Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
Pedro Dutra: premio da Academia Brasileira de Letras pela biografia de San Tiago Dantas (2015)
sábado, 21 de janeiro de 2017
Argentina: muito bela, mas de servicios precarios nas estradas - de Cordoba a Mendoza
Pelas serras cordobesas (havia um caminho alternativo por Rio Cuarto, mas o GPS indicou esse, o que foi até interessante para conhecer), entre Córdoba e Mendoza, quer dizer, pelas serras até Vila Dolores, pelo menos, daí a estrada é reta e aborrecida.
Fizemos bem mais do que mostra este Google Map, 750 kms de um hotel a outro.
Tendo partido as 10hs do DoctaSuites de Córdoba, chegamos a Mendoza às 18:20, ou seja, mais de 8 horas de viagem quase sem paradas.
Claro, ambições mais modestas podem sempre parar nos comedores e parrillas que pipocam aqui e ali durante todo o percurso, mas a qualidade do ambiente (e dos toilettes) deixa muito a desejar.
Mesmo nas estradas nacionais (Ruta Nacional 7, por exemplo, que vai de Buenos Aires a Mendoza, e que percorremos a partir de San Luís), ninguém espere achar aqueles imensos restaurantes climatizados estilo Graal ou Frango Assado. Nada disso: a Argentina não tem muito conforto a oferecer a seus viajantes, turistas, curiosos ou simples passantes acima da categoria de caminhoneiros.
Logo na saída de Córdoba, como era sábado de férias, pegamos uma fila enorme de carros, vários ônibus, poucos caminhões, mas muitos daqueles carrinhos estilo Trabant socialistas, atravancados de famílias prolíficas, carregando seus pertences no teto, e obviamente desenvolvendo uma velocidade compatível com a potência do motor (ou com a renda familiar). Assim, durante várias dezenas de kms, fizemos filas atrás desses bravos representantes da classe média argentina (provavelmente peronistas de carteirinha), tentando manter algo em torno dos 60 kms/h. Paisagens muito bonitas no alto da serra cordobesa, mas paradas precárias como já informado.
A solução foi se contentar com um sanduíche de jamon con queso (eu) e alfajores (Carmen Lícia), e depois galletitas sem grandes atrativos gourmands. E muita água ou refrigerante, pois a temperatura, mesmo no alto da montanha, podia ultrapassar 30 graus (40 nas zonas baixas).
Finalmente, chegamos no Hotel Diplomatic (de luxo) em Mendoza, nosso primeiro exagero nesta viagem. Breve descanso, copa de vino de cortesia no hotel, e depois jantar na Estância La Florência, eu gambas al ajillo, com salada de palmito, abacate e cogumelos, Carmen Lícia sua preferida bisteca milanesa, tudo regado a um bom Malbec Tomero 2015, do Valle del Uca, região vinícola próxima a Mendoza, uma casa que remonta a 1884.
O hotel é superconfortável, com visão das cordilheiras a partir do 19. andar, onde estamos.
Dois dias de visitas a vinícolas, aos atrativos culturais e gastronômicos da cidade, antes de encetarmos a aborrecidíssima viagem de volta (a San Luís), ou de ida a Buenos Aires, uma reta sem cessar, com as paradas precárias que já antecipamos, com a única vantagem que o sol da tarde vai estar atrás de nós.
O que tem pelo caminho, entre Mendoza e Buenos Aires? Nada, absolutamente nada, com exceção de San Luis e de umas aldeias sem graça perdidas no meio da pampa. Nada de mais aborrecido do que isso, mas não temos tempo para descer a Rio Negro, Bariloche e atravessar para a costa atlântica por baixo (o que aliás já fizemos, no sentido inverso, entre Trelew e Neuquén, paisagens de filmes de cowboy).
Estou com muito trabalho no meu pipeline (trouxe uma mala inteira de livros) e por isso não tenho muito tempo para digressões filosóficas sobre a Argentina contemporânea (e precisa?; depois de Borges, nada surgiu de novidade, ou estou errado?).
Vamos ao trabalho...
Paulo Roberto de Almeida
Mendoza, 21/01/2017
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
O efeito China sobre a industria de manufaturados do Brasil - Estudo do IEDI
Para ler por inteiro, os interessados precisam acessar este link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html
Exportação de manufaturados: Concorrência China x BrasilIEDI, 20/01/2017
Sumário
Esta Carta IEDI atualiza nosso estudo de 2013 (Carta IEDI n. 590) sobre a concorrência entre Brasil e China na exportação de manufaturados nos três principais mercados regionais para as empresas brasileiras – Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (EUA, Canadá e México). Na edição anterior fizemos uma comparação entre os anos de 2008 e 2012, isto é, após o aprofundamento da crise global; agora, tratamos do quadro em 2015, ano de forte crise da indústria e da economia brasileiras, comparando-o com 2012.
O desempenho da balança comercial brasileira, desde 2003, tornou-se estreitamente vinculado ao crescimento econômico e da demanda externa da China mediante dois efeitos antagônicos. Por um lado, o “efeito complementaridade”, que beneficiou (sobretudo, antes da crise financeira global) as exportações brasileiras tanto de forma direta (impulsionando as vendas externas de commodities), como indireta (aumentando as exportações de bens manufaturados para países latino-americanos exportadores de commodities). Por outro lado, o “efeito concorrência”, associado à consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados, afetou negativamente a indústria brasileira por dois canais: a invasão de importados no Brasil e o crescimento das exportações chinesas para mercados tradicionalmente atendidos pela indústria brasileira.
