sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: menu economico a la marinara, ou o sabor do desconhecido

Caro leitor: o Brasil sempre descobre depois que respostas simples a problemas complexos sempre estã equivocadas e invariavelmente costumam dar errado. Parece que esta vai ser mais uma oportunidade para provar o acertado desta tese universal. Pena que o Brasil ainda não aprendeu...
Paulo Roberto de Almeida 

Eleições 2014

O que esperar da equipe econômica de Marina Silva

Candidata prevê aumento de gastos com a saúde e a educação, ao mesmo tempo em que prega o ajuste fiscal e a manutenção do tripé. Como fazer a mágica? Ao que parece, nem ela sabe

Luís Lima e Talita Fernandes
Veja.com, 28/08/2014
Para Marina, formação de equipe está condicionada ao programa de governo, que será apresentado nesta sexta-feira
Para Marina, formação de equipe está condicionada ao programa de governo, que será apresentado nesta sexta-feira(Felipe Cotrim/VEJA.com)
Reduzir gastos do governo, dar início à reforma tributária, zelar pela autonomia do Banco Central (BC) e manter o tripé macroeconômico (composto pelo sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal) são algumas das tarefas que devem ser executadas com urgência pela equipe econômica do próximo governante do Brasil, caso tenha a intenção de recuperar o crescimento e a credibilidade do país. O mercado acredita que o candidato tucano Aécio Neves não deve ter dificuldades em empreender medidas necessárias, dado seu DNA político e a presença do ex-presidente do BC Armínio Fraga em seu governo. No caso da presidente Dilma, o sentimento é de que uma política de ajustes aconteça de forma mais lenta e frouxa. Já Marina Silva, que despontou rapidamente na corrida presidencial, é a candidata que suscita mais dúvidas nesse aspecto. Seu compromisso com a ortodoxia agrada o mercado. Porém, a falta de um time econômico que valide seu discurso provoca desconfiança. A pouco mais de um mês do primeiro turno, o coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, afirmou ao site de VEJA que não há perspectivas de divulgação de nomes nos próximos dias. “Ainda não há, na cabeça da candidata, esse tipo de discussão”, afirmou. Segundo o peessebista, a prioridade ainda é debater o programa de governo. "É um momento para o eleitorado conhecer os candidatos, que serão os protagonistas maiores do novo papel que o Brasil pode ter. Apresentar a equipe é um modelo de ação. Mas nossa prioridade é debater o programa", afirma. O programa de governo do PSB será apresentado na tarde desta sexta-feira em São Paulo. 
Sabe-se que há dois economistas de peso assessorando oficialmente a candidata: o acadêmico Eduardo Giannetti da Fonseca e o ex-presidente do BNDES André Lara Resende, que também foi um dos principais assessores econômicos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Alexandre Rands, sócio da consultoria Datamétrica e um dos membros da equipe que montou o programa da ex-senadora, considera que Giannetti passou a ter mais influência na campanha após a morte de Eduardo Campos. “Como Eduardo tinha experiência em gestão pública, acabava ouvindo mais pessoas e não relegava sua avaliação a apenas uma opinião. Suas ideias eram mais diluídas. Como Giannetti é mais próximo de Marina, que não é economista, sua figura sai fortalecida", afirma. Contudo, Giannetti já afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que não vai integrar a equipe de um eventual governo de Marina. Lara, por sua vez, tem circulado nos bastidores da campanha, sem assumir qualquer responsabilidade como porta-voz econômico. 
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Outros nomes, como Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper, Bernard Appy, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Loyo, ex-diretor do BC e Tiago Cavalcanti, professor de Cambridge, são apontados como consultores, mas negam ter vínculo direto com a campanha. Eles colaboraram com artigos e discussões em oficinas temáticas realizadas por Eduardo Campos e Marina em todas as regiões do Brasil, que ajudaram na composição do programa de governo. Neca Setúbal, uma das pessoas mais próximas de Marina atualmente, afirmou ao site de VEJA que a candidata já possui uma equipe gabaritada que dá respaldo ao seu projeto político, o que, segundo ela, é suficiente para o momento. "Não há necessidade em já apresentar ao mercado uma lista de futuros ministros", afirmou Neca, que é uma das herdeiras do Itaú.
