Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
O Instituto de Relações e Comércio Exterior, em parceira com o Ministério das Relações Exteriores e a Universidade de São Paulo, têm a honra de convidar V. Sa a participar do seminário
A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima
Minuta de programa e nota conceitual do evento seguem anexas (abaixo).
O seminário será realizado nos dias 16 e 17 de agosto de 2024 (segunda e terça feira), das 9h até às 18h30, em formato presencial, na Confederação Nacional da Indústria - CNI
Embaixador Rubens Barbosa (Irice) e Profa. Dra. Wânia Duleba (USP)
Programação:
EVENTO “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima”
A 30ª edição da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), prevista para ocorrer em Belém-PA, em 2025, marcará o início da segunda fase na implementação do Acordo de Paris. Na ocasião, é esperado que os países apresentem novas e mais ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No entanto, o aumento de ambição almejado para a COP 30 depende dos resultados alcançados nas edições de Dubai (COP 28) e, especificamente, de Baku (COP 29), onde serão definidos os principais assuntos sobre o financiamento climático que possibilitará novas NDCs aos países em desenvolvimento.
Por esse motivo, o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Universidade de São Paulo (USP), está organizando o evento “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima” com o objetivo de analisar os principais assuntos negociados nas COPs mencionadas para subsidiar eventuais posicionamentos do governo brasileiro.
O evento está estruturado em oito painéis que abordarão temas como financiamento climático; mitigação/NDCs; agricultura; petróleo e transição energética; nexo clima – oceano; adaptação e perdas e danos; transições justas/justiça climática, equidade e gênero. O evento contará com a participação de autoridades do governo federal e representantes da sociedade civil, academia, e de organizações privadas e não governamentais.
A partir das discussões, será elaborado um policy paper de cada painel, que serão lançados em edição especial da Revista Interesse Nacional (TBC). O material do encontro será encaminhado ao Itamaraty que, em outubro, começará a receber informações para subsidiar as posições brasileiras nas COPs 29 e 30.
Organização:
Embaixador Rubens Barbosa (Irice)
Profa. Dra. Wânia Duleba (USP)
Apoio:
Ministério das Relações Exteriores, SECLIMA
Confederação Nacional das Indústrias
Climate Emergency Colaboration Group Realização Apoio
EVENTO “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima”
Auditório Fábio de Araújo Motta, CNI DIA 01
16/09/2024
9:00 - 10:00
Abertura
Ministra Sonia Guajajara
Emb. Rubens Barbosa, Presidente do Irice
• Emb. André Correa do Lago, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, MRE
• Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, MMA
• Emb. Tatiana Rosito, Secretária de Assuntos Internacionais, Ministério Fazenda
• Davi Bontempo, Superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade, CNI
Mitigação/ NDCs
10:00 - 11:30 - Painel 1 “Aumentando a ambição na segunda rodada de NDCs”
KN Speaker Thelma Krug, former Vice-President IPCC
Thiago Barral, Secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, MME
Claudio Providas, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD
Tiago Ricci, Diretor da Systemica, Coordenador Projetos de Lei da Aliança Brasil NBS
Ricardo Araújo, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Moderadora: Dra. Thelma Krug, former Vice-President IPCC
11:30 – 11:45 - Coffee break
Agricultura
11:45 -13:15 - Painel 2
“Agricultura sustentável e segurança alimentar na trilha para Belém”
José Carlos da Fonseca, Presidente da Empapel e Relações Internacionais da Ibá
Fernanda Machiavelli, Secretária Executiva do Ministério de Desenvolvimento Agrário
Bruno dos Santos Brasil, Diretor de Produção Sustentável e Irrigação, MAPA
Juliano Assunção, Diretor executivo do Climate Policy Initiative
Virginia Antonioli (WRI), Gerente Sênior de Sistemas Alimentares Sustentáveis WRI Brasil
Moderador: Embaixador José Carlos da Fonseca, Ibá
13:15 – 14:30 - Almoço
Petróleo e Transição energética
14:30 – 16:00 - Painel 3 “Como o setor petrolífero pode contribuir para o financiamento da transição energética; e como o Brasil deve se preparar para o fim da era dos combustíveis fósseis”
Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, MMA
