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sábado, 12 de março de 2022

A economia mundial em perspectiva histórica, artigo resenha (1996) - Paulo Roberto de Almeida

A ECONOMIA MUNDIAL EM PERSPECTIVA HISTÓRICA

Artigo-resenha

 

Paulo Roberto de Almeida

Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional

(vol. 39, n. 2, julho-dezembro 1996, p. 136-151). Relação de Publicados n. 199.

 

David Hackett Fischer:

The Great Wave: price revolutions and the rhythm of History (New York: Oxford University Press, 1996, 536 p.)

Charles P. Kindleberger:

World Economic Primacy: 1500 to 1990 (New York: Oxford University Press, 1996, 270 p.)

Harold James: 

International Monetary Cooperation since Bretton Woods (Washington: International Monetary Fund/New York: Oxford University Press, 1996, 742 p.)

Jacob A. Frenkel e Morris Goldstein (eds):

International Financial Policy: essays in honor of Jacques J. Polak (Washington: International Monetary Fund/Nederlandsche Bank, 1991, 508 p.)

Brad Roberts (ed):

New Forces in the World Economy (Cambridge: Massachusetts: The MIT Press, 1996, 438 p.)

Craig N. Murphy:

International Organization and Industrial Change: global governance since 1850 (New York: Oxford University Press, 1994, 338 p.)

Daniel Verdier:

Democracy and International Trade: Britain, France and the United States, 1860-1990 (Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1994, 388 p.)

 

Todos os livros aqui resenhados tratam, em função de prazos mais ou menos longos, da história do desenvolvimento econômico capitalista visto na perspectiva da longue durée. As exceções parciais são o trabalho de James e os  ensaios coletados em Frenkel-Goldstein sobre o primeiro meio século de vida do FMI e do sistema financeiro internacional e, de modo mais afirmado, a obra coletiva editada por Roberts que, constituindo uma coletânea de artigos contemporâneos, previamente publicados na revista de relações internacionais da Universidade de Washington, The Washington Quarterly, refere-se mais bem à “economia política internacional atual”, discutindo assim questões diversas do novo ordenamento econômico mundial no contexto dos anos 90. 

Os demais trabalhos, contudo, abordam, segundo ênfases temáticas, cortes geográficos e contextos diacrônicos que lhes são próprios, a emergência original, a afirmação progressiva, o desenvolvimento e a própria restruturação atual das grandes forças econômicas, políticas, monetárias e sociais que, atuando conjuntamente (ainda que não de forma coordenada), moldaram esse mesmo ordenamento mundial, a partir da época das grandes descobertas dos séculos XV-XVI — ou mesmo antes, no caso do livro de Fischer — até a crise e esgotamento do mundo de Bretton Woods, que epitomiza a própria essência do sistema liberal-capitalista no último meio século. Esses livros condensam o que de melhor o pensamento acadêmico anglo-saxão produziu recentemente em termos de pesquisa comparada e de síntese de boa qualidade de história econômica, suscetível de acolher diferentes abordagens metodológicas na iluminação do itinerário econômico da sociedade capitalista através de vastos períodos de tempo. Em espírito e motivação, eles também inovam substancialmente em relação àquela “velha” vertente eclética da história econômica universitária, de inspiração sobretudo britânica, ao estilo de um Eli Heckscher, de um Robert Tawney, ou da Economic History Review, na qual um “liberal” como Charles Wilson, de Anglo-Dutch Commerce and Finance e de Economic History and the Historian, digladiava intelectualmente com os “marxistas” Maurice Dobb, de Studies in the Development of Capitalism, Edward Thompson, de The Formation the English Working Class, Christopher Hill de The Century of Revolution e Reformation to Industrial Revolution ou, ainda, Eric Hobsbawm de Industry and Empire

Não se trata tanto, nestes livros, de história das “ideias” econômicas — à la Hobson, Sombart ou Schumpeter —, de análise de processos e tendências “fundacionais” — do tipo Capitalism and the Decline of Religion de Tawney, ou o seu contrário, Religion and the Decline of Capitalism de Canon Demant —, menos ainda de grandes “sínteses” de história econômica mundial — tais como as produzidas por Rostow, Rondo Cameron ou Herman van der Wee —, ou de ensaios de tipo “estrutural” — a exemplo de Simon Kuznets e Alexander Gerschenkron — ou, ainda, de “new economic history” — tal como produzida por cliometristas como Robert Fogel ou institucionalistas como Douglass North — mas, mais propriamente, de estudos comparados ou singulares sobre desenvolvimentos econômicos globais — os ensaios de amplo escopo histórico de Fischer e de Kindleberger —, de interpretações inovadoras sobre a emergência e evolução de organizações internacionais e de políticas nacionais — os livros de James, de Murphy e de Verdier — e de artigos de acadêmicos e de “policy-makers” sobre os elementos dinâmicos da economia mundial em transformação — as compilações de Roberts e de Frenkel-Goldstein. Vejamos cada um deles em particular.

