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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Carta aberta a um diplomata completamente fora do tom - Paulo Roberto de Almeida

 Carta aberta a um diplomata completamente fora do tom  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivorecomendar renúnciafinalidade: declaração a colegas de carreira] 

 

Diplomata EA, 

Eu estava, recentemente, revisando a lista de minhas resenhas de livros – eu fiz centenas delas – e deparei-me com esta aqui, que na verdade nunca teve divulgação plena, pois a RBPI só publicava resenhas curtas, e eu sempre fiz resenhas-artigos, no modelo da The New York Review of Books, uma jornal literário da esquerda americana, que tenho certeza é do seu conhecimento. A ficha desta resenha, que acabo de publicar em sua íntegra, é esta aqui (e tenho certeza de que você também conhece o meu blog, muito crítico como sempre): 

518. “O Mercosul por quem o fez”, Brasília, 17 março 1996, 3 p. Resenha de Sérgio Abreu e Lima Florêncio e Ernesto Henrique Fraga Araújo: Mercosul Hoje (São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1996). Inédito na versão completa. Publicado em versão resumida na Revista Brasileira de Política Internacional (vol. 39, n. 1, janeiro-julho 1996, p. 175-177). Divulgado em versão integral blog Diplomatizzando (27/01/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-mercosul-por-quem-o-fez-resenha-do.html). Relação de Publicados n. 194.

 

Ao reler a avaliação bastante positiva que fiz desse livro, constatei que, até o final de 2018, nunca mais havia lido qualquer coisa inteligível saída de sua pluma. Ouvi falar de dois ou três romances bizarros mas nenhum colega soube me dizer algo inteligível sobre eles, e a única resenha que li – de um jornalista da revista Época, logo ao início deste governo – não me motivou a buscá-los para tomar conhecimento do que poderia haver de interessante neles. Também deve ser de seu conhecimento que durante quase duas décadas eu assinei a seção Prata da Casa na revista da nossa Associação, resenhando a cada número quatro ou seis obras de diplomatas, mas nunca tive a oportunidade de receber esses “romances” para resenhar. Falha sua, pois quem sabe eu teria algo de inteligente a dizer sobre coisas antigas, quando o Brasil, ainda que ameaçado pela turma do Foro de S. Paulo e pelo marxismo cultural, parecia ser um país mais normal do que atualmente.

Em todo caso, quando voltei a lê-lo novamente, num blog de nome aparentemente inspirado nos círculos wagnerianos – Metapolítica 17: contra o globalismo –, confesso que fiquei estarrecido pelo conjunto de afirmações absurdas e propostas estapafúrdias. Foi tal o choque, que desandei imediatamente a formular argumentos contrários em meu blog Diplomatizzando – que eu chamo de quilombo de resistência intelectual –, o que deve tê-lo motivado a me exonerar do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais numa segunda-feira de Carnaval, uma data estranha para gesto já tão esperado. O choque e o estranhamento foram tais – não só daqueles escritos vitriólicos, mas também das entrevistas raivosas, dos discursos excêntricos, das aulas estranhas para os alunos do Instituto Rio Branco – que eu fiz aquilo que sempre faço quando me deparo com algo fora do normal: ponho-me logo a registrar minhas impressões e contra-argumentos. 

Até aqui foram quatro livros sobre essa estranha fase de nossa diplomacia, uma verdadeira Era dos Absurdos (a EA, que deve entrar para a história), o que me ocupou de uma forma absolutamente inútil, tendo em vista pesquisas sérias e livros mais consistentes que eu poderia estar escrevendo e publicando. Tenho certeza de que você também já tomou conhecimento desses livros, que podem tranquilamente ser acessados no meu citado blog, quaisquer que sejam seus sentimentos e reações a eles. Creio até que foi o primeiro desses livros – Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019) – que o motivou a tomar novas medidas punitivas contra mim, até por meio de ilegalidades, como o fato de cortar meu salário do mês de janeiro de 2020, a pretexto de “faltas injustificadas”, quando eu havia justificado cada uma delas (em duas, aliás, estávamos juntos em eventos dos bravos militares, no Forte Apache e no próprio Ministério da Defesa). Eu poderia lhe dizer que a raiva não é boa conselheira, mas não creio que adiantasse muito, pois desde a Guerra de Troia, ela já produziu muitos gestos insensatos nas relações humanas.

