Queda de arrecadação, muito além do PIB
ILAN GOLDFAJN*
O Estado de S. Paulo, 2 de Fevereiro de 2016
Desde 2011 o crescimento econômico vem desacelerando no Brasil, mas nos anos de 2015 e 2016 é que a economia terá a pior recessão da sua história. A situação fiscal também tem piorado, mas tornou-se ainda mais dramática desde o ano passado. Com a recessão e a queda da arrecadação, vários entes públicos estão com dificuldade para fechar o mês. O problema fiscal virou uma crise difícil de administrar. O que houve?
Infelizmente, nada que não soubéssemos que poderia ocorrer. O fim do ciclo de commodities aliado às incertezas causadas pelas políticas domésticas provocaram a queda contínua do investimento e a desaceleração do PIB. Mas foi preciso a desaceleração da atividade alcançar o mercado de trabalho e impactar o consumo e o setor de serviços para que atingisse em cheio a economia e provocasse a atual recessão.
Não faltaram alertas de que a fraqueza do PIB, a queda da indústria e a redução do investimento acabariam afetando o desemprego e a renda. Mas havia a esperança de que o Brasil tivesse descoberto uma forma de o mercado de trabalho dissociar-se da criação de valor medido pelo PIB.
O fato de a crise atingir o mercado de trabalho tem consequências. Em primeiro lugar, a piora do mercado de trabalho provoca a segunda rodada da recessão. Com queda de emprego e renda, cai a massa salarial real, reduzindo o consumo. As vendas sofrem, a produção tem de diminuir mais ainda e as demissões seguem. O círculo vicioso aprofunda a recessão. Em segundo lugar, a piora do mercado de trabalho torna o problema fiscal mais grave diretamente.
Há um diagnóstico muito claro de que o problema fiscal do Brasil tem raízes conjunturais, mas também estruturais pelo lado dos gastos. Houve um excesso de gastos e subsídios nos últimos anos, que transformou um superávit primário de 3%, 4% do PIB no início da década em quase -2% no ano passado. A tentativa de corrigir essa piora esbarra em dificuldades políticas, mas também de ordem estrutural. Boa parte das despesas é de natureza obrigatória e de difícil compressão no curto prazo. Há um conjunto de benefícios que não cabem mais no PIB. O exemplo mais claro são as despesas da Previdência. A aposentadoria média em torno de 55 anos de idade não encontra paralelo no mundo. Na ausência de correção de rumo, o déficit primário no Brasil deve piorar 0,3% a cada ano, elevando continuamente a dívida do governo. É necessário instituir uma idade mínima de aposentadoria para corrigir essa tendência insustentável.
O problema dos gastos crescentes no Brasil é da maior importância, até porque deve conviver com um período mais prolongado de fraca arrecadação pública. No ano passado, a queda de arrecadação foi o principal problema do governo federal, dos Estados e municípios. Sem receitas, os entes públicos têm tido dificuldades crescentes para pagar seus compromissos, alguns mesmo para pagar a folha, manter hospitais e outros serviços básicos.
Está claro que o aprofundamento da recessão é a causa principal da crise de arrecadação. Não haveria como escapar da pior recessão da História no Brasil.
Mas o fato de o mercado de trabalho ter sido atingido nesta crise tem tido impacto duplo sobre as contas públicas, talvez ainda não completamente entendido. O impacto mais óbvio é que a perda de emprego e renda aprofunda a recessão e tem impacto maior na arrecadação.
Mas muitos analistas estão surpresos que a arrecadação esteja caindo muito além do PIB (mesmo levando em conta que o PIB caiu quase 4%). Como se a sensibilidade da arrecadação ao PIB tivesse aumentado bem agora, no meio da recessão. Os economistas calculam que a elasticidade (impacto do PIB na arrecadação) está muito maior que o histórico. Consideram haver uma “quebra estrutural” nessa relação que não conseguem entender.
Uma tese recente de Luka Barbosa (orientada por Gino Olivares no Insper) mostra que não está havendo quebra estrutural na arrecadação. O que acontece é que a arrecadação depende muito mais da massa salarial e das vendas no varejo que do PIB, e essas variáveis estão recuando mais fortemente que o PIB (cerca de 10% em termos reais): 43% da arrecadação depende da massa salarial e 30%, das vendas.
Olhando o comportamento histórico (e mais recente) fica evidente a relação da arrecadação com o recuo na massa salarial formal e nas vendas no varejo. A elasticidade histórica (e mais recente) é unitária (para cada 1% de queda desses itens, a arrecadação também cai 1%).
Em suma, a fraqueza do mercado de trabalho e, portanto, das vendas tem causado outro efeito menos evidente nas contas públicas: atinge a arrecadação de forma mais potente que o próprio PIB. Não chega a surpreender que a queda da arrecadação e as dificuldades fiscais se tenham intensificado no ano passado.
O problema é que a arrecadação pode demorar mais a se recuperar por depender do mercado de trabalho. A retomada da economia deve ocorrer primeiramente no mercado de bens, o que significa que o PIB deve recuperar-se antes que o desemprego volte a cair. A retomada do investimento, quando se der, talvez seja mais vigorosa que a do consumo, que dependerá da recuperação da massa salarial. Sem falar que o ajuste atual nas contas externas favorece mais a recuperação do PIB que a do consumo.
