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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Incrivel: um texto de 2006, mais atual do que nunca...

Eu escrevo demais, já sei, e alguns dos meus leitores também.
Um aspecto negativo disso -- além do fato que aparentemente eu escrevo mais rapido do que alguns conseguem ler, segundo me disse um amigo -- é que eu esqueço o que produzi em outras épocas, e que ainda pode apresentar alguma validade para os tempos presentes.
Esse texto abaixo, por exemplo, não só conserva atualidade, mas como antecipou, se ouso dizer, o futuro.
A situação foi confirmada, da pior maneira possível, quanto às antecipações apenas sugeridas.
Confesso que eu gostaria de estar errado.
Enfim, julguem vocês mesmos.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai 17 de maio de 2010)

Verdades que não podem ser definitivas
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 julho 2006, 5 p.
Considerações em torno de algumas afirmações simplistas (Congresso atual como o pior de todos, carga fiscal no teto, qualidade da educação etc.), em forma de desabafo.
Postado originalmente neste blog, neste link.

Freqüentemente tenho ouvido algumas teses que passam por verdades absolutas, uma vez que são continuamente repetidas por eminentes personalidades da vida pública, como se diz.
Como não estou de acordo com algumas delas, permito-me aqui fazer pequenas correções a essas “verdades inquestionáveis”. Apenas alguns exemplos:

1) “Este é o pior Congresso de todos tempos”.
Não, não é, pela simples razão que este é apenas um Congresso “normal”, que reflete as realidades políticas e sociais brasileiras, e que os “tempos” ainda não acabaram.
Em outros termos, temos tempos duros pela frente, e podem ter absoluta certeza de que teremos Congressos ainda piores do que este, pela simples razão de que o Brasil encontra-se em plena construção de sua “democracia de massas”. Nessas condições, é inevitável que as antigas representações elitistas sejam podadas em favor dos novos representantes das classes “populares”, ou melhor ainda, pelos representantes dos setores organizados de massa – sindicatos, igrejas, movimentos sociais, grupos de interesse setorial etc. – que normalmente costumam ser militantes ativos, não intelectuais de gabinete.
Por outro lado, o sistema político, tal como está construído no Brasil, é uma importante modalidade de ascensão social, atraindo portanto os arrivistas, oportunistas e outros meliantes não armados – alguns armados – que, vendo no Congresso um excelente vetor de ‘negócios’ de todo o gênero, pretendem ganhar a vida facilmente nesse balcão de negociatas em que se converteu o setor público em nosso país.
Ou seja, quem acha que não poderia haver Congresso pior do que este, deveria se preparar para novas decepções. O cenário político brasileiro ainda tem muito espaço para todos os tipos de oportunismo político, o que significa que a qualidade da representação continuará a se deteriorar. Que ninguém tenha ilusões quanto a isso.

2) “A carga tributária brasileira já bateu no teto, está no limite, impossível subir mais”.
Outro ledo engano. Não há limite teórico para a carga tributária, embora possa haver alguns limites práticos, dados pelas conhecidas relações econômicas entre taxação e recolhimento (emagrecimento da base pela fuga da formalidade, mas existem limites para isso também, pois assalariados não conseguem fugir da voracidade tributária e os liberais apenas o fazem parcialmente).
Quem disse que a carga tributária não pode aumentar mais, não conhece a sanha arrecadatória e arrecadadora da nossa máquina impositiva, uma autoridade fiscal das mais eficientes no mundo. A receita pode, e deve, continuar aumentando, por razões muito simples.
As despesas já “contratadas” pelo Estado têm de ser financiadas de alguma forma, uma vez que o governo já decidiu conceder aumentos generosos para diversas categorias de servidores públicos e vem criando novas fontes de gastos por meio de seus generosos (estou sendo irônico, claro) programas sociais, o mensalinho do “bolsa-família”, difícil de ser descontinuado depois de criado (ainda que ele possa ser transformado num sentido menos assistencialista e mais orientado a qualificar profissionalmente os mais pobres e os de baixa educação formal).
Como existem alguns limites à “contratação” de mais inflação, uma das três vias clássicas para a erosão das obrigações financeiras do Estado, e como também fica difícil emitir dívida pública em bases puramente voluntárias – pois os agentes econômicos podem, a partir de um certo limite recusar comprar os títulos a taxas de juros razoáveis – sobra, portanto, a via do recolhimento tributário. Claro, o Estado sempre pode recorrer a empréstimos compulsórios, mas isso é politicamente difícil, pois dependeria de o Congresso aprovar lei específica, ao passo que a exação fiscal, pelos mecanismos já existentes (isto é, sem aprovar novos impostos), é sempre possível.
Quanto a mim, eu não tenho nenhuma dúvida de que continuaremos pagando cada vez mais para o Estado cobrir suas obrigações, que diga-se de passagem, são demandadas pela própria sociedade. O povo brasileiro adora o Estado, pede, suplica, implora que o Estado venha em seu socorro para fazer algum programinha social ou alguma nova prestação setorial. Ele vem, só que no meio do caminho abocanha mais um pouco da riqueza que é gerada socialmente.

3) “A corrupção atingiu limites nunca antes vistos, não é mais possível continuar assim”.

Difícil saber, pois não dispomos de um “corruptômetro” para medir avanços e recuos relativos da corrupção. Quantos “por cento” do PIB são intermediados de maneira “heterodoxa”, digamos assim? Difícil saber, não é mesmo? Não temos base de comparação, histórica ou atual.
O certo é que a corrupção tende necessariamente a aumentar quando os fluxos de receitas e de pagamentos transitam pelos canais oficiais, uma vez que se supõe que transações puramente privadas são estreitamente vigiadas pelas partes no negócio, cada um cuidando do seu rico dinheirinho.
O dinheiro da “viúva” é um pouco de todo mundo, transita por muitas mãos, no sentido metafórico, claro, ou seja, existem milhares de programas considerados essenciais para o bem estar público que devem ser objeto de cuidadoso planejamento, alocação, discussão congressual, alocação, empenho, licitação, leilão, concorrência, doação, enfim, as mais diferentes formas de repartição pública que se possa conceber. É evidente que num sistema que mobiliza grandes proporções de dinheiro arrecadado daqueles que geram a riqueza e a renda – que são sempre, por definição, os agentes econômicos privados, uma vez que o Estado raramente produz qualquer bem real – alguns desses muitos intermediadores do dinheiro “público” encontram alguma maneira inteligente de desviá-lo para seu próprio usufruto.
Donde se conclui que quanto maior a proporção do PIB brasileiro que passar pelos canais públicos, maiores serão as oportunidades de corrupção. Uma vez que suponho que a carga fiscal total no Brasil ainda não chegou aos seus limites e tende a aumentar, ainda que modesta e lentamente na fase presente, não tenho por que acreditar que a corrupção chegou aos seus limites no Brasil.
Como tampouco acredito que mecanismos mais “eficientes” de monitoramento e controle sejam uma resposta ideal ao sistema – uma vez que sempre haverá meios de contornar esses mecanismos, uma vez conhecidos –, minha conclusão é uma só:
A corrupção só diminuirá, no Brasil, quando um menor volume de dinheiro for transacionado pelos canais oficiais. Concordam com isso? Para mim, é elementar...

4) “A qualidade da educação já atingiu patamares mínimos, agora tem de melhorar.
Os otimistas incuráveis acham que a escola pública já piorou o que tinha de piorar e que, daqui para a frente, o movimento será no sentido de sua melhoria substantiva.
Eu acho que ainda não atingimos o fundo do poço, por duas razões muito simples.
A primeira ordem de razões prende-se aos problemas fiscais já detectados anteriormente: como a situação das contas públicas tende a se deteriorar ainda mais, no futuro previsível, não é razoável esperar que um maior volume de recursos possa ser investido na escola pública, de molde a melhorar sua qualidade.
A segunda é a incultura generalizada na sociedade, facilmente detectável nos canais públicos de televisão e nas universidades de modo geral. Resultado paralelo de nossa “democracia de massas” e de um descaso generalizado com a escola pública, mais e mais pessoas ignorantes ascendem a posições de mando e de poder, com o que elas continuam contribuindo para a deterioração ainda maior do ensino primário e secundário, público e privado (que não pode ficar imune aos padrões societais vigentes).
Como todos sabem, temos dirigentes políticos que exibem uma ignorância verdadeiramente enciclopédica, isto é, ela atinge os mais variados campos do saber humano. Como não existe muita autocrítica, ela continua impunemente produzindo efeitos deletérios sobre todo o nosso sistema público, sobre a escola e o ensino em particular.
Como tambem se dissemina uma cultura do igualitarismo e do distributivismo primários, reflexos de um marxismo ainda mais primário que continua a ser a base do ensino médio neste país, não há nenhum risco de melhoria na educação pública.
Ou seja, prenuncio dias brilhantes pela frente, em termos de decadência moral e substantiva da escola pública no Brasil.


5) “O Brasil está condenado a ser grande e importante, é o país do futuro”.
Essas tiradas patrioteiras nunca me comoveram, pela simples razão de que, como todos sabem, tamanho não é documento, pelo menos não absolutamente. A China sempre foi enorme, gigantesca, e decaiu continuamente durante três ou mais séculos, antes de começar a reerguer-se, penosamente, nas duas últimas décadas do século XX. Ela está longe, ainda, de ser um exemplo de prosperidade para o seu povo, ainda que possa já ser uma potência militar e venha a ser, brevemente, uma potência tecnológica, também. A Rússia sempre foi um gigante de pés de barro, seja no antigo regime czarista, seja durante os anos de socialismo senil, até esboroar-se na decadência política e no capitalismo mafioso, do qual ela ainda não se recuperou.
O Brasil sempre foi grande, e pobre, não absolutamente, mas educacionalmente paupérrimo, miserabilíssimo no plano cultural. Somos hoje um país totalmente industrializado – repito, totalmente – e uma potência no agronegócio e não deixamos de ser pobres educacionalmente falando. Ainda estamos no século XVIII em matéria de ensino, quando não de cultura. Bem sei que dispomos, atualmente, de um sistema de produção científica que se situa entre os vinte melhores do mundo, mas isso “atinge” – é o caso de se dizer –, se tanto, uma mínima parcela da população, uma superestrutura extremamente fina em termos sociais.
A conversa dos “BRICs” tampouco me convence, pois o que vale, em última instância, não é poder econômico absoluto, mas poder relativo e, sobretudo, bem estar e prosperidade para a sua própria população, qualidade de vida, e nisso estamos muito aquém do desejável. Não existem BRICs, ou não BRICs, existem povos que conseguiram resolver seus problemas básicos e que passam a dispensar, à sua sociedade, oportunidades culturais “excedentárias”, digamos assim. O Brasil não dispensa sequer o mínimo para um contingente apreciável de brasileiros, e não pode pretender assim ser grande e importante. Aliás, ele até pode ser, entrar no Conselho de Segurança, influenciar reuniões multilaterais e até a agenda internacional, mas continuará sendo um gigante de pés de barro enquanto não resolver problemas básicos no interior de suas fronteiras.
Essa história de “futuro” é risível, se não fosse trágica, para milhares de crianças condenadas a uma existência miserável nas favelas, por falta de condições mínimas na escola para disputar depois uma ocupação produtiva na sociedade, e útil para o restante da comunidade. Estamos, literalmente, jogando na lata de lixo milhares de crianças todos os dias. Um país assim não pode ser grande e importante.
Para mim, ele continua a ser pequeno e medíocre...

