O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 28 de janeiro de 2024

The most dangerous European scenario - Jakub Janda

 From @JakubJanda:

THE MOST DANGEROUS EUROPEAN SCENARIO:

Jakub Janda

Jan 27, 20333

(based on my private talks with many European political and military leaders)

If the United States would end its material military support to Ukraine in short and mid-term, it could mean the following cascade of (worst case) events:

- since Europe is unable to deliver weapons & ammo Ukraine needs in near-close quality and quantity, Ukrainian defenders will have to first select to which attackers they shoot at, later this will become a strategic problem forcing Ukrainian leadership to search for any form of cease-fire

- why would terrorist Russia agree on any cease-fire or keep such promise if they would see their own strategic initiative and Ukraine desperately lacking defensive weps and ammo? Russia would keep attacking until Ukraine has to plead for capitulation, likely leading to internal political instability in Ukraine

- during this process, we can expect several million Ukrainians running West in panic, flooding Central and part of Western Europe, leading to natural rise of far-right (which is always a Russian fifth column), shaking internal stability of European NATO member states

- since most of Europe lacks large and modern air force able to deterring Russia, we will be (as always) dependent on the decisions of the American President. Those hundreds of F-35s ordered by European nations will be coming after like 2028/2030, so we have at least 4-5 year gap when much of Europe is really vulnerable. 

- Even if brave countries like Poland, Sweden, Finland or Baltic republics spend as much as they urgently can, our strategic balance of (military and political) power to Russian terrorists is not favourable to Europeans, if we cannot be sure about American strategic decisions after January 2025

- we see a lot of symbolic actions by large European economies (Germany, France, Italy, Spain), but are they running their defense industry and spending to semi-war levels like Russia does? Not at all, because they are not scared by the most realistic change of Russian attack on EU/NATO countries in last four decades. Why? Because they are not in the first line and many within their economic establishments still hope to get back to “normal” business with Russia. We are facing the most dangerous split over strategic plans across European allies now.

So, supporting Ukrainian defenders with everything we have got is the only realistic change we have to keep this war from erupting in a geostrategic disaster for Europe.”

Quando o Brasil voltará a crescer? - André Nassif (O Globo)

Quando o Brasil voltará a crescer?

Retomada do crescimento é inadiável e não há outra saída senão redefinir política econômica no curto prazo

Por André Nassif

O Globo, 26/01/2024 

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/quando-o-brasil-voltara-a-crescer.ghtml 2/11

 

Desde o início da década de 1980, o Brasil vem passando por processo de

estagnação, sem fim. Entre 1980 e 2023, a taxa de crescimento do PIB não superou os 2,3% ao ano, inferior ao crescimento mundial, de 2,8% ao ano. O crescimento médio da produtividade tem rodado próximo de zero em igual período. A retomada do crescimento, em ritmo mais expressivo e sustentável, é inadiável, porque dele depende a melhoria do padrão de vida dos brasileiros no futuro. A questão é: o Brasil voltará a crescer sobre bases sustentáveis?

Para responder à pergunta, recorro ao modelo de equilíbrio geral de James Meade, Prêmio Nobel de Economia em 1977, para quem o desafio dos policy-makers é adotar políticas consistentes que assegurem, simultaneamente, o equilíbrio interno (crescimento compatível com o pleno emprego e estabilidade de preços) e o equilíbrio externo (equilíbrio do balanço de pagamentos). Embora seja um modelo de curto prazo, concebido para o mundo de Bretton Woods, em que prevaleciam taxas de câmbio fixas (mas ajustáveis) e controle de capitais, ele pode não apenas ser adaptado para o mundo atual, com taxas de câmbio flutuantes e elevada abertura ao movimento de capitais, como também estendido ao longo prazo.

