Pequena reflexão sobre o futuro de Cuba
Paulo Roberto de Almeida
Percorrendo agora sites e blogs para minha informação habitual – o que faço de maneira regular – reencontrei um antigo texto meu, na verdade uma carta pessoal dirigida ao atual presidente de Cuba: “Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo” (2 agosto 2009). Ela tinha sido publicada em Via Política (17.08.2009), onde assino uma coluna regular, e republicada no blog do Instituto Millenium (08.09.2009). Essa carta indagava sobre os dons de futurologista do irmão do comandante, que tinha previsto, pouco tempo antes, que o socialismo perduraria em Cuba, mesmo com o desaparecimento dos seus líderes. Eu me permitia duvidar da previsão e mostrava como todos os socialismos reais estavam em fase de rápido declínio e total desaparecimento, e convidava o personagem em questão a fazer um pronunciamento franco e sincero na televisão cubana, desculpando-se pelos cinqüenta anos de penúria e totalitarismo e anunciando uma transição resoluta para um regime político democrático e um sistema econômico capitalista.
Não tinha nenhuma ilusão de que isso fosse ocorrer; era apenas o que se poderia chamar de “apelo à razão”, embora eu tenha plena consciência de que o que menos esse pessoal ostenta é razão, ou simples racionalidade instrumental. Três meses depois, ao persistir a repressão na ilha-prisão, notadamente em direção da dissidente-blogueira Yoani Sanchez, eu escrevia uma “Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu”, cujo título já diz tudo e que já não constitui um chamado à razão, mas uma pequena lembrança de como as coisas podem resultar em acontecimentos funestos para os donos do poder. O casal Ceausescu, como se sabe, acabou fuzilado sem julgamento e sem qualquer procedimento especial no final do ano memorável de 1989, como uma prova de como, às vezes, o povo pode ficar verdadeiramente enraivecido por anos e anos de repressão e miséria (nada de muito diferente do que acontece em Cuba, com a pequena distinção de que em Havana os dirigentes não residem em palácios; eles preferem se esconder...). Essa carta, que não mais formulava sugestões para uma volta ao capitalismo e a uma democracia de mercado, também foi publicada na newsletter de Via Política (16.11.2009).
Enfim, o que me permito imaginar agora é sobre como seriam as diversas alternativas de transição em Cuba, perspectiva que deve deixar muita gente desesperada na nomenklatura cubana e preocupados alguns companheiros aqui mesmo no Brasil (aqueles que, supostamente, colaboraram com o regime e tem seus nomes gravados nos arquivos oficiais ou registrados como “amigos” do regime, alguns até “muy amigos”, com direito a tratamento especial pela Seguridad cubana, ou seja, como fiel aliados da inteligência do decrépito regime).
Parece claro que os plutocratas do PC Cubano, em especial os “donos do poder”, não pretendem ‘evacuar’ – é a palavra – o poder voluntariamente. O trágico nessas ditaduras carismáticas – muito diferente do que ocorre na China, por exemplo – é que a sucessão é sempre traumática, pois é quase inviável uma passagem normal de poder segundo regras estabelecidas (como no caso do PC Chinês, justamente). Na verdade, todo o processo em Cuba está aberto, podendo-se imaginar diferentes saídas possíveis.
Na hipótese de uma queda rápida do regime – digamos, morte de Raul Castro, depois do desaparecimento de seu irmão, em condições de saúde bem mais precária – pode haver uma transição confusa, caótica mesmo, com saques nas sedes do governo e do PCC, destruição de bens imóveis e algum exagero na punição dos “esbirros” do regime. Se a inteligência ainda não expurgou os arquivos, poderíamos ter acesso a materiais muito interessantes, inclusive do ponto de vista brasileiro, como sucedeu, em parte, no caso da DDR e os papéis da Stasi (Staat Sicherheit). A Seguridad Cubana deve ter coisas bastante curiosas em relação a personagens ainda ativos na política e na vida cultural do Brasil.
Se, ao contrário, a transição for negociada, os responsáveis pela área vão ter tempo de expurgar esses arquivos, para supostamente acobertar seus próprios crimes, a corrupção endêmica do regime e certas alianças e atitudes incômodas (dentro e fora da ilha). Mais até do que a penúria material mantida por um regime totalitário ineficiente, são as misérias morais que mais preocupam seus defensores atuais: o quadro de delatores pagos, os chantageados a qualquer título, os colaboradores voluntários, os vira-casacas, os “dissidentes” infiltrados, enfim, todo o cortejo de patifarias e pequenos e grandes crimes que sempre acompanham esse tipo de empreendimento bárbaro que representam tiranias do partido único. A esse quadro se agrega o quadro de delinquência esquizofrênica que caracterizam todas as ditaduras personalistas. Reputações vão ser destruídas e traidores serão denunciados; enfim, tudo isso é conhecido, embora alguns personagens fiquem deveras preocupados, aqui mesmo no Brasil.
Esse ajuste de contas pós-regime pode ser relativamente rápido e organizado, ou pode ser dolorido, caótico e vingativo, como também ocorre. Mas, essa será a herança maldita que terá de ser resolvida pelo próprio povo cubano, sem interferência externa. Mais fácil, em qualquer hipótese de transição política na ilha, será o ajuste de volta a um regime capitalista. Colocando de lado, por enquanto, o problema das reintegrações de posse, das indenizações e das reparações devidas por expropriações e estatizações do finado regime comunista, resta a questão da construção do capitalismo em Cuba.
Nisso não vejo nenhum problema especial. Dinheiro não vai faltar: não apenas os “gusanos” de Miami – agora já na segunda geração, quase toda ela americana – dispõem de imensos capitais que podem ser facilmente mobilizados, como os próprios americanos teriam interesse em promover uma transição bem sucedida em Cuba, feita de ajuda e cooperação, grandes investimentos de recuperação e novas iniciativas, enfim, o capitalismo, uma vez deixado livre, se encarrega ele mesmo de encontrar e ocupar todos os nichos suscetíveis de serem “explorados” – no bom e no mau sentido – para um rápido processo de reinserção de Cuba à economia mundial.
Uma das poucas heranças positivas do comunismo é o fato de ter deixado uma população bem educada – embora os padrões sejam especiais, digamos assim –, apta a trabalhar em empresas capitalistas. Mas, faltarão administradores competentes nas técnicas capitalistas, o que não é difícil de aprender. A ilha está bem situada no plano geográfico e conta com alguns recursos naturais, mas sobretudo com a imensa vontade do seu povo de atingir níveis razoáveis de prosperidade, depois de tantos anos acostumados a um regime “normal” de escassez e miséria.
Minha previsão é a de que, não mais de seis meses depois da transição política – se esta for verdadeira, claro – o capitalismo estará no comando em Cuba – para desespero de seus muitos detratores fora de Cuba, no próprio Brasil, por exemplo – e produzindo taxas de crescimento espetaculares, pois há muito o que fazer, na ilha, depois de uma modorra de mais de meio século. Haverá desigualdades, claro, mas entendo que a população cubana prefere isso à escassez socialista e a repressão comunista. A desigualdade tem o dom de incomodar pretensos intelectuais, aqueles que vivem de recursos públicos e benesses do poder, mas não angustia demasiadamente os supostos “desiguais”. A diferença específica do capitalismo, em relação ao socialismo, é que neste todos são alegadamente iguais na modéstia de seus ganhos – isso não vale para a nomenklatura, claro – ao passo que no capitalismo todos (ou pelo menos uma grande parte dos trabalhadores) esperam suplantar os colegas e conhecidos, esforçando-se para adquirir bens e riqueza. Todos são pelo menos livres para fazê-lo.
