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domingo, 19 de janeiro de 2020

Afinal, os nazistas eram capitalistas, socialistas ou “terceira via”? - Chris Calton (Mises)

Afinal, os nazistas eram capitalistas, socialistas ou “terceira via”?
Chris Calton
é estudante da Mises University e historiador econômico. 
Ludwig von Mises, à época, já havia explicado tudo


A controvérsia parece nunca ter fim: afinal, qual era a ideologia econômica dos nazistas?
Recentemente, deparei-me com uma postagem no Twitter até bem espirituosa. A pessoa, de esquerda, afirmou o seguinte, parafraseando: "Pessoas que dizem 'Os nazistas eram socialistas; o próprio nome do partido assume isso!' devem se sentir atordoadas ao lerem 'buffalo wings'[1]."
Hoje, parece ter virado senso comum dizer que os nazistas eram capitalistas, e não socialistas, apesar do capcioso nome do seu partido: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei ou Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Traga o assunto à baila e a reação sempre será a mesma: os intelectuais arregalarão os olhos e dirão que qualquer pessoa com formação universitária tem a obrigação de saber que os nazistas eram capitalistas; se não no nome, ao menos em princípio.
Obviamente, tal alegação não faz nenhum sentido, pois não sobrevive ao mais básico teste de lógica, como será mostrado mais abaixo. No entanto, o primeiro mistério a ser desvendado é: de onde surgiu este mito de que os nazistas eram capitalistas?
Ludwig von Mises, com efeito, já havia respondido a esta pergunta em 1951 em seu ensaio "Planned Chaos".
Durante o século XIX, quando o socialismo estava começando a ficar em voga na Europa, não havia nenhuma distinção entre "socialismo" e "comunismo". Sim, havia formas distintas de socialismo, mas estas não eram diferenciadas pelos termos "socialismo" e "comunismo". Cada intelectual possuía a sua preferência, mas os termos "socialismo" e "comunismo" eram utilizados de maneira intercambiável.
Sobre isso, Mises escreveu: "Em 1875, em seu Crítica ao Programa de Gotha, do Partido Social-Democrata Alemão, Marx fez uma distinção entre a fase precoce e a fase posterior da sociedade comunista. Mas ele não reservou o nome "comunismo" à fase posterior, e não rotulou de "socialismo" a fase precoce, para diferenciá-la do comunismo".
Segundo Marx e sua teoria sobre a história, o socialismo era inevitável. De acordo com sua análise determinista, todos os países do mundo estavam destinados a seguir o mesmo caminho: do feudalismo para o capitalismo, e do capitalismo para o socialismo, quando a história acabaria. Para Marx, essa progressão era inevitável.
Na Alemanha, os primeiros propagadores do "socialismo de estado" surgiram um pouco antes de Marx. Johann Karl Rodbertus, assim como Marx, rejeitava várias das teorias socialistas então em voga, dizendo que eram insustentáveis. Rodbertus foi o primeiro pensador socialista a defender o controle tanto da produção quanto da distribuição. Segundo ele, para alcançar isso, os socialistas teriam de usar o estado. Já o maior propagador dessas idéias foi Ferdinand Lassalle, cujo proselitismo levou a um rápido crescimento da popularidade daquilo que Mises viria a rotular de "socialismo de padrão alemão".
O socialismo alemão, como Mises o definiu, diferia do "socialismo de padrão russo". O socialismo de padrão alemão, disse Mises, "mantinha, ao menos aparentemente, a propriedade privada dos meios de produção e permitia, ao menos nominalmente, o empreendedorismo e as transações de mercado".
