Mantega envia carta a EUA, Chile e Colômbia e pede para adiar eleição no BID
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 11 de novembro de 2022
Petista do desastre econômico, Guido Mantega, sabota a candidatura de Ilan Goldfajn ao BID - Raquel Landim (CNN)
sábado, 15 de janeiro de 2022
As pílulas de amnésia do dr. Guido [Mantega] - Alexandre Schwartsman
As pílulas de amnésia do dr. Guido
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA INFOMONEY,
EDIÇÃO DE 12 DE JANEIRO DE 2022
Na semana passada, a Folha de S. Paulo publicou artigos de economistas expondo as ideias dos principais candidatos à presidência na área. Chamou a atenção de muitos, inclusive a minha, a peça cometida pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, dentre outros motivos porque trata-se, é bom deixar claro, de um dos principais responsáveis pela extraordinária deterioração tanto econômica como institucional que levou à recessão de 2014-16.
Por mais que haja algum esforço no sentido de, curiosamente, dissociar o artigo da candidatura (afirma que é apenas “resultado das discussões de um grupo de economistas que assessoram o ex-presidente Lula”), não deixa de ser simbólico que o ministro mais associado à chamada Nova Matriz Econômica, hoje uma pobre órfã intelectual e política, seja seu autor.
Ademais, de alguma forma antecipando o que será provavelmente a retórica envolvida na campanha, o ex-ministro fez uma série de afirmações no seu texto que, ou não se enquadram na realidade, ou omitem fenômenos similares que se observaram nos governos petistas, conforme listado logo abaixo, merecendo comentários, no caso dados que confrontam a “narrativa” do ex-ministro.
“A inflação estará recuando dos 10% de 2021, para algo em torno de 6%, às custas de uma feroz política monetária contracionista, que vai paralisar a economia brasileira.”
O que o ex-ministro omite é que entre 2014 e 2015 a inflação subiu de 6,4% para 10,7% e só caiu (apenas em 2016!) às custas de uma política monetária ainda mais contracionista que a atual, que levou a Selic para 14,25%% ao ano. O juro real (já descontada a inflação esperada) para um ano, quer era de 4,5% ao final de 2014, atingiu 7,5% já em maio de 2015.
“No final de 2014 o Brasil era um país pouco endividado, com uma dívida pública líquida igual a 32,5% do PIB.”
A dívida bruta, que é o que interessa, já havia pulado de 51,5% do PIB em 2013 para 56,3% do PIB em 2014, marcando a reversão da tendência de queda. Em 2015 ainda atingiria 65,5% do PIB, avançando ainda para 69,8% em 2016 (67,5% em maio de 2016, quando Dilma foi afastada). Os interessados podem visualizar a evolução da dívida, em particular seu forte salto em 2014, no gráfico abaixo.
Fonte: BCB
“As gestões fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram um desastre que, desde 2016, só acumulou déficits primários.”
No caso, o ex-ministro esquece que o superávit primário que existia até 2013, se tornou déficit já em 2014, subindo ainda mais em 2015 e 2016, conforme exposto a seguir. Temer também entregou déficits primários, mas menores do que havia herdado.
Fontes: BCB e estimativas do autor
Convém, aliás, não deixar de lado que as contas públicas foram maquiadas sob a regência de Guido Mantega para esconder sua deterioração, episódio hoje conhecido como “pedaladas fiscais”, muito bem descritas pelos trabalhos de João Villaverde e Leandra Peres. A estimativa do resultado primário livre de pedaladas se encontra no gráfico acima, revelando a extensão do estrago fiscal ainda no governo Dilma.
“Não à toa, a partir de 2008 o Brasil passou a receber avaliações positivas de grau de investimento, pelas principais empresas de classificação de risco.”
O Brasil perdeu o grau de investimento em 2015, antes de Temer e Bolsonaro.
“Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país.”