Considero o problema fiscal/político como o núcleo da crise: sem resolver o fiscal, será difícil resolver o todo. Há o problema de excesso de gastos nos últimos anos e também do crescimento insustentável das despesas obrigatórias. No entanto, existe também um problema persistente na arrecadação, que depende da massa salarial (e, portanto, das vendas), cuja recuperação deve ser mais lenta que a do PIB. Administrar a escassez de arrecadação nos próximos anos vai ser um desafio e tanto. Mais um motivo para acelerar as medidas de contenção de gastos obrigatórios.
* ILAN GOLDFAJN É ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Os brasileiros ficaram mais pobres com o PT - Luiz Fernando Rudge
Reproduzindo, sem necessidade de agregar mais nada...
Ou talvez sim: em dois anos o Brasil volta ao FMI, ou vai ser o primeiro membro do BRICS a usar do seu próprio Acordo Contingente de Reservas.
Não é um sucesso companheiro?
Paulo Roberto de Almeida
Ou talvez sim: em dois anos o Brasil volta ao FMI, ou vai ser o primeiro membro do BRICS a usar do seu próprio Acordo Contingente de Reservas.
Não é um sucesso companheiro?
Paulo Roberto de Almeida
Luiz Fernando Rudge
Domingo, 6 de setembro de 2015
O brasileiro se sente mais pobre do
que quando o PT assumiu. Por quê?
Faltam três semanas cheias para o
fim do terceiro trimestre de recessão econômica no Brasil, que ocorre no
terceiro mandato do PT à frente da administração, e os principais analistas já
reconhecem que este será o pior trimestre desta retração, porque a administração
da Economia está sem rumo e “não há forças capazes de levar a uma retomada do
crescimento”, segundo um rigoroso analista da situação nacional.
Os empresários que se preocupam com
a gestão de seus empreendimentos devem, neste mês, iniciar o planejamento para
enfrentar 2016 – e, inevitavelmente, projetar esse planejamento até 2018, por
causa da questão política. Segundo os jornais, “lamentam o desalento dos
consumidores, que temem demissões que eles mesmos tiveram ou terão de fazer”. E
afligem-se com a indefinição dos rumos do país, exatamente na hora em que devem
planejar o futuro.
Irão planejar o quê? As agências de
classificação de riscos estão atrasadas, porque o mercado já antecipou que
perdemos o grau de investimento, com o salto para cima nas taxas do CDS -
principal medidor do risco real - superando por larga margem o CDS da Turquia –
que não tem grau de investimento.
O Brasil aproxima-se do efetivo
descontrole cambial, com o dólar precificado em função do risco, reforçado pelo
bom desempenho da economia e pela valorização da moeda americana e pela queda
nos preços de commodities.
O mau comportamento do real frente
ao dólar ocasiona preocupantes pressões inflacionárias, reforçadas pelo
insucesso do ministro da Fazenda em corrigir os desajustes fiscais a que se
propôs, no que foi impedido pela presidente que o nomeou, e que sofre de
recaída das iniciativas do seu mandato anterior. Com isso, o prêmio de risco da
inflação cresceu sem controle, levando as taxas de juros bancários de prazo
longo a aumentar, carimbando a inflação como um evento de alto risco.
O planejamento de gestão empresarial
sofre ainda com os dados que a Economia apresentou nestes três trimestres de
retração:
·
Incerteza no mundo empresarial;
·
Consumo em queda, com inadimplência em alta;
·
Aumento do nível de desemprego;
·
Aumento no estoque de imóveis à venda;
·
Retração do crédito;
·
Baixa taxa de investimento.
Esta última característica tem, na
Petrobrás, um efeito adicional, já que a companhia normalmente responde por 10%
da FBCF (formação bruta de capital fixo) na Economia brasileira, e agora vê-se
a braços com dívidas em dólar acima de sua capacidade de pagamento, e plano de
negócios que exige desinvestimento difíceis de realizar, porque a indústria do
petróleo vive um momento de baixa.
Resta-nos apenas a última fala da
presidente, de que já cortou todos os gastos de governo que podia cortar.
Ninguém acredita nisso.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Equivocos economicos do PT: Lula e a Loucura Agricola Europeia (2001) - Paulo Roberto de Almeida
Um dia eu acordei invocado, como disse certa vez o estadista de Garanhuns, o inefável capo di tutti i capi. Acordei invocado porque lia regularmente a imprensa brasileira mais cedo (estava em Washington, e tinha 2 hs para trás) do que o costume, e fiquei imediatamente invocado ao ler declarações do eterno candidato do partido esquizofrênico apoiando a loucura agrícola europeia, a política comum em matéria de agricultura que, mais do que prejudicar o Brasil (isso é o de menos, pois somos competitivos mesmo com a PAC), prejudica sobretudo os países africanos.
Pois invocado estava e invocado fiquei. Decidi escrever o artigo que vai abaixo.
Com base nessas minhas críticas, a revista Veja, sem saber de meu status profissional, me contatou para uma entrevista para as Páginas Amarelas. Pronto, foi só dar essa entrevista (que está disponível em meu site, aqui), onde eu dizia mais ou menos as mesmas coisas, que o Itamaraty resolveu me punir com uma advertência baseada na Lei da Mordaça, a coisa mais vergonhosa que possa ter existido na nossa Santa Casa (não a minha punição, isso é o de menos, mas a lei da mordaça).
Em todo caso, para mostrar que bobagens econômicas como as cometidas pelos companheiros não acontecem por acaso, nem de repente, transcrevo aqui o meu artigo e seus complementos.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 6 de agosto de 2015
Pois invocado estava e invocado fiquei. Decidi escrever o artigo que vai abaixo.
