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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005: Recomendações Bibliográficas - Paulo Roberto de Almeida

Já me requisitaram diversas vezes uma seleção de leituras para o concurso de ingresso à carreira diplomática. Nunca quis fazer, inclusive porque nunca quis me associar a nenhum cursinho preparatório, assim como nunca fiz manuais para esse tipo de concurso, a despeito de demandas de editoras para tanto (eu nunca faço nada por encomenda, apenas o que eu quero fazer).
De toda forma, minhas "recomendações" de leituras, pela parte interpretativa, talvez não ajudassem muito os candidatos, pois jamais escrevi textos que tivessem chancela oficial ou que defendessem os pontos de vista de quaisquer governos, inclusive porque tenho suficiente liberdade de pensamento para defender ideias próprias, não as dos outros.
Em todo caso, cedendo às demandas de muita gente, alunos mais que professores, o que fiz foi simplesmente reduzir o volume anormalmente elevado de leituras recomendas – que eram listadas em antigos guias de estudos do IRBr – em um número mais razoável de leituras que eu julguei, meio no "chutômetro", que poderiam satisfazer a curiosidade, ou necessidade, dos candidatos, sem que fosse responsável pela qualidade intelectual das obras recomendadas.
Segue o que fiz em 2005, e nunca mais atualizado.
Como disse, não estou no mercado de cursinhos.
Estou à margem, como sempre...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29 de maio de 2020

Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005
Recomendações Bibliográficas

Indicações resumidas por
Paulo Roberto de Almeida

Nota inicial:
Como a bibliografia recomendada no Guia de Estudos do IRBr apresenta um volume considerável de leituras, elaborei, pensando nos muitos candidatos que me consultaram, ao longo dos dois últimos anos, uma lista reduzida, constando de leituras que eu pessoalmente considero essenciais. Evitei incluir novas leituras, de livros que poderiam ser recomendados, mas que não constam, atualmente, da bibliografia “oficial”, uma vez que a intenção foi, justamente, reduzir o volume total de leituras. Trata-se, obviamente, de uma escolha pessoal e, portanto, arbitrária, ou subjetiva, dos títulos que me parecem recomendáveis, apenas e tão somente nas matérias para as quais me julgo minimamente capacitado para opinar. 


1) Indicação inicial de leituras gerais sobre o Brasil:
“A bibliografia e a orientação para estudo incluídas neste Guia de Estudos não têm caráter limitativo. Feita essa ressalva, recomendam-se as seguintes obras, com vistas a facilitar a preparação básica do candidato:
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1997.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1996. 
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.”

            Nota PRA: 
            Eu pessoalmente considero que todo e qualquer candidato deve possuir uma boa base de leituras relativas ao Brasil, na qual se inclui, evidentemente, o conhecimento dos chamados “clássicos do pensamento brasileiro”. Aos que não têm tempo ou disposição para penetrar na leitura de obras por vezes maciças, em alguns casos “maçantes” (ou mesmo relativamente defasadas em relação às pesquisas mais recentes em seus respectivos campos), eu lembraria que a obra de todos esses autores, com a possível exceção de Ribeiro, já foi esmiuçada e resumida por gerações de cientistas sociais brasileiros, encontrando-se no “mercado” excelentes resumos desses livros ditos “essenciais”. Um instrumento de busca como o Google, por exemplo, ou mesmo o Google Scholar, pode ajudar na identificação desses trabalhos que, por vezes em 20 páginas, resumem o conteúdo das 300 ou 500 páginas dos originais. Por outro lado, vários desses autores são objeto de sites mantidos pela família ou por acadêmicos, admiradores ou discípulos, nos quais se encontram bons resumos e comentários das obras respectivas. Encontrei, por exemplo, um excelente site sobre o Gilberto Freyre, que traz o essencial da obra desse prolífico autor em poucos resumos muito bem feitos. Não tenho tempo de buscar, agora, os links respectivos para esses resumos ou comentários, mas agradeceria aos que o fizerem que me enviem esses endereços para inclusão numa futura edição deste pequeno Guia de Estudos resumido.


2) Teste de Pré-Seleção (TPS)
            “Em termos de orientação para estudo, o TPS não comporta recomendações particulares, uma vez que não lhe corresponde um programa específico. Não obstante, cabem as indicações que se seguem, no entendimento de que não limitam o conteúdo das questões do TPS. Na preparação dos candidatos, serão certamente úteis as informações constantes deste Guia sobre as provas de Português (Segunda Fase), de História do Brasil e de Geografia (Terceira Fase). Da mesma forma, deve ser consultado o programa de História Mundial Contemporânea constante do Guia de Estudos de 2004, reproduzido ao final deste volume junto com a bibliografia pertinente.”

