Impasses atuais da paralisia política e econômica no
Brasil
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: comentário sobre entrevista
de cientista político americano; finalidade:
distinguir conceitos fantasiosos – socialismo, bolivarianismo, etc. – da
simples realidade: privilegiados pretendem continuar mantendo seus privilégios.]
Introdução
O Brasil não está em crise. O Brasil vive na crise. Trata-se de uma clássica
crise redistributiva, na qual diferentes setores da sociedade buscam se
apropriar de renda e riqueza. Por enquanto, quem está ganhando nesse conflito
redistributivo é o setor improdutivo da sociedade, aquele que se apropria da
riqueza criada pelos setores produtivos, que são os empresários e trabalhadores
do setor privado. Esse setor é constituído por aquela casta social que Raymundo
Faoro chamava de estamento burocrático, com a classe política no seu topo –
classe organizada para roubar a sociedade – e seus associados no mandarinato do
Estado, com os membros das mais altas cortes do Judiciário e todo o seu
segmento em seguida, mas complementados pelo conjunto dos servidores do Estado
e todos aqueles que vivem nas suas margens, o que inclui sindicatos (de patrões
e de “trabalhadores”), “movimentos sociais” (pelo menos aqueles que vivem de
recursos públicos), ONGGs (ou seja, organizações sociais não governamentais governamentais,
pois também vivem de recursos públicos), e uma infinidade de outros segmentos
empenhados em assaltar nacos dos recursos públicos.
Abaixo disso, estão os
produtores primários de riqueza, que ainda não tomaram consciência plena do que
se passa no sistema corrupto e deformado criado pelos mandarins do Estado (no
meio disso as gangues políticas concentradas em preservar o sistema atual).
Vou transcrever em
primeiro lugar a entrevista de um cientista político Steven Brams, da New York
University, para depois voltar e emitir minha opinião.
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 31/03/2018)
Entrevista com o cientista político Steven Brams:
Transcrevo abaixo a
entrevista com o cientista político da New York University:
Com o fim da Lava Jato se aproximando, é bom
saber o que nos espera.
Via Facebook (comentário de quem postou
originalmente): “Entrevista com Steven Brams, cientista político da NY
University sobre a construção do modelo socialista cubano e/ou bolivariano em
curso no Brasil desde o governo de FHC. Clara, impactante. apavorante e muito,
MUITO, verdadeira. Para compreender o atual estado das coisas e para, de certo
modo, colocar uma pá de cal em nossa esperança na Lava Jato e na prisão dos
principais chefes da ORCRIM. Também esclarece bem, ainda que não mencione de
modo específico, a atual do nosso STF bolivariano. Com o fim da Lava Jato se
aproximando, é bom saber o que nos espera:
[Não consegui a informação sobre o veículo
que a publicou.]
O cientista político americano Steven Brams
afirma que o Brasil vive um momento político muito conturbado e que as
políticas e reformas adotadas pelo Estado, ergueram os pilares para a
implementação de um regime socialista, mas próximo do comunismo do que se possa
imaginar. Brams é cientista político do Departamento de Política da
Universidade de Nova Iorque, sendo mais conhecido por usar as técnicas da
teoria dos jogos, a teoria da escolha pública, e a teoria da escolha social
para analisar sistemas de votação e divisão justa em eleições americanas. Brams
disse que o Brasil vive um momento dramático em função do impeachment de Dilma
Rousseff e que o sistema político brasileiro nada se assemelha com uma
democracia e sim com um sistema arbitrário, que permite abusos de poder por
parte do governo e sobretudo, beneficia a corrupção e a impunidade.
O Brasil é um país socialista na visão do senhor?
- Sim, bem próximo de um sistema que se
assemelha ao sistema social democrático adotado em Cuba. O Brasil foi sendo
transformado por dentro, as estruturas do Estado foram sendo modificadas de
forma lenta e graduada. Hoje praticamente o Estado se encontra totalmente
pavimentado e pronto para assumir um papel político totalmente voltado para o
socialismo.
Quando se deram estas mudanças e quais foram estas modificações?
- Basicamente as transformações foram
implementadas no governo do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso.