Com base nessas minhas críticas, a revista Veja, sem saber de meu status profissional, me contatou para uma entrevista para as Páginas Amarelas. Pronto, foi só dar essa entrevista (que está disponível em meu site, aqui), onde eu dizia mais ou menos as mesmas coisas, que o Itamaraty resolveu me punir com uma advertência baseada na Lei da Mordaça, a coisa mais vergonhosa que possa ter existido na nossa Santa Casa (não a minha punição, isso é o de menos, mas a lei da mordaça).
Em todo caso, para mostrar que bobagens econômicas como as cometidas pelos companheiros não acontecem por acaso, nem de repente, transcrevo aqui o meu artigo e seus complementos.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 6 de agosto de 2015
O candidato do PT e a loucura
agrícola europeia
(com
post-scriptum em 13.10.01)
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 5 de outubro
de 2001
Segundo despacho
de Paris reproduzido na imprensa brasileira na quinta-feira, 4 de outubro, o
candidato Luís Inácio “Lula” da Silva, em viagem pela Europa e depois de ser
recebido pelo primeiro ministro francês Lionel Jospin, defendeu o acertado da
política agrícola européia.
A afirmação já seria
absurda em seu mérito próprio, mas a postura também está equivocada
substantivamente, historicamente, funcionalmente. Apenas posso interpretar que
o candidato carece de informações adequadas tanto sobre a agricultura européia,
como sobre a brasileira, caso contrário não poderia fazer esse tipo de
afirmação, mesmo desejando hipoteticamente agradar seu interlocutor.
Vejamos essas
afirmações um pouco mais de perto. Segundo Lula:
1) “Do ponto de vista da
realidade européia, eles estão corretos.”
Ao contrário, os
europeus estão absolutamente errados, mesmo do ponto de vista exclusivamente
europeu. Poderia,
eventualmente, ser parcialmente correto se os europeus vivessem em circuito
fechado, sem qualquer tipo de intercâmbio com o mundo e sem interferir no comércio
agrícola mundial. Esta não é a realidade porém, na medida em que eles são
relativamente abertos ao comercio mundial, possuindo mesmo um alto coeficiente
de abertura externa, de modo geral. O coeficiente apenas do setor agrícola é,
contudo, sensivelmente menor, e sabemos instintivamente por que.
Sobretudo do
ponto de vista exclusivamente europeu, entretanto, os europeus também estão
errados e o candidato Lula parece ignorar que um punhado de agricultores
lobistas e outros aproveitadores políticos arrancam um alto preço de seus
concidadãos em virtude da “loucura” agrícola comum. Sabe o candidato Lula que
os consumidores (cidadãos) europeus poderiam ter um orçamento alimentar
reduzido praticamente à metade se não houvesse a PAC e se o comercio agrícola fosse
totalmente liberalizado? Esse é o calculo efetuado por diversos economistas
independentes, europeus aliás: a cesta de compras da dona de casa européia
poderia ser obtida com metade do dinheiro da feira e do supermercado se não
existisse a PAC.
2) “São países que passaram
por guerras e mais guerras,..”
O candidato Lula
sabe quando foi a última guerra que representou ruptura de abastecimento na
Europa? Ela terminou em 1945, sendo que a anterior tinha terminado em 1918. É
verdade que no pós-guerra, até 1948 em todo caso, o abastecimento ainda não
estava completamente regularizado, mas os EUA contribuíram generosamente com
doações alimentares no quadro do Plano Marshall. Ou seja, há cinqüenta anos, ou
duas gerações completas, que não há nenhuma ameaça de ruptura de abastecimento
na Europa, e não se tem noticia de algum europeu ocidental que tenha morrido de
fome nesse período de meio século.
O medo de um
passado de fome (ocasional e explicável) não poderia de nenhum modo justificar
as distorções do presente, sobretudo porque, supostamente, os alimentos viajam
melhor e mais barato atualmente do que sessenta ou oitenta anos atrás.
3) Os europeus “não vêem a
necessidade de tratar a comida como uma simples mercadoria,...”
Se a comida não
pode ser tratada como mercadoria, o que é, ela supostamente deveria ter sido
objeto de disposições especiais nos tratados comerciais, a começar pelo GATT,
que regula o comercio de bens no plano multilateral desde 1947. Ora, não
existem tais dispositivos restritivos, e os bens alimentares são considerados
bens como quaisquer outros.
Foi apenas devido
a expedientes abusivos e distorcivos, que europeus e americanos lograram
extorquir dos demais países participantes do sistema multilateral de comércio
uma exceção “temporária” ao comércio agrícola. Ora, essa exceção se prolonga há
mais de 50 anos, e hoje nada, absolutamente nada, justifica a continuidade de
uma tal situação. Ela penaliza duramente os países mais pobres, justamente
aqueles que supostamente o candidato Lula deveria defender e que são os mais
dependentes da agricultura, atividade primária por excelência.
Como, nessa linha
de pensamento, se chega a defender agricultores abastados contra os interesses
da imensa maioria de agricultores pobres do Terceiro Mundo? Isso me parece uma
contradição insanável no argumento de Lula, como aliás já se tinha manifestado
na aliança pouco santa entre o MST e “agricultores “do tipo do Sr. José Bové.
Para voltar ao argumento do candidato, caberia esclarecer que a imensa maioria
dos agricultores pobres dos países em desenvolvimento desejam, apenas e tão
somente, que seus produtos agrícolas sejam tratados como simples mercadorias,
como quaisquer outras. Nada mais do que isto.