No modelo, o equilíbrio interno e o equilíbrio externo são determinados,

simultaneamente, pela taxa de câmbio real e pela absorção doméstica (consumo, investimento e gastos do governo). Enquanto as políticas monetária e fiscal afetam diretamente o nível da demanda doméstica e o equilíbrio interno, a política cambial, ao alterar a composição da demanda agregada destinada aos produtos domésticos e aos produtos importados, interfere diretamente no equilíbrio externo.

A taxa de câmbio real está associada negativamente ao equilíbrio interno, mas positivamente ao equilíbrio externo. Assim, uma taxa de câmbio real menor (moeda brasileira sobrevalorizada), por diminuir a absorção de bens domésticos em detrimento dos importados (que se tornam mais baratos) e causar desemprego, requer incremento da absorção doméstica (por exemplo, através de uma política fiscal expansionista) para levar a economia de volta ao equilíbrio interno; já uma taxa de câmbio real maior (moeda brasileira subvalorizada), ao ampliar a competitividade internacional, afeta positivamente as exportações líquidas e acarreta (tudo o mais constante) maior superávit do balanço de pagamentos.

Atualmente, a economia brasileira conta com equilíbrio externo, mas não interno, pois opera abaixo de seu potencial e com elevado desemprego. No mundo de Bretton Woods, havia maior autonomia no manejo da política macroeconômica. Uma política monetária expansionista poderia levar a economia ao pleno emprego e até mesmo provocar alguma inflação no médio prazo. Uma política de desvalorização cambial, acompanhada de ajustes finos de contração monetário-fiscal, poderia levá-la a alcançar a situação ótima de pleno emprego, estabilidade de preços e equilíbrio do balanço de pagamentos.

O modelo sugere que os instrumentos da política macroeconômica envolvem dilemas (trade-offs): em um mundo com taxas de câmbio fixas (mas ajustáveis) e controle de capitais, políticas monetárias e fiscais expansionistas aumentam a absorção doméstica e reduzem o desemprego, mas deterioram os resultados do balanço de pagamentos. Para contornar o trade off, uma política de desvalorização cambial seria capaz de reorientar a composição da demanda agregada para gastos em produtos e serviços domésticos em detrimento dos importados, propiciando uma melhoria dos resultados do balanço de pagamentos.

Acontece que no Brasil (e no mundo), atualmente, prevalecem regimes de câmbio flutuantes e elevada mobilidade dos fluxos de capitais externos. A autonomia para a execução de políticas macroeconômicas compatíveis com os interesses sociais de longo prazo é reduzida, mas não inexistente. O ideal é que os regimes de metas de inflação sejam razoavelmente flexíveis, com bancos centrais conferindo pesos iguais aos objetivos de manter a inflação na meta e alcançar o pleno emprego.

Infelizmente, diferentemente de outros países, este não tem sido o caso do Brasil. Na situação atual, por exemplo, tanto a política monetária quanto a política fiscal operam com vieses contracionistas. O novo arcabouço fiscal confere maior flexibilidade para que a política fiscal se desvie para o terreno expansionista, mas este dependerá da dinâmica das receitas do governo. Dada a desaceleração econômica em curso, se mantida a meta de déficit fiscal primário zero, será mínimo o potencial para incremento dos investimentos públicos, condição necessária para acionar o motor da recuperação econômica.

Qual seria a melhor solução agora? Mesmo com os cortes esperados da Selic, para 9% até o final do ano, ainda assim a taxa de juros real básica de curto prazo, de 4,9%, permanecerá com viés contracionista no final de 2024, considerando expectativas de inflação de 3,9% e taxa de juros real neutra de 4%, de acordo com as projeções do Banco Central. Logo, não há outra saída senão redefinir os contornos da política econômica no curto prazo, alterando a meta de déficit fiscal primário para 1% do PIB, de sorte que a expansão dos investimentos públicos programados proporcione o start inicial da recuperação econômica e impulsione, consequentemente, os investimentos privados.

