O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Arnold Toynbee. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arnold Toynbee. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Um novo Estudo da História? - Paulo Roberto Almeida

Um novo Estudo da História?

Paulo Roberto Almeida


A partir dos anos 1930, indo até o início dos anos 1960, o historiador britânico Arnold Toynbee produziu os muitos volumes do seu monumental Um Estudo da História, sintetizados num único volume em duas oportunidades do pós-guerra. 

Ele traçou a emergência, ascensão e declínio de mais de duas dezenas de grandes civilizações históricas, buscando detectar as similaridades ou constâncias nesses processos, sempre por fatores estruturais, próprios às suas evoluções, mas alguns de natureza contingente, como guerras, invasões externas e dominação por forças mais poderosas, ou grandes desastres naturais. 

Ele não tinha sido apresentado ainda a um fator relativamente incongruente que é a possibilidade de um idiota completo ser democraticamente eleito por uma larga tropa de similares e começar a destruir sistematicamente um país, que ocorre ser uma das mais prometedoras civilizações da História.

Não contava com a astúcia muito pouco hegeliana da História.

Sorry pela brincadeira…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 2/02/2025


terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia? - Paulo Roberto de Almeida

Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia?

Paulo Roberto de Almeida


Todos somos prisioneiros da “ditadura do momento”, ou tendemos a ser.

Os Founding Fathers se referiam a, e queriam, um tipo de sociedade que não existe mais, convergente no trabalho honesto, ao estilo da “ética protestante” de Max Weber.

Já são muitos os exercícios teóricos sobre os EUA totalmente disfuncionais e em declínio inevitável. Arnold Toynbee, por exemplo, nos volumes posteriores à IIGM do seu monumental Estudo da História, já acreditava nessa decadência no momento de maior poder mundial dos EUA, em 1947. 

Seu sistema eleitoral, por exemplo, foi feito para evitar a “tirania da maioria”, como dizia Tocqueville, mas essa maioria pode ainda assim produzir a tirania da mediocridade, com uma democracia de massas que se opõem ao conhecimento de uma elite educada. 

Os EUA chegaram à mediocridade da maioria?

Olhando a turba que apoia Trump de maneira irracional parece que sim.

Contemporaneamente aos Founding Fathers, o romancista James Fenimore Cooper - o do Último dos Moicanos - já dizia que a democratização leva inevitavelmente à mediocrização. 

Talvez seja o caso. Sociedades homogêneas e pequenas talvez consigam conservar a qualidade do regime democrático; grandes sociedades muito diversificadas podem correr o risco da “tirania da mediocridade”, sujeitas à “ditadura” de algum oportunista capaz de encantar e manipular a maioria de cidadãos pouco educados.

Acho que a maioria dos pouco educados nos EUA encontrou o seu oportunista idiota que os conduzirá ao aprofundamento de um declínio toynbeeano.

Enquanto isso, a China milenar aposta numa sociedade do conhecimento e isso não tem muito a ver com a “ditadura de um partido leninista” e sim com a tradição persistente de um regime tecnocrático baseado na seleção mandarinesca dos mais competentes para gerir uma boa administração das coisas e das pessoas.

O PCC é mais chinês do que marxista-leninista, uma doutrina que ficou na superfície da estrutura política; a infraestrutura humana continuou mandarinesca, isto é, meritocrática.

Nos EUA, a meritocracia parece ter se deixado aprisionar por um oportunista obcecado pela ideia de sua própria grandeza, que ele confunde com a grandeza americana, quando o país já deixou de ser uma sociedade do conhecimento para valorizar apenas a riqueza fugaz do ganho financeiro.

O “enriqueça rapaz” já não segue mais os preceitos austeros de um Benjamin Franklin, e sim o oportunismo manipulador de um especialista em enganar os incautos como o idiota ignorante de um Trump.

Pior para os americanos, sorte dos chineses, que continuam a valorizar o conhecimento de longo prazo sobre o enriquecimento rápido.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 21/01/2025

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Meus julgamentos “civilizatórios” - Paulo Roberto de Almeida

Meus julgamentos “civilizatórios”

Paulo Roberto de Almeida


Por que uma nação tão inovadora precisava se entregar a um completo imbecil como seu dirigente máximo? Foram os caipiras do interior que ajudaram nessa “inovação”.

Por que uma civilização tão sofisticada, retrasada uma vez por um imperador idiota, precisava recair novamente sob o domínio de um novo imperador, que vai acarretar uma nova estagnação? Aqui talvez seja o simples resultado do carisma burocrático do partido leninista.

