O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador campanhas eleitorais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador campanhas eleitorais. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Preparando o acompanhamento das eleicoes de 2018 - Paulo Roberto de Almeida


Preparando o acompanhamento das eleições de 2018

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: Seguimento das eleições presidenciais de 2018; Finalidade: informar, refletir, esclarecer, participar, contribuir]


1. Introdução: de um Brasil sem eleições à redemocratização
2. A sociologia política da representação dos interesses na Constituinte de 1987-88
3. As relações internacionais na ordem constitucional e os partidos políticos
4. Seguindo sistematicamente os programas partidários nas eleições presidenciais
5. A concentração do foco analítico na grande mudança do PT, com Lula
6. A política companheira, para o bem e para o mal
7. As eleições presidenciais de 2006, desta vez seguidas por um blog especial
8. As eleições presidenciais de 2010, novamente seguidas por blog dedicado
9. Campanha de 2014, sem blog dedicado, mas intensamente no Facebook

10. Perspectivas para 2018: sem grandes ilusões quanto aos resultados


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de outubro de 2017.


Texto integral (27 páginas), disponível neste link de Academia.edu
http://www.academia.edu/34952110/Preparando_o_acompanhamento_das_elei%C3%A7%C3%B5es_de_2018

domingo, 22 de outubro de 2017

Seguindo as disputas presidenciais: uma analise das eleicoes de 2002 em politica externa

O texto abaixo nunca foi publicado. Como nos aproximamos das eleições presidenciais de 2018, e eu vou continuar fazendo o que sempre fiz a cada escrutínio eleitoral – que é seguir as plataformas de campanha de cada candidato nos temas de política externa e de relações econômicas internacionais do Brasil – decidi ressucitar a análise que fiz naquela época, sem que ela pudesse ter sido divulgada.
Vou retomar o mesmo hábito em direção das eleições de 2018.
Paulo Roberto de Almeida


