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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 22 de março de 2025

OS DOZE MAIORES FILMES BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS - Arnaldo Barbosa Brandão (ABB)

OS DOZE MAIORES FILMES BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS

Do a.b.b.

Sei que muita gente evita os filmes brasileiros, mas nós já fomos bons nesta arte, que sem dúvida é a “arte” do século, a tv tá mostrando isso. 

1.NO PAIZ DAS AMAZONAS. Filme de 1921 feito por um tal Silvino Santos(nada a ver com Silvio Santos). Lançado pela primeira vez no Cine Pathé em Paris. Depois no Rio de Janeiro em 1923. Sucesso estrondoso. Tenho visto trechos dos filmes do Silvino a partir do documentário de um cineasta chamado Aurelio Michiles. O documentário é de 1997 e costuma passar no Canal 53. A história do Silvino Santos é destas que só acontecem no Brasil. Um cara faz um filme sobre a Amazônia no início do século XX, filmando em áreas remotas da Região, financiado por um Comendador da Borracha, e ninguém fica sabendo, até que aparece o Aurelio Michiles e conta tudo através de um documentário. Pra se ter ideia da coisa, o tal Silvino Santos era um cara pobre que foi trabalhar em Belém, aproveitando ainda o período áureo da borracha, então ele casa. Vocês sabem como é. O cara só tem três chances de ficar rico na vida: quando nasce, quando casa, ou ganhando no jogo do bicho. 

2. LIMITE. Do Mário Peixoto. Tem gente que pensa que o Brasil sempre foi esta pasmaceira que vivemos agora, com um bando de ignorantes mandando no País. Antes do cinema novo, antes do neorrealismo italiano, antes de Orson Welles, antes de tudo, mas depois do expressionismo alemão, nós estávamos lá na frente. Muitos pensam que foi Hollywood quem inventou o cinema nos termos que se conhece hoje. Não foi. Foram os alemães que, tirante os gregos, inventaram quase tudo (comecem pelos filósofos, depois os físicos, depois a música).  Depois dos alemães somos nós com “LIMITE”, depois sim é que apareceu Hollywood, quando os alemães (Fritz Lang, entre outros) fugiram do Hitler e criaram o grande cinema americano(muita gente vai gostar de saber disso, pena que não foi bem assim). Os gringos ofereciam tudo (casa, carros e salários) para que os caras ficassem, assim como fizeram durante e depois da 2ª Guerra. Queriam os talentos, enquanto nós que tínhamos o talento e a demanda, não conseguimos criar uma empresa (organização) para desenvolver o cinema. Houve tentativas como a Atlântida, mas não foram pra frente. Por quê? Boa pergunta. Pois bem, vamos a um dos grandes talentos. O cara morava no Rio, era muito rico e decide fazer um filme para mostrar que o tempo é uma coisa ilusória. Será? Era jovem, culto, rico, e terrivelmente talentoso. Então pôs as mãos-a-obra. O filme é de 1930 quando o Brasil vivia uma de suas costumeiras revoluções que nunca dão em nada, mas ele não falou em política, vivia num mundo a parte, muito mais interessante, o mundo da arte. Quem vê-lo verá o expressionismo alemão nos seus grandes momentos, verá Antonioni no original, antes dele ter feito àqueles lindos filmes com a Monica Vitti.O cara (Mário Peixoto) é uma lenda como Glauber, mas muito diferente do Glauber, era introspectivo, quieto, delicado. Juntou alguns atores amadores, tinha grana pra bancar, então resolveu fazer uma obra de arte sem interferência de ninguém. O filme foi mostrado para ninguém menos que o Eisenstein em Londres, e ele adorou, embora eu não goste muito do Eisenstein.   

3. O CHEIRO DO RALO. Selton Melo se apaixona por uma bunda, não preciso dizer mais nada. Filme interessante sobre um objeto interessante. Não devemos nos esquecer que Drummond tem um poema muito bom sobre ela (a bunda).

4. DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL. 1964 ou 65, não sei, só sei que foi durante o regime militar, nosso período mais produtivo nas artes, talvez porque tivéssemos um inimigo. Glauber Rocha exagerava. Então fez logo três filmes que colocaram o cinema brasileiro entre os maiores do mundo. Pois é, já tivemos um dos melhores cinemas do mundo, quem diria. Os outros dois são BARRAVENTO e TERRA EM TRANSE. Para completar o estrago fez ainda o documentário “MARANHÃO 66” encomendado pelo Sarney(onde ele sacaneia o Sarney, foi o único que conseguiu), depois fez o “Di”, documentário sobre o enterro do pintor (proibido pela família). Imagine o que Glauber andou fazendo depois com a câmera na mão e muita merda na cabeça. Nem vou falar dos livros do Glauber, uma porralouquice total.

5. VIDAS SECAS. Nelson Pereira dos Santos faz seu grande filme em que a atriz principal era a cachorra Baleia. Prefiro “Cinco Vezes Favela”. Agora o grande Nelson está no céu, devia fazer um filme sobre aquilo lá, não, melhor deixar para o Glauber.

6. OS CANGACEIROS. Lima Barreto(cineasta) faz um faroeste brasileiro. Aparecem até uns desfiladeiros no meio da Caatinga.

7. O TEMPO E O VENTO 1985. Série de televisão dirigida pelo Paulo José em 1985 com base na saga do Érico Veríssimo, um dos maiores escritores brasileiros. Música do Tom Jobim, mas há também outras canções gauchescas, só faltou Teixeirinha. Uma das melhores coisas feita pela TV brasileira. Pra quem vive metendo o pau na TV Globo por razões ideológicas, esquecendo-se de ela produziu belas coisas. Tarcisio Meira fez seu grande papel como um capitão Rodrigo inesquecível.

8. SÃO BERNARDO. 1971. Leon Hirzman faz um dos dez maiores filmes brasileiros com base na grande obra de Graciliano Ramos. Tem gente que prefere “Vidas Secas”, mas eu prefiro São Bernardo, nada apelativo e mais profundo e sem maiores influências do neorrealismo, captando o espírito do livro. Grande livro.

9. ESTÔMAGO. Filme interessante que mostra o poder da comida e de quem sabe fazê-la. Muito humor, muita influência do neorrealismo italiano. Muito tudo.

10. O PAGADOR DE PROMESSAS. Anselmo Duarte ganha a Palma de ouro em Cannes com filme baseado na obra do grande teatrólogo Dias Gomes, hoje esquecido.

11. O FORNO. Humberto Mauro. Documentário do grande mestre de Cataguazes. Não sei se vão achar. Vi no cinema, quando eles ainda existiam, só em Copacabana havia uns dez. Na Tijuca havia uns seis. No Centro nem se fala. 

12. BUROCRACIA. 1968. Filme do Miguelzinho Freire com o a.b.b. como ator principal e roteirista. A história do cara que passa meses tirando atestados pra se internar e fazer uma cirurgia, mas morre antes. Filme bem atual. Passa todos os dias nos hospitais de Brasília. 

 OBS. Agora tem esse ai que ganhou o OSCAR com a Fernanda Torres que ainda não pude ver (não aguento ficar sentado tanto tempo, tenho que me mexer) depois de ver todos os filmes do mundo que passavam nos cinemas da Cinelândia (franceses, italianos, ingleses ,poloneses, russos, tchecos, etc.)


sábado, 14 de novembro de 2015

Nao existem falhas de mercado; se falhas existem, elas sao de governo - Paulo Roberto de Almeida