            Nota PRA: 
            Considero basicamente correta essa indicação do Guia de Estudos 2005. 


3) Português

            Nota PRA:
            Considero que a redação culta, mas não pedante, é essencial para qualquer candidato à carreira diplomática. Por isso, toda e qualquer leitura é essencial. O candidato precisa partir do requerimento básico que ele deve ser capaz de redigir pelo menos cinco páginas sobre qualquer assunto de maneira inteligente, com correção gramatical. Por isso a recomendação básica é o treino constante em redação. Tenha sempre consigo uma caderneta na qual o candidato deve se exercitar várias vezes por dia, colocando em linguagem formal os seus próprios pensamentos diários, sobre qualquer assunto. O importante é redigir bem, não o tema, necessariamente. 
            Quanto à “Bibliografia sugerida” no Guia de Estudos, eu retiro os Dicionários e gramáticas, pois considero essa parte um requerimento primário, e me concentro nos seguintes livros:
SAVIOLI, Francisco e FIORIN, José Luiz. Manual do Candidato – Português. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2001.
CAMARA Jr., Joaquim Mattoso. Manual de Expressão Oral e Escrita. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar.  21. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
PENTEADO, J. R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. 8. Ed. São Paulo: Pioneira, 1993.
VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
            Nota final: Não me considero especialista em língua portuguesa para recomendar qualquer um dos livros acima indicados, mas entendo que se eles figuram na bibliografia “obrigatória”, deve ser por alguma razão. 


4) História do Brasil

            Bibliografia resumida por PRA:
CAMPOS, Flávio; Dohlnikoff, Miriam. Manual do Candidato: História do Brasil. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2001. 
CERVO, Amado e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: editora da UnB, 2002.
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial, 2002. (Nota PRA: Na verdade, seria essencial ler o livro original, isto é, completo de Boris Fausto: História do Brasil, editado pela EDUSP em 1994).
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: do Império à República. São Paulo: Bertrand Brasil, 1995. (História Geral da Civilização Brasileira, v. 7)
IGLESIAS, Francisco. Trajetória Política do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
LINS, Álvaro. Rio Branco (Barão do Rio Branco): biografia pessoal e história política. São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1996.


5) Geografia

            Bibliografia resumida por PRA:
ARAÚJO, Regina Célia. Manual do Candidato: Geografia. 2. ed. FUNAG: Brasília, 2000. 
BENKO, George. Economia, Espaço e Globalização. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
CASTRO, Iná Elias de et alii. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1995.
GREGORY, Derek, et alli. Geografia Humana. Sociedade, Espaço e Ciência Social. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
RIBEIRO, Wagner Costa. A Ordem Ambiental Internacional. São Paulo: Contexto, 2001.
            “A título de orientação, para os candidatos que desejarem aprofundar o estudo da matéria, sugerem-se as seguintes leituras adicionais:”
BECKER, Bertha & EGLER, Claudio. Brasil: Uma Nova Potência Regional na Economia Mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.
CAVALCANTI, Clóvis et alii. Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
CASTRO, Iná Elias et alli. Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997.
MARTIN, André Roberto. Fronteiras e Nações. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. 


6) Noções de Direito e Direito Internacional Público

            Bibliografia resumida por PRA:
ACCIOLY, Hildebrando e Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva. Manual de direito internacional público. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC do direito comunitário. Bruxelas: Comissão Européia, 2000.  (Nota PRA: Muito material pode ser obtido no site da UE).
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 14ª ed. Rio de Janeiro: Renovar2004.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
QUOC DINH, Nguyen, Patrick Dailler e Alain Pellet. Direito internacional público. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999.
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. v. 1. São Paulo: Atlas, 2002.
THORSTENSEN, Vera. OMC: Organização Mundial do Comércio: as regras do comércio internacional e a nova rodada de negociações multilaterais. 2ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001.
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. Vol.- III. Porto Alegre: Fabris, 2003.
________Direito das organizações internacionais. 3ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.


7) Noções de Economia

            Bibliografia resumida por PRA:
VERSIANI, Flávio Rabelo. Manual do Candidato: Noções de Economia. Brasília: FUNAG, 1996.
ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: 100 anos de política econômica republicana. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
PINHO, D. B.; VASCONCELOS, M.A.S. (orgs.). Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2004.
SAMUELSON. P. A.; NORDHAUS, W. D. Economia 16. ed. Lisboa: McGraw-Hill, 1999.


