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sábado, 12 de julho de 2025

Uma pequena grande história do Brasil contemporâneo- Arnaldo Barbosa Brandão

 A HISTÓRIA DO BRASIL (que não está nos livros)

Do a.b.b.

Onde eu parei mesmo? Ah, foi em Getúlio. Houve uns 5 Getúlios. O jovem que se vestia como um lorde e usava aqueles sapatos de duas cores e terno branco e que pegava as gaúchas. O político preferido do Borges de Medeiros(governador do Rio Grande), com quem aprendeu todas as artimanhas pra se manter no poder por anos e anos. O Getúlio que chegou nos braços do povo ao poder em 1930 e que governou cem certa flexibilidade. O ditador que governou com mão de ferro o país, de 1937 até 46 e o presidente eleito em 1950 que enfrentou uma oposição feroz do udenismo com Carlos Lacerda à frente, e que acabou suicidando-se em 1954. Talvez, sabendo do que ocorreu entre 30 e 55, fique mais fácil para os mais jovens entenderem porque houve o golpe ou revolução de 64, sei lá. Pois é, quando eu era jovem achava que foi golpe, agora, sei lá. Vou ficar com o que disse FHC quando era sociólogo em 1972: “O golpe de 64 acabou por ter consequências revolucionárias no plano econômico”. Não foi só o Jango. É que os militares (nem todos), não perceberam que os tempos eram outros e o Brasil, bem, o Brasil tinha estado na 2ª Guerra e houve o governo JK ( 50 anos em 5 não digo, mas 10 em 5, quem sabe). Bem que fiquei tentado, mas não há como fazer comparações entre a ditadura de Getúlio e a dos militares em 64. Mundos diferentes, Getúlio mudou o Brasil e JK ajudou. Os militares pós-64 também mudaram o Brasil. Sem eles não haveria Brasília, que JK deixou 5% pronta e eles completaram, nem Petrobrás, que Getúlio criou e não se interessou (perguntou aos gringos se queriam o petróleo), nem EMPRAPA, que Rockefeller criou com o nome de Ceres e que viabilizou a soja e o milho no cerrado, e de quebra o gado. Nem haveria as estradas que JK começou e eles esticaram, nem energia elétrica (Itaipu), nem as universidades. Sem eles estaríamos no escuro, depois dos militares não me lembro de nada que alguém tenha feito (infra-estrutura), nem os portos, nem o FGTS(invenção do Roberto Campos). Pensando bem, até o Lula é criação dos militares, que desejavam uma esquerda desvinculada do comunismo que dominavam os sindicatos. O fato é que nos governos militares teve de tudo, mas dá pra separar o trigo. Castelo era feio como uma trombada  de trem, mas era trigo, Geisel se escondia atrás dos óculos escuros, falava pouco, mas era trigo, Golbery era trigo, sem eles estaríamos numa enrascada política e econômica. Glauber percebeu isso antes de todos. Bem, depois dos militares, veio o Sarney que fez o Plano Cruzado 1, 2 e não deu em nada, depois Collor que fez merda, depois Itamar que conta, fez o Plano Real, depois FHC que deu uma estabilizada na economia e na política, depois veio o Lula e sua gente: fez-nos lembrar que havia pobreza no país, e também lembrou-nos que o sindicalismo continua o mesmo de sempre.  Voltemos a Getúlio. Lembre-se que ele não admitia adversários, já os militares de 64, mais ou menos. Getúlio eliminou logo os dois principais: comunistas e fascistas. Morreu muita gente e muitos foram exilados, a mulher do Luiz Carlos Prestes, Olga Benário, foi entregue ao Nazistas, Prestes foi preso e torturado. Getúlio enfrentou de cara a “revolução constitucionalista de 32”, na verdade uma contra-revolução. São Paulo (leia-se a elite paulista) rebelou-se. Até o Mario de Andrade lutou por São Paulo, quem diria. Não pegou no fuzil, usava uma caneta, que, às vezes pode ser mais letal. O problema é que São Paulo queria o divórcio (e na certa iria ficar com a casa e os móveis). Lembrem-se que Getúlio prendeu até Graciliano Ramos, foi bom (nada, prisão é péssimo, já fui preso, sei como é), porque daí saiu o “Memórias do Cárcere”. A outra diferença é que Getúlio tinha uma visão mais “compreensiva” das relações sociais e principalmente, trabalhistas. Getúlio, como todos os ditadores, comunicava-se diretamente com as “massas” e centralizava todo o poder. Nomeou interventores para quase todos os estados, a maioria militares, muitos se perpetuaram no poder. Diferente dos militares em 64. Voltando a subir o morro, nesta época também aparecem uns sambas ressaltando a liberdade nas favelas, ao contrário da ordem e das normas mais rígidas no chamado asfalto. Confiram as letras do próprio Herivelto e de outros. Já estamos falando dos anos 50, e eu já residia no Morro da Coroa