Este foi, realmente o último da série das "consequências econômicas da vitória", mas não a última análise que fiz das tribulações do governo Lula, no momento de sua ascensão ao poder. Não tem muita importância atualmente, a não ser pelo prenúncio de boas políticas sociais que eles fariam. Fizeram, mas de forma torta, provocando distorções e equívocos (muitos deles deliberados, feitos para roubar), o que levou o Brasil à Grande Destruição, a maior recessão de toda a nossa história.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22/10/2017
Avaliando a transição:
Balanço da vitória, no momento da subida ao poder
(da
série: Consequências econômicas da vitória, parte 7)
Paulo Roberto de Almeida
(Washington, 988: 28/12/2002)
Em texto
elaborado no dia 20 de outubro de 2002, intitulado “Como vencer a transição” e
inscrito na série “consequências econômicas da vitória”, eu apresentava uma espécie de “decálogo” para o período que se
estenderia desde a vitória, no dia 27 seguinte (do que já estava seguro, muito
tempo antes), até a posse, em 1º de janeiro de 2003. Em dez pontos sintéticos,
eu apresentava então alguns desafios de caráter imediato e outros de ordem mais
estratégica, pois que vinculados à maneira de governar e de se relacionar com
os aliados.
Pretendo, na
presente “reavaliação” da transição, efetuar, com base nos critérios
selecionados naquele texto, uma espécie de balanço desta fase que passou (entre
27 de outubro e 27 de dezembro de 2002), enfatizando sucessos e frustrações e
até distribuindo pontos por “merecimento”, o que constitui, obviamente, um
exercício de impressionismo político totalmente pessoal. Para isso vou retomar
cada um daqueles pontos, evidenciando realizações e carências do período em
questão, sem que minha avaliação apresente, está claro, qualquer implicação
para o desempenho futuro do governo da nova maioria social.
Vejamos quais
eram a tarefas então selecionadas como relevantes na fase de transição e que
tipo de “boletim” (classificação por pontos) poderíamos atribuir ao grupo que
trabalhou para o sucesso do novo governo que se inaugura em 1º de janeiro de
2003:
1) Unificar o discurso
2) Falar ao País, não ao
partido
3) Dirigir-se ao mundo,
seletivamente
4) Tranquilizar os agentes
econômicos
5) Designar os principais
assessores, depois negociar
6) Recompor um programa de
governo
7) Atender a circunstâncias
excepcionais
8) Indicar as linhas do
discurso de posse
9) Estruturar as bases do apoio
congressual
10) Preparar-se para o pior,
manter a mensagem otimista
Numa versão mais elaborada, os
comentários pessoais que poderiam ser feitos ao desempenho da nova maioria na
fase de transição seriam os seguintes:
1) Unificar o discurso
Essa regra,
classificada então como absoluta, válida em qualquer momento e em qualquer
circunstância do jogo político, foi cumprida de modo satisfatório, com pequenos
deslizes setoriais na montagem da equipe ministerial ou na orientação a ser
dada à política econômica do novo governo. Em discurso pronunciado no dia 28 de
outubro que pode ser considerado como praticamente impecável – não fosse a
referência a alguns caudilhos políticos do passado que melhor seria ter deixado
no limbo, a despeito do fato incômodo que eles também pertencem ao presente – o
vencedor ofereceu uma visão bastante clara do que pretenderia fazer no comando
do País.
Tivemos então a impressão de
que a liderança estava sendo exercida em todas as suas dimensões. Mas é óbvio
que o Príncipe não pode ocupar-se pessoalmente de todos os detalhes da nova
administração, daí a delegação de poderes ao chefe operacional do partido, que
desempenhou-se relativamente bem nesse período. O poder é contudo algo tão
fascinante e atraente que, inevitavelmente, outros personagens sentir-se-ão
atraídos por suas luzes e possibilidades de mando, o que de fato ocorreu, em
condições bastante limitadas, felizmente. Assim, não ocorreu o fenômeno da
“dupla linguagem”, mas houve pequenos incidentes verbais sobre como melhor
encaminhar os temas econômicos na fase de transição e além. Minha pontuação:
começo com 9 pontos no boletim.