Após 2008, o “efeito concorrência” ganhou intensidade devido à estratégia da China de aumentar sua presença na periferia para compensar a perda de dinamismo das economias centrais, atingidas pela crise global. No âmbito dessa estratégia, aumentaram as exportações chinesas para as principais regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados – Mercosul, Aladi e Nafta – a ponto de superarem o valor registrado pelo Brasil em 2012.
Para 2015, entre outros indicadores que são analisados nesta Carta, calculamos o nível de ameaça das exportações chinesas às exportações brasileiras. Foram criadas quatro categorias: Ameaça Direta quando, para um produto, há aumento de market-share da China nas regiões selecionadas, ao mesmo tempo em que o Brasil reduz seu market-share; e Ameaça Indireta quando o aumento do market-share da China for maior do que o aumento do market-share do Brasil. Os produtos que não estão sendo ameaçados pelas exportações chinesas foram classificados como Sem Ameaça.
Ainda que nos dois períodos analisados (2008-2012 e 2012-2015) o desempenho, em valor, das exportações chinesas e brasileiras para as regiões selecionadas tenha sido bastante diferente, como mostram os itens abaixo, do ponto de vista do dinamismo e do grau de ameaça, várias tendências negativas identificadas em 2012, que eram motivo de preocupação para o Brasil, não se intensificaram ou mudaram de direção e tendências positivas se intensificaram.
• Exportações brasileiras: crescimento de +1,9% entre 2008 e 2012 e -21,8% entre 2012 e 2015
• Exportações chinesas: crescimento de +47,6% e +8,3%, respectivamente
No que se refere ao grau de ameaça das exportações chinesas, em 2015 elas representavam uma ameaça direta principalmente nos produtos em que o Brasil perdeu oportunidades de mercado, isto é, nos produtos cuja participação na pauta das regiões consideradas neste estudo cresce, mas cuja participação do Brasil cai. Porém, essa ameaça direta da China recuou de 76%, em 2012, para 68,7%, em 2015.
Outro motivo de preocupação em 2012 era a ameaça indireta das exportações da China (de 36,4%) nas exportações de produtos cuja participação na pauta das três regiões estudas crescia assim como a participação do Brasil em tais produtos. Contudo, em 2015, o grau de ameaça indireta das vendas externas chinesas nesses produtos recuou para menos de 5%.
Em termos de região de destino das exportações, no caso dos produtos exportados pelo Brasil que sofriam Ameaça Direta das exportações chinesas e tinham como destino o Nafta, a participação aumentou de 39,5% em 2012 para 45,2% em 2015. Esse resultado é desfavorável, já que no âmbito das três regiões consideradas, o Nafta foi o mercado mais dinâmico no período analisado devido ao desempenho dos Estados Unidos. Em contrapartida, a redução da participação da Aladi neste grupo sob ameaça direta (de 23,4% para 17,3%) é positiva, pois essa região é o principal destino de produtos manufaturados brasileiros.
No que se refere aos produtos que sofreram Ameaça Indireta, o Mercosul foi o principal destino em 2015 (42,2%), assim como nos dois anos anteriores (em 2012 o percentual era um pouco maior, enquanto em 2008 menor). Já as posições do Nafta e da Aladi se inverteram entre 2012 e 2015. A Aladi tornou-se a segunda principal região de destino dessa categoria de produtos em 2015 (29,8%), seguida pelo Nafta (27,9%).
Em suma, considerando os resultados em termos de dinamismo e grau de ameaça, a trajetória de aumento do “efeito-concorrência” das exportações chinesas entre 2008 e 2012 nas principais regiões de destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados não persistiu no triênio subsequente. Esta Carta IEDI também traz informações que contribuem para a compreensão das mudanças no perfil do comércio exterior brasileiro em 2015 mencionadas acima, sobretudo o melhor desempenho das exportações da indústria de transformação.
Embora estudos adicionais sejam necessários para identificar de forma mais precisa os determinantes da interrupção da tendência de perda de dinamismo e de market-share das exportações brasileiras nas regiões selecionadas entre 2012 e 2015, é possível identificar alguns fatores externos e internos que contribuíram para este resultado.
Do lado externo, o contexto internacional foi desfavorável tanto do ponto de vista do crescimento da demanda externa como dos preços das commodities, mas a apreciação do dólar no biênio 2014-2015 favoreceu as exportações brasileiras já que significou, igualmente, apreciação da moeda chinesa (a paridade fixa com o dólar foi abandonada em 2010, mas o regime cambial vigente desde então procura manter a cotação do Renminbi relativamente estável em relação à moeda americana).
Do lado interno, dois fatores atuaram positivamente: a desaceleração da atividade econômica, que culminou na recessão em 2015; e, sobretudo, a desvalorização da moeda brasileira em termos reais. Assim, para que as exportações brasileiras de bens manufaturados não retomem aquela tendência, seria fundamental a manutenção da taxa de câmbio em patamares competitivos. A dependência do câmbio pode diminuir ao longo do tempo, desde que fatores relacionados à produtividade/custo de natureza sistêmica (infraestrutura, tributação, custo financeiro) tenham evolução e que a indústria amplie sua produtividade.