No entanto, tal arranjo era apenas superficial. Por meio de um abrangente e complexo sistema de regulações e intervenções econômicas, a função empreendedorial dos proprietários dos meios de produção era totalmente controlada pelo estado. Industriais e comerciantes, por exemplo, não mais tinham a função empreendedorial de tentar antecipar quais seriam as demandas futuras dos consumidores para então fazer as devidas alocações de recursos visando à satisfação desta demanda e, consequentemente, ao lucro. Assim como na União Soviética, essa função de especulação empreendedorial e alocação de recursos era feita exclusivamente pelo estado.
Consequentemente, dado que era o estado quem estava no controle efetivo da alocação de recursos, o cálculo econômico de preços e custos se tornava impossível.
"Na Alemanha nazista", disse Mises,
Os proprietários dos meios de produção eram chamados de dirigentes comerciais, ou 'Betriebsführer'. O governo dizia a estes supostos empreendedores o que produzir, como produzir, em quais quantidades e a que preços. O governo também determinava de quem eles deveriam comprar, a quais preços e a quem poderiam vender. O governo decretava os salários que deveriam ser pagos para cada trabalhador. E determinava também para quem e sob quais condições o capitalista deveria investir seus fundos.
As transações de mercado não eram genuínas; eram apenas um fingimento, uma simulação.
E, dado que todos os preços, salários e taxas de juros eram estipulados pelas autoridades, eram preços, salários e juros apenas na aparência. Com efeito, eram termos meramente quantitativos em meio a um ordenamento autoritário que determinava a renda, o consumo e o padrão de vida de cada indivíduo. Era a autoridade, e não os consumidores, quem comandava a produção.
O comitê central de gerenciamento da produção era supremo. Todos os cidadãos se transformaram em meros funcionários públicos. Isso nada mais é do que um arranjo socialista camuflado sob uma aparência externa de capitalismo. Alguns termos que remetiam a uma economia capitalista foram mantidos, mas seu significado era totalmente diferente daquele de uma genuína economia de mercado.
Em suma: os nazistas praticaram controle de preços, controle de salários e arregimentaram toda a produção. A propriedade dos meios de produção continuou em mãos privadas, mas era o governo quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem tais produtos seriam distribuídos, bem como quais preços seriam cobrados, quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber.
Desnecessário ressaltar que determinar preços e salários, e estipular o que deve ser produzido, como e para quem, representam um claro ataque à propriedade privada, pois retiram dos produtores as opções que eles teriam no livre mercado para aplicar seus recursos. Trata-se de uma intervenção estatal que, na prática, proíbe os proprietários de investirem seus recursos onde e como bem quiserem.
A propaganda soviética
Mas os próprios soviéticos também tiveram um papel crucial em criar o mito de que os nazistas eram capitalistas. Os nazistas nunca tentaram esconder suas propensões socialistas (afinal, não obstante os twitteiros sarcásticos, o socialismo estava no nome deles); eles simplesmente estavam implantando o socialismo seguindo uma estratégia diferente daquela dos socialistas marxistas.