O PROJETO EXTERNO COMO PROJETO NACIONAL

A política externa na campanha presidencial de 2002


31 de março de 2002

O Brasil prepara-se para atravessar, desde a redemocratização de 1985, o seu quarto escrutínio eleitoral geral envolvendo uma campanha presidencial. Na campanha de 2002 os temas de política externa estarão bem mais presentes do que em 1989, em 1994 ou em 1994.
Nas primeiras eleições livres para presidente, desde a de 1960, o debate eleitoral esteve dominado e dividido entre as promessas miríficas de um demagogo, Collor, e a utopia socialista de um candidato operário, Lula. Em 1989 defrontaram-se duas concepções do mundo: a modernização capitalista proposta por uma cidadão de baixa estatura moral e o distributivismo fácil de um despreparado bem intencionado. Ganhou a promessa de reformas capitalistas, mas o presidente revelou-se a maior fraude política já conhecida na história do Brasil.
Em 1994, quem ganhou não foi um candidato, mas uma promessa de estabilidade econômica. Levou fácil, no primeiro turno, contra a mesmice de todos os demais candidatos, inclusive o símbolo da classe operária, que continuava a apostar na redenção salvacionista do Estado distributivista. Em 1998, repetiu-se o mesmo cenário: o povo continuou a votar pela estabilidade econômica, contra todas as outras promessas mais ou menos demagógicas das quais ele aprendeu a desconfiar.
Em 2002, o cenário é um pouco diferente. A população continua a preferir a estabilidade econômica (contra as promessas salvacionistas e distributivistas do eterno candidato operário, que aliás está bem mais “neoliberal” desta vez), mas ela também quer dois produtos supervalorizados na atual campanha: emprego (ou pelo menos a perspectiva de) e segurança pessoal, contra a violência urbana e a deliquência. Os estrategistas de campanha terão portanto de conciliar as exigências da clientela eleitoral em matéria de emprego e de segurança com as parcas possibilidades de um orçamento engessado, comprometido em alto grau com o pagamento de juros por causa da dívida pública. Que tenham sorte nessa tarefa de Sísifo!
Um tema, porém, deve distinguir-se dos demais na campanha de 2002: o da política externa, pouco presente nos escrutínios anteriores. Por causa do desastre argentino, da crise do Mercosul, dos dilemas da Alca e das demais negociações em curso (com a União Européia e no âmbito da OMC), e agora com a falência da “democracia bolivariana” do caudilho Chavez da Venezuela, a política internacional do Brasil assumirá um papel jamais visto nas campanhas presidenciais brasileiras. Qual deveria ser a postura dos candidatos nesse terreno?
O candidato do PT, como em todos os escrutinios anteriores, saiu na frente de todos os demais. Muito embora ela ainda não tenha um programa oficial, já se sabe o que ele pensa em política externa: ele favorece uma política agrícola subvencionista e protecionista (como a PAC da UE), ele se posicionou a favor da aliança privilegiada do Brasil com outros grandes países da “periferia” (China, Índia, Rússia) e ele ja se declarou contrário à Alca e a favor de um acordo do Mercosul com a UE.
Não é preciso comentar as ilusões e equívocos de Lula em termos de política econômica internacional (revelada, entre outros, pela sua aversão infantil ao FMI e à globalização), mas uma coisa precisa ficar clara: se ele for eleito, a diplomacia brasileira se retirará das negociações da Alca, deixando vaga a cadeira da co-presidência do processo negociador que o Brasil assumirá com os Estados Unidos a partir de novembro. Ou seja, o Brasil abandona um importante foro negociador da liberalização comercial apenas porque a militância petista tem aversão à Alca (mas favorece um acordo de livre comércio com a UE, sem que se saiba a diferença exata entre um e outro) e acha que esse projeto hemisférico é mais de “anexação” do que de integração. Santa ingenuidade!
O candidato do PPS, Ciro Gomes, foi ainda mais rápido do que Lula e já liberou uma primeira versão do seu programa de campanha, na qual recomenda que o Brasil entre nas negociações da Alca “sem pressa e sem medo”, esquecendo (ou ignorando) que as negociações já começaram e não se sabe de nenhum temor paralizando a diplomacia brasileira (sabe-se de dúvidas e incertezas, mas não se detectou ainda esse medo apregoado). Ciro acredita ainda que o Brasil deve fortalecer seu poder de barganha nesse processo negociando simultaneamente com a UE, a China e a Índia, sem que se saiba como, exatamente, a multiplicação de foros de liberalização comercial com esse parceiros (admitindo-se que seja possível, além da UE, onde o processo envolve o Mercosul) possa alterar significativamente o curso do processo hemisférico.
“Never mind”, diria seu mentor intelectual de Harvard, Mangabeira Unger, pois o Brasil “rejeita a idéia de inevitabilidade da Alca” e acha que a “formação de um espaço das Américas transcende os interesses apenas comerciais”. Conforme essa idéia brilhante, a diplomacia brasileira “insistirá em condicionar a integração comercial a políticas igualizadoras seguindo nisso o modelo da UE e não o do Nafta”. Ele quer ainda livre direito de imigração como parte do acordo, assumindo aqui a causa de milhões de latino-americanos que lutam para entrar nos EUA e realizar seu “sonho americano”, ignorando que os uruguaios também podem temer afluxo similar de milhares de brasileiros. Santa ingenuidade!
O candidato do PSDB, Serra, não disse ainda a que veio, mas parece endossar a maior parte das posições de política econômica e de política externa do atual governo: globalização sim, desde que compatível com nossos interesses e possibilidades, Mercosul também, porque afinal é o que temos como bloco comercial, Alca talvez, desde que satisfeitas determinadas exigências em termos de abertura do mercado americano a nossos produtos competitivos. Ou seja, more of the same, com algumas tinturas desenvolvimentistas e dirigistas, com convém a um antigo expoente do pensamento cepalino.
Mas, precisaremos esperar pela divulgação do programa do candidato do PSDB, provavel vencedor nas eleições de outubro, para analisar com mais cuidado suas propostas de política externa. Pelo que se conhece, ele fará diplomacia como Monsieur Jourdain fazia prosa: de forma involuntária, no caso mediante políticas comercial, industrial e tributária, o que pode não ser de todo mau. Como os diplomatas dependem mesmo das tarifas, dos incentivos fiscais e das regras tributárias para saber até onde podem avançar nas negociações comerciais, Serra pode acabar definindo com clareza os limites e possibilidades de nossa política externa nos próximos anos.
A campanha presidencial de 2002 promete ser movimentada e inovadora, e nela os temas de política externa, a começar pela Alca, assumirão uma importância jamais vista em eleições anteriores. Bom sinal, uma vez que demonstra que o Brasil já está plenamente inserido nos “ares do tempo”, a despeito do que pensam os anti-globalizadores de todos as vertentes. Tanto Ciro Gomes como Serra, dois dos principais candidatos, parecem deixar em aberto as possibilidades do Brasil no processo da Alca, cujo destino será mais determinado pela atitude do Congresso americano do que pelo que digam ou façam os diplomatas.
Só o candidato do PT, Lula, tem uma posição fechada sobre a Alca: ele é contra e no máximo admite um plebiscito nacional, a ser organizado pela CUT, pelo MST e pela CNBB, com resultados mais do que previsíveis. Com esse tipo de atitude principista não é preciso ter política externa: basta providenciar meia duzia de porta-vozes e proclamar os velhos preconceitos de sempre contra o “imperialismo americano” e tudo estará resolvido. Pena que o mundo não é tão simples como apregoa a filosofia do PT. A inconsistência desse tipo de posicionamento em política externa também estará em julgamento nas eleições de outubro.