Brasília, 2 de julho de 2006

(PS 2010: Bem, não creio ter errado por excesso de pessimismo, ao contrário; a realidade se encarregou de confirmar as minhas piores expectativas...)

What if? Que pasa si...?: uma historia virtual colombo-venezuelana

Um jornalista começa a imaginar cenários alternativos à derrocada econômica de Chávez e seu "socialismo do século 21" (deveria ser do século 18...).
Da pior forma possível...

Pesadilla
Andrés F. Arias
Analítica, Domingo, 16 de mayo de 2010

Una flotilla de 15 aviones SU-30MK-2 cruza la frontera entre Venezuela y Colombia. Hacen parte de los 24 aviones de combate rusos Sukhoi-30 que el Presidente Chávez adquirió durante los últimos años. Aquellos que superan en velocidad y capacidad de fuego a los aviones norteamericanos Lockheed F-16 y a los aviones franceses Dassault Mirage 2000-5.

Los 15 aviones se dividen en 3 escuadrones de a 5. En 10 minutos el primer escuadrón está sobrevolando Barranquilla y destruyendo la base aérea en Malambo. En 12 minutos el segundo escuadrón está sobrevolando Barranca y destruyendo la refinería. 2 minutos más tarde ese mismo escuadrón está bombardeando la base de Palanquero y en camino a Tolemaida. En 15 minutos el tercer escuadrón ya ha comenzado a descargar su artillería sobre Apiay para dirigirse a la base de Larandia en el Caquetá.

Anulada gran parte de la aviación colombiana, los 3 escuadrones venezolanos se enfilan hacia otros 3 objetivos: Bogotá, Medellín y Cali. Fin de la pesadilla. Pero sólo por ahora. Porque la tensión con Chávez va a continuar y es muy probable, por tres razones, que se materialice en un choque abierto y violento con Colombia.

Primero, Chávez requiere un distractor ante el desastre económico y social atribuible al comunismo del siglo XXI. En efecto, el irrespeto a la propiedad privada, la permanente estatización y las expropiaciones discrecionales del mandatario destruyeron el aparato productivo venezolano. Aniquilaron el estímulo a la inversión, la iniciativa privada, la creatividad y cualquier incentivo a trabajar y prosperar. ¿El resultado? Hambre, desempleo, racionamientos y altas inflaciones que atentan contra el bolsillo de los menos favorecidos. ¿Cuál es el distractor ideal ante semejante desastre económico y social? El choque con Colombia.

Segundo, Chávez enfrenta un retroceso político, especialmente en la frontera. En las pasadas elecciones los departamentos de frontera con Colombia vieron el triunfo de gobernadores y alcaldes de oposición a Chávez. La única forma de recuperar el control político y presupuestal de los departamentos de frontera es imponiendo gobernadores militares afines al régimen. Y, por supuesto, la única forma de justificar la imposición de dichos mandatarios militares es propiciando altos niveles de tensión y escaramuzas en la frontera o, incluso, precipitando una agresión abierta en contra nuestra.

Tercero, Venezuela se ha convertido en el principal corredor aéreo de tráfico de drogas desde Colombia. Los mapas de rutas de narcotráfico que hoy tiene la inteligencia colombiana se asemejan a un florero de trazas aéreas que emanan desde nuestro país y que se expanden por toda Venezuela. Para nadie es un secreto que las mayores ganancias del negocio del narcotráfico se obtienen en el eslabón de las rutas para traficar el alcaloide desde los centros de producción hasta los centros de consumo. Quien controla las rutas controla el negocio. Y es por esto que, cierto sector mafioso-chavista, continuará alentando la crisis y el choque abierto con Colombia.

Por estas tres razones la agresión de Chávez continuará. Él siempre da un paso atrás y dos pasos adelante en su propósito de expandir el comunismo del siglo XXI. En los últimos días lo vimos. Un paso atrás con su discurso conciliador en la cumbre de Mercosur. Dos pasos adelante con la intimidación abierta que ha lanzado sobre el pueblo colombiano si la seguridad democrática es reelegida.

No nos equivoquemos. Sólo alguien con firmeza, temple, determinación y convicción en la seguridad democrática podrá defender al pueblo colombiano de una agresión chavista. Lo que hoy parece una pesadilla puede volverse realidad. Por una Colombia grande, respetada y libre y por la seguridad de nuestros hijos reelijamos la seguridad democrática.

A insustentavel trajetoria fiscal do governo...

...e as chances (mínimas) de crescimento sustentado no Brasil.
O Brasil de fato não consegue crescer com suas próprias pernas. As taxas recentes mais otimistas (antes da crise) foram devidas mais à demanda externa do que ao investimento doméstico. Em um ambiente de estímulo artificial ao consumo, como vem fazendo o governo, o resultado costuma ser mais inflação, inadimplência dos consumidores, estrangulamento das contas públicas e déficits externos. Ou tudo isso junto.
Cabe remediar, quanto antes melhor.
Não existem soluções fáceis em economia, ou remédios sem custo...
Paulo Roberto de Almeida

Nada trivial
SERGIO FAUSTO
O Estado de S.Paulo, 16/05/2010

Peço desculpas pelo economês, mas ele é indispensável para chegar aonde quero com este artigo: o próximo governo não poderá ser um governo de simples continuidade, pois ela não nos levará muito longe, certamente não a tão longe quanto podemos chegar. E aqui falo de continuidade em relação aos governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso, ambos. Temos, portanto, difíceis escolhas políticas a fazer depois de 2010.

Nos últimos dez anos consolidou-se um padrão de política macroeconômica com três pernas na área fiscal e duas na área monetário-cambial. As três pernas fiscais são: meta de superávit primário (receitas menos despesas, excluindo juros) alta o suficiente para impedir o descontrole da dívida pública (o governo federal controla a sua meta diretamente e a dos demais membros da Federação, indiretamente); gastos correntes crescendo mais que o PIB; e carga tributária elevada para cobrir o crescimento dos gastos correntes e, ao mesmo tempo, assegurar o cumprimento das metas de superávit primário e o controle da dinâmica da dívida pública. Na área monetária, as duas pernas são os regimes de metas de inflação e câmbio flutuante, pernas que seriam frouxas sem a companhia das pernas fiscais.

Filha do governo FHC, essa política recebeu duas contribuições do governo Lula. Uma, positiva, consistiu em aproveitar os instrumentos disponíveis e o ótimo ambiente externo de 2003 a 2007 para colocar a dívida pública, a inflação e os juros em trajetória declinante. A outra, negativa, consistiu em pisar no acelerador do gasto corrente, dirigindo para esse tipo de despesa 85% do ganho fiscal gerado pelo crescimento da arrecadação e pela diminuição da despesa com pagamento de juros. Além disso, Lula contratou despesas adicionais com pessoal cujo impacto pleno ainda virá.

Até aqui a continuidade dessa política macroeconômica rendeu bons frutos ao País: consolidação da estabilidade econômica com crescimento razoável e maior capacidade de atender às demandas sociais de uma sociedade com muita pobreza e enorme desigualdade. Os pobres, 30% da população no início dos anos 90, passaram a representar menos de 20% nos anos recentes.

Ninguém sensato deseja mudanças nos regimes monetário e cambial. Mas é preciso reconhecer que na área fiscal estamos com os pés trocados e corremos o risco de tropeçar mais à frente.

Os gastos correntes do governo federal têm crescido sistematicamente acima do PIB. Passaram de 14% em 1991 para 22% do PIB em 2009. No mesmo período, a carga tributária deu um salto de aproximadamente 25% para 36% do PIB, um aumento de 11 pontos de porcentagem em menos de 20 anos, fenômeno quase sem paralelo no mundo. Hoje o Brasil tem um nível de carga tributária anômalo para países de renda média, como ainda somos. Cresceu a fatia da União no bolo da arrecadação e aumentou o peso dos tributos em cascata, ruins para a economia e injustos socialmente. Já os investimentos do governo federal não superaram os 2% do PIB no mesmo período. Estados e municípios aumentaram seus investimentos nesses anos, mas não compensaram a queda drástica do investimento público federal em relação ao observado em períodos anteriores.

A atrofia do investimento e a expansão do gasto corrente do setor público se refletem no conjunto da economia. Nota recente da MB Associados mostra que o investimento agregado respondeu por apenas 13% do crescimento na presente década (2000-2010). Já o consumo do governo foi responsável por 20% do crescimento observado, cabendo 70% ao consumo das famílias, estimulado pelo aumento das transferências governamentais (benefícios previdenciários e assistenciais, grandes itens do gasto corrente) e pelo empurrão oficial ao crédito ao consumidor (crédito consignado, "proatividade" dos bancos públicos) no governo Lula. Não é preciso ser economista para saber que essas tendências não são sustentáveis: estamos consumindo demais, poupando e investindo de menos. Cedo ou tarde, isso termina em mais inflação e/ou em crise das contas externas.

Não será fácil mudar a trajetória dessas variáveis. O padrão a que me referi de início tem implícito um acordo social e político. Será necessário fazer escolhas e contrariar interesses. Embora as mudanças possam ser feitas gradualmente, elas têm de começar desde o início do próximo governo. A principal delas consiste em limitar o crescimento do gasto corrente. Ao contrário do que fez o governo Lula, trata-se de pisar no breque, e não no acelerador, fazendo o gasto corrente crescer abaixo, e não acima do PIB e, nele, privilegiando o que há de mais importante: educação e saúde. Só assim será possível aumentar o investimento público e/ou reduzir a carga tributária, sem pôr em risco a "responsabilidade fiscal". Uma saída politicamente atraente é dizer: "Bastam cortes na máquina do governo." Atraente, mas insuficiente: os benefícios previdenciários respondem por quase metade do aumento do gasto corrente do governo federal desde 1991. Tal constatação nos força a repensar a política de aumentos reais do salário mínimo, que remonta a 1995, e recoloca sobre a mesa a reforma da Previdência, à luz do aumento da proporção de idosos nos anos vindouros. O Brasil já gasta com a Previdência mais que o dobro do que gasta com educação, um absurdo.

O ambiente político não é favorável a reformas e ajustes no nível e na composição do gasto público. Desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, lá se vão dez anos, não houve uma só medida aprovada no Congresso, com exceção parcial da reforma da Previdência do setor público, em 2003, que visasse a limitar o crescimento do gasto público corrente. A tentativa do ex-ministro Palocci de limitá-lo legalmente foi bombardeada ainda no Executivo, sob o fogo cerrado da ministra Dilma, então chefe da Casa Civil.

Nada trivial é a missão política que o próximo presidente da República, homem ou mulher, tem pela frente.

