta for adotada isso irá deprimir o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um círculo vicioso de desaceleração ou queda na arrecadação tributária, baixo crescimento econômico e aumento na carga da dívida pública líquida na renda nacional. 
O manifesto acrescenta que é fundamental a preservação da estabilidade da moeda e acrescenta que os signatários do documento também são favoráveis "à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de recursos tributários". "Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes do mercado financeiro que chama de 'inflacionário' o gasto social e o investimento público em qualquer fase do ciclo econômico." 
O texto ainda critica o argumento de que as desonerações aumentam os gastos públicos e a inflação. Os economistas também avaliam que a inflação manteve-se dentro do limite da meta inflacionária no governo Dilma Rousseff, "a despeito de notáveis choques de custos como a correção cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no mercado internacional".
Para estes economistas, "é essencial manter taxas de juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas contracionistas, se necessárias, para quando voltar a crescer". Na semana passada, porém, em uma decisão surpreendente, o Copom decidiu elevar a taxa básica de juros Selic para 11,25% ao ano.
Eles argumentam que a proporção da dívida pública líquida na renda nacional não é preocupante, sob qualquer comparação internacional. A possibilidade de recessão e a carência de bens públicas e infraestrutura social foram citados no manifesto como questões que preocupam os economistas. 
Os países desenvolvidos que adotaram um programa de austeridade registraram um agravamento da recessão, do desemprego, da desigualdade e da situação fiscal, complementa o texto. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Economia companheira fez o Brasil estagnar: pobres e miseraveis aumentaram - Reinaldo Azevedo

Sabem por que a miséria cresceu? Porque o modelo petista morreu! O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procriaReinaldo Azevedo, 6/11/2014

O Brasil elegeu um governo que já nasce morto, infelizmente! O PT não tem mais nada a oferecer ao país. Os dados sobre miséria e pobreza coligidos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad, do IBGE, indicam que, de 2012 para 2013, o número de miseráveis no país cresceu: de 10,081 milhões para 10,452 milhões — um acréscimo de 371.158 pessoas. Os dados estão no site do Ipea, órgão subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). O instituto, por orientação da SAE, escondeu esses dados durante a campanha eleitoral alegando que a lei impedia que fossem divulgados. É mentira. Foi só uma trapaçazinha eleitoral.
O que é um miserável? É a pessoa que não tem renda para suprir as suas necessidades calóricas mínimas. O que isso quer dizer? É uma perífrase da fome. Sim, no país de cartão-postal da propaganda eleitoral petista, ainda há quase 11 milhões de famintos.
Segundo o Ipea, o número de pessoas pobres teve uma queda no período: de 30,35 milhões para 28,69 milhões em 2013. O que é um pobre? É aquele que tem o dobro da renda do miserável. Vale dizer: consegue ao menos comer. No país das Alices petistas, pois, há praticamente uma Argentina (perto de 40 milhões), em que quase 29 milhões conseguem ao menos comer — e só — e mais de 10 milhões, nem isso. Onde eles estão? Mais da metade, no Nordeste, que concentra, por isso mesmo, o maior percentual de beneficiários do Bolsa Família e onde o terrorismo eleitoral petista foi mais eficiente. Como escrevi numa coluna da Folha, a culpa não é do Nordeste, é da pobreza.
Mas há outro corte igualmente desagradável para o governo Dilma, que lançou o tal programa Brasil sem Miséria. Segundo esse programa, a linha de corte para definir um miserável, creiam, é R$ 77. Com R$ 78, ele será apenas um pobre… Pois é. Caso se leve esse número em conta, os miseráveis cresceram de 3,6% para 4% e são agora 8,05 milhões de pessoas — 870.784 pessoas a mais.
É claro que, um dia, ainda vamos nos indignar com uma “elite” (né, Lula?) que considera que o sujeito se livra da miséria com R$ 78. Mas vá lá. Volto ao começo. Digo que o país reelegeu um governo já morto porque parece evidente que os mal chamados “programas de renda” (eu acho que o Bolsa Família é assistencialismo necessário, não programa de renda) já deram o que tinham de dar.
É claro que a inflação corroeu parte do ganho dos muito pobres — a velha inflação, tão tolerada pelo governo. Segundo a candidata Dilma, só é possível diminuí-la gerando desemprego, lembram-se? Gênio da raça. Mas há uma questão de fundo: se o país não voltar a crescer a níveis aceitáveis, há pouco a fazer com os miseráveis, com os muito pobres, a não ser tentar expandir ainda mais os programas assistencialistas, aumentando o número de cativos. E, ainda assim, ficarão sujeitos à incompetência gerencial — esta mesma que flertou com a inflação e puniu quem menos tem.
Enquanto o país foi beneficiado por um ciclo da economia mundial que lhe permitiu ancorar o crescimento no consumo — deixando de lado todos os outros fundamentos da economia —, foi possível crescer um pouco e minorar os extremos da miséria. Mas falta muito, muito mesmo!, para vencer a pobreza. O Brasil “de classe média” é uma fantasia estatística. É preciso alargar muito o conceito para chegar a essa conclusão.
O país precisa voltar a crescer. E, até onde a vista alcança, o PT não sabe como fazê-lo sem gerar mais inflação. De maneira realmente desafiadora para a inteligência, tem conseguido o contrário: crescer perto de zero com inflação alta. Dilma foi eleita pelos pobres, como quer o petismo? Como se vê, pior… para os pobres.
A miséria cresceu porque o modelo petista morreu. O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procria, como escreveu o poeta.