Mauricio Tolmasquim, Diretor Executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras
Carlos Victal, Instituto Brasileiro do Petróleo
Rosana Santos, Diretora Executiva do Instituto E+ Transição Energética
Moderador: Ministro João Marcos Paes Leme, Diretor do Departamento de Energia, MRE
16:00 – 16:30 - Coffee break
Clima e Oceano
16:30 -18:00 - Painel 4 “O nexo clima e o oceano nas COPs 29 e 30”
Ana Paula Prates, Diretora do Departamento de Oceano e Gestão Costeira, MMA
Leandro Pedron, Diretor Departamento de Programas Temáticos, DEPTE, MCTI
Andrei Polejack, Diretor de Pesquisa e Inovação, INPO
Moacyr Araujo, Vice-reitor UFPE e coordenador da Rede Clima
Moderadora: Profa. Dra. Wânia Duleba, USP/Irice
18:00 – 18:30 - Síntese dos painéis e encerramento
DIA 02
17/09/2024
Financiamento climático
9:00 – 10:30 - Painel 5 “A Nova Meta de Financiamento Climático e os resultados esperados para a COP de Baku”
Livia Farias Ferreira de Oliveira, Coordenadora-geral de Finanças Verdes, Ministério da Fazenda
Fernanda Garavini, Chefe do Departamento de Gestão do Fundo Amazônia, BNDES
Maria Netto, Diretora executiva Instituto Clima e Sociedade, iCS
Viviane Romeiro, Diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis, CEBDS
Nicole Makowski, Climate Diplomacy Coordinator at GFLAC
Moderador: Embaixador Rubens Barbosa, Irice
10:30 – 10:45 - Coffee break
Adaptação e perdas e danos
10:45 – 12:15 - Painel 6 “Uma visão brasileira sobre adaptação e perdas e danos causados pela mudança do clima”
Artur Cardoso de Lacerda, Director of Governance Affairs and Secretary to the Board, Green Climate Fund, UNFCCC
Armin Braun, Diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos de Desastres, CENAD
Inamara Melo, Coordenadora Geral de Adaptação à Mudança do Clima, MMA
Bruna Veríssimo, Divisão de Negociação Climática, MRE
Moderador: Ministro Mario Mottin, Chefe da Divisão de Ação Climática, MRE
12:15 – 14:00 - Almoço
Transição justa e equitativa
14:00 – 15:30 - Painel 7 “O papel do Brasil na promoção de uma transição justa e equitativa”
Monique Vanni, Country Director, Wildlife Works
Marcio Astrini, Diretor executivo Observatório do Clima
Anne Heloise, Centro Brasileiro de Justiça Climática
Dinamam Tuxá, Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil APIB
Lara Stahlberg, Chefe de gabinete, Igarapé
Moderador: Marcio Astrini, Observatório do Clima
15:30 – 16:00 - Coffee break
Gênero
16:00 – 17:30 - Painel 8 “A vez da mulher no clima: contribuições brasileiras à agenda de gênero e mudança do clima”
• Maria Jocicleide Lima de Aguiar, Assessora de Meio Ambiente e Justiça Climática, Ministério das Mulheres
Tatiana Castelo Branco - Coordenadora de Mudanças Climáticas da Prefeitura do Rio de Janeiro • Liuca Yonaha, Vice-Presidente do Instituto Talanoa
• Letícia Santiago de Moraes, Secretária de Juventude do CNS
Moderadora: Liuca Yonaha, Talanoa
17:30 - 18:00 - Síntese dos painéis e encerramento
Programa Brasilianistas na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP
Chamada 2024/2025
O programa tem como objetivo incentivar o intercâmbio e o diálogo entre pesquisadores vinculados a instituições de pesquisa e ensino no exterior com a comunidade acadêmica da USP, por meio de estágios de pesquisa de curta duração a serem realizados na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da Universidade de São Paulo.
Os estágios de pesquisa devem estar relacionados aos estudos brasileiros e em diálogo com itens do acervo da Brasiliana. O programa terá sede, será executado e estará sob a responsabilidade acadêmica da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), e seguirá as normas estabelecidas na Resolução CoPq Nº 7413/2017.
O objetivo da chamada é consolidar na BBM um ambiente internacional de pesquisa, congregando pesquisadores e projetos de excelência, com vistas ao fortalecimento da rede de pesquisadores que trabalham com assunto brasileiros no Brasil e no Exterior. Trata-se de um programa que busca contribuir para a internacionalização da universidade, por meio do acolhimento de pesquisadores estrangeiros na USP, assim como para a difusão dos acervos guardados pela Universidade.
Chamada 2024/2025
Público-alvo: pesquisadores com título de doutor em qualquer área do conhecimento, com carreira consolidada, que atuem e tenham vínculo com instituições de ensino e pesquisa no exterior.
Duração: de 1 a 2 meses (estágios de maior duração estão previstos no Edital Residência em Pesquisa, lançado anualmente).