Cardoso, tentou introduzir um modelo político bem próximo do socialismo adotado
na França, com mudanças radicais que permitiram a edificação dos pilares
marxistas. No governo de Cardoso foram criados diversos sindicatos,
financiamentos de grupos de esquerda, ONGs e políticas sociais que fortificaram
o socialismo. O sistema político e a estrutura econômica também foram modificadas
com a criação de uma carga tributária muito pesada, que serviria para sustentar
os programas sociais. Desta forma, pode se notar uma forte concentração de toda
a renda gerada no país, nas mãos do governo. Há também o controle do Estado
sobre a sociedade com a adoção de leis, normas e regimentos. Um exemplo foram
as centenas agências de controle e regulação sobre diversos setores do Estado.
E o PT? Qual o papel do PT nesta mudança política?
- O PT e o PSDB adotam um mesmo pensamento
ideológico, não se diferem nesta questão quando o assunto é a implementação do
atual sistema politico. São duas lideranças de esquerda com mais força política
dentro do cenário brasileiro. O PT foi apenas uma complementação do projeto de
reformas que o Estado já vinha sofrendo. Só que o PT é um partido mais radical
e adotou apressadamente, políticas que vinham sendo implementadas à conta gotas
por Cardoso. Acredito que o PT apenas acelerou o processo de socialização e
abriu a porta para se chegar em uma política bem próxima da política adotada em
Cuba. Mas não foi só no Brasil que isto ocorreu. Todos os países latinos
sofreram esta mesma mudança que muitos chamam de “bolivarianismo”.
Então o Brasil está próximo de se tornar um país comunista?
- A esquerda usa muitos termos para designar o
comunismo. Vejamos: A social democracia, o socialismo, o nazismo e o fascismo.
No fundo todas estas designações são de origem comunista. Apenas o que difere o
comunismo desta designações, é a maneira em que este comunismo é administrado
politicamente. A social democracia é um comunismo mais ligth, mais leve, vai
sendo introduzido lentamente sem que se perceba e se quem a sociedade sinta
seus efeitos. Enquanto isso o Estado vai sendo modificado. No final deste
processo o país já estará totalmente modificado, estruturado e a sociedade
conformada e totalmente difundida dentro do comunismo.
Manipulação e doutrinas?
- Sim, os reformistas que adotam a social
democracia modificam também a estrutura social. A engenharia social tem um
papel importante neste aspecto de mudanças. Principalmente na cultura, na mídia
e no dia à dia da sociedade.
O Sr, acha que o impeachment trouxe alguma luz no fim do túnel?
- Não! de maneira nenhuma! O afastamento da
presidente Dilma Rousseff não significa o fim do sistema político, mas sim sua
continuidade, pois nenhuma estrutura do Estado foi modificada. Apenas na
questão econômica pode ser que haja alguma reação no sentido de tirar o país da
crise, mas isto não significa que o atual governo fará alguma mudança na
política do Estado. O processo foi continuado e nada mudou no que diz respeito
ao sistema político. O impeachment é um instrumento constitucional do sistema,
e foi usado pelo próprio sistema apenas para afastar um presidente e não
eliminar um sistema politico. O Brasil continua sob controle da social
democracia.
O sistema no Brasil é perverso?
- Todo sistema é perverso. Mas a democracia
continua sendo o melhor sistema. No Brasil não vejo traços de democracia e sim
da social democracia. No Brasil o sistema beneficia o Estado e não a sociedade,
beneficia a corrupção e a impunidade. As leis são ineficazes e protegem o
sistema e os corruptos. É um sistema controlador, manipulador, quase tirano. No
Brasil o povo brasileiro perdeu muito sua honra e seu patriotismo, talvez pelas
políticas que foram adotadas com o intuito de corromper a sociedade.
Então não há saídas para o Brasil sair deste sistema?
- Há sim, mas esta saída não será dada pelo
sistema e sim pela sociedade. A esquerda brasileira conseguiu com suas
doutrinas, por assim dizer, dividir o Brasil em vários segmentos sociais. Isso
talvez dificulte uma reação da própria sociedade muito desunida com relação aos
problemas do país. Nota-se que há legiões de pessoas que defendem o sistema,
talvez acomodadas com a situação, outras defendem os partidos e outras os
políticos que as corrompem. Não há uma união no sentido de se pensar na Pátria,
na Nação e nos destinos do país. Certamente que isso é um grande problema, pois
haverá sempre desunião. Há vários segmentos que não pensam ou não possuem um
mesmo objetivo.