Mas, nenhuma prosperidade material tem o dom de trazer tanta felicidade humana quanto a liberdade pessoal. Sentir-se livre para ir onde se deseja, poder escolher o que fazer, onde trabalhar, onde morar, ler o que se desejar, em livros impressos ou acesso à internet, tudo isso é pouco valorizado entre nós porque se trata de gestos corriqueiros, até mesmo impensados. Para os cubanos, seria um imenso progresso moral.
Que venha o mais cedo possível...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 06/02/2010
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 6 de fevereiro de 2010
1304) Contradicoes de comportamento no Brasil - Rolf Kuntz
Entre o G-20 e a forca
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 04/02/2010
Reproduzido no blog do Instituto Millenium, 06/02/2010
Dois Brasis, um promissor, outro nem tanto, foram destaques em Davos, na reunião do Fórum Econômico Mundial, na semana passada. Pela primeira vez o Fórum conferiu o título de Estadista Global e o escolhido foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, entregou o troféu ao chanceler Celso Amorim, representante de Lula, e descreveu o presidente como um defensor dos pobres de todo o mundo. A homenagem foi o reconhecimento, também, do novo peso econômico e diplomático do Brasil, membro do Grupo dos 20 (G-20) e participante ativo de todos os debates sobre a reforma das finanças globais. O outro Brasil foi lembrado por um professor de Harvard, Ricardo Hausmann, num almoço planejado como complemento da premiação de Lula: a maior potência econômica da América Latina tem falhado, segundo o professor, como defensora da democracia na região.
Hausmann vive e trabalha nos Estados Unidos, é venezuelano e foi ministro do Planejamento em seu país em 1992-93. Mas isso não desqualifica seus comentários - inesperados, naquele ambiente - sobre a ação brasileira no conflito entre o governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o do colombiano Álvaro Uribe. A parcialidade do presidente Lula foi evidenciada não só em episódios como o fechamento da fronteira com a Colômbia, pelo presidente Chávez, mas também quando o presidente Uribe anunciou o acordo militar com os Estados Unidos. A reação de Lula, lembrou Hausmann, foi convocar uma reunião de emergência da Unasul.
Outro venezuelano, Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, incluiu Lula entre os maiores hipócritas de 2009, em artigo publicado no jornal espanhol El País. Lula classificou Chávez como o melhor presidente venezuelano em cem anos, mas dele nunca se ouviu um comentário “sobre o comportamento autoritário de seu amigo”, escreveu Naim. Além disso, Lula atacou “furiosamente” as eleições em Honduras e na mesma semana “recebeu com honras Mahmoud Ahmadinejad”, vencedor de uma eleição também questionada. As eleições no Irã, segundo Naim, tiveram algo mais que as de Honduras: “enorme fraude, mortes, torturas e a repressão brutal ordenada pelo governo de Ahmadinejad.” “O afável líder brasileiro”, concluiu, “parece não se haver inteirado.”
Esse texto saiu em dezembro. Em Davos, na véspera da homenagem a Lula, o chanceler Celso Amorim discutiu com o colega iraniano, Manouchehr Mottaki, entre outros assuntos, a visita do presidente brasileiro ao Irã, em maio. Antes da reunião, um jornalista fez-lhe uma pergunta sobre execuções no Irã. O Brasil é contra a pena de morte, mas mantém relações com vários países onde vigora esse castigo, respondeu Amorim, contornando a questão.
Mas o problema político era outro. No mesmo dia haviam sido enforcados no Irã dois acusados de envolvimento em protestos contra o governo. Esses dois e mais nove foram sentenciados por crimes políticos e por haverem “movido guerra contra Deus”, segundo informou um porta-voz do Judiciário. O governo reafirmou nesta semana a intenção de executar os nove proximamente. Não se trata, portanto, apenas da manutenção da pena de morte entre as formas legais de punição, mas da execução de opositores presos durante manifestações de rua ou caçados em qualquer lugar.
A pena de morte ainda é aplicada em alguns países, normalmente em casos de homicídio. Pelo menos em democracias, ninguém é formalmente executado por ser adversário político do governo ou por participar de manifestações públicas.
O governo brasileiro parece desconhecer ou menosprezar essa diferença. Isso talvez explique seu comportamento bizarro. Em Brasília, nenhuma autoridade condenou, até ontem à tarde, o enforcamento de dois iranianos por crime político nem protestou contra a anunciada execução de mais nove. Mas o governo brasileiro insiste em evitar ou retardar a extradição de Cesare Battisti, condenado na Itália por participar de homicídios. Autoridades brasileiras classificaram essa condenação como política. Battisti, julgado por crime de morte, não foi condenado à execução. Sorte sua não ser um oposicionista iraniano. Provavelmente não teria escapado de seu país e, se conseguisse escapar, como seria recebido no Brasil? Mas é preciso reconhecer um ponto: não é preciso ter compromisso com a democracia e com a liberdade para frequentar as conferências de cúpula do G-20.
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 04/02/2010
Reproduzido no blog do Instituto Millenium, 06/02/2010
Dois Brasis, um promissor, outro nem tanto, foram destaques em Davos, na reunião do Fórum Econômico Mundial, na semana passada. Pela primeira vez o Fórum conferiu o título de Estadista Global e o escolhido foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, entregou o troféu ao chanceler Celso Amorim, representante de Lula, e descreveu o presidente como um defensor dos pobres de todo o mundo. A homenagem foi o reconhecimento, também, do novo peso econômico e diplomático do Brasil, membro do Grupo dos 20 (G-20) e participante ativo de todos os debates sobre a reforma das finanças globais. O outro Brasil foi lembrado por um professor de Harvard, Ricardo Hausmann, num almoço planejado como complemento da premiação de Lula: a maior potência econômica da América Latina tem falhado, segundo o professor, como defensora da democracia na região.
Hausmann vive e trabalha nos Estados Unidos, é venezuelano e foi ministro do Planejamento em seu país em 1992-93. Mas isso não desqualifica seus comentários - inesperados, naquele ambiente - sobre a ação brasileira no conflito entre o governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o do colombiano Álvaro Uribe. A parcialidade do presidente Lula foi evidenciada não só em episódios como o fechamento da fronteira com a Colômbia, pelo presidente Chávez, mas também quando o presidente Uribe anunciou o acordo militar com os Estados Unidos. A reação de Lula, lembrou Hausmann, foi convocar uma reunião de emergência da Unasul.
Outro venezuelano, Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, incluiu Lula entre os maiores hipócritas de 2009, em artigo publicado no jornal espanhol El País. Lula classificou Chávez como o melhor presidente venezuelano em cem anos, mas dele nunca se ouviu um comentário “sobre o comportamento autoritário de seu amigo”, escreveu Naim. Além disso, Lula atacou “furiosamente” as eleições em Honduras e na mesma semana “recebeu com honras Mahmoud Ahmadinejad”, vencedor de uma eleição também questionada. As eleições no Irã, segundo Naim, tiveram algo mais que as de Honduras: “enorme fraude, mortes, torturas e a repressão brutal ordenada pelo governo de Ahmadinejad.” “O afável líder brasileiro”, concluiu, “parece não se haver inteirado.”
Esse texto saiu em dezembro. Em Davos, na véspera da homenagem a Lula, o chanceler Celso Amorim discutiu com o colega iraniano, Manouchehr Mottaki, entre outros assuntos, a visita do presidente brasileiro ao Irã, em maio. Antes da reunião, um jornalista fez-lhe uma pergunta sobre execuções no Irã. O Brasil é contra a pena de morte, mas mantém relações com vários países onde vigora esse castigo, respondeu Amorim, contornando a questão.