8) Política internacional

            Bibliografia resumida por PRA:
MAGNOLI, Demétrio. Manual de Questões Internacionais Contemporâneas. Brasília: FUNAG, 2000, 360 p.
MORAES, José Geraldo Vinci de. Manual do Candidato - História Geral Contemporânea (séculos XVII-XX), Brasília: FUNAG, 2ª edição, 2002.
ASHWORTH, W. A short story of international economy since 1850, Londres: Longman, 1975.
BANDEIRA, Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos. São Paulo: Editora Revan, 2003.
CERVO, Amado Luiz. (org.). O desafio internacional; a política exterior do Brasil de 1930 a nossos dias. Brasília: UnB, 1994.
________ & BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. Brasília: Unb, 2002.
GILPIN, R. M. A Economia política das Relações Internacionais. Brasília: editora da UnB, 2002.
MCNEILL, W. H. The pursuit of power. Chicago: University of Chicago Press, 1984.
MORGENTHAU, H. A política entre as nações, Brasília: Funag-IPRI, EdunB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003.
MRE/FUNAG. A Palavra do Brasil nas Nações Unidas (1946-1995). Brasília: FUNAG, 1995.
PECEQUILO, Cristina S. A política externa dos Estados Unidos, Porto Alegre: UFRGS, 2003.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.
“Os candidatos que desejarem se manter atualizados com o estado da arte das relações internacionais poderão servir-se de periódicos especializados, tais como Revista Brasileira de Política Internacional (http://www.ibri-rbpi.org.br), Política Externa (http://www.politicaexterna.com.br), Foreign Affairs (http://www.foreignaffairs.org), Foreign Policy (http://www.foreignpolicy.com) Politique Internationale (http://www.politiqueinternationale.com)bem como das páginas eletrônicas do Ministério das Relações Exteriores (http://www.mre.gov.br) e da Rede Brasileira de Relações Internacionais (http://www.relnet.com.br).”


9) História Mundial (TPS)

            Bibliografia resumida por PRA:
BARRACLOUGH, G. Introdução à História Contemporânea, 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
BETHELL, Leslie. História da América Latina. São Paulo: EDUSP, 2001.
HALPERIN DONGHI, Tulio. História da América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
________. A Era do Capital. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
________. A Era dos Extremos. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2001.
________. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
________. Nações e nacionalismo desde 1780. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
SARAIVA, José Flávio S. Relações Internacionais – Dois Séculos de História: entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias). Brasília: FUNAG/IBRI, 2001. 
________. Relações Internacionais – Dois Séculos de História: entre a preponderância europeia e a emergência americano-soviética (1815-1947). Brasília: FUNAG/IBRI, 2001.
            “A título de orientação para os candidatos que desejarem aprofundar o conhecimento da matéria, ou que tiverem dificuldade em obter alguma das obras listadas acima e procurarem leitura alternativa, sugerem-se os seguintes livros adicionais:”
JOLL, James. Europe Since 1870. London: Penguin Books, 1990.
ROBERTS, J. M. History of the WorldNew edition. London: Penguin, 1990.
THOMSON, D. Pequena História do Mundo Contemporâneo. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. 
VIZENTINI, Paulo. Da Guerra Fria à Crise (1945-1992). Porto Alegre: EDUFRGS, 1992.


Resumo elaborado por Paulo Roberto de Almeida
em 13 de outubro de 2005

Pesquisa sobre a carreira diplomática (2019) - Paulo Roberto de Almeida

Pesquisa sobre a carreira diplomática

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: responder a questionário; finalidade: participar de pesquisa] 

Recebi, em 25/11/2019, convite para participar de uma pesquisa, como informado abaixo. Transcrevo, em seguida, minhas próprias respostas, aventando a possibilidade de uma entrevista para esclarecimento de aspectos específicos da carreira.