O anúncio de um time concreto de economistas, tal como fez Aécio Neves, poderia dissipar grande parte das dúvidas que pairam sobre o discurso econômico da candidata. A necessidade se faz ainda mais presente porque Marina não é economista — e faz questão de criticar o comportamento de 'gerente' de certos governantes. É considerada uma liderança política, não técnica. Situação que colocaria em maior evidência, caso vença as eleições, a figura de seu ministro da Fazenda. “Nesse sentido, Marina se aproxima mais de Lula do que de Dilma e Aécio. Isso aumenta a responsabilidade de sua equipe, que terá um papel fundamental, pois gestores de perfil mais político tendem a delegar mais e interferir menos em temas econômicos”, explicou Bernard Appy, cujo mandato no Ministério da Fazenda ocorreu durante o governo Lula. 
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Segundo economistas ouvidos pelo site de VEJA, o que é possível inferir até o momento, tendo em conta o perfil de Giannetti e declarações recentes da candidata, é que um governo de Marina teria características liberais, com menos intervenção no câmbio e nos preços administrados, como no caso da gasolina e energia. Seu discurso sinaliza ainda uma preocupação com a política fiscal. “Uma defesa clara da Marina é o combate ao inchaço do Estado, que beneficia grupos privados específicos”, afirma Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para Otto Nogami, professor do Insper, as bandeiras econômicas de Marina guardam bastante semelhança com o programa do PSDB. "Agora, já é hora de a Marina sinalizar, de forma clara e detalhada, como irá fazer para atingir esses fins", destaca.
Contudo, alguns dados de seu discurso exalam ambiguidade. Marina afirmou que uma de suas prioridades é aumentar de 6,9% para 10% do Orçamento da União a verba para a saúde pública. Segundo cálculos do economista Raul Velloso, tal mudança teria grande impacto fiscal. Especialista em contas públicas, Velloso afirma que, se tal elevação tivesse sido feita em 2013, por exemplo, os gastos extras com a saúde representariam nada menos que 29 bilhões de reais, ou 32% do superávit primário daquele ano. Para um governo que prega o rigor fiscal, tal postura acentua as incertezas. A escola em período integral, bandeira levantada por Campos e endossada por Marina, também precisará ser financiada com verba federal. Para tanto, o PSB afirma que não aumentará o orçamento da educação. Mas tampouco apresentou uma saída fiscal para acomodar tal gasto. Já o passe livre para estudantes, outro ponto defendido por Marina, exigirá desembolsos de 12 bilhões de reais ao ano do governo, segundo previsões do próprio partido. 
Junto com tais medidas, Marina promete criar um conselho fiscal sem vínculo com o governo para acompanhar e avaliar a qualidade dos gastos públicos. Na teoria, o plano é perfeito. Mas como empreender cortes para resolver a situação fiscal e, além disso, aumentar gastos em determinadas áreas? O caminho das pedras, dizem assessores da campanha, será apresentado nesta sexta-feira. Mas é fato que sem cortes de gastos profundos e apoio do Congresso, tais projetos tendem a permanecer no papel. "Se Marina quiser os melhores, tem de estar preparada para contar com o apoio de pessoas que hoje estão com Aécio”, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper. Neste aspecto, Armínio Fraga, escolhido por Aécio, disse em entrevista a VEJA que não aceitará mudar de lado se seu candidato não for eleito.
Para se aproximar de setores da economia mais reticentes à candidatura da ex-senadora, a equipe de Marina tem recorrido a lideranças empresariais. Os coordenadores da campanha têm se dividido de acordo com os meios onde têm mais afinidade. Um deles é João Paulo Capobianco, que orbita o círculo do agronegócio, segmento onde a candidata tem alta rejeição. A intenção é acelerar o ritmo de integração da equipe de Marina à agenda que havia sido estabelecida por Campos para o setor. Nesta sexta-feira, será oferecido, em São Paulo, um jantar para a ex-senadora na casa de Plínio Nastari, presidente da Datagro, consultoria de açúcar e etanol. A agenda tem sido acompanhada também por Beto Albuquerque, o novo vice da chapa do PSB, que transita com facilidade entre os donos de terra. Dialogar com o agronegócio não será tarefa fácil. Se Marina conseguir converter o diálogo em apoio político, será um bom indício de traquejo — faceta até então pouco conhecida da candidata. 