Mas o problema político era outro. No mesmo dia haviam sido enforcados no Irã dois acusados de envolvimento em protestos contra o governo. Esses dois e mais nove foram sentenciados por crimes políticos e por haverem “movido guerra contra Deus”, segundo informou um porta-voz do Judiciário. O governo reafirmou nesta semana a intenção de executar os nove proximamente. Não se trata, portanto, apenas da manutenção da pena de morte entre as formas legais de punição, mas da execução de opositores presos durante manifestações de rua ou caçados em qualquer lugar.
A pena de morte ainda é aplicada em alguns países, normalmente em casos de homicídio. Pelo menos em democracias, ninguém é formalmente executado por ser adversário político do governo ou por participar de manifestações públicas.
O governo brasileiro parece desconhecer ou menosprezar essa diferença. Isso talvez explique seu comportamento bizarro. Em Brasília, nenhuma autoridade condenou, até ontem à tarde, o enforcamento de dois iranianos por crime político nem protestou contra a anunciada execução de mais nove. Mas o governo brasileiro insiste em evitar ou retardar a extradição de Cesare Battisti, condenado na Itália por participar de homicídios. Autoridades brasileiras classificaram essa condenação como política. Battisti, julgado por crime de morte, não foi condenado à execução. Sorte sua não ser um oposicionista iraniano. Provavelmente não teria escapado de seu país e, se conseguisse escapar, como seria recebido no Brasil? Mas é preciso reconhecer um ponto: não é preciso ter compromisso com a democracia e com a liberdade para frequentar as conferências de cúpula do G-20.
1303) Mitos historicos desmentidos
Estudo da USP desmonta hipótese Colombo da sífilis
Marcelo Leite
Folha de S.Paulo, 5/02/2010
Ossos antigos e genética inocentam marinheiros de levar doença para a Europa
Quem for ao portal do Ministério da Saúde pesquisar sobre a sífilis encontrará que a doença sexualmente transmissível, de péssima fama, foi levada por marinheiros de Cristóvão Colombo da América para a Europa, no final do século 15. Uma informação errada, segundo estudo que surgiu de um curso de pós-graduação da USP.
A disciplina foi ministrada um ano atrás por Sabine Eggers no Instituto de Biociências. Sob o título "Variabilidade em Homo sapiens: aspectos genéticos e ambientais", não tinha a princípio nada a ver com sífilis.
A geneticista deixou os alunos escolherem o que queriam fazer. Eles optaram por estudar o efeito da evolução darwiniana na medicina, aprender paleopatologia (estudo de doenças em vestígios fósseis) e escrever um artigo científico.
O resultado saiu em formato eletrônico no periódico "PLoS Neglected Tropical Diseases", dedicado a doenças tropicais negligenciadas, em janeiro: uma refutação da hipótese de que a doença só tenha chegado à Europa depois de 1492. Os marinheiros de Colombo e as índias com quem tenham mantido relações sexuais foram inocentados da acusação de ter iniciado a epidemia que devastou Nápoles em 1495.
Mal moderno
A sífilis pode ser uma doença devastadora. Inicia-se com uma pequena ferida nos órgãos genitais, 2 a 3 semanas depois da relação desprotegida, e em seguida parece sumir. Volta a manifestar-se depois, com manchas pelo corpo, queda de cabelos, cegueira, paralisias -e pode levar à morte.
Com a descoberta da penicilina, em 1928, pôde enfim ser tratada. A dificuldade de diagnóstico, no entanto, ainda a mantém em circulação e favorece a transmissão na gravidez. No Brasil, o número de casos de sífilis congênita mais que dobrou entre 1998 e 2006, passando de 2.840 para 5.749.
Importante para a pesquisa foi a sífilis causar deformações nos ossos -como a "tíbia em forma de sabre"- identificáveis em esqueletos antigos. E biólogos moleculares já haviam "soletrado" o DNA da bactéria Treponema pallidum pallidum, agente causador da doença.
O grupo multidisciplinar de alunos planejava desde o princípio combinar as ferramentas históricas e genéticas no estudo, portanto a sífilis se tornou uma candidata forte. "Era uma escolha interessante, pois havia saído um livro recentemente ["The Myth of Syphilis", O Mito da Sífilis, de Mary Lucas Powell e Della Collins Cook] que colocava bem a sua intrincada história", conta Eggers.
O primeiro passo foi reunir na literatura científica exemplos de esqueletos com vestígios característicos de sífilis. Após depurar casos duvidosos, restaram sete registros no Velho Mundo (Europa e Ásia) anteriores ao Descobrimento.
Esqueletos e genes
O diagnóstico por paleopatologia, no entanto, sempre deixa margem a dúvidas. Existem outras treponematoses (doenças causadas por bactérias do mesmo gênero) com efeitos comparáveis. O levantamento na literatura apontava evidências fortes para inocentar marinheiros europeus e índias americanas, mas não conclusivas.
É aí que o estudo da USP inova, ao complementar o registro histórico com ferramentas de biologia molecular. A ideia -usar o chamado "relógio molecular"- partiu do aluno Fernando Lucas de Melo, primeiro autor do artigo na "PLoS".
Relógio molecular é uma técnica que parte da taxa de mutação constatada em cada organismo. A sequência do genoma muda naturalmente, com o tempo, mas cada espécie o faz em velocidade mais ou menos característica. Simplificadamente se pode dizer que, com duas amostras obtidas em locais diferentes, é possível estimar se uma se originou da outra e quanto tempo atrás.
Para a sífilis venérea ter aparecido cinco séculos atrás de cepas menos virulentas, como pressupõe a hipótese Colombo, a bactéria precisaria ter taxa de mutação cem vezes mais rápida que o previsto. Pelo relógio da USP, a sífilis deve ter emergido há mais de 4.000 anos.
A combinação dos dois métodos não foi capaz, porém, de solucionar o mistério sobre a origem geográfica da sífilis. Só se sabe que ela estava presente no Novo e no Velho Mundo antes do Descobrimento, mas não qual continente exportou para o outro o "mal de Vênus" (a deusa do amor, origem da expressão "doença venérea").
Marcelo Leite
Folha de S.Paulo, 5/02/2010
Ossos antigos e genética inocentam marinheiros de levar doença para a Europa
Quem for ao portal do Ministério da Saúde pesquisar sobre a sífilis encontrará que a doença sexualmente transmissível, de péssima fama, foi levada por marinheiros de Cristóvão Colombo da América para a Europa, no final do século 15. Uma informação errada, segundo estudo que surgiu de um curso de pós-graduação da USP.
A disciplina foi ministrada um ano atrás por Sabine Eggers no Instituto de Biociências. Sob o título "Variabilidade em Homo sapiens: aspectos genéticos e ambientais", não tinha a princípio nada a ver com sífilis.
A geneticista deixou os alunos escolherem o que queriam fazer. Eles optaram por estudar o efeito da evolução darwiniana na medicina, aprender paleopatologia (estudo de doenças em vestígios fósseis) e escrever um artigo científico.
O resultado saiu em formato eletrônico no periódico "PLoS Neglected Tropical Diseases", dedicado a doenças tropicais negligenciadas, em janeiro: uma refutação da hipótese de que a doença só tenha chegado à Europa depois de 1492. Os marinheiros de Colombo e as índias com quem tenham mantido relações sexuais foram inocentados da acusação de ter iniciado a epidemia que devastou Nápoles em 1495.
Mal moderno
A sífilis pode ser uma doença devastadora. Inicia-se com uma pequena ferida nos órgãos genitais, 2 a 3 semanas depois da relação desprotegida, e em seguida parece sumir. Volta a manifestar-se depois, com manchas pelo corpo, queda de cabelos, cegueira, paralisias -e pode levar à morte.