Finalmente, é importante mencionar que as exportações brasileiras de bens manufaturados para os países latino-americanos das regiões analisadas também foram negativamente afetadas pelos múltiplos acordos comerciais que têm sido assinados com países externos à região, que acabam beneficiando produtos provenientes de países com vantagens competitivas, como a China. Assim, o governo brasileiro também deve adotar uma estratégia de política que busque um modelo favorável para a penetração de nossas exportações e estimule a integração da indústria brasileira nas cadeias regionais e globais de valor mediante a diversificação da base industrial e investimentos no mercado regional.
Leia o estudo completo neste link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html
O que sobrou da diplomacia sul-sul? Foi desmantelada? Acabou? - Augusto Nunes
Lembro-me que as previsões feitas por eles sobre a política externa do "governo golpista" eram as piores possíveis: que voltariamos para o nosso cantinho com o rabo entre as pernas, que acabaria a diplomacia ativa e altiva, que voltaríamos a ser subordinados ao Império, que abandonaríamos os nossos vizinhos, preferindo olhar só para o Norte, que acabaria a brilhante diplomacia Sul-Sul, enfim, toda espécie de alarmes alarmistas (a redundância é necessária) sobre como estaríamos condenados a uma política externa diminuída, alinhada, submissa, anti-progressista, essas coisas horríveis que só os companheiros conseguiriam evitar.
Enfim, não vou me estender sobre o terror político.
Fica de lembrança sobre o resto de ano de 2016 que se passou sem os companheiros no poder, o que já foi uma grande coisa. A corrupção pode não ter acabado, mas acho que diminuiu um pouquinho. Ou terá sido um poucão?
Paulo Roberto de Almeida
Córdoba, 20/012017
O fim da política externa da canalhice
A drástica mudança de rota anunciada pelo chanceler José Serra implodiu a opção preferencial pela infâmia que envergonhou o país decente por mais de 13 anos
Cesar Maia sobre as crises da atualidade: leituras
EUROPA DESINTEGRANDO? Cesar Maia, 20/01/2017 1. (The New York Review of Books - "A Europa está desintegrando?" - Timothy Garton Ash, escritor, historiador e professor de Estudos Europeus da Universidade de Oxford) A mudança espetacular da luz para a escuridão levanta questões interessantes sobre a periodização histórica e a forma como os historiadores são influenciados pelos tempos nos quais eles escrevem. Uma das melhores histórias da Europa do século XX, o "Continente Sombrio" de Mark Mazower, publicado pela primeira vez em 1998, é uma exceção parcial, conscientemente escrita contra o triunfalismo liberal dos anos 90. Poucos historiadores poderiam ter sido mais céticos quanto às platitudes auto-congratulatórias do europeuismo liberal do que Tony Judt. Ele dissecou e desafiou-os em um conjunto de palestras originalmente publicado em 1996 como “Uma Grande Ilusão?”. O período da história europeia após a queda do Muro de Berlim em 1989 poderia ser chamado, em resumo, de "pós-muro". Mas então enfrentamos uma outra pergunta: Ainda estamos nesse período? Me parece plausível sugerir que a crise financeira de 2008-2009, que começou nos EUA, mas rapidamente se espalhou para a Europa, iniciou um novo período caracterizado por três crises maiores: do capitalismo, da democracia, e do projeto de integração europeia. 2. A tese central do livro de Philipp Ther, historiador alemão na Universidade de Viena, exige séria consideração. Ele argumenta que um "trem neoliberal", posto nos trilhos na Grã-Bretanha de Margaret Thatcher e nos Estados Unidos de Ronald Reagan, começou a "atravessar a Europa em 1989". Ele diz usar o neoliberalismo como um “termo neutro e analítico” e com razão distingue sua história intelectual e as circunstâncias sociais e políticas específicas de sua implementação. Ele sustenta que suas características cruciais, aplicadas na Europa Oriental, foram liberalização, desregulamentação e privatização, e que suas consequências na deslocação social e crescente desigualdade foram muito prejudiciais. Sim, havia "Thatcheristas Orientais" como Václav Klaus, o padrinho da transformação econômica da República Tcheca - e Klaus era mais Thatcherista do que Thatcher. Mas este não era um movimento ideológico de massa como o comunismo ou o fascismo nas décadas de 1920 ou 1930, conduzidos por líderes que acreditavam apaixonadamente e dogmaticamente em seus “ismos”. A maioria dos que abraçaram essas políticas "neoliberais" depois de 1989 o fizeram pragmaticamente, por falta de qualquer alternativa crível. 3. Vindo de perspectivas ideológicas e nacionais muito diferentes, os escritores Claus Offe, Hans-Werner Sinn, Joseph Stiglitz e François Heisbourg concordam que foi um grande erro criar a eurozona com seu design e tamanho atuais - uma moeda comum sem um tesouro comum e unindo dezenove economias bastante diversas. Pretendendo fomentar a unidade europeia, o "tamanho único serve para nenhum" do Euro está, na realidade, dividindo a Europa. Esses autores propõem diferentes soluções. Uma chave para uma solução, no entanto, está claramente na Alemanha de Angela Merkel e Wolfgang Schäuble deixar de tratar a economia como um ramo da teologia. Esta doença crônica da zona do euro alimentou populistas de esquerda e direita, no sul e no norte. E nem comecei a discutir essa crise de refugiados, que ainda agita a sociedade alemã; A crise do Brexit; A crise da Ucrânia; O desafio frontal colocado pela Rússia de Vladimir Putin tanto para a segurança europeia como para as democracias europeias; A crise do terrorismo; A crise demográfica; E a insegurança que assola muitos dos jovens do continente, hoje conhecida como "o precariado". Todas estas são partes distintas, mas que se reforçam mutuamente, de uma crise existencial global que ameaça todo o projeto pós-1945 da União Europeia. E todos alimentam a metástase da política populista. 