4) Os europeus “vêm (...) a
comida (...) como uma questão de soberania nacional.”
Se abobrinha e
cenoura são produtos que integram os cálculos estratégicos de soberania
nacional, então temos aqui um sério problema de definição do que seja a
soberania de uma nação, sobretudo no caso de países altamente industrializados,
não dependentes da produção agrícola para a formação do PIB. O que fazer, por
exemplo, em relação à educação e à saúde, para não mencionar a segurança
pública, interna e externa?
Como fazem o
Vaticano, Andorra, Mônaco e muitos outros países menores, que não conseguem
ter, por mais que queiram, autonomia alimentar? Eles dispõem, por causa disso,
de menos soberania nacional do que os grandes e melhor dotados de recursos
naturais? Como fazem países situados em zonas árticas ou tórridas, que dependem
do comércio internacional para o essencial de seu abastecimento alimentar? Eles
também são menos soberanos por isso?
Consideremos
porém países relativamente maiores como Bélgica ou Países Baixos: se eles
amanhã deixassem de produzir, por acaso, alimentos, estariam ipso facto condenados à fome e à
privação absolutas? Ou poderiam abastecer-se tranqüilamente com seus vizinhos e
mesmo junto a países distantes? A segunda hipótese é a mais correta obviamente.
Quando a Inglaterra decretou o livre comercio universal, no hoje distante ano
de 1856, ela passou a ser uma importadora líquida de alimentos. Nem por isso,
os ingleses deixaram de comer bem, ao contrário, seu padrão alimentar melhorou
e se diversificou, com base em compras mundiais. A afirmação do candidato Lula
revela aqui uma incompreensão quanto às relações entre auto-produção e
soberania nacional, característica mais comum nos economistas da era fascista.
5) “Nós precisamos primeiro
cumprir com a nossa parte para depois exigir alguma coisa.”
O que significa o
Brasil cumprir primeiro a sua parte? Ficar calado e aceitar a loucura agrícola
comum européia? Dizer aos nossos próprios agricultores que tenham um pouco mais
de paciência com os “pobres” agricultores europeus, que vivem traumatizados com
uma suposta ameaça de desabastecimento alimentar motivada por não se sabe qual
guerra possível, ou que estão heroicamente defendendo a soberania nacional
européia?
O que teríamos de
exigir? Alguma concessão absurda dos europeus? Ou apenas um comércio leal,
baseado em simples regras de reciprocidade, segundo as quais nos concordamos em
abrir nossos mercados ao camembert e
ao foie-gras francês, em troca da
abertura dos mercados europeus de grãos e de carnes aos nossos produtos?
Essa “nossa parte” precisaria ser melhor
esclarecida, do contrário poderíamos pensar que cometemos algum “pecado
original” que o candidato Lula não explicou bem o que seria.
6) “Temos que ter uma boa
política agrícola e investimento em tecnologia. É isso que vai nos dar
competitividade”.
O que significa
ter uma “boa” política agrícola? Uma que seja altamente subsidiada como a
européia? Subsidiada a ponto de apresentar distorções e aberrações, quando não
fraudes maciças, que fazem, por exemplo, com que uma vaca européia ostente uma
renda per capita superior à do
brasileiro comum? Uma política agrícola que resulta em fraudes repetidas, que
nos confrontam a tomates “milionários”, a porcos e vacas que certamente têm
conta em banco (na medida em que o pagamento da PAC é feito por cabeça de
animal)?
Seria esse o significado
de uma “boa” política agrícola? Seria isso, exatamente, de que o Brasil
necessita, para tornar-se “grande e forte” como os europeus? Nesse caso
estaríamos repassando dinheiro a uma fração muito pequena de cidadãos,
condenando milhões de outros a não contarem com os investimentos necessários em
saúde publica, educação de qualidade, estradas pavimentadas, segurança pública
adequada etc. Sabemos, por experiência, que qualquer dinheiro que se conceder a
uma categoria especial de cidadãos (chamemo-los de produtores) vai ter de sair
do mesmo orçamento publico geral, que já é considerado insuficiente, pelo
próprio candidato Lula, para os absolutamente indispensáveis investimentos
sociais que ele reivindica com razão.
Quanto ao grau de
competitividade da agricultura brasileira, ela pode não apresentar o mesmo
desempenho da européia em todos ou em determinados setores (ainda que para a
maior parte de nossos produtos comercializáveis externamente ela é propriamente
imbatível), mas diferenciais de competitividade e de produtividade entre os
países (que justamente são o motor do comércio mundial) não podem ser de
nenhuma maneira invocados como justificativas para o protecionismo obsceno,
sobretudo quando levado às raias do absurdo comercial e do irracionalismo econômico,
como acontece com a política agrícola européia.
Infelizmente para
o candidato Lula, porém, nossa competitividade agrícola não deixa nada a
desejar quando confrontada à da Europa ou dos Estados Unidos, com exceção de
poucos setores de notória especialização e de alta intensidade tecnológica. De
fato, para ser mais dramática ainda a comparação, é justamente por sermos
competitivos que estamos sendo penalizados no acesso ao mercado europeu de
alimentos e insumos processados. Apenas podemos ingressar com algumas poucas commodities de baixo valor agregado.