Com a descoberta da penicilina, em 1928, pôde enfim ser tratada. A dificuldade de diagnóstico, no entanto, ainda a mantém em circulação e favorece a transmissão na gravidez. No Brasil, o número de casos de sífilis congênita mais que dobrou entre 1998 e 2006, passando de 2.840 para 5.749.
Importante para a pesquisa foi a sífilis causar deformações nos ossos -como a "tíbia em forma de sabre"- identificáveis em esqueletos antigos. E biólogos moleculares já haviam "soletrado" o DNA da bactéria Treponema pallidum pallidum, agente causador da doença.
O grupo multidisciplinar de alunos planejava desde o princípio combinar as ferramentas históricas e genéticas no estudo, portanto a sífilis se tornou uma candidata forte. "Era uma escolha interessante, pois havia saído um livro recentemente ["The Myth of Syphilis", O Mito da Sífilis, de Mary Lucas Powell e Della Collins Cook] que colocava bem a sua intrincada história", conta Eggers.
O primeiro passo foi reunir na literatura científica exemplos de esqueletos com vestígios característicos de sífilis. Após depurar casos duvidosos, restaram sete registros no Velho Mundo (Europa e Ásia) anteriores ao Descobrimento.
Esqueletos e genes
O diagnóstico por paleopatologia, no entanto, sempre deixa margem a dúvidas. Existem outras treponematoses (doenças causadas por bactérias do mesmo gênero) com efeitos comparáveis. O levantamento na literatura apontava evidências fortes para inocentar marinheiros europeus e índias americanas, mas não conclusivas.
É aí que o estudo da USP inova, ao complementar o registro histórico com ferramentas de biologia molecular. A ideia -usar o chamado "relógio molecular"- partiu do aluno Fernando Lucas de Melo, primeiro autor do artigo na "PLoS".
Relógio molecular é uma técnica que parte da taxa de mutação constatada em cada organismo. A sequência do genoma muda naturalmente, com o tempo, mas cada espécie o faz em velocidade mais ou menos característica. Simplificadamente se pode dizer que, com duas amostras obtidas em locais diferentes, é possível estimar se uma se originou da outra e quanto tempo atrás.
Para a sífilis venérea ter aparecido cinco séculos atrás de cepas menos virulentas, como pressupõe a hipótese Colombo, a bactéria precisaria ter taxa de mutação cem vezes mais rápida que o previsto. Pelo relógio da USP, a sífilis deve ter emergido há mais de 4.000 anos.
A combinação dos dois métodos não foi capaz, porém, de solucionar o mistério sobre a origem geográfica da sífilis. Só se sabe que ela estava presente no Novo e no Velho Mundo antes do Descobrimento, mas não qual continente exportou para o outro o "mal de Vênus" (a deusa do amor, origem da expressão "doença venérea").
1302) Dansa nuclear do Iran: Brasil como parceiro?
Brasil nega acordo para receber urânio do Irã
Catarina Alencastro e Renato Grandelle
O Globo, 5/02/2010
Apesar da disposição de Teerã em enviar material nuclear ao exterior, AIEA ainda não foi notificada oficialmente
O Itamaraty evitou comentar nesta quinta-feira (4/2) as intenções do governo do Irã de ter o Brasil como destino de seu urânio enriquecido. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, ainda não houve qualquer conversa sobre o tema. A possibilidade foi levantada pelo ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, dias depois da visita do colega brasileiro, Celso Amorim, a Teerã.
Outra hipótese aventada foi a de o Brasil servir como uma espécie de "fiador" do material, atuando na entrega do produto a outro país que realizaria o processo de enriquecimento para fins pacíficos. O Itamaraty nega que qualquer uma dessas possibilidades tenha sido discutida.
Brasil não tem condições de enriquecer a substância Qualquer acordo comercial entre os dois países envolvendo o urânio esbarraria em pelo menos duas limitações. O Brasil só enriquece a substância a até 3%, enquanto Teerã quer tê-la a 20%.
Outro obstáculo é a limitação da indústria brasileira. Apenas 2,6% do urânio usado nas usinas de Angra 1 e 2 são enriquecidos no país: o resto vem de um consórcio formado por Holanda, Alemanha e Reino Unido.
No início da década, um projeto do governo federal previa a instalação de dezenas de cascatas em Resende, cada uma contendo várias centrífugas, mas apenas uma está em funcionamento. Por falta de recursos, as demais nunca saíram do papel. O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Guilherme Camargo, diz que seriam necessários até US$ 300 milhões para completar o programa.
- O Brasil é autossuficiente na produção de urânio concentrado para consumo próprio. Mas, quando se trata de urânio enriquecido, nosso domínio industrial está em fase embrionária - explicou Camargo.
O novo embaixador americano em Brasília, Thomas Shanon, evitou polemizar sobre a relação do Brasil com o Irã. Ele se limitou a dizer que o país é soberano e não precisa de autorização dos Estados Unidos para agir de acordo com seus interesses. Ele ressaltou ainda a importância do papel de mensageiro que o Brasil desempenha junto ao governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
- Temos um diálogo intenso com o Brasil e outros países dentro do Conselho de Segurança. O Brasil tem um papel importante, de comunicar o Irã sobre as preocupações mundiais com seu programa nuclear, especialmente com a falta de transparência, com os direitos humanos, políticos e civis, além da liberdade religiosa - afirmou o embaixador.
A súbita aceitação de Teerã do envio de urânio ao exterior pode ser um ato de boa vontade rumo à mesa de negociações.
Mas, enquanto não houver um comunicado formal à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), líderes mundiais veem com desconfiança as intenções do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Na Rússia, o presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento, Konstantin Kosachyov, fez coro a Estados Unidos e França e afirmou que o Ocidente está cada vez mais perto de apertar as sanções econômicas ao país.
- O Irã muda constantemente de opinião - disse Kosachyov, referindo-se à indecisão de Ahmadinejad, que havia já sinalizado a possibilidade de enviar urânio ao exterior em novembro passado, voltando atrás pouco depois.
Já a China insiste no caminho da diplomacia. Segundo o chanceler chinês, Yang Jiechi, novas sanções ao regime dos aiatolás seriam "contraproducentes".
No último round da guerra de nervos travada acerca do programa nuclear nos últimos meses, oficiais iranianos acusaram ontem os EUA de incitar o mundo a uma "Irãfobia".
- Não querem ver boas relações entre nós e nossos vizinhos no Golfo - disse o chefe do EstadoMaior do Irã, general Hassan Firouzabadi, à agência estatal iraniana Irna.
Catarina Alencastro e Renato Grandelle
O Globo, 5/02/2010
Apesar da disposição de Teerã em enviar material nuclear ao exterior, AIEA ainda não foi notificada oficialmente
O Itamaraty evitou comentar nesta quinta-feira (4/2) as intenções do governo do Irã de ter o Brasil como destino de seu urânio enriquecido. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, ainda não houve qualquer conversa sobre o tema. A possibilidade foi levantada pelo ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, dias depois da visita do colega brasileiro, Celso Amorim, a Teerã.
Outra hipótese aventada foi a de o Brasil servir como uma espécie de "fiador" do material, atuando na entrega do produto a outro país que realizaria o processo de enriquecimento para fins pacíficos. O Itamaraty nega que qualquer uma dessas possibilidades tenha sido discutida.
Brasil não tem condições de enriquecer a substância Qualquer acordo comercial entre os dois países envolvendo o urânio esbarraria em pelo menos duas limitações. O Brasil só enriquece a substância a até 3%, enquanto Teerã quer tê-la a 20%.