Os soviéticos rotularam os nazistas de capitalistas simplesmente porque eles já haviam começado a redefinir os termos "socialismo" e "comunismo". Os membros de seu partido, os bolcheviques, agora eram diferentes dos outros grupos socialistas rivais. Os termos "comunismo" e "socialismo" ainda eram usados de maneira intercambiável, e a própria União Soviética era apenas uma abreviação de "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas". Só que, ao rotularem seu grupo de "Partido Comunista", o título "Comunista" — que agora significava um membro do partido de Lênin — se tornou uma maneira de dizer que aquilo era "o socialismo verdadeiro", por assim dizer.
"Foi somente em 1928", explicou Mises, "que o programa da Internacional Comunista ... começou a diferenciar o comunismo do socialismo (e não somente comunistas de socialistas)." Essa nova doutrina afirmava que, no arcabouço marxista, havia outro estágio de desenvolvimento entre capitalismo e comunismo. Esse estágio, obviamente, era o socialismo, e era neste estágio que se encontrava a União Soviética.
Em sua teoria original, Marx fez uma distinção entre o comunismo em sua fase inicial e o comunismo em sua fase final: a verdadeira igualdade só seria alcançada no estágio final do comunismo, após o estado ter sido bem-sucedido em seguir todas as políticas recomendadas por Marx e os seres humanos já terem evoluído para alem de sua "consciência de classe". Na nova doutrina, "socialismo" simplesmente se referia ao estágio inicial do comunismo marxista, ao passo que o verdadeiro comunismo — a fase final do comunismo marxista — só seria alcançada quando todo o mundo fosse comunista.
Assim, a União Soviética era meramente socialista, mas os membros do partido eram comunistas, pois representavam os poucos iluminados que já estavam trabalhando em prol do objetivo supremo do comunismo.
Por outro lado, os nazistas ainda alegavam ser socialistas e, com efeito, agiam de maneira muito semelhante à teoria socialista, com suas abrangentes e autoritárias intervenções econômicas. Só que, como ainda havia desigualdade econômica entre os cidadãos da Alemanha nazista (assim como havia na União Soviética, mas isso não interessava à narrativa), e como os nazistas mantiveram alguns dos termos técnicos de uma sociedade capitalista — especificamente, ainda havia a existência superficial de propriedade privada, ainda que em termos meramente nominais —, isso já bastava para serem vistos como o exato oposto de seus congêneres comunistas.
E então, quando os nazistas invadiram a União Soviética, Josef Stálin e seus lacaios recorreram à nova narrativa comunista para redefinir o socialismo nazista — o qual, embora não fosse marxista, se baseava nas teorias dos socialistas alemães originais que influenciaram diretamente as idéias de Marx — como "capitalista".
De acordo com essa nova narrativa, os nazistas estavam na etapa suprema do capitalismo, a qual seria a pior de todas.
Em uma época em que vários membros da intelligentsia européia estavam encantados com a União Soviética, essa narrativa de que os nazistas eram capitalistas passou a ser uma falácia extremamente conveniente. Mas trata-se de uma ideia sem o mais mínimo fundamento em princípios econômicos. É apenas uma deturpação soviética com base no arcabouço marxista. Os nazistas, que apregoavam orgulhosamente seu socialismo e que implantaram políticas socialistas com grande consistência, passaram a ser chamados de capitalistas pelo simples motivo de que eles não se encaixavam pristinamente na visão de mundo soviético-marxista.
Esta narrativa segue viva até hoje.