O que faz um candidato como Lula, normalmente
identificado com as causas do Terceiro Mundo e dos pobres em geral, defender um
absurdo do tamanho da PAC? Que virtudes ele encontrou nessa imensa reserva de
mercado que não apenas cerceia nosso direito de concorrer no próprio mercado
europeu como também compete deslealmente, à custa de maciços subsídios, com
nossos produtos em terceiros mercados? Que sentido existe em ver ricos
agricultores europeus deslocando do mercado pobres agricultores africanos,
asiáticos e latino-americanos, além do mais em setores tão “sofisticados” como
o do açúcar, da carne, dos grãos? Que racionalidade existe em proteger esses
abastados agricultores, que depois reivindicam mais subsídios ainda para
despejar quantidades absurdas, verdadeiras montanhas, de excedentes agrícolas
nesses mesmos países pobres da periferia, que não têm como concorrer com o rico
tesouro da União Européia. A palavra está novamente com o candidato Lula...
(815: Washington, 5 outubro
2001, 4 pp)
Paulo Roberto de Almeida
Post-Scriptum de Paulo Roberto de Almeida em 13.10.01:
Em novas declarações à imprensa, em 11 de outubro, ao
retornar de sua viagem à Europa, o candidato do PT reafirmou sua compreensão em
relação à loucura agrícola européia, e voltou a cobrar do Governo
uma política de apoio à agricultura brasileira.
Segundo
Lula, “subsídio para exportação é prejuízo para os países pobres. Precisamos
brigar para que os nossos produtos sejam mais competitivos. Queremos ser
competitivos não só na agricultura, mas no aço, no setor têxtil, no de calçados
e no de máquinas”.
A questão, no entanto, não está na falta de competitividade
dos produtos agrícolas brasileiros, mas sim no protecionismo europeu e na sua
política de concorrência desleal contra esses mesmos produtos em terceiros
mercados, mediante maciços subsídios que deslocam a produção brasileira. Se os
europeus resolvem subsidiar seus aricultores (ou qualquer outra categoria de
produtores nacionais), trata-se de decisão soberana de seus legisladores e, em
última instância, de sua população, que aprovará ou não tais políticas (desde
que transparentes e mensuráveis, em termos de orçamento público, o que
permitiria a discussão de eventuais alternativas ao emprego do dinheiro alocado
a uma fração reduzida da população).
A questão central não é, entretando, de escolhas
orçamentárias (ou, chamemos generosamente, de “políticas sociais”), mas de
definição de políticas comerciais, e é contra isso que se insurge não apenas o
governo brasileiro, mas todos os demais países que praticam uma agricultura não
subvencionada. O Brasil não teria nada a objetar à política interna de subsídios
europeus, se esta não interferisse diretamente com a liberdade dos mercados
(algo que os europeus preconizam com uma certa insistência quando se trata de
sua própria produção) e com o estabelecimento de condições uniformes de
competição no plano internacional. Esse aspecto do problema não parece ter sido
percebido pelo candidato do PT, que continua a reclamar da “falta de uma
política agrícola” no Brasil (o que não tem nada a ver com o debate sobre a
política comercial européia).
Podemos, e devemos, certamente, buscar com que “nossos
produtos sejam mais competitivos”, como afirma o candidato do PT, mas a questão
está em que, a qualquer nível de competitividade dos produtos brasileiros, eles
continuarão penalizados pela atual política agrícola européia em seu direito de
acessar o mercado europeu. Quanto à competição em terceiros mercados, os
produtos brasileiros apenas conseguiriam ser “mais competitivos” do que certos
equivalentes europeus, se o Tesouro brasileiro os subsidiasse ainda mais
maciçamente do que o fazem os europeus (isto é, a “caixa agrícola” de Bruxelas,
que já consome metade do orçamento comunitário). Seria esse o objetivo do
candidato do PT: entrar em um guerra de subsídios com o “Tesouro” da União
Européia?; essa seria a finalidade de uma política agrícola responsável, no
Brasil e no Mercosul?
Não seria mais simples lutar, nos foros multilaterais, em
prol da eliminação dos níveis obscenos de subsídios e do protecionismo agrícola
europeu, e assim estabelecer condições verdadeiramente equitativas de
competição, na qual a competitividade intrínseca a cada produto possa ser o
critério único, ou principal, de seu posicionamento no mercado, em lugar de se
ter, como hoje, uma luta desleal entre Produtos nacionais e tesouros? Ou Lula
acredita que tamanho (orçamentário, neste caso) é documento? Com a palavra, o
candidato do PT.
[Washington, 13.10.01]
(Artigo original da imprensa:
3 de outubro de 2001)
Lula justifica barreiras européias
Hugo Sukman, Correspondente -
O GLOBO
PARIS. Depois de
se encontrar ontem com o primeiro-ministro da França, Lionel Jospin, em Paris,
o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse entender a
posição européia de impor barreiras alfandegárias a produtos agrícolas
brasileiros.
- Do ponto de
vista da realidade européia, eles estão corretos. São países que passaram por
guerras e mais guerras, e não vêem a necessidade de tratar a comida como uma
simples mercadoria, mas como uma questão de soberania nacional. Nós precisamos
primeiro cumprir com a nossa parte para depois exigir alguma coisa. Temos que
ter uma boa política agrícola e investimento em tecnologia. É isso que vai nos
dar competitividade - disse.
Durante a viagem
de três dias à França, Lula conheceu o sistema de segurança pública. Segundo
ele, com adaptações à realidade brasileira, algumas medidas podem ser adotadas
em sua futura política de segurança. Lula disse que quer estudar a adoção no
Brasil de políticas como a "polícia de proximidade" francesa, que
prepara para cada região uma política de segurança específica.