Pesquisa aplicada a diplomatas brasileiros
Olá, boa tarde. A pesquisa é para a disciplina de Introdução ao Método das Ciências Sociais da Universidade de Brasília e é uma coisa bem simples a princípio. Grande parte da bibliografia a respeito da socialização do corpo diplomático aborda o Itamaraty como um ambiente extremamente hierárquico e formal, e apontam que talvez essa característica possa "atrapalhar" as interações sociais. 
Existe uma pesquisa, inclusive, que tenta traçar um "ethos" do Itamaraty. Tendo essas pesquisas como base, eu estou fazendo algumas entrevistas para tentar entender até que ponto essas questões realmente influenciam o convívio social, porque é claro que pontos como a personalidade das partes e algumas afinidades também podem exercer influência.
 Gostaria que pudéssemos fazer uma entrevista pessoalmente, mas entendo que o Sr. é muito ocupado. Logo, peço que responda as perguntas do formulário a seguir (...).
Peço também, se possível, que o sr. me indique colegas que teriam disponibilidade para responder as questões (com um apelo especial a mulheres, já que todos os entrevistados até então foram homens). 
Caso tenha alguma dúvida, não hesite em me contatar. 
Agradeço desde já pela participação.
Atenciosamente,
--
(...)
Graduanda em Ciência Política na Universidade de Brasília.
(...)

Pesquisa aplicada a diplomatas brasileiros

Olá! Muito obrigada pela disponibilidade em participar deste trabalho.
A pesquisa, baseada nas obras de Cristina Moura e Hannah Souza, busca entender a socialização dos novos diplomatas e, posteriormente, suas redes sociais dentro do Ministério das Relações Exteriores. O formulário será respondido de forma anônima, mas após o término da pesquisa, o Sr. (a) receberá uma cópia do trabalho finalizado, a fim de que esteja ciente dos rumos tomados.
Agradecemos o preenchimento de Pesquisa aplicada a diplomatas brasileiros
Endereço de e-mail *
Gênero: Masculino

Formação acadêmica:
Graduação em Ciências Sociais; Mestrado em Economia; Doutorado em Ciências Sociais

Ano de admissão no CACD:
1977, por concurso direto, não via vestibular para o IRBr

Cargo atual:
Ministro de Primeira Classe; lotado na Divisão de Comunicações e Arquivo

O Sr. (a) sempre almejou a carreira de diplomata? Como foi o período de estudos preparatórios para o concurso?
Não; foi um impulso de momento, com muito pouca preparação para o concurso direto de admissão à carreira diplomática, sem passar pela formação do IRBr.

Qual foi a sua primeira impressão a respeito do Instituto Rio Branco?
Não passei pelo Instituto Rio Branco; fui professor no IRBr; curso repetitivo em relação aos estudos preparatórios para o concurso.

O Sr (a) possui colegas de trabalho que se tornaram amigos pessoais? Se sim, como essas relações chegaram a este nível?
Sim, vários colegas de turma e mesmo de outras turmas, mais antigas e mais modernas. Convivência de longos anos em postos ou fases de trabalho na SERE, com base em afinidades de pensamento e estilos de vida.

Qual seu estado civil? Sente que ele exerce influência nas relações dentro do Ministério?
Casado, por uma única vez, e bastante realizado. O casamento foi bastante positivo na carreira, embora as dificuldades surjam em função de determinados postos. A incidência de divórcios na carreira é relativamente alta, em função das dificuldades naturais vinculadas ao nomadismo, postos de sacrifício, preocupações familiares com estudos dos filhos e a não ocupação da mulher.

Sente-se confortável em manter conversações além do âmbito profissional com superiores?
Sim, mas isso depende muito dos superiores; alguns eu me identificava pelo trabalho ou pelos interesses intelectuais; outros era indiferente. Não sou de cultivar muitas relações fora da carreira, por um lado, por ter uma carreira paralela na academia, sem tempo para cultivar muitas relações diplomáticas; por outro, estive sempre voltado para os livros e a produção intelectual, de modo solitário, sem perder muito tempo com relações pessoais.

Já teve cargos em outros países? Se sim, sente alguma diferença nas relações entre diplomatas, comparando ambos os lugares?
Diplomatas são geralmente animais gregários, endogâmicos, convivendo basicamente entre si. Todos fazem parte de um mesmo clube, mas que se renova a cada 3 ou 4 anos, pelo nomadismo habitual da carreira.

Com a inserção na carreira diplomática, houve alguma alteração nos seus laços sociais anteriores? O Sr. (a) ainda tem contato, por exemplo, com amigos da faculdade, ou suas interações sociais se resumem a colegas de trabalho?
Poucas interações, pelo distanciamento natural devido aos longos períodos no exterior e em Brasilia, à distância da cidade natal (SP); mas algumas amizades da juventude foram preservadas.

Sentiria-se confortável em convidar seus colegas para um happy hour?
Sim, mas poucos colegas, pois meus interesses intelectuais se situam em grande medida fora da carreira, mais na academia do que na diplomacia.