4. No domingo, 4 de dezembro de 2016, a Áustria decidiu não eleger um populista de direita, Norbert Hofer, como presidente, mas ele ainda conseguiu cerca de 46% dos votos. Naquele mesmo dia, em meio à discussão do Trumpismo, a Itália votou "não" em um referendo sobre as reformas constitucionais propostas pelo reformista ex-primeiro-ministro Matteo Renzi. Embora muitos tenham votado contra a substância das propostas, este foi um impulso para o movimento populista Cinco Estrelas liderado pelo comediante Beppe Grillo e levantou a perspectiva de maior instabilidade, especialmente nos bancos frágeis da terceira maior economia da zona do Euro. Em 2017, enfrentaremos as eleições parlamentares na Holanda, onde o partido populista de Geert Wilder está indo bem, as eleições presidenciais na França, onde Marine Le Pen parece quase certa de enfrentar o conservador François Fillon no segundo turno e, em seguida, as eleições gerais na Alemanha no outono. Destes, a mais perigosa é a eleição francesa, que tem sido descrita como "Stalingrado da Europa". 5. Se a era do pós-muro vai de 1989 a 2009, em que época estamos agora? Nós quase certamente não saberemos por uma década ou três. Nós que acreditamos na liberdade e no liberalismo devemos lutar contra os exércitos do Trumpismo que avançam. O ponto de partida para lutar bem é entender exatamente quais as consequências de quais aspectos do liberalismo econômico e social da era do pós-muro - e de desenvolvimentos relacionados, como a rápida mudança tecnológica - alienaram tantas pessoas ao ponto de agora votarem em populistas que, por sua vez, ameaçam os fundamentos do liberalismo político em casa e no exterior. Tendo feito um diagnóstico preciso, a esquerda liberal e a direita liberal precisam encontrar políticas, e uma acessível, emocionalmente apelativa linguagem em torno dessas políticas, para ganhar esses eleitores descontentes de volta. Do resultado dessa luta dependerá o caráter e futuro nome de nossa era, atualmente sem nome. |
Adam Smith in Mediterranean world and beyond: last call for papers (Palermo, july 2017)
THE THOUGHT OF ADAM SMITH THROUGH EUROPE AND BEYOND
International Conference
History of Economics Society and
University of Palermo, Sicily (Italy)
6-7 July 2017
CALL FOR PAPERS
Adam Smith is one of those authors who have left a significant mark on the history of ideas. His influence has not only contributed to shaping the culture but also the institutions and the policy of modern society, and this can be seen in the international spread of his thought, which rapidly reached every corner of the world.
Yet, the reception of Smithian ideas was not a unique or uniform process, equal to every country, because different regional contexts conditioned them. Smith's works entered through institutional, cultural, linguistic, religious, and political filters, which were not neutral and affected the reading, understanding and use of them. Europe and the Mediterranean are two geographical areas – but not the only – to observe the spread of Smithian thought because of the rich pluralism characterizing their regions and nations.
Bearing this in mind, the University of Palermo – supported by the History of Economics Society (HES New Initiatives Fund) – invites proposals for papers and/or sessions along the lines listed below or on other relevant matters on the topic.
The thematic directions suggested are:
· Adam Smith, the Scottish Enlightenment and the European Enlightenment: similarities, differences in methods and analysis, influences, intellectual disagreements;
· The intellectual link between Smith’s teaching and the development of a national style of economics in the various countries from the 18th to the 20th centuries;
· The reception of Smithian thought in different religious frameworks: Catholic, Protestant, Orthodox, Muslim and Jewish;
· Smithian liberalism as an intellectual source of the liberal revolutionary phase that changed the political and economic face of Europe and the Mediterranean in the 19th century;
· The works of Adam Smith: language, style, translations.
Official language: English
The Scientific Committee:
Christopher Berry (University of Glasgow)
Giovanni Iamartino (University of Milan)
Maria Pia Paganelli (Trinity University)
Sandra Peart (University of Richmond)
Fabrizio Simon (University of Palermo)
Craig Smith (University of Glasgow)
The Organizing Committee:
Fabrizio Simon
Anna Li Donni
Cristina Guccione
Scholars planning to participate should submit a 500-word abstract for a paper or a 1000-word abstract for a session, specifying: the title of their presentation and the conference theme, their full name and institutional affiliation, and an e-mail address for correspondence.
Please submit the abstract by e-mail to <fabrizio.simon@unipa.it> and <cristina.guccione@unipa.it>.