[1] Buffalo wings, ou asas de Búfalo, nada mais são do que asas de frango apimentadas. O nome se deve ao fato de tal prato ter sido inventado na cidade americana de Buffalo, Nova York.
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Leia também:

sábado, 4 de janeiro de 2020

Por que os jovens ainda preferem o socialismo? - Nicholas Crovitz (Mises)

Este artigo, esclarecedor sobre as razões de porque tanta gente, sobretudo os jovens, continuam manifestando preferência pelo socialismo, a despeito de todas as terríveis consequências, se conclui por uma frase de Thomas Sowell, que poderia ter sido também dita por ninguém menos do que George Orwell (Eric Blair), se é verdade que não foi dita por ele: 

Como disse Thomas Sowell, "O histórico de desastres do socialismo é tão óbvio, que somente intelectuais poderiam ignorá-lo".

Desfrutem...
Paulo Roberto de Almeida

É fácil entender por que os jovens dos países mais ricos tendem a defender mais socialismo
Mises Brasil, 5/11/2019
Essa é a consequência de se viver na abundância


Há um fenômeno ocorrendo em comum nos países mais ricos e prósperos do mundo: os jovens afirmam ter sentimentos positivos em relação ao socialismo.
Em uma pesquisa de 2017, 51% dos millennials se identificavam como socialistas, com adicionais 7% dizendo que o comunismo era seu sistema favorito. Apenas 42% preferiam o capitalismo.
Em alguns casos, a defesa do socialismo ocorre abertamente, como nos EUA, onde os jovens que apóiam o Partido Democrata — principalmente Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez — abertamente se auto-rotulam como socialistas. Em outros, a defesa é menos explícita, como nos recentes protestos do Chile
Em comum, vemos jovens de países prósperos, que vivem em meio a uma abundância nunca antes alcançada na história do mundo, exigindo mais poder estatal, mais intervenções e estatizações, e menos liberdade de mercado — o mesmo mercado que lhes forneceu toda esta abundância.
O que explica essa contradição?
É tentador dizer que todo o problema se resume a uma completa ignorância tanto sobre economia básica quanto sobre história. De um lado, tais pessoas não entendem como funciona uma economia de mercado (embora vivam em uma); de outro, aparentam desconhecer por completo o histórico do socialismo.
De concreto, há uma total falta de apreço por quão rapidamente suas condições materiais melhoraram.
A armadilha nutricional
Em um passado não tão distante, as pessoas não "trabalhavam duro", no sentido de longas e cansativas horas de trabalho. De certa forma, elas trabalhavam menos do que nós atualmente. E era assim não pelos motivos que os socialistas de hoje imaginam.
Não havia aquele cenário cor-de-rosa de "camponeses felizes trabalhando poucas horas por dia nos campos, e então passando o resto do dia no ócio e no lazer". Todos eles eram raquíticos, muito mal alimentados e simplesmente não tinham energia para trabalhar duro. Longe de levarem uma vida idílica, ver seus filhos sofrerem de desnutrição e estar fraco demais para ajudá-los deve ter sido uma experiência tenebrosa.
Em seu livro A Grande Saída, o vencedor do Nobel Angus Deaton explica a "armadilha nutricional" que a população da Grã-Bretanha vivenciou:
A população da Grã-Bretanha, no século XVIII e início do século XIX, consumia menos calorias que o necessário para as crianças crescerem ao seu máximo potencial e para os adultos manterem seus organismos em níveis saudáveis de funcionamento, o que lhes impedia de efetuarem trabalho manual produtivo e remunerativo.
As pessoas eram muito magras e muito pequenas, talvez tão pequenas quanto nos períodos de tempo anteriores.
Deaton explica como a escassez de nutrição afetou o organismo da população. Os trabalhadores dos séculos anteriores não eram robustos; um físico atrofiado era o que oferecia a melhor esperança de sobrevivência:
Ao longo da história, as pessoas se adaptaram a uma escassez de calorias da seguinte maneira: elas não cresciam e não ficavam altas. A atrofia corporal não apenas é uma consequência de não ter muito o que comer, especialmente na infância, como também corpos menores requerem menos calorias para seu sustento básico, e eles possibilitam trabalhar com menos comida do que seria necessário para uma pessoa mais fisicamente avantajada.
Um trabalhador de 1,85m e com 90kg teria as mesmas chances de sobreviver no século XVIII quanto um homem na lua sem uma roupa espacial.
Na média, simplesmente não havia comida o bastante para alimentar uma população de indivíduos com as dimensões físicas de hoje.
