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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Peter Drucker: dez anos depois de sua morte, relembrando um grande mestre - Paulo Roberto de Almeida

Este texto nunca esteve disponível em qualquer dos meus blogs. Fui entrevistado por um jornalista que o publicou num site que sequer existe mais.
Por isso coloco-o aqui pela primeira vez.
Dez anos depois (na verdade em novembro de 2005) da morte do grande vienense, nada como recordar suas lições...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016


Adeus a Peter Drucker

Entrevista concedida por
Paulo Roberto de Almeida *
ao Instituto Thesis
(desaparecido...)

Peter Drucker foi-se. Aquele sonho acalentado de obter uma entrevista exclusiva com o guru do mundo dos negócios para o THESIS não mais se realizará. O desaparecimento do mestre, porém, não implica no ostracismo de sua obra. Ao contrário, Drucker ainda vive nos livros e ensaios que escreveu e nas entrevistas e palestras que concedeu pelo mundo afora. Ao morrer “de causas naturais”, aos 95 anos, segundo informou um porta-voz da Universidade de Claremont (EUA), que Drucker ajudou a fundar, este austríaco nascido em 1910 e que escolheu os Estados Unidos para trabalhar, ingressou na galeria dos grandes homens do século XX e garantiu seu lugar entre os maiores da humanidade.

Mas como falar de Peter Drucker? De que maneira homenageá-lo? Nada melhor do que escolher um seu admirador, ao invés de um especialista. Afinal, a idéia é lembrar Drucker com emoção. Encontramos o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, em seu escritório em Brasília, tão emocionado quanto todos nós que buscamos no pensamento de Drucker algo além de idéias sobre administração e gerenciamento empresarial.

“Gosto mais do Peter Drucker pelo lado vienense do que pelo americano”, brinca Almeida com as palavras, salientando que admira, sobretudo, sua formação clássica, acadêmica, liberal, adquirida na velha tradição da chamada Escola de Viena, que floresceu durante o Império Austro-Húngaro e desapareceu no imediato seguimento da Primeira Guerra Mundial. “Ele foi mais do que um representante da administração objetiva e admiro-o mais pelo lado histórico, filosófico, humanista. Desde que li seu livro The End of Economic Man, publicado em 1939, nos EUA, aprendi a admirar suas elegantes proposições históricas e econômicas. Seus textos têm o dom de interpretar o verdadeiro caráter das civilizações, algo muito diferente dessas receitas fáceis cultivadas atualmente, do tipo ‘aprenda a gerenciar uma empresa em sete minutos’.”

Ao longo de 75 anos de carreira, Drucker pôde acompanhar o século XX em suas várias vertentes. Quando lançou O fim do homem econômico, o capitalismo atravessava uma fase difícil, quase terminal. Muitos pensadores diziam que ele estava condenado ao desaparecimento. Os menos pessimistas diziam que seus desequilíbrios intrínsecos passaram a exigir algum tipo de monitoramento e gerenciamento pelo Estado. Drucker era contemporâneo dos economistas John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter, ambos mais velhos e também simpatizantes, cada qual a seu modo, do pensamento dos economistas da chamada Escola de Viena. Para Schumpeter, o capitalismo estava fadado a desaparecer, sucedido por alguma forma de gerenciamento estatal que o aproximaria do socialismo. Já para Keynes, seus profundos desequilíbrios requeriam uma política econômica ativa, capaz de combater suas tendências cíclicas à deflação e à depressão.

O pessimismo reinante naquela década de crise em toda a economia capitalista foi de certa forma refletido por Drucker em seu livro O Fim do Homem Econômico. A diferença é que os dois economistas, algumas décadas mais velhos do que Drucker, morreram em seguida à Segunda Guerra Mundial. Drucker sobreviveu, acompanhou a pujança do capitalismo norte-americano e não descreu de suas possibilidades de adaptação e sobrevivência, tanto quanto aqueles seus contemporâneos da primeira metade do século XX. “De certa forma, Schumpeter e Keynes partiam de uma visão macroeconômica, enquanto Drucker também se preocupava com as condições microeconômicas sob as quais tinham de atuar as empresas, passando a estudar o ambiente de trabalho e o processo de formação das empresas e as pessoas que nela trabalham”, pondera Almeida.

Drucker reconheceu muito cedo o valor da gestão e da qualidade da administração nas empresas, segundo os princípios da economia de mercado, do esforço, do ensaio e erro. Assim, assistiu grandes companhias acabar em resultados pífios. A partir de seu faro para as tendências microeconômicas do trabalho nas empresas, entendeu como poucos o espírito selvagem (os animal spirits, no dizer de Keynes) que permeia a atividade corporativa entre os norte-americanos, ou seja, a capacidade do empresário de lutar, inovar e vencer.

Uma das chaves do pensamento de Drucker é a importância que concede à destruição criadora, obtida na inovação, no avanço tecnológico, à liderança empresaria e à capacidade de tomada de decisão e às regras de comando. Assim seus livros, longe de se configurarem em ‘auto-ajuda empresarial’, têm filosofia por trás, dando permanência (ou perenidade) à sua obra.

“Seu pensamento é essencialmente racionalista, inserido num contexto mais amplo. São conceitos passíveis de aplicação no gerenciamento de um império ou de uma empresa. Aliás, o império Austro-Húngaro, que existiu por séculos e possibilitou o surgimento da chamada Escola de Viena, cometeu os mesmos erros de empresas mal sucedidas ou em decadência. Não sobreviveu ao desafio da inovação”, analisa o diplomata.

A formação clássica deste guru moderno garante aos seus leitores uma visão abrangente da história, inibindo certos equívocos tão comuns na administração moderna. Ele também se espantaria com a apresentação de velhas receitas como sendo absolutamente inéditas. “Hoje, por exemplo, na política brasileira, ouvimos vários discursos favoráveis à parceria público-privada (PPP). Ora, todos os projetos de infra-estrutura do Brasil imperial eram baseados em PPPs. O atual governo propõe esse tipo de parceria como se fosse uma inovação, ao invés de admitir que não tem coragem de assumir a privatização aí implícita. Ademais, o conceito de PPP é o de um capitalismo sem risco, no qual o Estado garante os ganhos do investidor privado. Para Drucker, soaria como heresia” analisa Almeida.

O diplomata crê que o empresário às vezes é um inexperiente que antevê o sucesso em torno de fórmulas fáceis e se aproveita da burocracia, que atua a seu favor. A burocracia – no governo, na empresa, na igreja, nas instituições, enfim – tende a esclerosar a administração. Homens que atingem altas posições querem se perpetuar no poder, indicar sucessores que o mimetizem. Há o oposto: o recém chegado ao poder, ansioso por renovação, mas que com o tempo tende a consolidar e ao mesmo tempo torna rígidas suas posições.

“Isto é corriqueiro. Todo recém-chegado ao comando quer ‘inovar’. Por exemplo, é comum proceder-se ao desmantelamento de tudo o que existia antes, numa empresa ou mesmo no Estado. Por vezes esse desmantelamento é bem sucedido, sem que nada de melhor ou mais funcional substitua as antigas estruturas, como pode estar ocorrendo no Brasil atual. Isto também é contrário ao pensamento de Drucker, que sempre propôs renovação permanente de recursos humanos e idéias, com preservação das bases essenciais do gerenciamento responsável. Poucas burocracias suportam esse tipo de gerenciamento”, continua o professor Almeida.

