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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pre-sal: leilao e capitalizacao da Petrobras - Raul Velloso

As informações oficiais falam em "disputa" e mencionam um "consórcio vencedor".
Ora, não houve NENHUMA disputa, e não houve nenhum consórcio VENCEDOR.
 Só teve perdedores, por enquanto.
O governo, por ter imposto um modelo que não vingou, não atraiu ninguém e ficou nos acertos entre companhias, para gastar o mínimo e obter o que fosse possível.
As companhias também perderam, pois já tem de desembolsar um montante considerável de recursos (15 bilhões de reais) e depois fazer investimentos arriscados para um campo que até pode ter muito petróleo, mas não se sabe quanto vai custar extrair, e se será rentável em função do preço do barril nos mercados internacionais.
Paulo Roberto de Almeida

“O governo não tem como capitalizar a Petrobras”
21 de outubro de 2013
Raul VellosoComunicação Millenium
  
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as reservas recuperáveis no campo de Libra, na Bacia de Santos, chegam a 15 bilhões de barris de óleo. No entanto, os petroleiros que, esta segunda-feira, 21 de outubro, protestaram na Barra da Tijuca, bairro carioca em que o leilão aconteceu, acusam o governo de entregar a riqueza nacional ao capital privado e por um valor irrisório.

O economista Raul Velloso diz que não existe argumentos que impeçam o setor privado de investir nessa área. O ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento acrescenta que o governo não dispõem de recursos para tanto. “O governo não tem como capitalizar a Petrobras”, enfatiza.
Velloso acredita que o uso do dinheiro obtido a partir das concessões deve ser a principal preocupação. “Há o risco de o setor público desperdiçar recursos que deveriam ser investidos em áreas críticas, como infraestrutura, que dão um retorno à sociedade. O dinheiro não pode ser empregado em nenhum gasto corrente”, argumenta.
Citando o leilão das rodovias, Velloso chama a atenção para a distorção do modelo de concessão. Segundo ele, o formato favorece a entrada de empresas despreparadas na disputa. O economista explica que o governo deixa de realizar duas etapas importantes para a licitação: a pré-qualificação e o plano de negócios.
“O governo contrata às cegas, baseado apenas nas ofertas dos candidatos, que, muitas vezes, oferecem tarifas irreais só para vencer a concorrência e depois pedem socorro”, critica.

Do ponto de vista financeiro, Velloso reforça que a Petrobras não está preparada para explorar o pré-sal sem o apoio do setor privado. Ele lembra que o governo interferiu de tal forma na dinâmica de preços que empurrou a empresa para dificuldades financeiras além do normal. “Analisando ainda a questão da gestão, as empresas estrangeiras podem proporcionar mais ganhos em produtividade”, conclui.
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21/10/2013. SEPARATA. MME. ANP. PETROBRÁS– RESULTADO DO LEILÃO DO CAMPO DE LIBRA. PRÉ-SAL. 

MME. ANP. PETROBRAS, SHELL, TOTAL, CNPC E CNOOC VENCEM A 1ª RODADA DO PRÉ-SAL. 

O consórcio formado pelas empresas Petrobras (40%), Shell (20%), Total (20%), CNPC (10%) e CNOOC (10%) foi o vencedor da 1ª.Rodada do Pré-sal, realizada hoje (21/10), no Rio de Janeiro, com a oferta da área de Libra, na Bacia de Santos. O excedente em óleo oferecido pelo consórcio, critério que define o primeiro colocado na licitação, foi de 41,65%. A Petrobras, que será a operadora de Libra, entrou com 10% na oferta vencedora, além da sua participação mínima de 30% na área. O consórcio também terá que pagar um bônus de assinatura de R$ 15 bilhões e arcar com um programa exploratório mínimo de cerca de R$ 610.903.087,00 milhões. A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, afirmou que a licitação é uma excelente oportunidade de aceleração do desenvolvimento industrial do país e do crescimento dos níveis de emprego e renda no país. “Serão aplicados 75% dos royalties do pré-sal na Educação e 25% na Saúde. E estimamos que apenas Libra seja capaz de gerar cerca de R$ 300 bilhões em royalties ao longo de 30 anos de produção”, frisou a diretora-geral da Agência. Para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a exploração de Libra dá início a um novo tempo no Brasil. “Libra será um divisor de águas entre o passado e o futuro do setor de petróleo no país”, destacou o ministro. A licitação do bloco de Libra é a primeira experiência do Brasil no regime de partilha da produção. A área está localizada na Bacia de Santos a cerca de 170 km do litoral do estado do Rio de Janeiro e tem cerca de 1.500 km2. 