Ainda tem contato com sua turma do curso de formação do IRBR? Se sim, como é a relação entre as partes?
Sim, mas não se trata de colegas do IRBr, pois não fiz o curso, e sim com poucos colegas do mesmo concurso direto.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de novembro de 2019

Gênero e Carreira Diplomática (2008) - Paulo Roberto de Almeida

Mais um inédito...

Gênero e Carreira Diplomática

Entrevista concedida a
estudante, para pesquisa sobre:
Igualdade de gêneros na diplomacia brasileira


1) Qual é sua concepção a respeito do movimento feminista, se posicionando em muitas vezes, de forma "somos coitadas"?
PRA: O movimento feminista teve várias vertentes e diferentes orientações, no decorrer do seu desenvolvimento histórico, começando pela reivindicação de direitos políticos – o que já implicava a assunção de certa independência em relação aos homens, em sociedades caracteristicamente patriarcais – até ingressar, modernamente, numa fase madura, depois de passar pelo militantismo anti-machista do período de agressiva liberação sexual. Não tenho conhecimento preciso sobre essa orientação que configuraria fase de pretensa auto-comiseração, identificada com essa frase, ou postura, “somos coitadas”. Estou certo de que ocorreu essa atitude, e que ela pode ter sido bastante disseminada entre as mulheres que se identificavam com o movimento “feminista”, mas não tinham ainda alcançado um nível de definição mais acurada da posição a ser adotada e por isso assumiam a atitude submissa, talvez, que tinha sido a delas durante tanto tempo.
Pessoalmente, nunca tive uma posição muito elaborada sobre o movimento feminista, a não ser uma vaga atitude de apoio. Na época de minha “emergência” como cidadão consciente já estava engajado quase inteiramente no movimento socialista, e tendia a considerar o movimento feminista, ou outros movimentos ditos “sociais”, como uma espécie de “distração” do objetivo principal, que seria “fazer” a revolução (o que obviamente resolveria automaticamente todos os problemas sociais).
Não posso, portanto, agora, de forma ex-post, ter uma posição definida, algo que não tinha em qualquer época anterior. Apenas posso imaginar como teria reagido se “tivesse tido a obrigação” de adotar um posicionamento explícito: provavelmente, teria lamentado essa atitude das mulheres militantes, mas não teria dado muito importância a ela, posto que o tema era para mim secundário ou completamente desimportante. 
Mas, a questão aqui se coloca da mesma forma como para a história do “paranóico”: o fato de alguém ser paranóico, não significa que não possa haver algum “complô” ou “perseguição”. As mulheres podem até escolher uma atitude recusando a postura de “coitadinhas”, o que não impede de elas serem efetivamente colocadas em posição subalterna e discriminadas objetivamente no campo profissional, cultural ou social. Embora isso seja mais uma herança do passado do que um traço do presente. 

2) Se a questão de gêneros, sendo abordada de forma "preconceituosa" por algumas mulheres, pode transformar uma causa tão bonita e nobre (que é o respeito aos direitos das mulheres) em uma causa discriminatória em relação aos homens?
PRA: Poderia até haver, teoricamente, esse tipo de atitude em certos grupos ou como expressão individual de feministas radicais, mas não creio que as mulheres, em qualquer tempo e lugar, tenham tido condições objetivas de “impor” essa visão de certo modo preconceituosa ao conjunto das mulheres e, a partir daí, estabelecer uma política de discriminação contra os homens.

3) Se o senhor acredita que uma abordagem mal desenvolvida, no que concerne às perspectivas de gênero pode inverter os papéis na diplomacia brasileira, fazendo com que homens que sejam comandados por mulheres (ex: embaixadoras), se sintam desprestigiados por "perseguições" dentro do Itamaraty, justamente por serem homens? Ainda que talvez, não ocorra hoje, mas digo para um futuro próximo?
PRA: Não creio que isso jamais venha a ocorrer, como comportamento tido como “normal”. Poderão existir casos individuais, mas muito raros. O mais comum será o relacionamento profissional entre homens e mulheres. Já existe número razoável de mulheres em posições de chefia no Itamaraty, sem que isso tenha despertado problemas de relacionamento ligados ao gênero. Não se pode excluir, tampouco, que uma mulher venha a ser “ascendida” à posição de chanceler, seja dentro da própria carreira, seja como representante do meio político ou cultural. 

