Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
1621) Amorim: O Brasil tem um bom diálogo com os Estados Unidos e o Irã.
'Incomoda o Brasil agir sem pedir licença'
Entrevista Celso Amorim
Eliane Oliveira
O Globo, 25/12/2009
Ministro do Exterior brasileiro critica Washington sobre Honduras e Colômbia, e defende diálogo com Irã
Ainda festejando a repercussão da participação do Brasil na conferência de Copenhague, o ministro do Exterior, Celso Amorim, diz faltar franqueza na relação entre EUA e América Latina, e declara não se dar por satisfeito com as garantias de Washington de que o uso de bases na Colômbia, por tropas americanas, será restrito a este país. Queixa-se da demora dos EUA em pressionar Honduras. Sobre a relação com o Irã, afirma não crer em problemas com os EUA, dizendo que incomoda a certos setores o Brasil agir sem pedir licença. A reunião sobre o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares no ano que vem, frisa, será um teste para saber se as potências atômicas terão moral para cobrar dos outros.
O GLOBO: Afinal, incomodou ou não os EUA a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil?
Celso Amorim: Não creio. O próprio presidente Barack Obama enviou uma carta pedindo para intercedermos.
Mas como intercedermos sem o diálogo? Pode ser que algum setor nos Estados Unidos, ou algum setor daqui, tenha ficado incomodado.
Conversei com a secretária de Estado, Hillary Clinton, e não senti de sua parte qualquer malestar.É muito incômodo que o Brasil faça as coisas sem pedir licença.Foi assim com a Síria e com a Líbia.Se o Brasil age por sua própria iniciativa, incomoda os intermediários da dependência.
O presidente Lula diz acreditar que o programa nuclear do Irã terá uso pacífico, mas também argumenta que EUA e Rússia não têm autoridade moral para criticar o Irã, porque possuem arsenal nuclear. Isso é uma defesa implícita do direito dos iranianos a armas nucleares?
Amorim: O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é muito claro em seu artigo 6o: estabelece que um dos objetivos é o desarmamento das potências nucleares. Os países não nucleares se comprometem a não ter armamento nuclear e os nucleares se comprometem a se desarmar. Durante anos e anos só assistimos ênfase no aspecto da não-proliferação e pouquíssimo desarmamento. Agora, o presidente Obama, pela primeira vez em muitos anos, tem voltado a falar, até de maneira retoricamente mais forte, na eliminação total das armas nucleares, ou num mundo livre de armas nucleares, embora o horizonte seja longínquo. É preciso que ocorram passos concretos. A próxima conferência no TNP, em abril ou maio, em Nova York, será um teste para sabermos se as potências nucleares estão também dispostas a se desarmar. Se não se desarmam, não têm moral para cobrar dos outros. O Brasil adotou sua posição de não ter armas nucleares.
E especificamente no caso do Irã?
Amorim: Na medida em que temos alguma chance, procuramos ajudar a encontrar um caminho que favoreça o diálogo. O Brasil tem um bom diálogo com os Estados Unidos e o Irã.
O assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que há" uma certa decepção" e um sabor de "frustração" com o governo Obama na América Latina.Qual a sua avaliação deste primeiro ano de Obama?
Amorim: Ainda está um pouco cedo para avaliar o primeiro ano. Falta um mês. De repente, há alguma evolução.
Muitas coisas sequer chegam ao presidente Obama. Em alguns casos, deveria haver mais transparência.
São exemplos as bases militares na Colômbia e Honduras, quando houve demora em se fazer pressão sobre os golpistas. Mas, de forma geral, não vejo interposição entre as posições americana e brasileira.
No caso de Honduras, por que não há a mesma intransigência na defesa da democracia como um valor essencial em Cuba e no Irã?
Amorim: O Irã é um caso totalmente à parte. Bem ou mal tem eleições, ações distintas, posições distintas e várias forças sociais. Se você pega a lista de aliados dos EUA, há países questionáveis onde são usadas até bases militares. Veja se há eleições, veja os direitos da mulher. Nas relações internacionais você não pode ficar escolhendo. No caso de Honduras, houve um golpe de Estado, com militares tirando o presidente com o cano de espingarda na cabeça.
Nós, da América Latina, somos corretamente traumatizados com esse tipo de situação. Honduras assinou a carta da OEA (Organização dos Estados Americanos), tem obrigações que o Irã não tem conosco.Houve uma posição unânime da OEA condenando o golpe.
Houve críticas ao Brasil por ter abrigado o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Amorim: Ao Brasil, que está dando proteção a Zelaya, não cabia qualquer tentativa de negociação. Zelaya chegou a nossa embaixada sem ter sido previamente convidado, mas chegou lá como presidente legítimo.
A proteção foi reconhecida por todos. Sua chegada à embaixada acabou criando as condições para o diálogo, embora não tenha saído o resultado que esperávamos.
O acordo militar entre EUA e Colômbia gerou uma forte crise entre colombianos e venezuelanos. O Brasil intermediaria um entendimento?
Amorim: Para intermediar, é preciso que haja desejo dos dois lados.
Infelizmente, não estou percebendo esse desejo. Cada um tem lá suas razões e aponta lá seus motivos. No momento em que houver disposição, o Brasil está pronto a ajudar.
A carta enviada pelo governo dos EUA aos ministros da Defesa da América do Sul dando garantias de que o acordo se limitaria ao território colombiano satisfez o Brasil?
Amorim: Na verdade, Hillary Clinton enviou duas cartas. Isso significa que está errada a interpretação de que os EUA não deram importância às reclamações dos vizinhos. Porém, é claro que, mesmo que se dê todas as garantias, sempre há algum incômodo.A própria Colômbia também deu garantias formais. Mas não posso dizer que estou satisfeito. Se seu vizinho chegar amanhã e acumular um arsenal, você continuará preocupado.Este é um assunto que não morreu, as conversas terão que continuar.
Esse episódio contribuiu para arranhar as relações com os americanos?
Amorim: É preciso mais franqueza na relação entre EUA e América Latina e Caribe. Devo dizer que, às vezes, os altos escalões do governo americano não tomam conhecimento de certos fatos, como as bases na Colômbia e a Quarta Frota. É como se tivessem seguido processos mais ou menos automáticos.
O Brasil é visto como aliado dos EUA no Oriente Médio?
Amorim: Somos aliados no sentido de querermos a paz. E somos aliados no sentido que somos interlocutores com vários dos principais atores da região.
Como o senhor avalia a falta de acordo na conferência da ONU sobre o clima, em Copenhague?
Amorim: Demos um passo importante.Foi criado um novo grupo, o Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), que protagonizou uma negociação decisiva com os Estados Unidos.É uma mudança de poder.
O papel de mediador-chave nas negociações do clima pode ajudar o Brasil a conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Amorim: Isso será uma consequência.Se a carta da ONU estivesse sendo escrita hoje, o Brasil seria membro e talvez outros países não fossem. Estou tranquilo a esse respeito.
Existe perspectiva de um acordo na próxima reunião sobre o clima, no México?
Amorim: Confio muito na opinião pública e na consciência mundial. O esforço que foi feito na conferência fará com que, daqui para a frente, não possa haver mais recuos, apenas avanços. O Brasil, por exemplo, não só colocou metas ambiciosas, como disse que vai poder contribuir para ajudar os outros. China e Índia também avançaram, não como queríamos, mas avançaram.
E quanto aos EUA?
Amorim: Acho que os EUA terão que avançar mais no futuro. O passo que eles deram foi modesto, mas se você comparar com o governo anterior, que não queria fazer nada, melhorou.A pressão vai aumentar.
Qual a importância do Brasil nesse processo de negociação?
Amorim: O Brasil serviu como balizador, para mostrar que uma posição muito rígida por parte dos países emergentes não teria legitimidade.
Ao mesmo tempo, colocou-se do lado deles para negociar adequadamente com os ricos e os EUA.
A América Latina se dividiu radicalmente nas negociações de Copenhague.Como o senhor vê a posição de Bolívia e Venezuela que, embora alegassem divergências políticas, estariam apenas defendendo seus interesses como produtores de combustíveis fósseis?
Amorim: É um dilema que os organismos multilaterais têm de enfrentar, pois negociar o tempo todo entre mais de 190 países não dá. Por outro lado, quando se faz um grupo negociador, alguns sempre ficam de fora e isso gera ressentimento.Esse é um aspecto que cada vez mais a ONU terá que levar em conta. A era dessas resoluções todas por consenso já está meio superada.
Quais os próximos passos?
Amorim: Até 31 de janeiro, os países têm que listar suas metas e as nações em desenvolvimento, suas ações que terão como resultado a redução das emissões.
1620) EUA: sua forca está na imigracao (e na liberdade...)
Por que os imigrantes preferem os EUA?
The Economist, 25/12/2009
Quando o sul-coreano Joshua Lee chegou aos Estados Unidos, sua primeira impressão foi o excesso de riqueza. A comida era abundante, a energia barata e as casas enormes. No entanto, este não é o motivo que o fez adotar o país como seu novo lar. Para Lee e outros milhões de imigrantes, os Estados Unidos são uma nação que permite que se viva de acordo com sua própria cultura enquanto se adota aspectos interessantes da cultura nativa.
Nos Estados Unidos é possível para os seus 38 milhões de imigrantes, bem acima da média para países desenvolvidos, arranjarem seu nicho sem dificuldades. Enquanto em outros países as leis costumam ser as mesmas independente do estado, nos Estados Unidos, os 50 estados que formam o país tem legislações que podem ser radicalmente diferentes. Assim, um imigrante britânico entusiasta de caça à raposas, prática banida em toda Grã-Bretanha, pode praticar seu esporte à vontade em diversos estados norte-americanos.
Ou seja, os cidadãos norte-americanos podem escolher sob quais leis desejam viver. O imigrante que não quiser pagar altos impostos pode viver no Texas. Quem desejar boas escolas pode ir para Portland. Os mais conservadores, que não desejam álcool ou sexo em excesso, podem viver no estado de Utah.
Liberdade intelectual também é incentivada, com milhares de institutos organizados para defender os mais diferentes pontos de vista. Apesar do senso comum, o país não é intolerante com pessoas de outras religiões. Cristão e judeus muitas vezes decidem migrar para os Estados Unidos porque sabem que não vão sofrer preconceito ou perseguição como acontece no Oriente Médio, por exemplo.
O resultado é que o país atrai talentos de outras nações. Políticos norte-americanos, no entanto, não parecem ver o lado bom da imigração. Eles acreditam que o país está perdendo sua capacidade de absorver pessoas de outros países, o que provavelmente não é verdade. As reclamações são antigas. Benjamin Franklin já dizia que o país nunca conseguiria assimilar os imigrantes alemães. Hoje, os Estados Unidos contam com 50 milhões de descendentes de alemães, sendo que quase nenhum fala a língua da velha pátria.
Em nossa opinão (The Economist)
A resposta a essa indagação poderia ser dada com uma palavra: liberdade. O imigrante tem a liberdade de continuar usando sua própria língua, de praticar a religião que quiser e de trabalhar e empreender. É em busca disso que vêm os imigrantes.
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Going to America
A Ponzi scheme that works
The Economist, Dec 17th 2009
ANNANDALE, VIRGINIA AND DALLAS, TEXAS
The greatest strength of America is that people want to live there
AT ONE of the many Korean restaurants in Annandale, Virginia, a waitress cracks a raw egg into a sizzling tofu-and-oyster stew. Tables buckle under heaps of chili-, garlic- and cabbage-themed side dishes. Every customer is of Korean origin. Is this a sign that Korean immigrants are failing to assimilate in America?
Far from it. A mother addresses her college-age daughter in Korean; the daughter replies in English. A muscular man with a buzz cut reads a Korean newspaper; his T-shirt proclaims, in English: “Support our Troops”.