Não existem falhas de mercado; se falhas existem, elas são de governo

Paulo Roberto de Almeida
Com meus agradecimentos ao Arnaldo Barbosa Brandão

Adam Smith vai ao cerrado
Estou lendo um “romance” saboroso: Encaixotando Brasília, o segundo de uma trilogia do Arnaldo Barbosa Brandão (Brasília: Verbena, 2012), e chego ao capítulo V, “Uma certa Brasília”, que descreve, em tons literários, supostamente verdadeiros, mas com alguns traços de “macondianismo”, suas primeiras andanças e vivências na capital em construção:
“Foi em Brasília que vi, pela primeira vez, alguém comprando um produto insólito. A fila começava na W3 Sul na altura da 509... e ia até a 511, esticando-se por uns quinhentos metros, e o mais singular, só tinha homens. No princípio da fila notei um ajuntamento maior de pessoas e bem no centro um camelô, vendendo uns frasquinhos miúdos com algo dentro que não conseguia divisar de longe. Aproximei-me, curioso, tentando saber que produto precioso era aquele, que obrigava as pessoas interessadas a tanta espera e quando recebia saíam exultantes, correndo, dando pulinhos. Ouvi claramente o camelô gritar: “este é garantido!” Imaginei que fosse algum remédio popular feito de ervas, tinha uma cor amarronzada, acabei por perguntar a um dos compradores, que me olhou desconfiado e não respondeu, aguçando ainda mais minha curiosidade. Finalmente, a muito custo, cheguei ao bolo de gente e indaguei do dono do negócio, que me respondeu secamente:
– É fezes, mas é garantido, não tem qualquer tipo de lombriga, com nossa merda seu exame de fezes dá sempre negativo.
Aí entendi tudo! Os empregadores exigiam abreugrafia e exame de fezes..., se os candidatos ao emprego levassem suas próprias fezes certamente daria positivo para uma infinidade de lombrigas e eles perderiam a vaga.” (p. 63-64)

O que descreve Arnaldo Barbosa Brandão, o famoso a.b.b., em tom irônico, é a própria “mão invisível” de Adam Smith, em pleno e livre funcionamento no cerrado. Os microempresários do planalto central, consoante seu tino empreendedor, não estão fazendo nenhum favor aos sôfregos candidatos a um emprego qualquer na Brasília em construção: ao vender merda em frasco, eles estão apenas atendendo às demandas dos pretendentes que se confrontam a uma regra qualquer estabelecida pelo governo. Em face dessa “restrição indevida” das condições de mercado – laboral, neste caso – empresários atentos dão um jeito de contornar as obrigações oferecendo o produto desejado, merda engarrafada, confirmando assim, em toda a sua glória, a grande, talvez única, lei da economia, o encontro da demanda com a sua oferta.
Em outros termos, você não precisa enfrentar as 2.500 páginas escritas num inglês oitocentista do genial escocês fundador da economia política para entender como funciona a “mão invisível” de que falava Adam Smith: basta ler o saboroso romance de Arnaldo Barbosa Brandão, arquiteto de formação e homem de muitas outras artes e ofícios, para ter uma ideia exata de como funciona o mercado, o que também explica o título desta pequena crônica. O mercado está sempre aberto a todo e qualquer tipo de transação, mesmo as mais insólitas, como a descrita neste trecho do romance do a.b.b. São os governos que impõem determinas regras – restrições, seria a palavra exata – o que faz com que o mercado encontre, quase imediatamente, a “solução” para a falha criada por uma autoridade qualquer.
Meu objetivo aqui não é o de sugerir novas e imaginativas formas, sobretudo insólitas, como essa, para que empresários atentos contornem certas falhas de governo. Meu objetivo é justamente o de defender o argumento de que não existem falhas de mercado, como alegam, talvez, mais de 90% dos manuais de economia, sobretudo os de corte keynesiano, pois os mercados funcionam perfeitamente bem, sempre. Se falhas existem, elas são sempre de governo, como teremos oportunidade de mostrar em próxima crônica.
Salve a.b.b.! Vamos adiante no romance...

Brasília, 14 de novembro de 2015, 2 p.