Outro obstáculo é a limitação da indústria brasileira. Apenas 2,6% do urânio usado nas usinas de Angra 1 e 2 são enriquecidos no país: o resto vem de um consórcio formado por Holanda, Alemanha e Reino Unido.
No início da década, um projeto do governo federal previa a instalação de dezenas de cascatas em Resende, cada uma contendo várias centrífugas, mas apenas uma está em funcionamento. Por falta de recursos, as demais nunca saíram do papel. O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Guilherme Camargo, diz que seriam necessários até US$ 300 milhões para completar o programa.
- O Brasil é autossuficiente na produção de urânio concentrado para consumo próprio. Mas, quando se trata de urânio enriquecido, nosso domínio industrial está em fase embrionária - explicou Camargo.
O novo embaixador americano em Brasília, Thomas Shanon, evitou polemizar sobre a relação do Brasil com o Irã. Ele se limitou a dizer que o país é soberano e não precisa de autorização dos Estados Unidos para agir de acordo com seus interesses. Ele ressaltou ainda a importância do papel de mensageiro que o Brasil desempenha junto ao governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
- Temos um diálogo intenso com o Brasil e outros países dentro do Conselho de Segurança. O Brasil tem um papel importante, de comunicar o Irã sobre as preocupações mundiais com seu programa nuclear, especialmente com a falta de transparência, com os direitos humanos, políticos e civis, além da liberdade religiosa - afirmou o embaixador.
A súbita aceitação de Teerã do envio de urânio ao exterior pode ser um ato de boa vontade rumo à mesa de negociações.
Mas, enquanto não houver um comunicado formal à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), líderes mundiais veem com desconfiança as intenções do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Na Rússia, o presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento, Konstantin Kosachyov, fez coro a Estados Unidos e França e afirmou que o Ocidente está cada vez mais perto de apertar as sanções econômicas ao país.
- O Irã muda constantemente de opinião - disse Kosachyov, referindo-se à indecisão de Ahmadinejad, que havia já sinalizado a possibilidade de enviar urânio ao exterior em novembro passado, voltando atrás pouco depois.
Já a China insiste no caminho da diplomacia. Segundo o chanceler chinês, Yang Jiechi, novas sanções ao regime dos aiatolás seriam "contraproducentes".
No último round da guerra de nervos travada acerca do programa nuclear nos últimos meses, oficiais iranianos acusaram ontem os EUA de incitar o mundo a uma "Irãfobia".
- Não querem ver boas relações entre nós e nossos vizinhos no Golfo - disse o chefe do EstadoMaior do Irã, general Hassan Firouzabadi, à agência estatal iraniana Irna.
1301) A novela dos avioes militares: falta de transparencia
O que mais impressiona, em todo este processo, é a absoluta falta de explicações credíveis para certos sinais emanados do núcleo central do governo. Tudo se resume a dizer que "a decisão é política", ou que se trata de uma "relação estratégica" e outras bobagens do gênero. Já ouvi até dizer que "às vezes, o barato sai caro" (sic); confesso que não sei o que isso quer dizer, a não ser que o caro sai caro, e pode sair mais caro ainda. Se os próprios militares da Aeronáutica preferiram a opção mais barata, porque é que eles poderiam se arrepender depois? Ou será que o dinheiro não sai do bolso deles também?
Nunca ofenderam tanto a minha inteligência como agora, ou talvez sim, em vários outros caso, como se sabe; mas nunca uma ofensa desse tipo custou tão cara no meu bolso...
Entre a esperança e a desilusão
Correio Braziliense, Conexão DIplomática - 06/02/2010
Apesar das declarações constantes do presidente Lula e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, em favor do caça francês Rafale, as outras concorrentes não esconderam a surpresa diante da notícia de que a decisão já teria sido tomada pela proposta da Dassault — que continua sendo a mais cara. A posição oficial, tanto da norte-americana Boeing quanto da sueca Saab, é de que a disputa continua, que não há um anúncio oficial do governo, que Jobim negou a decisão diante das câmeras. Na verdade, o que a informação da escolha gerou nos outros dois candidatos foi um misto de desilusão e esperança. Desilusão pela falta de transparência, pelo privilégio dado a um dos concorrentes de negociar a oferta em separado, pela mudança nos critérios de avaliação. Esperança pela promessa expressa em um comunicado do Ministério da Defesa, divulgado na quinta-feira, de que o governo “levará em consideração, também, outras informações enviadas pelos governos interessados e pelos proponentes”.
A Saab já se mobiliza, e pretende enviar ao Ministério da Defesa, na próxima semana, um adendo à oferta apresentada em novembro, como um último suspiro. Mas, como a notícia pegou os suecos de surpresa, ainda será preciso espremer a proposta, principalmente nos quesitos preço e offset (contrapartidas), para ver se sai uma oferta melhor do que já foi a “melhor e última oferta”. A Boeing, no entanto, parece menos disposta a mexer em sua proposta sem antes saber do governo brasileiro o que, na verdade, está sendo pedido. “Queria que alguém pudesse me explicar os novos critérios de avaliação. Por que vou mexer no meu preço, se isso parece não estar importando para o governo, que prefere um avião ainda 20% mais caro?”, questionou o gerente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Boeing, Mike Coogins. “Transferência de tecnologia, pelo que entendi, não é mais o principal, nem o preço”, desabafou.
Show mantido
O governo americano mantém a programação de enviar, ainda este mês, um porta-aviões para o litoral do Rio de Janeiro com pelo menos 15 aviões Super Hornet usados pela marinha americana. A demonstração dos caças seria a tentativa final do lado americano. Se, contudo, a decisão aparentemente tomada for irreversível, o show dos F-18 servirá para mostrar o que o governo brasileiro perdeu por um precinho mais camarada.
Mais que uma compra
Em seu primeiro dia de trabalho de fato à frente da representação dos Estados Unidos, o novo embaixador, Thomas Shannon, tentou recuperar a defasagem sofrida pelos últimos cinco meses sem um alto representante norte-americano no Brasil — justamente o período mais crítico da concorrência para a compra dos caças. Em encontro com o ministro Jobim, na tarde de ontem, Shannon se empenhou em mostrar ao brasileiro a importância da parceria bilateral em segurança e a sua expectativa de aumentar essa cooperação. A preocupação é mostrar ao governo brasileiro que não só os franceses oferecem os caças “acoplados” a uma estratégia maior de defesa.
Nunca ofenderam tanto a minha inteligência como agora, ou talvez sim, em vários outros caso, como se sabe; mas nunca uma ofensa desse tipo custou tão cara no meu bolso...
Entre a esperança e a desilusão
Correio Braziliense, Conexão DIplomática - 06/02/2010
Apesar das declarações constantes do presidente Lula e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, em favor do caça francês Rafale, as outras concorrentes não esconderam a surpresa diante da notícia de que a decisão já teria sido tomada pela proposta da Dassault — que continua sendo a mais cara. A posição oficial, tanto da norte-americana Boeing quanto da sueca Saab, é de que a disputa continua, que não há um anúncio oficial do governo, que Jobim negou a decisão diante das câmeras. Na verdade, o que a informação da escolha gerou nos outros dois candidatos foi um misto de desilusão e esperança. Desilusão pela falta de transparência, pelo privilégio dado a um dos concorrentes de negociar a oferta em separado, pela mudança nos critérios de avaliação. Esperança pela promessa expressa em um comunicado do Ministério da Defesa, divulgado na quinta-feira, de que o governo “levará em consideração, também, outras informações enviadas pelos governos interessados e pelos proponentes”.