Across the highway, in a building that houses several Korean businesses, Joshua Lee sits on a sofa and explains why he likes living in America. He grew up poor: his father was a day labourer. He did his military service on an American base in Seoul, where he polished his English and learned to like hot dogs. He moved to America in 1990, when he was 27, to study theology in Kentucky. He painted houses to support himself.
He met his wife, a Korean-American, and moved to northern Virginia, home to a hefty cluster of Korean-Americans. Eventually, he found a job writing for a Korean-language newspaper about Korean-American issues.
When he arrived, Mr Lee was astonished by how rich nearly everyone was. He recalls his first dinner with Americans: the huge bowls and immense portions. He was startled to see lights left on in empty rooms. He is still impressed: “The roads are so wide, the cars so big, the houses so large—everything is abundant,” he says.
Yet this is not why he came, and it is not why he stayed and became a citizen. For Mr Lee, America is a land that offers “the chance to be whatever you want to be”. More prosaically, it is a place where nearly any immigrant can find a niche.
Mr Lee’s niche is an agreeable one. His suburb has safe streets, spacious backyards and good schools. He eats Korean food every day, but not for every meal. He attends a Baptist church where services are in Korean, but the Sunday-school classes are in English. He retains what he loves about his native culture—the work ethic, language, spicy cabbage—while shrugging off the rest.
For example, he never liked the way his neighbours in Korea stuck their noses into each other’s business. Everyone knew how you were doing in school. You could not get a good job without connections. There was constant social pressure not to lose face. When Mr Lee went back to visit, he remembers slipping into the old straitjacket. He wanted to pop out to the corner shop, but realised he would have to put on a smart shirt and trousers, despite the intense humidity. What would the neighbours think if they saw him in shorts and flip-flops? In America, no one cares.
In Korea, he says, to express an unusual opinion is to court isolation. In America, you can say what you think. To relax, Mr Lee listens to Rush Limbaugh and Sean Hannity, two combative right-wing pundits. “Maybe you don’t like these people, but I really [do],” he says.
Three hundred million niches
Because America is so big and diverse, immigrants have an incredible array of choices. The proportion of Americans who are foreign-born, at 13%, is higher than the rich-country average of 8.4%. In absolute terms, the gulf is much wider. America’s foreign-born population of 38m is nearly four times larger than those of Russia or Germany, the nearest contenders. It dwarfs the number of migrants in Japan (below 2m) or China (under 1m). The recession has dramatically slowed the influx of immigrants and prompted quite a few to move back to Mexico. But the economy will eventually recover and the influx will resume.
No matter where an immigrant hails from, he can find a cluster of his ethnic kin in America
Nearly all Americans are descended from people who came from somewhere else in the past couple of centuries. And the variety of countries from which immigrants come—roughly all of them, and usually in significant numbers—is unmatched. No matter where an immigrant hails from, he can find a cluster of his ethnic kin somewhere in America. In fact, he is probably spoilt for choice. If he wants to live in a suburb, eat Korean food and listen to fire-and-brimstone sermons in Korean, he can do so in northern Virginia. If he prefers an urban and secular Korean lifestyle, he can try Boston or San Francisco. If he craves Ethiopian food, Amharic radio and lots of gay clubs, Washington, DC, may suit him. And so on.
You can find welcoming clusters of ethnic minorities in other rich countries, but not nearly as many. In a European country, if you want Korean food and a particular denomination of Korean church, you might find it in the capital but you will struggle in the suburbs. In America, it is easier to find just the niche you want: Polish or Vietnamese, metropolitan or exurban, gay or straight, Episcopalian or Muslim, or any combination of the above.
You have a choice of weather and landscape, from snowy Alaska to baking Texas, from the mountains of Colorado to the forests of Maine. Northern Virginia, where Mr Lee lives, has the same climate as his homeland: winter is freezing, summer is muggy, autumn is delightful and spring brings cascades of cherry blossoms.
A place where hunters are not hounded
Consider another example. Dennis Downing, an Englishman, moved to America for the fox-hunting. A professional huntsman, he cares for the hounds that hunt the fox during a traditional hunt. (Everyone else is merely there for the ride.) He has done this all his working life.
In 1997 Britain elected a government that promised a vote on banning the sport and Mr Downing, seeing the writing on the wall, left the next year. (Fox-hunting was eventually banned in 2004.) After three years with a hunt in Alabama, he moved to Virginia, where English-style fox-hunting has been popular since George Washington’s day. He now works with the Blue Ridge Hunt and lives in the beautiful Shenandoah valley. He likes the weather, the space and the freedom to hunt.
That freedom is secure. America has 50 states with 50 sets of laws. Virginia will never ban hunting, but even if it did, there are 49 other states that won’t. In America, people with unusual hobbies are generally left alone. And power is so devolved that you can more or less choose which rules you want to live under.
If you like low taxes and the death penalty, try Texas. For good public schools and subsidised cycle paths, try Portland, Oregon. Even within states, the rules vary widely. Bath County, Kentucky is dry. Next-door Bourbon County, as the name implies, is not. Nearby Montgomery County is in between: a “moist” county where the sale of alcohol is banned except in one city. Liberal foreign students let it all hang out at Berkeley; those from traditional backgrounds may prefer a campus where there is no peer pressure to drink or fornicate, such as Brigham Young in Utah.
People move for a variety of reasons. Alejandro Mayorkas, the head of the United States Citizenship and Immigration Services, cites two. People come to America, he says, either because they yearn for freedom or because they are fleeing something. That something could be a civil war, or it could be a culture that irks them. In Ayaan Hirsi Ali’s case, it was both.
She was born in Somalia. As a young girl she was circumcised. “I heard it, like a butcher snipping the fat off a piece of meat,” she recalls. Her grandmother taught her to expect men to be violent. If attacked, she told her to duck behind the man, reach up inside his sarong, grab his testicles and crush them.
Ms Hirsi Ali grew up strong-willed. She fled from Somalia’s civil war, and then from an arranged marriage. She sought asylum in the Netherlands, a country that she found shockingly nice. The policemen were polite and helpful, instead of demanding bribes with menaces. The government gave refugees room and board. “Where did they get the money from?” she wondered, “Why didn’t it run out?”
She quickly learned Dutch and found work as an interpreter. In this job, she visited shelters for battered women, where she noticed that nearly all the victims were Muslims. These women seldom pressed charges against their violent husbands. The social workers would ask: “Do you have family here? Can they help you?” The women would reply: “But they support my husband, of course!” This infuriated Ms Hirsi Ali: “I knew that many Dutch women were abused, too. But their community and their family didn’t approve of it.”
She began to campaign against domestic violence. She became a member of parliament, and won a dangerous kind of fame as an ex-Muslim apostate. With a Dutch filmmaker, Theo van Gogh, she made a short film about what she saw as the oppression of women under Islam. An outraged fanatic murdered van Gogh and stabbed into his chest a letter to Ms Hirsi Ali, promising to kill her, too. So she moved to America, where she is not famous. She keeps sensibly quiet about where she lives, but she can travel and shop without the constant fear of death.
Speaking in Dallas, she praises the intellectual freedom in America. In the Netherlands, she says, think-tanks are typically subsidised by the government and tied to a political party. This makes them timid, she believes. If an idea sounds too controversial, they shy away from it. For example, she had a theory that government-funded Muslim schools in the Netherlands were fostering self-segregation, and asked if they should be closed. No one wanted to listen, she says; her colleagues feared appearing racist.
In America swarms of privately funded think-tanks represent almost any view you can imagine. Their response to hard questions is more serious, she says. People ask if your hypothesis is true, and then suggest ways to raise the money to find out. In America, Ms Hirsi Ali found the funds to set up a foundation to study violence against Muslim women. No one has a clue how common this is in America. She means to find out.
She admits that before visiting America she had a negative view of the country. Listening to her Dutch friends, she assumed that Americans were fat, loutish, naive and sexually repressed. “But then I came here and found it was all false,” she smiles.
Outsiders sometimes assume that it is hard to be an outspoken atheist in a devout country such as America. Ms Hirsi Ali thinks it is easy. Many Christians ask if she is a believer. When she replies no, she says “they don’t try to kill me. They say they’ll pray for me”.
Besides Somalia and the Netherlands, Ms Hirsi Ali has lived in Ethiopia, Kenya and Saudi Arabia. Of all these places, she considers America to be the easiest place to assimilate. She has her niche, hanging out with “nerdy academics” and eating Japanese food. Unlike Mr Lee, she is more or less divorced from her native culture. But that works just fine in America. “I’m surprised how fast complete strangers will invite you into their houses,” she says. Asked what she dislikes about her new home, she mentions that the air-conditioning is too cold.
A magnet for talent
Migration matters. Economic growth depends on productivity, and the most productive people are often the most mobile. A quarter of America’s engineering and technology firms founded between 1995 and 2005 had an immigrant founder, according to Vivek Wadhwa of Harvard Law School. A quarter of international patent applications filed from America were the work of foreign nationals. And such measures ignore the children of immigrants. Jeff Bezos, the founder of Amazon, is the stepson of a man who fled Cuba at the age of 15 and arrived without even a high-school diploma.
Richard Florida, the author of such books as “The Flight of the Creative Class” and “Who’s Your City?”, argues that countries and regions and cities are engaged in a global battle for talent. The most creative people can live more or less where they want. They tend to pick places that offer not only material comfort but also the stimulation of being surrounded by other creative types.
This makes life more fun. It also fosters technological progress. When clever people cluster, they can bounce ideas off each other. This is why rents are so high in Manhattan. Robert Lucas, a Nobel economics laureate, argues that the clustering of talent is the primary driver of economic growth.
So a country’s economic prospects depend in large measure on whether it is a place where people want to be. Desirable destinations draw talented and industrious migrants. Less desirable ones suffer a brain drain. Desirability is tricky to measure, however.
People cannot vote freely with their feet. No rich country allows unlimited immigration, and the rules vary a lot, so it is impossible to know which country is the most attractive to the largest number of people. But there are reasons to believe that America ranks at or near the top.
Mr Florida and Irene Tinagli of Carnegie Mellon University compiled a “Global Creativity Index”, which tries to capture countries’ ability to harness talent for “innovation...and long-run prosperity”. The index combines measures of talent, technology and tolerance. America comes fourth, behind Sweden, Japan and Finland. You could quarrel with the methodology. America comes top on certain measures, such as patents per head and college degrees, but it is deemed less tolerant than other countries in the top ten. This is because the index rewards “modern, secular” values and penalises Americans for being religious and nationalistic.
This is a mistake. Some religious countries are indeed intolerant, but America is not one of them, as Ms Hirsi Ali attests. And for many talented people, such as Mr Lee, America’s vibrant and varied religious scene makes the country more attractive, not less.
Michael Fix of the Migration Policy Institute, a think-tank, observes that religion has a strong effect on who comes to America. For example, although Muslims slightly outnumber Christians in Nigeria, Nigerian immigrants to America are 92% Christian and only 5% Muslim. Christians are about a quarter of the South Korean population, but four-fifths of Korean immigrants in America are Christian. Migrants from the Middle East and North Africa are mostly Muslim, but a hefty 28% are Christian and 10% are Jewish.
Christians and Jews are drawn to America in part because they know it is an easy place to be Christian or Jewish. They don’t face persecution, as they might in the Middle East. Nor do they face derision, as they might in more aggressively secular parts of Europe. Also, churches create networks. Migrants typically go where they already know people, and often make contact through a church.
It is also a mistake to rate Americans as less tolerant because they are nationalistic. Americans may have an annoyingly high opinion of their country, but theirs is an inclusive nationalism. Most believe that anyone can become American. Almost nobody in Japan thinks that anyone can become Japanese, yet Japan is rated more “tolerant” than America. This is absurd.
Fear of foreigners
Not everyone thinks that immigration makes America stronger. Most of the Republicans who ran for president in 2008 promised a tough line on the illegal sort. Tom Tancredo, the angriest of them, describes America’s porous borders as a “mortal danger”, though he is the grandson of immigrants from Italy. Pat Buchanan, another former presidential candidate, wrote a book subtitled: “The Third World Invasion and Conquest of America”.