Candidatura: as propostas devem ser encaminhadas para o e-mail da BBM (bbm@usp.br), contemplando o propósito do estágio, a justificativa para sua realização na BBM, a duração pretendida, os resultados esperados e a disponibilidade para realizar palestra e/ou participar dos eventos da BBM. Solicita-se o envio de breve Curriculum Vitae e um documento constando o Resumo do projeto (300 palavras); Projeto (1500 palavras) e plano de trabalho (500 palavras),
Avaliação: As candidaturas serão avaliadas pelo Comitê Acadêmico da BBM, que eventualmente poderá solicitar pareceres ad hoc para a tomada de decisão.
Falta pouco para chegarmos ao primeiro milhão, no dia 11 de agosto. Para o dia 2 de outubro, a meta é de mais de dois milhões. Vamos lá minha gente: mobilizem familiares e amigos para aumentar o apoio da sociedade ao Estado democrático de Direito.
Paulo Roberto de Almeida
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Encontro!
11 de agosto, às 10h Venha fazer parte da história!
Faculdade de Direito da USP Largo de São Francisco, 95
Chamada - Dossiê 1922/2022: O Século da Semana (balanços e perspectivas)
Revista de História - USP
A Semana de Arte Moderna, no Brasil de 1922, foi uma atividade patrocinada por homens endinheirados (Paulo Prado, René Thiolier e outros), realizada num ambiente de pessoas endinheiradas (Teatro Municipal de São Paulo) e assistida por um público de homens e mulheres endinheirados (ingressos pagos, trajes pomposos). Seu alcance ultrapassou esse universo social e estadual, astúcia das Artes, fez-se História também criticamente, às vezes sem o querer.
Vanguardas europeias se interessaram por linguagens de povos de fora da Europa. Para o Brasil, “fora da Europa” era aqui mesmo: indígenas, africanos, múltiplos imigrantes repaginados, “contribuição milionária de todos os erros”, de acordo com Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago. Conforme os Modernistas o demonstraram, ao resolverem essa auto-redefinição nacional, tais “erros” podiam ser acertos...
Embora Modernistas não se confundissem com Regionalismos, o contato dos primeiros com artistas e intelectuais de diferentes estados brasileiros foi cultivado, especialmente por Mario de Andrade, que tanto se dedicou à Epistolografia. Essas relações são importantes para a compreensão de que nem tudo, na Modernidade brasileira, se reduziu a São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; havia uma produção intelectual e artística em diferentes partes do Brasil que também começava a refletir sobre Cultura e Sociedade em novas bases, inclusive a contatar Cultura e Artes de múltiplos países. Isso não diminui o peso da produção modernista naqueles três primeiros núcleos, apenas realça que não vale a pena manter o adjetivo “regional” para os demais nem os considerar meros seguidores de paulistas, mineiros e cariocas.
A Modernidade popular, no Brasil, não dependeu apenas daquela produção artística e intelectual nascida em 1922, em São Paulo & Cia. Movimentos sociais, desde meados do século XIX, evidenciavam lutas por novos direitos, nascidas entre escravos, libertos e imigrantes pobres, a falar sobre Greves, Educação, Mulheres, Moradia, Estado Laico, Divórcio e outros tópicos. E nomes como Machado de Assis, Cruz e Sousa e Lima Barreto foram modernos bem antes de 1922. O Brasil se fez moderno a partir de diferentes sujeitos, artistas ou não. As Artes não apenas falam de pobres e ricos, existem num mundo de ricos e pobres, tema e destino de seus produtos. O poder das Artes vai além da fala dos que já são, política, econômica e socialmente, dominantes.
PRAZO PARA ENVIO DOS ARTIGOS - 31/03/2022 (somente pelo Portal de Periódicos USP)
O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP é um centro multidisciplinar de pesquisas e documentação sobre a história e as culturas do Brasil e guarda muitos tesouros, como quadros de Tarsila do Amaral, cartas de Mário de Andrade e um dos livros mais antigos presentes no Brasil, Crônicas de Nuremberg (1493). A fim de celebrar os 60 anos do instituto em 2022, a 80ª edição da Revista do IEB, publicada em dezembro do ano passado, mostra fotos da antiga sede do centro, construções da nova sede, edições antigas da publicação, entre outros registros que compõem a história do IEB. A revista tem por finalidade publicar artigos originais e inéditos de pesquisadores e autores visando a fomentar a pesquisa nacional, além de resenhas e documentos relacionados aos estudos brasileiros (história, literatura, artes, música, geografia, economia, direito, ciências sociais, arquitetura etc.). “Em tempos de constantes ataques à ciência, ao serviço público e ao patrimônio público, os textos que compõem este número reafirmam a missão de ‘promover uma reflexão crítica sobre o Brasil, a partir da prática da interdisciplinaridade e da pesquisa em acervos’ do Instituto de Estudos Brasileiros”, escrevem os editores e professores da USP Inês Gouveia, Luciana Suarez Galvão e Walter Garcia.
