O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 16 de novembro de 2019

Trump comanda um governo mafioso - Paul Waldman (WP)

Trata-se, provavelmente, da primeira vez que os Estados Unidos são comandados por um corrupto confirmado e um equivalente a chefe mafioso.
Paulo Roberto de Almeida

Yovanovitch hearing confirms that Trump is running a thugocracy

Whether this is technically witness tampering, it’s undeniably appalling. Even on Fox News, Ken Starr called Trump’s attack on Yovanovitch during her testimony “extraordinarily poor judgment.”
What it shows — as does all of the former ambassador’s testimony, along with lots of other evidence we have seen — is that Trump has been running a thugocracy, one in which the president talks and acts like a Mafiosi and so do the people who have the greatest influence over him.

There’s an irony here, which is that Yovanovitch’s story is tangential to the case for impeachment. Trump’s firing of her was disturbing, undermined U.S. interests and was despicable in many ways, but it wasn’t in and of itself impeachable. It doesn’t bear directly on the pressure campaign to strong-arm Ukraine into helping Trump’s reelection by launching a sham “investigation” of Joe and Hunter Biden.
Yovanovitch, a respected diplomat with decades of service to the United States, came to Ukraine determined to help the country fight corruption, as was U.S. policy through successive administrations. This garnered her enemies among people who were profiting from that corruption, including two of the country’s chief prosecutors, Viktor Shokin and Yuri Lutsenko, and Dmytro Firtash, a Ukrainian oligarch with reported connections to Russian organized crime.
The story of the smear campaign against Yovanovitch is complex, but it involves Shokin and Lutsenko feeding bogus information about her to Trump lawyer Rudolph W. Giuliani and his recently arrested colleagues Lev Parnas and Igor Fruman (who are linked to Firtash), as well as to American right-wing media.
In their efforts to get Yovanovitch removed, the corrupt Ukrainians revealed an imperfect understanding of what motivates Trump. Lutsenko spread a bogus story that she had given him a list of people not to prosecute, an allegation widely dismissed as preposterous. This kind of thing could damage a person’s reputation in Ukraine, but no one thinks Trump actually cares about whether corrupt people are being prosecuted.
People who knew Trump better understood what would turn him against Yovanovitch: The allegation that she was insufficiently loyal to Donald Trump.
Which is why Joe diGenova — a Trump ally who is the lawyer for both Rudy’s goons Parnas and Fruman and for Firtash, the oligarch — went on Fox News in March and said that Yovanovitch “is known and reported by people there to have bad-mouthed the President” and “to have told Ukrainians not to listen to him or obey his policy, because he was going to be impeached.” He repeatedthis to Sean Hannity, and then the allegation quickly spread through conservative media.
DiGenova has never said where he learned Yovanovitch was supposedly “bad-mouthing” Trump. In her testimony, Yovanovitch was emphatic that it never happened. But Parnas worked the same angle; he recounts that at a gathering, he told Trump that Yovanovitch didn’t support him, and Trump reacted by saying she should be fired.
In addition, Parnas and Fruman directed huge contributions to then-Rep. Pete Sessions’s campaigns. On the same day that Parnas visited him in his Capitol Hill office, Sessions wrote to Secretary of State Mike Pompeo complaining that Yovanovitch was not loyal to Trump and should be fired.

So what we see is that the people who understand Trump knew exactly how to manipulate him. Knowing that he values personal loyalty far more than competence or the interests of the United States, all they had to do was keep telling him that Yovanovitch wasn’t loyal to him, and she’d be gone.
“How could our system fail like this?” Yovanovitch asked in her opening statement Friday. “How is it that foreign corrupt interests could manipulate our government?”
Thought she didn’t say it herself, the answer is two words: Donald Trump.
Corrupt interests (some foreign, some domestic) could manipulate our government because the president is himself corrupt. And insecure, and vindictive and someone who talks and acts like he’s running an organized crime family.
Stunningly, as Yovanovitch was calmly explaining how all this happened, Trump let everyone know what a thug he is, trying to intimidate her one more time. It’s probably too late for that, though; all he did was remind everyone who he is.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Churchill, and his Cold War speech, in Fulton, Missouri (PRA e CLP, 2013)