Eleicoes 2014: Brasil, um pais enrolado pelo fervor mistico - Reinaldo Azevedo

Ao que tudo indica, o Brasil está no limiar de se envolver numa aventura ecoteologica sem pé nem cabeça. Pior: sem qualquer racionalidade instrumental.
Os eleitores perderam a razão...
Paulo Roberto de Almeida 

Marina Silva acaba de conceder a sua entrevista ao Jornal Nacional. Quem presta atenção ao sentido das palavras percebeu o tamanho do desastre. Os entrevistadores quiseram saber o óbvio: como se justifica o discurso da “nova política” quando a rede de empresas fantasmas e laranjas que envolve o avião em que viajavam Eduardo Campos e ela própria é a evidência escancarada da velha política? A candidata, é claro, não conseguiu achar uma resposta porque resposta não há. 
Em nenhum momento, revejam a entrevista depois no site do Jornal Nacional, ela admitiu que crimes óbvios foram cometidos. Mais do que isso: tentou desqualificar, ainda que com aquele seu jeitinho simples, de apelo telúrico, o trabalho da imprensa. Segundo disse, a verdade não virá das reportagens, mas da investigação da Polícia Federal. Como assim? Imprensa, de fato, não é a última instância na apuração de crimes. Nesse caso, no entanto, ela já chegou mais longe do que a polícia. As empresas fantasmas e seus laranjas vieram à luz. Como explicar? Pior ainda: com um discurso oblíquo, Marina sugeriu que a apuração da verdade pode ser um desrespeito à memória de Eduardo Campos.
Até aí, Marina estava na fase da enrolação, mas ainda não havia atingido o patético. William Bonner lembrou que ela e seu  vice, Beto Albuquerque, divergiram sobre algumas questões essenciais, como as culturas transgênicas e a pesquisa com células tronco embrionárias. Como posições inconciliáveis se juntam numa chapa? Isso é “nova política”? Marina, então, se saiu com a cascata de que o jornalista se fixava apenas nas divergências, não nas convergências… É mesmo?
A contradição óbvia estava no ar. Então, quando os adversários da candidata fazem composições entre divergentes, estamos diante da evidência da “velha política”; quando é ela própria a fazê-lo, aí se tem a prova da “nova política”? O que Marina respondeu? Que os jornalistas estavam equivocados. Por que estavam? Ela não disse. Nem tinha o que dizer.
Patrícia Poeta lembrou que, em 2010, Marina ficou em terceiro lugar na eleição em seu Estado, o Acre, que a conhece bem. Mais uma vez, a candidata tentou acusar a ignorância dos jornalistas: “Talvez você não conheça direito a minha trajetória…” Ora, quem não sabe? A agora candidata do PSB saiu-se com uma frase feita: “Ninguém é profeta em sua própria terra…” Ah, entendi: ela é profeta no resto do Brasil, menos no Acre. Listou os interesses que teve de contrariar e coisa e tal. Chegou a sugerir que enfrentou a máquina do governo do Acre. Aí estamos no terreno da piada. Ela participa, por meio de aliados, do governo do Estado desde 1999. É parceira dos Irmãos Viana. Seu marido era secretário de estado até a semana passada.
Na mensagem final, Marina pediu votos e disse que não é do tipo de política que faz a luta do poder pelo poder… Certo! Isso é para os outros. A entrevista terminou, e ficou claro que a tal “nova política” só é explicável com o auxílio da velha enrolação.
TransgênicosQuem não conhece o assunto não se deu conta do tamanho de uma das besteiras que disse. Afirmou que nunca foi contra os transgênicos (o que é falso, mas vá lá), mas que defendia que houvesse áreas livres dessa modalidade de cultura, numa coexistência entre os dois modelos. Felizmente, perdeu a batalha.
Qual é o objetivo dos transgênicos? Aumentar a produção com sementes que já são imunes a determinadas pragas. Ora, imaginem o que aconteceria se, em certas áreas, os transgênicos fossem proibidos e, em outras, permitidos. O resultado óbvio: as terras sujeitas a veto teriam de receber doses cavalares de agrotóxico. Mais: ainda que a proibição atingisse apenas uma parte das terras férteis, é claro que o Brasil não exibiria o robusto desempenho que exibe na agricultura.
Mas eis Marina. Ela se tornou especialista em assuntos sobre os quais ninguém – nem ela própria – entende nada.
Em tempos normais, a entrevista poderia ser devastadora pra ela. Nestes dias… Estamos voando no escuro. A gente sabe em que isso costuma resultar.
Texto publicado originalmente às 21h47 desta quarta