Some worry about illegal immigration because they favour the rule of law. “When there are people in Mexico City waiting in line and paying their fees and doing everything right, and they are having to wait for years, and then other folks are coming in without waiting in line—that’s not fair,” said Barack Obama in October. But many Americans also think that too many legal immigrants are admitted.
Some fear that open borders make it easier for terrorists to sneak in. Others worry that immigrants overload schools and hospitals, or drag down the wages of the native-born. Environmentalists fret that immigration drives population growth, which aggravates urban sprawl, pollution and global warming.
The argument that stirs the hottest passions, however, is cultural. The late Samuel Huntington, a Harvard academic, argued that Hispanic immigrants, because they are so numerous, will not assimilate. Rather, they threaten to “divide the United States into two peoples, two cultures and two languages” and “[reject] the Anglo-Protestant values that built the American dream”.
Some look at the great multi-ethnic experiment and see a society on the brink of breakdown
Mark Krikorian, the author of “The New Case Against Immigration: Both Legal and Illegal”, points out that modern immigrants can call home every day. This, he says, means they are less likely to give up their old ties and become American. He complains that the American elite no longer thinks American culture is worth preserving, and therefore no longer insists that immigrants imbibe it. He also predicts that mass immigration from poor countries is incompatible with the welfare state—too many newcomers will bankrupt it.
Some outsiders look at America’s great multi-ethnic experiment and see a society teetering on the brink of violent breakdown. “White America is in decline,” writes Gary Younge, a left-wing British journalist. He adds: “Never having considered the unearned privilege of being white and American, all they can see are things being taken away from them. Never having considered solidarity with blacks and Latinos, they see them not as potential allies but as perpetual enemies.”
Nearly all this gloom is misplaced. It is possible that unskilled immigrants hurt the wages of unskilled locals. George Borjas, a Harvard economist, estimates that native workers’ wages decline by 3% or 4% for every 10% increase in immigrants with similar skills. But others, such as David Card of the University of California, Berkeley, have found little or no impact. Gianmarco Ottaviano of the University of Bologna and Giovanni Peri of the University of California, Davis, find that nearly 90% of native-born American workers actually enjoy higher wages because of immigration. Many immigrants bring new skills and ideas, spend money, pay taxes and employ natives.
Mass immigration may be hard to combine with a generous welfare state, but this argument applies more to Europe than to America. In America it is hard for an able-bodied adult male to do anything more than subsist on welfare. So immigrants work, which means they are seldom much of a drain on the public purse, and they have no choice but to assimilate. People who work together need to get on with each other, so they generally do.
Because immigrants have to work, America does not have ghettos full of permanently jobless and alienated young immigrants, as in France, for example. This is perhaps why, although America has a high murder rate—three times that of Britain—its immigrants rarely riot. They are too busy earning a living. America has not in recent years seen anything like the immigrant riots that torched the Paris suburbs in 2005. The closest parallel, the Los Angeles riots of 1992, sprang from the unique grievances of the one large ethnic group whose ancestors did not voluntarily migrate to America: African-Americans.
Some of America’s talk-show hosts are quite vicious, but no openly xenophobic politician can attract the kind of support that France’s Jean-Marie Le Pen did in 2002, or that Austria’s Jörg Haider did before he got drunk and killed himself in a car crash. Political rhetoric in America is often heated but almost never leads to violence. Ms Hirsi Ali recalls watching the vice-presidential debate on the television last year with friends in New York. Her Democratic friends thought Sarah Palin was ghastly. Her Republican friends were equally appalled by Joe Biden. Tempers rose so high during the election campaign that Ms Hirsi Ali thought the country might come to blows. But then polling day passed, and the tension was gone. She saw her Republican and Democrat friends eating cupcakes together. Americans get passionate about politics, she observes, but the next day they get on with their lives.
As Mr Krikorian concedes, the fear that new immigrants are disagreeably different is not new. In 17th-century Massachusetts, one group of English Protestants (the Puritans) banished another group of English Protestants (the Quakers) and even hanged some of those who returned. Benjamin Franklin doubted that German immigrants would ever assimilate. “Why should the Palatine Boors be suffered to swarm into our settlements?” he asked, adding that they “will never adopt our Language or Customs”. Today, there are 50m German-Americans, hardly any of whom speak German. Indeed, they have intermingled and intermarried so much that they are barely noticeable as a separate group.
The doomsayers about immigration have always been wrong before. It is a fair bet that they are wrong now. America has lost none of its capacity to absorb newcomers. A recent survey by Public Agenda, a polling group, asked immigrants in America how long it took them to feel comfortable and “part of the community”. Some 77% said it took less than five years. Only 5% said they had never felt that they fitted in. In contrast 58% of people of Turkish descent in Germany say that they feel unwelcome, and 78% do not feel that Angela Merkel is their chancellor.
America is a uniquely attractive place to live: a lifestyle superpower. But it cannot afford to be complacent, for three reasons. First, other places, such as Australia, Canada and parts of Western Europe, have started to compete for footloose talent. Second, rising powers such as India and China are hanging on to more of their home-grown brains. There is even a sizeable reverse brain drain, as people of Indian or Chinese origin return to their homes. But neither India nor China attracts many completely foreign migrants who wish to “become” Indian or Chinese.
Third, since September 11th 2001 the American immigration process has become more security-conscious, which is to say, slower and more humiliating. Even applicants with jobs lined up can wait years for their papers. Many grow discouraged and either stay at home or try their luck somewhere less fortress-like.
A bigger welcome mat needed
President Obama promises immigration reform: stricter border controls but also a path to citizenship for those in the country illegally. George Bush promised the same thing, but Congress blocked him. Mr Obama has his work cut out to avoid that fate; and although he is the son of a Kenyan Harvard student, he has done little to make the system less cumbersome for skilled migrants.
“The United States alone among great powers will be increasing its share of world population over time”
The stakes are high. Immigration keeps America young, strong and growing. “The populations of Europe, Russia and Japan are declining, and those of China and India are levelling off. The United States alone among great powers will be increasing its share of world population over time,” predicts Michael Lind of the New America Foundation, a think-tank. By 2050, there could be 500m Americans; by 2100, a billion. That means America could remain the pre-eminent nation for longer than many people expect. “Relying on the import of money, workers, and brains,” writes Mr Lind, America is “a Ponzi scheme that works.”
1619) O brasileiro é obcecado por concursos públicos?
Infelizmente sim, obsessivamente sim. Isso ainda vai afundar o Brasil. Querem apostar?
Esperem mais dez anos: o funcionalismo vai consumir 15% (ou mais) dos orçamentos públicos, condenando a taxa de investímentos públicos (já pífia, atualmente) a permanecer em níveis irrisórios pelo futuro previsível...
O Estado é um ogro insaciável, que consome todos os recursos da Nação, um vampiro sedento que suga toda a seiva do setor produtivo.
Infelizmente, essa tendência não vai ser revertida any time soon...
Paulo Roberto de Almeida
O brasileiro é obcecado por concursos públicos?
Fábio Terra Teixeira
Site Opinião e Notícia, 25/12/2009
A foto acima mostra a multidão de cariocas que se mobilizou para participar de um concurso para gari da Comlurb, no dia sete de outubro de 2009. A empresa estatal contabilizou 104,4 mil inscrições. Quem passar terá direito a um emprego de R$ 900 mensais. Os números apresentados levam a crer que se tratam de pessoas sem perspectiva profissional, ou que precisam de dinheiro. Mas em levantamento feito pela Comlurb, 1.026 candidatos tinham nível superior e 45 eram doutorandos. Por que tanta vontade de se ter um emprego público?
De acordo com o professor de economia da Universidade Federal Fluminense Fernando Mattos a resposta passa por dois pontos antigos: a estabilidade no emprego e a perspectiva de crescimento profissional. “O que se tem de novo é que o Estado brasileiro está se aparelhando melhor, o que é positivo. O objetivo é dar um atendimento melhor para a população”, afirma Mattos, responsável por uma pesquisa sobre o aumento no número de concursados.
O aumento é inegável. De acordo com o vice-presidente do Instituto Liberal, Roberto Fendt, o governo Lula, entre dezembro de 2002 e setembro de 2009, aumentou o efetivo de funcionários públicos (excluindo Forças Armadas) em 177 mil. O número pode parecer pequeno, mas vale lembrar que ele se refere apenas aos funcionários federais. O concurso da Comlurb, que é estadual, oferecia 1,4 mil vagas. “Só no Executivo são 104 mil. A minha opinião é que caberia explicar o porquê de tantas pessoas. Com o emprego de tecnologia nós deveríamos diminuir e não aumentar o número de funcionários.”
Fendt acredita que a contratação em massa está atraindo os melhores cérebros para o serviço público, enquanto eles poderiam estar empreendendo no setor privado — que é mais eficiente para produzir riqueza. O problema passa pelo alto salário oferecido pelo governo. De acordo com Fendt, a diferença entre setor privado e público é gritante. A União paga um salário médio de R$ 6,8 mil para seus funcionários, enquanto o salário médio do setor privado é de R$ 1,3 mil.
Mais que atrair os melhores cérebros, os concursos muitas vezes os colocam em cargos abaixo de seu nível profissional. Segundo Mattos, esse comportamento pode acontecer, mas tem diminuído. “No setor privado os empregos aumentaram bastante durante o governo Lula, mas ainda existe uma demanda que não é atendida”. Fendt, no entanto, acredita que existe um cálculo por parte dos concursados. “Do ponto de vista da pessoa, é um bom negócio. Assim que ela coloca o pé dentro do setor público ela pode fazer um concurso interno, entrar é que é importante.”
O peso do setor público no Brasil é grande. Um em cada cinco cidadãos com carteira assinada trabalha para o estado. O custo para manter estes funcionários responde por boa parte da alta carga de impostos que os brasileiros precisam pagar. Fica a pergunta: é saudável uma economia de funcionários públicos?
Caro leitor,
O setor público deve ter salários mais altos que o privado?
A estabilidade no emprego é boa para a economia?
Em sua opinião, o crescimento no número de empregos públicos é sustentável?
1618) O novo Mister Doom: prometendo calotes "soberanos"...
Ou seja, vem calote por aí, e de governos (federais, estaduais, municipais, whoever...).
Nada como antecipar desenvolvimentos desagradáveis: assim, ninguém vai poder alegar que não foi avisado...
Vamos esperar a publicação do novo livro de Ken Rogoff: "This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly."
Sovereign Debt Defaults Likely Over Next Several Years, Says Rogoff
Heesun Wee - Investing, Recession, Banking
Posted Dec 09, 2009
Global markets tumbled overnight amid fresh concerns about the global economy, and more specifically, the prospect of sovereign debt defaults.
Standard & Poor’s lowered its outlook for Spain's debt grade as the country's finances worsened. A day earlier, Fitch cut Greece's long-term debt to BBB+ from A minus, marking the first time in a decade the country has seen its rating pushed below an A grade. (Click here for the full story.)
The news doesn't come as a surprise to our guest Ken Rogoff, professor of economics and public policy at Harvard University. As Dubai's recent debt crisis shows, more sovereign debt defaults will be likely over the next several years, he says.
The International Monetary Fund will try to prevent any global economic crisis in the near term says Rogoff, a former IMF chief economist. But, longer-term, difficult decisions remain about how to tackle mounting debt among G8 nations. "We can barely have the political will to raise taxes to pay our own debts," which means less money to pay for bailouts of other creditors, he predicts.
"In a couple of years as U.S. debt explodes, as German debt explodes, and they're all going to be pushing difficult levels, they're really going to start thinking. 'Hmm. Do we really want to cast this safety net?' We've got to scale back," says Rogoff, also co-author of a new book, "This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly." The book outlines how periods of boom and bust are marked by bouts of overspending and mounting debt, whether by consumers, banks or governments -- just like the current crisis.
Should American taxpayers be worried? Financial crises in Asia during the late 1990s and in Latin America during the '80s largely were regional affairs but higher U.S. inflation is almost a certainty.
