No início do primeiro mandato do governo Lula, ante à continuidade das mesmas linhas gerais de política econômica adotadas na gestão anterior de FHC-2, economistas keynesianos e unicampistas em geral se desdobraram em críticas acérrimas ao suposto modelo "neoliberal", pretendendo fazer algo que eles finalmente conseguiram fazer a partir do segundo mandato de Lula e sobretudo no primeiro mandato de sua sucessora, ou seja, aplicar as suas receitas keynesianas e unicampistas à gestão econômica. Eles publicaram um livro com suas receitas no final de 2003.
Deu no que deu, e contemplamos hoje (2015-2016) toda a extensão do desastre, que eu chamo de
A Grande Destruição.
Pois bem, em 2005 eu efetuei uma longa resenha -- na verdade uma glosa de extratos do livro, seguida de comentários meus -- jamais publicada, desse livro que prometia oferecer uma política econômica alternativa à que era seguida pelo então ministro Palocci.
Não que eu tivesse a pretensão de defender o então ministro que caiu por corrupção ao final do primeiro mandato, mas é que as receitas dos "desenvolvimentistas" eram por demais rústicas para o meu espírito crítico.
Como essa resenha crítica nunca foi publicada, eu a posto aqui para demonstrar que os keynesianos de botequim e os unicampistas de circo nunca desistiram de aplicar suas receitas. Eles finalmente conseguiram, no mandato de uma outra unicampista que provou, sobejamente, que essa turma é capaz de tudo para destruir a economia brasileira.
Conseguiram, parabéns.
Mas não foi por falta de alertas e advertências.
Pelo menos da minha parte.
Eis o que eu escrevia então...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016
Um
novo modelo econômico para o Brasil
Comentários
e observações de Paulo Roberto de Almeida ao livro Agenda Brasil
(destacados
entre parênteses e iniciadas com a sigla PRA)
Brasília, 26 de dezembro de 2005.
Sumário
do livro:
João Sicsú, José Luís Oreiro e Luiz
Fernando de Paula (orgs.)
Agenda
Brasil: políticas econômicas para o crescimento com estabilidade de preços
(Barueri-Rio de Janeiro: Editora Manole
& Fundação Konrad Adenauer, 2003, 390 p)
O texto apresentado a seguir é um sumário das
principais proposições contidas no livro "Agenda Brasil: políticas
econômicas para o crescimento com estabilidade de preços", publicado pela
Editora Manole & Fundação Konrad Adenauer, 2003, 390 p., tendo como
organizadores e autores, João Sicsú (UFRJ), José Luís Oreiro (UFPR) e Luiz
Fernando de Paula (UERJ) e os demais autores: Carmem Feijó (UFF), Fernando
Cardim de Carvalho (UFRJ), Fernando Ferrari-Filho (UFRGS), Guilherme Jonas
(UFPR), Helder Ferreira de Mendonça (UFF), Jennifer Hermann (UFRJ), Marco
Crocco (UFMG), Renaut Michel (UCAM), Rogério Sobreira (EBAPE/FGV) e Sidney de
Castro Oliveira (UFRJ).
O livro Agenda Brasil foi lançado no Rio de
Janeiro no dia 17 de novembro de 2003 (na livraria Letras & Expressões) e,
posteriormente, em Campinas, Curitiba e Belo Horizonte. Algumas fotos do
lançamento do Rio, assim como a capa, o sumário e opiniões dos economistas Luiz
Carlos Bresser Pereira, João Sayad e Luiz Gonzaga Belluzzo sobre o livro, podem
ser encontradas no site www.ie.ufrj.br/moeda
1. Alguns pressupostos
do Agenda Brasil
Agenda Brasil é um livro de diagnósticos e propostas
para transformação da realidade econômica brasileira. Foi concebido por
iniciativa do Grupo de Estudos sobre Moeda e Sistema Financeiro, grupo de
natureza interinstitucional (UFRJ, UERJ, UFPR, UFF, EBAPE/FGV, UFMG e UFRGS)
sediado no Instituto de Economia da UFRJ. Propõe-se no livro uma alternativa de
modelo de política econômica factível que, portanto, pode e deveria ser adotado
no País. Não se propõe um modelo de ruptura - o que se propõe é uma transição
processual e reformista.