Reproduzo aqui uma parte de meus registros relativos à parada, no meio da viagem através dos EUA, em 2013, em Fulton, Missouri, a pequena cidade onde Winston Churchill pronunciou seu famoso discurso sobre a "cortina de ferro" separando a Europa ocidental, de democracias livres, da Europa central e oriental, dominada pelo comunismo soviético.
Vou tentar localizar as fotos feitas na ocasião, e que ilustravam a minha postagem, feita a cada noite nos hotéis em que parávamos.
O relato completo da viagem está neste link: 
https://www.academia.edu/12251995/Across_the_whale_in_less_than_a_month_USA_coast_to_coast_2013
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15/11/2019


Across the whale in a month 
(3): Churchill's Cold War speech at Fulton, Missouri
Numa segunda-feira em que 99,99% dos museus americanos permanecem fechados, tivemos uma sorte danada ao poder visitar o memorial Churchill, localizado na pequena cidade de Fulton, no coração do Missouri, onde o famoso líder britânico da Segunda Guerra Mundial pronunciou o mais famoso discurso da Guerra Fria, na verdade, inaugurando, antecipadamente, a própria guerra fria.
Depois de sair de Saint Louis um pouco tarde, seguimos pela estrada que segue em direção a Kansas City. Exatamente no meio do caminho, e no meio do caminho entre a estrada principal e a capital do Missouri, uma sonolenta cidade de apenas 50 mil habitantes que responde pelo nome de Jefferson City (em homenagem ao terceiro presidente americano), fica esta pequena cidade que abriga o Westminster College (mesmo nome, talvez, do distrito eleitoral de Churchill, na Grã-Bretanha), que formulou o convite com o apoio do presidente Harry Truman, um caipira do Missouri (existe uma presidential library Harry Truman em Independence, pouco antes de Kansas City). 

Sempre tive curiosidade em saber por que, diabos, Churchill teria ido falar sobre tema tão importante quanto a dominação soviética na Europa central e oriental numa cidadezinha sem qualquer importância no plano mundial como essa aldeia perdida na caipirolândia americana. Pois bem, soube agora como isso foi acontecer, um discurso memorável que colocou no mapa do mundo, e da História (com H maiúsculo) esta pequena cidade dotada de um belo museu dedicado ao maior inglês do século 20, um detestável imperialista, um indefectível colonialista, mas um grande líder militar, um estrategista razoável e um grande mestre das palavras. Ele ganhou os ingleses basicamente pela palavra e pelos escritos, pelas frases geniais, cheias de espírito. 
Relato abaixo como isso foi possível, que soube pelo guia do museu, ou doutorando em História dos EUA pelo Westminster College, e pela informação disponível na internet.

Tenho o prazer de apresentar, portanto, o

National Churchill Museum

no subsolo (ou térreo) desta bela igreja inglesa do século 17 (na verdade, do século 11, mas destruída por um incêndio, e reconstruída depois, em 1677), trazida pedra por pedra de Londres, para figurar nesse memorial construído especialmente para servir como uma espécie de panteão especial para Churchill e toda a sua história de vida, desde a juventude, até seu aparecimento inédito em Fulton.

Na verdade, a história cobre até o final da Guerra Fria, e um pedaço do muro de Berlim figura no pátio da igreja, onde falou Gorbachev, em 1992 (ver foto abaixo).
Transcrevo uma informação sobre o local, retirada da atual "mãe dos burros", a Wikipedia.

The National Churchill Museum, (formerly the Winston Churchill Memorial and Library) located on the Westminster College campus in FultonMissouriUnited States, commemorates the life and times of Sir Winston Churchill. In 1946, Winston Churchill delivered his famous "Sinews of Peace" address in the Westminster Historic Gymnasium. His speech, due to one particularly famous phrase ("an ‘Iron Curtain’ has descended across the continent"), has come to be known as the "Iron Curtain" speech. One of Churchill's most famous speeches of all time, "Sinews of Peace" heralded the beginning of the Cold War.
The National Churchill Museum comprises three distinct but related elements: the Church of St Mary Aldermanbury, the museum, and the "Breakthrough" sculpture.