Voltando ao modelo de equilíbrio interno-externo, com câmbio flutuante e livre

mobilidade de capitais, uma política fiscal expansionista, no momento, faria com que a economia brasileira aumentasse a absorção doméstica e reduzisse o desemprego. E, prevendo alguma incerteza no mercado financeiro, que sempre reage, de forma exagerada e, na maioria dos casos, injustificadamente, à expansão dos gastos públicos, esse impulso fiscal, ao gerar alguma turbulência temporária no mercado de câmbio, provocaria maior depreciação do real e equilíbrio externo às custas do equilíbrio interno. Porém, com o manejo dos instrumentos de política cambial vigentes (venda de reservas, swaps cambiais etc), o Banco Central do Brasil seria plenamente capaz de aliviar a pressão sobre a taxa de câmbio e trazer a economia brasileira ao equilíbrio “geral”, entre 2024 e 2025.

Evidentemente, as medidas sugeridas não respondem integralmente à pergunta que dá título a este artigo. Afinal, o crescimento da economia sobre bases sustentáveis depende de uma diversidade de fatores adicionais complementares, como o impacto da nova política industrial a ser lançada (a neoindustrialização) sobre a taxa de investimento, redução das taxas de juros reais para níveis internacionais, preservação de uma taxa de câmbio real competitiva e estável etc. Mas para que o novo arcabouço fiscal venha a funcionar de forma satisfatória, preservando investimentos públicos e gastos sociais em patamares que proporcionem aumento da produtividade da economia e redução das desigualdades, mas permitindo, ao mesmo tempo, ritmo de crescimento das receitas públicas superior ao das despesas primárias, é preciso que o motor da recuperação seja acionado pela política fiscal.

Do contrário, o Brasil contratará não apenas menor crescimento econômico, mas também maior dificuldade para colocar em prática o novo arcabouço fiscal vigente.

 

André Nassif é professor-visitante do King’s College London, Reino Unido, e autor de “Desenvolvimento e Estagnação: o Debate entre Desenvolvimentistas e Liberais Neoclássicos”.

E-mail: andre.nassif@kcl.ac.uk; andrenassif27@gmail.com

 

sábado, 27 de janeiro de 2024

Nuclear Non-Proliferation Regime: success or failure? Book Review: Jeffrey M. Kaplow. Signing Away the Bomb: The Surprising Success of the Nonproliferation Regime (2022) (H-Diplo)

 Nuclear Non-Proliferation Regime: success or failure?

Book ReviewJeffrey M. Kaplow. Signing Away the Bomb: The Surprising Success of the Nonproliferation Regime (2022)

 

Excerpt

NPT, which has now passed its 50th anniversary, has 191 states parties, more than any other arms control treaty. Five states that had already developed nuclear weapons (the United States, Russia, Britain, France, and China) were allowed to join the NPT as nuclear weapon statesall other members had to join as non-nuclear weapon states, meaning they legally foreswore the option of getting the bomb when they signed the treaty. Only five states are not members: India, Israel, North Korea, Pakistan, and South SudanThe first four have nuclear arsenals but cannot legally be recognized under the NPT as nuclear weapon states, so they remain outside the treaty (North Korea was a signatory but withdrew a few years before it conducted its first nuclear test); South Sudan became independent relatively recently and its non-membership is not regarded as a signal of potential interest in a nuclear program.”

 

 

H-Diplo|RJISSF Roundtable Review 15-25 on Kaplow, _Signing Away the Bomb_

christopher ball

H-Diplo | Robert Jervis International Security Studies Forum

Roundtable Review 15-25

Jeffrey M. Kaplow. Signing Away the Bomb: The Surprising Success of the Nonproliferation Regime.Cambridge: Cambridge University Press, 2022. ISBN: 9781009216739 (hardcover, $110). DOI: https://doi.org/10.1017/9781009216746

26 January 2024 | PDF: https://issforum.org/to/jrt15-25 | Website: rjissf.org Twitter: @HDiplo

 

Contents

Introduction by Jeffrey W. Knopf, Middlebury Institute of International Studies (MIIS) 2

Review by Naomi Egel, University of Georgia. 7

Review by Jeffrey S. Lantis, The College of Wooster. 11

Review by J. Luis Rodriguez, George Mason University. 14

Response by Jeffrey M. Kaplow, College of William & Mary. 18

 

(...)