- A diferença
entre o salário mais baixo de um policial francês e o mais alto é de apenas
duas vezes e meia. No Brasil chega a 20 vezes, o que resulta num policial
desmotivado e despreparado - disse Lula, que recebeu uma medalha da Polícia
Nacional francesa.
Durante o
encontro com o socialista Jospin, o assunto girou em torno das perspectivas de
a esquerda chegar à Presidência tanto na França como no Brasil:
Eles têm grandes chances de ganhar as eleições e já ganharam uma
vez. Nós temos chances de ganhar também - disse Lula.
Nova manifestação de Lula em
10.10.01, conforme notícias no site do PT:
Lula rebate
críticas sobre questão agrícola:
11/10/2001 - Lula:
problema da agricultura não está lá fora, mas aqui mesmo
O líder petista Luiz Inácio Lula da Silva respondeu
hoje, em entrevista coletiva após seu retorno da Europa, aos ataques dos
ministros do governo, Pratini de Moraes e Pedro Malan. Em declarações à
imprensa, os ministros acusaram Lula de contrariar os interesses nacionais em
solo francês, ao defender o subsídio à agricultura naquele país. Lula ressaltou
que defende o princípio de que os países ricos não podem subsidiar as
exportações tirando a competitividade dos países pobres. Em seguida, o petista
leu trechos de suplemento do Estado de S.Paulo, em que representante de
exportadores agrícolas defende que, em vez de criticar o subsídio estrangeiro,
autoridades brasileiras deveriam apoiar a produção interna. Lula cita o exemplo
do gasto com pedágio, que é maior que o de gasolina, no transporte de cargas,
para demonstrar a falta de competitividade do produto brasileiro. “Cuidar da
agricultura é dever do Estado, e esta é uma lição de casa que o governo
brasileiro desaprendeu”, sentenciou Lula.
“Enquanto este governo não dá, sequer a totalidade do recurso
previsto para a agricultura familiar, a multinacional Monsanto conseguiu, para
montar o seu projeto em Camaçari, R$ 784 mi emprestados do BNDES, dos quais R$
259 mi a fundo perdido financiado pelo Finor, para gerar apenas 309 empregos”,
denunciou Lula, baseado nos 55% da verba do Pronaf e nos 7,5% do Orçamento da
União previsto para a agricultura, liberados este ano. O líder petista afirma
que, com esta política, não só perdemos em competitividade, como “iremos matar
o que resta de produção de agricultura familiar neste país”.
Notícia de imprensa,
11.10.01, Agência Estado:
http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/out/11/222.htm
<http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/out/11/222.htm>
Para Lula, Malan e Pratini "venderam o Brasil"
São Paulo - O presidente de
honra do PT e virtual candidato da legenda à Presidência, Luiz Inácio Lula da
Silva, rebateu hoje as críticas feitas a ele pelos ministros da Fazenda, Pedro
Malan e da Agricultura, Pratini de Moraes. "Nem Malan nem o Pratini têm
autoridade moral para falar em defesa nacional. Eles fazem parte dos que venderam
o Brasil e conseguiram destruir em seis anos o que levou 60 anos para ser
construído", disse.
Na quarta-feira, Malan
considerou "lamentável" a declaração de Lula de apoio aos subsídios
agrícolas feita durante viagem à França. Dias antes, Pratini disse que Lula era
"quinta coluna da agricultura". Hoje, Lula reafirmou suas declarações
feitas em solo francês. Afirmou que cada
país tende a adotar políticas para defender seus interesses, o que o Brasil não
tem feito. Lula criticou os subsídios, mas considerou legítima a tentativa dos
franceses de defender seus interesses.
"Subsídio para
exportação é prejuízo para os países pobres. Precisamos brigar para que os
nossos produtos sejam mais competitivos. Queremos ser competitivos não só na
agricultura, mas no aço, no setor têxtil, no de calçados e no de
máquinas", afirmou. Para Lula,
cuidar da agricultura "é um dever do Estado. Lição de casa que o nosso
governo não tem feito." Lula e o deputado federal Aloizio Mercadante,
também secretário de relações internacionais do PT, retornaram terça-feira da
Europa, onde estiveram reunidos com autoridades da França, Portugal e Itália.
Eles consideraram a agenda de
compromissos realizados diversificada e de "alto nível". Ambos
defenderam a necessidade de aprofundar as relações entre a União Européia e o
Mercosul.
Ana
Paula Scinocca
domingo, 9 de novembro de 2014
Economia brasileira: companheiros neoliberais provocam desemprego,inflaçao e juros altos, baixo crescimento, cortam subsidios, o diabo...
Mais de 700 economistas,
antirecessivos, estão justamente alertando o governo para não fazer essas
políticas de austeridade, de cortes de investimentos, não aumentar os juros,
nem cortar programas de estímulo, mas não adianta: o governo é neoliberal e vai
fazer todas essas maldades mesmo contra a opinião de economistas amigos, que
todos apoiaram o governo, ficaram contentes que a oposição tenha sido
derrotada, e estavam esperando um outro cenário, que não esse do neoliberalismo
aplicado. Esse governo é traidor, eles devem estar pensando.