Rogoff, however, is more certain about the future of California, a state strapped by rising expenses and falling tax revenues. They'll be on the brink of default repeatedly, Rogoff says.
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OK, estão todos avisados (quem tiver bônus espanhol, ou da California, melhor se desfazer agora, antes que vire poeira...)
1616) Investindo em vento
1615) EUA - como criar uma nova bolha imobiliária...
E depois dizem que foram as "forças cegas do mercado" que criam as bolhas financeiras.
Não, quem cria as bolhas são os governos, ao atuarem de modo absolutamente irresponsável, impedindo os mercados de precificar corretamente os ativos de risco.
Capitalismo protegido pelo Estado não é capitalismo, é um negócio de família, como a Cosa Nostra...
U.S. promises unlimited financial assistance to Fannie Mae, Freddie Mac
By Zachary A. Goldfarb
Washington Post Staff Writer
Friday, December 25, 2009; A01
The Obama administration pledged Thursday to provide unlimited financial assistance to mortgage giants Fannie Mae and Freddie Mac, an eleventh-hour move that allows the government to exceed the current $400 billion cap on emergency aid without seeking permission from a bailout-weary Congress.
The Christmas Eve announcement by the Treasury Department means that it can continue to run the companies, which were seized last year, as arms of the government for the rest of President Obama's current term.
But even as the administration was making this open-ended financial commitment, Fannie Mae and Freddie Mac disclosed that they had received approval from their federal regulator to pay $42 million in Wall Street-style compensation packages to 12 top executives for 2009.
The compensation packages, including up to $6 million each to Fannie Mae and Freddie Mac's chief executives, come amid an ongoing public debate about lavish payments to executives at banks and other financial firms that have received taxpayer aid. But while many firms on Wall Street have repaid the assistance, there is no prospect that Fannie Mae and Freddie Mac will do so.
The administration faced a congressionally mandated deadline of Dec. 31 to increase the amount of aid it could provide to Fannie Mae and Freddie Mac, which together have already received $111 billion in assistance.
Treasury said Thursday that its decision did not mean the firms would need $200 billion or more apiece, but that it instead was seeking to assure markets that the government would stand behind the companies. In a statement, Treasury said the move "should leave no uncertainty about the Treasury's commitment to support these firms as they continue to play a vital role in the housing market during this current crisis."
By promising to keep the companies solvent, the government can maintain its sweeping power over the housing market. Fannie Mae and Freddie Mac have played a central role in Obama administration policies to keep mortgage interest rates low, restructure unaffordable mortgages, stop foreclosures and funnel money to housing programs around the country.
The Bush administration took over the firms in September 2008 as the financial crisis entered its most severe phase and promised $200 billion to keep the companies solvent. The Obama administration later doubled that figure.
While the ultimate cost of the bailouts is unknown, the administration estimated earlier this year it would cost $171 billion, and some officials said they expect it could rise further. Analysts have said it could be much higher. The cost will depend in part on how aggressively the administration continues to use the firms to stimulate the housing market because these steps could curtail profitability.
Under the terms of the latest decision, the administration's open-ended commitment will expire in 2012. Then, the firms will only be allowed to receive the balance of the $400 billion remaining today -- about $290 billion.
The administration is set to release broad principles in February for reforming the companies. Many experts predict that the government will have no choice but to hold on indefinitely to many of the companies' most troubled assets -- mortgage investments made during the housing bubble to less-than-worthy borrowers.
But an administration official said it could take several years to resolve the future of the companies, especially if Congress isn't keen to take up the politically charged issue during the 2010 midterm election year, and if the government wants to preserve the ability to influence the housing market. The companies together own or insure the majority of home loans, and no viable private system exists that could replace them.
Even as the administration has broadened its commitment to Fannie Mae and Freddie Mac, it said it would wind down mortgage-assistance programs, including one that bought Fannie Mae and Freddie Mac's mortgage investments.
Fannie Mae and Freddie Mac have long been targets for Republicans, who say they are evidence of how government support for the housing market contributed to the financial crisis.
"The Obama administration's decision to write a blank check with taxpayer dollars for the continued bailout of Fannie Mae and Freddie Mac is appalling," said Rep. Scott Garrett (R-N.J.), a member of the House Financial Services subcommittee that oversees Fannie Mae and Freddie Mac. "Not only is this a continued bailout of failed entities that need to be privatized to protect the taxpayer, the timing of the announcement is clearly designed to try and sneak the bailout by the taxpayers."
On Thursday, federal officials defended the administration's new bailout authority and the compensation packages. They said the pay was necessary to retain talented executives who can oversee the companies' vast mortgage holdings.
Fannie Mae chief executive Michael J. Williams and Freddie Mac chief executive Charles E. Haldeman each will receive a $900,000 base salary. The rest of their compensation will be in incentive payments and bonuses dependent on whether they stay with the companies and achieve business targets. The compensation of other top executives will follow a similar formula.
While the pay is significantly more than what Fannie and Freddie executives received a year ago, the packages are less than what top company officials got before the government takeover. Only five executives at each firm will be eligible to receive more than $500,000 in salary.
"The management of these companies involves responsibility for $2 to $3 trillion of mortgage assets," said Edward DeMarco, acting director of the Federal Housing Finance Agency, the chief regulator of Fannie Mae and Freddie Mac. "It is critical to the taxpayers' financial interests that these assets be carefully managed in a difficult environment to minimize taxpayer losses."
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
1614) O profeta Samuel (nao fui eu quem disse...)
Sérgio Leo, de Brasília
Valor Econômico, 23.12.2009
O que eu disse é que nem Jesus Cristo teve reconhecimento em sua própria terra, e olha que ele fazia milagres!
A leitura da Bíblia é fundamental para entender o pensamento dos neoconservadores nos Estados Unidos
Se nós tínhamos dificuldades em fazer planos para o Brasil, quanto mais pessoas que nunca moraram no país, sem experiência
"Jesus Cristo, segundo o evangelho de São Marcos, vai a Nazaré, sua cidade natal; as pessoas não acreditam nele, e diz: 'Ninguém é profeta em sua própria terra'." Esse é o ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty, sacando uma frase bíblica que hoje é lugar comum, ao responder por que é tão criticada, no país, a política externa da qual foi, até outubro, um dos formuladores e operadores.
A diplomacia da era Lula se compara a Jesus Cristo? "Não, não é isso", responde, enfaticamente, com expressão preocupada. E sorri. "O que eu disse é que nem Jesus Cristo teve reconhecimento em sua própria terra; e olha que ele fazia milagres!"
Milagres parecem mesmo estar em falta em algumas áreas da política externa brasileira. Por exemplo, para fazer levantar e andar o Mercosul, abalado economicamente pelo agravamento do protecionismo, com a crise financeira internacional, e, politicamente, por divergências internas e regionais. Com a entrada da Venezuela no bloco, então...
Mas o ministro, acostumado à polêmica despertada por suas opiniões incisivas sobre política externa, pede que o tema não seja servido neste "À Mesa com Valor". É pedido que faz, nas entrevistas e conversas, desde que, prestes a alcançar 70 anos de idade e deixar automaticamente o quadro do Itamaraty, trocou o segundo posto na hierarquia do Ministério das Relações Exteriores pelo comando do Ministério de Assuntos Estratégicos, sucedendo a Roberto Mangabeira Unger.
O veto aos temas internacionais não tem adiantado, até porque Pinheiro Guimarães adora falar do assunto. Há alguns meses, só aceitava dar entrevista se reproduzida na íntegra, no modelo pergunta e resposta; e pedia para ler o texto antes da publicação. Como ministro, está bem mais à vontade; chega descontraído e falante ao restaurante Villa Tevere, na Asa Sul de Brasília, local habitualmente escolhido por políticos e outros frequentadores que preferem o ambiente mais discreto e o cardápio bem mais sensato que o de outros restaurantes famosos da cidade.
Nos últimos dias, foi possível ler opiniões de Pinheiro Guimarães sobre Honduras ("O Brasil agiu certo abrigando o presidente deposto, Manuel Zelaya; errado seria aceitar tratos com os golpistas"), Venezuela ("Há liberdade de imprensa na Venezuela, basta ver as bancas de jornais e livrarias"), Irã ("Outros países não pautam o Brasil na escolha dos interlocutores na esfera internacional"), globalização ("A globalização é um fato; a adesão ao credo neoliberal não, tanto que está em dificuldades quem mergulhou no neoliberalismo"). A lista de assuntos polêmicos abordados pelo diplomata é inesgotável - assim como são antigas suas convicções e a disposição para defendê-las.
Em matéria de nacionalismo e ação política, Pinheiro Guimarães comprou a primeira briga no governo aos 25 anos, na década de 1960. E antes ainda botou banca.
Diplomata em início de carreira, foi indicado por um superior para dirigir a área internacional da então poderosa Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste. Foi convidado por um ex-assessor da Organização dos Estados Americanos, João Gonçalves de Souza, nomeado para a superintendência da Sudene e cearense como o presidente da época, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco - o primeiro mandatário do que seria uma longa ditadura militar. "Eu disse: Aceito, se tiver carta branca", lembra Pinheiro Guimarães.
Com a carta que recebeu, o jovem Samuel infernizou assessores estrangeiros que queriam influir em programas do governo brasileiro. Eram os técnicos americanos, da Usaid, a agência de cooperação dos Estados Unidos.
Mas, antes, o jantar.
Pinheiro Guimarães diz que não quer vinho. "Não tenho tomado; acordo muito cedo; mas gosto de vinho argentino, Malbec", esclarece, e pede água, sem gás. O assessor do ministro, Walter Sottomayor, escolhe um modestíssimo Malbec argentino, da casa Tamari, safra 2008, a ser dividido solidariamente com o repórter, já que o fotógrafo também prefere água.
Depois de recusar o lombinho de cordeiro com crosta de ervas, sugerido pelo repórter, e cogitar um medalhão à Gianetti, ao vinho marsala e cogumelos shitake, acompanhado de risoto de açafrão com lascas de queijo tipo Grana, o embaixador, provocado por outro comentário do jornalista, escolhe o filetto della Mafia, com molho ao queijo brie, vinho tinto e bacon, acompanhado de fetucine - que ele picará sem piedade com a faca, antes de comer. Servida por engano pelo garçom, uma taça de vinho permanecerá invicta até o final da refeição, ao lado do prato.
"Para ter uma ideia do número de funcionários da Usaid, o tamanho do prédio deles era o mesmo do da Sudene", lembra o embaixador. Quando era diretor da Sudene, recusou-se a demitir pessoas de uma lista encaminhada pelo governo, e rechaçou as tentativas dos assessores americanos de participar da redação do plano de desenvolvimento do Nordeste. "Se nós tínhamos dificuldade em fazer planos para o Brasil, quanto mais pessoas que nunca moraram no país, sem experiência." Não convenceu os chefes, que o demitiram. Voltou ao Itamaraty, para cuidar de política comercial, menos de um ano depois de ter se mudado para Recife.
A carreira diplomática foi praticamente um desdobramento da atividade política, que começou na faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O nacionalismo é herança de família: também era nacionalista o pai, Samuel Pinheiro Guimarães Filho (o diplomata é Pinheiro Guimarães Neto, e o avô que lhe deu o nome surgirá logo adiante, na conversa com o Valor, entre um prato de buschettas, das quais ele come apenas metade, e a chegada do prato principal). Um tio, cunhado do pai, Aguinaldo de Freitas, era advogado e jornalista. Com coluna na "Última Hora" ("Coluna política importante, como as de hoje, como a da Dora Kramer"). Era quem o levava para assistir às sessões de comissões de inquérito, como o que resultou na encampação da Bond & Share britânica pelo governo Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul.