A razão entre a renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres (não achei dos 50% mais pobres) vinha em queda desde 1993. Caiu 2,2 pontos percentuais no governo FHC, 6,6 pontos percentuais no governo Lula e 1,2 ponto percentual no governo Dilma (dados só cobrem o período até 2014). A afirmação é, portanto, falsa.
Fonte: Ipea
“O desemprego caiu para abaixo de 6% da população economicamente ativa.”
Também não é verdade: no ano de 2014, em que se registrou o menor nível da série da PNAD, o desemprego atingiu 6,9%. Em termos mensais, o nível mais baixo foi 6,7% no final de 2013 e início de 2014. Isto dito, o desemprego foi a 13% ao final de 2016, quase o dobro do registrado imediatamente antes da recessão, exatamente no segundo governo Dilma. Vale dizer, não apenas o dado é falso, como o ministro omite a forte elevação do desemprego ainda no governo do seu partido.
Fonte: IBGE (dessazonalizado pelo autor)
“É uma herança maldita que fará com que o PIB de 2022 retroceda para os valores de 2013.”
Omite que em 2015 o PIB já era inferior ao observado em 2012. Nos 12 meses encerrados em junho de 2016, ainda sob o governo Dilma, o PIB era menor que o observado em 2011! Por mais que o atual governo insista em políticas equivocadas, nesta base de comparação a “herança maldita” da Nova Matriz consegue ser ainda pior.
Fonte: IBGE
No conjunto da obra, é difícil deixar de notar o esforço extraordinário para fingir que a recessão de 2014-2016 não existiu (outra vertente tenta atribuir a culpa até a fenômenos paranormais, mas não tratarei deste assunto hoje).
A crise de 2014-16, uma das piores recessões (se não a pior) da história recente do Brasil ocorreu sob o governo petista e como resultado das políticas adotadas principalmente após 2008.
Não falamos aqui apenas da supra referida piora das contas públicas, que acabou levando à depreciação do real, aumento da inflação e das taxas de juros, mas também de bilhões de reais enterrados em “campeões nacionais” e investimentos duvidosos (dentre eles estádios de futebol), que fizeram a fortuna de alguns poucos, deixando para a sociedade os custos do seu fracasso. Corrupção e baixa produtividade são fenômenos intimamente interligados, cuja consequência mais imediata é o crescimento econômico medíocre.
Se alguém ainda nutre a ilusão que um possível retorno deste grupo ao comando do país irá marcar a retomada da política econômica do primeiro mandato de Lula, sugiro que reflita a respeito. Neste sentido, o artigo do ex-ministro, ainda que de forma provavelmente involuntária, é bastante revelador acerca do que nos espera caso este cenário se materialize.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
INEDITO no BRASIL: CRIMINOSOS foram Ministros da Fazenda - Notícia e Paulo Roberto de Almeida
MANTEGA VIRA RÉU NA LAVA JATO
O Antagonista, Brasil=============
Demorou, mas chegou, embora pelo mínimo e apenas parcialmente. A população brasileira precisa tomar consciência de que, pela PRIMEIRA VEZ na história do Brasil, ao contrário de toda a história anterior, com ministros da Fazenda mais ou menos competentes, ou declaradamente incompetentes, mas normais, digamos assim, nós tivemos, durante todo o período lulopetista, dois ministros que se sucederam, Palocci e Mantega, justamente, que USARAM A MÁQUINA DO ESTADO, não para desenvolver e implementar medidas universais, impessoais, e puramente administrativas, mas, PRESTEM ATENÇÃO, medidas governamentais – leis, decretos, portarias, medidas provisórias, regulamentos, disposições administrativas, enfim, toda a panóplia da burocracia – voltadas PRECIPUAMENTE para o ASSALTO AO ESTADO, ou seja, práticas CRIMINOSAS, confirmando que eles não eram ministros da Fazenda do BRASIL, mas ministros das finanças do PARTIDO, ou seja, fazendo tudo aquilo, cuidadosamente planejado, cientificamente preparado, especificamente voltado para dar vantagens, recursos públicos, desgravações tributárias, tarifas protetoras, financiamentos do BNDES, subsídios setoriais (no caso, por ramo, ou até por unidade empresarial), TODOS DIRECIONADOS a carrear milhões, centenas de milhões, quiçás BILHÕES, para os capitalistas promíscuos dispostos a fazer "DOAÇÕES LEGAIS" e PROPINAS ILEGAIS, em cash ou em depósitos no Brasil e no exterior, no sentido de alimentar os cofres do partido criminoso e as contas dos mafiosos lulopetistas. ISTO É INÉDITO NO BRASIL, e confirma que a criminalidade lulopetista não pode ser colocada no mesmo nível da corrupção "normal" dos demais políticos e partidos, do tipo: "Ah, todo mundo faz...". NÃO FOI ASSIM: o PT e seus líderes criminosos se estabeleceram no poder para ROUBAR, o máximo possível.