O primeiro artigo, As caravanas: racismo e novo racismo, de Adélia Bezerra de Meneses (USP), explora a ambiguidade da toponímia (estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugar) carioca na música As Caravanas, de Chico Buarque. A autora faz um aprofundamento da crítica literária dos versos mostrando como o passado escravocrata permanece na zona sul do Rio de Janeiro. Lançada em 2017, a música expõe temas como a exclusão social, o racismo e a islamofobia. A fim de ilustrar essas questões, Adélia realiza um aprofundamento na análise com notícias. Segundo ela, essa canção não é uma crônica carioca, ela vai fundo no ethos do País.
Braços nas argolas e sorrisos nos rostos: narrativas museais sobre a escravidão é o título do artigo de Vinícius Oliveira Pereira e Alexandra Lima da Silva, ambos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Trata-se do mapeamento e a identificação de museus dedicados ao temas sobre tráfico transatlântico de pessoas escravizadas e a escravidão. O texto se inicia com a cena de turistas tirando fotos e posando ao lado do Pelourinho de Mariana (MG), demonstrando insensibilidade com a memória que remete a anos de tortura e resistência. A partir daí os escritores se debruçam, entre outros temas, sobre “a insistência por parte das instituições museais em valorizar a dimensão da violência cometida contra escravizados” e “a desvinculação entre trauma e racismo”. O artigo examina imagens dos acervos disponíveis na internet e das postagens publicadas nas redes sociais dos museus identificados e a compreensão de narrativas sobre a escravidão visibilizada nesses espaços.
Já no ensaio de Paulo Toledo Bio (UFRJ), Modos de conexão popular no cinema brasileiro pré-64: Considerações sobre Vidas Secas, Os fuzis e o inacabado Cabra marcado para morrer, explora três exemplos da tentativa de estabelecer laços “com as frações populares e marginais do País” naquele período. Os destaques nas produções são a geografia do sertão, a miséria extrema, a luta de classes e o messianismo. Nesse sentido, o texto promove uma reflexão sobre a conexão dos realizadores desses filmes da década de 1960 com a população marginalizada brasileira no nível temático, estético e político das obras.
Ainda na área do cinema, mas em conjunto com os campos literário e historiográfico, Do dois ao três, ou A reprodução da burrice paulista, de Victor Santos Vigneron (USP), traz uma revisão bibliográfica e se ampara em pesquisa no acervo da Cinemateca Brasileira para analisar a adaptação cinematográfica de Amar, verbo intransitivo, de Paulo Emílio Salles Gomes. Inspirado no romance de mesmo título de Mário de Andrade, publicado em 1927, a adaptação cinematográfica é objeto de análise em relação às escolhas formais e temáticas feitas pelo autor com outros aspectos significativos de sua trajetória.
Parte da obra epistolar de Mário de Andrade e de sua fortuna crítica é analisada em Cartas para Murilo Miranda, o amigo com quem envelheço, artigo de Monica Gomes da Silva (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e Matildes Demétrio dos Santos (Universidade Federal Fluminense). As correspondências expõem o embate entre o funcionalismo público e a atividade artística que se refletiram em uma escrita que “transgride os limites convencionais do gênero […], pelo seu valor literário e histórico”. Nas cartas trocadas entre Mário de Andrade a Murilo Miranda entre 1934 e 1945, percebe-se um Mário muito distante da utopia vanguardista dos primeiros anos do Modernismo brasileiro.
As técnicas composicionais empregadas em Canções sem metro (1900), de Raul Pompeia, são objetos de estudo de Marconi Severo (Universidade Federal de Santa Maria). Em Literatura e filosofia em Raul Pompeia se observam as técnicas do “chiaroscuro” e da “circularidade interna” na obra de Pompeia que, para 0 autor, conseguiu, sob o preço da incompreensão crítica, abordar literariamente suas reflexões filosóficas. Para Severo, essas são mais reformistas do que revolucionárias; mais detidas no homem em si, apesar de considerá-lo como essencialmente mau, do que em aportes metafísicos. “Recorrendo a fontes originais, procuro destacar que a crítica corriqueiramente recaiu em um grande equívoco ao ressaltar um aspecto mais pessimista e sombrio de Raul Pompeia do que a análise de suas obras permite crer”, informa o autor.