(PRA: a despeito da ressalva, o livro e o conjunto de
propostas formuladas por seus autores constituem, sim, um modelo de ruptura,
não com o capitalismo, obviamente, pois subsistem muito poucos defensores de
qualquer modo de produção alternativo ao existente, mas uma ruptura com a
gestão “conservadora” em economia, que na verdade nem chega a ser uma proposta
“revolucionária”, mas sim “passadista”, reacionária, no sentido em que se
propõe a volta com receitas e recomendações seguidas no passado e que já
provaram ou sua inocuidade ou sua nocividade do ponto de vista da boa gestão
macroeconômica do país. Não se deve ter nada contra, em princípio, promessas de
“ruptura”, pois por vezes elas são necessárias, mas seria importante assumi-las
pelo que elas são, não negar-lhes o caráter de profunda inversão do modelo
econômico seguido pelo país nos últimos dez anos, que é o que propõem,
justamente, este livro e os seus autores. Não se deve ter medo de assumir a responsabilidade
intelectual por propostas de ruptura: eu, por exemplo, também proponho a
ruptura com esse “modelo” – vá lá, o termo, com o qual não concordo – mas
entendo que a minha proposta vá num sentido contrário ao pretendido pelo grupo
autor do livro, já que não proponho mais intervenção estatal na economia – que
é, basicamente, o que nos estão prometendo esses autores, mas sim uma liberação
geral dos entraves colocados pelo Estado para o livre jogo de mercado e a
criação de condições institucionais e estruturais para o investimento privado e
a intensificação dos intercâmbios globais, sem os controles que eles ainda
pretendem impor, contra todas as evidências de sua ineficiência no passado.)
Agenda Brasil tem como ponto de partida dois
pressupostos fundamentais. O primeiro é que o modelo de política econômica
adotado a partir de meados da década de 1990 pelo governo brasileiro não
conseguiu eliminar os entraves ao crescimento sustentado da nossa economia, que
estão fundamentalmente no setor externo.
(PRA: O primeiro pressuposto já parte de um diagnóstico
errado, uma vez que ele parte de uma afirmação não fundamentada, que consiste
em acusar um suposto modelo, não definido e não formalizado explicitamente, por
um suposto fracasso, a de superar os entraves ao crescimento econômico do país,
cuja responsabilidade vai muito além de um simples “modelo” de política
econômica, e toca nas próprias instituições do país, atingindo sua estrutura
econômica e as condições nas quais se movem os agentes econômicos. Por outro
lado, esse “pressuposto” parte de uma “constatação” no mínimo incorreta, e em
grande medida equivocada ou exagerada, que seria a transferência de nossos
fracassos em manter um ritmo de crescimento sustentado para o plano externo,
descurando por completo sua natureza essencialmente interna. O chamado
“estrangulamento externo” constitui a mais freqüente “obsessão” dos nossos
economistas ditos “estruturalistas”, desde a era Prebisch, pelo menos. Se, em
algum momento, esse “estrangulamento externo” representou algum tipo de entrave
ao processo de desenvolvimento do Brasil, há muito tempo ele deixou de
desempenhar esse papel, e a ênfase exagerada em sua importância recorrente
constitui a mais notável miopia analítica desse conjunto de economistas. Nossos
entraves ao crescimento não estão, como afirmado, “fundamentalmente no setor
externo”, mas são, em sua maior parte, localizados no próprio Brasil. Não
reconhecer isso, quando o mundo cresce muito mais do que o Brasil, é de uma
miopia incompreensível para economistas supostamente bem informados.)
Em outras palavras, o tripé de política econômica
adotado a partir de 1999 – baseado na geração de superávits primários elevados
(atualmente em 4,25% do PIB a.a.), metas de inflação e regime de câmbio
flutuante – não tem garantido o crescimento sustentado. De fato, a tendência da
economia brasileira nos últimos anos tem sido de semi-estagnação, com
crescimento médio de 2,0% a.a. no período 1996/2002.
(PRA: Os autores não reconhecem a existência de um
problema fiscal no Brasil. Para eles, a geração de superávits é uma mera
perversão das autoridades econômicas, algo como uma maldade gratuita, como se
os líderes políticos gostassem de infligir ao país sofrimento desnecessário. Da
mesma forma, metas de inflação e regime de câmbio flutuante são condenáveis em
si, apenas pelo fato de não “entregarem” crescimento sustentado, como se
medidas de política monetária, em seu sentido estrito, tivessem a obrigação de
fazer algo mais do que são supostas fazer, isto é, garantir a estabilidade do
poder de compra da moeda, e como se o crescimento tivesse de ser o resultado
obrigatório de sua implementação, na ausência de quaisquer outras políticas ou
práticas associadas ao meio ambiente macroeconômico que deve embasar o processo
de crescimento, que também requer condições institucionais e infra-estruturais,
inclusive no plano microeconômico para sua manifestação adequada.)