Read the review: 

https://www.academia.edu/114128103/Nuclear_Non_Proliferation_Regime_success_or_failure_Book_Review_Jeffrey_M_Kaplow_2022_


Guerras e reformas globais vão pautar reunião do G20 no Rio - Caio Sartori (Valor-Globo)

Guerras e reformas globais vão pautar reunião do G20 no Rio

Caio Sartori
Valor, 26/01/2024


A primeira grande reunião do G20 sob presidência do Brasil está marcada para os dias 21 e 22 de fevereiro, no Rio de Janeiro, com os ministros de Relações Exteriores do grupo. O encontro dos chanceleres, apurou o Valor, vai debater sobretudo dois temas: as tensões internacionais em curso e a reforma da governança global. Escolheu-se como palco a Marina da Glória, no aterro do Flamengo, na divisa entre a zona sul e o centro da cidade.

Em gesto ao Mercosul e à integração regional, o governo brasileiro distribuiu nesta semana convites para os países do bloco participarem do encontro. Oficialmente, além do Brasil, apenas a Argentina integra o G20, que reúne algumas das maiores economias do mundo. Com o convite, portanto, também devem ir ao Rio os chefes diplomáticos de Uruguai, Paraguai e Bolívia.

Outros blocos abarcados pelo aceno do ministro Mauro Vieira foram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em recados de valorização da língua portuguesa e da pauta ambiental, respectivamente. No total, além dos 21 integrantes oficiais e desses convidados recentes da presidência brasileira, compõem a lista do evento outros oito países que foram convidados ainda no ano passado e 12 organizações internacionais.

A ideia da gestão brasileira é que o primeiro dia da reunião de chanceleres discuta as guerras e conflitos internacionais vigentes, sobretudo a guerra da Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. Afinal, será a primeira vez desde o início da tensão em Gaza entre Israel e Hamas que o grupo se encontra.

No caso da guerra na Europa, o G7 despontou nos últimos dois anos como espaço de debate. No G20, espera-se uma postura firme sobre a guerra em Gaza de países próximos à causa palestina, como Arábia Saudita, Turquia, Indonésia e África do Sul - além do Egito, que é membro convidado.

Depois dos chanceleres no Rio, ministros da área financeira se reúnem em SP
No segundo dia de reunião, o foco será a reforma das instituições internacionais, tema que, inclusive, integra um dos três eixos da presidência brasileira ao lado da pauta climática e do combate à fome e às desigualdades. “Não estamos falando só de reforma do Conselho de Segurança da ONU. No G20, esse tópico envolve reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e, também, das Nações Unidas de forma mais abrangente”, diz uma fonte envolvida na agenda programática da condução brasileira.

O encontro na Marina da Glória serve de ponto de partida para as reuniões ministeriais que vão ocorrer ao longo do ano no Rio e em outras cidades do país até a cúpula dos chefes de Estado, marcada para 18 e 19 de novembro. “Será um evento preparatório fundamental para a logística e a segurança da Marina”, afirma o presidente do comitê municipal que organiza o G20, Lucas Padilha. A tendência é que a cúpula de novembro seja no Museu de Arte Moderna (MAM), localizado próximo à Marina.

Uma semana depois dos chanceleres, será a vez de os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais se encontrarem, mas em São Paulo. Ao longo do ano, no Rio, o calendário do comitê do G20 também prevê uma reunião de ministros da área financeira, assim como das temáticas de clima e de saúde.