Bobagens petistas na politica externa - Editorial Estadao

O PT fora da conta
Editorial O Estado de S. Paulo, 28/08/2014

O governo terá de renegar as maiores bobagens da diplomacia petista, se quiser seguir a proposta do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges: fortalecer a relação comercial com parceiros estratégicos, como Estados Unidos, Europa e China. E terá de renegar a incompetência na gestão de projetos de infraestrutura e o populismo na política educacional.
Em princípio, o ministro está certo. É preciso rever as relações comerciais com os principais parceiros e tratar com maior seriedade a palavra estratégia. Os Estados Unidos foram neste ano, até julho, o maior importador de manufaturados brasileiros. Em outros anos, têm ficado em segundo lugar, logo abaixo da Argentina, mas sua política tem sido sempre mais confiável e previsível, sem as barreiras de ocasião e os truques inventados seguidamente na Casa Rosada.
Mas a diplomacia brasileira, sob o terceiro-mundismo instalado no Planalto em 2003, menosprezou a relação com os mercados mais desenvolvidos e definiu como grande objetivo redesenhar o mapa da economia mundial juntamente com novos parceiros ditos estratégicos. Esses parceiros até estavam dispostos a mexer no mapa, mas para cumprir seus objetivos nacionais, sem levar em conta as fantasias do presidente Lula e de seus conselheiros.
O presidente brasileiro, aliado ao colega argentino Néstor Kirchner, manobrou para liquidar o projeto da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). A diplomacia brasileira voltou-se, então, para alianças com países emergentes e em desenvolvimento. Aceitou o protecionismo argentino e acomodou-se em posição defensiva em relação ao mundo rico. Por sua vez, a negociação do acordo de livre-comércio com a União Europeia, iniciada nos anos 90, está emperrada até hoje. Negociar com ricos, só na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas essa rodada também emperrou e continua paralisada.
Nesse período, a China converteu-se na maior parceira comercial do Brasil, no papel de maior importadora de matérias-primas. Em rápido crescimento, a China compraria produtos básicos de quaisquer fornecedores, mas o governo brasileiro parece ter sido incapaz de perceber esse fato.
Em sua ânsia para mudar a geopolítica mundial, a diplomacia petista aceitou uma relação semicolonial com a China. Neste ano, até julho, só 3,17% das exportações brasileiras para a China foram de manufaturados e 12,13%, de industrializados. De lá para o Brasil vieram quase só manufaturados. Não foi muito diferente o comércio com outros grandes países emergentes: 11,80% de manufaturados nas vendas para a Índia e 44,31% de industrializados. Para a Rússia, as proporções foram de 7,17% e 20,65%.
O comércio com os velhos imperialistas foi diferente. Manufaturados compuseram 49,96% das exportações para os Estados Unidos. Somados os semimanufaturados, a indústria exportou para lá 69,49% do valor total. Além disso, as vendas para o mercado americano foram 13,5% maiores que as de um ano antes, enquanto as exportações totais foram 0,6% menores. Para a Argentina, o Brasil exportou 22,1% menos que em 2013 - efeito combinado da crise no vizinho e de seu protecionismo. Para a União Europeia, 47,57% das vendas foram de industrializados (33,82% de manufaturados).
Acordos comerciais teriam facilitado o acesso da indústria aos EUA e à Europa, mas isso ficou fora da estratégia petista. Também o investimento - que dinamizaria o setor, aumentando sua competitividade - emperrou nos últimos 12 anos, em parte por mera inépcia administrativa, em parte pela demora do governo em aceitar parcerias com o setor privado.
Quanto à educação - que, como reconhece o ministro, é muito importante para a competitividade e para a inovação -, foi prejudicada pela política populista de apoio ao ingresso no ensino superior. Os níveis básico e médio foram negligenciados e só há pouco o governo descobriu o ensino técnico.
O ministro mencionou insuficiência de ações nos últimos 30 anos. Mas o PT está há 12 no poder. Isso fica fora da conta?

Eleicoes 2014: Arminio Fraga desmantela mentiras lulo-petistas

ELEIÇÕES 2014
 Mitos do PT 
Arminio Fraga
Folha de S. Paulo, 28/08/2014

Arminio Fraga Neto, 57, economista, foi presidente do Banco Central (governo Fernando Henrique). É assessor do candidato à Presidência da República pelo PSDB, senador Aécio Neves (MG)