e via o “pau comer” todos os dias, porque a chamada “malandragem” descia de vez em quando e aprontava alguns roubos e assaltos nos bairros onde as favelas estavam estabelecidas, ou vocês pensam que os tiroteios nas favelas começaram agora. É bem verdade que a arma mais poderosa era o 45, embora meu pai usasse um parabélum. Há alguns estudiosos que tem uma visão romântica dos chamados “malandros”, é porque nunca moraram nas favelas. Nesta época(anos 40 e 50) chegaram os nordestinos (do sertão e adjacências, não do litoral), o que deu uma mistura interessante nos morros, uma argamassa explosiva, a julgar pela reação do meu pai, que detestava candomblé, samba, barulho e outras “pataquadas desses crioulos safados”, como dizia, mas um de seus melhores amigos era negro e veio da Bahia com ele, na quarta classe de um navio. Os nordestinos, em geral, preferiam os subúrbios, foi o período de crescimento dos subúrbios e da Baixada Fluminense e das cidades do ABC em São Paulo. Getúlio, que já era chamado “o pai dos pobres”, cria então, a “polícia especial”, que, como diz o nome, era especial, ou seja, podia fazer qualquer violência que quisesse. Lembro que usavam uns cassetetes de borracha, em substituição aos de madeira, porque doía, mas, não quebrava nada. Foi um grande avanço social. A polícia era a lei e acabou-se, entenderam porque até hoje não temos noção de justiça e morremos de medo da polícia, até hoje não aprendemos na escola que um processo começa com uma investigação policial, acompanhado por um promotor, e que vai para um juiz que manda prender. Aqui os processos começam com a “prisão do meliante para averiguações”. Aprendam mais esta: Só quem pode mandar prender é um juiz, a não ser em flagrante delito, mas até hoje qualquer policial de meia-tigela prende você na rua e tu ficas(atenção revisora, é assim mesmo) mofando dias e dias, se for pobre, meses e meses e até anos. Outro fato importante, é que Getúlio fazia uma diferenciação muito grande entre pobres e trabalhadores. Pobres eles sequer reconhecia, dirigia-se aos “Trabalhadores do Brasil”. E como nas favelas só moravam pobres e alguns poucos “trabalhadores formais”, as favelas sequer eram reconhecidas. Alguns podem pensar: “mas Getúlio era um ignorante”. Não, Getúlio era culto, ele não era do time relativista, mesmo porque, na época quem mandava era o positivismo. Melhor ler o Pedro Demo(Metodologia Científica em Ciências Sociais) pra entender essas questões teóricas, em vez de ficarem se escorando no Google ou perdendo tempo com os filósofos franceses.  Todas essas coisas que estou contando aqui, tiveram e ainda produzem, repercussões sobre o crescimento das favelas, e da criminalidade. Interessante, é que Brizola, um político oriundo do Getulismo, foi um dos primeiros a compreender que as “favelas” não eram só um fato físico, mas também social. E olha que eu não gostei do governo Brizola no Rio, mas isso não é vantagem, não gosto de nenhum governo, e por incrível que pareça, foi o governo que construiu o maior número de viadutos, claro, por influência do Jaime Lerner (linha amarela, linha vermelha), mais ainda, foi um dos primeiros governos que pensou em aproximar ricos de pobres, via transporte coletivo, lembro das madames de Ipanema indignadas por causa de uma linha de ônibus que fazia Ipanema-Metrô. Bem, agora o Metrô chegou a Ipanema, aquilo vai ficar igual churrascaria de subúrbio aos domingos. O jeito é escapar pro Leblon e pra Barra. Voltemos a subir o Morro. Se os morros eram territórios que o governo não reconhecia, e a polícia só aparecia de vez em quando, quem mandava nas favelas? Digamos no dia-a-dia? Os primeiros que se apresentaram com algum programa de governo foram os bicheiros, depois veio a Igreja católica, por causa de Dom Helder, se bem que conheci um padre que tinha “pontos” de jogo. Alguns bicheiros ficaram famosos, caso do Natal da Portela, que começou de baixo como apontador e virou banqueiro, isso com um só braço, imagine se tivesse os dois. Os bicheiros e sua influência sobre as favelas dariam um livros de milhares de páginas, mas não sou eu quem vai escrever, é coisa pra quem? Sociólogos? Conheci poucos que se interessaram, digamos o Carlos Nelson Pereira dos Santos e a Lícia do Prado Valadares, nome bonito? Ela também. Cheguei a namorá-la, mas não deu certo, por minha culpa. Houve também o Artur Rios, e os estrangeiros. O mais importante deles foi, sem dúvida, o (CONTINUA OUTRO DIA).

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