O britânico médio do século XVIII ingeria menos calorias do que o indivíduo médio que vive hoje na África subsaariana. Como eles não tinham o que comer, estes pobres britânicos trabalhavam pouco. Deaton prossegue:
Os pequenos trabalhadores do século XVIII estavam efetivamente aprisionados em uma armadilha nutricional: eles não tinham como ser bem remunerados porque eram fisicamente fracos, e não tinham como comer porque, sem trabalhar e produzir, não tinham o dinheiro para comprar comida.
Johan Norberg, em seu livro Progresso, relata as descobertas do historiador econômico e vencedor do Nobel Robert Fogel:
Duzentos anos atrás, aproximadamente 20% dos habitantes da Inglaterra e da França simplesmente não conseguiam trabalhar. Na melhor das situações, eles tinham energia suficiente para apenas algumas horas de caminhada lenta por dia, o que condenava a maioria deles a uma vida de mendicância.
E então, tudo começou a mudar. Deaton explica:
Com o início da revolução agrícola, a armadilha começou a se desintegrar. A renda per capita começou a crescer e, talvez pela primeira vez na história, passou a existir a possibilidade de uma melhora contínua na nutrição.
Uma melhor nutrição permitiu às pessoas crescerem mais fortes e mais altas, o que, por sua vez, possibilitou aumentos na produtividade, criando uma sinergia positiva entre aumentos na renda e melhorias na saúde, com um se apoiando no outro.
A partir do momento em que o capitalismo realmente se consolidou, as condições de vida não apenas melhoraram sensivelmente, como todo o progresso ocorreu de maneira acelerada.
E isso, paradoxalmente, começou a gerar as sementes de sua própria destruição.
A ignorância da história
Ao fim de minha carreira de professor, estudantes universitários totalmente ignorantes sobre história já eram um fenômeno extremamente comum. Eles desconheciam totalmente a pobreza abjeta na qual viveu a vasta maioria da humanidade durante milênios. Eles simplesmente não acreditavam que o passado pudesse ter sido tão brutal, como foi vivamente descrito por Matt Ridley em seu livro O Otimista Racional.
Pior ainda, quando expostos a evidências concretas, alguns estudantes se recusam a questionar suas posições.
Sobre isso, quem melhor explicou o fenômeno foi a sempre interessante crítica cultural Camille Paglia. Em uma entrevista ao The Wall Street Journal, ela afirmou que a atual juventude dos países mais ricos enxerga suas atuais liberdades de escolha (inéditas na história da humanidade) e a atual riqueza de bens de consumo à disposição (algo também inédito na história da humanidade) como um fato consumado, como algo que sempre foi assim e que jamais irá mudar. Consequentemente, eles estão desesperadoramente necessitados de um contexto mais rico e profundo para a própria era que eles estão denunciando.
Diz ela:
Tudo é muito fácil hoje em dia. Todos os supermercados, lojas e shoppings estão sempre plenamente abastecidos. Você pode simplesmente ir a qualquer lugar e comprar frutas e vegetais oriundos de qualquer lugar do mundo.
Jovens e universitários, que nunca estudaram nem economia e nem história, acreditam que a vida sempre foi fácil assim. Como eles nunca foram expostos à realidade da história, eles não têm idéia de que essa atual realidade de fartura é uma conquista muito recente, a qual foi possibilitada por um sistema econômico muito específico.
Foi o capitalismo quem produziu esta abundância ao redor de nós. Porém, os jovens parecem acreditar que o ideal é ter o governo gerenciando e ofertando tudo, e que as empresas privadas que estão fornecendo essas coisas em busca de lucro, fornecendo produtos e serviços para eles, irão de alguma forma existir para sempre, não importam as políticas adotadas.
Em outras palavras, indivíduos ignorantes sobre história e economia acreditam que a abundância atual sempre existiu e sempre foi assim.
Daí é compreensível que eles se sintam atraídos pela idéia de um socialismo idílico: eles genuinamente acreditam que, sob o socialismo, toda esta abundância será mantida, mas agora simplesmente será gratuita para todos. Haverá MacBooks, smartphones, roupas de grife, comida farta e serviços de saúde amplamente disponíveis a todos, e gratuitamente. Como resistir?
Acreditando que poderão seguir usufruindo toda esta fartura, eles sonham que irão conseguir ainda mais coisas caso haja um governo redistribuindo para eles a riqueza confiscada de terceiros.
Paglia argumenta que a atual geração se esqueceu até mesmo do passado mais recente.