A fim de estudar a interpretação de José Marianno Filho sobre a herança ibérica colonial brasileira, Ana Paula Koury (Universidade São Judas Tadeu) escreveu o artigo O Iberismo como primitivismo: a abordagem de José Marianno Filho. Nele, a autora expõe publicações da década de 1920, n’O Jornal, com a hipótese de que neles Marianno Filho incluiu a “herança ibérica como parte de um programa nacionalista, em sintonia com o quadro político do Brasil republicano”, acabando por fornecer elementos fundamentais para a “narrativa nacionalista do Modernismo”.
Recuando no tempo, Teatralidade e carnavalização. Zé Pereira no final do séc. XIX, de Marcelo Fecunde de Faria e Robson Corrêa de Camargo, ambos da Universidade Federal de Goiás (UFG), explora crônicas de Vieira Fazenda (1847-1917) e de Luís Edmundo de Melo Pereira da Costa (1878-1961)” e busca compreender “a criação do personagem Zé Pereira” em meio a um período de “mudanças radicais” no Brasil e, sobretudo, no Rio de Janeiro, período do qual fez parte “o processo de higienização das festas de ruas”. O artigo faz parte de projeto de doutorado que investiga a carnavalização, as performances e as teatralidades luso-brasileiras nas manifestações que se intitulam Zé Pereiras.
O último artigo da seção, Entre Ciência e História: Brasil, um Jardim para a França, de Ana Beatriz Demarchi Barel (UEG), estuda as relações entre romances de José de Alencar e relatos de viagem de Ferdinand Denis e de Auguste de Saint-Hilaire. Essa literatura de viagens que diz respeito às relações entre França e Brasil remonta aos tempos pré-coloniais, quando, ao menos no século 17, narrativas míticas circulavam na Europa e descreviam, imaginando, o território que virá a ser chamado pelos portugueses de Brasil.
Outras seções
A seção Criação – publicada pela primeira vez na edição anterior da Revista do IEB, com o objetivo de publicar materiais inéditos de escritores e/ou artistas, fotógrafos, desenhistas, além de documentos inéditos encontrados no Arquivo do IEB-USP – reúne três Contos baldios, de Márcio Marciano. Dramaturgo e encenador, Marciano fundou a Companhia do Latão, em São Paulo e o Coletivo de Teatro Alfenim, em João Pessoa. Atualmente é consultor da Academia Paraibana de Cinema. Nas palavras do crítico José Antonio Pasta (2017, p. 22), seu trabalho artístico “tem o vezo de procurar resolver os problemas, não ao aliviá-los, obviando o que neles é obstáculo, mas, ao contrário, incrementando a sua dificuldade, extremando-a, até que ela passe no seu outro”.
Na seção Documentação é publicado o artigo Quando restos mortais tornam-se rastros: algumas reflexões sobre a organização do Fundo Alice Piffer Canabrava do Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP), de Otávio Erbereli Júnior (USP). O texto é resultado de uma operação arquivística na qual fazer, sentir e refletir se entrelaçam, conforme o autor. Durante os anos de 2015 e 2016, Erbereli Júnior teve contato diário com a documentação de Alice Piffer Canabrava. Em um primeiro momento, o autor narra a operação arquivística relacionada ao tratamento da documentação. O segundo momento é fruto de um fazer-sentir a partir desse contato íntimo e diário com a documentação, ou seja, traz algumas reflexões sobre as práticas de autoarquivamento empreendidas por Canabrava.
Na última parte da revista, Fábio Alexandre dos Santos (Unifesp) analisa e interpreta História Econômica do Brasil: Primeira República e Era Vargas, organizado por Guilherme Grandi e Rogério Naques Faleiros, no segundo volume da Coleção Novos Estudos em História Econômica do Brasil. No texto, Santos se dedica a pensar no complexo período que vai da Primeira República ao fim da Era Vargas. Seus artigos expressam essa complexidade dialogando com o conjunto das dinâmicas do sistema capitalista que marcaram a economia mundial no período, além de propor reflexões que inevitavelmente nos trazem para os problemas do presente. Da cultura cafeeira e dos efeitos dela decorrentes à proibição de as garçonetes trabalharem à noite, suas problemáticas nos convidam a pensar o processo de acumulação no Brasil, suas peculiaridades e o que somos.
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros número 80 pode ser baixada gratuitamente no Portal de Revistas da USP.