Aí estou eu, refletido no vidro da porta da entrada, para uma visita memorável, que me lembrou em algumas passagens as "catacumbas" do gabinete de guerra de Churchill em Londres, que visitamos um ano e meio atrás, quando fui dar uma palestra sobre o Brasil no King's College

Continuo com a informação: 
Beneath the church is the Churchill museum, renovated in 2006. Through interactive new exhibits, the museum tells Churchill's story, discussing his personal and political life and his legacy. Additionally, the Clementine-Spencer Churchill Reading Room houses an extensive research collection about Churchill and his era.
Outside the church stands the "Breakthrough" sculpture, formed from eight sections of the Berlin Wall. Churchill's granddaughter, artist Edwina Sandys, designed the sculpture in order to commemorate both the "Sinews of Peace" speech and the fall of the Berlin Wall.

In 1946, Winston Churchill travelled to Westminster College in order to deliver his famous "Sinews of Peace" address as a part of the Green Lecture series. An extraordinary confluence of circumstances conspired to bring Winston Churchill to Westminster. At the time, the College had a unique connection to U.S. President Harry S. Truman's administration—Major General Harry Vaughan, a graduate of Westminster College. College president Franc McCluer asked Vaughan to see what President Truman could do to induce Churchill to come to Westminster. President Truman thought the idea of bringing Churchill to Missouri (Truman's native state) was a wonderful idea. On the bottom of Churchill's invitation from Westminster College Truman wrote: "This is a wonderful school in my home state. Hope you can do it. I will introduce you."
So it was that two world leaders, Winston Churchill and President Harry Truman, descended onto the little campus of Westminster College in Fulton, Missouri.
Churchill arrived on the Westminster College campus on March 5, 1946 and delivered his address. Churchill's "Sinews of Peace" delineated the complications and tensions of that moment in world history—less than a year after World War II and at the dawn of the Cold War. Churchill had been watching the Soviet Union with increasing concern. Churchill feared another war. "A shadow has fallen upon the scenes so lately lighted by the Allied victory," he said; adding, "whatever conclusion may be drawn from these facts…this is certainly not the liberated Europe we fought to build up. Nor is it one which contains the essentials of permanent peace."
Churchill noted the tensions mounting between Eastern and Western Europe. "From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic," he said, "an ‘iron curtain’ has descended across the continent." Churchill then predicted what he called the formation of the "Soviet sphere.

Agora uma descrição do museu, em si: 

Winston S. Churchill: A Life of Leadership gallery
Renovated in 2006, in honor of the 60th anniversary of the "Sinews of Peace," the Churchill museum strives to bring Churchill to life for new generations born years after Churchill's death. The objective of the museum is to tell the story of Churchill's life, giving due proportion both to his successes and his failures, and to let visitors make their own determinations about the man and his place in history.
This narrative is presented in the form of a "walkthrough" experience, organized chronologically. The exhibition begins with Churchill's birth and proceeds through the major events of his life, alongside an examination of the critical events of the 20th century. The exhibit relates the story of Churchill's entire life—not only his experiences in World War II—examining his pursuits as a politician, soldier, journalist, family man, and painter.
Some of the highlights of this exhibition include the "Admiralty, Army & Arsenal: 1914-1919" room. This portion of the exhibit is housed within a recreation of a World War I trench—complete with barbed wire, sandbags, and spent ammunition—that gives visitors a sense of a British soldier's experience on the Western Front. A periscope mounted on the trench wall gives visitors a glimpse of a real World War I battlescape from period footage. An accompanying ambient audio track plays the sound of soldiers’ conversations interspersed with distant gunfire and shell bursts. The World War I room also examines Churchill's role in the disasters of the Dardanelles and Gallipoli and his contributions to the technology of warfare.
Another highlight of the exhibition is "The Gathering Storm: 1929-1939" room which discusses Churchill's suspicion of Hitler and the Nazi movement. In this room, five video monitors play excerpts from Nazi propaganda films interspersed with images of the impending war, demonstrating how Nazi rhetoric differed from policy. Against this backdrop, the exhibit examines Churchill's view of the Nazis and his disgust for Britain's pre-war appeasement politics.
Yet another room, "Churchill's Finest Hour: World War II, 1939-1945", portrays World War II and Churchill's pivotal role in that conflict. Here, a sound and light show replicates an air-raid on London during the "Blitz". Simulated rubble surrounds the room and the room reverberates with the sounds of bombs detonating and air raid sirens sounding. Flashes of anti-aircraft fire and the prodding beams of searchlights illuminate the exhibit. Segments of war-time broadcasts add to the atmosphere. After the conclusion of the Blitz demonstration, a short film, narrated by Walter Cronkite, examines Churchill's role as prime minister during the war. Around the walls of his room, more interactive displays describe the war-time skills of code breaking and plane spotting.
Other museum highlights include "The Sinews of Peace" room and the "Winston's Wit & Wisdom" room. "The Sinews of Peace" tells the story of how and why Churchill came to visit Westminster College. Featured in this exhibit are the lectern and chair used by Churchill during his speech and the ceremonial robes he wore. In "Winston's Wit & Wisdom" visitors sit in a simulated British club while listening to an audio presentation of Churchill stories. Visitors to this room may also search through a database of Churchill's most famous quotations and quips on a host of topics.