Em segundo lugar, a economia tem se caracterizado por
ciclos da conhecida forma stop-and-go cujos
ritmo e amplitude são determinados essencialmente pelos humores, vontades e
expectativas dos mercados financeiros doméstico e, principalmente,
internacional.
(PRA: Não é principalmente “internacional” o
condicionante essencial do atual ciclo de stop-and-go
da economia brasileira, e sim de ordem interna. Por outro lado, não são os
humores dos mercados financeiros que determinam seu comportamento, e se fossem,
eles seriam favoráveis, pois a oferta de liquidez tem sido adequada, assim como
a disponibilidade de investimentos externos. As razões devem ser buscadas em
outra parte, mas suspeito que os autores do livro partiram da “idéia fixa” das
limitações externas, e financeiras, ao crescimento econômico. Tal obsessão
deveria merecer um pouco mais de fundamentação empírica.)
2. As Linhas
Gerais de um Novo Modelo Econômico
(PRA: Ao contrário do que dizem os autores, as políticas recomendadas
pelo FMI não foram e não são adotadas voluntariamente pelas autoridades
econômicas, mas apenas in extremis,
na iminência de um crise econômica ou de uma ruptura de pagamentos externos. O
qualificativo de “liberais-conservadoras”
dado a essas políticas já revela o ânimo dos autores de mais acusar do que de
explicar, ou de justificar o apelativo, que em si não quer dizer absolutamente
nada, pois da mesma forma se poderia qualificar suas propostas de
“intervencionistas-revolucionárias”, sem que isso acrescente qualquer coisa de
útil ao debate econômico.
Em segundo lugar, a “liquidação dos compromissos financeiros
assumidos com o Fundo” não muda absolutamente nada o caráter e o conteúdo das
políticas econômicas internas, que não são determinadas pelo Fundo, mas
decididas pelas autoridades com base numa avaliação da situação concreta. Tanto
é assim que a não recondução do acordo com o FMI, em março de 2005, e a
“liquidação” antecipada das amortizações devidas não significou nenhuma mudança
fundamental, não na orientação, mas na situação econômica do Brasil. O Brasil
tem autonomia “recuperada”, mas o que isso implica em termos de condições
macroeconômicas concretas? Nada além disso: podemos decidir nós mesmos o que
fazer com as orientações de política econômica. Isso não muda em nada a
situação fiscal e a natureza dos entraves ao nosso processo de crescimento, que
continuam pesando sobre nós mesmos como antes.
A tentativa de “externalizar” nossos problemas fundamentais constitui a
mais notória, e a mais ineficiente, escapatória aos nossos problemas básicos,
que são todos “made in Brasil”. Não reconhecer isso é querer jogar areia nos olhos
de quem deve participar desse debate de forma consciente e bem informada. Não
preciso reafirmar aqui que essa ênfase exagerada no caráter externo dos nossos
problemas constitui o mais sério impedimento a seu encaminhamento de modo
satisfatório.)
2.2)-Com relação a política antiinflacionária, defende-se que se
evite utilizar a taxa de juros para controlar a inflação. A elevação da taxa de
juros básica (a taxa Selic) somente é capaz de reduzir a inflação se causar
redução dos gastos de consumo e investimento, gerando desemprego, reduzindo a
demanda e inibindo, em conseqüência, o empresariado a reajustar seus preços -
já que o contexto torna-se bastante desfavorável. Utilizar a taxa de juros para
combater a inflação é o mesmo que gerar desemprego para combater a inflação, o
que não é aceitável dentro de um novo modelo econômico que visa o crescimento
sustentável com equidade social. Assim, propõe-se elaborar um conjunto de
instrumentos capaz de manter a estabilidade de preços. Por exemplo, proibir a
indexação de quaisquer preços da economia, entre esses, tarifas de serviços
públicos, aluguéis, salários etc. Organizar câmaras setoriais para sincronizar
aumentos salariais e/ou margens de lucro com aumentos de produtividade.
(PRA: Os autores pretendem retirar a cobra da cesta tocando flauta.