Pinheiro Guimarães Filho, carioca, foi despachante municipal, corretor de imóveis e dono de empresa de construção, na qual empregou o herdeiro como contínuo. Foi o primeiro emprego, aos 18 anos, do hoje ministro. Também marcante foi a influência política da avó de Samuel Pinheiro Guimarães Neto, dona Gabriela, sobrinha de um dos "pais" da República, Aristides Lobo, abolicionista e autor de famosa carta em que, ao contar a derrubada, por militares, do monarca Pedro II, descreve como o povo assistiu, "bestializado, atônito, surpreso", ao nascimento do novo regime político.
"Minha avó era uma pessoa interessante, muito politizada", recorda. A palavra "interessante" costuma ser convocada, com toda sua ambiguidade diplomática, para adjetivar a conversa de Pinheiro Guimarães Neto. Além da avó, são "interessantes" a teoria da modernização autoritária de Samuel Huntington, os amigos que conheceu na Cepal, como Maria da Conceição Tavares; a dimensão que a política externa ganhou no debate político interno; o salário que recebeu ao ser contratado como economista sênior de uma grande construtora, em uma passagem pelo setor privado; e até o filme "Eu Te Amo", de Arnaldo Jabor. Mas o cineasta e cronista, que o diplomata computa entre os amigos, entrará na conversa mais à frente, já quase na sobremesa.
O bisavô Francisco Pinheiro Guimarães foi deputado, alto oficial na Guerra do Paraguai, deputado e autor de teatro. Aristides Lobo foi tradutor de Rabelais. Não teriam os cromossomas marcado no diplomata alguma ambição literária? "Não penso em escrever ficção, exige talento", diz o autor dos livros de ensaio "Quinhentos Anos de Periferia" e "Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes" - que, em 2006, lhe valeu o prêmio Juca Pato, de Intelectual do Ano, pela União Brasileira de Escritores.
Solicitado a dizer quais os livros de sua preferência, Pinheiro Guimarães Neto sai-se com uma resposta vaga: os "clássicos". Repete "os clássicos" quando ouve a pergunta pela segunda vez, e, na terceira, cita "A Origem das Espécies", de Charles Darwin. Leu há oito anos a Bíblia, e, à parte as lições óbvias, diz que a leitura é útil até na política contemporânea. "Fundamental para entender o pensamento dos neoconservadores nos Estados Unidos", garante.
Entre os últimos livros que leu também não há romances. ("Leio menos do que gostaria, a maior parte ciências sociais, política internacional, para as aulas", diz. Ele leciona no Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas). "O último que li, muito interessante, sobre a crise, chama-se 'One Trillion Dollar Crisis', que, na segunda edição, em poucos meses, tornou-se 'Two Trillion Dollar Crisis'".
"É de um ex-banqueiro, que conhece bem o mercado financeiro, e escreve para não especialistas." Está falando do elogiado livro "The Trillion Dollar Meltdown: Easy Money, High Rollers and the Great Credit Crash", do advogado, analista e historiador Charles R. Morris, publicado no Brasil como "O Crash de 2008 - Dinheiro Fácil, Apostas Arriscadas e o Colapso Global do Crédito". Morris, presidente de uma companhia de softwares para instituições financeiras, alertava, em 2007, quando escreveu a primeira versão do livro, para o rumo insustentável dos mercados financeiros mundiais.
Pinheiro Guimarães também leu recentemente "A Crise de 2008 e a Economia da Depressão", de Paul Krugman, e "The Rise of China and the Demise of the Capitalist World Economy", de Minqi Li, ex-preso político na China, hoje professor assistente de economia da Universidade de Utah. O livro, publicado por uma editora de esquerda americana, a Monthly Review Press, defende a tese de que, em lugar de abrir-se gradativamente à economia capitalista, a China vai levar o capitalismo ao colapso ao elevar os custos ambientais, do trabalho, do capital, na produção mundial. "É um livro interessante", resume Pinheiro Guimarães.
Foram dois livros de economia os responsáveis pela convicção desenvolvimentista do embaixador. Estava no primeiro ano da faculdade, nos anos 1960, quando ganhou de um amigo um exemplar de "Terceira Força", do escritor português Paulo de Castro, militante antifranquista, combatente contra o governo colaboracionista na França. Era um livro "extremamente interessante", que falava da Iugoslávia, da Argélia, de Israel dos kibutz e dos trabalhistas, e abriu os interesses do jovem estudante para o chamado Terceiro Mundo.
Nessa época, Pinheiro Guimarães passou a frequentar o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), criado nos anos 1950 por intelectuais de esquerda, que, até ser abatido pelo golpe de 64, reuniu algumas das cabeças mais brilhantes do pensamento nacionalista e desenvolvimentista. "Conheci muitas pessoas, o Cândido Mendes, o Roland Corbusier, grande Roland Corbusier", lembra, citando o intelectual e político (do PTB) que, como outros da época, começou carreira no integralismo.
O Iseb publicou outro livro considerado fundamental pelo diplomata: "Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas", de Gunnar Myrdal, economista, intelectual e político sueco. Pinheiro Guimarães recorda e descreve outro livro famoso de Myrdall, "Dilema Americano: O Problema do Negro e a Democracia Moderna". "Em qualquer sociedade, tem situações, comunidades que se desenvolvem e outras ficam no círculo vicioso da pobreza", resenha.
"Não há serviços públicos, as pessoas se alimentam mal, ficam doentes, têm dificuldade em sair da situação de subdesenvolvimento, de onde fogem os mais dinâmicos." O interesse em estudar economia o levou a ler David Ricardo, que mencionava Adam Smith, o qual, por sua vez, citava vários pensadores antigos. "A maior parte da tradição ocidental é de pensadores refutando anteriores; Aristóteles é refutação de Platão." Decidiu, por isso, "começar do começo". E passou a estudar Platão. "A leitura dos clássicos fora de ordem não é proveitosa, o melhor é que seja sistemática."
Sistemático, decidiu estudar economia, e, a conselho de um amigo, Márcio Rego Monteiro, pleiteou matrícula no mestrado da Universidade de Boston, cidade onde foi cônsul. Somada a temporada que passou depois na representação brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, onde morou em um subúrbio com mulher e quatro filhos, Pinheiro Guimarães morou cinco anos e meio nos Estados Unidos.
Obteve o diploma de mestrado, fez as disciplinas do doutorado, mas não elaborou tese e, por isso, só inclui no currículo o mestrado por Boston. A partir dessa experiência, desenvolveu algumas teses antropológicas e sociológicas sobre a sociedade americana. "Coisa muito interessante, o sistema americano." As pessoas terminam o secundário e vão para a universidade, longe da cidade onde moram os pais, explica. O sistema de créditos, "implantado no Brasil depois de 64, para fraturar o movimento estudantil", dificulta a formação de turmas. "Quando termina a graduação, o sujeito, que se separa da família e só vê os país no Dia de Ação de Graças, se candidata a outra faculdade, em outro Estado. Há um estranhamento, ninguém sabe direito quem é quem. Você se torna um átomo, uma unidade do fator trabalho, o que garante mobilidade e, portanto, maior produtividade, maior eficiência."
A falta de uma rede de proteção familiar e de referências estáveis facilita a alocação de fatores de produção, mas fragiliza as pessoas e estimula o consumo de drogas e álcool, teoriza o diplomata, que teve poucos postos no exterior porque queria que o Brasil fosse uma referência forte para os quatro filhos - numerosos, porque via na família a importância de muitos parentes. "Na elite do poder isso ocorre, as famílias são maiores, frequentam os mesmos clubes, vão às mesmas universidades", diz, com um acento irônico na voz.
Livros puxam livros, e Pinheiro Guimarães resolve exigir dos subordinados, quando secretário-geral de Relações Exteriores, a leitura de três deles. Nega ter havido triagem ideológica. "Um era a vida do barão do Rio Branco; outro, do Moniz Bandeira, com prefácio elogioso de Rubens Ricupero; e o terceiro, de história do pensamento econômico, do Ricardo Bielschowsky, com prefácios do Roberto Campos e do Celso Furtado elogiando a imparcialidade." Ainda assim, as reclamações levaram o ministro Celso Amorim a determinar o fim da exigência de leitura. "Não me senti atingido, não; havia uma circunstância política que levou a isso, né?"
Mais de uma hora de conversa, sempre bebericando água, Pinheiro Guimarães resolve pedir algo mais forte. "Um suco de laranja, por favor." Beberá dois, até o cafezinho, que deixa de lado.
Circunstâncias. Outra palavra apreciada por Pinheiro Guimarães, que, no entanto, não cita o filosofo espanhol Ortega y Gasset, aquele para quem "o homem é ele e suas circunstâncias". Circunstancialmente, ao voltar ao Brasil, no governo Médici, foi recomendado por um amigo, Armando, irmão do economista Antônio Barros de Castro, à construtora Serete, para fazer estudos econômicos sobre os mercados de metais e o potencial da exploração madeireira na Amazônia. Circunstancialmente economista, escreveu artigos na revista "Visão", de Said Farhat. Também uma circunstância o levou, já separado, a conhecer a terceira mulher.
Militante do PT, documentarista da TV Senado, a socióloga e antropóloga Maria Maia sentou-se ao lado de Pinheiro Guimarães, ao voltar a Brasília, onde assistiram ao Festival de Cinema. Estão juntos há 12 anos. "Sempre tive enorme interesse em cinema, no Rio." Já quando militante estudantil, tornou-se amigo de cineastas também militantes, Leon Hirzmann e Cacá Diegues, que quase passou a ele a direção de um jornal secundarista. No Instituto Rio Branco conheceu Celso Amorim, uma turma adiante, e com ele conversava sobre cinema.
Quando Amorim dirigiu a Embrafilme, o hoje ministro foi seu segundo. Frequentador de cinema duas ou três vezes por semana, gosta de Fellini, anda apaixonado pelos cineastas argentinos e adorou "O Banheiro do Papa", do uruguaio Enrique Fernandez. Gosta do interessante "Eu Te Amo", do amigo Arnaldo Jabor.
Amigo? O Jabor desanca a política externa em suas colunas na imprensa e no rádio, lembra o repórter. "Encontrei-o recentemente, foi muito gentil." Ultimamente, Jabor "anda zangado", admite. Mas pode ser fita, puro personagem, concede.
Pinheiro Guimarães diz que não polemiza, que as críticas são bem-vindas, porque podem dar lugar a mudanças. Provocado, reluta em comentar recente nota de Élio Gaspari, que, escandalizado, reproduziu trecho de uma palestra na qual o ministro citou Alemanha e Japão como exemplos do alto preço pago por contestar a "hegemonia anglo-saxã".
"O nazismo não tem paralelo, um regime com perversão de valores, agressividade, absolutamente condenável", comenta, lembrando artigo de 2002, para a revista "Estudos Avançados", da USP, em que fala de nacionalismos, e cita a Alemanha de Hitler como exemplo negativo. "Porém, uma coisa é clara: a composição do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi decidida antes de se descobrirem as atrocidades dos campos de extermínio, o horror das experiências com humanos. A guerra não foi montada em torno dessa questão, mas de uma disputa de poder."
Depois de esquivar-se de algumas perguntas sobre política externa, Pinheiro Guimarães acaba fazendo defesa enfática da importância de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas ("Eles têm o monopólio da força, e têm expandido a competência para vários temas, e, se estamos ali, podemos defender melhor nossos interesses, que têm se diversificado"). Fica animado quando, finalmente, o repórter lhe pergunta sobre o ministério.
Está empenhado na tarefa de elaborar um plano para 2022, requisitado pelo presidente Lula. Conversou com quase todos os ministros. Não com Dilma Rousseff, da Casa Civil, que estava em viagem. "Falei com a Erenice Guerra." Será um plano com metas previstas, e "para cada meta vão se estabelecer instrumentos quantificáveis".