O G20 é dividido em duas “trilhas”: a dos sherpas, conduzida pela diplomacia, e a financeira, pelo Ministério da Fazenda. O nome sherpa neste caso se aplica aos diplomatas precursores das missões. No Brasil, o sherpa é o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, enquanto a coordenadora da trilha de finanças é a secretária de Assuntos Internacionais da Fazenda, Tatiana Rosito.

Antes mesmo de começarem os encontros de ministros, está programado no Rio, na segunda-feira (29), um evento de um dos grupos de engajamento, como são chamados os núcleos de debate voltados para áreas temáticas. O encontro é o Business 20 (B20), marcado na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin. Também participam Mauricio Lyrio, Tatiana Rosito e CEOs de empresas nacionais e estrangeiras.

Desde que o Brasil assumiu a presidência do clube de grandes economias do mundo, em dezembro de 2023, a prefeitura do Rio tem investido na divulgação da cidade como “capital do G20”, como é possível ler em diversas placas publicitárias espalhadas pelas ruas. Apesar de vários municípios do país receberem eventos ligados à presidência brasileira, o Rio será o anfitrião da maioria deles.

Itaipu e o preço da energia: conflito Brasil-Paraguai - Catia Seabra (FSP)

 

Governo Lula sobe tom e ameaça romper acordo com Paraguai sobre energia de Itaipu

Presidente resiste a pagar mais caro por 33% da energia vendida pelos paraguaios; vizinhos podem ir a corte internacional


Folha de S. Paulo, 25.jan.2024
BRASÍLIA

Em meio ao embate entre os dois sócios de Itaipu Binacional pelo valor da tarifa, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ameaça rescindir o acordo que obriga o Brasil a comprar a energia elétrica que deixa de ser consumida pelos paraguaios.

Pelo Tratado de Itaipu, cada país tem direito a 50% da energia gerada pela hidrelétrica. Mas os paraguaios nunca atingiram essa cota, consumindo ainda hoje cerca de 17% do total produzido.

Em abril de 1973, o Brasil assumiu um compromisso de compra de toda a energia excedente do Paraguai, como forma de garantir a viabilidade financeira do empreendimento.

Presidente do Paraguai, Santiago Peña, ouve Lula em cerimônia sobre investimentos de Brasil, Paraguai e Bolívia durante encontro do Mercosul no Rio. - Daniel Ramalho - 7.dez.2023/AFP

Esse compromisso brasileiro não está expresso no corpo do Tratado que constituiu a empresa binacional. Mas em um documento em anexo, a "nota reversal número cinco" —que, de acordo com o governo, hoje é passível de revisão.

O tratado reconhece aos dois países o direito de aquisição do que não for utilizado pelo outro parceiro comercial. No tratado, Brasil e Paraguai também se comprometem a adquirir toda a potência instalada da usina. Mas o texto não define como se dará essa compra.

E, neste momento de divergência acerca do valor da tarifa, as autoridades brasileiras estudam lançar mão de um instrumento jurídico para, como vêm chamando, "denunciar" o acordo –ou seja, informar ao Paraguai que pretendem rompê-lo.

Nesse caso, o Paraguai poderá recorrer a uma corte internacional.

A rescisão desse acordo comercial é apontada como uma medida drástica, sem precedente na relação entre os associados, à beira de um incidente diplomático. Também afetaria a economia paraguaia.

Em 2022, por exemplo, os paraguaios consumiram seus 17% da energia gerada pela usina. O Brasil comprou os 33% restantes da cota paraguaia por cerca de US$ 1 bilhão.

Ainda em 2022, foram pagos outros US$ 218 milhões ao Paraguai para aquisição da energia que foi produzida acima do que estava previsto.

A venda da energia é fundamental para a economia do Paraguai, que defende o aumento do preço.

As autoridades brasileiras argumentam que a tarifa deve permanecer mais baixa após o fim do pagamento da dívida pela construção da usina, o que ocorreu no fim de 2023.

O governo defende manter o patamar de US$ 16,71 por kW. Já o Paraguai reivindica cerca de US$ 22 por kW. Cada dólar representa uma receita adicional superior a US$ 136 milhões à estatal, a ser partilhada entre os dois países.