O leninismo - que existe na direita também - é a combinação do cientificismo messiânico do marxismo europeu com o voluntarismo ousado do taylorismo americano. 

Lênin era um gênio na política e uma cavalgadura na economia, ao ignorar a força dos mercados, ou do simples cálculo econômico: conseguiu fazer um elefante voar durante 70 anos, com base no escravismo stalinista, até que ele desabou estrepitosamente no fracasso, não por falta de mísseis, mas de meias de nylon.

Putin quer fazer o elefante reviver outra vez, mas não vai conseguir. 

Trump é um Putin, mas bem mais idiota, que vai fazer a América retroceder. 

Xi é um imperador que não presta muita atenção ao que lhe dizem os seus melhores mandarins do PCC. 

Uma pena!

Por que três grandes “civilizações” precisam se estiolar assim de modo tão ridículo?

Por vezes, não são tanto as “forças profundas da História” que movem, ou desmovem, as civilizações, mas fatores contingentes do itinerário civilizatório que impulsionam as paixões e interesses dos humanos em pequenos ou grandes impasses societais.

Preciso revisar o meu Toynbee…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 14/01/2025

Complemento: 

Nesta terceira década do século XXI, quase um século depois que Toynbee começou suas reflexões históricas – num momento ainda de primazia europeia sobre o mundo, mas já no começo de um declínio muito pouco spengleriano – existem três grandes impérios e um meio império, justamente o europeu.

O americano ainda é o hegemônico, e mais preeminente, no plano militar, econômico, tecnológico e cultural, mas já batendo pino. O russo é puramente bélico, apoiado em grandes recursos naturais, quando o que conta são recursos humanos, e ele está perdendo, natural e insanamente, como ocorre com certos imperadores. O chinês é o mais sofisticado de todos, e está destinado a ser dominante economicamente pelo resto do século XXI, mas sua civilização não é exportável, como a americana o é.

O meio império europeu é ainda o mais charmoso dos três, o mais agradável culturalmente e gastronomicamente, mas os europeus estão cansados, se abrigaram durante muito tempo sob o guarda-chuvas bélico americano, mas não trabalham tanto quanto os chineses e não inovam como os americanos (com muitos cérebros importados do resto do mundo), por isso estão numa longa estagnação.

Aquilo que os americanos chamam de ROW, Rest of the World, não conta muito. A Índia, por exemplo, anunciada como a próxima grande potência, é um caos há 3 mil anos e deve continuar um caos pelos próximos 500 anos, com suas muitas castas. O Sul Global não existe, mas mesmo se existisse, seria uma bagunça, como é, de fato. O Brasil é inovador e atraente, mas acaba importando o que há de mais nocivo na "civilização" americana: o armamentismo, as drogas, a vulgaridade e a obesidade. 

Parafraseando Mário de Andrade, "progredir, vamos progredir um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade."

Desculpem as reflexões da madrugada...


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Brincando de Arnold Toynbee: os destruidores da ordem mundial - Paulo Roberto de Almeida

Brincando de Arnold Toynbee: os destruidores da ordem mundial 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

Como sempre, gosto de refletir historicamente. Aqui vão minhas especulações sobre o presente.

Estamos assistindo agora à terceira desordem mundial, criada por Putin. A primeira foi a do Napoleão, que bagunçou toda a ordem tradicional da Europa no início do século XIX. A segunda foi a dos tiranos fascistas na primeira metade do século XX, que levaram à maior destruição desde as guerras de religião do século XVII. A terceira é esta que está diante de nós, fabricada inteiramente por um êmulo de Hitler e de Stalin: o que virá depois?

No início do século XIX tivemos o Congresso de Viena, que trouxe quase um século de paz, na Europa. Em meados do século XX, tivemos Dumbarton Oaks (não San Francisco, mero carimbo e assinaturas), que criou a ordem sob a qual vivemos nos últimos 80 anos. 

Depois da derrota da Rússia, pois ela será derrotada, a despeito da cumplicidade da China, o que só prolongará a agonia, o que teremos? Uma nova conferência multilateral para completar o que ficou faltando implementar na Carta da ONU: uma comissão militar operacional, para segurar os candidatos a novos tiranos? 

Duvido um pouco, pelo menos enquanto Putin e Xi estiverem no poder. 

Aplicando o paradigma Thomas Kuhn, precisaremos esperar a morte dos últimos tiranos?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4091: 24 fevereiro 2022, 1 p.