Pois foi quando “redescobri” essa resenha nunca publicada integralmente que tomei a decisão de escrever-lhe uma carta aberta, como convém num caso de interesse público, como é essa horrível gestão sua à frente de nosso tão infeliz ministério. Nunca assistimos, em 200 anos de construção do Brasil pela sua diplomacia – parafraseando a obra já clássica de um colega, o embaixador Rubens Ricupero, que também deve fazer parte de sua biblioteca, tenho certeza disso – um itinerário tão desastroso na condução de nossa política externa. Sei que muito disso é devido aos aloprados no poder, aquela família de crenças ultrapassadas, e até mesmo reacionárias, e não a seus sentimentos profundos. 

Mas, ao fim e a cabo, é o seu nome que está em causa, numa quase unanimidade da mídia, como associado à pior gestão do Itamaraty desde o início sob a responsabilidade de um dos pais da pátria e ao longo de dois séculos de lento estabelecimento de uma diplomacia reconhecida como excelente por todos os nossos parceiros externos, a começar pelos vizinhos e todas as grandes potências. Não é mais o caso atualmente, tanto é que assistimos incrédulos ao seu discurso do Dia do Diplomata de 2020, quando, de sua própria boca, saiu a fatídica palavra: “sejamos párias”. Foi uma declaração original em 200 anos de independência, como todos saberemos reconhecer; talvez tenha sido o ponto mais baixo de sua desastrosa gestão, uma espécie de epitáfio que há de permanecer como a marca única e distintiva de um período vergonhoso, mas que ocupará mais algumas páginas de um futura obra que devo ainda escrever: uma história sincera do Itamaraty, na qual relatarei os pontos mais baixos de sua horrorosa gestão. 

Pois é com base em todas essas constatações que eu me permito recomendar-lhe a única coisa decente que você ainda poderia fazer para aliviar nossas agruras de diplomatas de carreira: renuncie EA, faça isso em benefício da Casa que o acolheu tão bem nas últimas três décadas, mas que agora se encontra deprimida pelo pavoroso cenário de fracassos evidentes e de alucinações delirantes. Reparou que eu sequer o chamei de “chanceler acidental”, o que fiz de forma consciente ao longo dos últimos dois anos? Acredito que o adjetivo é plenamente devido, mas o substantivo não lhe cabe, pois essa qualificação só se aplica a quem conduz, de fato, a implementação da política externa, o que nunca foi o seu caso.

Para sua tranquilidade, e antes que o seu caso se agrave ainda mais, renuncie, para o alívio da quase totalidade de seus colegas, e até de certos membros da família, que levam o terrível constrangimento de verem destruídos os fundamentos da política externa pela qual tanto lutaram, entre ventos e marés, inclusive a diplomacia blindada do regime militar. Sua gestão é um desastre, suas ideias são anacrônicas ou delirantes, seu servilismo a dirigentes estrangeiros é uma vergonha não só para os diplomatas, mas para todos os brasileiros. Salve o que pode ainda ser salvo de sua carreira renunciando, inclusive para não me obrigar a escrever um quinto livro sobre esta Era dos Absurdos diplomáticos.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3848, 27 de janeiro de 2021

 

 

quinta-feira, 5 de março de 2015

Renuncia voluntaria em lugar de impeachment? Ou tera' de ser "renunciada"? Oh duvida cruel...