Como forma de pressão, os paraguaios se recusaram a firmar um acordo que permitiria o funcionamento administrativo de Itaipu até que um consenso sobre a tarifa fosse alcançado, conforme revelou a Folha.

Tradicionalmente, as diretorias das duas margens de Itaipu, a brasileira e a paraguaia, celebram um instrumento, chamado de procedimento provisório, para evitar a paralisação das atividades enquanto o preço da energia não é definido.

Desta vez, os sócios paraguaios se recusaram a avalizar o procedimento. Com isso, fornecedores e funcionários ficaram sem receber.

Segundo aliados, Lula ficou contrariado com a suspensão de pagamentos, incluindo férias e parcela do 13º salário. Os funcionários recebem o salário no dia 25, e a Justiça do Trabalho ordenou o pagamento.

É nesse ambiente que os chanceleres dos dois países têm conversado para discutir o chamado Anexo C do Tratado de Itaipu, documento que define as bases financeiras da binacional.

Segundo aliados, está nas discussões desse documento a obrigatoriedade de compra pelo Brasil da energia a que Paraguai tem direito e não usa.

Diretor-geral de Itaipu, o ex-deputado Enio Verri nega que esse seja um revide brasileiro ao boicote paraguaio. "Essa é uma pauta importante para discutirmos no Anexo C", afirmou.

Essa estratégia, no entanto, divide até integrantes do governo Lula.

Enquanto uma ala afirma que seria mais vantajoso comprar energia no mercado livre, a preço mais barato, há quem defenda a manutenção do acordo com os paraguaios, lembrando que os termos do Tratado de Itaipu são a garantia de fornecimento contínuo de energia, sem sobressaltos.

Afirmam ainda que a tarifa de Itaipu teria pouco impacto na conta de luz no país, já que representa cerca de 8% do mercado brasileiro. No Paraguai, supera 80%.

Mas, na segunda-feira (15), após uma tensa reunião com o presidente do Paraguai, Santiago Peña, Lula afirmou que é necessário fazer uma "discussão profunda" sobre esse trecho do tratado entre os países.

Segundo integrantes do governo, não há registro de que essa carta-compromisso, que foi assinada durante o regime militar, tenha passado pelo Congresso Nacional brasileiro.

Um especialista, que prefere não ser identificado, chega a afirmar que esses contratos de compra nunca foram firmados.

O tema divide os especialistas no setor energético. Diretora técnica da PSR Energy Consulting and Analytics, Angela Gomes afirma que o tratado dá aos dois países preferência para aquisição de energia. Mas não está clara a obrigação de compra por parte do Brasil.

Segundo cálculos apresentados por Angela, a tarifa proposta pelos paraguaios faria saltar dos atuais R$ 261 para estimados R$ 323 o MWh, representando um custo adicional de R$ 3 bilhões para o Brasil.

Ela diz ainda que a sobreoferta estrutural de energia e a margem de expansão do setor dão ao Brasil poder de negociação com os paraguaios.

"Acho que o Brasil tem poder de barganha nesse momento para negociar esse preço e não aceitar as condições paraguaias", afirma.

Na opinião de Thais Prandini, sócia-diretora da E.smart Consulting, a mudança nos termos do acordo exigiria uma negociação entre os dois países.

Embora afirme não haver fundamento para o aumento de tarifa proposto pelo Paraguai, ela ressalta que o rompimento de um acordo estratégico poderia trazer consequências políticas, além de não ser recomendável abrir mão da energia produzida por Itaipu. "Causaria um desgaste entre os dois países e queremos continuar amigos", afirma.

Para o diretor de Energia Elétrica da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres), Victor Iocca, não faz sentido o Brasil manter um acordo a um custo tão elevado.