Nossos pais foram da geração da Segunda Guerra Mundial. Eles tinham uma noção da realidade da vida. Já a juventude de hoje foi criada em um período muito mais afluente. Mesmo as pessoas pobres de hoje têm telefones celulares, televisores, meios de transporte e amplo acesso a alimentos diversificados.
Similarmente, Schumpeter também se preocupava com a hipótese de que as pessoas vivendo sob a opulência passariam a ver sua situação como um fato consumado, e assim preparariam o terreno para sua própria destruição.
Em seu livro Capitalismo, socialismo e democracia, ele prognosticou que as sociedades capitalistas seriam destruídas pelo seu próprio sucesso. Para Schumpeter, o capitalismo "inevitavelmente" se transforma em socialismo.
Seu argumento, de maneira resumida, é o seguinte: uma economia de mercado, com indivíduos fortemente empreendedores, gera um grande crescimento econômico e aumenta acentuadamente o padrão de vida das pessoas. Ironicamente, no entanto, a sociedade se torna tão próspera e tão inovadora, que passa a ignorar a fonte de toda a sua riqueza, dando-a como natural, corriqueira e automática. Pior ainda: torna-se abertamente hostil a ela.
O empreendedorismo e o mercado enriquecem tanto a sociedade, que as pessoas se esquecem do quão necessária e do quão frágil a economia de mercado realmente é. Elas até mesmo começam a acreditar que os mercados — e a ordem social e cultural que mantém os mercados funcionando — são inferiores à burocracia estatal e ao planejamento centralizado. 
Com o tempo, a sociedade acaba abraçando idéias socialistas.
Nas palavras de Schumpeter:
Os padrões crescentes de vida e, sobretudo, o lazer que o capitalismo moderno põe à disposição das pessoas que têm emprego e renda. . . bem, não há necessidade de terminar esta sentença e nem de elaborar aquele que é um dos argumentos mais verdadeiros, antigos e enfadonhos. O progresso secular, o qual é visto como algo natural e automático, em conjunto com a insegurança individual, que alimenta a inveja, é naturalmente a melhor receita para alimentar a inquietação social.
Entretanto, todo esse processo de transformação requer mais do que apenas a acumulação de riqueza: alguém tem de ativamente insuflar hostilidade às instituições da economia de mercado. Esse papel é desempenhado pelas classes intelectuais, que frequentemente abrigam um profundo ressentimento em relação às instituições empreendedoriais.
Os intelectuais incitam descontentamento entre um crescente número de pessoas cuja riqueza, em última instância, depende da produtividade do empreendedorismo, mas que, na prática, vivem majoritariamente fora da concorrência do mercado. Pessoas mais jovens são particularmente mais vulneráveis a esse preconceito anti-mercado, o qual é normalmente instilado por meio de escolas e faculdades. 
Segundo Schumpeter, portanto, o capitalismo poderia se destruir a si próprio ao criar:
a) uma classe de intelectuais que vituperam o progresso material e o individualismo e exaltam um eventual arranjo que seria baseado no "bem comum" (o qual seria, obviamente, definido e organizado pelos intelectuais), e
b) pessoas que aceitam como fato consumado aquelas prateleiras de lojas e supermercados repletos da produtos de ampla variedade (como bem disse Paglia).
Falando mais coloquialmente, nós nos tornamos gordos e preguiçosos, e passamos a ficar obcecados com a distribuição de riqueza, e não com os pilares sobre os quais sua criação é possibilitada.
E é a partir daí que as tragédias começam a ocorrer. No caso do socialismo, elas tomam a forma de homicídios em massa.
Conclusão
No final, não importa se o tipo de socialismo defendido é idílico e bem-intencionado. Aquelas pessoas, normalmente adolescentes ricos, artistas e intelectuais acadêmicos, que professam idéias socialistas aparentemente não se lembram de como realmente era o mundo quando o socialismo era realmente aplicado. É fácil defender idéias socialistas quando se vive em um mundo opulento em que a comida é farta e barata. É fácil defender o regime venezuelano morando-se em um país rico.
O fato é que, onde quer que tenha sido tentado, desde a União Soviética em 1917 até a Venezuela atual, o socialismo foi um desastre, não importa quais eram as intenções originais. Socialistas sempre prometeram uma utopia marcada por igualdade e abundância. Em vez disso, sempre entregaram tirania e inanição. Seus propagandistas sempre devem ser sempre e incansavelmente cobrados por isso.
Como disse Thomas Sowell, "O histórico de desastres do socialismo é tão óbvio, que somente intelectuais poderiam ignorá-lo".