DIRETOR EXECUTIVO DO IFHC, É MEMBRO DO GACINT DA USP

domingo, 16 de maio de 2010

Itamaraty terá mais negros num eventual governo Dilma

Matéria de imprensa deste sábado 15 de maio:

"Vamos ampliar a política de cotas, queiram eles ou não"
Por Rainier Bragon
Folha online, 15 de Maio de 2010

A petista Dilma Rousseff afirmou na noite desta sexta-feira, na abertura do Encontro Nacional de Negras e Negros do PT, que se eleita ampliará a política de cotas raciais no ensino “queiram eles ou não”. E chegou a apoiar manifestação do público defendendo a adoção do sistema para o ingresso em mestrado e doutorado.

“O que nos une é o compromisso de que nós vamos fazer políticas afirmativas ou de cotas queiram eles ou não”, discursou Dilma, que acolheu depois manifestação vinda da plateia: “Isso, cota pra mestrado, pra pós-graduação”.

O governo, que desde 2004 tenta aprovar no Congresso um modelo de cotas raciais para a graduação das universidades federais, adota hoje a política no ProUni, o programa de subsídio nas universidades particulares a estudantes de baixa renda.

Na pauta de julgamentos do STF (Supremo Tribunal Federal) há uma ação que questiona a constitucionalidade do sistema.

No discurso de ontem Dilma afirmou que “entre os pobres há um contingente enorme da população negra” e também defendeu a presença de negros no Itamaraty. Ela afirmou no encontro que o presidente Lula dará o nome “Zumbi dos Palmares” ao próximo petroleiro brasileiro.

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Comento (PRA):
A candidata não explicitou como pretende ampliar a presença de negros no Itamaraty, mas se supõe que seja também mediante uma política de cotas, método que ela defendeu, "queiram eles ou não".
Não se sabe bem quem são "eles", talvez a minoria branca que comanda o Itamaraty. Como todos entraram por concurso não identificado, não se sabe bem como se materializará a promessa da candidata. No caso de um concurso, os "eles" são apenas aqueles que passam em concurso. No caso de cotas, será preciso um "tribunal racial"...

sábado, 15 de maio de 2010

Um crash course em concurso para o Rio Branco: é possível?

Recebo cada pedido insólito...
Como este, por exemplo:

"... acompanho seu blog há algum tempo, me tem sido uma ótima fonte de informação e já aprendi muito com suas postagens. Começarei a estudar para o CACD e peço para que se possível o Sr. me indique uma bibliografia em ordem de importância, O IRB disponibiliza uma, mas esta, está em ordem alfabética, por isso lhe peço uma em ordem de importância.
Peço desculpas se lhe importuno com tal pedido, mas lhe digo que não faço isso por acomodação, visto que já explorei todas as formas possíveis para conseguir está informação, inclusive li tudo o que o Sr. disse em seu blog sobre o assunto.
Grato pela atenção
.
Xxxxx Xxxxxx"

O que eu poderia responder?: o que se pretende é que eu classifique a bibliografia por suposta ordem de importância, quando todas as matérias são importantes, igualmente, embora algumas sejam mais relevantes do que outras.
O candidato precisa ter um domínio perfeito do Português, o que não se consegue nos livros, ou pelo menos não exclusivamente. Isso resulta de muita leitura, muita escrita, muita prática de redação, com aperfeiçoamentos constantes ao longo de muito tempo. Eu, por exemplo, me preocupo mais com o conteúdo do que com a forma e meu Português está longe de ser perfeito, possuindo algumas deformações e sérios equívocos que nunca pensei seriamente em corrigir (o que reconheço como erro meu).
O candidato precisa saber inglês muito bem, e eu não tenho nenhum método para isso, pois nunca, repito nunca, aprendi inglês em cursos formais, apenas viajando, lendo, praticando.
Quanto às matérias clássicas, o que se me pede é impossível, mas vou fazer uma recomendação puramente subjetiva, pessoal, do que eu leria como livros:

História Mundial: leria o velho História da Civilização Ocidental de Edward McNall.
História do Brasil: apenas o Boris Fausto, mas o completo, não o conciso.
Economia Brasileira: Gremaud-Tonetto-Vasconcellos, Economia Brasileira Contemporânea.
Geografia, Direito e Relações Internacionais, eu não tenho recomendações.
Quanto aos "clássicos", eu leria Gilberto Freyre (mas apenas um resumo de suas teses, embora o original seja saboroso) e Celso Furtado (embora eu tenha restrições a sua interpretação keynesiana do nosso desenvolvimento econômico).
Tenho muitas outras recomendações, mas eu ficaria com estas apenas.
Divirtam-se.
Paulo Roberto de Almeida
(Hong Kong, 16.05.2010)

O dom Quixote da economia: ele mesmo, nosso personagem conhecido

Tenho até certo constrangimento pelo título, pois o verdadeiro Dom Quijote era uma pessoa nobre de sentimentos, propensa a fazer o bem, por quaisquer meios, mesmo os mais irracionais. Assim era a sua tentativa de combater gigantes que ele via nos moinhos de vento.
Nosso outro quixote, com tudo minúsculo, é propriamente patético: pretende controlar os mercados, o que quer dizer os ventos, a tempestade, o tempo em geral.
Não preciso dizer qual é o destino desse tipo de desatino.
O mais curioso é que ainda se encontrem economistas para apoiar esse tipo de medida.

Congresso da Venezuela regula dólar paralelo
Flávia Marreiro
Folha de S.Paulo, 15 de maio de 2010

Chávez culpa oposição por desvalorização do bolívar e ameaça fechar bolsas. Há duas taxas oficiais do dólar no país, 2,6 por US$ 1 para importação de bens essenciais e 4,3 para o resto; paralelo já chega a 8,2.

Acossado pela escalada da inflação na Venezuela, o governo Hugo Chávez resolveu aprovar lei para regular o crucial dólar paralelo, divisa que circula legalmente no mercado de venda de títulos e bônus. O tipo de câmbio bateu recorde diante do bolívar forte nesta semana.
Na Venezuela, há controle de câmbio desde 2003 e há lenta distribuição de divisas pelo governo, de modo que é o dólar paralelo ou permuta que acaba sendo usado para pagar parte das importações -daí seu efeito direto na alta dos preços.
Ao mercado paralelo também recorrem investidores privados -de pequenos a grandes- que buscam a moeda estrangeira para proteger suas economias e capital da inflação, que fechou abril em 5,2%, a maior alta em um único mês desde 2003.
Em janeiro, Chávez baixou pacote que desvalorizou o bolívar e criou dois tipos de câmbio - 2,6 bolívar fortes por dólar para a importação de bens essenciais, e 4,3 bolívares fortes para os demais usos. Na época, prometeu que o novo esquema seria um golpe à cotação do dólar paralelo.
Apenas quatro meses depois, a modalidade de divisa que flutua só subiu e chegou a 8,2 bolívares fortes.
Na tentativa de segurar a cotação, a Assembleia Nacional da Venezuela aprovou a nova lei, ainda não sancionada por Chávez. Pelo texto aprovado, o Banco Central do país terá competência exclusiva nas operações cujo objeto final seja obter para si ou para clientes a moeda estrangeira.
O texto também diz que é o BC quem vai dizer quais as corretoras que poderão atuar nesse mercado.
Para o economista Luis Vicente León, do instituto Datanálisis, uma maior regulação do mercado paralelo era necessária. Diz, porém, que só o detalhamento da nova legislação pelo BC local dirá se a medida foi acertada ou não. León explica ainda que, se o governo excluir pequenos investidores da operação, haverá mercado negro com cotação ainda maior.
Há dias Chávez faz ameaças a operadores e corretoras dizendo que especulam com o dólar paralelo para turbinar a inflação para prejudicá-lo nas eleições de setembro. Ele chegou a ameaçar fechar corretoras.

Recessão
A inflação, porém, não é o único problema de Chávez que tentará, em setembro, manter o controle da Assembleia Legislativa, dominada pelos governistas desde 2005 quando a oposição boicotou as eleições.
O país amargou recuo de 3,3% do PIB em 2009 e a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) é que tenha o segundo ano de recessão -queda de 2,2%.
Recessão e inflação é um coquetel molotov para a popularidade de qualquer governo, diz León. Segundo a mais recente pesquisa do Datanálisis, 44% apoiam Chávez.
Nas últimas semanas, também tornou-se mais intenso o abastecimento de produtos básicos como leite e açúcar nos supermercados. A escassez não é tão severa como em 2007, mas pode se intensificar.
Nesta semana, o governo anunciou a aquisição forçada de mais uma empresa de alimentos: a Monaca, de capital majoritário do grupo Gruma, do México. O grupo anunciou que espera indenização rápida.
No decreto, o governo disse que a empresa, que produz farinha de milho, arroz e outros produtos, é essencial para a consolidação da capacidade de processamento socialista agroindustrial para a Venezuela do século 21.

A farra do governo com o meu, o seu, o nosso dinheiro...

Não se engane, caro leitor: você, os seus filhos, netos e talvez até os seus tataranetos (se ninguém consertar essa farra rapidinho), pagaremos a conta dessa verdadeira orgia de gastos irresponsáveis que o governo está promovendo atualmente, na verdade que vem promovendo desde o primeiro dia (com alguma contenção em tempos paloccianos).
Essa é a verdadeira herança maldita que Lula deixará para os seus dois próximos sucessores (e portanto para ele mesmo caso consiga realizar seu intento de voltar em 2014).
Não duvido de que consiga, dada a compulsão do brasileiro, sobretudo dos mais ricos -- capitalistas, banqueiros, etc -- e dos mais pobres -- miseráveis e não tão miseráveis que vivem das esmolas demagógicas do governo -- pelo dinheiro público, que nada mais é do que o dinheiro que o governo arranca dos trabalhadores e empresários.
Aprenda uma coisa, você comentarista eventual que se arriscar a me criticar neste post: NÃO EXISTE milagre; TODO o dinheiro que o governo redistribui, com a sua proverbial incompetência, sai do que você produziu, como trabalhador ou como empresário. Não existe outra maneira de se criar riqueza, e o governa certamente não produz um grama, um centimetro quadrado, um mililitro de riqueza. Tudo o que ele supostamente "tem", ele arrancou de mim, de você, de todos nós.
Abaixo, a confirmação do que diga.
Quem quiser comentar, que o faça com competência, pois de ofensas à lógica formal e à realidade dos fatos, o mundo já está cheio, sobretudo este canto do mundo que é infelizmente o nosso, cada vez mais indo para o brejo.
Paulo Roberto de Almeida

Gastança federal
Miriam Leitão
O Globo, 14.05.2010

O governo Lula deixará uma pesada herança fiscal para quem quer que seja que lhe suceda. O corte anunciado ontem é uma gota num oceano de gastança. A maior parte da queda do superávit primário foi para aumento de despesas de custeio, pessoal e Previdência. A dívida pública bruta cresceu fortemente e isso só não aparece na dívida líquida pelos truques contábeis.

Confira nos gráficos abaixo. Em outubro de 2008, o governo destinava para superávit primário 16% da Receita Corrente Líquida. Hoje, ele destina apenas 6%. Receita Corrente líquida é o que fica nos cofres federais, depois dos repasses para estados e municípios. Pelos cálculos do economista político Alexandre Marinis, sócio da consultoria Mosaico, essa queda do superávit primário não significou um aumento de investimento. Antes da crise, o governo investia 5% da sua receita, agora, destina 6%. O aumento foi de apenas um ponto percentual. Mas as despesas de pessoal, Previdência, custeio e outras despesas obrigatórias, que já engoliam 79%, foram para 88%.