Populismo e mentira são inimigos da democracia. É preciso melhorar a qualidade do debate público, que deve ser baseado em fatos e dados.
Não é de hoje que o PT adota uma retórica agressiva e populista para marcar suas posições. Em tempos de campanha, esta prática se radicaliza, adquirindo tons cada vez mais berrantes, e chegando frequentemente a se desentender com os fatos. Abaixo alguns exemplos.
O primeiro mito, mencionado em entrevista na televisão pela própria presidente Dilma, é que a culpa do baixo crescimento é da economia internacional. Não é verdade. Nos governos FHC e Lula, o Brasil cresceu a taxas médias muito próximas das da América Latina. Para os anos Dilma, o crescimento projetado está 2% ao ano inferior ao da região, o que demonstra que não foi problema externo, foi interno mesmo.
O segundo diz que "basta estimular a demanda e o resto se resolve". Não tem sido bem assim. Falta investimento, vítima de preconceitos ideológicos e má gestão. A produção e a importação de bens de capital afundaram nos últimos meses. A infraestrutura virou uma barreira ao crescimento. O investimento está flutuando em torno de 18% do PIB há anos, valor insuficiente para acelerar o ritmo de crescimento. É preciso elevar esse porcentual a 24% até 2018, que é a nossa meta.
O terceiro é que os problemas da indústria serão resolvidos com medidas pontuais. Na verdade, a indústria nunca esteve tão mal. As taxas de juros estão para cima e o câmbio para baixo. O complexo sistema tributário é custoso e cumulativo, prejudicando as exportações e o investimento. A logística não está à altura das necessidades do país.
O quarto é o "querem fazer um arrocho", em resposta à posição honesta de que (para voltar a crescer) o país necessita corrigir muitas de suas políticas. A verdade é que a economia está devagar quase parando, amarrada por uma enorme e crescente incerteza sobre seu futuro. As perspectivas para o ano que vem são sombrias, como mostram todos os indicadores de confiança disponíveis. O arrocho, com dispensas e suspensões de contrato de trabalho, já chegou, vamos cair na real.
O quinto é o estridente "vão fazer um tarifaço". Aqui cabe perguntar, antes de mais nada, que situação é essa e como chegamos nela. Falo do irresponsável represamento dos preços de combustíveis e de energia, e da taxa de câmbio. No campo dos combustíveis, sofre a Petrobras asfixiada em seu fluxo de caixa, sofre o setor de etanol, onde as falências crescem, e sofre o meio ambiente, com o absurdo subsídio implícito a combustíveis fósseis. No setor elétrico, um movimento voluntarista de redução de tarifas saiu pela culatra, e vem gerando uma dívida bilionária com as distribuidoras de energia. Por último, a repressão da taxa de câmbio desestimula as exportações e pressiona ainda mais o deficit em conta corrente, hoje em 3,5% do PIB.
Em sexto lugar, há a acusação de que "o governo FHC sempre cortou o gasto social". Acusação falsa, como demonstra Samuel Pessôa em artigo recente nesta Folha. Medido como a soma de INSS, Lei Orgânica da Assistência Social, abono salarial, seguro-desemprego e bolsas, o gasto social cresceu cerca de 1,5 ponto do PIB em cada um dos governos Itamar/Collor, FHC, Lula e Dilma (esta em cerca de 1 ponto até agora). Na verdade, o governo FHC representou uma guinada no foco do gasto público na direção da educação e da saúde, ponto nunca reconhecido pelo PT.
Finalmente, o governo diz que "quebraram o país e nós pagamos o FMI". Em 2002, o Brasil quase quebrou, sim, em função do medo do que faria o PT no poder (e que Lula resolveu, para seu eterno mérito). No segundo semestre de 2002 o governo FHC (com anuência da oposição) tomou um empréstimo com o FMI de US$ 30 bilhões. Cerca de 80% do empréstimo foram reservados para o próximo governo, sendo 20% desembolsados (e não gastos) em dezembro de 2002 e o restante já durante o governo Lula. Portanto os recursos ficaram, na prática, à disposição do governo Lula.
O populismo e a mentira são inimigos da democracia e da boa política. Temos que melhorar a qualidade do debate público, que deve ser baseado em fatos e dados.

O Estado de S. Paulo - Arminio diz que sua ‘nomeação’ reduz ‘nível de incerteza’ / Entrevista

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique

Ex-presidente do Banco Central de FHC, ele foi citado por Aécio como futuro ministro da Fazenda em caso devitória tucana.

Débora Bergamasco

Enquanto a candidata Marina Silva (PSB) gera dúvidas sobre a condição de sua eventual política econômica, o concorrente ao Planalto do PSDB, Aécio Neves, anunciou na noite de anteontem que, se eleito, o economista Arminio Fraga será seu ministro da Fazenda. A ideia é se diferenciar da adversária e passar um clima de previsibilidade ao mercado. O ex-presidente do Banco Central falou ontem ao Estado e reafirmou sua política ortodoxa – no início do ano, chegou a dizer que o salário mínimo do Brasil havia subido demais. Nesta entrevista, disse que a responsabilidade fiscal é compromisso dos tucanos para reduzir “o nível de incerteza” no País.