2) Falar ao País, não ao partido
Ocorreu aqui uma das mais gratas
surpresas de qualquer período de transição ocorrido historicamente no Brasil –
descontando-se aquela entre FHC I e FHC II – no sentido em que o País uniu-se,
em lugar de dividir-se, tanto quanto tinha sido o caso durante a campanha
eleitoral. A nova maioria, por obra e graça das suas lideranças, mas também em
razão das circunstâncias excepcionais de consolidação democrática do País, da
maturidade eleitoral demonstrada pela população (com a infeliz exceção de
Brasília) e em virtude de novos mecanismos institucionais concebidos para a
fase de transição – o que devemos creditar inteiramente à presidência
esclarecida de FHC – logrou beneficiar-se de um arco impressionante de apoios
políticos e de simpatias generalizadas no âmbito do sistema político e da
população em seu conjunto, a ponto de ter passado a desfrutar de uma aprovação
superior a 70% da opinião pública, proporção bem maior do que aquela
conquistada no pleito eleitoral (61.27%).
Em grande medida, esse “crescimento”
pós-eleitoral se deve precisamente ao fato de que o eleito falou mais ao País
do que ao partido, ainda que ele tenha tido de ocupar-se pessoalmente de certos
equilíbrios internos à sua agremiação política (sobretudo na fase final de
montagem do governo). O primeiro discurso ao País continuou sendo
tranquilizador e “consensuador” e a menção do resgate da dignidade do povo –
tão importante na fase eleitoral – bem como o compromisso com os excluídos e
marginalizados compareceram nessa declaração mediante a decisão de se implantar
imediatamente um programa de combate à fome, algo impossível de despertar
oposição de quem quer que seja (ainda que os economistas “alimentem” dúvidas
sobre sua eficácia relativa). Novos pontos ganhos: 9,5, com louvor.
3) Dirigir-se ao mundo, seletivamente
Difícil escapar da sensação de
contentamento com tantos telefonemas e tantas mensagens de congratulações, além
dos inúmeros convites para visitas pré-posse, inclusive – parbleu! – do próprio líder do Império. Essa coisa de “tour du
monde” antes da posse parece coisa de subdesenvolvido, de colonizado cultural,
mas parece que foi incorporado como uma espécie de hábito de todo presidente
eleito. Que seja: algo de útil pode resultar desses contatos informais – ainda
que com um certo sentido diplomático – anteriores à assunção de
responsabilidades governativas, se mais não fosse para uma espécie de “treino”
nos meandros do poder e da administração de uma agenda por certo algo mais
complexa do que as simplificações realizadas durante a campanha eleitoral.
Como não se pode ver ou visitar todo
mundo, a escolha dos “mais iguais” carrega uma simbologia altamente complexa,
mas que de certo modo se casa com o perfil das relações diplomáticas do País:
Cone Sul em primeiro lugar, demais vizinhos regionais e o Império estão
compreensivelmente situados nas primeiras linhas das prioridades, com um certo
ciúme carregado pelos europeus e demais países provedores de imigrantes para o
Brasil. Alguns convites de visita podem ser gentilmente recusados, mas outros
são praticamente incontornáveis, como pode ser o da própria capital do Império.
Nesses
primeiros contatos, devia-se realizar uma balança apropriada entre inovação e
continuidade, o que parece ter sido assegurado de modo satisfatório nas viagens
empreendidas em dezembro de 2002. Talvez tenha faltado um pouco de surpresa ou
espontaneidade aqui e ali – já que o diplomatês parece ter predominado rapidamente
– mas o balanço provisório pode ser considerado como satisfatório, em especial
o encontro na capital imperial. Via de regra, pode-se dizer que as viagens
antecipam um tratamento profissional de alguns dos problemas mais importantes
da fase seguinte: Mercosul, Alca e negociações comerciais de modo geral. Pontos
ganhos nesta etapa “turística”: 8, com viés de alta.