Segundo ele, o Brasil está em condições confortáveis para negociar com o Paraguai.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Um Brasil ambientalista se torna associado à OPEP - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Um Brasil ambientalista se torna associado à OPEP

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Artigo para a revista Crusoé sobre a nova postura pouco ambientalista do governo Lula.

Publicado, sob o título de “Governo Lula entra para o cartel dos chantagistas do petróleo” na Crusoé (n. 299, 26/01/2024, link: https://crusoe.com.br/edicoes/299/governo-lula-entra-para-o-cartel-dos-chantagistas-do-petroleo/). 

 

Uma das inovações mais surpreendentes da política externa de Lula em 2023 foi o anúncio, em plena COP-28 – quando o Brasil estava tentando convencer o mundo de que seu programa de transição energética era para valer – de que ele também estava se tornando um país associado à OPEP, a organização dos países produtores de petróleo, dominada pelos grandes exportadores árabes de óleo cru. Paralelamente, se anunciou também que a Petrobras estava dando início a novas perfurações tentativas na faixa equatorial do Atlântico Norte e na própria Amazônia. Como diriam alguns, uma no cravo, outra na ferradura; ou seja, a despeito de apregoar seu engajamento na redução do recurso a combustíveis fósseis, para combater o aquecimento global, o Brasil estava igualmente dando consistência a seu novo status de grande produtor e exportador de petróleo.

Mas, o que significa essa “associação” – diferente de ser membro pleno – a uma organização que pretende justamente dar continuidade a um cartel de países produtores cujo primeiro compromisso é com a manutenção dos preços mais altos possíveis, conscientes de que a miragem da substituição dos combustíveis fósseis por equivalentes “sustentáveis” não passa mesmo, no futuro previsível, de uma grande miragem? 

(...)

A “opepização” do Brasil e a nova preeminência atribuída à Petrobras pelo atual governo petista vai, de alguma forma, “escurecer” – sem concessão ao politicamente correto do “racismo estrutural” – a imagem que o Brasil pretende exibir ao mundo de protagonista sincero nas várias causas ambientalistas anunciadas antes dessa recaída no mundo do “ouro negro” (mas já inscritas na agenda do G20, presidido pelo país em 2024). A “transição energética” vai ter de disputar terreno com as crescentes exportações de petróleo e com o novo papel indutor da Petrobras nos investimentos estatais e no crescimento do Brasil. 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4543, 4 janeiro 2024, 3 p.



quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Um abaixo-assinado sobre o conflito Hamas-Israel - Cristina Kurthy

Um abaixo-assinado sobre o conflito Hamas-Israel

Iniciado por Cristina Kurthy

O extenso apoio à causa palestina veio assustadoramente desconectado da ameaça que autocracias e organizações terroristas representam ao mundo livre. A ascensão de regimes autocráticos segue ameaçando democracias nos cinco continentes.

Assim como condenamos os atos terroristas do Hamas, cometidos em 7 de outubro de 2023 em Israel, criticamos o governo populista-autoritário de Benjamin Netanyahu e defendemos a sua imediata substituição por meios democráticos. Além disso, apoiamos a investigação de crimes de guerra possivelmente cometidos na Faixa de Gaza, tanto pelo Hamas, quanto pelas Forças de Defesa de Israel, mas não confundimos o governo atual de Israel com o seu regime político. Defendemos o direito à existência do Estado de Israel e seu regime democrático (o único do Oriente Médio). Nos preocupa sobretudo o ressurgimento do antissemitismo (uma expressão de intolerável racismo) em vários lugares do planeta.