Peter Drucker, portanto, ainda é válido. Suas idéias atuam sobre processos e métodos e isso não foi superado, não foi sequer plenamente implantado. A lógica da burocracia é a inércia. Emprega-se em determinada tarefa mais do que o tempo necessário, as idéias tornam-se lugares comuns ou as condições econômicas mudam e determinadas idéias não servem o tempo todo.
Neste ponto, Almeida cita Fidel Castro: de jovem revolucionário, hoje é um velho conservador. Antes da revolução cubana, aquele país vivia numa economia agroexportadora. Hoje, sobrevive numa economia estagnada, pois Cuba continua a viver do açúcar e do turismo. Fidel não achou um caminho inovador para Cuba. A diferença é que hoje, a indústria do turismo passa sem os cassinos ou a máfia americana. “Quando Fidel morrer, não terá substituto, pois não se substitui o líder carismático. Em que Cuba, sem Fidel, se transformará?”.

O mundo hoje é gerido por burocratas mais do que estadistas geniais. O modelo que passa a prevalecer é o de tipo americano, flexível e mais descentralizado. Esta flexibilidade agiliza mudanças. Almeida recorda os anos 1980, quando se falava em decadência norte-americana e ascensão do Japão. O que se viu, depois, foi que o Japão, por conta de certa rigidez em suas estruturas políticas e econômicas, enfrentou uma estagnação que durou mais de uma década e os EUA superaram até mesmo a Europa, que manteve um modelo centralizador e pouco flexível.

Graças à inovação e liderança tecnológica, os EUA garantem mobilidade constante para si próprios. O meio de obter este resultado é remunerando quem se esforça, inova, se move. “O que se paga aos CEOs das empresas americanas são somas assustadoras!”, acrescenta o diplomata. Mas, pergunto eu, isso é bom para o ser humano? “Aparentemente parece funcionar”, responde Almeida. “Quem não quer ganhar dinheiro, ficar rico, viver bem, em lugar de ser um ermitão, um monge, um sábio que já se retirou do mundo?”.

O fato é que os maiores salários estão nos EUA. Talvez, os líderes empresariais americanos não os mereçam, mas, sob estímulo do dinheiro, trabalham mais que os europeus, por exemplo. Drucker também se dedicou a esse lado do estímulo econômico para a manutenção de um sistema flexível e de alto desempenho. Desde a Primeira Guerra que os americanos importam sábios, filósofos esquerdistas, economistas liberais, pensadores, cientistas, enfim, toda essa gama de gente fugida do nazismo, das guerras, do imperialismo europeu, tendo transformado o país no grande porto de captação e aproveitamento de idéias estrangeiras.

Nem mesmo Bush assusta Almeida, para quem o presidente americano “é mais um político que vai passar”. Para nosso entrevistado, aí está o melhor da política democrática: as bobagens cometidas por alguns são debitadas no custo do império. “Quando seu tempo estiver concluído, Bush volta para seu rancho no Texas e os EUA continuam. Por isso considero um exagero dizer que os EUA estão em decadência. Como disse Mark Twain, sobre sua morte anunciada, ‘os rumores a esse respeito são grandemente exagerados’”, ironiza.

Sob a ótica de Paulo Roberto de Almeida, não existe um império americano, no sentido formal, mas uma potência baseada, sobretudo, no livre comércio, na hegemonia de mercado, na abertura de novos mercados. “Não vejo os EUA submetendo povos, mas garantindo segurança para que suas empresas negociem com tranqüilidade”.
Por que os impérios, antigos e recentes, entraram em decadência e depois desapareceram? Porque, como no caso do Império Romano, eles baseavam-se em atos de invasão, colonização, submissão de povos, na dominação e na exploração.

O caso dos EUA é o de um império virtual. Numa análise da questão sob o conceito de modo de produção, como fez Karl Marx, o exemplo americano é o de um “modo inventivo de produção”. Por isso falar em decadência é inócuo, pois uma coisa é dominar e explorar outra é extrair capacitação a partir da própria inteligência. “A força real da economia americana se baseia na inteligência. Não foi explorando minério ou qualquer outro produto primário, sob regime de dominação, que Bill Gates obteve sua força. Ele a obteve literalmente do ar”, acrescenta o diplomata.

A competição futura com o império norte-americano virá quando Europa, China, Índia e mesmo o Brasil atingirem um modelo próprio de gestão, baseado em inovação, movimento, flexibilidade. “Não há a menor necessidade de se derrubar muralhas, fronteira ou de dominar povos. Basta educar, formar as pessoas de cada país. E nem é necessária educação brilhante (o ensino americano está longe de ser a Escola de Viena). É suficiente educação e formação média satisfatória, com abertura para a pesquisa e a inovação. O resto vem naturalmente”.

Não sei se Peter Drucker concordaria com tudo o que tratamos aqui – provavelmente, não. Mas, certamente, participaria da conversa, com o maior prazer e algum mau humor.

  * Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata. www.pralmeida.org 

Privatizar a Petrobras? Certamente, mas isso eu já dizia em 2005

Como outros aqui transcritos, este pequeno sumário de minhas respostas a questões colocadas por membros de um grupo de discussão já revela o que eu pensava então (2005) sobre a Petrobras e sua necessária privatização.
Mal sabíamos, todos, que ela já tinha sido privatizada pelos companheiros e que estava sendo assaltada por uma tropa de mafiosos profissionais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016

1516. “Privatizar a Petrobrás?”, Brasília, 30 dezembro 2005, 3 p. Respostas tentativas a três perguntas. Postado no blog Paulo Roberto de Almeida (30/12/2005, link: http://paulomre.blogspot.com.br/2005/12/96-privatizaes-brasileira.html).

Uma proposta modesta: a reforma do Brasil - Paulo Roberto de Almeida (2005)

Este é mais um texto do início da era lulopetista, quando eu ainda achava que, trabalhando no governo, com os companheiros, eu conseguiria convencê-los a seguir um itinerário racional e adequado para a reforma do Brasil.
Pena perdida.
Mas para que não se diga que eu passei o tempo flanando, vou postando por aqui apenas uma pequena parte do que produzi nesses anos em que eu pensei que os companheiros eram racionais.
Logo descobri que não.
Mas eu não sabia que além de serem "irreformáveis", eles se revelariam os mais corruptos de toda a história do Brasil. Mas isso é outra história.
Fico apenas com estas sugestões gerais que mereceriam detalhamento adequado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016


Uma proposta modesta: a reforma do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
15 de dezembro de 2005.

 Prolegômenos:
Não creio que o Brasil necessite, tão simplesmente, de uma mera reforma econômica. Ele precisa, sobretudo, de várias reformas estruturais, a começar pelo terreno político, onde se encontra a chave para a resolução dos muitos problemas que explicam o nosso baixo desempenho econômico.
 