4) Tranquilizar os agentes econômicos
A despeito de um bom começo, as
fontes de tensão persistiram, em função das indefinições prolongadas seja
quanto ao pessoal do núcleo econômico, seja quanto ao próprio conteúdo das
políticas a serem implementadas. As mensagens dilatórias emitidas pela nova
equipe não lograram reduzir as incertezas da conjuntura econômica, razão pela
qual câmbio e taxa de risco continuaram a apresentar um cenário preocupante. Um
novo repique inflacionário agregou à sensação de o Brasil poderia estar
voltando a uma época que se acreditava superada: o ciclo da alta de preços, as
demandas por reajuste ou por correção e a queda na aceleração inflacionária.
Os novos responsáveis indicados
procuraram transmitir um quadro de seriedade no compromisso com políticas de
estabilização, mas a falta de engajamento pessoal da principal liderança e a
demora na escolha dos “guardiães da moeda” trouxeram de volta um cenário de
tensão na frente econômica. Pode-se resumir o quadro com duas palavras: há uma
grande esperança depositada nas novas
lideranças, mas a confiança dos
agentes econômicos ainda é limitada ao refrão habitual: esperar para ver. Pior:
a confiança ainda não existe, de
verdade, o que termina por diminuir o grau de esperança na capacidade da nova equipe em reverter o quadro em
relativa deterioração. A reversão do cenário parece depender da uma demonstrada
capacidade de comando, por quem teoricamente está na instância suprema da
tomada de decisão. Até meados de dezembro de 2002, essa capacidade de liderança
não tinha ainda sido demonstrada. Depois da montagem do novo governo, as
reações foram variadas, alguns depositando no (pequeno) grupo controlador das
finanças públicas, outros reagindo com preocupação à designação de um (grande)
grupo de ministérios e novas secretarias “gastadores”. Pontos recebidos: 5, no
máximo.
5) Designar os principais assessores, depois negociar
O que ocorreu, inversamente, foi um
longo processo de negociação em câmara secreta, sem a designação do “núcleo
duro” do futuro governo. Mas, de certa forma, os principais assessores já
estavam designados desde o início, o que trouxe um pouco mais de tranquilidade
do que teríamos tido sem qualquer tipo de “anúncio ministerial”. Como ocorreu
um delongado processo de designação de quem passaria a comandar, de fato, a
área econômica e a política monetária, os custos dessa demora foram sendo
impostos ao país, sob a forma de queda no valor externo da moeda e do aumento
do custo de vida.
De toda
forma, como a montagem da equipe ministerial foi de certa forma feita ao sabor
das possibilidades políticas (inclusive para se atender às conveniências do
mais importante partido centrista), pode-se prever um certo potencial de
atritos, de desgastes e de fricções no relacionamento com o Congresso e no
funcionamento do governo, sem que o tipo de arranjo político finalmente logrado
garanta as condições de governabilidade, sobretudo no Congresso. A pressão do
tempo e as indefinições políticas determinaram um certo desequilíbrio na equipe
administrativa, com metade do ministério atribuído à própria formação central e
a outra metade dividida em sem partidos e seis outros de cada um dos demais
partidos da coalizão. Pontos atribuídos: 4,5 para baixo.
6) Recompor um programa de governo
Até o final de dezembro, com exceção
do programa de emergência vinculado às carências alimentares da população mais
desfavorecida, ainda não se tinha ouvido falar de um “programa governativo”,
mas simplesmente de um “relatório de transição”, no máximo fazendo um
“diagnóstico”, mas não formulando linhas diretrizes de governo. Não era, aliás,
encargo da equipe de transição apresentar algo coerente para compor um novo
programa de governo, pois ela trabalhou mais setorialmente do que de forma
integrada. Ela ofereceu um balanço da herança recebida, apontando os números
mas também as lacunas, carências e deficiências dos oito anos de tucanato.