O que haverá no seu ministério da Fazenda que não existe na pasta atualmente?
Um compromisso firme com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa foi uma grande conquista que não aconteceu da noite para o dia, mas que foi cristalizada na Lei de Responsabilidade Fiscal. Com certeza, nós estamos assumindo o compromisso de ter metas bem definidas, calculadas de maneira transparente, sem uso de artifícios ou de despesas não recorrentes. De forma que isso dê tranquilidade para que as pessoas aqui no Brasil reduzam o nível de incerteza e que isso ajude a construir as condições para termos no País uma taxa de juros mais normal e para valer, de maneira sustentável, não voluntarista. Isso contribuiria muito para fazer essa economia funcionar melhor. O tema da transparência também é muito importante. Precisamos ter o orçamento que seja um só. Que não tenhamos orçamentos espalhados por outras áreas de governo, como em bancos públicos. Que ele seja computado de uma forma que cumpra com seu papel político e democrático. Ser um fórum – e apenas um – de discussão da sociedade, sobre o que fazer com os recursos. Isso dá a eficiência do ponto de vista econômico e dá também uma melhor governança para o País.

Com o que o senhor se compromete, o que não terá no seu ministério?
Falta de transparência, criatividade contábil, decisões que propõem muito peso no curto prazo em detrimento do bem maior a médio e longo prazo. Um exemplo que vem acontecendo é desenhar os leilões de concessões de uma forma para maximizar receita em vez de ter uma visão mais completa de longo prazo. É preciso observar a eficiência do preço na economia como um todo e, obviamente, também em relação ao que é bom para o consumidor.

Há uma crítica de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não teria autonomia suficiente para conduzir a pasta por causa da ascendência da presidente Dilma Rousseff sobre o ministério. Em um eventual governo Aécio o senhor, como ministro, teria mais liberdade para trabalhar?
Todos os ministros se reportam ao presidente, trabalhando com aquilo que ele determinar. No dia a dia da gestão do ministério haveria, sim, independência, mas muitas das decisões são de natureza política. É evidente que o presidente definiria quais seriam as metas, como por exemplo de superávit primário e outras mais qualitativas, como de reforma tributária. Caberia ao Ministério da Fazenda tratar de atingir essas metas. É um aspecto absolutamente central de uma democracia que o orçamento seja discutido dentro do Executivo e do Legislativo também. O Ministério da Fazenda faz muitas outras coisas, como agenda de reformas microeconômicas importantes para o crescimento. Elas seriam conduzidas pela Fazenda e também com outros ministérios. Como por exemplo, temas do mundo do crédito, várias dimensões do custo Brasil, itens da infraestrutura, mercado de capitais etc..

Como o senhor escalaria a sua equipe no Ministério da Fazenda?
Vamos ter gente com experiência de fato comprovada em várias dessas áreas que são notoriamente difíceis, como Tesouro, área internacional, áreas de política econômica. Precisamos ter pessoas com competência, energia e com um alinhamento de visão do mundo, uma visão moderna, século 21. Além da experiência, trazer pessoas mais jovens. Tem muita gente na faixa dos 30 e dos 40 anos que traz energia, uma perene abertura para ideias novas. Estou em contato com gente que quer colaborar, não só com sugestões, mas que quer arregaçar as mangas e ir para Brasília.

Como seria a política do salário mínimo do governo Aécio?
A política de aumento real do mínimo continua ( com o atual modelo, que leva em conta o PIB ). São palavras do próprio Aécio.

O Globo – Arminio: ajuste seria virtuoso e não recessivo

Ex-presidente do BC, que Aécio anunciou como ministro, diz que não governa com Marina.