(...)


Ler a íntegra em

Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73613258/A_economia_mundial_em_perspectiva_histórica_artigo_resenha_1996_

ou em

Research Gate (link:

https://www.researchgate.net/publication/359195582_A_ECONOMIA_MUNDIAL_EM_PERSPECTIVA_HISTORICA_Artigo-resenha)


sexta-feira, 11 de março de 2022

De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI - Paulo Roberto de Almeida (1991)

De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI (1991)

 Quando escrevi o artigo abaixo, em agosto de 1991, sobre a volta da União Soviética às organizações de Bretton Woods, ANTES que a URSS desaparecesse, no final daquele ano, saudando seu retorno, pois que ela havia estado em Bretton Woods, em 1944, não imaginava que ela pudesse ser EXPULSA do FMI e do Banco Mundial, como pode acontecer agora, em 2022, por causa da invasão brutal e da guerra GENOCIDA por um êmulo de Stalin contra o povo ucraniano.

Os interessados em saber como ele foi a Bretton Woods, e depois recusou tornar-se membro (a despeito de que o segundo homem do Tesouro, Harry White, era um agente soviético e até ofereceu que os EUA pagassem a cota da URSS destruída pela guerra contra Hitler), podem ler este meu artigo, que talvez mereça agora continuidade. Registro que escrevi o artigo antes que, no final desse mês, o Gorbatchev sofresse um golpe de Estado, de velhos comunistas, e ficasse alguns dias fora do poder. Depois ele voltou, mas em 25 de dezembro anunciava o fim da URSS. Escrevi muito sobre os camaradas, mas apenas quero colocar a disposição de um público mais amplo, este meu artigo:
Paulo Roberto de Almeida

209. “De Bretton Woods a Bretton Woods: a longa marcha da URSS de volta ao FMI”, Montevidéu, 27 agosto 1991, 15 p. Artigo sobre a participação da URSS na conferência de Bretton Woods. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro: Ano XXXIV, n. 135-136, 1991/2, p. 99-109). Postado no blog Diplomatizzando (17/12/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5661851/209_De_Bretton_Woods_a_Bretton_Woods_a_longa_marcha_da_URSS_de_volta_ao_FMI_1991_). Relação de Publicados n. 71.

Transcrevo apenas a parte inicial do artigo e depois remeto aos links acima, para os interessados em lê-lo por inteiro (e confesso que não reli, para verificar o que escrevi em 1991, ANTES do fim da URSS, mas ela parece estar voltando agora, sob Putin).

DE BRETTON WOODS A BRETTON WOODS:

a longa marcha da URSS de volta ao FMI

 

Paulo Roberto de Almeida

Revista Brasileira de Política Internacional

(Rio de Janeiro: Ano XXXIV, n. 135-136, 1991/2, pp. 99-109)

Postado no blog Diplomatizzando

(17/12/2011l link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html)

 

O espectro do passado

A História costuma dar muitas voltas, antes de retornar, eventualmente, ao seu ponto inicial. Ela nem precisa reproduzir-se como farsa, como afirmava Marx a partir do conceito original de Hegel. Farsa ou tragédia, tudo depende do ponto de vista de quem é chamado a pagar a conta da repetição do espetáculo. Na verdade, mais que repetir-se, a História se contenta com pregar peças naqueles que ousam desafiar as “leis de funcionamento do mecanismo econômico da sociedade”, para empregar uma das frases preferidas do autor d’O Capital, ou melhor, do Dezoito Brumário, onde aquela famosa reflexão sobre o retorno da História foi registrada pela primeira vez. 

Assim, pode ser encarada, por exemplo, a restauração da “velha” ordem capitalista nos países que, antes ou depois da II Guerra Mundial, tinham adotado o sistema de economia planificada e que, durante muito tempo, se tinham preparado alegremente para enterrar o capitalismo (com a ajuda eventual de uma das muitas crises cíclicas deste último). A transição acelerada do modo de produção socialista ao ancien régime do capitalismo, empreendida a todo vigor no Leste europeu, pode, ocasionalmente, ter seu lado de tragédia (e muito pouco de farsa), notadamente para os órfãos do planejamento centralizado, mas, ela tem muito pouco de surpresa para aqueles que acompanharam com atenção a parábola do comunismo na História.