A Saab já se mobiliza, e pretende enviar ao Ministério da Defesa, na próxima semana, um adendo à oferta apresentada em novembro, como um último suspiro. Mas, como a notícia pegou os suecos de surpresa, ainda será preciso espremer a proposta, principalmente nos quesitos preço e offset (contrapartidas), para ver se sai uma oferta melhor do que já foi a “melhor e última oferta”. A Boeing, no entanto, parece menos disposta a mexer em sua proposta sem antes saber do governo brasileiro o que, na verdade, está sendo pedido. “Queria que alguém pudesse me explicar os novos critérios de avaliação. Por que vou mexer no meu preço, se isso parece não estar importando para o governo, que prefere um avião ainda 20% mais caro?”, questionou o gerente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Boeing, Mike Coogins. “Transferência de tecnologia, pelo que entendi, não é mais o principal, nem o preço”, desabafou.
Show mantido
O governo americano mantém a programação de enviar, ainda este mês, um porta-aviões para o litoral do Rio de Janeiro com pelo menos 15 aviões Super Hornet usados pela marinha americana. A demonstração dos caças seria a tentativa final do lado americano. Se, contudo, a decisão aparentemente tomada for irreversível, o show dos F-18 servirá para mostrar o que o governo brasileiro perdeu por um precinho mais camarada.
Mais que uma compra
Em seu primeiro dia de trabalho de fato à frente da representação dos Estados Unidos, o novo embaixador, Thomas Shannon, tentou recuperar a defasagem sofrida pelos últimos cinco meses sem um alto representante norte-americano no Brasil — justamente o período mais crítico da concorrência para a compra dos caças. Em encontro com o ministro Jobim, na tarde de ontem, Shannon se empenhou em mostrar ao brasileiro a importância da parceria bilateral em segurança e a sua expectativa de aumentar essa cooperação. A preocupação é mostrar ao governo brasileiro que não só os franceses oferecem os caças “acoplados” a uma estratégia maior de defesa.
1300) Por que intelectuais de esquerda sao coniventes com uma ditadura abjeta?
O caso, obviamente, é o de Cuba, em relação à qual intelectuais brasileiros, que se dizem democratas e amigos da liberdade no plano interno, flertam, quando não apoiam de maneira indecorosa, uma das piores ditaduras já surgidas no hemisfério.
Não se sabe, exatamente, o que os leva a essas posições não apenas contraditórias, como inaceitáveis no plano da moral e da ética políticas. Bem, isso se explica no caso de Niemayer, um stalinista impenitente e um dos grandes idiotas latino-americanos e universais. Os casos de outros são mais dificilmente explicáveis: deve ser uma mistura de estupidez política e anti-imperialismo infantil, igualmente estúpido.
A matéria abaixo trata do caso de outro intelectual idiota, Garcia Marquez.
Paulo Roberto de Almeida (5.02.2010)
Ideologia
Cem anos de adulação
Os bastidores da amizade entre Fidel Castro e Gabriel García Márquez ajudam a explicar de onde vem o fascínio de intelectuais pelo autoritarismo de esquerda
Diogo Schelp

Fotos Jose Gotia/AP e Bettmann/Corbis/Latinstock
QUEM COCHICHA O RABO ESPICHA
García Márquez e Fidel trocam confidências em Havana, em 2002. Em seu romance sobre Simón Bolívar (à dir.), o escritor homenageou o ditador cubano
A história da amizade entre o colombiano Gabriel García Márquez, de 82 anos, e o ditador cubano Fidel Castro, de 83, é uma fábula cujo fio condutor é o interesse mútuo, apesar de Castro dizer que o escritor é o seu melhor - e provavelmente único - companheiro do peito, e de García Márquez já ter afirmado que, se o barbudo morrer, não suportará visitar Cuba sem tê-lo por perto. Por trás das constantes trocas de mensagens afetuosas, Fidel aproveita-se do prestígio literário do colombiano para fazer propaganda do regime autoritário que personifica e tentar preservar sua imagem no exterior. García Márquez vale-se da intimidade com o ditador para exercer sua obsessão pelo poder e desfrutar vantagens materiais. Alguns aspectos dessa amizade são descritos na biografia Gabriel García Márquez - Uma Vida, do inglês Gerald Martin, que a Ediouro lança em março no Brasil. Como o próprio Martin é amigo do biografado e dele obteve a autorização para escrever o livro, não se poderia esperar mais do que uma narrativa acrítica e branda sobre o vínculo entre o escritor e o ditador. Uma versão mais honesta dessa relação é apresentada pelo espanhol Ángel Esteban e pela belga Stéphanie Panichelli no livro Gabriel García Márquez e Fidel Castro - Os Segredos de uma Amizade, recém-lançado nos Estados Unidos e publicado em Portugal pela editora Ambar. Trata-se de uma obra instigante não só pela riqueza de informações, todas sustentadas por inúmeras entrevistas e documentos, mas por introduzir uma discussão pertinente sobre o que leva intelectuais estrangeiros a apoiar um regime sanguinário como o cubano, que já matou mais de 7 000 pessoas e costuma reprimir qualquer opinião divergente com cadeia ou paredón. Esteban e Panichelli, ambos professores universitários de literatura e letras, buscam a resposta a essa questão com o inconformismo de fãs que descobriram a face nefasta de seu ídolo. "Considero García Márquez um dos maiores escritores do século XX, mas, como pessoa pública, ele precisava ser desmascarado", diz Esteban.
Mais de cinco décadas de repressão política e fracasso econômico, impostos aos cubanos pelo regime comunista, não foram o suficiente para privar Fidel do apoio de escritores e artistas esquerdistas, entre os quais brasileiros como o cantor Chico Buarque e o arquiteto Oscar Niemeyer. "Há uma tradição entre parte dos intelectuais latino-americanos de falar em nome dos outros, de se considerar a voz dos que não falam. É uma visão autoritária que, como não poderia deixar de ser, produz fascínio pela tirania de esquerda", afirma o historiador Marco Antonio Villa. Mas ninguém bajula ditadores com tanta convicção quanto García Márquez. Ele passou mais de quinze anos tentando se aproximar do ditador. Para isso, escreveu artigos chapas-brancas, fez propaganda do regime cubano em entrevistas e empenhou-se para não se envolver em polêmicas que pudessem desagradar a Fidel. Em 1971, quando os principais escritores de sua geração protestaram contra a prisão do poeta cubano Heberto Padilla, García Márquez foi o único que ficou em silêncio. A partir de 1975, ele começou a visitar Cuba com frequência, em busca de amizades que pudessem lhe dar acesso ao círculo de poder em Havana. Fidel, no entanto, só começou a se interessar pelo autor de Cem Anos de Solidão em 1977. Ele fez de García Márquez um embaixador informal de sua imagem no exterior e, em troca, deu ao escritor uma plataforma política para estabelecer contato com outros governantes esquerdistas, como François Mitterrand, da França. García Márquez usou essas amizades para fazer campanha pelo Prêmio Nobel de Literatura, conquistado por ele em 1982.