Primeira parte - O Diagnóstico.
1. Constituição intrusiva demais, codificando aspectos de detalhe que deveriam estar sendo regulados por legislação ordinária.
2. Estado intrusivo, despoupador, perdulário, disforme e pouco funcional para as tarefas do crescimento econômico.
3. Legislação microeconômica (para o ambiente de negócios e para a regulação das relações trabalhistas) excessivamente intrusiva na vida dos cidadãos e das empresas, deixando pouco espaço para as negociações diretas no mercado de bens, serviços e de trabalho.
4. Preservação de monopólios, cartéis e outras reservas de mercado, com pouca competição e inúmeras barreiras à entrada de novos ofertantes.
5. Reduzida abertura externa, seja no comércio, seja nos investimentos, seja ainda nos fluxos de capitais, gerando ineficiências, preços altos, ausência de competição e de inovação.
6. Sistemas legal e jurídico atrasado e disfuncional, permitindo manobras processualísticas que atrasam a solução de controvérsias e criam custos excessivos para as transações entre indivíduos.
 
Segunda parte - A Reforma
1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.

Paulo Roberto de Almeida, 
Brasília, 15 de dezembro de 2005.

Minhas propostas para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil (em 2005) - Paulo Roberto de Almeida

Entre o final de 2003 e meados de 2006, eu trabalhei numa coisa -- desculpem o qualificativo -- chamada Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), presidido pelo então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo, e membro da troika dirigente no início do governo Lula, Luiz Gushiken, que convidou este dissidente para compor sua equipe de "planejadores" porque confiava em minha capacidade analítica.
Não preciso dizer que discordei de todo o sentido de "planejamento" que eles -- os demais membros do NAE-PR -- pensavam imprimir ao governo brasileiro, e discordava da maior parte das propostas formuladas pelo grupo, que eram todas "grandiosas", e estatizantes.
Tenho a maior parte de minhas contribuições arquivadas em meu computador, mas hoje elas já estão relativamente defasadas, pois os governos da era lulopetista falharam em todas as suas políticas, macroeconômicas ou setoriais. Eu disse TODAS, e não excluo nenhuma, mas um dia escreverei a respeito.
Entre as propostas que julgo que ainda continuam válidas figuram as que seguem abaixo, relativas à qualidade da educação em apenas um ou outro de seus múltiplos aspectos (eu tratava da doença mental de sindicalistas petistas, e outros, que é a isonomia remuneratória).
Como a educação só fez afundar, e sempre, em toda essa era lulopetista, permito-me divulgar agora uma pequena parte de meu trabalho didático de quando eu estava "convivendo com o inimigo", ou seja, tentando convencer os petistas a serem um pouco mais racionais.
Não preciso dizer que falhei.
Mas, deixo aqui um pequeno testemunho de como tentei... inutilmente...
Eis a ficha do trabalho:

1509. “Incentivo aos docentes e recursos diferenciados conforme o desempenho”, Brasília, 20 dezembro 2005, 5 p. Ambientações sugeridas no quadro do projeto de qualidade da educação básica nas escolas públicas do Brasil, no âmbito do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016


QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO BRASIL

SOLUÇÕES INOVADORAS

Ambientações sugeridas por
Paulo Roberto de Almeida
20 de dezembro de 2005

7. INCENTIVO AOS DOCENTES E RECURSOS DIFERENCIADOS CONFORME O DESEMPENHO
o   Remuneração diferenciada conforme o desempenho (do docente e do aluno).
o   Incentivo para o pagamento de professores.
o   Incentivo para o repasse para as escolas.
o   Incentivo para o repasse para os municípios.
o   Recursos novos (do FUNDEB, por exemplo).
o   Docentes como personagens de novela (acordo com a mídia).

1. Remuneração diferenciada conforme o desempenho (do docente e do aluno)
A Constituição Federal de 1988, em seu o Artigo 206, estabelece alguns princípios educacionais que apresentam interesse para a questão da remuneração do magistério, podendo ser citados os seguintes:
“Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União;”
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) oferece, por sua vez, regras similares para o tratamento do pessoal do magistério:
“Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho;”

A Carta federal e a LDB parecem, numa primeira abordagem, bastante flexíveis na atribuição de competências diferenciadas ou concorrentes entre os entes federados e entre o setor público e o privado no oferecimento dos serviços educacionais, havendo uma concentração preferencial dos municípios no ensino fundamental, dos estados no segundo ciclo e da União no ensino superior. Mas, a própria CF e os estatutos do magistério também impõem, inclusive em virtude da conhecida tradição centralista e burocrática da administração pública brasileira, amarras poderosas no que tange à questão salarial. Entre essas amarras situam-se a isonomia no que se refere a salários e à carreira, que constituem poderosos fatores de letargia e acomodação na performance do setor educacional brasileiro.
Como afirmado no inciso V do artigo 206, um desses princípios é o piso salarial profissional e a existência de um “regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União”, o que vale, por extensão, para os demais entes federados igualmente, que tendem a equalizar o estatuto e as regras de contratação e de remuneração de todos os profissionais do magistério, nos âmbitos estadual e municipal. O princípio da isonomia de salários e de carreira está invariavelmente presente em todos esses estatutos.
A experiência histórica brasileira aponta para a unificação progressiva dos regimes contratuais no setor educacional, com forte pressão corporativa para um tratamento igualitário, seja entre os níveis de ensino, seja no que se refere à natureza dos estabelecimentos (pública ou privada). No que se refere, por exemplo, ao ciclo superior, o surgimento da UnB, sob a forma de fundação, deixou antever a possibilidade de um regime flexível na admissão de seu pessoal próprio, inclusive pelo regime da CLT, em bases puramente contratuais, portanto. Com o passar dos anos, todavia, as pressões corporatistas, tendentes a atribuir a esse pessoal os mesmos privilégios dos funcionários públicos – em especial, a estabilidade e a aposentadoria integral – terminaram prevalecendo, atribuindo-se a todos eles o estatuto do funcionalismo público, com regras salariais rígidas, criteriosamente monitoradas pelos sindicatos das várias categorias.
O setor privado é, em princípio livre para remunerar o pessoal contratado nos níveis que julgar adequados, mas a pressão das entidades sindicais atua, igualmente, no sentido de colocar os salários em níveis similares para a mesma categoria. O que terminou ocorrendo, independentemente de variações salariais entre estados e municípios e em função da natureza da instituição, foi uma equiparação absoluta dos índices de remuneração do pessoal do magistério, independentemente dos níveis necessariamente diferenciados de produtividade ou de empenho profissionais.
Ora, um dos princípios da atividade econômica, e sobretudo do progresso social, é a existência de estímulos adequados à iniciativa individual e ao esforço próprio de cada agente econômico envolvido numa determinada atividade, entendendo-se assim os incentivos materiais ou aqueles ligados ao prestígio social vinculado ao desempenho dessa atividade. Outra não é a rationale do sistema patentário ou de outras formas de propriedade intelectual, assim como a dos “prêmios” ou adicionais de produtividade existentes no setor privado, como forma de estimular a dedicação e o empenho dos agentes econômicos, quer eles trabalhem em regime assalariado clássico, quer sob outras formas contratuais. A busca de qualidade na “feitura” de algum produto ou serviço quaisquer está sempre ligada à percepção de que essa melhoria de qualidade – ou aumento da produtividade no trabalho – será justamente recompensada por algum ganho material ou social pertinente.
O mesmo princípio deveria valer para o setor educacional, cujo desempenho e qualidade – aferidos em testes aplicados aos alunos, segundo critérios objetivos – estão diretamente vinculados ao grau de preparação e dedicação demonstrados pelo professor. Esse reconhecimento foi feito em diferentes países, sobretudo no nível universitário, com um retorno assegurado em termos de performance nas atividades de ensino e pesquisa, o que se manifesta na excelência da ciência e da tecnologia derivadas da diferenciação salarial vinculada aos estímulos materiais concedidos aos desempenhos de maior produtividade. Nos ciclos iniciais do ensino (básico, portanto), a questão não se coloca tanto em termos de “produção” de ciência e tecnologia, mas de desempenho escolar, medido objetivamente em testes integrando o chamado PISA (Programme for International Student Assesment). Nesses testes, o desempenho escolar brasileiro tem sido próximo do catastrófico, inferior mesmo ao de muitos outros países de renda per capita similar ou inferior à do Brasil.
A existência, no Brasil, de equanimidade (ou de isonomia) no tratamento salarial atua como uma barreira e um desestímulo a um desempenho superior e diversificado por parte dos agentes individuais do setor educativo. A defesa dos interesses corporativos do magistério por esse poder paralelo (e externo às entidades educacionais) que são os sindicatos acaba, por outro lado, nivelando o piso salarial dos professores no mínimo denominador comum, isto é, nos níveis salariais aceitáveis para o conjunto da categoria e suportáveis pela instituição pagadora (pública ou privada). No plano conjuntural, são conhecidas as limitações fiscais a uma grande expansão de gastos públicos no setor educacional público, ademais de outros fatores estruturais que tendem a drenar os recursos existentes para o sistema de ensino superior. Mesmo com a previsão de algum aumento no volume de recursos totais dirigos ao ensino básico – como resultado da aprovação do FUNDEB – não se vislumbra uma melhoria dramática nos níveis de remuneração do magistério engajado nos primeiros ciclos de ensino, com o que permaneceria certo desestímulo financeiro e o consequente desprestígio social associados à carreira de professor.
O grande desafio para o aumento da qualidade do ensino no Brasil parece, assim, ser a capacidade do administrador público (e da própria sociedade) de lograr estabelecer políticas diferenciadas na gestão do pessoal, na fixação dos salários, na busca de maior racionalidade nos gastos com pessoal, assim como certo equilíbrio ou proporções mais justas entre despesas correntes e gastos com os investimentos e a manutenção dos equipamentos. A solução inovadora passa, necessariamente, pela premiação diferenciada atribuída ao desempenho individual e ao esforço do agente engajado na melhoria de sua produtividade no ensino.
A questão que se coloca, portanto, é a de saber se o Brasil será capaz de romper com a paralisia existente nessa área, introduzindo formas inovadoras de remuneração ou de incentivo ao professor do ensino básico. O consenso será certamente difícil de ser atingido, tendo em vista a natureza essencialmente conservadora e defensiva das entidades e associações de defesa dos interesses da classe, mas a preservação dos mesmos modelos registrados na presente situação tende a preservar o status quo e manter a inércia na busca pela melhoria da qualidade do ensino nas instituições públicas.