31/03/2002

terça-feira, 19 de abril de 2016

Economia Politica: a captura de renda pelos interesses especiais, de Mancur Olson a Bernie Sanders - Guy Rolnik

Artigo muito interessante sobre a campanha eleitoral nos EUA que refaz o debate sobre os interesses especiais e os rent-seekers, a partir dos ensinamentos de Mancur Olson e George Stigler, levando o debate até Bernie Sanders, o candidato que está provocando uma revolução no financiamento de campanhas eleitorais nos EUA.
Pode até não ser bem sucedido, mas, assim como já fez Barak Obama em 2008, está levando sua campanha para os milhares de americanos que nunca tiveram voz nesses embates eleitorais.
Paulo Roberto de Almeida

Why Politicians Who Take Money from Special Interests Help Rig the Economy

Those in power determine the rules of the game

By Guy Rolnik
Economics, April 18, 2016
http://evonomics.com/why-politicians-who-take-money-from-special-interests-help-rig-the-economy/ 

Last month, The George J. Stigler Center at the University of Chicago Booth School of Business launched the Capture Index that looks at the concentration of donations to the presidential candidates. As an economist, I tend to believe in what we call “revealed preferences.” Donations from industries are a better measure of their interest than the candidates promises and rhetoric.
When we look at the numbers, we see very clearly that presidential candidates are not different from most congressmen and women: they are happy to take significant amounts of money from industries whose business models are based on favorable regulation, usually regulation that limits competition and helps the incumbents. It is safe to predict that this concentration of donations from what we call “rent-seeking” industries will only get worse as the presidential race continues—because once the special interest groups identify the winners or the candidates that may be a “threat” to the establishment or the status quo, they will coalesce around a few candidates and inject more and more money into their campaigns.
Screen Shot 2016-03-17 at 6.55.34 PM
This is where Bernie Sanders comes into play. You may not subscribe to many of Sanders’s ideas—particularly, those on limiting trade. But one thing is certain: he is really beginning a political and economical revolution. According to our research, Sanders is the only candidate in this race, and actually in the last few decades, who is not taking money from special interest groups. Sanders managed through grassroots movements to raise close to 100 million dollars from the “dispersed public”: that is, taxpayers, consumers, and investors that usually cannot organize and get representation in democracy because they are a large, heterogeneous group that cannot overcome the free rider problem. Sanders is defeating the model that has ruled politics for many years.
The economics of regulatory capture
Professor George Stigler, the Nobel Laureate (1982) who in some ways invented the idea of “regulatory capture,” and Professor Mancur Olson, who developed some of the most important ideas of “public choice,” are not around anymore. If they were alive today, they would probably be surprised to learn that the first politician in recent U.S. history to take their advice seriously and challenge them is a self-described socialist.