Cabe,
então, ao chamado “núcleo central” da nova governança realizar essa tarefa de
compor um novo programa, mas ele aparentemente não conseguirá fazer tudo isso
em pouco tempo. Como parece evidente a qualquer um, não se deveria exigir
qualidades de “super-homens” dos novos responsáveis econômicos e políticos. No
máximo eles conseguirão administrar a máquina sem causar rupturas
desnecessárias.
Esse é o
custo das transições políticas excessivamente paradigmáticas, com alguns
“novatos” assumindo postos de responsabilidade. Em todo caso, seria importante
que o novo governo consiga apresentar um documento contendo diretrizes
executivas como base da sua ação nos primeiros seis meses. Pontuação média: 5.
7) Atender a circunstâncias excepcionais
Nessa área, o que tivemos foi
empirismo involuntário, uma certa boa vontade dos mercados e muita sorte, em
doses variadas de cada um desses elementos segundo a conjuntura. O repique
inflacionário parece ser o mais importante desafio da nova equipe política, já
que o “repique das reivindicações classistas” parece estar sendo controlado de
forma bastante satisfatória pelos novos dirigentes (executivos e partidários).
Deve-se reconhecer que a nova equipe
não contribuiu, ela mesma, para agravar a deterioração da situação econômica,
embora se tenha observado um e outro deslize, aqui e ali. Mas, o entrosamento
com a equipe que sai poderia ter sido maior, caso houvesse uma real abertura de
espírito para reconhecer que a tal de “ruptura” era mais uma palavra de ordem
eleitoral do que uma disposição efetiva para mudar “tudo isso que está aí”. A
disposição para ações conjuntas em prol de estabilidade macroeconômica
permaneceu, todavia, reduzida durante todo o período de transição. Houve aqui
uma certa deficiência de liderança política. Pontos tolerados: 4.
8) Indicar as linhas do discurso de posse
Isso não ocorreu, mas de certa
forma, já não havia mais surpresas a esperar, uma vez que o processo de
transição foi mais tranquilo, do ponto de vista político, do que se supunha
antes da realização do segundo turno das eleições presidenciais. Espera-se que
um pouco mais de “esperança” seja dispensado nesse discurso de posse, embora a
credibilidade desse tipo de mensagem tenha uma “esperança de vida” cada vez
mais reduzida. Pontos que se pode atribuir a essa não situação: 6 pontos.
9) Estruturar as bases do apoio congressual
A situação não parece extremamente
complicada e de fato a nova maioria logrou realizar um amplo leque de consultas
que poderiam assegurar apoios desde a extrema direita até a extrema esquerda do
espectro político, com alguma confusão e frustrações no centro (como seria de
se esperar). A nova equipe comporta, todavia, apenas um representante de cada
um dos seis outros partidos participando da coalizão, contra treze ministros do
núcleo dirigente. Em todo caso, a costura de apoios para aprovação de projetos
específicos permanecerá uma tarefa de alta habilidade política, sem grandes
inovações, portanto, em relação à situação atual. Perspectivas razoáveis nessa
frente: 7 pontos.
10) Preparar-se para o pior, manter a mensagem otimista
Continua válida essa regra e,
sobretudo, a recomendação de que não se deve sair buscando “bodes expiatórios”
dentro ou fora do País. As mudanças sempre têm um custo e este tem de ser
absorvido pela nova administração. Caberia talvez acrescentar uma nova regra: a
de que os principais custos da governabilidade nas novas condições podem ter
origem não em dados objetivos da realidade externa (dentro e fora do País), mas
no próprio seio da nova equipe dirigente. A razão é muito simples: toda medida
econômica apresenta um custo político e por isso torna-se aparentemente muito
provável que o setor político do novo governo venha a se chocar com a ala
executiva da direção econômica. O potencial de desastre é muito grande, na
falta de um árbitro capaz de decidir quais custos absorver e quais outros
afastar.