Foi, até agora, o ponto alto de nossa travessia pelos Estados Unidos.
Carmen Lícia fez várias fotos do museu, e minhas, fora e dentro do museu. Posto aqui uma delas.

Amanhã, ou melhor, hoje, terça-feira, dia 17, tem mais: vamos visitar o Memorial da Primeira Guerra Mundial em Kansas City, onde tem uma exposição especial sobre os dez anos que precederam a guerra.
A viagem continua.
Paulo Roberto de Almeida 

130 anos de República - Editorial Gazeta do Povo, Paulo Roberto de Almeida

Do meu ponto de vista, existe apenas um fato objetivo a ser registrado: hoje é UM dia. Ponto.
A República ainda não existe. Algumas das razões estão nesse editorial.
Resumo: o Estado sempre foi grande, e atualmente continua engolindo a sociedade. Os atuais donos do poder não vão mudar isso. Mesmo que tivessem consciência— e alguns não têm a mínima noção do que são políticas de Estado —, não têm convicção nem intenção. Seria preciso que fossem estadistas.
Conclusão: vamos continuar a nos arrastar penosamente em direção à modernidade, com várias bolas de ferro atadas às duas pernas.
Algumas dessas bolas são justamente representadas por alguns dos atuais donos do poder, nos três poderes...
Paulo Roberto de Almeida

130 anos de República

Editorial Gazeta do Povo
15/11/201

As bases da república inaugurada há 130 anos ainda estão aí e não foram capazes de lançar a nação rumo ao grupo dos países desenvolvidos

Neste 15 de novembro, a república presidencialista brasileira completa 130 anos desde sua proclamação em 1889, quando um golpe político e militar liderado pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca aboliu a monarquia parlamentarista, destituiu o imperador dom Pedro II e instaurou a república. O Brasil já havia decidido, 77 anos antes, tornar-se livre e responsável por seu destino com a declaração de independência em relação a Portugal, em 1822. Desde então, o país aprovou sete constituições, a “Lei Fundamental” das bases, princípios e normas sob as quais o país e sua população decidem como querem existir e se desenvolver. A primeira Constituição data de 1824, logo após a independência; a segunda, de 1891, menos de dois anos após a proclamação da República; a terceira, de 1934, na chamada Segunda República; a quarta, de 1937, na época do Estado Novo, sob a ditadura de Getúlio Vargas; a quinta é de 1946, voltando às bases da Constituição de 1934, para eliminar os ditames do regime autoritário getulista; a sexta, de 1967, foi elaborada pelos militares que haviam assumido o poder em 1964, com o golpe que depôs João Goulart; por fim, a sétima – e que vigora até hoje – foi promulgada em 1988; apelidada de Constituição Cidadã, ela consolidou a redemocratização iniciada em 1985.