2. Incentivo para o pagamento de professores
Incentivos setoriais criados por determinação política – e que não passam, portanto, pelos mecanismos de mercado e pelo sistema de preços – tendem a criar distorções no jogo econômico da sociedade, uma vez que os agentes ou os setores excluídos das possíveis benesses fiscais ou tributárias, ou premiados com algum tipo de subsídio implícito ou explícito, buscam equalizar as condições de competição no mercado lutando por concessões similares ou superiores, com o que se estabelece uma corrida para ganhos exclusivos que acaba atuando em detrimento das áreas ou setores não contemplados pelo tratamento especial assim concedido, setores que, de forma não surpreendente, soem ser a maioria da sociedade.
Independentemente das sinalizações exclusivas – e excludentes – que possam, portanto, estar associadas a qualquer regime econômico de incentivos setoriais, parece haver um forte caso a favor dos incentivos vinculados ao setor educacional, uma vez que ele constitui a base de toda e qualquer possibilidade de progresso social e de inovação tecnológica. A criação de riqueza e a transformação estrutural dos processos produtivos estão diretamente associados, como é conhecido na literatura, aos ganhos de produtividade do trabalho humano, que se manifestam sob a forma de know-how, tecnologia, inovações incrementais nos processos produtivos e invenções revolucionárias em relação ao estado da arte. A base dos ganhos nos índices de produtividade do trabalho humano é constituída, inquestionavelmente, pela qualidade dos recursos humanos, vale dizer, pela educação de qualidade, o que coloca em primeiro plano a figura do professor (ao lado, obviamente, dos materiais de ensino, que tendem a ser produzidos por outros professores, e dos equipamentos de comunicação e sistematização de dados).
Tendo em vista a centralidade da posição do professor em qualquer sistema eficiente de aprendizado e transmissão de conhecimento, as sociedades deveriam atribuir o devido destaque social e uma adequada remuneração financeira a essa figura impar do processo de reprodução social. Ao lado dos sistemas remunerativo—salários e ganhos de aposentadoria – e de incentivo – adicionais por desempenho profissional –, caberia pensar, talvez, em mecanismos fiscais de estimulo à carreira e à atividade magisterial. Esses mecanismos podem estar contemplados em deduções tributárias nos ajustes anuais do sistema impositivo ou em linhas de crédito vinculadas à aquisição de bens diretamente relacionados com a atividade magisterial. Outro sistema possível de ser contemplado seria a concessão de bolsas de estudos para formação e aperfeiçoamento nas áreas vinculadas ao exercício da profissão, assim como licenças remuneradas em estilo de ano sabático.
Os sistemas existentes, eventualmente em extinção, se referem à aposentadoria integral e ao período menor de atividade profissional com recolhimento previdenciário, o que caberia revisar do ponto de vista da equidade nos sistemas público, inclusive do ponto de vista das vantagens adicionais atribuídas por motivo de gênero (profissional feminina).
A questão que se coloca é a de saber se cabe, adicionalmente ao estabelecimento de níveis de remuneração compatíveis com o prestígio que deveria normalmente associado à carreira de professor, a definição de formas de remuneração ou de incentivo vinculadas ao desempenho do professor no desempenho efetivo de sua atividade docente.

3. Incentivo para o repasse para as escolas.
Os mecanismos suscetíveis de serem pensados nesse particular devem estar diretamente vinculados ao desempenho dos alunos e dos professores das escolas, o que pode ser facilmente objeto de controle e monitoramento, através de sistemas de avaliação periódicos e regulares. Em outros termos, as escolas que apresentam uma melhora nos seus índices de qualidade – mediante progressos no desempenho dos seus alunos nesses testes repetidos – seriam contempladas com prêmios ou dotações especiais voltados para o incremento de seus equipamentos próprios (por exemplo, computadores, livros, esquipamentos de esporte etc.).
A rationale, aqui, está diretamente vinculada à competição (ou à busca pela excelência), que no entanto não deve ser absoluta, tendo em vista os desníveis regionais e as imensas diferenças sociais que ainda caracterizam o Brasil. Os prêmios devem ser atribuídos aos melhores dentro de determinadas categorias, ou tendo em vista certos atributos próprios, como a progressão significativa sobre os resultados anteriores do mesmo estabelecimento.
  
4. Incentivo para o repasse para os municípios.
Os critérios podem ser similares ao item anterior, com a particularidade de distinguir entre municípios com renda per capita diferenciados ou com um determinado IDH. Os municípios seriam contemplados com verbas não em função do número de estudantes, mas em função do desempenho desses estudantes e o de suas escolas, nos mesmos testes de aferição da qualidade do ensino.