Não reconhecemos o Hamas, a Jihad Islâmica, o Hezbollah, os Houthis ou qualquer outra organização terrorista como representantes legítimos da luta palestina por um Estado. Reconhecemos, isto sim, o direito palestino à autodeterminação e apoiaremos os seus esforços para a construção de um novo governo não terrorista em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

O que está acontecendo em Israel não está desligado do que acontece na Ucrânia. Em ambos os casos democracias estão sendo violentadas por autocracias, seja a ditadura neoczarista de Putin, seja a teocracia dos aiatolás iranianos. Apoiar o Irã (via Hamas, Jihad, Hezbollah, Houthis) contra Israel, em nada ajuda à causa palestina e o estabelecimento da paz no Oriente Médio. Ao contrário, enfraquece os alicerces democráticos vitais à pluralidade de pensamento, ao humanismo e ao respeito a um curso próspero do processo civilizatório.

Exigimos a imediata libertação dos reféns israelenses capturados pelo Hamas e nos posicionamos pelo restabelecimento da paz na região, a construção de um Estado palestino não governado por terroristas, assim como defendemos o direito à existência segura do Estado de Israel, contra o terror e as ameaças autoritárias que ora agem em afronta às liberdades no mundo todo.

Para assinar: Assine o Abaixo-assinado

A Rússia é uma violadora serial da lei internacional, e distorce e mente deliberadamente sobre fatos e procedimentos - Anton Gerashchenko

Sobre o avião derrubado em Belgorod com "prisioneiros de guerra" à bordo.

Anton Gerashchenko
Il-76 crash in Belgorod region: violation of the laws and rules of war. Assessment of the situation. Russia officially stated that "Ukrainian prisoners of war who were allegedly on board, allegedly died". ▪️ As of today, we know two facts: 1. The plane was shot down; 2. A prisoner exchange was planned but did not take place. ▪️ The plane went down on Russian territory - outside of Ukraine's control. ▪️ International experts must determine whether the facts are true. Ukraine insists on an international investigation - President Zelenskyy. ▪️ The Security Service of Ukraine has opened a criminal investigation of the crash of the Il-76 (SSU confirmed this in a comment to Radio Liberty). There are currently three hypothetical versions of what the plane could have been carrying: 1️⃣ there were no Ukrainian prisoners of war on board; 2️⃣ there were prisoners of war on board; 3️⃣ in addition to prisoners of war, there was military cargo on board. All three options mean a blatant violation of the Geneva Conventions. The first one assumes that the aggressor organized a provocation and was preparing for it. This is a gross violation of the Third Geneva Convention by the Russian Federation and a war crime committed by Russians: repressions, i.e. killing prisoners of war in another place and in another way and taking prisoners of war as hostages. The second option is also a violation of the Third Geneva Convention by the Russian Federation - a violation of the laws and customs of war. The Convention requires that the ICRC and the Protecting Power, i.e. an official intermediary, be involved in the exchange of prisoners of war and monitoring of their condition. The Russian Federation sabotages the appointment of the Protecting Power and does not allow the ICRC to participate in the negotiation and exchange processes. According to Article 23 of the Geneva Convention, "no prisoner of war may at any time be sent to or detained in areas where he may be exposed to the fire of the combat zone, nor may his presence be used to render certain points or areas immune from military operations". The third option includes such war crimes of the Russian Federation as taking hostages in the form of a "human shield" on an airplane to "cover" the transportation of cargo (could be missiles for the shelling of Kharkiv. Earlier, there were several reports of S-300 missiles being delivered by Il-76 aircraft in Belgorod region). Any hypothetical scenario, even the saddest one, described above, does not imply international responsibility of Ukraine and the Ukrainian military. By commenting on the situation with the plane, Russian propaganda is trying to gain international support. If it succeeds, it could mean that the tactic of suddenly killing Ukrainian prisoners of war could be used again. We remember how Russia and its propaganda acted when commenting on the massacre of Ukrainian prisoners of war in Olenivka and the explosion of the Kakhovka HPP. This is the same handwriting of a terrorist country. "Russia consents to an international investigation into the crash of the Il-76 with Ukrainian prisoners of war near Belgorod on condition that it is seen as an investigation into the "criminal actions of the Kyiv regime" - presidential spokesman Dmitry Peskov said this morning. In fact, this means rejecting an international expertise. And that speaks volumes.