Digo mais: É IMPOSSÍVEL compreender a história do Brasil, de 2003 a 2016, se não admitirmos, se não assumirmos, que o país foi governado, nesse período, por uma ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA cientificamente planejada.
Não temos PROVAS DOCUMENTAIS da IMENSA ROUBALHEIRA perpetrada pela ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA travestida de partido político, mas se os jornalistas investigativos analisarem CADA UMA das medidas tomadas pelos dois ministros das finanças do PT poderão constatar que a maior parte delas estava destinada a ROUBAR, pelo Partido e para seus líderes, de forma planejada, deliberada, cientificamente calculada. O que temos, e eu afirmo sem medo de errar, que são COMPELLING EVIDENCES, evidências aplastantes da atividade criminosas dos dois ministros. QUE ELES SEJAM CONDENADOS A 300 ANOS DE CADEIA, e que suas fotos sejam retiradas da galeria de ministros do Ministério da Fazenda.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de agosto de 2018
sábado, 11 de agosto de 2018
A Grande Corrupcao lulopetista: 307 encontros entre Mantega e Odebrecht
A Lava Jato ainda não apurou quantos encontros, abertos e furtivos (sobretudo estes últimos), teve Mantega com o "super-capitalista companheiro", o homem das empresas X, todas elas regiamente sustentadas por centenas de milhões generosamente repassadas por esse Banco de Grandes Bobos que é o BNDES. O dia em que a PF, ou o MPF, rastrearem as ligações e os encontros entre Mantega e Eike Batista, talvez o número se aproxime, ou talvez até supere, esses encontros entre o ministro da fazendona companheira e o grande capitalista promíscuo, o homem da empresa geneticamente corrupta que deve mudar de nome doravante, com toda probabilidade. A PF também pode solicitar as planilhas de voo do jatinho do Mister X, e as vezes em que Mister Manteiga viajou de "carona", para o Rio ou SP. Pena que eles não conseguiram pegar parte das verbas generosas repassadas em formato cash de X a M, em $$ de várias denominações, à escolha do cliente.
Os brasileiros ainda não se deram conta de que os dois ÚNICOS ministros das finanças pessoais do PT, por acaso também do Brasil, foram apparatchiks especialmente dedicados às doações legais e ILEGAIS dos capitalistas achacados em favor da maior organização criminosa que já governou o Brasil. Pela PRIMEIRA VEZ na história do Brasil, tivemos não apenas ministros da Fazenda, mas súditos do grande chefão mafioso que colocaram toda a máquina do Estado, naquela jurisdição, a serviço do projeto de poder do PT.