Paulo Roberto de Almeida
Até agosto, 31,5 mil vagas já foram cortadas no estado, o
pior resultado em 5 anos
por João Sorima Neto
O Globo, 26/09/2014
SÃO PAULO - O próximo ano será
marcado por “uma crise brava”, com novas interrupções na produção industrial e
desemprego elevado, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. Para o empresário, o assunto estará
na pauta dos candidatos à Presidência no segundo turno. A entidade estima que,
apenas neste ano, cem mil trabalhadores deverão ser dispensados na indústria
paulista. Até agosto, 31,5 mil vagas já tinham sido cortadas no estado de São
Paulo, no pior resultado dos últimos cinco anos.
Que cenário esperar em 2015 para a
indústria, que já está patinando este ano? Depende de quem for eleito?
Acredito que 2015 não será um ano
fácil. Vamos viver uma crise brava. Já estamos prestes a ver demissões em massa
e mais paradas na produção, que já começaram. Não só na indústria, mas em todos
os setores. É um período dos mais difíceis que vivi em termos profissionais.
Mas acredito que 2015 também será uma oportunidade de ajustar o país para
voltar à normalidade.
O que mais prejudica a indústria?
Precisamos de uma condição
compatível com a que existe no mundo. O câmbio, por exemplo, tem que flutuar.
Hoje, o real ainda está muito valorizado. Precisamos de um dólar a R$ 2,50 ou
R$ 2,52 para que haja uma perspectiva de exportação e, ao mesmo tempo, se
dificulte um pouco a importação. Se você começa a alterar artificialmente esses
quesitos (o câmbio), você impede o desempenho normal da indústria e dos outros
setores produtivos. Além disso, os juros altos asfixiaram a economia.
Mas o governo elevou os juros e
vinha tentando manter o o câmbio em torno de R$ 2,25 para evitar mais inflação,
cenário que também prejudica a indústria, não?
A preocupação do governo sempre foi
a inflação, mas por causa da reeleição. Agora, essa preocupação é legítima. Mas
acho que o desemprego é um risco maior ainda. Hoje, apesar de o governo estar
segurando a inflação, o risco de demissões já está presente em todas as
empresas. Além disso, os juros absurdos para o consumidor também trouxeram
falta de confiança das pessoas para consumir, aliado ao medo do desemprego.
Houve um desmonte do mercado interno, que sustentou o país nos últimos 12 anos.
O modelo de crescimento da economia
via consumo se esgotou?
Eu acho que não. Acho que se
tivéssemos uma gestão forte e o governo tivesse gastado menos poderia manter
esse modelo de crescimento pelo consumo.
O que é necessário para retomar o
investimento privado?
Se as reformas forem feitas no ano
que vem, acredito que será preciso pelo menos dois anos para resgatar a confiança
dos empresários e os investimentos voltarem. Há uma crise de confiança do
capital privado com a falta de previsibilidade.
O intervencionismo do governo na
economia atrapalhou a indústria?
Isso causou um mal-estar geral. Na
nossa visão, o governo não tem que ser gestor. Tem que legislar e cobrar. A
indústria, o sistema financeiro e o setor de serviços são maduros o suficiente
para tocar as coisas.
É viável ter como interlocutor um
ministro da Fazenda demissionário?
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Até sair, o ministro estará lutando
para fazer o melhor pelo país. Nós também. Ele não tem interesse em sair e
deixar o país numa situação perigosa.
Como analisar o uso do Fundo
Soberano para fechar as contas?
Acho que isso é direito do governo.
Mas mostra que a gente continua usando de artifícios para atingir os números
desejados. Era melhor partir para uma redução do déficit e do gasto para buscar
o equilíbrio. Se a gente arrecada menos tem que gastar menos. As coisas têm que
ser bem administradas e de forma transparente, o que não está ocorrendo hoje.
==========
ECONOMIA
Segundo o documento, assinado por mais de 700 economistas,
mercado está pressionando o governo a adotar austeridade fiscal e monetária, o
que foi chamado de 'pragmatismo sob coação'
07.11.2014 | 18:15
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Fernando Ladeira - O Estado de S. Paulo
Luiz
Gonzaga Belluzzo é um dos economistas que assina o documentoUm grupo de mais de 700 economistas assinou um manifesto online criticando a ideia de que a austeridade fiscal e monetária seja o único meio para resolver os problemas brasileiros. "Esperamos contribuir para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate econômico em nossa democracia", diz o texto.
Sem citar nomes, o documento afirma que um dos vocalizadores
do mantra pela austeridade chegou a afirmar que um segundo mandato de Dilma
Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão
substancial do mercado, o que foi chamado de "pragmatismo sob
coação".
O manifesto, que conta com a assinatura de nomes como Maria
da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marcio Pochmann e João Sicsú,
argumenta que durante a campanha presidencial foram colocados em votação dois
projetos para o País, e o vencedor foi o projeto favorável ao desenvolvimento
econômico com redistribuição de renda e inclusão social. O documento conta, até
o fim da tarde desta sexta-feira, com 774 assinaturas.
Os economistas afirmaram que, na contramão deste projeto,
desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma "a difusão de ideias deu a
impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para
os graves problemas da sociedade e da economia brasileira".
A avaliação de representantes do mercado financeiro de que a
desaceleração da economia teria que ser combatida com a credibilidade
proveniente de uma austeridade fiscal e monetária, afirma o manifesto, "é
inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia
que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de
sobreaquecimento". Para eles, se essa proposta for adotada isso irá
deprimir o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um
círculo vicioso de desaceleração ou queda na arrecadação tributária, baixo
crescimento econômico e aumento na carga da dívida pública líquida na renda
nacional.