— Do ponto de vista da sustentação do crescimento econômico no futuro, é difícil imaginar uso mais ineficiente dos recursos públicos — diz Marinis.

A Tendências consultoria calcula que as despesas do governo cresceram em média 7,7% ao ano nos últimos 10 anos enquanto o PIB cresceu bem menos, 3,3%. Se esse aumento fosse concentrado nos investimentos, o gasto seria saudável. O problema é que ele se concentra em salários para funcionários públicos, reajustes no INSS e nas despesas correntes, que são gastos para o próprio funcionamento do governo. Para se ter uma ideia da diferença de valores, nos 12 meses terminados em março, o governo e o Banco Central gastaram R$ 597,1 bilhões. Desse total, R$ 154,4 bilhões foram para pagamento de pessoal; R$ 232,8 bilhões, para benefícios previdenciários; e apenas R$ 39 bilhões, para investimentos.

O único ano em que houve um ajuste fiscal foi 2003. Depois, o governo aumentou fortemente o número de funcionários; não regulamentou a única reforma que fez; a da Previdência Pública; e tem usado truques contábeis para esconder o aumento do endividamento. Note, por exemplo, num dos gráficos, o aumento dos créditos repassados ao BNDES. Esse é um dos truques. O governo alega que empresta ao banco, mas na verdade está aumentando o capital do banco de fomento, que concede empréstimos subsidiados muitas vezes para as próprias estatais.

— O Tesouro empresta para o BNDES com juros em torno de 5%, só que paga 9,5% de juros, que é a taxa Selic, para rolar a própria dívida. Ou seja, o Tesouro está tomando prejuízo na operação — explicou Felipe Salto, da Tendências.

A declaração do ministro Guido Mantega de que será feito um corte de R$ 10 bilhões e o aviso do ministro Paulo Bernardo de que “vai doer” não impressionam. Ao longo dos últimos anos o governo ampliou de forma extravagante seus gastos. Essa é a herança que ficará para a próxima administração. Marinis acha que se tivesse mantido constante, depois de 2003, as despesas de pessoal e custeio em relação ao PIB, o governo poderia ter aumentado em 45% os investimentos. Felipe Salto acha que o corte anunciado serve para apagar incêndio.

— O governo tem que fazer cortes pensando num horizonte mais longo. O que foi anunciado é mudança de curto prazo para apagar incêndio. Por não ter feito isso antes, teremos mais juros e crescimento menor do PIB a partir de 2011. Crescer um ano é fácil, mas a partir do ano que vem vamos entrar num ciclo de crescimento mais baixo — afirmou Salto.

Coloquio Sistema-Mundo - Florianopolis, 30 e 31 de agosto

Chamo a atenção para a realização do Colóquio de Economia Política dos Sistemas-Mundo, evento que acontecerá dias 30 e 31 de agosto na UFSC, e contará com a participação de conferencistas nacionais e internacionais, entre os quais Beverly Silver, esposa do falecido Giovanni Arrighi, autor da conhecida obra "O Longo Século XX", tema central do colóquio.

Um debate sobre a demagogia politica (da pior maneira possivel: com um anonimo)

Das várias maneiras de ser demagogo (e se esconder atrás do anonimato)

Ser Anônimo, eu já escrevi num minúsculo tratado sobre o anonimato (sim, creio que só merece o adjetivo "minúsculo), significa não ter coragem de assumir suas próprias ideias, nem ter certeza sobre a solidez de seus argumentos. Anônimos se permitem certas coisas que pessoas normais, como eu e todos os que escrevem abertamente, não se permitem: qual seja, assumir responsabilidade pela defesa de certas posições, e se esconder, ao contrário, sob essa condição para eventualmente ofender o responsável pelo blog, para fazer acusações não fundamentadas, enfim, para ser livre de exercer sua dose de inconsistência e de posições duvidosas, sem ter de assumir os riscos de passar vergonha ao ser contrariado.
Normalmente, eu nem deveria postar ou sequer responder a Anônimos -- que ainda vão merecer um mini-tratado en bonne et due forme de minha parte, para tratar dessa espécie velha como a Bíblia, mas que se multiplicou como fungos na humidade, com a internet e os meios impessoais de comunicação -- mas vou me permitir uma exceção a minhas próprias regras pois que julgo que o debate merece uma amplitude maior, alcançando outras pessoas eventualmente interessadas no tema, em lugar de ficar reservado a uma nota de rodapé escondida nas dobraduras de uma postagem.

O tema tem a ver com a demagogia política, e começo reproduzindo o comentário de um Anônimo, que retiro assim da mediocridade do Anonimato para lhe dar um destaque que ele não merece. Não o faço por consideração ao Anônimo em causa, mas apenas pelas ideias e argumentos que estão vinculados ao tema, que me interessa expandir e explicitar minhas ideias, publicamente, nao escondendo-me covardemente no anonimato.

Pois escreveu um Anônimo anônimo -- vale a redundância -- neste sábado 15 de maio:

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Como torrar o dinheiro publico e fazer demagogia ao mesmo tempo":


O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano. A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão. O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso. Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior.
Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público.


Pois bem, voltei (PRA):

Anônimo,
Primeiro aprenda uma coisa, definitiva, se ouso dizer: em nenhum momento, em nenhum lugar de meu post, supracitado, eu citei um partido, uma pessoa, responsáveis concretos, ainda que pudesse, e talvez devesse, pois não sou dos que se escondem nos subterfúgios e nos circunlóquios. Costumo assumir responsabilidade pelo que escrevo, e pelo que assino embaixo, e como bom anarquista de ideias, não me intimidam autoridades, nem posicoes.
Aprenda pois esta coisa muito simples: eu nao ataco, ou defendo, pessoas ou funções, partidos ou movimentos; eu ataco, ou defendo, ideias e posicoes, posturas e medidas, atitudes e politicas, ponto. Acho que ficou claro, para começar a discussão.
Não me interessa quem está expressando esta ou aquela ideia, se pessoa fisica ou juridica, se autoridade ou partido. Só me interesse pelas posições e ideias que sao sustentadas e defendidas, e o faço com base unicamente em dois critérios: sua racionalidade ou coerência intrínseca -- pois tenho horror do que não se sustenta no plano da simples lógica formal -- e sua adequação do ponto de vista do interesse nacionbal, ou seja, aquilo que serve ou não serve ao Brasil e seu povo, aquilo que beneficia o maior número, e aumenta o que os economistas chamam de bem-estar coletivo, ou aquilo que diminui as chances de que esse bem-estar seja alcançado.
Acho que isso ficou claro, não é Anônimo?

Agora venho as suas afirmações leves, levianas, descuidadas e infundadas:

1) "O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano."
PRA: Uma afirmação gratuita, que vale tanto quanto o seu contrário, ou seja, não quer dizer absolutamente nada, a não ser que venha fundamentada em provas empiricamente provadas. Anônimo aprenda a fundamentar suas afirmações.

2) "A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão."
PRA: Afirmação totalmente absurda e anti-cidadã, anticívica, antidemocrática, se é que ela consegue dizer alguma coisa com sentido. Anônimo não seja tudo isso. Defenda o dinheiro dos cidadãos, que aliás é o seu próprio. Nunca vi alguém desinteressar-se de como é gasto o seu próprio dinheiro, claro só se for alguém totalmente indiferente, e ignorante. Anônimo não demonstre seu desinteresse pelo dinheiro que lhe sai do bolso.

3) "O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso."
PRA: Acho que o Anônimo está se traindo, por algum sintoma de petice aguda, ou partidarismo compulsivo. Em nenhum momento de meu post eu mencionei o nome de algum partido ou de qualquer pessoa. Eu ataquei a demagogia política, não um partido em particular. Ainda que o fizesse, eu estaria atacando as práticas, ou as políticas de um partido, não o próprio in abstracto, ou vagamente. Anônimo releia o que eu escrevi logo no começo...

4) "Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior."
PRA: Bem se é você quem está dizendo, não vou contradizê-lo, embora não me tenha ocupado desses traços detestáveis num partido que já encarnou a ética na política, uma "maneira diferente" de fazer política, um compromisso com a verdade, e tudo aquilo que o nosso Anônimo já sabe (e por isso deve sentir raiva pelo fato de esse partideco mentiroso tê-lo contrariado de maneira tão desavergonhada). Anônimo escreva uma carta para a Comissão de Ética do seu partido de eleição, se é que ela existe ainda. Quanto ao DEM, não me interessa defendê-lo, nem atacá-lo, na medida em que não está em condições de implementar políticas estatais ou executivas: só me ocupo de ideias e posicoes, de atitudes e políticas. Indique-me uma atitude ou ideia demagogica do DEM, que eu terei prazer em fazer aquilo que sempre faço: condenar o besteirol e aquilo que é nocivo do ponto de vista do interesse dos brasileiros.
Aliás, não sei se você reparou, Anônimo, mas a geografia do voto do brasileiro alterou-se notavelmente desde 2002: os velhos coronéis estão todos com o governo, ou seja com o governo do PT, e os políticos do DEM estão na rua da amargura, sem dinheiro para distribuir, sem demagogia para fazer. Se voce verificar exatamente o voto dos chamados grotões, Anônimo, chegará a esta conclusão: a clintela dos coronéis, e os próprios, estão agora com o partido do governo, que você sabe qual é. Não precisa me agradecer pela aula de geopolítica eleitoral, basta consultar os mapas eleitorais da Justiça eleitoral. O DEM ficou órfão, a clientela dos coronéis está onde você sabe onde... Anônimo, aprenda a ser um bom analista político, que para isso que servem os cidadãos esclarecidos...

5) "Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público."
PRA: Bem, o Anônimo se revela mineiro, e não tão desgostoso assim do governo do PSDB, ou de Aécio (ele escolhe). Talvez seja a única coisa consistente que ele tenha escrito em todo o seu comentário, mas nem por isso me sinto obrigado a concordar com ele. Ótimo governo eu só diria com base num conhecido adequado dos números e realizações do dito cujo, o que eu não tenho. Parece que ele andou mais passeando do que governando, tarefa que ficou a cargo do seu vice, que parece ser um administrador competente, e dispensa o governador, portanto, de meter a mão na massa (o que é, digamos assim, uma empulhação política, pois o governador é pago para governar, não para passear).
Quanto a sua única realização mais vistosa, digamos assim, a tal cidade administrativa desenhada pelo último stalinista ativo do planeta (talvez da galáxia), eu a considero inútil, dispendiosa, disfuncional (como tudo o que ele constroi) e provavelmente horrorosa de se trabalhar ou sequer circular. Esse tal arquiteto stalinista é a coisa mais fraudulenta que já apareceu no Brasil, e todo político que escolhe esse sujeitinho para fazer qualquer obra, pode ser um banheiro público, revela seu desejo de fama, não seu amor ao dinheiro público ou sua preocupação com a funcionalidade administrativa.