Deadlines to remember:
Submission of abstracts No later than 25 January 2017
Notification of acceptance 28 February 2017
Registration No later than 30 April 2017
Sending of paper No later than 31 May 2017
For further information on the conference (venue, registration, accommodation) see the conference website at http://www.unipa.it/dipartimenti/seas/SmithConference/
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Dia quase normal na terceira etapa na Argentina: paradas muito precárias - PRAlmeida, Carmen Lícia Palazzo
Digo quase normal, pois o trajeto, sem maiores problemas de estrada, carece quase totalmente de boas paradas. Aliás, eu diria que carece TOTALMENTE de boas paradas. Mesmo se quiséssemos fazer um almoco decente, não havia exatamente onde. Paradores ou comedores muito precários ao longo da estrada, coisa de Brasil anos 1950 ou 60.
Amanhã vamos passear na cidade, que conheci como jovem mochilero, aos 18 anos, viajando de boléia de caminhão, como se dizia antigamente. Naquela oportunidade, achei a Argentina um país desenvolvido, isso antes de o Brasil enveredar pela sua fase de alto crescimento e muita transformação modernizante. A Argentina parece realmente ter parado no tempo, se não fossem essas modernidades superficiais tipo celular e internet.
Aliás, as razões do atraso -- que é sobretudo mental, antes que material -- da Argentina e do Brasil são relativamente similares: políticos medíocres, militares nacionalisteiros, instintos protecionistas de industriais cevados nos subsídios estatais, classe média focada em empregos públicos, burocracia mandarinesca inteiramente concentrada em defender, criar e ampliar privilégios que recaem sobre a população pagadora, e com tudo isso, eleitores mal informados votando pelo populismo econômico e pela demagogia política.
Não poderia dar certo, como não deu, até agora.
As pessoas em geral, quero dizer, aquelas que não viajam muito para fora, ou que quando viajam fazem questão de não largar o arroz com feijão e batata frita, onde quer que estejam, essas pessoas não têm consciência de como o Brasil é atrasado (e a Argentina até um pouco mais, a despeito de serem mais dolarizados do que os brasileiros).
As pessoas não têm consciência de que vivem sob o domínio de Estados fascistas, sem qualquer liberdade para exercer normalmente atividades econômicas que deveriam ser livres, as pessoas vivem naquele mundinho medíocre da televisão aberta, nos horríveis programas de auditório que embrutecem, além de emburrecer continuamente.
Lamento dizer disso, mas é o que percebo, vindo de todos os insumos que recebo, que vejo, que escuto, todos os dias.
Nosso mundinho é medíocre, com políticos ultra-medíocres, burocratas não tão medíocres, mas submetidos a dirigentes medíocres, que continuam estimulando comportamentos bregas, kitsch, vulgares, em todas as esferas tocadas pelos seus discursos nefastos.
Acho que Brasil e Argentina vão continuar a se arrastar penosamente na mediocridade do crescimento, em direção a uma modernidade muito distante no tempo.
Infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida
Córdoba, 19 de janeiro de 2017
Querem saber de onde vem nosso "fascismo" estatal? De Portugal, ora pois! - Paulo Werneck
Alguns podem achar estranho eu chamar de fascismo a esta regulação do século 17.
Ora, pois: fascismo, reduzido à sua mais simples expressão, é quando o Estado diz o que você pode, ou não pode fazer, ou quando lhe obriga a fazer certas coisas, mesmo contra a sua vontade.
Não precisa de camisas cinzentas, botas negras, milícias armadas controlando os cidadãos: basta o Estado determinar como você deve regular a sua própria vida...
Paulo Roberto de Almeida
Uma Reserva de Mercado "Recatada"
Paulo Werneck
Guardamoria, 18 Jan 2017 12:45 PM PST
Feliciano de Almeida: Dom Luís de Meneses
Fonte: Wikipedia
Filipe III de Portugal (IV, na Espanha) enfrentava problemas em todas as frentes, os Holandeses estavam senhores de Pernambuco e outras partes do reino português, quando em 1º de dezembro de 1640 houve uma revolta em Portugal que culminou com a coroação de Dom João IV.
Depois da Restauração os holandeses foram expulsos do Brasil e Angola e a situação aparentemente retornou ao status-quo ante. Aparentemente apenas, pois na prática a situação econômica estava bastante distinta.
Os preços do açúcar, por exemplo, foram caindo progressivamente, com a concorrência do Caribe. Simonsen estabelece em gramas de ouro o preço da arroba do açúcar em Londres.
período g de ouro por arroba de açúcar
1643-1652 17,69
1653-1662 11,43
1663-1672 10,98
1673-1682 9,15
1683-1692 8,69
Recebendo menos pelas mercadorias vendidas, é óbvio que ficava mais difícil pagar pelas mercadorias importadas, e, a continuar com o mesmo padrão de consumo representava uma sangria.