O prêmio inaugurou uma nova fase na amizade entre o escritor e o ditador. No mesmo ano, Fidel ordenou que fossem dados a García Márquez uma mansão em um bairro nobre de Havana e um automóvel Mercedes-Benz para que ele pudesse desfrutar melhor suas temporadas em Cuba, onde o escritor, posteriormente, ajudou a fundar uma escola de cinema. García Márquez também se acostumou a submeter os seus manuscritos ao ditador, para que ele fizesse observações ao estilo "censura vip". Esteban e Panichelli apresentam boas provas desse fato, incluindo o depoimento de três amigos de García Márquez. Segundo eles, o romance O General em Seu Labirinto, de 1989, é uma homenagem a Fidel. No livro, o colombiano descreve Simón Bolívar (1783-1830), herói da independência dos países andinos, exatamente com as qualidades que ele costuma atribuir, em entrevistas, a Fidel. Quando cobrado por sua conivência com a violação de direitos humanos em Cuba, García Márquez explica que usa sua influência para convencer Fidel a libertar oposicionistas e a deixá-los fugir para o exílio. O escritor deve achar que, assim, está comprando sua própria absolvição na história por desfrutar as benesses de um tirano. Em 1975, ele disse em uma entrevista: "O que eu posso fazer com minha fama? Vou gastá-la em política". Até o momento, foi um péssimo investimento.
Não se sabe, exatamente, o que os leva a essas posições não apenas contraditórias, como inaceitáveis no plano da moral e da ética políticas. Bem, isso se explica no caso de Niemayer, um stalinista impenitente e um dos grandes idiotas latino-americanos e universais. Os casos de outros são mais dificilmente explicáveis: deve ser uma mistura de estupidez política e anti-imperialismo infantil, igualmente estúpido.
A matéria abaixo trata do caso de outro intelectual idiota, Garcia Marquez.
Paulo Roberto de Almeida (5.02.2010)
Ideologia
Cem anos de adulação
Os bastidores da amizade entre Fidel Castro e Gabriel García Márquez ajudam a explicar de onde vem o fascínio de intelectuais pelo autoritarismo de esquerda
Diogo Schelp

Fotos Jose Gotia/AP e Bettmann/Corbis/Latinstock
QUEM COCHICHA O RABO ESPICHA
García Márquez e Fidel trocam confidências em Havana, em 2002. Em seu romance sobre Simón Bolívar (à dir.), o escritor homenageou o ditador cubano
A história da amizade entre o colombiano Gabriel García Márquez, de 82 anos, e o ditador cubano Fidel Castro, de 83, é uma fábula cujo fio condutor é o interesse mútuo, apesar de Castro dizer que o escritor é o seu melhor - e provavelmente único - companheiro do peito, e de García Márquez já ter afirmado que, se o barbudo morrer, não suportará visitar Cuba sem tê-lo por perto. Por trás das constantes trocas de mensagens afetuosas, Fidel aproveita-se do prestígio literário do colombiano para fazer propaganda do regime autoritário que personifica e tentar preservar sua imagem no exterior. García Márquez vale-se da intimidade com o ditador para exercer sua obsessão pelo poder e desfrutar vantagens materiais. Alguns aspectos dessa amizade são descritos na biografia Gabriel García Márquez - Uma Vida, do inglês Gerald Martin, que a Ediouro lança em março no Brasil. Como o próprio Martin é amigo do biografado e dele obteve a autorização para escrever o livro, não se poderia esperar mais do que uma narrativa acrítica e branda sobre o vínculo entre o escritor e o ditador. Uma versão mais honesta dessa relação é apresentada pelo espanhol Ángel Esteban e pela belga Stéphanie Panichelli no livro Gabriel García Márquez e Fidel Castro - Os Segredos de uma Amizade, recém-lançado nos Estados Unidos e publicado em Portugal pela editora Ambar. Trata-se de uma obra instigante não só pela riqueza de informações, todas sustentadas por inúmeras entrevistas e documentos, mas por introduzir uma discussão pertinente sobre o que leva intelectuais estrangeiros a apoiar um regime sanguinário como o cubano, que já matou mais de 7 000 pessoas e costuma reprimir qualquer opinião divergente com cadeia ou paredón. Esteban e Panichelli, ambos professores universitários de literatura e letras, buscam a resposta a essa questão com o inconformismo de fãs que descobriram a face nefasta de seu ídolo. "Considero García Márquez um dos maiores escritores do século XX, mas, como pessoa pública, ele precisava ser desmascarado", diz Esteban.
Mais de cinco décadas de repressão política e fracasso econômico, impostos aos cubanos pelo regime comunista, não foram o suficiente para privar Fidel do apoio de escritores e artistas esquerdistas, entre os quais brasileiros como o cantor Chico Buarque e o arquiteto Oscar Niemeyer. "Há uma tradição entre parte dos intelectuais latino-americanos de falar em nome dos outros, de se considerar a voz dos que não falam. É uma visão autoritária que, como não poderia deixar de ser, produz fascínio pela tirania de esquerda", afirma o historiador Marco Antonio Villa. Mas ninguém bajula ditadores com tanta convicção quanto García Márquez. Ele passou mais de quinze anos tentando se aproximar do ditador. Para isso, escreveu artigos chapas-brancas, fez propaganda do regime cubano em entrevistas e empenhou-se para não se envolver em polêmicas que pudessem desagradar a Fidel. Em 1971, quando os principais escritores de sua geração protestaram contra a prisão do poeta cubano Heberto Padilla, García Márquez foi o único que ficou em silêncio. A partir de 1975, ele começou a visitar Cuba com frequência, em busca de amizades que pudessem lhe dar acesso ao círculo de poder em Havana. Fidel, no entanto, só começou a se interessar pelo autor de Cem Anos de Solidão em 1977. Ele fez de García Márquez um embaixador informal de sua imagem no exterior e, em troca, deu ao escritor uma plataforma política para estabelecer contato com outros governantes esquerdistas, como François Mitterrand, da França. García Márquez usou essas amizades para fazer campanha pelo Prêmio Nobel de Literatura, conquistado por ele em 1982.
O prêmio inaugurou uma nova fase na amizade entre o escritor e o ditador. No mesmo ano, Fidel ordenou que fossem dados a García Márquez uma mansão em um bairro nobre de Havana e um automóvel Mercedes-Benz para que ele pudesse desfrutar melhor suas temporadas em Cuba, onde o escritor, posteriormente, ajudou a fundar uma escola de cinema. García Márquez também se acostumou a submeter os seus manuscritos ao ditador, para que ele fizesse observações ao estilo "censura vip". Esteban e Panichelli apresentam boas provas desse fato, incluindo o depoimento de três amigos de García Márquez. Segundo eles, o romance O General em Seu Labirinto, de 1989, é uma homenagem a Fidel. No livro, o colombiano descreve Simón Bolívar (1783-1830), herói da independência dos países andinos, exatamente com as qualidades que ele costuma atribuir, em entrevistas, a Fidel. Quando cobrado por sua conivência com a violação de direitos humanos em Cuba, García Márquez explica que usa sua influência para convencer Fidel a libertar oposicionistas e a deixá-los fugir para o exílio. O escritor deve achar que, assim, está comprando sua própria absolvição na história por desfrutar as benesses de um tirano. Em 1975, ele disse em uma entrevista: "O que eu posso fazer com minha fama? Vou gastá-la em política". Até o momento, foi um péssimo investimento.
1299) UnB e ex-ministro da Justica a favor do apartheid racial
A UnB é um caso sério de debilidade mental coletiva: não de todos os seus integrantes, claro, apenas dos racialistas que conseguiram converter um problema social (dificuldades de acesso de estudantes pobres, nem todos negros, mas uma grande maioria de negros) em um início de política do Apartheid no Brasil.
Agora, um ex-ministro da Justiça (que militou espertamente para livrar o presidente da República da corrupção criada e estimulada pelo seu partido) sai em defesa de políticas de exclusão racial dessa universidade decadente, como se isso fosse reparar qualquer dívida histórica, uma alucinação coletiva de um bando de racistas.
A nota abaixo vem da área de informação da UnB.