5. Recursos novos (do FUNDEB, por exemplo).

Caberia não esperar muito do novo Fundeb, que à diferença do antigo Fundef – voltado tão somente para o ensino fundamental –, vai conceder um volume um pouco maior de recursos públicos para todos os tipos e categorias do ensino básico (infantil, fundamental e médio, além do técnico, compreendido na categoria jovens e adultos). Haverá, portanto, uma dispersão relativa dos recursos, o que, juntamente com a ideologia igualitarista e de massas que atualmente permeia o setor, tenderá a agregar muito pouco para cada aluno ou professor, não alterando radicalmente a situação do setor no que se refere à qualidade do ensino.
A experiência histórica tem registrado que a estrita vinculação de recursos orçamentários tem produzido irracionalidades setoriais na alocação e na utilização desses recursos financeiros, gerando gastos compulsórios em determinadas rúbricas, sem o necessário incentivo para o aumento da eficiência no uso dos recuros existentes. A regulamentação do emprego dos recursos adicionais poderia corrigir algumas dessas distorções, desde que a definição do uso desses recursos pudesse se beneficiar de medidas diferenciadoras como as sugeridas neste exercício.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 dezembro 2005

Uma critica minha a keynesianos e unicampistas, de 2005 - Paulo Roberto de Almeida

No início do primeiro mandato do governo Lula, ante à continuidade das mesmas linhas gerais de política econômica adotadas na gestão anterior de FHC-2, economistas keynesianos e unicampistas em geral se desdobraram em críticas acérrimas ao suposto modelo "neoliberal", pretendendo fazer algo que eles finalmente conseguiram fazer a partir do segundo mandato de Lula e sobretudo no primeiro mandato de sua sucessora, ou seja, aplicar as suas receitas keynesianas e unicampistas à gestão econômica. Eles publicaram um livro com suas receitas no final de 2003.
Deu no que deu, e contemplamos hoje (2015-2016) toda a extensão do desastre, que eu chamo de A Grande Destruição.
Pois bem, em 2005 eu efetuei uma longa resenha -- na verdade uma glosa de extratos do livro, seguida de comentários meus -- jamais publicada, desse livro que prometia oferecer uma política econômica alternativa à que era seguida pelo então ministro Palocci.
Não que eu tivesse a pretensão de defender o então ministro que caiu por corrupção ao final do primeiro mandato, mas é que as receitas dos "desenvolvimentistas" eram por demais rústicas para o meu espírito crítico.
Como essa resenha crítica nunca foi publicada, eu a posto aqui para demonstrar que os keynesianos de botequim e os unicampistas de circo nunca desistiram de aplicar suas receitas. Eles finalmente conseguiram, no mandato de uma outra unicampista que provou, sobejamente, que essa turma é capaz de tudo para destruir a economia brasileira.
Conseguiram, parabéns.
Mas não foi por falta de alertas e advertências.
Pelo menos da minha parte.
Eis o que eu escrevia então...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2016


Um novo modelo econômico para o Brasil

Comentários e observações de Paulo Roberto de Almeida ao livro Agenda Brasil
(destacados entre parênteses e iniciadas com a sigla PRA)
Brasília, 26 de dezembro de 2005.

Sumário do livro:
João Sicsú, José Luís Oreiro e Luiz Fernando de Paula (orgs.)
Agenda Brasil: políticas econômicas para o crescimento com estabilidade de preços
(Barueri-Rio de Janeiro: Editora Manole & Fundação Konrad Adenauer, 2003, 390 p)

O texto apresentado a seguir é um sumário das principais proposições contidas no livro "Agenda Brasil: políticas econômicas para o crescimento com estabilidade de preços", publicado pela Editora Manole & Fundação Konrad Adenauer, 2003, 390 p., tendo como organizadores e autores, João Sicsú (UFRJ), José Luís Oreiro (UFPR) e Luiz Fernando de Paula (UERJ) e os demais autores: Carmem Feijó (UFF), Fernando Cardim de Carvalho (UFRJ), Fernando Ferrari-Filho (UFRGS), Guilherme Jonas (UFPR), Helder Ferreira de Mendonça (UFF), Jennifer Hermann (UFRJ), Marco Crocco (UFMG), Renaut Michel (UCAM), Rogério Sobreira (EBAPE/FGV) e Sidney de Castro Oliveira (UFRJ).

O livro Agenda Brasil foi lançado no Rio de Janeiro no dia 17 de novembro de 2003 (na livraria Letras & Expressões) e, posteriormente, em Campinas, Curitiba e Belo Horizonte. Algumas fotos do lançamento do Rio, assim como a capa, o sumário e opiniões dos economistas Luiz Carlos Bresser Pereira, João Sayad e Luiz Gonzaga Belluzzo sobre o livro, podem ser encontradas no site www.ie.ufrj.br/moeda


1. Alguns pressupostos do Agenda Brasil
Agenda Brasil é um livro de diagnósticos e propostas para transformação da realidade econômica brasileira. Foi concebido por iniciativa do Grupo de Estudos sobre Moeda e Sistema Financeiro, grupo de natureza interinstitucional (UFRJ, UERJ, UFPR, UFF, EBAPE/FGV, UFMG e UFRGS) sediado no Instituto de Economia da UFRJ. Propõe-se no livro uma alternativa de modelo de política econômica factível que, portanto, pode e deveria ser adotado no País. Não se propõe um modelo de ruptura - o que se propõe é uma transição processual e reformista.
(PRA: a despeito da ressalva, o livro e o conjunto de propostas formuladas por seus autores constituem, sim, um modelo de ruptura, não com o capitalismo, obviamente, pois subsistem muito poucos defensores de qualquer modo de produção alternativo ao existente, mas uma ruptura com a gestão “conservadora” em economia, que na verdade nem chega a ser uma proposta “revolucionária”, mas sim “passadista”, reacionária, no sentido em que se propõe a volta com receitas e recomendações seguidas no passado e que já provaram ou sua inocuidade ou sua nocividade do ponto de vista da boa gestão macroeconômica do país. Não se deve ter nada contra, em princípio, promessas de “ruptura”, pois por vezes elas são necessárias, mas seria importante assumi-las pelo que elas são, não negar-lhes o caráter de profunda inversão do modelo econômico seguido pelo país nos últimos dez anos, que é o que propõem, justamente, este livro e os seus autores. Não se deve ter medo de assumir a responsabilidade intelectual por propostas de ruptura: eu, por exemplo, também proponho a ruptura com esse “modelo” – vá lá, o termo, com o qual não concordo – mas entendo que a minha proposta vá num sentido contrário ao pretendido pelo grupo autor do livro, já que não proponho mais intervenção estatal na economia – que é, basicamente, o que nos estão prometendo esses autores, mas sim uma liberação geral dos entraves colocados pelo Estado para o livre jogo de mercado e a criação de condições institucionais e estruturais para o investimento privado e a intensificação dos intercâmbios globais, sem os controles que eles ainda pretendem impor, contra todas as evidências de sua ineficiência no passado.)