Dom Luís de Meneses, 3.° Conde da Ericeira (1632-1690) foi nomeado Vedor da Fazenda em 1675, por Dom Pedro II, então regente. Com idéias mercantilistas, tentou desenvolver a indústria textil em Portugal, criando uma reserva de mercado para a produção nacional e proibindo o uso daquilo que Portugal não podia produzir, tudo isso regulado pela Pragmática de 1677, verbis:
DOM PEDRO, por Graça de Deus, Principe de Portugal e dos Algarves, etc. Como Regente e Governador dos ditos Reinos e Senhorios. Faço saber aos que esta minha Lei virem, que, sendo-me representado e instantemente pedido pelos Estados do Reino, juntos nas Côrtes, que ultimamente mandei convocar, quizesse atalhar os graves damnos que se occasionavam nestes Reinos e suas Conquistas, assim em commum, como em particular, com a relaxação de trajes, excesso no custo das galas, o luxo com que se adornavam as casas, se fabricavam os coches, se vestiam os lacaios, o crescido numero delles, a dispendiosa vaidade dos funeraes, fórma dos lutos e abuso dos vestidos, em que meus Vassallos com extraordinarias profusões, ostentações vangloriosas, e immoderadas despezas empenhavam os Patrimonios, arruinavam os successores, e se vinham a empobrecer e envilecer muitas vezes por varias modos as familias mais nobres e facultosas, com grande desserviço de Deus, damno da honestidade, dos costumes, do bem publico do Reino e da conservação delle: E considerando eu a obrigação, que tenho de acudir com o remedio a estes males, não só com o exemplo de minha pessoa e Casa Real, mas tambem procurar por todos os meios possiveis, extinguir os abusos, evitar ruinas, e moderar os superfluamente luzidos e vãos adornos das pessoas, casas e familias, com a introducção da gravidade dos trajes e explendor honestamente apparatoso, que conduzem á restricção dos gastos e á melhora dos costumes, ordenei com os do meu Conselho fazer a Pragmatica e Lei pela maneira seguinte:
I. Primeiramente ordeno e mando que nenhuma pessoa de qualquer condição, gráo, qualidade, titulo, dignidade, preeminencia, por maior que seja, assim homens, como mulheres, nestes Reinos e Senhorios de Portugal e suas Conquistas até o Cabo da Boa Esperança, possa usar nos adornos de suas pessoas, filhos e criados, casa, serviço, e uso, que de novo fizer, de seda, rendas, fitas, bordados, ou guarnições que tenham ouro, ou prata fina, ou falsa; e só lhes permitto poderem trazer nos vestidos botões e casas de fio de ouro, ou de prata; ou de prata, ou de ouro de martello, como não sejam de filagrana, sem algum outro qualquer genero de guarnição, ainda que seja de fitas: e só permitto que as mulheres possam trater guarnição de seis dedos de largura, não sendo das generos acima probibidos, e poderão ser de rendas feitas no Reino, e da mesma largura.
II. Ordeno e mando que se não possa usar de nenhuma sorte de dourados, ou prateados nas cousas, que de novo se fizerem: porque sómente os permitto nas Igrejas, Ermidas, Oratorios, e cousas tocantes ao Culto Divino, e de nenhuma maneira em cousa alguma profana; porém não se comprehendem nesta prohibição as sedas, fitas, bordados guarnições de prata, ou ouro fino, ou falso, prateados ou dourados, que vierem da India, obrado tudo e feito naquelle Estado, e sendo manufacturas da Asia, porque de todas estas cousas se poderá usar livremente.
III. Nenhuma pessoa de qualquer condição, estado e preeminencia, por maior que seja, se poderá vestir de comprido, excepto os Clerigos de Ordens Sacras, ou Beneficiados, que notoriamente sejam conhecidos por taes; os Desembargadores e os Estudantes matriculados na Universidade de Coimbra e Evora; com declaração, que nenhum trará cousa alguma na roupeta, ou capa, que de todo prohibo.
IV. Nenhuma pessoa se poderá vestir de panno, que não seja fabricado neste Reino como tambem se não poderá usar de voltas de renda, cintos, talins, boldriés, e chapéos, que não sejam feitos nele.
V. Ordeno e mando que nas casas dos defunctos de qualquer condição, qualidade, titulo, estado, dignidade e preeminencia, por maior que seja; e nas Igrejas, aonde se enterrarem ou se lhes fizerem Officios, se use de nenhum adorno funeral mais, que uma tarima de um degráo coberto de negro, sem passamane, galão, ou renda de ouro, ou prata fina, ou falsa, sobre a qual se ponha o corpo, ou caixão com quatro tocheiras nos cantos, e dous castiçaes á Cruz, sem mais outro algum genero de armação, ou ornato funebre.
VI. Nenhuma pessoa se poderá vestir de luto comprido, e só usará do curto; porem poder-se-ha trazer capa comprida de panno, ou baeta com golilha, ou balona chãa, e de nenhuma fórma se poderá usar de capuz, ou capa de capello; nem de coches, carroças, calejas, estufas, liteiras ou seges, interior ou exteriormente cobertos de algum genero de luto.
VII. Os coches, carroças, calejas, estufas, liteiras e seges, que de novo se fizerem, não poderão ser exteriormente cobertas de algum genero de seda, nem com outra alguma guarnição, de qualquer genero que seja, mais que de uma franja unica.
VIII. Nenhuma pessoa de qualquer titulo ou preeminencia, por maior que seja, dentro nesta Cidade, ou em outro qualquer logar, aonde assistir minha pessoa e Casa Real, poderá trazer nos coches, carroças, calejas ou estufas, mais que quatro mulas, ou cavallos; e só permitto que sahindo della, se possam pôr seis no Convento de Santa Clara, no de Santa Martha, e Igreja dos Anjos, e nestas mesmas partes se tirarão, quando entrarem nella.