Propõem que não se use a taxa de juros para combater a inflação, mas não têm
nada a propor em troca, a não ser a proibição da indexação de preços e a
negociação entre setores interessados, justamente, na alta de seus “preços”
relativos, que são os salários e os lucros. Poucos preços são indexados hoje na
economia brasileira, e esses que o são deveriam, de fato, sofrer um processo de
desindexação, com base numa maior abertura da economia à concorrência, pois
eles estão, justamente, em setores relativamente oligopolizados ou
cartelizados, que mereceram tal “proteção” no passado, em virtude dos processos
de privatização e desestatização, para criar as condições de atratividade aos
investimentos, o que hoje não se justifica mais.
Esse “conjunto de
instrumentos capaz de manter a estabilidade de preços” que eles pregam não têm
nenhum sentido, a não ser que pretendam a volta aos controles de preços ou,
justamente, essas “câmaras setoriais”, que nunca resolveram nada, a não ser
estabelecer um “pacto perverso” pelo qual os atores em pauta transferem para o
resto da sociedade sua avidez por salários e lucros maiores. Já vimos esse
filme no passado, ele não resolveu nada e não pode resolver, a não ser manter o
ímpeto inflacionário.
O alegado objetivo do “crescimento
sustentável com equidade social” não quer dizer absolutamente nada, pois
ninguém seria a favor do não crescimento com aumento das desigualdades. É o que
se chama de proposta inócua, pois apenas essa afirmação não constitui um novo
“modelo econômico”. Modelos, em princípio, não existem, mas se os autores
pretendem propor algum precisariam sair do nível de generalidade em que se
situam. A renúncia à alavanca dos juros, por exemplo, pode ser uma proposta
concreta, mas se eles não dizem o que vão colocar no seu lugar, isso tem tanta
consistência quanto um pudim de clara de ovos. Os “instrumentos”que eles
propõem são risíveis ou ineficientes como “controle de preços”: já provaram no
passado não funcionar e continuarão não funcionando no presente e no futuro.)
Ademais, seria necessário substituir importações, estabelecer um novo
regime cambial e controlar o movimento internacional de capitais financeiros
para reduzir a "importação de inflação", que contamina a economia doméstica
seja pelo aumento do preço do dólar, seja pelo aumento do preço em dólar de
produtos adquiridos no exterior.
(PRA: os autores nos garantem aqui um conjunto de medidas que seriam
inflacionárias e “produtoras” de fuga de capitais, sem assumir nenhuma
responsabilidade pelos efeitos deletérios que essas medidas teriam sobre o
conjunto da economia. Há praticamente dois anos o país convive com a baixa do
preço do dólar, o que também para eles deve ser deletério, pois pretendem um
“câmbio administrado”. Faltou dizer em benefício de quem, pois qualquer “preço
cambial” produz “ricos” e “pobres” numa ou noutra ponta da equação, que o que
se presume que resultaria da sua política de administração cambial seria uma
transferência de renda do conjunto da sociedade para os exportadores
brasileiros, que assim se veriam desobrigados de investir em ganhos de
produtividade e melhorias na sua competitividade internacional. Trata-se de um
Robin Hood às avessas, pois a erosão cambial torna a todos mais pobres, e
apenas alguns mais ricos.
“Substituir importações” é apenas um novo nome para protecionismo
tarifário, “defesa” cambial e outros mecanismos defensivos em política
comercial. Trata-se de um “tiro no pé”, da mesma forma como o controle de
capitais, que só consegue impedir o ingresso de investimentos, mas não a saída
de capitais – nacionais – da economia.)
2.3)-No que se refere ao regime cambial, propõe-se substituir o regime atual
de flutuação cambial pura e livre por um regime de minidesvalorizações
programadas da taxa de câmbio (ou seja, crawling-peg ativo com regras implícitas e flexíveis). A livre e
plena flutuação da taxa de câmbio, num contexto de grande mobilidade de
capitais, gera uma grande volatilidade da taxa de câmbio, a qual, por um lado,
dificulta a gestão da política macroeconômica e, por outro, aumenta a incerteza
entre os tomadores de decisão a respeito de valores futuros, tais como, custo
de produção/comercialização e receitas de exportação. Essa incerteza adicional
desestimula o investimento, reduzindo o crescimento econômico.