Anônimo, vou lhe dar uma última oportunidade de se redimir. Indique me três razões para ser eleitor da Dilma, apenas três. Não vale propaganda vazia, mas argumentos consistentes, coisas defensáveis, matéria tangível...

Embora eu tenha horror do Anonimato, pois acho que as pessoas devem ter coragem de assumir opiniões, ideias, posicoes, eu vou conceder que você ainda escreva sob essa cobertura conveniente.
Mas seja consistente, do contrário vou ser obrigado a barrar o seu comentário...

Venho, por fim, o que você não fez, ao objeto do meu post: a demagogia política de prometer uma bolsa-eterna aos milionários da seleção, aos mercenários do futebol.
Eu diria que não é tanto demagogia quanto ato criminoso mesmo, passível de ser sancionado por uma tribunal de responsabilidade política, se o Brasil tivesse um. Quem quer que esteja em responsabilidades executivas e promete um absurdo desse, não é apenas demagogo, é criminoso mesmo, pois está dilapindo os recursos públicos com uma inutilidade que não tem QUALQUER sentido social, apenas demagogia pura e simples. Aliás, deve ser punível criminalmente também, se o Brasil tivesse uma justiça digna do nome.
Anônimo aprenda a ser um cidadão consciente, e defender o seu, o meu, o patrimônio de todos os brasileiros. Recuse a demagogia e os atos ilegais como esse.
Seja um cidadão com coragem para assumir ideias defensáveis e consistentes...

Paulo Roberto de Almeida
(Hong Kong, 15 de maio de 2010)

Sempre se pode piorar o que ja é ruim...

Dilma diz que, se eleita, vai implantar cotas raciais também na pós-graduação
Por Ranier Bragon, na Folha Online (15.05.2010):

A petista Dilma Rousseff afirmou na noite desta sexta-feira, na abertura do Encontro Nacional de Negras e Negros do PT, que se eleita ampliará a política de cotas raciais no ensino “queiram eles ou não”. E chegou a apoiar manifestação do público defendendo a adoção do sistema para o ingresso em mestrado e doutorado.

“O que nos une é o compromisso de que nós vamos fazer políticas afirmativas ou de cotas queiram eles ou não”, discursou Dilma, que acolheu depois manifestação vinda da plateia: “Isso, cota pra mestrado, pra pós-graduação”.

O governo, que desde 2004 tenta aprovar no Congresso um modelo de cotas raciais para a graduação das universidades federais, adota hoje a política no ProUni, o programa de subsídio nas universidades particulares a estudantes de baixa renda.

Na pauta de julgamentos do STF (Supremo Tribunal Federal) há uma ação que questiona a constitucionalidade do sistema.

No discurso de ontem Dilma afirmou que “entre os pobres há um contingente enorme da população negra” e também defendeu a presença de negros no Itamaraty. Ela afirmou no encontro que o presidente Lula dará o nome “Zumbi dos Palmares” ao próximo petroleiro brasileiro.

Como torrar o dinheiro publico e fazer demagogia ao mesmo tempo

Pague os craques
O presidente Lula propôs a criação da Bolsa-Bola, para premiar com R$ 100 mil cada jogador que tenha participado das Seleções campeãs do mundo de 1958, 1962 e 1970. Além disso, cada craque terá direito a R$ 3.400,00 mensais, para ele ou a família. Destrinchando: há jogadores, como o meia Moacir, reserva de Didi na Copa de 1958, que ficaram pobres e estão doentes. Mas há Zagalo, Rivelino, Tostão, Leão, Gerson, Dino, Zito, Carlos Alberto, Pelé e tantos outros que não estão propriamente mal de vida. Tostão já recusou a Bolsa-Bola.

E já foram pagos
Todos os astros da Seleção, a propósito, eram profissionais: recebiam salários e prêmios para jogar. Não era tanto dinheiro quanto hoje, mas estava bom para a época. Além disso, em 1958, o presidente Juscelino Kubitschek ofereceu a cada craque um emprego público, o que também era um absurdo. Só Zagalo se apresentou para o trabalho (hoje está aposentado). Os demais não se interessaram.

Não são necessários comentários. Basta a constatação...

Conselheiros da Petrobras, ops, do BNDES

Um post, neste blog, sobre os famosos (alguns obscuros) conselheiros da Petrobras, que recebiam uma grana firme por alguns conselhos eventuais (alguns nem isso) em períodos esparsos, foi o que mais rendeu comentários, alguns raivosos, sobre o assunto.
Não importa tanto o dinheiro em si, pois se trata de empresas, com contabilidade supostamente aferida pelo mercado, ou pelas agências públicas de controle. O que se está mencionando é a "qualidade" (ou falta de) dos conselheiros, na verdade apenas indicados para complementação salarial (entre companheiros, claro).

Pague a ministra
A substituta de Dilma Rousseff na Casa Civil, Erenice Guerra (aquela do dossiê contra a falecida Ruth Cardoso), já tem novo complemento de salários: foi nomeada pelo presidente Lula para o Conselho de Administração do BNDES. Erenice é, desde o início de 2008, membro do Conselho Fiscal do BNDES. Recebe, a cada reunião, realizada de três em três meses, o jeton de R$ 15.370,00. Recebe também o salário de ministra, R$ 11.240 mensais.

PS: Já espero vários comentários, alguns raivosos. Ofensas serão deletadas, comentários sem foco no objeto também. Apenas um aviso preventivo (PRA).

E agora, de volta a um velho tema: corrupcao no Brasil...

Calculando a ladroeira
Coluna Carlos Brickmann
Coluna de domingo, 16 de maio

Qual o custo da corrupção no Brasil? De acordo com estudo da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, pode variar entre R$ 41 bilhões e R$ 69 bilhões por ano. É mais do que se gasta em segurança pública, é metade do orçamento da saúde; e, reduzido, permitira que a renda média do brasileiro tivesse crescido uns 15% nos últimos oito anos. Os números estão explicados aqui (este colunista acha que a ladroeira é maior).

É um estudo muito interessante, especialmente nas comparações: o que poderia ser feito se a corrupção fosse menor - não se fala em corrupção zero, porque isso não existe nem onde se cumpre a lei. Seria possível aumentar em um quarto as verbas para a Educação, quase dobrar o objetivo de construção de habitações para a baixa renda, aumentar em um quinto a meta federal de construção de estradas, elevar em 89% o número de leitos do SUS, dobrar o saneamento básico.

E como combater a corrupção? O estudo da Fiesp sugere três caminhos, todos de longo prazo: limitação do poder de funcionários públicos e instituições, com a implantação de regras claras e completas; tornar a corrupção mais perigosa, até com o incentivo à delação; a realização de auditorias frequentes e o reforço do sistema judiciário; e reformas econômicas que simplifiquem os procedimentos administrativos, legais e tributários, de maneira a dificultar os atos de corrupção.

É um bom começo para, como diria o Bóris Casoy, passar o Brasil a limpo.

Decadencia da Argentina: uma opiniao sincera

Tenho exatamente a mesma ideia, sem ser historiador, ou sequer especialista na história argentina. Mas basta examinar a realidade e conhecer um pouquinho a história econômica dos últimos cem anos...

Opinión
¿El mejor gobierno de la historia argentina?
Por Roberto Cachanosky
La Nacion, Viernes 14.05.2010

Tal vez llevado por el calor de la tribuna política, Néstor Kirchner dijo que el gobierno de su esposa era el mejor de la historia de la Patria. Desde mi punto de vista luce un tanto desproporcionado sostener que el gobierno de Cristina Fernández superó al de Sarmiento, Mitre, Roca o Pellegrini. Por dar algunos ejemplos, entre 1881 y 1900 llegaron y se quedaron a vivir en el país 1.489.000 extranjeros. Entre 1901 y 1910 llegaron a la Argentina 1.764.000 personas (Fuente: Díaz Alejandro. Ensayo sobre la historia económica argentina ). Italianos, españoles, franceses, alemanes, polacos y rusos, entre otras nacionalidades, venían al país porque ofrecía oportunidades de progreso. Francamente, no se percibe que hoy, bajo el gobierno del matrimonio, tengamos una inmigración de esa envergadura. Más bien nuestros hijos se plantean en qué país, que no sea éste, pueden tener un futuro mejor.

Por más que quiera descalificarse a la generación del 80, inspirada políticamente en las ideas de la generación del 37, lo cierto es que transformó a la Argentina de un desierto a uno de los países más prósperos del mundo de esos años.

Ya en la década del 20 la Argentina tenía un comercio exterior (exportaciones + importaciones) que representaban el 50,1% del conjunto de los siguientes países: Brasil, Chile, Uruguay, Perú, Colombia, Bolivia, Venezuela, Ecuador y Paraguay. En 2007, aún con el viento a favor del mundo (real y euro fuertes frente al dólar, aumento de los precios de los commodities y el mundo creciendo a tasas anuales del 4 al 5 por ciento) nuestro comercio exterior representó solamente el 15% del conjunto de los países mencionados. Una diferencia de nada menos que 35 puntos porcentuales.

En La Economía Argentina de Alejandro Bunge, pueden encontrarse los siguientes datos. Hacia la década del 20, de los 88.000 kms. de líneas férreas que había en América latina, el 42,7% estaba en la Argentina. Hoy todavía estamos esperando el tren bala y, por la forma en que la gente viaja en los trenes suburbanos, no podríamos afirmar que somos un modelo de país ferroviario.

Es más, en esos años se transportaba el 60% de la carga total y el 57% del total de pasajeros de América latina. Además, de las 349.000 líneas telefónicas que había en los países mencionados, 157.000 estaban en la Argentina. De los 214.000 automóviles que había en la región, el 58% correspondía al país. Hoy, nuestro mercado automotor deber ser el 10% del de Brasil.

Otro dato interesante es que desde principios del siglo XX y hasta la crisis del 29, las exportaciones argentinas representaban entre el 2 y el 3 por ciento de las exportaciones mundiales y en 2008, con el mundo a favor, nos mantuvimos en el 0,4% que teníamos en las décadas del 80 y del 90. Para ubicarnos en contexto, si la Argentina hubiese mantenido su participación del 2% del comercio mundial, deberíamos estar exportando U$S 321.000 millones anuales.

Es cierto que en los últimos años las exportaciones argentinas crecieron, pero con toda sinceridad, todo parece indicar que crecieron no por las políticas aplicadas por el matrimonio sino a pesar del matrimonio. Ejemplo, entre 2003 y 2008 las exportaciones nacionales se multiplicaron por 2 y las chilenas por 3. Actualmente Chile exporta casi el mismo valor absoluto que la Argentina mientras Brasil está en el orden de los U$S 198.000 millones anuales.