Essas sete constituições e suas emendas resultaram todas da promessa de criar as bases para o desenvolvimento nacional, superar a pobreza e oferecer um bom padrão de vida e de bem-estar social ao povo brasileiro. A Constituição atual, promulgada em 5 de outubro de 1988, já teve pouco mais de 100 emendas, entre as ordinárias e as emendas de revisão, e ainda terá várias outras, a julgar pela quantidade de PECs em tramitação no Congresso Nacional. Portanto, não é por falta de normas constitucionais que o Brasil continua com baixo crescimento econômico, elevado desemprego e altos índices de pobreza. O problema não reside na quantidade de normas, mas em seus princípios e sua qualidade.

Vários erros foram cometidos pelo país ao longo de sua história, e eles fazem parte da explicação sobre o atraso e a pobreza, a despeito das riquezas naturais abundantes. Sempre são invocadas causas como a formação nacional, a cultura, os hábitos e a mentalidade da população – temas que são objeto de profundas controvérsias –, aos quais se juntam erros conhecidos. Um deles, a industrialização tardia e a permanência do país dependente de um setor agrícola pobre e sem tecnologia, como resultado do fato de que, embora a independência tenha ocorrido em 1822, somente em 1844 foram instalados os primeiros pilares para a industrialização.

Outro erro foi a demora em abolir a escravidão, o que ocorreu somente em 1888, retardando o surgimento de uma classe de trabalhadores livres, necessários para o novo ciclo de desenvolvimento baseado na indústria e nas tecnologias surgidas a partir da Revolução Industrial décadas antes. Os trabalhadores livres teriam sido importantes para formar uma classe com renda capaz de significar uma nova classe de consumidores, necessária à formação de um mercado consumidor interno. Para agravar o quadro, o terceiro erro foi a não criação, junto com a declaração da independência, de um sistema de educação básica pública e gratuita para todos os brasileiros. A omissão do Estado em relação à educação, desde a expulsão dos jesuítas em meados do século 18, foi talvez o mais grave dos erros. No tempo da colônia, os jesuítas atuavam na educação brasileira, mas, após um longo histórico de problemas com a Coroa portuguesa, o rei dom José I, aconselhado pelo Marquês de Pombal, decidiu pela expulsão dos jesuítas do reino português e suas colônias em 1759, sem que o governo – seja o português, até a independência, seja o imperial, depois de 1822 – assumisse a tarefa de montar um moderno sistema educacional.

Embora a industrialização tardia, a demora em pôr fim à escravidão e a inexistência de um sistema educacional tenham dado causa à pobreza e ao baixo desenvolvimento que vigoram até hoje, esses fatos da vida nacional não respondem sozinhos pelo atraso do país. As bases da república inaugurada há 130 anos ainda estão aí e não foram capazes de lançar a nação rumo ao grupo dos países desenvolvidos. Um dos problemas é que, a cada Constituição implantada, aumentava o inchaço do setor estatal; mais o governo passava a interferir na vida dos indivíduos e nos negócios, mais a burocracia estatal se tornava cara, ineficiente, sufocante e corrupta, de forma que se acabou criando uma sociedade a serviço do Estado, e não o inverso, que seria o correto.

Ulysses Guimarães, presidente da Câmara e da Assembleia Nacional Constituinte na promulgação da Constituição de 1988, chamou a carta magna de “Constituição Cidadã” sob o argumento de que ela trouxe o cidadão para dentro da lei fundamental, alegando que isso iria servir aos pobres e melhorar as condições sociais. A intenção pode ter sido boa, mas o que se viu, ao longo desses 130 anos de República e 31 anos da Constituição de 1988, com suas mais de 100 emendas, foi um país amarrado, lento, fechado e pouco inovador. O povo não foi trazido para dentro da Constituição: pelo contrário, o Estado subiu nos ombros do povo para tributá-lo e controlá-lo. O resultado é que nem os 130 anos de República, nem os quase 200 anos de independência (a completar em 2022), e muito menos a Constituição Cidadã foram suficientes para tirar o país do atraso, superar a pobreza e melhorar o padrão de bem-estar social médio dos 208,5 milhões de habitantes a ponto de tornar o Brasil um país desenvolvido. O desafio de cumprir os objetivos declarados na Carta Magna continua aberto, à espera das reformas que efetivamente coloquem o Estado para servir o cidadão.

Copyright © 2019, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.