Cássia Almeida, Ana Paula Ribeiro E Rennan Setti

Ministro da Fazenda se o candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, ganhar a eleição, Arminio Fraga diz que o ajuste nas contas públicas que propõe é “não recessivo” e que até trará algum crescimento. Diz ainda que só trazer de volta a transparência das contas públicas terá efeito positivo e que esse ajuste fiscal seria feito ao longo de dois anos:
— A total transparência das contas gera um ajuste virtuoso. É clara a perda de disciplina fiscal, há uma perda de transparência grave. O Orçamento é uma peça crucial da democracia. Temos usos de artifícios contábeis e receitas não recorrentes. Temos gordura para cortar, lógico que não seriam atingidos os programas sociais. Uma parte virá de algum crescimento. Com a recuperação da confiança, já há uma melhora.
Arminio também afirma que é “100% Aécio” e não aceitaria um cargo no governo de Marina Silva, que apareceu em segundo lugar na pesquisa Ibope e ganharia no segundo turno se a eleição fosse agora:
— Não considero. Respeito muito a Marina, a história de vida dela, mas não considero ir para o governo.
O ex-presidente do Banco Central, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, não cravou prazos para trazer a inflação para a meta de 4,5%, que atualmente está em 6,5%, no teto do compromisso do governo. Há o temor de que se repita o que houve em 1999, quando Arminio, no Banco Central, subiu os juros para 45% ao ano. O país vivia uma crise cambial:
— Existem preços represados, que precisam ser colocados dentro das regras do mercado. Não seria recomendável trazer a inflação para a meta logo de cara; isso precisa ser feito num período não muito longo.
Ele afirma que, em 1999, as condições eram muito diferentes, com crise cambial aguda:
— Esperava-se uma inflação entre 20% e 50% e queda de 4% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços). Teve como respaldo um ajuste fiscal que começou no final de 1998. O ajuste acabou não sendo recessivo, crescemos um pouco.
Ele acusa o governo de “pregar no peito da oposição que haverá perda de postos de trabalho”. Arminio diz que só a mudança de governo trará a confiança de volta, e que o mercado de trabalho não vai sofrer:
— A incerteza aumentou muito. Indicadores antecedentes (números de atividade econômica que saem antes do resultado do PIB) estão deprimidos. Temos que arrumar a casa, se não for arrumada, coloca o país em grave risco.
Perguntado se acabaria com as desonerações e os repasses para o BNDES, que empresta a juros negativos, Arminio preferiu não antecipar decisões. Ele afirma que, na Fazenda, fará uma revisão completa nessas políticas.
— Soluções paliativas de desoneração não têm muita lógica econômica. Queremos um ambiente em que o empresário não precise se proteger do que o governo faz — disse.
Efeito No Mercado Foi Pequeno
O anúncio do nome de Arminio Fraga como ministro da Fazenda teve pouco efeito no mercado financeiro. Para Raphael Figueredo, da corretora Clear, Aécio já tinha conquistado o apoio do mercado:
— Aécio estava guardando a formalização disso como uma carta na manga, mas recorreu a ela porque foi mal no debate, na minha opinião. O mercado gosta do Arminio, então Aécio tentou reafirmar seu alinhamento com esse setor. Só que ele já tinha conquistado esse apoio antes.
A queda para terceiro lugar nas pesquisas também diminuiu o efeito do anúncio.
— Não trouxe nenhum impacto porque a possibilidade de segundo turno para o PSDB está menor — disse Adriano Moreno, da Futura Invest.

Venezuela bolivariana vai importar petroleo: uma realizacao inedita...

Venezuela estuda, pela 1ª vez, importar petróleo
Guilherme Russo, Enviado Especial / Caracas
O Estado de S. Paulo, 28/08/2014

Documento obtido pela 'Reuters' diz que produto argelino, mais leve do que o venezuelano, seria usado para reduzir custo do refino
O governo da Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve, como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano, pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira, 27,pela agência de notícias Reuters.
Apesar de o país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região produtora.
Isso é feito para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de petróleos de teor mediano e leve - que também têm sido usados como diluentes - tem diminuído no país.
O nafta tem sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu petróleo.
A possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez, como o "último recurso" para diluir a produção local.
Além do documento obtido pela Reuters, uma fonte com informações da PDVSA e da Sonatrach, confirmou a intenção de Caracas adquirir petróleo leve.
Inflação. A Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras) declarou nesta quarta que a inflação acumulada entre junho de 2013 e junho de 2014 no país se elevou em 62,1%. "É a inflação mais alta do planeta", afirmou o presidente da entidade, Jorge Roig, citando dados comparativos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela, organismo do governo, em maio, a inflação anualizada se situava em 60,9% no país. No ano passado, a elevação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor venezuelano chegou a 56,2%.
Em uma entrevista coletiva em que pediu transparência do governo em relação aos dados da economia, o presidente da Fedecámaras ressaltou que, entre 2003 e 2014, a inflação registrada na Venezuela chegou a 1.239% - no mesmo período, o aumento inflacionário relativo ao preço dos alimentos foi de 2.277%. "Essas cifras não têm precedentes", disse Roig.
O presidente da Fedecámaras lembrou que, segundo o último levantamento do Banco Central da Venezuela (BCV) a respeito da escassez de produtos no mercado venezuelano, entre fevereiro e março, foi registrada falta em 29,4% dos itens comercializados no país. "Desde então, o BCV não voltou a publicar a estatística. Um país não pode se planejar sem a transparência e a oportuna publicação das cifras oficiais (da economia)."
De acordo com o estudo da entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela caiu 4% no primeiro semestre deste ano.
A Federação Farmacêutica Venezuelana (FFV) pediu uma "política de emergência" ao governo para combater a escassez de medicamentos no país e culpou a não concessão de divisas por parte do governo para a importação de medicamentos pela atual crise.