4) Será que não estaríamos desta forma, nós mulheres, invertendo os papéis e discriminando os homens? E se com isso, não estamos alimentando um movimento "machista" e retrocedendo já que existe um movimento "feminista" com perfil "machista"?
PRA: Existe isso, sim, mas no Brasil me parece ser extremamente marginal, sem atingir o grau de radicalismo que atingiu nos EUA e em certos países europeus. Mesmo com o crescimento profissional das mulheres no Brasil, não vejo nenhuma possibilidade de reação contrária da parte dos homens. Tendo a fazer uma leitura otimista do relacionamento entre gêneros no Brasil, por acreditar que nosso país seja essencialmente aberto aos méritos e à capacidade individual. O machismo persiste de forma residual, por exemplo, no tratamento “positivo” dado a certas “caçadoras de dotes”, a modelos badalados e a outras oportunistas notórias, que são guindadas a posições de prestígio nos meios de comunicação de massa não por talentos reconhecidos, mas provavelmente por dotes físicos e seu aproveitamento ocasional. Mas, esse tipo de “machismo” existe provavelmente em vários países.

5) E será que a defesa de nossos ideais e a tutela dos nossos direitos, já não faz o homem se sentir em uma situação de coação e culpa pela "sociedade feminista", que ao invés de trabalhar a questão da conscientização, trabalhar muitas vezes, ainda que inconscientemente a segregação?
PRA: Sinceramente, não veja nenhum tipo de segregação em nenhum meio profissional do Brasil. O que pode haver são comportamentos individuais, presos a hábitos arraigados de um passado não muito distante, quando o machismo ordinário provocava, talvez, esse tipo de reação em certos meios feministas. Mas se trata de um comportamento bem mais localizado espacialmente e culturalmente – específico do Rio de Janeiro, provavelmente – do que algo comum a outros meios sociais e culturais do Brasil. Não consigo identificar homens que mantenham atitudes simétricas como resultado dessa suposta segregação feminina, a não ser de forma caricata, no humorismo de baixa qualidade de canais abertos de TV aberta e certos meios da imprensa escrita de notória má qualidade. 

6) Será que não há uma confusão entre "guerra de sexo" ou "guerra de gêneros"?
PRA: Pode até haver, mas eu confesso que não consigo distinguir as duas situações conceitualmente e muito menos na prática. Não vejo nenhum tipo de guerra no Brasil, muito menos essa elaboração sofisticada que consistiria em estabelecer uma fronteira entre sexo e gênero. Não vejo nenhuma tendência consistente no Brasil que se constitua sobre essas distinções que são muito teóricas para seu uso corrente, ou seja, em situações corriqueiras de vida. As distinções que possam ocorrer nesse sentido devem ser manifestações extremamente reduzidas de um meio intelectual bastante exíguo e pouco representativo da sociedade como um todo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de outubro de 2008


sábado, 11 de maio de 2019

Trajetória pessoal na carreira: do IPRI 'a Divisão do Arquivo - Paulo Roberto de Almeida

Não posso reclamar da minha nova lotação no Itamaraty: na Divisão do Arquivo. Como sociólogo, adepto do marxismo cultural (quase obrigatório na Sociologia), sou também inclinado a pesquisas documentais e arquivísticas, base essencial de um trabalho de construção da história das relações exteriores, da política externa do Brasil e da própria diplomacia, da qual pretende escrever uma "história sincera", no momento oportuno.
Este "estágio" na Divisão do Arquivo, junto com estadas continuadas na Biblioteca, deve ajudar-me na tarefa. 
Meus sinceros agradecimentos aos responsáveis pela designação...
Paulo Roberto de Almeida
Embaixador de carreira, funcionário de Estado (não do governo)
Brasília, 11 de maio de 2019


Paulo Roberto de Almeida, Nomeações e Exoneração 2016-2019

NOMEAÇÃO:


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EXONERAÇÃO:



=================

NOVA DESIGNAÇÃO:

3. Atos do Secretário-Geral das Relações Exteriores
PORTARIA DE 9 DE MAIO DE 2019
O SECRETÁRIO-GERAL DAS RELAÇÕES EXTERIORES, nos termos da Portaria n.º 589, publicada no Boletim de Serviço nº 188, de 30 de setembro de 2003, resolve:
Lotar, na Divisão de Comunicações e Arquivo, a partir de 8 de maio de 2019, PAULO ROBERTO DE ALMEIDA, ministro de primeira classe – Lot. 331. 
(...)
OTÁVIO BRANDELLI
Boletim de Serviço nº 89, 10/05/2019