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quinta-feira, 11 de julho de 2024

Parlamento do BRICS+: uma proposta oportunista de Putin - Paulo Roberto de Almeida

Putin propõe um ‘Parlamento’ para o Brics+

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre uma proposta de Putin e seu aspecto manipulativo. 

 

Hoje no Mundo Militar, 11/07/2024: 

“Vladimir Putin disse hoje que pretende criar um "parlamento para o BRICS". O objetivo é acelerar o processo de transformação do BRICS em um bloco antiocidental de países, liderado pela Rússia e pela China, para enfrentar o bloco liderado pelos EUA e Europa, com o Brasil inserido no bloco russo-chinês.”

Link: https://x.com/hoje_no/status/1811410042165338238?s=08

 

Comentário de Paulo Roberto de Almeida:

A realidade é que o BRIC original NUNCA correspondeu a uma coordenação política pensada estrategicamente pelas quatro diplomacias originais como perseguindo objetivos legítimos, convergentes, propositivos, visando desenvolvimento econômico e social, dento do espírito e da letra da Carta das Nações Unidas, de quatro grandes economias não ocidentais. Entre 2006 e 2009, funcionou em nível ministerial, entre os quatro membros iniciais (Brasil, Rússia, China e Índia), a partir de 2009 em nível de cúpula. A África foi introduzida em 2011 pelas mãos da China, para atender a seus objetivos africanos. 

Ele tinha sido concebido, na origem, por um economista de banco de investimentos, com base num mero estudo de caráter não diplomático, mas como plataforma para investimentos, visando metas puramente financeiras. 

Sua ideia foi usada pelos chanceleres de quatro governos que possuíam suas próprias metas nacionais, mas é evidente que as duas grandes autocracias, já exibindo desacordos com uma suposta “hegemonia ocidental”, buscaram transformá-lo num grupo diplomático, de maneira oportunista, para atender a objetivos nacionais, segundo seus próprios critérios geopolíticos, diplomáticos, talvez militares. 

Não existe um ÚNICO acordo econômico-comercial entre os cinco membros da era BRICS, mas criaram, em 2014, um banco de fomento a investimentos em infraestrutura (o que os demais bancos multilaterais podem fazer, ou fundos institucionais ou o mercado de capitais, talvez com critérios de eligibilidade próprios às grandes empresas chinesas, pois o banco tem sede em Xangai), e um fundo de socorro emergencial que não foi ainda testado. 

Sua ampliação em 2023 para cinco novos membros (o BRICS+, agora com países alinhados a uma visão mais propriamente russo-chinesa do mundo) adota uma outra visão diplomático-estratégica, que talvez não seja mais aquela que prevalecia nos anos 2000.

A proposta atual de Putin de se instituir um Parlamento do Mercosul representa um passo a mais no sentido de formalizar o grupo de dez (ou mais países) como um instrumento a mais na panóplia de ativos suscetíveis de serem mobilizados para declarações convergentes com os objetivos diplomáticos das duas grandes autocracias. 

Cabe agora verificar se países dotados de objetivos próprios no cenário internacional, e ciosos de sua autonomia própria no domínio das políticas externas nacionais (como Brasil e Índia), vão alinhar-se aos interesses de um império expansionista, que conduz atualmente uma guerra de agressão, e a outro país decisivo no terreno comercial e tecnológico, que pode dar início a uma nova guerra de agressão.” 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4701, 11 julho 2024, 2 p.


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