(PRA: O que os autores propõem é um mecanismo automático e regular (isto
é, recorrente) de realimentação da inflação, ademais de um “prêmio” aos
ineficientes que não gostam de competir com ofertantes externos. Quem não gosta
de volatilidade na taxa de câmbio prefere, certamente, a promessa de uma
pressão permanente sobre os preços, o que faz com que todos os agentes tenham
certeza de que podem corrigir os seus preços num determinado patamar, o que,
pela “lei” das antecipações, se traduz por uma correção preventiva maior do que
a estabelecida no mecanismo oficial de crawling-peg. Os autores devem adorar
exportadores ineficientes e gostam de infligir sofrimento ao conjunto da
população.)
Neste contexto, é necessário a
adoção, por parte do Banco Central do Brasil, de um regime cambial que: (i)
permita a manutenção da taxa real de câmbio num patamar consistente com a
obtenção de grandes superávits na balança comercial, (ii) auxilie na redução da
volatilidade da taxa de câmbio e (iii) auxilie na manutenção da estabilidade do
nível de preços. Esse regime necessariamente deve ser apoiado por medidas de
controles sobre o fluxo internacional de capitais e pela formação de um
montante considerável de reservas por parte do Banco Central.
(PRA: Pretender fixar a “taxa real de câmbio” é como ter uma bola de
cristal, o que não parece estar ao alcance desses autores, nem do próprio Banco
Central. Em lugar de grandes superávits na balança comercial, o que qualquer
país deve pretender são grandes fluxos em ambos os sentidos das transações
correntes, pois isso assegura um nível adequado de irrigação da economia em
divisas, o que diminui, ipso facto, o grau de volatilidade no setor externo.
Esse fluxo ampliado também contribui para gerar maior estabilidade nos preços
internos, pois a concorrência na oferta é a melhor garantia de que os
ofertantes internos não possam impunemente aumentar os seus preços.)
2.4)-No contexto de uma nova arquitetura de política econômica, em que se
introduzem
controles de capitais e uma política antiinflacionária não-monetária, e
considerando o nível corrente relativamente alto da capacidade ociosa da
industria brasileira, sustenta-se que é possível fazer uma redução firme e
gradual na taxa básica de juros (taxa Selic) para um patamar real de 6% (ou
um pouco menos) ao ano - patamar necessário e compatível com um crescimento
econômico da ordem de 5% ao ano. A taxa de juros é muito alta no Brasil porque
o governo atribui a mesma múltiplas funções: combate a inflação, equilíbrio do
balanço de pagamentos e rolagem da dívida pública.
(PRA: Diagnóstico exemplarmente equivocado. A taxa de juros é alta no
Brasil porque acumulamos muitos passivos não cobertos pelos orçamentos
correntes, o que é na essência um problema fiscal. O problema dos autores é que
eles não reconhecem a existência de um problema fiscal no brasil. Ainda que se
admita que os juros no Brasil são absurdamente altos, e que o BC exagera na
dose, não há como resolver o problema dos juros no Brasil sem corrigir as
distorções fiscais, sem abrir o sistema de crédito a mais concorrência e sem
diminuir a pressão “extrativa” do Estado brasileiro sobre o conjunto da
economia.)
2.5)-Defende-se uma estratégia de sustentabilidade da dívida pública e de
política fiscal ativa gerando-se – inicialmente - um superávit primário de
3,0% do PIB. A estabilização da dívida pública como proporção do PIB não
depende apenas do superávit primário, mas na realidade da combinação entre
superávit primário/crescimento do produto/taxa real de juros.
(PRA: Os comentários anteriores permanecem válidos aqui também. Um
superávit primário de apenas 3% será suficiente quando a dívida pública no
Brasil tiver caído para menos de 30% do PIB. O crescimento é importante, mas o
problema brasileiro é justamente o de ter crescimento insuficiente, e isso tem
outros fatores que não apenas os juros.)
(PRA: Pretender isso é magia
econômica, sem dar os meios.)
Nossas estimativas indicam que um superávit
primário de 3,0% do PIB, em conjunto com uma taxa real de juros de 6% e um
crescimento econômico de 5,0% ao ano, seria suficiente para reduzir a dívida
para menos de 50% do PIB até 2011 e para possibilitar a implementação de políticas
fiscais ativas com a realização de obras de infra-estrutura e programas sociais
abrangentes.
(PRA: Correto, mas o problema é
que já estamos com 51% do PIB na dívida e o esforço fiscal tem de ser bem
maior. O crescimento nesse nível não virá e a taxa de juros não será reduzida
apenas politicamente.)