Por supuesto que uno no puede pedir que en 7 años se transformen por completo décadas de decadencia, pero en rigor de verdad si Cristina Fernández festeja que entrega subsidios para 3,5 millones de niños, implementa los planes Trabajar por los cuales se pelean los diferentes grupos piqueteros y una batería de otros planes sociales, quiere decir que en vez de mejorar estamos empeorando. Puesto en otros términos, si el modelo fuera tan exitoso y el mejor de toda la historia de la Patria, los padres de familia tendrían que poder mantener a sus hijos con el fruto de su trabajo y no mediante subsidios que le otorga el Estado. Me animaría a afirmar que si los $ 180 se entregan plenos a condición de que los chicos vayan al colegio, la Argentina ha caído en un nivel de degradación muy grande, porque si tenemos que entregar subsidios a los padres de familia para que sus hijos estudien, muy bien no estamos funcionando. Ni económica ni moralmente. Un modelo exitoso se traduciría en nuevos puestos de trabajo, mejor remunerados y los padres de familia manteniendo a sus hijos y mandándolos al colegio por el futuro de ellos y no por cumplir con un plan social.

Francamente no se observa hoy en día el aluvión de inversiones que atraía nuestra patria a fines del siglo XIX y principios del siglo XX, y mucho menos una corriente inmigratoria fenomenal buscando un porvenir. Más bien se observa a empresarios analizando en qué otro país van a invertir que no sea la Argentina, a dirigentes piqueteros peleando por las migajas de los planes trabajar y otros subsistiendo en base a subsidios que se los devora la inflación.

En definitiva, si comparamos la Argentina del primer centenario en que la gente venía a radicarse porque con su trabajo y esfuerzo progresaba, con la actual en que se ha impuesto la cultura de la dádiva en reemplazo de la cultura del trabajo, me parece que estamos utilizando parámetros muy diferentes para definir cuál fue el mejor gobierno de la historia de la Patria. Algunos consideraremos que el mejor es aquel que crea las condiciones para que la gente pueda tener la dignidad de vivir del fruto de su trabajo. Otros consideran que estamos en presencia del mejor gobierno de la historia cuando, por falta de seguridad jurídica no hay inversiones y, por lo tanto, falta el trabajo y la gente tiene que vivir de la dádiva del gobierno de turno.

Progresar por el esfuerzo personal o vivir de las dádivas del Estado son dos modelos de país diferente. En el primer centenario de nuestra patria, la gente vivía de su trabajo. Hoy depende de la dádiva. ¿Cuál es el mejor gobierno de la historia?

O relativismo cultural comeca a contaminar o bicentenario...

O Brasil, posso apostar, não estará imune a esse tipo de besteirol pré-colombiano, os "puros" dos "povos originários", que de puros e originários não tem nada.
Sim, vamos ter de contar com as ONGs pretensamente humanitárias que vão começar a desfilar o festival de bobagens como sempre ocorre nessas ocasiões.

Los indígenas argentinos exigen un Estado plurinacional
ALEJANDRO REBOSSIO
El País, 13/05/2010

Tres marchas por el Bicentenario recorren el país

Buenos Aires - Más que un festejo por el bicentenario de la independencia de Argentina, los indígenas de este país prefieren la protesta. No rechazan las celebraciones por la Revolución de Mayo de 1810, pero miles de kollas, guaraníes, mapuches, huarpes, wichíes, mocovíes, diaguitas y qom-tobas, entre otros pueblos, iniciaron ayer tres marchas desde el noroeste, el noreste y el sudeste de Argentina hasta Buenos Aires para reclamar un Estado plurinacional, como el que acaba de inaugurar la Bolivia de Evo Morales.

En Argentina, la población indígena representa el 1,4% de sus 40 millones de habitantes, a lo que se puede añadir otro 6,5% de mestizos. No es como en Bolivia, donde el 60% pertenece a etnias originarias y otro 27,5%, es mestizo.

La Marcha Nacional de Indígenas tiene tres ramas que confluirán hoy en la capital argentina. La del noroeste se inició en La Quiaca, en la frontera con Bolivia; la del noreste, en Formosa y Posadas (ambas en el límite con Paraguay), y la del sudeste, en Mendoza y Bariloche. Los indígenas caminarán por las 25 ciudades por las que pasen, pero entre una y otra irán en 200 autobuses alquilados. El próximo día 21, los organizadores esperan reunir a 10.000 personas para marchar desde el Congreso hasta la Plaza de Mayo, donde está la Casa Rosada (de Gobierno) y donde esperan ser recibidos por la presidenta de Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Esto sucederá cuatro días antes del 25 de mayo, cuando este país sudamericano festejará los 200 años de la revolución que significó la independencia real de España, aunque la ruptura formal del vínculo se materializó en 1816.

Un dirigente diaguita, Santiago Mamaní, recordó que "había cerca de 200 pueblos que hablaban 300 lenguas antes de la conquista [española] que fueron atacados y casi desaparecieron", pero además apuntó contra los diversos Gobiernos argentinos que también los combatieron: "El Estado [argentino] fue una imposición". El Documento Fundacional de la marcha advierte que ya han pasado "dos siglos de desprecio, invisibilidad y exclusión de la diversidad cultural". De todos modos, Mamaní aclara que no quieren enfrentarse ahora con el Estado argentino: "Queremos hacer que los argentinos no se peleen con sus pueblos indígenas". De hecho, entre las organizaciones que se manifiestan figura la kirchnerista Organización Barrial Tupac Amaru, de la provincia de Jujuy (noroeste). "No nos oponemos a que se festejen los 200 años, vamos a acompañar los festejos", aclaró Milagro Sala, líder de la Tupac Amaru.

El Estado plurinacional implicaría, según los indígenas, el acceso al título de propiedad de los territorios comunitarios, la entrega a sus pueblos de tierras del Estado, el cumplimiento de la ley que ordenó en 2006 un censo de sus territorios ancestrales, el reconocimiento de sus lenguas como idiomas oficiales de Argentina, la creación de centros educativos propios, la eliminación del festivo del 12 de octubre, la declaración del agua como recurso "sagrado", la ley de protección de glaciares que ha vetado Fernández, la formación de tribunales ambientales y la constitución de un fondo para el desarrollo de sus comunidades.

La columna del noroeste pasará por Tucumán y protestará frente a los tribunales por la muerte de un diaguita, Javier Chocobar, el pasado 12 de octubre, a manos de un terrateniente y dos ex policías. Un vídeo grabado por uno de ellos y colgado en YouTube ilustra el enfrentamiento.

No todos los colectivos indígenas se han adherido a la marcha. Por ejemplo, el autodenominado Parlamento Mapuche de la provincia de Río Negro (sur de Argentina), que alega que fue convocado sólo por la kirchnerista Tupac Amaru.

Otros que la rechazan son los mbya guaraní de la provincia de Misiones (noreste). "Es un debate ideológico, no se trata sólo de subir a un colectivo [autobús] y participar de los festejos, que para nosotros son una fecha más", declaró el dirigente guaraní Alejandro Méndez.

Ecologismo literario nas paginas do NYRBooks: vale ler...

Para os mais ecológicos que frequentam este blog, recomendo a leitura destas resenhas publicadas no New York Review of Books. Não sou adepto da religião, mas os artigos do NYRB são sempre de qualidade...
Paulo Roberto de Almeida

The Message from the Glaciers

by Orville Schell
NYRBooks, May 27, 2010

A full listing of sources appears at the end of this article.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis
Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change
Cambridge University Press, 996 pp., $90.00 (paper)

When the Rivers Run Dry: Water—The Defining Crisis of the Twenty-first Century
by Fred Pearce
Beacon, 324 pp., $16.00 (paper)

Too Smart for Our Own Good: The Ecological Predicament of Humankind
by Craig Dilworth
Cambridge University Press, 546 pp., $90.00; $29.99 (paper)

Black Soot and the Survival of Tibetan Glaciers
by Baiqing Xu, Junji Cao, James Hansen, and others
Proceedings of the National Academy of Sciences, December 29, 2009

On Avoiding Dangerous Anthropogenic Interference with the Climate System: Formidable Challenges Ahead
by Veerabhadran Ramanathan and Y. Feng
Proceedings of the National Academy of Sciences, September 23, 2008

The Great Melt: The Coming Transformation of the Arctic
by Alun Anderson
World Policy Journal, Winter 2009/2010

It was not so long ago that the parts of the globe covered permanently with ice and snow, the Arctic, Antarctic, and Greater Himalayas (“the abode of the snows” in Sanskrit), were viewed as distant, frigid climes of little consequence. Only the most intrepid adventurers were drawn to such desolate regions as the Tibetan Plateau, which, when finally surveyed, proved to have the planet’s fourteen highest peaks. Because these mountains encompass the largest nonpolar ice mass in the world—embracing some 46,298 glaciers covering 17 percent of the area’s land and since time immemorial have held water in frozen reserve for the people of Asia—they have come to be known as “The Third Pole.”

Ler todo o artigo, em três partes, neste link.

Crise grega: uma opiniao pessimista sobre o pacote de ajuda

Abaixo o ensaio, feito ainda antes de ser aprovado o GIGANTESCO plano de ajuda à Grécia pela UE, FMI e consórcio de países (inclusive, o Brasil), por um economista do Institute of International Economics.
Devo dizer que concordo inteiramente com ele e vou além: a Grécia NÃO devia ser ajudada. Deveria quebrar, ser obrigada a renegociar a sua dívida (com perdas para os financiadores e não para os contribuintes) e assim aprender a viver com seus próprios meios, não com dinheiro emprestado irresponsavelmente.
O povo grego é ingrato: deveria simplesmente ser deixado de lado, e aprender a eleger gente mais responsável...
Paulo Roberto de Almeida

Greek Deal Lets Banks Profit from "Immoral Hazard"
by Arvind Subramanian
Peterson Institute for International Economics
Op-ed in the Financial Times
May 6, 2010

The economic adjustment program agreed last weekend between Europe, the International Monetary Fund, and Greece will be considered, and approved, by the IMF's executive board soon. Early satisfaction with the program has given way to serious market doubts about it. These doubts are rational because the fiscal arithmetic simply does not work. For the IMF, this program represents a squandered opportunity because it could have been ahead of events and designed a much better program, specifically by facilitating orderly debt restructuring. Instead, we could end up with a program that is inequitable, perverse, and unsuccessful with much greater costs all around.

When the Greece saga began, the mantra of the German government and many purists in Europe, including the European Central Bank, was: "no default, no bailout, no exit." European private sector holders of Greek debt would be spared any pain (no default). The European taxpayer would be protected (no bailout). And European companies would be shielded because Greece could not devalue its currency (no exit). That left one and only one policy measure that could be brought to bear on the problem, namely a fiscal austerity program, with the average Greek citizen bearing all the burden of adjustment. Europe, in short, had defined this to be an exclusively Greek problem.
Insisting on contributions from all parties—not just the Greek citizen and international taxpayer—would have led to a program that was fair, avoided 'immoral hazard' and the perverse incentives associated with rewarding reckless financial sector behavior, and would have maximized chances of success.

The recently negotiated IMF program changed that situation in one important way: the burden of adjustment is now being spread to include European ($105 billion) and international ($40 billion) taxpayers. China, India, and Brazil, among many others will contribute—which is as it should be—given their growing economic status and the cooperative nature of the endeavor. But there will still be no contribution from European banks that hold large amounts of Greek debt. That taxpayers in much poorer countries should contribute so that rich financial institutions can get away with reckless lending seems unfair and perverse. One might call this "immoral hazard": heads the banks win, tails much poorer taxpayers thousands of miles away pick up the tab.