O manifesto acrescenta que é fundamental a preservação da
estabilidade da moeda e acrescenta que os signatários do documento também são
favoráveis "à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de
recursos tributários". "Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes
do mercado financeiro que chama de 'inflacionário' o gasto social e o
investimento público em qualquer fase do ciclo econômico."
O texto ainda critica o argumento de que as desonerações
aumentam os gastos públicos e a inflação. Os economistas também avaliam que a
inflação manteve-se dentro do limite da meta inflacionária no governo Dilma
Rousseff, "a despeito de notáveis choques de custos como a correção
cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no
mercado internacional".
Para estes economistas, "é essencial manter taxas de
juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal
comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas
contracionistas, se necessárias, para quando voltar a crescer". Na semana
passada, porém, em uma decisão surpreendente, o
Copom decidiu elevar a taxa básica de juros Selic para 11,25% ao
ano.
Eles argumentam que a proporção da dívida pública líquida na
renda nacional não é preocupante, sob qualquer comparação internacional. A
possibilidade de recessão e a carência de bens públicas e infraestrutura social
foram citados no manifesto como questões que preocupam os economistas.
Os países desenvolvidos que adotaram um programa de
austeridade registraram um agravamento da recessão, do desemprego, da
desigualdade e da situação fiscal, complementa o texto.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Economia companheira fez o Brasil estagnar: pobres e miseraveis aumentaram - Reinaldo Azevedo
Sabem por que a miséria cresceu? Porque o modelo petista morreu! O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procriaReinaldo Azevedo, 6/11/2014
O Brasil elegeu um governo que já nasce morto, infelizmente! O PT não tem mais nada a oferecer ao país. Os dados sobre miséria e pobreza coligidos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad, do IBGE, indicam que, de 2012 para 2013, o número de miseráveis no país cresceu: de 10,081 milhões para 10,452 milhões — um acréscimo de 371.158 pessoas. Os dados estão no site do Ipea, órgão subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). O instituto, por orientação da SAE, escondeu esses dados durante a campanha eleitoral alegando que a lei impedia que fossem divulgados. É mentira. Foi só uma trapaçazinha eleitoral.
O que é um miserável? É a pessoa que não tem renda para suprir as suas necessidades calóricas mínimas. O que isso quer dizer? É uma perífrase da fome. Sim, no país de cartão-postal da propaganda eleitoral petista, ainda há quase 11 milhões de famintos.
Segundo o Ipea, o número de pessoas pobres teve uma queda no período: de 30,35 milhões para 28,69 milhões em 2013. O que é um pobre? É aquele que tem o dobro da renda do miserável. Vale dizer: consegue ao menos comer. No país das Alices petistas, pois, há praticamente uma Argentina (perto de 40 milhões), em que quase 29 milhões conseguem ao menos comer — e só — e mais de 10 milhões, nem isso. Onde eles estão? Mais da metade, no Nordeste, que concentra, por isso mesmo, o maior percentual de beneficiários do Bolsa Família e onde o terrorismo eleitoral petista foi mais eficiente. Como escrevi numa coluna da Folha, a culpa não é do Nordeste, é da pobreza.
Mas há outro corte igualmente desagradável para o governo Dilma, que lançou o tal programa Brasil sem Miséria. Segundo esse programa, a linha de corte para definir um miserável, creiam, é R$ 77. Com R$ 78, ele será apenas um pobre… Pois é. Caso se leve esse número em conta, os miseráveis cresceram de 3,6% para 4% e são agora 8,05 milhões de pessoas — 870.784 pessoas a mais.
É claro que, um dia, ainda vamos nos indignar com uma “elite” (né, Lula?) que considera que o sujeito se livra da miséria com R$ 78. Mas vá lá. Volto ao começo. Digo que o país reelegeu um governo já morto porque parece evidente que os mal chamados “programas de renda” (eu acho que o Bolsa Família é assistencialismo necessário, não programa de renda) já deram o que tinham de dar.
É claro que a inflação corroeu parte do ganho dos muito pobres — a velha inflação, tão tolerada pelo governo. Segundo a candidata Dilma, só é possível diminuí-la gerando desemprego, lembram-se? Gênio da raça. Mas há uma questão de fundo: se o país não voltar a crescer a níveis aceitáveis, há pouco a fazer com os miseráveis, com os muito pobres, a não ser tentar expandir ainda mais os programas assistencialistas, aumentando o número de cativos. E, ainda assim, ficarão sujeitos à incompetência gerencial — esta mesma que flertou com a inflação e puniu quem menos tem.
Enquanto o país foi beneficiado por um ciclo da economia mundial que lhe permitiu ancorar o crescimento no consumo — deixando de lado todos os outros fundamentos da economia —, foi possível crescer um pouco e minorar os extremos da miséria. Mas falta muito, muito mesmo!, para vencer a pobreza. O Brasil “de classe média” é uma fantasia estatística. É preciso alargar muito o conceito para chegar a essa conclusão.
O país precisa voltar a crescer. E, até onde a vista alcança, o PT não sabe como fazê-lo sem gerar mais inflação. De maneira realmente desafiadora para a inteligência, tem conseguido o contrário: crescer perto de zero com inflação alta. Dilma foi eleita pelos pobres, como quer o petismo? Como se vê, pior… para os pobres.
A miséria cresceu porque o modelo petista morreu. O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procria, como escreveu o poeta.
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