Agenda Brasil tem como ponto de partida dois pressupostos fundamentais. O primeiro é que o modelo de política econômica adotado a partir de meados da década de 1990 pelo governo brasileiro não conseguiu eliminar os entraves ao crescimento sustentado da nossa economia, que estão fundamentalmente no setor externo.
(PRA: O primeiro pressuposto já parte de um diagnóstico errado, uma vez que ele parte de uma afirmação não fundamentada, que consiste em acusar um suposto modelo, não definido e não formalizado explicitamente, por um suposto fracasso, a de superar os entraves ao crescimento econômico do país, cuja responsabilidade vai muito além de um simples “modelo” de política econômica, e toca nas próprias instituições do país, atingindo sua estrutura econômica e as condições nas quais se movem os agentes econômicos. Por outro lado, esse “pressuposto” parte de uma “constatação” no mínimo incorreta, e em grande medida equivocada ou exagerada, que seria a transferência de nossos fracassos em manter um ritmo de crescimento sustentado para o plano externo, descurando por completo sua natureza essencialmente interna. O chamado “estrangulamento externo” constitui a mais freqüente “obsessão” dos nossos economistas ditos “estruturalistas”, desde a era Prebisch, pelo menos. Se, em algum momento, esse “estrangulamento externo” representou algum tipo de entrave ao processo de desenvolvimento do Brasil, há muito tempo ele deixou de desempenhar esse papel, e a ênfase exagerada em sua importância recorrente constitui a mais notável miopia analítica desse conjunto de economistas. Nossos entraves ao crescimento não estão, como afirmado, “fundamentalmente no setor externo”, mas são, em sua maior parte, localizados no próprio Brasil. Não reconhecer isso, quando o mundo cresce muito mais do que o Brasil, é de uma miopia incompreensível para economistas supostamente bem informados.)

Em outras palavras, o tripé de política econômica adotado a partir de 1999 – baseado na geração de superávits primários elevados (atualmente em 4,25% do PIB a.a.), metas de inflação e regime de câmbio flutuante – não tem garantido o crescimento sustentado. De fato, a tendência da economia brasileira nos últimos anos tem sido de semi-estagnação, com crescimento médio de 2,0% a.a. no período 1996/2002.
(PRA: Os autores não reconhecem a existência de um problema fiscal no Brasil. Para eles, a geração de superávits é uma mera perversão das autoridades econômicas, algo como uma maldade gratuita, como se os líderes políticos gostassem de infligir ao país sofrimento desnecessário. Da mesma forma, metas de inflação e regime de câmbio flutuante são condenáveis em si, apenas pelo fato de não “entregarem” crescimento sustentado, como se medidas de política monetária, em seu sentido estrito, tivessem a obrigação de fazer algo mais do que são supostas fazer, isto é, garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, e como se o crescimento tivesse de ser o resultado obrigatório de sua implementação, na ausência de quaisquer outras políticas ou práticas associadas ao meio ambiente macroeconômico que deve embasar o processo de crescimento, que também requer condições institucionais e infra-estruturais, inclusive no plano microeconômico para sua manifestação adequada.)

Em segundo lugar, a economia tem se caracterizado por ciclos da conhecida forma stop-and-go cujos ritmo e amplitude são determinados essencialmente pelos humores, vontades e expectativas dos mercados financeiros doméstico e, principalmente, internacional.
(PRA: Não é principalmente “internacional” o condicionante essencial do atual ciclo de stop-and-go da economia brasileira, e sim de ordem interna. Por outro lado, não são os humores dos mercados financeiros que determinam seu comportamento, e se fossem, eles seriam favoráveis, pois a oferta de liquidez tem sido adequada, assim como a disponibilidade de investimentos externos. As razões devem ser buscadas em outra parte, mas suspeito que os autores do livro partiram da “idéia fixa” das limitações externas, e financeiras, ao crescimento econômico. Tal obsessão deveria merecer um pouco mais de fundamentação empírica.)


2. As Linhas Gerais de um Novo Modelo Econômico
2.1)-O Brasil é um caso relativamente singular dentre os países chamados emergentes, já que as políticas liberais-conservadoras sugeridas pelo Fundo Monetário Internacional eram e são adotadas voluntariamente pelos nossos governos – até recentemente pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e, atualmente, pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Uma eventual reorientação da política econômica doméstica só seria possível com a liquidação dos compromissos financeiros assumidos com o Fundo. A principal proposição relativamente ao FMI é precisamente a não submissão às suas idéias, não renovando acordos, especialmente aqueles que não são necessários e recuperando, desta forma, a autonomia de decisão doméstica sobre políticas macroeconômicas e reformas institucionais.
(PRA: Ao contrário do que dizem os autores, as políticas recomendadas pelo FMI não foram e não são adotadas voluntariamente pelas autoridades econômicas, mas apenas in extremis, na iminência de um crise econômica ou de uma ruptura de pagamentos externos. O qualificativo de “liberais-conservadoras” dado a essas políticas já revela o ânimo dos autores de mais acusar do que de explicar, ou de justificar o apelativo, que em si não quer dizer absolutamente nada, pois da mesma forma se poderia qualificar suas propostas de “intervencionistas-revolucionárias”, sem que isso acrescente qualquer coisa de útil ao debate econômico.
            Em segundo lugar, a “liquidação dos compromissos financeiros assumidos com o Fundo” não muda absolutamente nada o caráter e o conteúdo das políticas econômicas internas, que não são determinadas pelo Fundo, mas decididas pelas autoridades com base numa avaliação da situação concreta. Tanto é assim que a não recondução do acordo com o FMI, em março de 2005, e a “liquidação” antecipada das amortizações devidas não significou nenhuma mudança fundamental, não na orientação, mas na situação econômica do Brasil. O Brasil tem autonomia “recuperada”, mas o que isso implica em termos de condições macroeconômicas concretas? Nada além disso: podemos decidir nós mesmos o que fazer com as orientações de política econômica. Isso não muda em nada a situação fiscal e a natureza dos entraves ao nosso processo de crescimento, que continuam pesando sobre nós mesmos como antes.
A tentativa de “externalizar” nossos problemas fundamentais constitui a mais notória, e a mais ineficiente, escapatória aos nossos problemas básicos, que são todos “made in Brasil”. Não reconhecer isso é querer jogar areia nos olhos de quem deve participar desse debate de forma consciente e bem informada. Não preciso reafirmar aqui que essa ênfase exagerada no caráter externo dos nossos problemas constitui o mais sério impedimento a seu encaminhamento de modo satisfatório.)