Não há
receita pronta para esse tipo de dilema, mas deve-se ter confiança (e talvez esperança) no grau de discernimento do
supremo mandatário. Avaliação: 8 pontos.
Se ouso
tirar uma “média aritmética” da pontuação acima atribuída – por certo altamente
subjetiva, pois que baseada em uma distribuição linear de valores uniformes
para fatores totalmente dissimilares e de importância desigual entre si – ela
estaria representada pela nota 6,6. Não se trata de uma aprovação completa,
como se vê (que, pelos critérios tradicionais, poderia requerer um 7 redondo),
mas tampouco de uma reprovação por insuficiência. A situação está mais para
“acompanhar com atenção”, ou ainda, “ajudar na preparação para os exames”, o
que certamente exigirá um reforço nos deveres de casa e mais aplicação nos
estudos. O aluno parece sério e competente e por isso deve se sair bem nos
próximos testes, ainda que não se possa excluir a intervenção de fatores externos
que degradem o cenário de funcionamento do estabelecimento escolar (como a
diminuição do orçamento e ausência de financiamentos externos, por exemplo).
Em todo
caso, caberia expressar um moderado otimismo quanto às chances de avanço
intelectual do “estudante” em questão, rumo a uma pós-graduação com louvor.
Pelo menos esta é a esperança.
Preparando
a futura avaliação: desmontando os números de forma objetiva
Um dos
mais propalados instrumentos de “condenação” literal dos oito anos de
administração “neoliberal” do tucanato foi um “balanço” politicamente motivado
por parte de estudiosos ligados à ala progressista da Igreja Católica, cujo
resultado foi a publicação de uma obra sobre um pretenso “desmonte” da Nação
(cf. Ivo Lebauspin e Adhemar Mineiro: O
Desmonte da Nação em Dados. Petrópolis: Vozes, 2002).
Como no
caso do “plebiscito” sobre a Alca, as conclusões estavam provavelmente
definidas previamente, o que permite duvidar dos fundamentos metodológicos e da
honestidade interpretativa do ensaio de “avaliação” ali conduzido. Por isso
mesmo, para diminuir o grau de subjetividade deste tipo de exercício caberia
tentar introduzir alguns critérios objetivos de avaliação da nova
governabilidade, sob a forma de indicadores econômicos e sociais relativamente
isentos que permitam conferir resultados de meio de caminho (um ou dois anos) e
finais (em 2006).
Com o
objetivo de permitir uma avaliação objetiva (e comparada) do governo da nova
maioria, caberia anotar escrupulosamente os dados registrados ao longo das duas
últimas administrações, bem como aqueles que refletem a situação recebida em 1º
de janeiro de 2003. Proponho que essa avaliação seja feita com base em dados
oficiais, homogêneos no tempo, pois que produzidos, elaborados ou compilados
por instituições públicas, o que nos habilita portanto a dispor de séries
históricas uniformes. Tal é o caso dos indicadores puramente econômicos e
quantitativos, para os quais se oferece uma primeira amostra no Quadro 1.
Adicionalmente, pode-se selecionar alguns outros índices de caráter
qualitativo, que poderiam incidir sobre os elementos inscritos no Quadro 2.
Cabe observar que alguns dados somente poderão estar disponíveis bem mais
tarde, como é o caso do coeficiente de Gini, para o que se deve portanto marcar
rendez-vous em 2006.