Estou apenas refletindo o que leio na imprensa diária, com base na minha percepção daquilo que os americanos chamam de "compelling evidences", que deveria garantir a todos os protagonistas pelo menos 300 anos de cadeia.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de agosto de 2018
Lava Jato rastreia 307 encontros de Mantega com Marcelo Odebrecht para aprovação de MPs
Brasil, O Antagonista,sexta-feira, 10 de outubro de 2014
UFC economico: Brazil’s election: in face-off with Mantega, Fraga disappoints (FT)
The Financial Times, 10/10/2014
It was set to be one of the biggest massacres of Brazil’s election. On Thursday night Guido Mantega, finance minister, went head-to-head with Armínio Fraga, the former central banker who will take his job if Aécio Neves wins the presidency this month.
Mantega certainly has some explaining to do. The economy is expected to grow a measly 0.2 per cent this year, according to Brazil’s latest central bank survey. That is less than much of the developed and developing world.
On top of that, 12-month inflation last month came in at 6.75 per cent – above the upper limit of the country’s tolerance band and far above the official target of 4.5 per cent.
So far, Mantega and the PT party have blamed this all on the global financial crisis…
In short, Mantega should have been an easy target.
Fraga certainly had the right arguments. The government needs to fix its economic model, combat inflation, raise investment, attract capital, build credibility and reduce unnecessary lending by the state development bank BNDES, he said. Furthermore, the global financial crisis was *five* years ago, he pointed out. All that is music to investors’ ears.
Even so, he struggled to get the upper hand on Thursday night. While Mantega spoke as a confident politician, drawing on populist and coherent (albeit somewhat flawed) narratives, Fraga largely responded with the cold pragmatism and technical details of a central banker.
As the Brazilian journalist Sérgio Augusto remarked on Twitter: “I had forgotten how bad Armínio Fraga is at interviews and debates. He comes across as everything he isn’t: insecure and false.”
After eight years of Mantega as Brazil’s finance minister, investors and business people may welcome a little cold pragmatism. However, it is not these people Fraga has to convince – the vast majority would have picked Fraga over Mantega anyway. Rather, Fraga and the PSDB party need to find a way to get the economic message across to the average Brazilian and to deconstruct the common belief that what is good for the markets is bad for the people and vice-versa.
After all, this is not just a cordial economic debate: it’s war – the final battle for control over the world’s second-biggest emerging market and the lives of more than 200m people.
sábado, 31 de agosto de 2013
Brasil: uma politica economica esquizofrenica - Rogerio Werneck, Rodrigo Constantino
O modelo equivocado tem mãe. Ou: O problema vem do andar de cima.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Gustavo Franco, disfarcado de Mme Lagarde, humilha Guido Mantega: impagavel...
A resposta de Madame Lagarde
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Ultimas noticias: Ministro da Fazenda renuncia...
domingo, 10 de fevereiro de 2013
O dragao da maldade e os guerreiros atrapalhados...
Na figuração econômica, sobretudo brasileira, o dragão ficou simbolizando a inflação. Num passado não muito distante (digamos, 18 anos, mais ou menos), o vice-presidente guindado à presidência por um desses golpes do acaso (corrupção), que hoje pareceriam contos da Carochinha, achou que era São Jorge, mas mesmo atrapalhado, permitiu que os bravos guerreiros comandados pelo então ministro da Fazenda FHC (mas o mérito cabe todo à sua equipe de economistas, não a ele, sequer ao presidente, que não permitiu um ajuste real nas contas públicas), dessem um golpe certeiro na inflação. Ele foi dado, e durante o restante dos anos 1990 ela permaneceu em patamares civilizados, chegando mesmo, antes da crise de 1998, a meros 2% (se estou bem lembrado), patamar jamais alcançado antes ou depois. Se ela subiu em 2002 -- e por isso deu vazão à acusação desonesta de "herança maldita" por um provocador de inflação -- foi justamente porque o partido de oposição, vulgo dos trabalhadores, sempre sacrificou os trabalhadores, no seu pacto perverso com a CUT dos patrões, a FIESP, todos engajados em produzir inflação, ao anunciar planos mirabolantes de "mudar tudo isso que está aí". Ainda bem que não o fizeram, e a inflação, depois de recrudescer na campanha eleitoral, voltou a patamares civilizados com um presidente de BC que acreditava no tripé macroeconômico definido em 1999. Isso é história.