What is worse is that this bailout of European financial institutions increases the already high odds of failure of the IMF program. Greece's fiscal predicament requires not just adjustment and financing but devaluation and debt restructuring. And with devaluation being achieved through painful deflation, the case for restructuring looks only stronger. Substantial debt write-offs are necessary and will probably remain so even if Greece exits the eurozone.

Consider the prerequisites for a successful program. First, Greeks must acquiesce in the sharp decline in living standards over the next three years. Second, after three years of the program, Greek debt will be much greater than today's 115 percent of GDP. At that point, markets will have to think it plausible that Greece is on a path toward reasonable debt levels because it is able to grow fast enough and maintain the fiscal belt-tightening for some considerable time. Doubts on the part of markets on any of these scores will lead to higher costs of borrowing for Greece and put it back into the viciously self-sustaining fiscal debt dynamic in which it has found itself recently, except that the starting point in terms of debt levels will only be worse. This might well prove to be the (unlucky) 13th labor of Hercules.

Why then has the IMF gone along with this arrangement? A generous reading is that the IMF has to work with governments, and if Greece and Europe have strong preferences, then those must be respected. A less charitable reading is that the IMF is a Euro-Atlantic Monetary Fund, where its management does the bidding of its richer shareholders. It is true that, in this instance, the IMF has imposed tough conditions on the borrower, but it has done so because Germany would have it no other way. It has gone along?with?a?bailout of the?banks because the major players, including the European Central Bank, wanted it that way.

All this is a pity because Greece could have been a real opportunity for the IMF to regain durable legitimacy. Insisting on contributions from all parties—not just the Greek citizen and international taxpayer—would have led to a program that was fair, avoided "immoral hazard" and the perverse incentives associated with rewarding reckless financial sector behavior, and would have maximized chances of success. The IMF could have set a precedent for orderly debt resolution programs. Debt restructuring will happen, but it will be disorderly and messy with all the actors reacting to rather than shaping events. So, for now, we must continue to watch this unfolding Greek tragedy whose essence is not just sadness and pain but their inevitability.

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Addendum: no mesmo sentido vai esta entrevista publicada pelo Le Monde:

"On ne peut pas résoudre une crise de dette par plus d'endettement"
LE MONDE, 11.05.10

Thorsten Polleit est chef économiste de Barclays Capital en Allemagne. Il porte un regard très critique sur le gigantesque paquet de sauvetage monté par les Etats de la zone euro.

Comment jugez-vous le plan de secours de 750 milliards d'euros pour la zone euro ?
On ne peut pas résoudre le problème par de l'endettement supplémentaire. Pour soutenir certains pays pris dans une crise de dette, les gouvernements vont devoir emprunter encore. Ce n'est pas une solution. L'urgence aujourd'hui, pour la zone euro, c'est d'annoncer une stratégie crédible de réduction des déficits. Si la pression des marchés est devenue si forte, si les investisseurs perdent confiance, c'est précisément parce qu'un tel concept n'existe pas. Il est temps de le formuler.

Que faut-il faire ?
Les décisions sont du ressort de chaque gouvernement, au niveau national. Il faut voir comment couper dans les dépenses, réduire les déficits le plus rapidement possible, graver ces objectifs dans le marbre comme nous l'avons fait en Allemagne en inscrivant un mécanisme de "frein à la dette" dans notre Constitution… On doit se rappeler qu'à l'origine, si le pacte de stabilité avait été respecté à la lettre, on n'en serait pas là.

Grâce à ce plan, n'a-t-on pas néanmoins écarté le risque de contagion de la crise grecque ?
Oui en ce qui concerne les pays menacés dans l'immédiat. Mais c'est la qualité de crédit des Etats bien notés qui en subira les conséquences. Les conditions d'emprunt des pays prêteurs vont sans doute se dégrader. En fait, le problème ne fait que se déplacer et risque, à terme, de s'aggraver.

La décision de la Banque centrale européenne (BCE) d'acheter de la dette publique porte-t-elle un coup à sa crédibilité ?
Il est clair que si la BCE agit ainsi, c'est parce que les gouvernements européens le souhaitent. On a là un instrument de politique monétaire qui semble n'avoir pas été décidé en toute indépendance. Cette décision est très problématique: dans la durée, un tel programme risque de créer de l'inflation et d'entraîner une perte de confiance des investisseurs.

Qu'en est-il de la stabilité de l'euro à long terme ?
Si les Etats ne trouvent pas le moyen de réduire leur endettement qui atteint souvent des niveaux insoutenables, l'euro est sérieusement menacé. La création de la monnaie unique a été une vaste expérimentation dont l'issue est aujourd'hui très incertaine. Surtout si les choses continuent ainsi, avec certains pays condamnés à payer encore et encore des sommes toujours plus importantes.

Croyez-vous que l'Allemagne récupérera l'argent des prêts faits à la Grèce ?
Non, je crois au contraire que les sommes ne seront jamais remboursées.

Propos recueillis par Marie de Vergès
Article paru dans l'édition du 12.05.10

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A Santa Casa da Misericórdia da Bahia e o padre Antonio Vieira na construção da sociedade brasileira
RERE - Revista Eletrônica da Reforma do Estado
Edição 4 - 2005
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La Crise du Système International: Un avenir pire que le passé?
HEI – Institut des Hauts Etudes Internationales
Genève - Swisse - 15 décembre 2004

Com integradores como esses, nao precisamos de "desintegradores"...

Acho que realmennte não é preciso. Nós nos desintegramos por nossa própria conta (e incompetência).
A Argentina prova que é possível, sim, graças à inteligência e a memória prodigiosa que possuem certas pessoas, reincidir várias vezes nos mesmos erros, tanto em matéria de economia interna -- vocês sabem, controle de preços, de câmbio, dirigismo, essas coisas -- como em matéria de economia internacional: política comercial, cambial, de investimentos, etc.
Os argentinos vem fazendo as mesmas bobagens, repetidamente, há pelo menos 80 anos: não surpreende, assim, que o país ande cada vez mais para trás.
Agora, nessa questão da integração, tanto argentinos quanto brasileiros, erraram e continuam errando, falando em retaliações comerciais (inclusive um ministro de Estado).
My God, as pessoas não sabem que existem regras multilaterais que comandam os processos de tarificação, de defesa comercial, de simples relacionamento comercial. Elas ainda estão naquela fase pré-histórica, em que um ataque da tribo inimiga comandava a formação de um batalhão de voluntários para ir lá e desmantelar com os atacantes.
A lei da selva, na verdade, vive na cabeça das pessoas: ela fala espanhol, portugiês, inglês...
Por vezes me pergunto se as pessoas são alfabetizadas...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina teme retaliação
Da Redação
Diário do Comércio e Indústria,
Quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os empresários brasileiros ganharam ontem uma parceria de peso contra as novas barreiras alfandegárias que o governo argentino está programando e que poderá entrar em vigor no início de junho. É que empresários argentinos de grande porte na participação no PIB daquele país temem represálias brasileiras à importação de alimentos. Em reunião ontem, na câmara de empresas alimentícias da Argentina, os empresários defenderam claramente a necessidade de se respeitarem os acordos comerciais internacionais diante da possibilidade de imposição de barreiras do governo à importação de alimentos, o que poderia provocar represálias.

A Coordenadoria de Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal) frisou que sustenta firmemente a urgência de que toda medida de política comercial respeite os critérios dos tratados internacionais dos quais a Argentina faz parte. O respeito aos acordos é uma das garantias necessárias para evitar represálias no comércio mundial, ressaltou o comunicado oficial da entidade.

A reação ocorreu assim que se confirmaram informações segundo as quais a Secretaria de Comércio argentina pediu às grandes redes de supermercados que deixem de importar produtos alimentícios, o que afeta exportadores do Brasil e da União Europeia (UE). As barreiras comerciais para proteger a indústria alimentícia argentina ante uma eventual avalanche de importações decorrente da desvalorização do euro favoreceriam os exportadores da UE e desviariam à Argentina parte do comércio entre Brasil e o bloco europeu.

O ministro da Economia argentino, Amado Boudou, disse que é preciso cuidar do mercado interno e dos produtores nacionais, mas evitou falar de medidas concretas.

Brasil e UE são os principais parceiros comerciais da Argentina. O Brasil exporta anualmente US$ 22 bilhões em alimentos à Argentina e importa US$ 1 bilhão, segundo dados da Copal. Os alimentos importados representam cerca de 3% dos que oferecem os supermercados no mercado argentino, segundo cálculos de fontes do setor. O assunto causou mal-estar no Brasil e de países da União Europeia.

A Secretaria de Comércio começaria a aplicar barreiras à importação de uma lista de alimentos, dentre os quais frangos do Brasil.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Triplice fronteira deve se mudar para o Panamá...

Joking, mas é o que imagino que vai acontecer se a diretora Kathryn Bigelow não tiver autorização dos três países para filmar na região, com aquele estilo americano de simplificar tudo, colocar terrorista de araque onde eles não estão e um herói que vai salvar a América (eles) no último minuto...
Preparem-se. Depois não digam que não avisei...
Enfim, não sei se dá para recriar as cataratas no Panamá, mas os mosquitos não devem ser muito diferentes, e para os terroristas, eles devem pegar uns taxistas de NY...
Paulo Roberto de Almeida

Reações inflamadas
André Miranda
O Globo, 14/05/2010

'Tríplice fronteira': Brasil, Argentina e Paraguai se voltam contra Kathryn Bigelow

RIO - A anunciada intenção da diretora americana Kathryn Bigelow de filmar o longa-metragem "Tríplice fronteira" tem causado um certo desconforto em Argentina, Paraguai e Brasil. As primeiras informações divulgadas sobre o filme indicam que ele trataria da existência de máfias, contrabando e tráfico de drogas, inclusive com a presença de terroristas árabes, na região das Cataratas do Iguaçu, uma divisa dos três países.

O secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, Felipe Gonzalez Camilo Rorato, divulgou uma nota em que diz que "a liberação de qualquer imagem turística (...) da cidade só será autorizada após leitura e aprovação do roteiro". Ele escreveu ainda: "Sobre a suposta temática do filme, acreditamos que não há elementos concretos para se afirmar qualquer conexão de empresários, entidades ou pessoas de ascendência árabe da fronteira com o financiamento de grupos terroristas islâmicos."

A ministra do Turismo do Paraguai, Liz Cramer, foi além em entrevista ao jornal espanhol "El País":

- Falei com o secretário de Turismo da Argentina e com autoridades brasileiras. Estamos todos indignados. Eles querem nos sujar como os perversos do mundo.

Kathryn é a atual detentora dos Oscars de melhor direção e filme, por "Guerra ao terror". Ela ainda não se manifestou sobre as críticas acerca de "Tríplice fronteira".

Agora, espaço para a mão invisível lusitana...