2.2)-Com relação a política antiinflacionária, defende-se que se evite utilizar a taxa de juros para controlar a inflação. A elevação da taxa de juros básica (a taxa Selic) somente é capaz de reduzir a inflação se causar redução dos gastos de consumo e investimento, gerando desemprego, reduzindo a demanda e inibindo, em conseqüência, o empresariado a reajustar seus preços - já que o contexto torna-se bastante desfavorável. Utilizar a taxa de juros para combater a inflação é o mesmo que gerar desemprego para combater a inflação, o que não é aceitável dentro de um novo modelo econômico que visa o crescimento sustentável com equidade social. Assim, propõe-se elaborar um conjunto de instrumentos capaz de manter a estabilidade de preços. Por exemplo, proibir a indexação de quaisquer preços da economia, entre esses, tarifas de serviços públicos, aluguéis, salários etc. Organizar câmaras setoriais para sincronizar aumentos salariais e/ou margens de lucro com aumentos de produtividade.
(PRA: Os autores pretendem retirar a cobra da cesta tocando flauta. Propõem que não se use a taxa de juros para combater a inflação, mas não têm nada a propor em troca, a não ser a proibição da indexação de preços e a negociação entre setores interessados, justamente, na alta de seus “preços” relativos, que são os salários e os lucros. Poucos preços são indexados hoje na economia brasileira, e esses que o são deveriam, de fato, sofrer um processo de desindexação, com base numa maior abertura da economia à concorrência, pois eles estão, justamente, em setores relativamente oligopolizados ou cartelizados, que mereceram tal “proteção” no passado, em virtude dos processos de privatização e desestatização, para criar as condições de atratividade aos investimentos, o que hoje não se justifica mais.
            Esse “conjunto de instrumentos capaz de manter a estabilidade de preços” que eles pregam não têm nenhum sentido, a não ser que pretendam a volta aos controles de preços ou, justamente, essas “câmaras setoriais”, que nunca resolveram nada, a não ser estabelecer um “pacto perverso” pelo qual os atores em pauta transferem para o resto da sociedade sua avidez por salários e lucros maiores. Já vimos esse filme no passado, ele não resolveu nada e não pode resolver, a não ser manter o ímpeto inflacionário.
            O alegado objetivo do “crescimento sustentável com equidade social” não quer dizer absolutamente nada, pois ninguém seria a favor do não crescimento com aumento das desigualdades. É o que se chama de proposta inócua, pois apenas essa afirmação não constitui um novo “modelo econômico”. Modelos, em princípio, não existem, mas se os autores pretendem propor algum precisariam sair do nível de generalidade em que se situam. A renúncia à alavanca dos juros, por exemplo, pode ser uma proposta concreta, mas se eles não dizem o que vão colocar no seu lugar, isso tem tanta consistência quanto um pudim de clara de ovos. Os “instrumentos”que eles propõem são risíveis ou ineficientes como “controle de preços”: já provaram no passado não funcionar e continuarão não funcionando no presente e no futuro.)

Ademais, seria necessário substituir importações, estabelecer um novo regime cambial e controlar o movimento internacional de capitais financeiros para reduzir a "importação de inflação", que contamina a economia doméstica seja pelo aumento do preço do dólar, seja pelo aumento do preço em dólar de produtos adquiridos no exterior.
(PRA: os autores nos garantem aqui um conjunto de medidas que seriam inflacionárias e “produtoras” de fuga de capitais, sem assumir nenhuma responsabilidade pelos efeitos deletérios que essas medidas teriam sobre o conjunto da economia. Há praticamente dois anos o país convive com a baixa do preço do dólar, o que também para eles deve ser deletério, pois pretendem um “câmbio administrado”. Faltou dizer em benefício de quem, pois qualquer “preço cambial” produz “ricos” e “pobres” numa ou noutra ponta da equação, que o que se presume que resultaria da sua política de administração cambial seria uma transferência de renda do conjunto da sociedade para os exportadores brasileiros, que assim se veriam desobrigados de investir em ganhos de produtividade e melhorias na sua competitividade internacional. Trata-se de um Robin Hood às avessas, pois a erosão cambial torna a todos mais pobres, e apenas alguns mais ricos.
“Substituir importações” é apenas um novo nome para protecionismo tarifário, “defesa” cambial e outros mecanismos defensivos em política comercial. Trata-se de um “tiro no pé”, da mesma forma como o controle de capitais, que só consegue impedir o ingresso de investimentos, mas não a saída de capitais – nacionais – da economia.)


2.3)-No que se refere ao regime cambial, propõe-se substituir o regime atual de flutuação cambial pura e livre por um regime de minidesvalorizações programadas da taxa de câmbio (ou seja, crawling-peg ativo com regras implícitas e flexíveis). A livre e plena flutuação da taxa de câmbio, num contexto de grande mobilidade de capitais, gera uma grande volatilidade da taxa de câmbio, a qual, por um lado, dificulta a gestão da política macroeconômica e, por outro, aumenta a incerteza entre os tomadores de decisão a respeito de valores futuros, tais como, custo de produção/comercialização e receitas de exportação. Essa incerteza adicional desestimula o investimento, reduzindo o crescimento econômico.
(PRA: O que os autores propõem é um mecanismo automático e regular (isto é, recorrente) de realimentação da inflação, ademais de um “prêmio” aos ineficientes que não gostam de competir com ofertantes externos. Quem não gosta de volatilidade na taxa de câmbio prefere, certamente, a promessa de uma pressão permanente sobre os preços, o que faz com que todos os agentes tenham certeza de que podem corrigir os seus preços num determinado patamar, o que, pela “lei” das antecipações, se traduz por uma correção preventiva maior do que a estabelecida no mecanismo oficial de crawling-peg. Os autores devem adorar exportadores ineficientes e gostam de infligir sofrimento ao conjunto da população.)

 Neste contexto, é necessário a adoção, por parte do Banco Central do Brasil, de um regime cambial que: (i) permita a manutenção da taxa real de câmbio num patamar consistente com a obtenção de grandes superávits na balança comercial, (ii) auxilie na redução da volatilidade da taxa de câmbio e (iii) auxilie na manutenção da estabilidade do nível de preços. Esse regime necessariamente deve ser apoiado por medidas de controles sobre o fluxo internacional de capitais e pela formação de um montante considerável de reservas por parte do Banco Central.
(PRA: Pretender fixar a “taxa real de câmbio” é como ter uma bola de cristal, o que não parece estar ao alcance desses autores, nem do próprio Banco Central. Em lugar de grandes superávits na balança comercial, o que qualquer país deve pretender são grandes fluxos em ambos os sentidos das transações correntes, pois isso assegura um nível adequado de irrigação da economia em divisas, o que diminui, ipso facto, o grau de volatilidade no setor externo. Esse fluxo ampliado também contribui para gerar maior estabilidade nos preços internos, pois a concorrência na oferta é a melhor garantia de que os ofertantes internos não possam impunemente aumentar os seus preços.)


2.4)-No contexto de uma nova arquitetura de política econômica, em que se introduzem
controles de capitais e uma política antiinflacionária não-monetária, e considerando o nível corrente relativamente alto da capacidade ociosa da industria brasileira, sustenta-se que é possível fazer uma redução firme e gradual na taxa básica de juros (taxa Selic) para um patamar real de 6% (ou um pouco menos) ao ano - patamar necessário e compatível com um crescimento econômico da ordem de 5% ao ano. A taxa de juros é muito alta no Brasil porque o governo atribui a mesma múltiplas funções: combate a inflação, equilíbrio do balanço de pagamentos e rolagem da dívida pública.
(PRA: Diagnóstico exemplarmente equivocado. A taxa de juros é alta no Brasil porque acumulamos muitos passivos não cobertos pelos orçamentos correntes, o que é na essência um problema fiscal. O problema dos autores é que eles não reconhecem a existência de um problema fiscal no brasil. Ainda que se admita que os juros no Brasil são absurdamente altos, e que o BC exagera na dose, não há como resolver o problema dos juros no Brasil sem corrigir as distorções fiscais, sem abrir o sistema de crédito a mais concorrência e sem diminuir a pressão “extrativa” do Estado brasileiro sobre o conjunto da economia.)