Quadro 1: Economia brasileira, dados básicos e projeções:
1999-2003
|
|
1999
|
2000
|
2001
|
2002
|
2003
|
Nível de Atividade
|
PIB em
US$ bilhões
|
530,8
|
593,9
|
503,7
|
486,7
|
477,8
|
População
(milhões de hab)
|
167,9
|
170,1
|
172,4
|
174,6
|
176,9
|
PIB per
capita (em US$)
|
3.161
|
3.491
|
2.922
|
2.787
|
2.702
|
Crescim.
anual do PIB (%)
|
0,8
|
4,4
|
1,4
|
1,5
|
1,4
|
Agropecuária
|
8,3
|
2,2
|
5,7
|
5,8
|
4,0
|
Indústria
|
-2,2
|
4,8
|
-0,3
|
1,0
|
0,8
|
Serviços
|
2,0
|
3,8
|
1,9
|
1,6
|
1,5
|
Investimento
(% do PIB)
|
19,1
|
19,4
|
19,4
|
19,6
|
19,5
|
Massa
real de rendimentos
|
-5,2
|
3,7
|
-3,1
|
-2,0
|
-2,0
|
Desemprego
aberto 7 dias
|
7,6
|
7,1
|
6,2
|
7,5
|
8,6
|
Desemprego
aberto 30 dias
|
8,3
|
7,9
|
6,8
|
8,1
|
9,2
|
Inflação (%)
|
IPCA
(IBGE)
|
8,9
|
6,0
|
7,7
|
12,6
|
10,5
|
IGP-M
(FGV)
|
20,1
|
10,0
|
10,4
|
25,4
|
8,7
|
Setor Externo (US $ bilhões)
|
Exportações
|
48,0
|
55,1
|
58,2
|
60,7
|
67,5
|
Importações
|
49,3
|
55,8
|
55,6
|
47,6
|
50,4
|
Balança comercial
|
-1,3
|
-0,7
|
2,6
|
13,1
|
17,1
|
Conta Corrente
|
-25,4
|
-24,6
|
-23,2
|
-8,4
|
-5,8
|
Conta de Capital
|
17,4
|
19,9
|
27,9
|
9,5
|
5,8
|
Reservas líquidas intern.
|
36,3
|
33,0
|
35,9
|
35,0
|
35,0
|
Déficit Público (% do PIB)
|
Nominal
|
10,0
|
4,5
|
5,2
|
9,5
|
5,2
|
Primário
|
-3,2
|
-3,5
|
-3,7
|
-3,9
|
-3,8
|
Juros Nominais
|
13,2
|
8,0
|
8,9
|
13,4
|
9,0
|
Câmbio e juros (% ao ano)
|
Taxa de câmbio (nominal)
|
1,7890
|
1,9554
|
2,3204
|
3,50
|
3,71
|
Juro nom./TBC (Selic)
|
25,5
|
17,4
|
17,3
|
19,1
|
22,5
|
Juros reais (deflat. IPCA)
|
15,7
|
11,5
|
9,0
|
5,8
|
8,9
|
Juros reais em dólar
|
15,2
|
7,4
|
-1,1
|
-21,0
|
15,7
|
2000: estimativas; 2001:
projeções (atualizadas em 27/12/2002)
|
Fonte:
IBGE, Consultoria Tendências (Conjuntura
Semanal, 30/12/02 a 3/01/03)
|
|
|
|
|
|
|
|
Ainda na
vertente econômica, poder-se-ía agregar dados sobre a dívida externa (tanto a
bruta quanto a líquida, bem como dados relativos às amortizações do principal e
seu serviço, assim como sua relação com o PIB e as exportações), mas uma
avaliação objetiva desses dados do ponto de vista da política econômica nem
sempre é possível, uma vez que grande parte dessa dívida, atualmente, é detida
pelo setor privado (e também por grandes companhias ainda sob controle do
Estado), que persegue sua própria estratégia de endividamento (em função do
diferencial de juros internos e externos), não necessariamente compatível com
políticas preferidas pelas autoridades econômicas. O mesmo poderia ser dito do
índice de poupança, sua taxa de crescimento e relação ao PIB, com variáveis não
controláveis pelo governo. A dívida pública, por outro lado, tem uma parte
indexada ao dólar, o que se reflete em sua variação nominal em função do
câmbio, o que pode introduzir flutuações não diretamente derivadas da política
econômica.