Mas, o governo dos companheiros perdeu a mão quando a atual presidente ascendeu à Casa Civil, bloqueando um ajuste mais forte, um superávit primário mais robusto, e dando início ao período de gastança que abalaria um dos pés do tripé, o equilíbrio fiscal. O segundo tripé, as metas da inflação, começou a ser desacreditado quando o atual ministro da Fazenda, ainda no governo anterior, se opôs ao rebaixamento da meta, num momento em que era possível fazê-lo, pois a de 2005 tinha ficado até abaixo da meta. Mas desde 2005 que não apenas a meta é mantida em 4,5% (mais de três vezes a média mundial) mas também o espaço de variação é muito grande, de 2%, exagerados. Finalmente, o terceiro pé, câmbio, vem sendo desacreditado desde muito tempo pelo ministro trapalhão (escolha qualquer um deles) que diz que o câmbio flutua, desde que seja pertinho de 2 reais por dólar.
Em qualquer país sério, executor monetário que prometesse cumprir metas e não cumprisse, seria chamado ao parlamento, e eventualmente demitido. O presidente do BC prometeu, em 2011, que entregaria a inflação dentro da meta em 2012. Não apenas não o fez, como diz que não sabe quando o fará.
Por isso a população está legitimamente preocupada, como indicam os dois artigos a seguir.
Eu já estou ao abrigo da inflação brasileira (não tanto, pois ainda pago contas no Brasil, para familiares), mas me preocupa que a estabilização monetária, tão duramente conquistada em 1994, e o tripé macroeconômico, tão dramaticamente introduzido em 1999 seja tão canhestramente sabotados, aparentemente de forma consciente, por gente que não sabe o que está destruindo.
Paulo Roberto de Almeida
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Nocauteada pelo Plano Real, a inflação avisou de novo que está querendo acordar
Na quinta-feira, Dilma Rousseff mandou a inflação passear para encontrar-se a sós com o senador amazonense Alfredo Nascimento. Demitido do Ministério dos Transportes depois de pilhado pela imprensa em cenas de corrupção explícita, Nascimento apareceu no Planalto caprichando na pose de presidente do PR. Na sexta-feira foi a vez de Carlos Lupi, apeado do Ministério do Trabalho também por ter aterrissado ruidosamente no noticiário político-policial. No papel de comandante do PDT, Lupi enfim reviu a chefe que lhe inspirou espalhafatosas declarações de amor.
“A presidenta quis trocar ideias com nossos aliados”, fantasiou Gilberto Carvalho. Quem passou a vida trocando favores não tem ideias para trocar. Nas duas audiências, só se tratou do contrato de aluguel que deverá garantir o apoio do PR e do PDT à candidatura de Dilma a um segundo mandato. A trinca não perdeu tempo com assuntos desagradáveis ─ as razões do despejo da dupla, por exemplo. Ninguém infiltrou na pauta temas incômodos ─ a inflação de janeiro, por exemplo. Dilma, Nascimento e Lupi examinaram exclusivamente questões ligadas à eleição de 2014. O passado e o presente ficaram fora da pauta que só tratou do futuro.
No lugar da presidente ocupada com dois casos de polícia, irrompeu no picadeiro o inevitável Guido Mantega. O que tinha a dizer sobre o índice divulgado pelo IBGE? “A projeção é de que janeiro foi o pico”, reincidiu a usina de vigarices. Depois de atravessar 2012 enxergando um pibão até ser atropelado pelo pibinho, depois de recorrer a trapaças de envergonhar qualquer 171 para esconder crateras nas contas públicas, Mantega recomeçou a sequência de previsões cretinas. A tapeação não pode parar.