Agora, espaço para a mão invisível lusitana...
(um pouco chinesa, também, que os chineses também são capitalistas escoceses)
Paulo Roberto de Almeida

Hoje testei a mão invisível do lado em que ela não deveria funcionar, ou seja, nos famosos domínios ibéricos, tão refratários à liberdade econômica e tão adeptos do dirigismo econômico. Estivemos, Carmen Licia e eu, em Macau, para uma visita de um dia inteiro, a partir de Hong Kong, para onde viajamos, para uma curta estada de quatro dias.
Depois de ter-me informado pela internet de todas as ligações entre os dois lados da baia do rio das Pérolas, peguei um ferry, melhor dito um Jetfoil, primeira classe, para escapar um pouco da horda – sem nenhuma intenção de ofender – de chineses e turistas de havaianas que pululam entre os dois lados da baia num volume inacreditável para um dia normal: sexta-feira. Não me pareceu que o pessoal embarcando na classe econômica do jetfoil estivesse indo jogar nos famosos cassinos de Macau, pois vários carregavam pacotes, alguns malas ou mochilas, ou seja, eram pessoas a trabalho ou em turismo econômico. Os ricos, ou os jogadores, chegam de helicóptero, de avião, ou também de turbojets de primeira classe a partir da noite de sexta-feira quando lotam os cassinos estilo Las Vegas para jogar até o domingo. Tem até um cassino facsimilar (se me permitem a expressão) de um famoso em Las Vegas: The Venitian, com direito a ponte do Rialto, canais e gôndolas e tudo o que você quiser para não se sentir dépaysé em Macau...
Passei ao largo disso tudo, como devem ter passado ao largo vários dos que embarcaram comigo e Carmen Lícia no deck superior do Jetfoil: chineses de Hong Kong, de terno e gravata, mulheres com ar de executivas, turistas bem vestidos, enfim, gente mais bem situada na vida do que a massa de viajantes, todos bem vestidos, aliás, que lotavam a classe econômica, muitas famílias chinesas com crianças, e vários turistas de mochila.
A mão invisível também funciona direitinho na travessia: impossível fazer qualquer previsão de viagem, pois quando você chega para comprar um bilhete para certa hora, descobre que tem um barco outro saindo dali a dez minutos, prontinho para embarcar, não dá nem tempo de aproveitar o lounge de primeira classe, pois já estamos sendo chamados para o turbojet. De fato, Adam Smith ficaria novamente orgulhoso, talvez ainda não com os macauenses, mas com os hong-konguianos, pois existe praticamente um barco por minuto saindo de uma ponta a outra do cais. Na travessia, isso se confirma: passamos por alguns ferries mais lentos e somos ultrapassados por outros ainda mais velozes, e do outro lado há a sucessão de barcos rápidos e alguns saipans pelo meio do caminho, chineses fazendo o seu trabalho de alimentar dezenas de ilhas e todo um continente com todos os tipos de frutos do mar.
Poltronas confortáveis, lanche estilo avião, e leitura para todos os gostos. Leio dois jornais macauenses, no percurso de uma hora: O Clarim, jornal católico, me informa sobre a visita do papa em Fátima, no dia 13 de maio, dia da própria, mas também diz que o papa quer padres no ciberespaço. Outras matérias mais “sérias”, no interior do jornal não deixam de veicular críticas às autoridades chinesas de Macau e relatam que os portugueses – sim, os lusitanos que ainda tem algo a dizer – planejam mandar mais juízes a Macau, talvez por desconfiar da justiça a cargo de juízes chineses. Também fiquei sabendo que a Air Macau nunca deu lucro, provavelmente porque nunca funcionou segundo Adam Smith preconizaria. Aposto que nenhum dos ferries (e helicópteros) que fazem a travessia entre as duas ex-colônias (agora “colônias” chinesas) sabem o que significa déficits, perdas, resultados negativos, e a concorrência é brutal, posso assegurar...
Mas Adam Smith também ficaria orgulhoso dos macauenses: a despeito de terem sido colônia portuguesa (um pouco de araque) por quinhentos anos, eles se renderam à evidência: adotaram métodos e procedimentos britânicos, para atender sua maior clientela: trânsito na “contra-mão” (todos os carros e ônibus com direção “inglesa”) e tudo escrito em chinês, português e inglês, nessa ordem ou em outra ordem, segundo as conveniências. Eles também transacionam sem problemas com o dólar de HK, a despeito de terem sua própria moeda, a pataca, que tem um inevitável sabor colonial, pois era uma moeda que circulou no Brasil três séculos atrás.
Assim é que, recém desembarcados (de volta a China, de alguma forma, ainda que também seja, como HK, uma região administrativa especial, mas com controle sino-macauense de passaportes), somos bombardeados com milhares de ofertas de tours, visitas guiadas, trajetos especiais, recomendações de hotéis, restaurantes, cassinos, alfaiantes, wathever... Adam Smith ficaria, de fato, contente, ao ver o funcionamento de sua mão invisível: milhares de ofertantes disputando as escolhas dos turistas. Dispensamos tudo isso e pegamos um taxi para ir direto onde pretendíamos visitar em primeiro lugar: a Fortaleza do Monte, e o Museu de Macau. O taxista não fala português, obviamente, sequer o patuá local (que só os mais velhos, atualmente, devem conhecer), e mal se expressa em inglês: deve ser, como milhares de seus colegas, um chinês emigrado do continente, que só fala cantonês ou algum outro dialeto chinês. Não importa: com o mapa e a sinalização verbal convincente, ele sabe onde queremos ir, e nos leva rapidamente por vielas que parecem com o Chiado lisboeta. Pagamos em dólares HK e desembarcamos exatamente ao lado das ruínas da Igreja de S.Paulo e ao lado da Fortaleza do Monte, onde está o Museu de Macau.
As ruínas, na verdade não exatamente ruínas, mas apenas a fachada, bem preservada, à falta de todo o resto. A Fortaleza, de gloriosa memória, pois vem do tempo em que os holandeses também tentaram tomar Macau aos portugueses (em 1622), está muito bem preservada, mas apenas sua parte murada, pois o interior foi totalmente reformado para abrigar um moderníssimo museu, com as modernas técnicas da museologia e da história. Passamos quase duas horas aprendendo sobre a gloriosa história de Macau, uma verdadeira aula de “imperialismo português”, que na verdade não aparece como tal, e sim como um encontro de culturas muitas vezes benéfico a todos os povos que aqui se encontraram, não apenas chineses e portugueses. Recomendo a visita, a quem quer que seja, pois faz parte de nossa história, também, essa projeção colonial de Portugal, com alguns personagens que também ficaram em nossa história, como é obviamente o caso.
Vamos andando até o Largo do Senado, parte pedestre de Macau, sempre assaltados pelos vendedores de qualquer coisa, comida em profusão, Rolex verdadeiros e falsos, enfim todo tipo de bugiganga e de mercadorias de luxo, numa profusão que certamente encantaria Adam Smith, pois é a própria mão invisível em ação. De fato, Macau é uma HK multicolorida e ainda mais diversificada, sem aquela ordem inglesa, quase asséptica, com certa bagunça mais ao gosto brasileiro (talvez baiano, para ser mais exato, sem qualquer intenção de ofender os baianos, mas eles sabem o que eu quero dizer). Depois de percorrer a cidade, vamos ao que interessa: comida portuguesa, que é para isso que viemos aqui.
Escolhemos o Vela Latina, perto do Largo do Senado, na verdade, um restaurante chinês que serve comida portuguesa e tailandesa. Nosso menu começa com sardinhas assadas de aperitivo, já regadas a um Casal Garcia verde, bem gelado, e depois Bacalhau com alho (que eu escolhi, para minha completa satisfação) e um Bacalhau à Braz, escolhido pela Carmen Licia, que do Braz só tinha o nome. Talvez perdido em quatro séculos, ou nos últimos anos de administração chinesa (não adianta, os chineses tomaram quase tudo), veio um bacalhau em tiras, com ovos mexidos (sic) e batatas fritas misturadas (resic). Estava gostoso, mas nunca vi um Braz desse jeito... Em todo caso, liquidamos quase tudo, inclusive sobremesa de frutas e um expresso para terminar...
Depois fomos à Fundação Oriente, supostamente para comprar livros, e para nossa decepção nenhum havia para vender: só uma exposição com cartazes políticos da revolução dos cravos em Portugal, com coisas do arco da velha, se me permitem a expressão (quanto o Partido Socialista Português ainda era anti-capitalista, se é que me compreendem...). Cumprido o ritual, fomos direto à Livraria Portuguesa, perto do Largo do Senado. Compramos dez quilos de livros (bem uma maneira de dizer), mas para meu desgosto, descobri, já no jetfoil de volta a HK, que esqueci meu Moleskine de notas na Livraria, depois de ter anotado dois volumes das obras completas de Charles Boxer, o grande historiador do império marítimo português dos séculos 15 a 19. Uma pena: espero que o dono da livraria, condoído com a minha perda, me mande um e-mail para tentar devolver meu caderninho de notas, onde estavam várias anotações de viagem, gastronômicas, resumos de livros, artigos e ensaios começados em viagem, enfim, todo tipo de coisa que eu vou rabiscando nos meus vários Moleskines. Tenho sempre dois comigo, em qualquer circunstância, mas esse de bolso de camisa é sempre o preferido para anotações rápidas. Para escritos mais consistentes, escolho o de tamanho médio, mais reflexivo. Nada que a mão invisível não resolva, pois em qualquer livraria do mundo (OK, nas de boa qualidade) se podem achar Moleskines de todos os tipos, tamanhos e cores...
Na volta, novamente a mão invisível: estávamos chegando para o ferry de 18h15, como anunciado no folheto da companhia, e descobrimos que podíamos embarcar rapidamente no das 17h15, que estava ali mesmo, nos esperando, como guiado pela terrena providência smithniana... Serviço impecável, rapidez garantida: tendo lido os jornais de Macau na ida, fiquei ouvindo Diana Krall no meu iPhone que havia comprado um dia antes em HK: Live in Paris, que já ouvi dezenas de vezes, e me parece o melhor CD da pianista-cantora-jazzista. Metro em duas linhas, chegamos cansados, mas satisfeitos com a jornada altamente enriquecedora. Melhor solução é banho restaurador no hotel, abandonamos planos de jantar fora e ficamos sem sair, mas plenamente abastecidos: queijos franceses, pão sueco, uvas e vinho chilenos no próprio quarto, comprados no supermercado, no shopping ao lado do Hotel.
Novamente, thanks Mr. Adam Smith, tudo funcionou perfeitamente nesse mundo em que ninguém, de fato, controla a oferta de bens: produtos do mundo inteiro, em qualquer quantidade e da melhor qualidade, por preços absolutamente razoáveis. Camembert, queijo de cabra, Caprice de Dieux, pão com alho, que delícia. Eu me pergunto como é que as pessoas não se dão conta que esse é o sistema que funciona, sem que uma autoridade governamental venha dizer como os mercados devem ser controlados para impedir crises e desigualdades.
Por acaso, no mesmo dia, leio esta notícia na internet (rapidíssima) no hotel: “Chávez ameaça fechar as bolsas da Venezuela” (está em meu blog, podem ler: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/05/una-aulita-mas-de-deseconomia-gracias.html). Eu me pergunto como é que as pessoas podem ser além de autoritárias, estúpidas. Não precisaria ser assim, talvez só uma das coisas por vez...

Paulo Roberto de Almeida
Hong Kong, 14-15 de maio de 2010