IX. Nenhuma pessoa de qualquer titulo e preeminencia, por maior que seja, poderá trazer, ou acompanhar-se, indo a cavallo, mais que de dous lacaios, ou mochilas livres, ou escravos; e do mesmo numero, indo em sege, alem do mochila, que a governar; e indo em coche, liteira, carroça, estufa, ou caleja, se acompanhará do mesmo numero de lacaios, ou mochilas, alem dos dous liteireiros, ou dos cocheiros; indo porem juntos, marido e mulher, poderão acompanhar-se de quatro lacaios, ou mochilas,
X. As librés que de novo se fizerem, dos cocheiros, liteireiros, lacaios e mochilas, não derão ser nenhum outro genero, que não seja de panno feito no Reino, nem forradas de cousa alguma, que seja de lãa, sem alguma guarnição, de qualquer genero que seja: as meias não serão de seda; os botões, sim, mas não de ouro, ou prata fina, ou falsa; e havendo de pôr-se fitas aos vestidos, será sómente nos calções passados com aquellas, que nelles se costumam; os vestidos de luto serão curtos, sem capas, on roupetas compridas.
XI. E porque de se dissimular neste Reino, por culpa dos Officiaes de Justiça o uso dos jogos de parar, ou em dados, ou em cartas, ou por outro qualquer modo, contra as prohibições de Direito, Ordenações e Pragmaticas, se tem seguido os grandes inconvenientes que a experiencia mostra, com grande damno de meus Vassalos, inquietação e ruina de suas casas: ordeno e mando, em execução das ditas Leis, que nenhuma pessoa de qualquer titulo e preeminencia, por maior que seja use de jogos de parar, nem dê casa para esse effeito, com as penas comminadas no fim desta Pragmatica, e das mais, que pelas Leis estão estabelecidas.
XII. Para o consumo das cousas prohibidas nesta Pragmatica, hei por bem conceder neste Reino um anno de tempo, contado do dia da publicação della na Chancellaria, com denegação de mais tempo; e nas Conquistas permitto o tempo de tres annos, contados do dia da mesma publicação, aonde se remeterá logo sem dilação: e declaro que se ha de começar a praticar no que toca aos dourados, prateados, numero dos lacaios, mulas nos coches, carroças, estufas e calejas, nos vestidos curtos, lutos e funeraes, passado um mez do dia da sua publicação; e que acabado este termo, o anno de consumo neste Reino, e os tres nas Conquistas, se praticará inteiramente tudo o que nella se contém.
XIII. E para melhor execução e observancia desta Lei, ordeno e mando, que todas as pessoas, que usarem de alguma das cousas acima prohibidas, sendo nobre, ou de maior qualidade, pagará pela primeira vez trinta mil réis; e pela segunda e mais vezes a mesma pena em dobro: e não sendo pessoa nobre, pagará pela primeira vez vinte mil réis; e pela segunda a pena em dobro, e será preso, e se applicará a condemnação, ametade para o accusador, e a outre ametade para a despeza dos Presidios do Reino; e além das sobreditas penas, perderão os mesmos vestidos, e mais cousas, que forem feitas contra esta Lei, cujo valor se applicará para o accusador e Captivos: e os Alfaiates, Bordadores, Douradores, Armadores e outros a quem toca fazer e obrar as ditas cousas acima probibidas, constando as fazem, ou mandam fazer por outrem, passado o tempo acima apontado, incorrerão nas mesmas penas referidas.
XIV. E porque na Casa Real, e nesta Corte se observe inviolavelmente esta Lei, ordeno e mando ao meu Porteiro-mór, ou a quem cargo servir, que por nenhum caso admittam a fallar-me em audiencia geral, ou particular, nem dentro no Paço, a pessoa alguma de qualquer qualidade, estado, ou condição que seja, que traga em sua pessoa, ou nas de seus filhos e familiares, cousa alguma das acima prohibidas: e na mesma fórma os Secretarios de Estado e Mercês não admittam requerimento, petição, ou papel de pessoa, que use de alguma das cousas prohibidas, antes logo me darão conta, para se mandar proceder, como for razão. E mando ao Regedor da Casa da Supplicação, e ao Governador da Relação, e Casa do Porto, e em especial aos Corregedores do Crime, assim de minha Côrte, como das ditas Casas, e aos Corregedores, Juizes do Crime desta Cidade, e a todos os mais Corregedores, Ouvidores, Juizes, Justiças, Meirinhos e Alcaides de meus Reinos e Senhorios, que tenham muito particular cuidado e vigilancia na execução desta Lei: e nas residencias, que se lhes tomarem aos que a dão, se perguntará, se fizeram inteiramente cumprir: e achando-os culpados em alguma maneira, não serão admittidos a meu serviço, até minha Mercê: e disto se accrescentará um Capitulo ao Regimento, por onde se tomam as residencias; e os Meirinhos e Alcaides, que forem descuidados e negligentes, assim nesta Côrte, como fóra della, em coutar e accusar as ditas cousas defesas, incorreráo pela primeira vez em suspensão de seus Officiaes por dous annos, e pela segunda vez em perdimento delles sem remissão; e sendo Serventuarios, serão privados das serventias, sem poderem entrar mais nellas, alem da pena de cem cruzados, para o que serão obrigados os Corregedores, Ouvidores, e Juizes de Fóra, em cada um anno, nas devassas geraes, que tirarem, a perguntar particularmente, se os ditos Meirinhos e Alcaides são negligentes em coutar, e demandar as ditas cousas, ou se dissimulam, e passam pelas pessoas, que as trazem, ou mandam fazer, ou fazem, sem lhes coutar, ou demandar.