Que tema o apaixona mais? "Um país se desenvolve quando aumenta o número e a variedade dos bens que produz, como nos Estados Unidos", responde. São necessários conhecimento tecnológico, e muitos recursos, inclusive humanos, complementa. "Daí a necessidade muito importante de formar quadros, engenheiros das mais diversas áreas." Para formar engenheiros, são necessários bons cursos, e, para isso, bons professores de matemática. "Os chineses fazem isso, temos de começar agora", diz ele, que ainda ficará, por alguns minutos, à porta do restaurante, sem pressa de ir embora, lembrando histórias de sua formação política. Telefonará, depois, ao repórter, para aclarar dúvidas e contar os nomes dos filhos e enteados. Perdão, embaixador, o espaço acabou.
1613) Planos com a mudanca de ano
TEMPO DE TRAVESSIA
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia…
E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa
Agora uma confissão pessoal:
Se o poeta fingidor conhecesse as minhas roupas usadas, não faria um poema, e sim um decreto-lei...
Bons planos a todos...
Paulo Roberto de Almeida
1612) Uma mensagem de Natal individualista
É uma mensagem de fé no indivíduo, contra os engenheiros sociais que pretendem coletivizar a felicidade, aliás, torná-la compulsória, contra a nossa própria vontade (e, claro, usando os nossos recursos).
É uma mensagem de confiança em nossa capacidade de administrar nossos destinos individuais.
Por isso eu a partilho com os meus poucos leitores, desejando a todos felicidades em seus projetos pessoais e familiares.
Paulo Roberto de Almeida (24.12.2009, 17h15)
Uma mensagem de Reinaldo Azevedo
(...)
Queridas e queridos,
ao longo destes três anos e pouco, tenho dividido com vocês perplexidades, anseios, dúvidas, indignações, alegrias, idéias, morfemas sentimentais… À diferença do que sustentam alguns, não tenho agenda nenhuma que não seja a aposta no mais radical, extremo e inegociável individualismo. Se tenho um norte, ele é tão-somente este: o homem não é e não deve ser reduzido a uma equação cuja resposta é um partido, um grupo, uma ideologia. Reajo, e reagimos, à tentativa ou de nos enquadrarem num projeto de poder ou de nos fazerem sabotadores desse projeto. Não somos nem uma coisa nem outra porque essa gente, esses utopistas do estado burocrático, esses reformadores de cartório, estes vigaristas de sonhos mesquinhos, nem mesmo são nossos oponentes qualificados. Eles não são NADA!
Pensam, tolamente, que apenas queremos este ou aquele na Presidência ou que rejeitamos esta ou aquela. Mas nós nem mesmo damos bola para os amanhãs gloriosos com que nos acenam ou para as punições com que nos ameaçam. Estamos olhando para outro lugar. Enquanto eles falam, enquanto eles prometem, enquanto eles vociferam, enquanto eles tentam fazer pouco de nossa resistência, estamos distraídos com o fundo de nossas próprias consciências, onde eles não entram. MAL SABEM QUE O NOSSO REPÚDIO AO QUE PENSAM DERIVA MENOS DE SUAS IDÉIAS SOBRE POLÍTICA E ECONOMIA DO QUE DE SUA IMENSA VULGARIDADE, tão ocupados em assegurar um pequeno cargo, um pequeno mando, uma pequena prebenda, um pequeno privilégio — de que se fazem as grandes falcatruas.
Nós somos aqueles que olharam para o estado há três, quatro séculos, e disseram: “Cuidado! Isso pode aprisionar a vontade; isto, potencialmente, mata a liberdade”. O nosso repúdio a seu mundo não depende de seguirem nisto ou naquilo as leis de mercado. ... Estamos entre aqueles que não aceitam o pagamento, que não aceitam a chantagem. Vivem-se dias miseráveis, de satanização da crítica, em que se pretende que todo anseio tenha o tamanho da promessa e da bazófia de um demiurgo matusquela. Ocorre que somos da antiga linhagem dos homens que dizem “não”.
(...)
Reinaldo Azevedo (24/12/2009, 04h51)
1611) Livros: um crime contra os leitores, um atentado à leitura
Pois bem, o governo quer cometer mais um atentado contra o nosso bolso e um crime contra a leitura no Brasil, ao encarecer um pouco mais a cadeia produtiva do livro, por meio de um novo imposto. Isso para dar mais emprego a burocratas governamentais, saindo sabe-se bem de onde e de que partido...
Transcrevo o artigo de um comentarista indignado, como eu, com esse encarecimento do preço do livro, que ao fim e ao cabo não vai estimular a leitura (quem acredita nisso, acredita que burocratas governamentais sabem fazer as pessoas lerem...) e vai apenas fazer diminuir o mercado de livros no Brasil.
Espero que o Congresso envie o projeto para a lata de lixo (mas duvido que isso aconteça, conhecendo nossos parlamentares).
Paulo Roberto de Almeida
O FUNDO PRÓ-LEITURA (PRA: deveria ser o contrário: um sorvedouro anti-leitura)
Nivaldo Cordeiro: um espectador engajado
24 de dezembro de 2009
Deverá ser enviado para trâmite no Congresso Nacional mais um monstrengo destinado a mamar na renda dos brasileiros e destinado a ser privatizado por grupos de pressão caçadores de recursos orçamentários. Refiro-me ao Fundo Pró-Leitura. Vejamos o que está escrito na minuta do projeto de lei: “Institui o Fundo Setorial de Livro, Leitura e Literatura – Fundo Pró-Leitura, cria a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico do Fundo Pró-Leitura e dá outras providências”.
A forma jurídica para a criação da receita é instituir uma Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE) sobre o faturamento das editoras de livros. A brincadeira, se aprovada, vai gerar R$ 57 milhões de reais por ano, para que burocratas dedicados à causa difusa da leitura possam dispor, ao seu arbítrio, dos recursos. Devemos lembrar que impostos sobre as vendas se revestem de caráter altamente regressivo, concentrador de renda, e de nefasto efeito em cascata. Empobrecem não apenas os produtores (os editores), mas também o consumidor, que terá que arcar com o ônus. Cálculos mostram que um tributo de 1% sobre o faturamento, na ponta final, se transforma em arrecadação de 2,1% pelo efeito cascata, uma extorsão.
O setor editorial vem de amargar queda sucessiva na quantidade de exemplares vendidos, da ordem de 19% desde 1998. Da mesma forma, a receita real do setor também involiu. Instituir imposto sobre uma atividade em crise é um contra-senso. O formato do livro tradicional está sofrendo feroz ataque de outras formas de transmissão de conhecimento, particularmente dos modernos meios informatizados disponibilizados pela internet. Esse processo tende a se agravar nos próximos anos. A crise do setor é estrutural. Gravá-lo com mais impostos não faz sentido.
Argumentar que o setor foi desonerado do PIS/COFINS e que, portanto, poderia arcar com o ônus é uma tese absurda. Constitucionalmente a atividade editorial tem imunidade tributária e a cobrança do PIS/COFINS não passava de uma afronta à ordem constitucional. As contribuições nunca foram devidas pelo setor editorial. Fazer da nova CIDE uma contrapartida da suposta bondade pelo cumprimento da imunidade tributária é má fé. Não houve bondade alguma, apenas a correção de uma flagrante injustiça, revestida de total ilegalidade.
A posição conciliadora da vontade do governo com os interesses dos editores foi expressa por Sonha Machado Jardim, em artigo assinado no Estadão, publicado no último dia 23 de julho. Sonia é a presidente do SNEL – Sindicato Nacional do Editores de Livros. Sua proposta é simples: para a criação do Fundo, que se ponha contrapartida equivalente de recursos pelo governo. É claro que não elide o fato de que o setor está sendo roubado, mas ao menos dá uma satisfação aos que fazem parte do setor, manifestando no gesto o engajamento dos burocratas governamentais com a nobre causa do livro.
É difícil hoje em dia um sindicato patronal se colocar de forma contrária a uma vontade governamental. O poder de Estado pode ser esmagador. Então é preciso compreender o conformismo do SNEL diante da iminente injustiça como a posição de um refém diante do algoz. Evidentemente que a disposição do governo de colocar recursos orçamentários no Fundo é nenhuma e a tramitação do projeto de lei deve ignorar solenemente o pensamento dos produtores de livros.
1610) EUA: como o governo engole a economia (o do Brasil ja engoliu)
Rick Newman
U.S. News and World Report, November 9, 2009
Rick Newman
The global economy is mysterious, even scary. Chief Business Correspondent Rick Newman connects the dots. In addition to his writing for U.S. News, Rick is the co-author of two books: Firefight: Inside the Battle to Save the Pentagon on 9/11, and Bury Us Upside Down: The Misty Pilots and the Secret Battle for the Ho Chi Minh Trail. (flowchart@usnews.com)
You know about the bailouts, the stimulus plan, cash for clunkers, and moola for mansions. But for all the anxiety they've caused, those government giveaways are just a tiny part of a mushrooming problem.
By one measure, the government already plays an outsize role in our so-called free-market economy—and it has little to do with the recession. Economist Gary Shilling has calculated that 58 percent of the population is dependent on the government for "major parts of their income," including teachers, soldiers, bureaucrats, and other government employees; welfare and Social Security recipients; government pensioners; public housing beneficiaries; and people who work for government contractors. By 2018, Shilling estimates, an astounding 67 percent of Americans could be dependent on the government for their livelihood. The implications aren't comforting.
[See 4 problems that could sink America.]
Tea-party ranters might cite this as evidence of liberal policies run amok, but the growing-government phenomenon transcends party politics. In 1950, the starting point for Shilling's analysis, just 29 percent of the nation depended on government for its income. By 1980, that had risen to 61 percent—higher than it is today—thanks to demographic factors and the needs of a changing nation. The military got larger and defense spending grew as America took up its role as a superpower. Baby boomer kids required many more schoolteachers. The number of Americans receiving payouts from Social Security, enacted in 1935, increased 10-fold. Food stamps and other safety-net programs of the 1960s and '70s began to reach millions of Americans.
From 1980 to 2000, Americans became less dependent on government. California and other states cut their budgets and reduced spending. The military got smaller after the Cold War ended. Welfare reform in the 1990s kicked many people off the dole. And the private sector boomed during those two decades, accounting for a larger share of the labor force. By 2000, the portion of the population dependent on government had drifted down to 54 percent.
But it reversed course after that, and it seems poised to keep going up. The size of government has generally held steady since 2000, but globalization, technology, and other factors have led to weak private-sector job creation over the past decade. And that was before the recession destroyed more than 8 million jobs. So the government has employed an increased share of Americans. The other big change since 2000 has been a near tripling of food-stamp recipients, as low earners got left out of the housing and stock-market booms and then suffered worse during the recession.
[See 9 signs of America in decline.]
The next big shift will come as baby boomers begin to retire, boosting the number of Social Security recipients 27 percent by 2018 and threatening the solvency of the program. Shilling has another dire prediction: Economic growth will be so weak for the next several years that without government support, the unemployment rate will rise to 23 percent in 2018. Since that's politically intolerable, government will continue to spend money to create jobs, he predicts, with nearly 25 million additional Americans employed as a direct outcome of government spending by 2018.
If that happens, more than two thirds of the nation will owe their livelihood to the government, which is unsustainable for a number of reasons. It will require federal deficits far larger than the $1.4 trillion bogy we've got now, which is already alarmingly high. If irate voters don't rein in America's debt binge, market forces will, perhaps because foreigners will stop lending us the money or the rates they demand will rise and effectively bankrupt the country. Higher taxes would help solve the problem—and are probably inevitable—but enacting them on rich people alone won't be enough. At some point not too far off, the U.S. government will have to close the vast gap between its income and its spending, and the pain will be widespread.
[See why stocks are surging as jobs disappear.]
Some economists are more optimistic than Shilling, with stronger projections for economic growth that might eliminate the government's need to create 25 million new jobs. But rosier scenarios are taking their time to materialize. The unemployment rate has soared to 10.2 percent, a 26-year high, with no indication that companies will start hiring again anytime soon. So instead of restraint by government, Congress and President Obama have extended housing subsidies and unemployment insurance, cut taxes on struggling companies, and even made plans to send a $250 check to every senior citizen, just as a nice gesture. Americans who can get in on this bonanza should get theirs while they can. Sooner or later, the door is going to slam shut.