Quanto
aos indicadores puramente sociais, ou qualitativos, eles poderiam ser avaliados
com base nos seguintes critérios, com algumas especificações, abaixo
explicitadas:
Quadro 2: Indicadores sociais brasileiros, 1990-2000
|
|
1990
|
2000
|
Índice Desenvolvimento Humano
(Pnud)
|
0,713
|
0,757
|
Esperança de vida ao
nascimento (anos)
|
65
|
68,6
|
Mortalidade infantil (por
1000 nascims.)
|
47,8
|
29,6
|
Analfabetos (% da população
10 anos ou +)
|
16,4 (1)
|
11,4 (2)
|
População abaixo linha
pobreza (milhões)
|
60,7
|
53,7
|
Taxa de escolarização (%
crian. 7-14 anos)
|
86,6 (1)
|
96,5 (2)
|
Distrib. livros didáticos
(milhões alunos)
|
5,5 (3)
|
33,5
|
Trabalho infantil (5-15 anos
trabalho/milh.)
|
5,1 (3)
|
3,8 (4)
|
Lares com eletricidade
(milhões)
|
27,3
|
39,5
|
Venda anual de refrigeradores
(milhões)
|
0,4
|
3,3
|
Venda anual de televisores
(milhões)
|
2,3
|
5,2
|
Usuários ligados à Internet
(milhões)
|
0,2 (5)
|
12,0 (6)
|
Títulos de livros
editados/reeditados *
|
22,5
|
45,1
|
Número livros
editados/reeditados (milh.) *
|
239
|
330
|
Coeficiente de Gini
|
0.62
|
0.61
|
Notas: (1) 1992; (2) 2001; (3) 1995; (4) 1999; (5) 1996; (6) 2002
Fontes: IBGE; * Câmara
Brasileira do Livro, Abigraf
|
Alguns outros dados são de difícil inclusão, pois eles teriam
de dispor de bases uniformes de comparação, o que nem sempre é o caso, como por
exemplo o número de telefones por habitante, em vista da enormidade das
mudanças estruturais ocorridas (e ainda por ocorrer) no setor, o de certa forma
se aplica igualmente ao número de computadores (e a ligação à servidor
vinculado à Internet) e à venda de livros e jornais por habitantes. Outros
dados aparentemente objetivos, como o valor da cesta básica e sua relação com
salário mínimo, poderiam servir como indicador indireto de bem estar das
populações mais carentes, mas aqui também problemas metodológicos indicam que
se deveria trabalhar com o máximo de cuidado nesse terreno, para não efetuar
comparações desfavoráveis para nenhum dos lados, em vista de diferenças na
composição das cestas e da evolução dos hábitos de consumo pessoal e o peso de
cada elemento na despesa familiar (em função, aliás, da própria evolução de
políticas setoriais e da oferta agregada em determinados ramos econômicos). O
coeficiente de Gini (medida de concentração da renda), por sua vez, não se
presta para comparações diretas, ano a ano, razão pela qual ele deve ser
manipulado com os mesmos cuidados metodológicos das pesquisas envolvendo cestas
básicas e outros índices elaborados por amostragem.
Voilà: fixados os critérios de uma comparação honesta e
objetiva, basta dar rendez-vous daqui
a um ano neste mesmo espaço para conferir os resultados parciais. Uma
comparação mais abrangente e cobrindo sistematicamente um conjunto mais amplo
de fatores que sofreriam numa perspectiva conjuntural muito estreita (inflação
ou câmbio, por exemplo) deveria ficar para 2004 ou diretamente para 2006, ao
término de um período governativo completo. Nesse caso, pode-se comparar o
ritmo de crescimento anual observado no período 1995-2002, com aquele que
emergirá no período 2002-2006. Atenção maior deve ser dada ao capítulo social,
que se apresenta manifestamente como o leit-motiv
da nova maioria. Em qualquer hipótese: boa sorte à nova equipe dirigente!
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 988: 8.12.02; rev.:
28.12.02