Winston Churchill, ainda que reconhecidamente muito pouco afeito a reflexões de tipo hegeliano, não se surpreenderia, por certo, com a desmontagem final de um regime econômico e político por ele considerado como “pouco natural” e mesmo totalmente contrário à “natureza humana”. A invocação à Churchill é, aliás, ilustrativa do itinerário tortuoso que a História percorreu em pouco mais de 70 anos de ascensão e queda da ideologia socialista.

Ele, que tinha estimulado e participado ativamente na montagem do apoio ocidental aos grupos de russos brancos que, entre 1918 e 1923, combateram militarmente a jovem república bolchevique, não hesitou, mais tarde, em aliar-se ao “demônio comunista” para eliminar, como ele dizia, o “diabo hitlerista”. Ao final da guerra, conhecedor como poucos do caráter brutal da dominação stalinista, foi um dos primeiros a afirmar que uma “cortina de ferro” se tinha abatido sobre a Europa.

Com efeito, em 5 de março de 1946, Winston Churchill pronuncia, no Colégio Rural de Fulton (Missouri, EUA), seu famoso discurso sobre a cortina de ferro que tinha passado a dividir a Europa desde Stettin até Trieste. Ele reitera então seu severo julgamento, elaborado desde os primórdios do poder bolchevique, sobre o caráter totalitário dos regimes sob dominação soviética e, empregando uma imagem que se tornaria típica da guerra fria, caracteriza o comunismo como uma “ameaça crescente à civilização cristã”.

Churchill afirmava particularmente: “O que eu pude conhecer de nossos amigos russos durante a guerra, me convenceu que, mais do que tudo, eles admiram a força e que, mais do que tudo, eles desprezam a fraqueza militar”. Em 19 de setembro desse mesmo ano, exercitando seus dons de “futurólogo”, ele se pronuncia a favor dos “Estados Unidos da Europa”. Churchill ousa mesmo prever a derrocada final do sistema comunista, com base, em grande medida, nos mesmos argumentos que tinham sido avançados no século passado por John Stuart Mill em relação ao caráter profundamente irracional da organização social da produção em regime socialista.

Churchill, evidentemente, não logrou viver o bastante para assistir à confirmação prática do ceticismo sadio demonstrado pelo pensamento econômico liberal a respeito da debilidade intrínseca de qualquer forma de apropriação coletiva dos frutos do trabalho individual. Difícil dizer, também, se ele consideraria a marcha acelerada das economias planificadas em direção do mercado como uma demonstração inequívoca de um “retorno da História”. Em todo caso, ele provavelmente receberia com um sorriso maroto a solicitação algo desesperada apresentada pela União Soviética de adesão plena ao FMI e ao Banco Mundial, formulada por ocasião da reunião do G7, de julho de 1991 em Londres. 

A despeito da simpatia despertada nos europeus, a cauta reação anglo-americana apenas permitiu contemplar, numa primeira fase, um simples estatuto de “membro associado”, isto é, a URSS ganha o direito de ser escrutinada pelos bisturis cruéis do FMI mas não consegue alcançar a bolsa dos cobiçados sestércios. Essa posição intermediária será rapidamente superada pela situação normal de associação plena, uma vez aprovado um programa rigoroso de reconversão econômica e definidas as linhas da cura de emagrecimento do Estado socialista.

Mais, do que a aceitação formal ou efetiva, pela URSS, dos princípios de mercado, é o apelo ao FMI que conforma verdadeiramente um retorno patético da História. Afinal de contas, as instituições de Bretton Woods, tidas por Stalin como a “representação mais acabada” da ordem mundial capitalista, sempre concentraram os ataques mais veementes dos adeptos da economia planificada. Com o tempo, entretanto, vários países do “socialismo realmente existente” tiveram de arrefecer suas críticas e trataram de solicitar, cada qual a seu turno, uma discreta adesão às antigas “agências do imperialismo econômico”. O movimento se acelerou, desde os anos 70, até incluir agora a própria União Soviética, o que aliás não tomou inteiramente de surpresa os observadores mais atentos, já que esse “salto qualitativo” estava implícito na natureza das transformações em curso nas “economias pós-socialistas”.

Pode-se, contudo, falar legitimamente de “ingresso” da URSS nas instituições financeiras de Bretton Woods, ou seria melhor referir-se à “volta” da ex-pátria do socialismo a organizações por ela mesma criadas no quadro das Nações Unidas? Um pequeno passeio pela História nos permitirá esclarecer essa questão.

(...)


Para ler a íntegra, remeto a estes links: 


Postado no blog Diplomatizzando (17/12/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/12/russia-de-bretton-woods-1944-bretton.html); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5661851/209_De_Bretton_Woods_a_Bretton_Woods_a_longa_marcha_da_URSS_de_volta_ao_FMI_1991_).