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Comments:
Obviously, as more and more people are either directly or indirectly dependant on the government for thier employment, they will vote themselves more and more. Of course the politicians will respond accordingly and at some point we will see a *real* collapse of our economy.
Prediting when or how isn't so easy, but since there is no damping of the feedback loop, it is a certainty.
The only potential fix that I can see is scaled voting rights.
Jeff of CA @ Dec 04, 2009 14:48:12 PM
Tiana
Excuse me, "If the 'deficit' was getting smaller and smaller..."
I meant to say.
...and speaking of --
A 'budget deficit' means the opposite: Spending > Revenue.
What you're actually referring to is the 'federal debt'...
There was no cooking of the books. Even when using an 'accrual counting method', I believe it's called, the numbers still add up.
I'm not trying to be a smart-ass know-it-all or mean and nasty but I thought a little clarification was needed.
...and, overall, this is why I'd made reference to 'books' and 'bloggers'.
I KNOW that schpeal is coming straight from the mouth (or fingers) of some website.
I don't know understand why everyone acts as if 'random' people on the internet are the 'source' of all info.
...and it kills me, b/c half the ppl on the internet could be (and usually are) talking out of their a**es.
Sadly, people don't appear to read books anymore...so many of them hardly know the difference. SMH
There's too much of that and this should be a lesson: Do your own research. Come to your own conclusion and stop regurgitating 'what someone else said/typed'. I don't mind different opinions, but let them be your own...
Tiana of TX @ Dec 03, 2009 11:04:39 AM
Tiana
"JC you seem to have fallen for the tricks that the federal govt. plays with it's books. Looking at the official govt. numbers you will see that at NO TIME during the Clinton administration was the budget balanced. The budget deficit was indeed getting smaller but it still existed. "
Well, for one, a budget surplus simply means that revenue is higher than spending...doesn't mean that the books are 'balanced'. And if 'the budget was getting smaller and smaller' (using your words) that implies that there was a surplus.
Secondly --> http://www.factcheck.org/askfactcheck/during_the_clinton_administration_was_the_federal.html
...PLUS its already recorded as such in the history books. I think I'll believe them over some random blogger any day.
I suggest you do the same...
Tiana of TX @ Dec 03, 2009 10:47:09 AM
1609) Lula: personalidade do ano para o Le Monde
Eric Fottorino
Le Monde, 24 décembre 2009
Pour la première fois dans son histoire, "Le Monde" a décidé de désigner la personnalité de l'année.
Pour la première fois dans son histoire, Le Monde a décidé de désigner la personnalité de l'année. "Sa" personnalité de l'année. L'exercice pourrait paraître hasardeux ou galvaudé. Qui distinguer ? Selon quels critères ? Au nom de quelles valeurs ? Comment se différencier de grands et prestigieux confrères étrangers, tel l'hebdomadaire américain Time, qui nous a depuis longtemps devancés sur ce chemin en élisant sa "person of the year" ?
Nos discussions ont ainsi mis en lumière ce qui nous rassemble sous la bannière du Monde. Puisque, depuis soixante-cinq ans, le titre de notre journal est une invitation au regard planétaire, nous avons choisi une personnalité dont l'action et la notoriété ont pris une dimension internationale. Soucieux de sortir des choix obligés qui auraient pu nous porter vers le président des Etats-Unis, Barack Obama (mais il fut davantage l'homme de 2008 que celui de 2009), nous avons aussi écarté les personnalités "négatives", encore que leur action soit déterminante dans la nouvelle configuration mondiale : Vladimir Poutine et sa tentation-tentative de reconstituer l'empire soviétique; Mahmoud Ahmadinejad, dont chaque parole et chaque acte sont un défi à l'Occident.
Depuis sa création, Le Monde, marqué par l'esprit d'analyse de son fondateur, Hubert Beuve-Méry, se veut un journal de (re)construction, sinon d'espoir; il véhicule à sa manière une part du positivisme d'Auguste Comte, prend fait et cause pour les hommes de bonne volonté. C'est pourquoi, pour cette première désignation, que nous souhaitons désormais renouveler chaque année, notre choix de raison et de cœur s'est porté sur le président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, plus connu sous le simple nom de Lula.
Il nous a paru que par son parcours singulier d'ancien syndicaliste, par sa réussite à la tête d'un pays aussi complexe que le Brésil, par son souci du développement économique, de la lutte contre les inégalités et de la défense de l'environnement, Lula avait bien mérité… du monde.
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Commentaires des lecteurs:
Nassim A.
24.12.09 | 14h59
Un défi permanent à l'Occident est négatif car cela n'apporte absolument rien de constructif. Ahmadinejad n'a rien fait pour le peuple iranien, pour la démocratie et l'égalité dans son pays (bien au contraire). Il n'a participé à aucune avancée ou discussion internationale sérieuse ne concernant pas son pays, notamment par rapport au Liban où il a clairement un rôle à jouer, préférant narguer le monde avec l'éternel débat nucléaire, Israel... Je ne vois pas où trouver du positivisme!
Gribouillette
24.12.09 | 14h56
Evo morales aurait été un choix plus judicieux et moins révérencieux.
MICHEL S.
24.12.09 | 14h52
Lula et son "souci du développement économique". Pour ça oui mais en faisant quoi ? Arrêt de la déforestation ? faux. Il continue de laisser faire largement les coupables. La lutte contre les inégalités ? du bout des lèvres, pour ne pas choquer les grands propriètaires terriens. Et ne parlons pas du déchaînement de la production de nécro-carburants à grands coups de destruction de ressources alimentaires et de production d'OGM. Vraiment, pas de quoi en faire un héros mondial ...
Tatiana M.
24.12.09 | 14h13
Je suis brésilienne et je ne suis pas d'accord avec ce choix! Il y a encore ici beaucoup de contradictions et corruption.
Georges D.
24.12.09 | 13h57
Bienheureux brésiliens qui ont élu un véritable homme d'état.
Josua
24.12.09 | 13h52
Un homme admirable quio travaille sans relâche et sans compromis pour tous les rapprochements. N'oublions pas Cardoso qui est aussi à l'origine de la croissance actuelle et géométrique du Brésil. Lula loin de s'enfermer profite de la nouvelle grandeur de son pays pour s'engager dans le monde dans des choix courageux, à Copenhague il fut sans doute le seul à proposer une avancée réelle
Kevin S.
24.12.09 | 12h57
"Personnalité négative" ? Ce sont les personnalités qui refusent la dictature de la toute-puissance de l'Occident ? Bravo Eric de nous jouer à nouveau le choc des civilisations...
Pierre B.
24.12.09 | 12h48
Bravo pour cette initiative du Monde. Félicitations pour votre choix. Lulla incarne pour moi l'homme politique nouveau qui sait d'ou il vient et sait peut être vers quoi il faut aller. Cela me réconcilie un peu avec le Monde dont les orientations et les articles pendant l'année écoulée m'ont déçus Au point ou encore ce matin je me posai la question de savoir si je maintenai mon abonnement.
antoine m.
24.12.09 | 12h46
Le choix aurait put être plus argumenté
Jean-Pierre B.
24.12.09 | 12h36
D'accord!
euplagia
24.12.09 | 12h35
En quoi un "défi à l'Occident" est-il nécessairement négatif ?
Christophe B.
24.12.09 | 12h25
C'est un choix judicieux et représentatif: le Brésil a bien changé ces dernières années, on y vit mieux, et il n'est plus question de lui contester son titre de première puissance sud-américaine. J'y vais régulièrement pour affaires et l'évolution est très nette, au contraire de l'Argentine des Kirchner par exemple.
Bruno B.
24.12.09 | 12h01
Je partage ! Il faut mettre en valeur les hommes de bonne volonté...
L.Leuwen
24.12.09 | 12h01
Excellent choix.
OMER
24.12.09 | 12h00
Pourquoi pas effectivement beaucoup de qualités pour Lula ( que l'on a beaucoup vu bras dessus bras dessous avec notre agité national de président) ? Mais la starification, la personnalisation de la vie politique , le volontarisme d'un tel ou d'un tel , les "gens d' en haut" occupent déjà l'espace cathodique dans tout genre d' émissions . Pourquoi contribuer un tant soi peu à différencier les personnalités des peuples ? Combien d'anonymes passés sous silence ?
OLIVIER G.
24.12.09 | 11h41
" prend fait et cause pour les hommes de bonne volonté" Continuez !
1608) Crise financeira: a boa e a verdadeira explicacao de suas causas
A mim não me convence, e sobre ela escrevi vários trabalhos ao longo de 2008 e 2009 (inclusive neste blog). Pois bem, este diretor do Instituto Adam Smith de Londres também acha que esse simplismo todo não é justificado, e escreveu este ensaio, que a despeito de longo, merece ser lido e servir como base de reflexão e aprendizado.
Crise financeira: culpe os governos, não os banqueiros
Eamonn Butler
Eamonn Butler é diretor do Adam Smith Institute, em Londres.
20 de Dezembro de 2009 - site Ordem Livre
A história popular sobre a crise do crédito é contada da seguinte forma.
Era uma vez um grupo de banqueiros gananciosos, a maioria nos EUA, que fizeram fortunas vendendo hipotecas a pessoas pobres que, na verdade, não tinham condições honrá-las. Eles sabiam que esses empréstimos eram de risco, então eles os fatiaram e os venderam em pacotes ao redor do mundo para outros banqueiros gananciosos que não sabiam o que estavam comprando. Quando a bolha da habitação estourou, os mutuários se omitiram e os banqueiros descobriram que o que eles tinham comprado não tinha valor algum. Eles faliram, os empréstimos secaram e a economia parou. A moral da história, de acordo com essa descrição dos eventos, é que o capitalismo falhou e que precisamos de regras mais duras para frear a ganância dos banqueiros e para ter certeza de que isso nunca mais vai acontecer.
A história é popular porque há muita verdade nela. A crise realmente começou nos EUA. Os mutuantes americanos realmente emprestaram para pessoas que não eram confiáveis, e de fato venderam em pacotes os seus maus negócios “sub-prime”. Outros banqueiros realmente compraram esses pacotes infectados e realmente ficaram sem dinheiro. E, sim, houve muita ganância e estupidez dentro das empresas comerciais.
O que está faltando na história, entretanto, é o fato de que todos esses crimes, loucuras e infortúnios derivam da ação do governo. Suas causas são intervenções políticas nos mercados bancário e de hipotecas; extravagância sem controle das autoridades monetárias oficiais, e legisladores sem foco e ineptos.
As profundas raízes da crise
A verdadeira história tem raízes lá na última grande crise financeira, a Grande Depressão da década de 1930. O crédito estava apertado; hipotecas eram difíceis de se obter, os imóveis não estavam vendendo e a indústria da construção estava em colapso. Então, o governo interviu para tentar reviver o mercado e encorajar a confiança dos mutuantes.
Várias novas agências foram criadas, entre elas, o Administração Federal de Habitação (Federal Housing Administration — FHA), que garantia os riscos dos financiamentos dos bancos, e a Associação Nacional Federal de Hipotecas (Federal National Mortgage Association — FNMA ou Fannie Mae), que na prática assegurava as hipotecas estando preparada para comprá-las dos mutuantes. Essas garantias federais transferiram o risco dos mutuantes — principalmente as instituições de poupança e empréstimo (P&E, semelhantes às sociedades de negócios britânicas) — aos contribuintes americanos.
O governo dos Estados Unidos também interveio profundamente nas operações dos mutuantes. O Ato Glass-Steagall, de 1933, permitiu ao Federal Reserve estabelecer limites sobre as taxas que os bancos poderiam pagar aos seus depositantes (Regulamento Q). Os P&Es se beneficiaram porque eles não tinham tais limites. Mas os P&Es estavam, também, restritos ao mercado das hipotecas de longo prazo; assim, ficavam na posição potencialmente arriscada de se comprometer a financiar empréstimos de 30 anos enquanto seus poupadores poderiam mover seus depósitos em um curto prazo.