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo - livro em Kindle de Paulo Roberto de Almeida

Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (Portuguese Edition) eBook Kindle

Coletânea de ensaios sobre o marxismo, o comunismo, o socialismo, no plano da teoria política e da história contemporânea, sobre temas como: 

1. A parábola do marxismo em perspectiva histórica; 
2. A ideia de revolução burguesa no marxismo brasileiro; 
3. Agonia e queda do socialismo real; 
4. O modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil; 
5. O Fim da História, de Fukuyama: o que ficou?; 
6. Os mitos da utopia marxista; 
7. O fracasso do marxismo teórico e do socialismo prático; 
8. A cultura da esquerda: sete pecados dialéticos; 
9. Sobre a responsabilidade dos intelectuais; 
10. Pode uma pessoa inteligente pretender-se comunista, hoje em dia?

Os dez ensaios aqui coletados foram concebidos e elaborados como respostas a tomadas de posição por parte de acadêmicos da grande tribo marxista e socialista que ainda pontifica impavidamente em auditórios geralmente receptivos de estudantes de humanidades e ciências sociais, quando não em outras vertentes do ambiente universitário.
Vários dos ensaios aqui reunidos, escolhidos entre dezenas de outros que pertencem à mesma família de “escritos de combate”, foram justamente publicados num típico pasquim da esquerda universitária, com o qual colaborei durante uma dezena de anos, sempre a contra corrente das tendências majoritárias (e recebendo críticas e contestações diretas a vários deles). Minha colaboração foi descontinuada sintomaticamente depois que sustentei uma discussão sobre a responsabilidade dos intelectuais nas grandes tragédias do socialismo totalitário, vindo ela finalmente a termo depois que eu questionei a inteligência daqueles que continuavam aderindo à liturgia comunista.
Esta antologia resume e expõe minhas relações de afinidade e distanciamento em relação ao marxismo e ao socialismo, mas ela não tem o objetivo de supostamente me situar no campo de uma “direita conservadora”, que de toda forma não existe no Brasil, nem no plano teórico, nem no terreno da prática. Detesto rótulos redutores e simplificadores, preferido exercer meu direito ao ecletismo doutrinário e ao ceticismo sadio, e por isso mesmo estou sempre pronto a defender argumentos de estrita racionalidade econômica, na busca das melhores soluções aos angustiantes problemas do Brasil, que sempre estiveram no coração de minhas leituras, estudos, reflexões e escritos no último meio século pelo menos. A coletânea aqui realizada é uma pequena amostra dessas preocupações com a educação dos mais jovens, com base em meu conhecimento adquirido nos livros, na atenta observação da realidade, na experiência adquirida ao longo de uma dupla carreira extremamente absorvente, no exercício da diplomacia profissional e nas lides acadêmicas desempenhadas de modo voluntário.

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Detalhes do produto

  • Tamanho do arquivo: 844 KB
  • Número de páginas: 284 páginas
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Edição de autor; Edição: 1 (20 de dezembro de 2019)
  • Data da publicação: 20 de dezembro de 2019
  • Vendido por: Amazon Digital Services LLC
  • Idioma: Portuguese
  • ASIN: B082YRTKCH
  • Dicas de vocabulário: Não habilitado
  • Empréstimo: Habilitado
  • Leitor de tela: Compatível 
  • Configuração de fonte: Habilitado 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Palestras-debates: Comunismo mundial e seu impacto no Brasil - 11/1/2, no IHG-DF


A apresentação já está disponível: 

3545. “O movimento comunista internacional e seu impacto no Brasil”, Brasília, 7 dezembro, 24 slides. Apresentação no IHG-DF, em companhia de Hugo Studart (autor de livros sobre a guerrilha do Araguaia) e de Gustavo Bezerra (autor: O Livro Negro do Comunismo no Brasil), para apresentação de meu próprio livro: Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (Brasília: Edição de autor, 2019, 304 p.), no dia 11/12/2019. Disponibilizado na plataforma Research Gate (8/12/2019; link: https://www.researchgate.net/publication/337824903_O_Movimento_comunista_internacional_e_seu_impacto_no_Brasil; DOI: 10.13140/RG.2.2.15046.63047) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/41219238/O_Movimento_comunista_internacional_e_seu_impacto_no_Brasil_2019_).

Assim como o meu livro: 


Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (Brasília: Edição do Autor, 2019, 198 p.), Brasília, 24 novembro 2019, 198 p. Consolidação dos seguintes trabalhos: . Disponível livremente, em 10/12/2019, nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/41255795/Marxismo_e_Socialismo_2019_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/337874789_Marxismo_e_Socialismo_trajetoria_de_duas_parabolas_na_era_contemporanea_2019). Relação de Publicados n. 1323.

Todos estão convidados...
Paulo Roberto de Almeida