“Eu não tenho projeção até dezembro, mas nos próximos meses a inflação vai para baixo”, mentiu outra vez. Até o aprendiz de ilusionista disfarçado de ministro da Fazenda sabe que a taxa de janeiro seria mais alarmante se o o preço da gasolina subisse no começo do ano, como queria Graça Foster, presidente da Petrobras. O próximo índice já refletirá os efeitos desse aumento.
Ainda no primeiro semestre, queiram ou não os prefeitos companheiros, paulistanos e cariocas estarão pagando mais caro para embarcar em ônibus, trens urbanos e metrôs. O crescimento da demanda (estimulado pelo governo) e a redução da oferta (decorrente da retração da atividade industrial) ameaçam reprisar a parceria historicamente perversa. E a curva ascendente dos preços dos alimentos começa a causar estragos sobretudo nos bolsos da classe média (velha ou nova).
Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, milhões de brasileiros sensatos estão compreensivelmente inquietos com os sinais emitidos pelo monstro adormecido há mais de 18 anos. Os encarregados de impedir que desperte não perdem o sono por tão pouco. Dilma e Mantega estão brincando com o perigo. Podem acabar engolidos pelo bicho que acordaram.
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Inflação preocupante
A hipótese de um aumento de juros já foi considerada nos mercados, depois de o presidente do BC, Alexandre Tombini, descrever o quadro atual como desconfortável, mas ainda é tratada como improvável. Os dirigentes do BC reafirmaram no fim de janeiro, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a expectativa de uma acomodação dos preços ao longo de 2013. Reiteraram também a disposição de manter a atual política por um "período suficientemente prolongado".
Esse é um jogo de alto risco. A experiência já desmentiu no ano passado algumas das previsões mais importantes do Copom. A inflação, segundo o pessoal do BC, vinha sendo impulsionada principalmente pelos preços internacionais dos produtos agrícolas. A crise global derrubaria esses preços. Oscilaram, de fato, mas voltaram a subir. O governo cumpriria a meta fiscal e isso também ajudaria a conter as pressões inflacionárias. Também essa projeção foi errada. No fim do ano, o Ministério da Fazenda recorreu a uma porção de truques para maquiar o resultado das contas públicas. Além de tudo, outros fatores, além dos preços internacionais das commodities, alimentaram fortemente a inflação. Os fatos, portando, desmentiram tanto o diagnóstico quanto os prognósticos oficiais.
Os fatos continuam desmentindo a avaliação oficial dos técnicos e dirigentes do BC. A alta dos preços das matérias-primas é apenas um dos componentes do quadro. Os números mostram um cenário mais complexo e um problema bem mais grave. Em dezembro, aumentos de preços foram registrados em 70% dos itens componentes do IPCA. Bastaria isso para desmentir a tese de uma inflação associada a uma classe única de fatores. Em janeiro esse indicador de difusão chegou a 75%, denunciando um alastramento ainda mais amplo.
É fácil entender esse quadro quando se levam em conta o alto nível de emprego, a expansão da massa de rendimentos, o rápido aumento do crédito e a expansão do gasto público, apesar das dificuldades orçamentárias em fase de estagnação econômica. Curiosamente, o próprio Copom, em sua última ata, menciona "a maior dispersão" dos aumentos de preços ao consumidor, a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho", as perspectivas de uma demanda interna ainda robusta e, afinal, a "posição expansionista das contas públicas".
Alguns desses fatores haviam sido apontados em documentos anteriores do Copom. No entanto, as decisões sobre a política monetária foram tomadas, ao longo do ano, como se esses problemas devessem esgotar-se nos meses seguintes, sem deixar marcas no sistema de preços. Esse otimismo, até agora contrariado pelos fatos, parece manter-se. O governo continua confiando em medidas tópicas, destinadas a conter este ou aquele preço (da eletricidade, por exemplo), como remédios contra a inflação. Que um governo com inclinações populistas faça isso é até compreensível. Chocante, mesmo, é a passividade do BC.