Contudo, deve-se reconhecer que a meta 3% do
PIB para o superávit primário que foi sugerida para um período tão longo é
bastante cautelosa, já que o superávit primário deve ser determinado por um
conjunto de fatores que se alteram ao longo dos anos: capacidade ociosa
existente, taxa de desemprego etc. Em outras palavras, esta meta poderia ser
revista caso as condições fossem extremamente favoráveis, como um crescimento
continuado do PIB superior a 5% ao ano ou, alternativamente, caso as condições
fossem desfavoráveis, isto é, diante de uma taxa de desemprego muito elevada.
(PRA: O problema é que as
condições são extremamente desfavoráveis...)
2.6)-A introdução de controles
na entrada e saída de capitais é uma medida fundamental para viabilizar um
novo modelo econômico. Os objetivos fundamentais da proposta de política de
controles de capitais para o Brasil são: (i) permitir maior autonomia da
política monetária, fiscal e cambial; (ii) garantir o equilíbrio do saldo em
transações correntes do balanço de pagamentos, ao impedir que a entrada de
grandes fluxos de capital no país gere uma forte apreciação da taxa real de
câmbio; (iii) reduzir a volatilidade da taxa de câmbio. A mudança do regime
cambial e a redução da taxa de juros para patamares compatíveis com o
crescimento a um ritmo de 5,0% ao ano requer a redução do grau de abertura da
conta de capitais do balanço de pagamentos brasileiro. Isso pode ser obtido com
medidas como a introdução de depósitos compulsórios não remunerados por um
período de 1 ano sobre os capitais externos que entram no país e pelo aumento
considerável do IOF sobre todas as aplicações financeiras de não-residentes no
Brasil, além de outras medidas complementares, como limitação a exposição dos
bancos ao risco cambial e o estabelecimento de limites e regras para a
movimentação de recursos da Conta CC5.
(PRA: A política proposta
redundaria não apenas em que não teremos mais capitais entrando, como os
capitais nacionais procurariam rapidamente a porta de saída. Trata-se de
retrocesso inacreditável na política econômica.)
2.7)-A compatibilidade
entre uma nova política macroeconômica com políticas setoriais (política
industrial e tecnológica, política de investimentos em infra-estrutura, etc.) é
vital para viabilizar um crescimento econômico sustentável, de modo a superar
tanto o estrangulamento externo quanto possíveis gargalos no processo de
crescimento (ex: energia elétrica). Para tanto, deve-se construir a confiança
no desempenho futuro da economia através de políticas macroeconômicas e
industriais apropriadas. A responsabilidade pela criação de um ambiente seguro
e positivo ao crescimento econômico depende do Estado que deve desenvolver
instrumentos e mecanismos de coordenação entre os agentes econômicos em torno
de um projeto comum de desenvolvimento.
(PRA: Nada contra “políticas
adequadas”, mas no Brasil “políticas setoriais” sempre são favorecimento a
setores específicos, ou transferência de dinheiro para quem já é rico, como os
industriais da FIESP e outros espertos que “provam” que o seu setor é
“estratégico” para a economia nacional. Estratégico para mim é educação de
qualidade, todo o resto pode ser fornecido pelo mercado, inclusive educação aliás.)
(PRA:
Parece que os autores nunca ouviram falar de constrangimento fiscal. O Estado
não tem dinheiro nem para os gastos correntes, quanto mais para aumentar
investimentos públicos em setores geradores de emprego. Reduzir “dependência”
de capitais externos é outra obsessão desses economistas, quando apenas países
com contas desequilibradas apresentam essa dependência.)
O livro
"Agenda Brasil" contém ainda propostas em outros campos cruciais para
a construção de um novo modelo econômico, tais como, a necessidade de
instituição de mecanismos privados de financiamento de longo prazo na economia,
o reordenamento dos instrumentos de financiamento para o desenvolvimento
regional e a implantação de instrumentos que visam a melhora da distribuição da
renda no País.
(PRA:
Pela primeira vez se fala em mecanismos privados de financiamento, o que é de
certo modo surpreendente, quando ele deveria estar na base do processo de
crescimento. “Construção de um novo modelo econômico” é uma frase de efeito,
que não quer dizer absolutamente nada, ou tudo, depende de como se olha o
processo. Os autores, por exemplo, acreditam em mais intervencionismo estatal,
em controles de capitais, em papel primordial do Estado como investidor
primário e coisas do gênero. Acho que eles vão continuar ensinando nos bancos
universitários, pois parecem pouco preparados para administrar o país real.)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de dezembro de 2005.