2.5)-Defende-se uma estratégia de sustentabilidade da dívida pública e de política fiscal ativa gerando-se – inicialmente - um superávit primário de 3,0% do PIB. A estabilização da dívida pública como proporção do PIB não depende apenas do superávit primário, mas na realidade da combinação entre superávit primário/crescimento do produto/taxa real de juros.
(PRA: Os comentários anteriores permanecem válidos aqui também. Um superávit primário de apenas 3% será suficiente quando a dívida pública no Brasil tiver caído para menos de 30% do PIB. O crescimento é importante, mas o problema brasileiro é justamente o de ter crescimento insuficiente, e isso tem outros fatores que não apenas os juros.)

(PRA: Pretender isso é magia econômica, sem dar os meios.)

Nossas estimativas indicam que um superávit primário de 3,0% do PIB, em conjunto com uma taxa real de juros de 6% e um crescimento econômico de 5,0% ao ano, seria suficiente para reduzir a dívida para menos de 50% do PIB até 2011 e para possibilitar a implementação de políticas fiscais ativas com a realização de obras de infra-estrutura e programas sociais abrangentes.
(PRA: Correto, mas o problema é que já estamos com 51% do PIB na dívida e o esforço fiscal tem de ser bem maior. O crescimento nesse nível não virá e a taxa de juros não será reduzida apenas politicamente.)

Contudo, deve-se reconhecer que a meta 3% do PIB para o superávit primário que foi sugerida para um período tão longo é bastante cautelosa, já que o superávit primário deve ser determinado por um conjunto de fatores que se alteram ao longo dos anos: capacidade ociosa existente, taxa de desemprego etc. Em outras palavras, esta meta poderia ser revista caso as condições fossem extremamente favoráveis, como um crescimento continuado do PIB superior a 5% ao ano ou, alternativamente, caso as condições fossem desfavoráveis, isto é, diante de uma taxa de desemprego muito elevada.
(PRA: O problema é que as condições são extremamente desfavoráveis...)


2.6)-A introdução de controles na entrada e saída de capitais é uma medida fundamental para viabilizar um novo modelo econômico. Os objetivos fundamentais da proposta de política de controles de capitais para o Brasil são: (i) permitir maior autonomia da política monetária, fiscal e cambial; (ii) garantir o equilíbrio do saldo em transações correntes do balanço de pagamentos, ao impedir que a entrada de grandes fluxos de capital no país gere uma forte apreciação da taxa real de câmbio; (iii) reduzir a volatilidade da taxa de câmbio. A mudança do regime cambial e a redução da taxa de juros para patamares compatíveis com o crescimento a um ritmo de 5,0% ao ano requer a redução do grau de abertura da conta de capitais do balanço de pagamentos brasileiro. Isso pode ser obtido com medidas como a introdução de depósitos compulsórios não remunerados por um período de 1 ano sobre os capitais externos que entram no país e pelo aumento considerável do IOF sobre todas as aplicações financeiras de não-residentes no Brasil, além de outras medidas complementares, como limitação a exposição dos bancos ao risco cambial e o estabelecimento de limites e regras para a movimentação de recursos da Conta CC5.
(PRA: A política proposta redundaria não apenas em que não teremos mais capitais entrando, como os capitais nacionais procurariam rapidamente a porta de saída. Trata-se de retrocesso inacreditável na política econômica.)


2.7)-A compatibilidade entre uma nova política macroeconômica com políticas setoriais (política industrial e tecnológica, política de investimentos em infra-estrutura, etc.) é vital para viabilizar um crescimento econômico sustentável, de modo a superar tanto o estrangulamento externo quanto possíveis gargalos no processo de crescimento (ex: energia elétrica). Para tanto, deve-se construir a confiança no desempenho futuro da economia através de políticas macroeconômicas e industriais apropriadas. A responsabilidade pela criação de um ambiente seguro e positivo ao crescimento econômico depende do Estado que deve desenvolver instrumentos e mecanismos de coordenação entre os agentes econômicos em torno de um projeto comum de desenvolvimento.
(PRA: Nada contra “políticas adequadas”, mas no Brasil “políticas setoriais” sempre são favorecimento a setores específicos, ou transferência de dinheiro para quem já é rico, como os industriais da FIESP e outros espertos que “provam” que o seu setor é “estratégico” para a economia nacional. Estratégico para mim é educação de qualidade, todo o resto pode ser fornecido pelo mercado, inclusive educação aliás.)


2.8)-Neste contexto, deve-se estimular e criar condições para a retomada do investimento produtivo de forma sustentada. A retomada do investimento deve visar a redução da dependência de capitais externos e o aumento da produtividade, do salário real e do nível de emprego. Por exemplo, a política industrial deve ser discricionária, tendo como norteador a necessidade do país gerar superávits comerciais para diminuir a nossa vulnerabilidade externa. A política de emprego deve simultaneamente promover o aumento dos postos de trabalho, via aumento do investimento e do gasto público, e reduzir o grau de informalidade, através de políticas de apoio às pequenas e médias empresas, incluindo a agricultura familiar.
(PRA: Parece que os autores nunca ouviram falar de constrangimento fiscal. O Estado não tem dinheiro nem para os gastos correntes, quanto mais para aumentar investimentos públicos em setores geradores de emprego. Reduzir “dependência” de capitais externos é outra obsessão desses economistas, quando apenas países com contas desequilibradas apresentam essa dependência.)


O livro "Agenda Brasil" contém ainda propostas em outros campos cruciais para a construção de um novo modelo econômico, tais como, a necessidade de instituição de mecanismos privados de financiamento de longo prazo na economia, o reordenamento dos instrumentos de financiamento para o desenvolvimento regional e a implantação de instrumentos que visam a melhora da distribuição da renda no País.
(PRA: Pela primeira vez se fala em mecanismos privados de financiamento, o que é de certo modo surpreendente, quando ele deveria estar na base do processo de crescimento. “Construção de um novo modelo econômico” é uma frase de efeito, que não quer dizer absolutamente nada, ou tudo, depende de como se olha o processo. Os autores, por exemplo, acreditam em mais intervencionismo estatal, em controles de capitais, em papel primordial do Estado como investidor primário e coisas do gênero. Acho que eles vão continuar ensinando nos bancos universitários, pois parecem pouco preparados para administrar o país real.)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de dezembro de 2005.

E ja que falei do Premio Nobel "uniCampista" Joseph Stiglitz, aqui vai mais uma critica (2006)

Recordar é viver, dizem. Como estou simplesmente selecionando textos meus sobre política econômica ao longo da era do lulopetismo (essa mesma que provocou a Grande Destruição que estamos vivendo atualmente), e como outro dia falei desse prêmio Nobel que ainda precisa aprender economia, acabei descolando este outro, que ainda está disponível num antigo site meu.
Tem até um comentário ao final de um aluno leitor, que lamenta não poder usar meus argumentos contra o seu professor...
Lamentável, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/01/2016


1526. “Cinco mitos econômicos mistificados por um prêmio Nobel”, Brasília, 8 janeiro 2006, 3 p. Observações tópicas a resenha-artigo de André de Melo Modenesi (Valor Econômico, 06.01.06, pág. A8), em torno de posições de Joseph Sitglitz no livro Os exuberantes anos 90: uma nova interpretação da década mais próspera da história. Postagem n. 139, no meu primeiro blog, homônimo, link: http://paulomre.blogspot.com/2006/01/139-cinco-mitos-econmicos-mistificados.html.