PORTAL G1. CONSÓRCIO FORMADO POR PETROBRAS E MAIS 4 EMPRESAS VENCE LEILÃO DE LIBRA. GRUPO 

TAMBÉM É COMPOSTO POR SHELL, TOTAL, CNPC E CNOOC. CONSÓRCIO REPASSARÁ À UNIÃO 41,65% DO ÓLEO EXTRAÍDO DO CAMPO DO PRÉ-SAL. O consórcio formado pelas empresas Petrobras, Shell, Total, CNPC e CNOOC arrematou nesta segunda-feira (21) o campo de Libra e foi o vencedor do primeiro leilão do pré-sal sob o regime de partilha – em que parte do petróleo extraído fica com a União. Único a apresentar proposta, contrariando previsões do governo, o consórcio ofereceu repassar à União 41,65% do excedente em óleo extraído do campo – percentual mínimo fixado pelo governo no edital. Nesse leilão, vencia quem oferecesse ao governo a maior fatia de óleo – o regime se chama partilha porque as empresas repartem a produção com a União. O consórcio vencedor também terá que pagar à União um bônus de assinatura do contrato de concessão no valor de R$ 15 bilhões. Segundo a Agência Nacional do Petróleo(ANP), esse valor deve ser pago de uma vez. O pagamento tem que estar depositado para que o contrato seja assinado – o que a Magda Chambriard, diretora geral da agência, previu que aconteça em cerca de 30 dias. A Petrobras deverá arcar com 40% desse pagamento. A Petrobras terá a maior participação no consórcio vencedor, de 40%. Isso porque, embora a proposta aponte uma fatia de 10% para a estatal, a empresa tem direito, pelas regras do edital, a outros 30%. A francesa Total e a Shell terão, cada uma, 20%. Já as chinesas CNPC e CNOOC terão 10% cada. 

'SUCESSO'. Apesar da proposta única, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, adotaram um discurso otimista nas respostas aos jornalistas que os questionaram sobre o resultado do leilão, diferente da previsão do governo. “O que aconteceu foi um sucesso absoluto, onde Libra vai ter resultado da ordem de trilhão de reais ao longo de 35 anos [para o governo]. Ninguém pode ficar triste com isso”, disse Chambriard. 

"Houve competição e o resultado não poderia ter sido melhor". “Não houve nenhuma frustração, na medida que temos um bônus de assinatura que é considerável [R$ 15 bilhões, que será pago pelas vencedoras, inclusive a Petrobras] e o mínimo de 41,65% de excedente de óleo. Portanto, nenhuma frustração”, disse Lobão. A diretora-geral da ANP apontou que as empresas que formam o consórcio estão entre as maiores do setor de energia no mundo. Ela disse ainda que, somados os ganhos com o bônus de assinatura, a partilha do óleo, o retorno da participação na Petrobras e o pagamento de royalties pelas concessionárias, entre outros, a União deve ficar com o equivalente a cerca de 80% do óleo extraído de Libra. Sobre a desistência de grandes petroleiras do leilão, Magda disse que a BP procurou a ANP e mostrou interesse em participar da exploração do campo de Libra, mas a empresa ficou com receio devido aos prejuízos que teve com o desastre ambiental no Golfo do México. A previsão inicial da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves (ANP) era que até 40 empresas poderiam participar do leilão de Libra – gigantes do setor como as norte-americanas Exxon Mobil e Chevron e as britânicas BP e BG nem chegaram a se inscrever. 

TOTAL E SHELL SURPREENDERAM. Analistas ouvidos pelo G1 afirmam que a entrada das empresas Total e Shell no consórcio vencedor surpreendeu. Isso porque o regime de partilha é visto por eles como desvantajoso para as empresas participantes. “Já era esperado que teria só um consórcio e que a Petrobras entraria. Eu acho que a única surpresa é a Shell e a Total terem entrado, porque num primeiro momento as pessoas achavam que elas não entrariam”, disse o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn. “É um modelo que nunca vai permitir competição. 
O fato de ter sido ofertado o mínimo [de 41,65% do óleo produzido] também não é surpresa, porque o modelo não ocorre a competição e vai dar sempre o mínimo desse jeito”. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, também disse, em entrevista à Globonews, ter ficado surpreso com a entrada das duas empresas no consórcio. Ele também avaliou que o fato de ter apenas uma proposta é ruim para o Brasil. "Era esperado o passe mínimo. Quando não tem concorrente, você dá uma oferta mínima, porque teria a certeza que não haveria concorrente, o que é ruim para o país. Se tivesse concorrente, teria um excedente para a união maior do que 41,65%". Outro fato que surpreendeu no resultado do leilão foi a pequena participação das estatais chinesas. CNPC e CNOOC terão 10% do consórcio cada.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O modelo capenga dos keynesianos de botequim - Raul Velloso

O título do post, obviamente, é de minha responsabilidade, pois o articulista, um economista de renome, respeito e moderado, não ousaria chamar os companheiros economistas pelos nomes depreciativos que figuram aí encima. Mas, como eu não tenho necessidade de descolar qualquer reputação de mercado, posso chamar as coisas pelos nomes que as coisas têm, e o nosso keynesianismo é de fato de botequim, se não for de quitanda, ou empório, de secos e molhados...
Paulo Roberto de Almeida 

