Mais de 700 economistas,
antirecessivos, estão justamente alertando o governo para não fazer essas
políticas de austeridade, de cortes de investimentos, não aumentar os juros,
nem cortar programas de estímulo, mas não adianta: o governo é neoliberal e vai
fazer todas essas maldades mesmo contra a opinião de economistas amigos, que
todos apoiaram o governo, ficaram contentes que a oposição tenha sido
derrotada, e estavam esperando um outro cenário, que não esse do neoliberalismo
aplicado. Esse governo é traidor, eles devem estar pensando.
Paulo Roberto de Almeida
Até agosto, 31,5 mil vagas já foram cortadas no estado, o
pior resultado em 5 anos
por João Sorima Neto
O Globo, 26/09/2014
SÃO PAULO - O próximo ano será
marcado por “uma crise brava”, com novas interrupções na produção industrial e
desemprego elevado, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. Para o empresário, o assunto estará
na pauta dos candidatos à Presidência no segundo turno. A entidade estima que,
apenas neste ano, cem mil trabalhadores deverão ser dispensados na indústria
paulista. Até agosto, 31,5 mil vagas já tinham sido cortadas no estado de São
Paulo, no pior resultado dos últimos cinco anos.
Que cenário esperar em 2015 para a
indústria, que já está patinando este ano? Depende de quem for eleito?
Acredito que 2015 não será um ano
fácil. Vamos viver uma crise brava. Já estamos prestes a ver demissões em massa
e mais paradas na produção, que já começaram. Não só na indústria, mas em todos
os setores. É um período dos mais difíceis que vivi em termos profissionais.
Mas acredito que 2015 também será uma oportunidade de ajustar o país para
voltar à normalidade.
O que mais prejudica a indústria?
Precisamos de uma condição
compatível com a que existe no mundo. O câmbio, por exemplo, tem que flutuar.
Hoje, o real ainda está muito valorizado. Precisamos de um dólar a R$ 2,50 ou
R$ 2,52 para que haja uma perspectiva de exportação e, ao mesmo tempo, se
dificulte um pouco a importação. Se você começa a alterar artificialmente esses
quesitos (o câmbio), você impede o desempenho normal da indústria e dos outros
setores produtivos. Além disso, os juros altos asfixiaram a economia.
Mas o governo elevou os juros e
vinha tentando manter o o câmbio em torno de R$ 2,25 para evitar mais inflação,
cenário que também prejudica a indústria, não?
A preocupação do governo sempre foi
a inflação, mas por causa da reeleição. Agora, essa preocupação é legítima. Mas
acho que o desemprego é um risco maior ainda. Hoje, apesar de o governo estar
segurando a inflação, o risco de demissões já está presente em todas as
empresas. Além disso, os juros absurdos para o consumidor também trouxeram
falta de confiança das pessoas para consumir, aliado ao medo do desemprego.
Houve um desmonte do mercado interno, que sustentou o país nos últimos 12 anos.
O modelo de crescimento da economia
via consumo se esgotou?
Eu acho que não. Acho que se
tivéssemos uma gestão forte e o governo tivesse gastado menos poderia manter
esse modelo de crescimento pelo consumo.
O que é necessário para retomar o
investimento privado?
Se as reformas forem feitas no ano
que vem, acredito que será preciso pelo menos dois anos para resgatar a confiança
dos empresários e os investimentos voltarem. Há uma crise de confiança do
capital privado com a falta de previsibilidade.
O intervencionismo do governo na
economia atrapalhou a indústria?
Isso causou um mal-estar geral. Na
nossa visão, o governo não tem que ser gestor. Tem que legislar e cobrar. A
indústria, o sistema financeiro e o setor de serviços são maduros o suficiente
para tocar as coisas.
É viável ter como interlocutor um
ministro da Fazenda demissionário?
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Até sair, o ministro estará lutando
para fazer o melhor pelo país. Nós também. Ele não tem interesse em sair e
deixar o país numa situação perigosa.
Como analisar o uso do Fundo
Soberano para fechar as contas?
Acho que isso é direito do governo.
Mas mostra que a gente continua usando de artifícios para atingir os números
desejados. Era melhor partir para uma redução do déficit e do gasto para buscar
o equilíbrio. Se a gente arrecada menos tem que gastar menos. As coisas têm que
ser bem administradas e de forma transparente, o que não está ocorrendo hoje.
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ECONOMIA
Segundo o documento, assinado por mais de 700 economistas,
mercado está pressionando o governo a adotar austeridade fiscal e monetária, o
que foi chamado de 'pragmatismo sob coação'
07.11.2014 | 18:15
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Fernando Ladeira - O Estado de S. Paulo
Luiz
Gonzaga Belluzzo é um dos economistas que assina o documento
Um grupo de mais de 700 economistas assinou um manifesto
online criticando a ideia de que a austeridade fiscal e monetária seja
o único meio para resolver os problemas brasileiros. "Esperamos contribuir
para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela
austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do
debate econômico em nossa democracia", diz o texto.
Sem citar nomes, o documento afirma que um dos vocalizadores
do mantra pela austeridade chegou a afirmar que um segundo mandato de Dilma
Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão
substancial do mercado, o que foi chamado de "pragmatismo sob
coação".
O manifesto, que conta com a assinatura de nomes como Maria
da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marcio Pochmann e João Sicsú,
argumenta que durante a campanha presidencial foram colocados em votação dois
projetos para o País, e o vencedor foi o projeto favorável ao desenvolvimento
econômico com redistribuição de renda e inclusão social. O documento conta, até
o fim da tarde desta sexta-feira, com 774 assinaturas.
Os economistas afirmaram que, na contramão deste projeto,
desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma "a difusão de ideias deu a
impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para
os graves problemas da sociedade e da economia brasileira".
A avaliação de representantes do mercado financeiro de que a
desaceleração da economia teria que ser combatida com a credibilidade
proveniente de uma austeridade fiscal e monetária, afirma o manifesto, "é
inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia
que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de
sobreaquecimento". Para eles, se essa proposta for adotada isso irá
deprimir o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um
círculo vicioso de desaceleração ou queda na arrecadação tributária, baixo
crescimento econômico e aumento na carga da dívida pública líquida na renda
nacional.
O manifesto acrescenta que é fundamental a preservação da
estabilidade da moeda e acrescenta que os signatários do documento também são
favoráveis "à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de
recursos tributários". "Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes
do mercado financeiro que chama de 'inflacionário' o gasto social e o
investimento público em qualquer fase do ciclo econômico."
O texto ainda critica o argumento de que as desonerações
aumentam os gastos públicos e a inflação. Os economistas também avaliam que a
inflação manteve-se dentro do limite da meta inflacionária no governo Dilma
Rousseff, "a despeito de notáveis choques de custos como a correção
cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no
mercado internacional".
Para estes economistas, "é essencial manter taxas de
juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal
comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas
contracionistas, se necessárias, para quando voltar a crescer". Na semana
passada, porém, em uma decisão surpreendente, o
Copom decidiu elevar a taxa básica de juros Selic para 11,25% ao
ano.
Eles argumentam que a proporção da dívida pública líquida na
renda nacional não é preocupante, sob qualquer comparação internacional. A
possibilidade de recessão e a carência de bens públicas e infraestrutura social
foram citados no manifesto como questões que preocupam os economistas.
Os países desenvolvidos que adotaram um programa de
austeridade registraram um agravamento da recessão, do desemprego, da
desigualdade e da situação fiscal, complementa o texto.