Ela é particularmente viciosa, viciada e deformada: tenta equiparar problemas de minorias ou de dificientes com uma política racialista (e racista) que concerne a maioria da população brasileira, que é notoriamente mestiça, ou seja, tem traços de antecessores africanos.
Paulo Roberto de Almeida (6.02.2010)
Márcio Thomaz Bastos participará do julgamento das cotas no STF
Ex-ministro da Justiça foi convidado pelo ministro da Promoção da Igualdade Racial. Audiências públicas começam em março
Marta Avancini - Da Secretaria de Comunicação da UnB
4 de Fevereiro de 2010
O advogado criminalista e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos vai atuar em defesa do sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília (UnB) no julgamento do Superior Tribunal Federal (STF).
Bastos afirmou à UnB Agência que decidiu participar do processo por considerá-lo uma “causa justa”. “As cotas são um mecanismo importante de justiça social”, afirmou. “É o pagamento de uma dívida histórica”.
O advogado participará do processo como amicus curiae, representando entidades que, embora não participem da ação, têm interesse na matéria. No caso do processo contra as cotas raciais da UnB, organizações sociais a favor e contrárias às cotas raciais têm direito de apresentar nomes de juristas que representem seu ponto de vista para participar do processo e, dessa maneira, subsidiar a decisão dos ministros do STF.
Os nomes devem passar pelo aval do relator do processo no STF, Ricardo Lewandowski, e, se aprovados, terão direito de se manifestar durante o julgamento do processo. O convite para participar do processo a Bastos foi feito pelo ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Edson Santos.
Para o reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, a participação de Bastos fortalece a defesa das cotas. “Ele falará na condição de representante da sociedade e será uma expressão acolhida pelo STF. Isso significa que Tribunal quer ouvir o que ele tem a dizer sobre o tema”, analisa o reitor.
HISTÓRICO - Em junho de 2009, o Partido Democratas (DEM) entrou com uma ação no STF pedindo a suspensão do sistema de cotas na UnB, baseando-se no argumento de que, no Brasil, a exclusão do ensino superior decorre de problemas sócio-econômicos e não raciais – diferentemente do que acontece nos Estados Unidos e África do Sul.
O DEM também sustenta que o sistema de cotas raciais em universidades reforça o preconceito racial e é inconstitucional. Na UnB o sistema de cotas foi implantado em 2005 como uma política pensada para durar dez anos. Ele prevê a reserva de 20% das vagas do vestibular para afrodescendentes. Além da UnB outras 80 universidades públicas do país possuem algum tipo de sistema de ingresso diferenciado para afrodescendentes.
Para fortalecer a defesa das cotas, está sendo organizado um “abraço ao STF” em 2 de março, um dia antes das audiências públicas com pessoas interessadas no tema, promovidas pelo Supremo entre os dias 3 e 5 do próximo mês.
Segundo o ministro interino da Seppir, Elói Ferreira de Araújo, é importante que se faça uma ampla mobilização em defesa das cotas. “A tese que fundamenta a ação do DEM é contrária à justiça social e agride as políticas de promoção da inclusão como um todo” afirma Araújo.
“Está em desacordo com o ambiente que vivemos nesse país, além de ser cruel em relação à nossa história de exclusão e desigualdade”, complementa o ministro interino, que participou de uma reunião com o reitor da UnB sobre o tema nesta quarta, 03 de fevereiro.
José Geraldo analisa que a ação movida pelo DEM contra a UnB coloca em risco outros tipos de ações afirmativas que favorecem mulheres, deficientes, entre outros grupos sociais excluídos. “É fundamental que se perceba que esse tipo de política melhora o país ao promover a inclusão econômica e social”, defende.
Agora, um ex-ministro da Justiça (que militou espertamente para livrar o presidente da República da corrupção criada e estimulada pelo seu partido) sai em defesa de políticas de exclusão racial dessa universidade decadente, como se isso fosse reparar qualquer dívida histórica, uma alucinação coletiva de um bando de racistas.
A nota abaixo vem da área de informação da UnB.
Ela é particularmente viciosa, viciada e deformada: tenta equiparar problemas de minorias ou de dificientes com uma política racialista (e racista) que concerne a maioria da população brasileira, que é notoriamente mestiça, ou seja, tem traços de antecessores africanos.
Paulo Roberto de Almeida (6.02.2010)
Márcio Thomaz Bastos participará do julgamento das cotas no STF
Ex-ministro da Justiça foi convidado pelo ministro da Promoção da Igualdade Racial. Audiências públicas começam em março
Marta Avancini - Da Secretaria de Comunicação da UnB
4 de Fevereiro de 2010
O advogado criminalista e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos vai atuar em defesa do sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília (UnB) no julgamento do Superior Tribunal Federal (STF).
Bastos afirmou à UnB Agência que decidiu participar do processo por considerá-lo uma “causa justa”. “As cotas são um mecanismo importante de justiça social”, afirmou. “É o pagamento de uma dívida histórica”.
O advogado participará do processo como amicus curiae, representando entidades que, embora não participem da ação, têm interesse na matéria. No caso do processo contra as cotas raciais da UnB, organizações sociais a favor e contrárias às cotas raciais têm direito de apresentar nomes de juristas que representem seu ponto de vista para participar do processo e, dessa maneira, subsidiar a decisão dos ministros do STF.
Os nomes devem passar pelo aval do relator do processo no STF, Ricardo Lewandowski, e, se aprovados, terão direito de se manifestar durante o julgamento do processo. O convite para participar do processo a Bastos foi feito pelo ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Edson Santos.
Para o reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, a participação de Bastos fortalece a defesa das cotas. “Ele falará na condição de representante da sociedade e será uma expressão acolhida pelo STF. Isso significa que Tribunal quer ouvir o que ele tem a dizer sobre o tema”, analisa o reitor.
HISTÓRICO - Em junho de 2009, o Partido Democratas (DEM) entrou com uma ação no STF pedindo a suspensão do sistema de cotas na UnB, baseando-se no argumento de que, no Brasil, a exclusão do ensino superior decorre de problemas sócio-econômicos e não raciais – diferentemente do que acontece nos Estados Unidos e África do Sul.
O DEM também sustenta que o sistema de cotas raciais em universidades reforça o preconceito racial e é inconstitucional. Na UnB o sistema de cotas foi implantado em 2005 como uma política pensada para durar dez anos. Ele prevê a reserva de 20% das vagas do vestibular para afrodescendentes. Além da UnB outras 80 universidades públicas do país possuem algum tipo de sistema de ingresso diferenciado para afrodescendentes.
Para fortalecer a defesa das cotas, está sendo organizado um “abraço ao STF” em 2 de março, um dia antes das audiências públicas com pessoas interessadas no tema, promovidas pelo Supremo entre os dias 3 e 5 do próximo mês.
Segundo o ministro interino da Seppir, Elói Ferreira de Araújo, é importante que se faça uma ampla mobilização em defesa das cotas. “A tese que fundamenta a ação do DEM é contrária à justiça social e agride as políticas de promoção da inclusão como um todo” afirma Araújo.
“Está em desacordo com o ambiente que vivemos nesse país, além de ser cruel em relação à nossa história de exclusão e desigualdade”, complementa o ministro interino, que participou de uma reunião com o reitor da UnB sobre o tema nesta quarta, 03 de fevereiro.
José Geraldo analisa que a ação movida pelo DEM contra a UnB coloca em risco outros tipos de ações afirmativas que favorecem mulheres, deficientes, entre outros grupos sociais excluídos. “É fundamental que se perceba que esse tipo de política melhora o país ao promover a inclusão econômica e social”, defende.
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