E mando ao meu Chanceller-mór, que faça logo publicar esta Lei na Chancellaria na fórma, que nella se costumam publicar semelhantes Leis, para que, do dia da publicaçào della, assim na dita Chancellaria, como nas outras partes, em que se ha de publicar dos termos assignados, se dê a execução; enviando logo Cartas com o traslado della, sob meu Sello e seu signal, aos ditos Corregedores, Provedores, e Ouvidores das Commarcas, para que a publiquem, e façam publicar nos Logares, aonde estiverem, e nos mais de suas Commarcas e para que seja notorio a todos o que nela se contem, se registará no Livro da Mesa do despacho dos meus Desembargadores do Paço, e nos das Relações das ditas Casas da Supplicação, e do Porto, em que se registam semelhantes Leis: e nas Secretarias de Estado e Mercês. Manoel da Silva Collaço a fez, em Lisboa, a 25 de Janeiro 1677, Francisco Pereira de Castello-Branco a fez escrever. = PRINCIPE.
Liv. V. do Desembargo do Paço fol. 271.
Como podemos ler da "pragmática", o objetivo mercantilista é disfarçado sob uma máscara moral de combate ao luxo supérfluo, cujo desiderato era a não importação dos têxteis luxuosos, os quais não poderiam ser produzidos localmente, tanto que esses artigos, caso proviessem das Conquistas, poderiam ser usados, como disciplina o Item II.
Paralelamente, Dom Luís mandou vir técnicos da Inglaterra e fez o que pôde para incentivar essa indústria, projeto não mantido após sua morte, pois seus sucessores priorizaram a exportação de vinho.
Quanto ao vocabulário, temos "jogos de parar", que o Michaelis define como "aquele em que uma pessoa faz banca, e as outras, que jogam os pontos, apontam ou param (fazem apostas) contra ela".
Serviçais citados: cocheiro, quem conduz o coche e demais veículos; liteireiro, que conduz a liteira; lacaio, criado que acompanha o amo à pé, ou fica em pé na parte traseira do coche; e mochila, rapaz, que não traz espada, e vai adiante do cavalo ou carruagem do amo.
Veículos citados: coche, nome genérico para carruagens de quatro rodas; carroça, coche grande, ou com grades para colocar carga; caleja, que os dicionários definem como rua pequena, no caso é uma variante de caleça, sege mais grosseira, para usar nas estradas; estufa, um coche com quatro ou seis lugares; liteira, um veículo desprovido de rodas, pendurado numa espécie de viga, sustentada por animais, ou, as menores, por homens; e sege, carruagem pequena de passeio. Esses nomes são algo genéricos e intercambiáveis, salvo a liteira e, talvez, a sege.
Foi usado o excelente serviço de transcrição grátis online OCR.Space (https://ocr.space/). Nossos agradecimentos.
Fontes:
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico ... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8 v.
PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Provincia de Goyaz. Na Typographia de Silva, 1832.
PORTUGAL. Carta de Lei de 25 de janeiro de 1677. Pragmática sobre os trajos e jogos de parar. in SILVA, José Justino de Andrada e Silva. Collecção Chronológica da Legislação Portugueza Compilada e Annotada. Segunda Serie (Conclusão) 1675-1683 e Supplemento à Segunda Serie 1641-1685. Lisboa: Imprensa de F. X. de Souza, 1857
SILVA, Antonio Moraes. Diccionario da lingua portugueza. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813.
SIMONSEN, Roberto C. História Econômica do Brasil. 1500-1820. Brasília: Senado Federal, 2005.
VIEIRA, Frei Domingos. Grande Diccionário Portuguez ou Thesouro da Língua Portugueza. Porto: Casa dos Editores Ernesto Chardron e Bartholomeu H. de Moraes, 1871.
Argentina atrasada inclusive nas tentativas de corrupcao: denuncia de achaque ilegal, Entre Rios
Esse tipo de achaque, muito rudimentar como diria alguém de quem queremos esquecer, pode ter ocorrido no Brasil muito tempo atrás, quando a Polícia Rodoviária Federal não estava organizada da forma profissional como é hoje. Até na corrupção, a Argentina parece ter parado no tempo.
Em todo caso, esse tipo de achaque já figura inclusive nos guias turísticos vendidos na própria Argentina, e no Brasil, para alertar os turistas justamente acerca de maneira vergonhosa de que se utilizam certos agentes da Gendarmeria Nacional para aumentar os seus rendimentos.
O único efeito dessa tentativa de "coima" foi ter feito me perder algum tempo num pequeno posto perdido na província de Entre Rios. Depois disso, passei a seguir o conselho de Carmen Lícia: apresentar sempre, com os documentos do carro, meu passaporte diplomático. Sou absolutamente contrário a esse tipo de "carteiraço", mas parece que neste caso é necessário.
Paulo Roberto de Almeida
Santa Fé, 19 de janeiro de 2017