Por que o consumo sufoca a indústria

Raul Velloso

O Estado de S.Paulo, 12/11/2012


Puxadas pelas transferências públicas e pelo crédito explosivo, as vendas reais do comércio há muito crescem em ritmo chinês, à média de 8% ao ano, enquanto a indústria decresce, acompanhando a balada dissonante da crise mundial. É o que deu em setembro. Em parte, isso se deve à crise de demanda que vem de fora. Afinal de contas, a indústria é superaberta ao exterior. É surpreendente, contudo, que a indústria não decole quando, em que pese a crise, o consumo cresce a taxas tão elevadas e sem interrupção há vários anos.
A falta de dinamismo se concentra na indústria de transformação, que hoje representa apenas 14% do Produto Interno Bruto (PIB). No final de 1994, representava 30% do total. Enquanto isso, o peso do setor de serviços, que antes se aproximava de 60%, hoje chega perto de 70% do PIB. Esse fenômeno não é exclusividade nossa. Ocorre em todo o mundo ocidental. Os dados da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram, com clareza, o peso da indústria no PIB caindo do lado de cá, enquanto na Índia e na China ocorre exatamente o inverso. É o confronto de dois modelos diametralmente opostos. O modelo consumidor (ocidental) versus o modelo poupador (oriental).
A coisa vem piorando. Até setembro de 2008, a indústria crescia a uma taxa que era 60% da taxa do consumo. Diante da crise, a taxa anual desabou para -16% em dezembro de 2008, enquanto o menor nível a que chegou a taxa do consumo ainda era positivo (+1%, em março de 2009). A indústria se recuperou rapidamente, mas depois estagnou ou caiu, em que pese as injeções de socorro do governo. Enquanto isso, o consumo continuou a mil por hora.
Já expliquei isso aqui. Ao pressionar fortemente a demanda por serviços e industrializados, o modelo pró-consumo tende a aumentar salários e preços nos primeiros e só salários nos segundos, pois ali os preços são determinados fora do País, basicamente pela China. Dá-se, assim, uma apreciação real da moeda, que, cozinhada internamente, é o veículo pelo qual a economia busca novo equilíbrio. Em serviços não há, basicamente, como atender à subida da demanda via importações. Por isso os preços tendem a subir. Exatamente o contrário ocorre na indústria. A apreciação induz maiores importações de industrializados e os recursos em geral são atraídos pelo segmento onde os preços e, portanto, as rentabilidades, são maiores, ou seja, serviços.
Note que a inflação é pressionada pelos serviços, mas é aliviada pela apreciação da moeda. É só acompanhar a decomposição setorial do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos anos, confrontando a evolução dos bens e serviços não comercializáveis com o exterior em relação à dos plenamente transacionáveis.
Não há espaço para explicar o modelo oriental, exatamente complementar ao nosso, havendo o elemento adicional de que temos recursos naturais e eles não. Daí as grandes exportações de commodities para lá, em troca de industrializados. Colocando as commodities nessa história, a tendência à apreciação se acentua, pois somos fortes exportadores líquidos, e os preços externos, também fora de nosso controle, têm subido fortemente desde 2003. Assim, pelos dois lados - serviços e commodities -, o Brasil atrai grande volume de capitais externos para inversão nesses segmentos, cobrindo a necessidade de financiar o déficit externo.
Outro fator a acentuar a mesma tendência é a recente inundação de liquidez mundial. Assim, mesmo com o Banco Central comprando toneladas de dólares, o valor real do dólar caiu sistematicamente até bem pouco, e o déficit externo - ou a entrada de poupança externa - subiu cerca de cinco pontos porcentuais do PIB, viabilizando idêntico aumento da taxa de investimento e uma subida expressiva do crescimento potencial do PIB. Como há pleno emprego na economia, é sinal de que houve transferência maciça de mão de obra da indústria para serviços e commodities, concomitantemente com os aumentos de salários, algo que surpreende a todos.
Assim, para o Brasil crescer mais sem mudar o modelo, é preciso apoiar a expansão dos setores de serviços e commodities, e não travá-la, como o governo às vezes tem feito. No caso dos serviços de infraestrutura, energia elétrica e petróleo, a interferência governamental é muito grande por definição e é um prato cheio para tentações populistas. Sabedor das pressões que o modelo pró-consumo exerce sobre esses preços, em vez de agir com vistas à redução dos preços no longo prazo, tem-se procurado a via fácil de impor preços artificialmente baixos no curto prazo, esperando que o setor privado (ou com domínio estatal, como no caso da Petrobrás e da Eletrobrás) atenda bem os consumidores de hoje e expanda o que for necessário.
O louvável esforço de incrementar as concessões de infraestrutura de transportes corre o risco de dar com os burros n'água, pois a imposição de retornos pouco atrativos e certos procedimentos inadequados nos leilões de concessões favorecem o surgimento de concessionários despreparados para as difíceis tarefas à frente. Nesse contexto, a política industrial deve ser altamente seletiva, com foco na competitividade internacional.
* CONSULTOR ECONÔMICO