O povo brasileiro fala muito em Intervenção Militar. O que o Sr.
acha disto?
- É como eu afirmei antes. Há vários segmentos
que pensam diferente, com objetivos diferentes. Pelo que eu vejo, há grupos de
pessoas que estão sugerindo uma intervenção militar no Brasil. Podemos dizer
que este segmento é mais coeso do que os outros, pois se fixam apenas em um
único objetivo. Este segmento não defende partidos, políticos e nem o sistema.
É mais patriótico e mais coeso do que os demais segmentos. Este grupo de
pessoas exigem uma mudança radical no sistema, ou sua total destruição. É mais
radical e mais coeso neste sentido. Talvez por isso não encontre apoio de
políticos e nem da mídia que vive nas beiradas do sistema. Uma intervenção
militar com o povo exigindo mudanças, certamente colocaria em risco o atual
sistema político brasileiro.
Para terminarmos esta entrevista, qual mensagem o Sr. daria para
os brasileiros?
- Que sejam mais patriotas e coesos em seus
objetivos. É preciso que a sociedade se conscientize dos problemas do país e
exijam mudanças. Se querem mudanças, se unam e cobrem dos políticos bem
intencionados. Sempre há políticos bem intencionados que precisam de uma
pressão da sociedade para exigir as mudanças. O Brasil não tem um perfil de
conscientização. É preciso criar este perfil. É preciso sobretudo pensar no
país, pois se não pensarem no país, os corruptos e políticos mal intencionados
pensarão e farão o que bem entenderem."
Minha opinião (PRA):
Concordo
apenas parcialmente com o cientista político Steven Brams, no sentido da
direção geral do processo, que é estatizante, coletivista, dirigista,
intervencionista, rentista, preservando privilégios do estamento burocrático do
Estado e da Nomenklatura que nos governa, mas que não pretende instalar um
regime bolivariano, socialista, ditatorial. Apenas ocorre que os setores não
produtivos, os parasitários, os aproveitadores, a burguesia do capital alheio,
os milhares de sacerdotes do Estado — entre os quais me incluo como servidor
público — pretendem continuar desfrutando das benesses do Estado arrecadador e
redistribuidor da riqueza alheia.
Com isso, o sistema não se mantém de modo
dinâmico, pois é obrigado a concentrar recursos extraídos dos setores
produtivos, e portanto, isso significa que continuaremos nos arrastando na
mediocridade do crescimento, nas injustiças redistributivas, na disputa
interminável por privilégios. Por enquanto, quem está ganhando são os
privilegiados de sempre, a classe política corrupta, os funcionários públicos,
os mandarins da república com seu segmento elitista do Judiciário, e quem
carrega essa turma toda são os empresários e trabalhadores do setor privado.
Até
onde isso pode ir? Acho que isso pode perdurar em meio a pequenas crises
políticas e econômicas — que são disputas em torno do saque estatal — até que
uma maioria da sociedade abandone a mentalidade estatizante e adote uma de
liberdade de mercados. Conhecendo o Brasil, acho que isso vai demorar, e
continuaremos a nos arrastar na mediocridade por muito tempo mais.
Por acaso, hoje é 31 de
março, o 54o. aniversário do movimento militar, ou do golpe de
Estado, que encerrou o governo caótico de João Goulart, justamente um dos
representantes mais evidentes desse modelo redistributivista, e deu início a um
regime concentrador e desenvolvimentista, que modernizou o Brasil, mas
prolongou, até estimulou, mecanismos perversos de consolidação do atual modelo
estatizante, intervencionista, dirigista, que permite a preservação dos impasses
atuais da sociedade brasileira. Acredito que esse sistema vai se prolongar
durante bastante tempo, até que a sociedade se conscientize de que a conformação
atual vai prolongar a agonia de um sistema condenado a impasses constantes, a
um futuro de paralisia e estagnação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de março de 2018