Aumentos agudos e voláteis nas taxas de juros no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 significam que os P&Es de fato enfrentaram dificuldades quando os depositantes retiraram seu dinheiro para colocar em poupanças que pagavam uma taxa de juros maior. No início dos anos 1980, os S&Ls estavam tecnicamente insolventes. O Congresso desregulamentou, mas muito tarde: em 1995 o número de S&Ls tinha diminuído para apenas 1.645. Duas outras criações do governo dos anos 1930, o Federal Savings & Loan Insurance Corporation (FSLIC) e o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), pegaram a conta, a um custo de 150 bilhões de dólares aos contribuintes americanos.
Essa longa lista de intervenções do governo fez com que o mercado de financiamento parasse de funcionar corretamente. A competição estava restringida. As regulamentações impediram as instituições de se adaptarem às condições de mercado. Empréstimos ruins e más decisões administrativas foram subscritas pelos contribuintes.
Como os políticos forçaram os banqueiros a conceder empréstimos ruins
O ingrediente final desse coquetel venenoso foi o Ato de Reinvestiment na Comunidade (Community Reinvestment Act — CRA), que o Presidente Jimmy Carter assinou em 13 de outubro de 1977. Seu objetivo era louvável — promover a aquisição da casa própria para as minorias. Ele tornou ilegal a prática do redlining, na qual os mutuantes simplesmente recusavam hipotecas para áreas pobres (geralmente bairros negros e hispânicos) porque os moradores locais não eram tão atraentes como mutuários devido às suas moradias de baixa qualidade e seus altos níveis de desemprego e de dependência dos programas governamentais.
A partir de então, esperava-se que os mutuantes fizessem negócios em toda a área geográfica que serviam. Eles não poderiam favorecer as partes mais ricas em detrimento das mais pobres. Para ter certeza de que eles assim faziam, o Ato de Divulgação das Hipotecas Imobiliárias (Home Mortgage Disclosure Act — HMDA), de 1975, forçou os mutuantes a fornecer relatórios detalhados sobre as pessoas a quem eles estavam emprestando. E o governo Carter também fundou vários grupos "da comunidade”, como a Associação de Organizações Comunitárias pela Reforma Já (Association of Community Organisations for Reform Now — ACORN), para ajudar a monitorar seu desempenho com as regras do CRA.
Em 1991, as regras do HMDA foram fortalecidas para incluir uma exigência específica pela igualdade raciall nas instituições de empréstimo. Em 1992, o Federal Reserve Bank of Boston publicou um manual para mutuantes que foi ainda mais longe. O manual aconselhava que a falta de histórico de crédito para aqueles que requeriam o financiamento não deveria ser vista como um fator negativo na sua avaliação para um empréstimo; que os mutuantes não deveriam recuar se os mutuários usassem empréstimos ou doações para o depósito inicial; e que o seguro-desemprego seria uma fonte válida de renda para as decisões de empréstimo. O manual também os lembrava que não cumprir os regulamentos do CRA poderia ser uma violação das leis de igualdade de oportunidade, o que exporia as instituições a indenização por danos materiais e morais de US$500.000.
O governo foi ainda mais longe, “racionalizando” os regulamentos do CRA 1995 para permitir, e de fato forçar, que os mutuantes ignorassem a maioria dos critérios tradicionais para decidir se concederiam ou não o empréstimo. Os financiamentos poderiam, agora, ser qualquer múltiplo da renda; o histórico de poupanças das pessoas era irrelevante; a renda dos requerentes não precisava ser verificada; e a participação em programas de aconselhamento de crédito poderia ser considerada prova da capacidade do requerente de administrar um empréstimo. Em outras palavras, o governo estava agora forçando as instituições a conceder empréstimos a pessoas que eles sabiam não iriam honrá-los.
E para ter certeza de que isso aconteceria, mais dinheiro dos contribuintes foi dado para grupos de monitoramento como o ACORN. Conforme aumentava o escrutínio público das fusões e aquisições dos bancos, após a desregulamentação Riegle-Neal, de 1994, esses grupos foram realmente capazes de manter os bancos como reféns. Sob o CRA, se um mutuante quer mudar de alguma maneira a sua operação de negócios — fundindo com outro banco, abrindo ou fechando ramos, ou desenvolvendo novos produtos —, ele deve convencer o regulador de que continuará a fazer empréstimos suficientes aos grupos de mutuários preferidos do governo. O ACORN e outros podem requerer petições junto com os reguladores para parar os planos dos bancos.
Maus empréstimos e os mercados em expansão
Não surpreendentemente, os bancos pagaram o resgate. E agora que a solvibilidade não era mais um requisito para se conseguir um empréstimo, o número de empréstimos de risco aumentou. Aumentou de 65% para 69% entre 1995 e 2004 a percentagem de casas que eram propriedade de seus moradores, representando um número em torno de 4,6 milhões de novos proprietários. Isso pressionou os preços das habitações, que também se elevaram bruscamente de sua posição estável no início dos anos 1990.
Enquanto isso, uma lei de 1992 que empurrava o Fannie Mae e seu gêmeo mais jovem, a Companhia Federal de Hipotecas sobre Casas (Federal Home Loan Mortgage Company — Freddie Mac), a empregar mais esforços para concretizar os objetivos mais amplos quanto à aquisição da casa própria. Havia empréstimos de alto risco por toda a parte. Até o FHA deu mais créditos aos mutuários pobres ao oferecer empréstimos de depósito baixo. E o Freddie Mac é que na verdade desenvolveu o processo de titularizar o pacotes de maus empréstimos e vender esses débitos ruins pelo mundo. Esse negócio se expandiu após 1995, também.
Fannie e Freddie lucraram com esse sistema, passando a maior parte dos riscos para os contribuintes. Para garantir, eles contribuíram pesadamente para escritórios do Congresso e gastaram centenas de milhões de dólares com lobby e com os grupos de pressão. Outros mutuantes sem escrúpulos também sabiam que Freddie e Fannie — e, em última análise, os contribuintes — garantiriam seus empréstimos ruins, portanto, estavam felizes em conceder ainda mais deles.
Enquanto os preços das habitações continuavam a subir, parecia que tudo corria bem. Mesmo os mutuários de maior risco estavam honrando seus pagamentos. Algumas pessoas refinanciaram na volta do aumento dos preços das casas e embolsaram bons lucros. E outras intervenções governamentais mantiveram o crescimento da bolha. Regulamentos para o uso da terra, limitando a oportunidade para a construção de casas, empurraram os preços ainda mais para cima. As deduções do imposto de renda para os financiamentos favoreceram o setor da habitação sobre outras poupanças.
Entretanto, o Federal Reserve — assistido pelo Bank of England — tinha inundado os mercados mundiais com crédito após a quebra da bolsa de 1987. Eles fizeram novamente o mesmo toda vez que havia a ameaça de alguma recessão — a quebra dos dotcom, e espetacularmente após o 11 de setembro, quando as taxas de juros caíram de 6,25% para apenas 1% —, o que apenas estimulava os empréstimos ainda mais. Assim, o preço das casas continuou a subir e os proprietários aproveitaram a expansão.
Parecia haver um monte de razões para comprar casas, e nenhuma para não comprar. Em 2006, talvez um quinto dos compradores eram apenas especuladores — não apenas especuladores de classe média, mas de classes mais baixas, também. Em estados como a Califórnia, onde os mutuantes não podiam ir atrás dos ativos dos mutuários, não havia nenhum risco: se as coisas dessem errado, você simplesmente devolvia as chaves para o mutuante e saía. Eles chamavam isso de jingle mail, "correspondência tilintante".
O inevitável estouro
Mas, em 2006, a bolha estourou. Era inevitável, já que estava muito inflada devido à política monetária frouxa do Federal Reserve. Os preços das casas desmoronaram e os mutuários ficaram inadimplentes. Um ano mais tarde, os bancos se deram conta dos títulos de má qualidade que haviam comprado. Apesar de terem 236 reguladores no seu caso, Fannie e Freddie — fiadores de metade das hipotecas dos Estados Unidos — mergulharam em um enorme déficit e se arruinaram.
Foi uma expansão, e um estouro, causados inteiramente pelo governo. E a expansão e o estouro na Inglaterra tiveram muitas das mesmas características e causas. As contínuas afirmações de Gordon Brown de que a era da expansão e do estouro já tinha acabado, nos fizeram acreditar que a expansão que estávamos vivendo era real e nos fez desconsiderar os riscos do colapso. Os preços das casas se moveram em uma espiral ascendente; novamente as pessoas refinanciaram e auferiram lucros da alta dos preços; outros compraram casas para fazer especulações; e o green belt, ou "cinturão verde", e outras restrições ao planejamento mantiveram o abastecimento das casas baixo, enquanto a imigração de pessoas vindas de novos membros da União Europeia pressionava cada vez mais a demanda.
Mas a política monetária não estava concentrada no controle dessa expansão do crédito. De fato, Gordon Brown mudou o índice de preços que o Bank of England tinha como meta para o índice de preços ao consumidor (IPC). Isso exclui os custos da habitação, ao contrário do índice de preços ao varejo, assim, os elevados custos da habitação não são considerados pelo comitê de política monetária (CPM). Ao mesmo tempo, a China e outros países em desenvolvimento estavam produzindo bens comerciáveis mais baratos, então o crescimento do IPC permaneceu relativamente baixo. Consequentemente, é claro, o CPM teve problemas até para atingir sua meta de crescimento de 2% dos preços. Como o Federal Reserve, o Bank alimentara uma enorme inflação.
Quando Gordon Brown deu ao Bank a independência na política monetária, ele também deslocou seu papel na regulamentação dos bancos para a nova Autoridade de Serviçoe Financeiros (Financial Services Authority — FSA). Mas o Bank teve uma melhor compreensão do que estava acontecendo nos mercados. Seus papeis no ajuste das taxas de juro e na atuação como mutuante de última hora foram complementares ao seu antigo papel de regulamentar os bancos. O FSA provou que não poderia se manter a par com o mundo acelerado dos derivativos e das trocas de crédito.
O Bank of England alertou o FSA que o Northern Rock estava operando em risco, em outubro de 2006, muito antes de seu colapso; mas nenhuma ação efetiva foi tomada. Quando os problemas do Northern Rock apareceram, o velho Bank of England nunca o autorizaria a abrir para negócios na próxima segunda-feira, até que seus problemas estivessem resolvidos. Mas o Northern Rock abriu, e a visão de milhares de depositantes formando filas para remover seus fundos incitou o chanceler a ajudá-lo. E tendo garantido o mutuante de maior risco, o governo não podia simplesmente assistir, meses mais tarde, quando outros bancos começaram a ter dificuldades — assim, mais dinheiro dos contribuintes foi colocado em risco.
A regulamentação internacional aumentou o problema. As regras Basel II enfocavam o capital, ao invés do problema imediato quando a bolha do financiamento estourou, que era a liquidez. Os bancos se viram obrigados a vender ativos em um mercado decadente para manter suas margens em alta. De fato, pode-se dizer que as regulamentações do capital internacional talvez tenham tornado o problema pior.
A moral: é falha do governo, não do mercado
Agora, os políticos do mundo estão nos dizendo que nós precisamos de mais regulamentações financeiras para nos salvar das falhas do capitalismo. Mas a moral dessa história é que a crise na verdade representa uma grande falha do governo. Suas causas são um catálogo de falhas políticas, legislativas e regulatórias desde décadas atrás. Onde havia cobiça e inépcia, pelos bancos e mutuários, tem sido apenas possível properar no mundo irreal da expansão que a ação do governo criou.
Nós estamos em um cassino onde o governo estava entregando fichas grátis e os legisladores estavam nos comprando bebidas e nos dizendo em quais números apostar. Não surpreendentemente, nós todos fomos deixados mais pobres do que quando entramos.
Tradução de Gustavo Reis.