In “The Logic of Collective Action” (1965), Mancur Olson taught us that, over time, most capitalist democracies develop “distributional coalitions,” aka special interest groups, which organize to get the government to provide them with special subsidies, laws, and protection from competition. The dispersed public, be it taxpayers or consumers that are footing the bill, will fail to overcome the free rider problem and lose in the democratic battle with those coalitions. As Olson states in a later book, this is what explains the decline, or sclerosis, of economies.
Stigler, in his “Theory of Economic Regulation” (1972), explained that regulation, which is presumably put in place to protect the public, will eventually be acquired, or “captured,” by the very companies, industries, or their trade unions that are supposed to be “regulated.”
The sprawling Lobbyist industry, revolving doors, money in politics—all those ideas that are today part of the public discourse are tools and symptoms of the ideas Stigler, Olson, and many of their students and colleagues developed in their “public choice” literature.
When you consider how clean, simple, and neat the ideas of Olson and Stigler are—why special interest groups will always carry the day in the battle with the dispersed public—it is easy to develop a cynical and pessimistic view of the world. Only special interest groups will have the incentives to organize, lobby, and win in the democratic process. The public, rationally ignorant and free riding by nature, will always pay the bill.
Olson and Stigler predicted that special interest groups carry the day because they can organize and lobby. They can do this because they can raise a significant amount of resources to push their agenda. These predictions turned out to be very accurate most of the time. The best way to see that is in the vast and growing amount of money being spent by special interest groups on lobbying and campaign contributions, as well as the rents extracted in many industries that get de facto protection from competition. The dispersed public was not relevant to this game.
There are reasons that most of the economic policy debate in the presidential race is framed in the right/left or democrat/republican division. It is easy to put policy, politicians, and economists into familiar “boxes”: conservative and liberal being the obvious ones here. Not only that, but many people also want to be part of a “camp,” because it helps them form an identity and get support and protection for their beliefs and ideology.
Ideology is important, but if we take a look at most industries, markets, and the expenditure of the government, we should ask ourselves whether it is “ideology” or a simpler idea: the rules of the game are determined by the sheer power of the vested interests. Energy, agriculture, healthcare, finance, insurance, defense—there is a reason why they spend billions of dollars on lobbying at the federal, state, and congress levels. They are the people influencing the rules of the game and shaping the discourse and narrative in these industries.
It is time to introduce an old idea that doesn’t get enough time, a perspective that is stripped from this usual discourse and labels. One overarching, important idea, which may be bigger than conservative or liberal economic questions, is that of the capture of democracies and regulations by special interests.
In comes Bernie Sanders. A self-described socialist. He wants to expand government and push the US towards a more Northern European model. He brings into the discourse yet again the debate of small or big government, private or public healthcare and education. But these are old ideas: the real message and idea that Sanders brings is much more interesting and revolutionary.
Until 2016. For the first time in recent history, we have a politician who is able to raise serious, big money—the kind of money that can finance a big campaign—from the dispersed public.
Whoever believes in a market economy assumes that players are “price takers” or “regulation takers”: they cannot influence the prices and the rules of the game. If we want to move into a more competitive market system, we should support the political revolution of Bernie Sanders, specifically the way he raises money. We must acknowledge that as long as it is totally within the norms, values, and beliefs of our society that politicians and regulators can take money from special interest groups, our chances of increasing the legitimacy of market ideas are diminishing.

2016 March 18
Originally published at the  Pro Market Blog, “From Mancur Olson to Bernie Sanders”.