Entrando por acaso nas estatísticas de visita deste meu modesto blog, deparo com estas estatísticas do período recente:

EntryPageviews
390
110
99
97
88

Ou seja, o interesse pelo tema da renúncia da soberana, em lugar de ser apeada do poder por um processo de impeachment, parece ter despertado a curiosidade desse pessoalzinho que anda por aí, em busca de alguma novidade.
Pois é, novidades existem muitas, pois o Brasil anda de crise em crise, sem que se saiba exatamente para onde ele vai. Provavelmente para lugar nenhum, pois ninguém se entende sobre o que deve ser feito, e não existem estadistas neste país.
Mas, eu entendo que muita gente que anda por aí, que gostaria de continuar mandando, não está nada satisfeito com a situação atual. Daí ter surgido essa história de renúncia, na própria fonte do mal, isto é, do mesmo pessoalzinho sedento de poder que não pretende renunciar ao próprio.
Daí que eles estejam talvez pensando em apear a incompetente fazendo-a renunciar.
Como aquele pobre procurador argentino, que foi suicidado, no nossa caso, ela seria renunciada.
Será que cola?
A ver...
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ultimas noticias: Ministro da Fazenda renuncia...

Recebido de Brasília, há poucos minutos:


Ministro da Fazenda
Gabinete
1o. de Abril de 2013

Excelentíssima Senhora Presidenta da
República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Palácio do Planalto
Brasília, DF
Brasil

Senhora Presidenta,
De conformidade com entendimentos já antecipados a Vossa Excelência, e por razões de ordem eminentemente pessoal, venho apresentar, por meio desta carta, minha renúncia, em caráter irrevogável, ao cargo de Ministro de Estado da Fazenda, em que tão honrosamente fui confirmado, quando de sua posse, em 1o. de janeiro de 2011. Eu lhe sou pessoalmente grato por esse gesto de apreço e de reconhecimento por nossos trabalhos conjuntos, em prol do governo e do partido, nas últimas décadas.
Existem diversas razões para que minha colaboração com o governo de Vossa Excelência se encerre nesta conjuntura, mas creio que as seguintes constituem fatores importantes:
1.     A economia brasileira atravessa um período de redefinição de prioridades, a partir de um novo aprofundamento da crise na Europa e também de novas iniciativas de política econômica em nossos parceiros dos BRICS, em especial a China.
2.     A situação internacional, que tem reflexos na economia brasileira, exigirá novas medidas, da parte do governo, em defesa da atividade doméstica, e creio que Vossa Excelência se sentirá mais livre com a designação de um ministro que possa conceber e aplicar novos mecanismos de estímulo a setores que enfrentam dificuldades temporárias.
3.     A despeito dos esforços da área econômica do governo, sob a forma de redução de impostos e de novas concessões de créditos através dos bancos oficiais, a economia brasileira não tem reagido com o vigor necessário para enfrentar a conjuntura de crise.
4.     A situação do balanço de pagamentos começa a exibir sinais de preocupação, com a diminuição dos saldos comerciais e o aumento dos déficits em serviços, o que pode, eventualmente, agravar a lacuna nas transações correntes, gerando novos motivos de stress na frente cambial, o que também exigirá novas medidas nessa área.
5.     As pressões inflacionárias tem sido persistentes, a despeito dos esforços do governo no sentido de controlar os preços, o que aliás redundou em problemas de caixa para a Petrobras (e possivelmente para as companhias de eletricidade, a partir da redução de tarifas determinada por Vossa Excelência), o que também será necessário equacionar.

À margem desses fatores objetivos que se prendem à conjuntura – mas que podem exigir respostas estruturais, que exigirão políticas de longo prazo, para as quais admito que um novo responsável pela área econômica possa ser necessário com vistas a dar novo impulso à economia – minha saída tem a ver, como adiantado, com contingências eminentemente pessoais, sobre as quais Vossa Excelência está perfeitamente bem informada.

Muito respeitosamente,

Guido Mantega
Ministro de Estado da Fazenda