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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Uma nota sobre as ameaças correntes à paz e à segurança internacionais (vindas exclusivamente de ditaduras) - Paulo Roberto Almeida

 Uma nota sobre as ameaças correntes à paz e à segurança internacionais (vindas exclusivamente de ditaduras)

Paulo Roberto Almeida


Vamos ser realistas: com toda a violência da brutal agressão da Rússia contra a Ucrânia, Putin não mais possui NENHUMA CONDIÇÃO de ameaçar a segurança da Europa, muito menos do mundo, tanto quanto representou a URSS na primeira Guerra Fria; na segunda Guerra Fria, agora em curso, a Rússia é uma ameaça menor, e não é pareo para a OTAN, se e quando alguma ameaça real se manifestar.

A Rússia é um poder em declínio e sairá ainda mais diminuída da guerra insana que Putin começou e NÃO CONSEGUE terminar. A única coisa que ele vai conseguir é destruir terrivelmente a Ucrânia — cuja reconstrução vai demorar décadas, financiada pelo Ocidente —, a ser seguida da revitalização da indústria de defesa na Europa, nos EUA e em outros países (Japão, Índia, etc.).

A China tampouco representa uma ameaça à segurança do mundo, sequer na Ásia, fora dos dois focos de tensão existentes desde muito tempo: disputa por algumas ilhas com o Japão no Mar Amarelo e, aqui mais preocupante, odesejo do novo imperador Xi Jinping de incorporar Taiwan à RPC (ele pretenderia fazer isso até 2027, término presumido de seu inédito terceiro mandato no modelo deixado pelo grande pequeno Deng Xiaoping).

Registre-se, de imediato, que Taiwan, de fato, NUNCA pertenceu à RPC, mas fazia parte, nominalmente, das possessões do Império do Meio até 1870, quando foi conquistada pelo Japão e assim permaneceu até 1945. Depois “voltou” à soberania da República da China, mas apenas formalmente, e só passou a ter importância a partir de 1949, quando abrigou o que restou do Exército do Kuomintang, derrotado pelo EPL de Mao Tsetung, e foi a “sede” do país membro permanente do CSNU e representante teórico de “todo” o povo chinês na ONU. 

Mas Taiwan é uma espécie de “ouriço militar” e qualquer tentativa de Xi Jinping de conquistá-la pela força seria extremamente custosa para a RPC, sem mencionar a possibilidade de algum envolvimento dos EUA no conflito.

Mas não haverá uma “armadilha de Tucidides”, ou seja, uma guerra entre os EUA e a China, pois não há motivo para isso. O atual hegemon, paranoico como são todos os impérios que enfrentam competidores, vai continuar gastando dinheiro do contribuinte americano com seus brinquedinhos de guerra e investindo em esquemas de alianças militares com países supostamente inimigos da China. Esta vai continuar fazendo comércio e se enriquecendo com investimentos ao redor do mundo, mas sua trajetória bem sucedida até aqui vai começar a enfrentar desafios estruturais já previsiveis.

A América Latina é totalmente excêntrica aos grandes conflitos geopoliticos: ela continuará exportando commodities, energia e alguns outros produtos menos desejáveis: drogas, emigrantes, etc.

A África é um palco tradicional de tragédias imensas, assim como o Oriente Médio, sem maiores consequências nos equilíbrios globais, resultado mais de conflitos inter e intraestatais do que de disputas reais entre os grandes impérios, e produzindo crises tópicas que alimentam uma persistente “oferta” de miseráveis buscando os países democráticos avançados, refugiados de guerras, exilados econômicos, etc.

TODAS as ameaças à paz e segurança internacionais provêm de tiranos, ditadores e candidatos a tais, que sempre existem. 

A luta da ONU deveria ser por democracia e direitos humanos, o que ela já faz, mas de maneira muito precária, sempre desafiada por ditadores e criminosos espalhados pelo mundo todo.

O Brasil tem algum papel nesse contexto? Certamente, embora modesto. Já seria uma boa coisa se colaborássemos na paz e no desenvolvimento da América do Sul e que nos uníssemos mais decisivamente às democracias avançadas, em lugar de ficar apoiando ditadores e ditaduras, como fazem certos governos em ruptura com nossos valores e princípios e com padrões tradicionais de nossa diplomacia. 

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 16/09/2024