Mandarins da Republica empenhados em afundar a republica (que ja anda cambaleando)

Só num país como o Brasil, um presidente de um banco estatal, suspeito de fraude, e possivelmente de corrupção (quem é que paga um apartamento em dinheiro????), paga multa e continua no cargo.
Significa que os superiores são coniventes com esse tipo de prática e recorrem a ela igualmente.
E quem é que paga imediatamente uma multa de mais de 120 mil reais, sem pestanejar?
Alguém muito rico, não é mesmo. Por que ele ainda trabalha? Para ficar mais rico, talvez...
Inacreditável, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida

Presidente do BB paga multa à Receita para se livrar de investigação
Compra de apartamento em espécie despertou suspeita da Receita, mas Bendine nunca explicou a origem do dinheiro (leia mais)

Só num país como o nosso, os supreminhos acham que ganham pouco, com quase 15 mil dólares por mês (isso só em remuneração, sem contar todos os penduricalhos, mordomias, casa e comida de graça, que não entram na conta e que já poderiam elevar o salário a níveis bem maiores).
O pior é que todos os outros mandarins da República torcem para que isso seja rapidamente aprovado, pois vai provocar um formidável efeito cascata, com dezenas de milhares de outros beneficiários. O povo paga a conta, e nem sabe que está sendo lesado pelos marajás do nosso serviço público. Não tenho nenhuma ilusão de que isso seja corrigido any time soon.
O Brasil chega a me envergonhar.
Paulo Roberto de Almeida

Ministros do STF querem salário de R$ 35,9 mil


Proposta aprovada pela Corte com o novo valor será enviada ao Congresso; salário hoje é de R$ 29.462


Chefe do BB pagou multa para se livrar de investigação
Receita questionou evolução do patrimônio de Aldemir Bendine em 2010
Executivo não informou origem de recursos usados para comprar apartamento pago com dinheiro em espécie
Leonardo Souza
Folha de S. Paulo, 28/08/2014

O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, pagou multa de R$ 122 mil à Receita Federal para se livrar de questionamentos sobre a evolução de seu patrimônio pessoal e um apartamento pago com dinheiro vivo em 2010.
Bendine foi autuado por não comprovar a procedência de aproximadamente R$ 280 mil informados em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda. Na avaliação da Receita, o valor de seus bens aumentou mais do que seus rendimentos declarados poderiam justificar.
Dirigente da maior instituição financeira da América Latina, Bendine tem por hábito declarar que mantém dinheiro vivo em casa, de acordo com documentos aos quais a Folha teve acesso. Ele informou em suas declarações à Receita ter recursos em espécie quatro anos seguidos, entre 2009 e 2012, no valor de pelo menos R$ 400 mil.
Bendine entrou no radar da Receita Federal em 2010, quando a Folha revelou que ele comprara um apartamento no interior de São Paulo pelo valor declarado de R$ 150 mil, pagos integralmente em espécie. O executivo também declarou ter feito obras no imóvel no valor de R$ 50 mil.
Ao justificar a legalidade da transação imobiliária, ele informou que declarou à Receita possuir R$ 200 mil em dinheiro vivo em casa, guardados desde 2009.
Em 2012, os auditores da Receita enviaram a Bendine um extenso questionário sobre suas despesas em 2010, perguntando quanto ele gastara com seus cartões de débito e crédito, com saúde, educação e outras despesas.
O executivo prestou as informações solicitadas, mas não convenceu. Em novembro de 2012, foi autuado em R$ 151 mil, incluindo multa e juros. Ele não contestou a autuação e pagou o auto à vista, ganhando um desconto. Assim, a conta caiu para R$ 122.460.
Bendine diz que não discutiu com a Receita a origem dos recursos usados na compra do apartamento e diz que o auto de infração resultou de um mero erro em sua declaração à Receita. Mesmo depois de identificar o erro, ele não retificou a declaração.
Questão Familiar
Questionado pela Folha, Bendine não quis falar sobre o dinheiro, alegando tratar-se de uma questão familiar.
Não é crime comprar imóveis com recursos em espécie. Assim como não é crime guardar dinheiro embaixo do colchão. Mas essas práticas são consideradas pelo Fisco como sinais de sonegação de tributos e por isso despertam a curiosidade dos auditores.
O dinheiro passado de mão em mão, sem circular pelo sistema bancário, não pode ser detectado pelos controles da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
"Que razões haveria para alguém guardar uma alta soma em vez de pôr numa conta bancária, numa aplicação?", pergunta o diretor de Relações Institucionais do Instituto Justiça Fiscal, Dão Real Pereira dos Santos, ex-superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul.
Ele fez uma análise do caso a pedido da Folha, sem ser informado do nome do contribuinte. "É uma situação em que naturalmente se inverte o ônus da prova", afirmou. "Numa situação normal, o Fisco teria que correr atrás das provas. Nessa situação, não. Cabe ao contribuinte explicar por que tem esse dinheiro guardado em casa."
Não foi apenas em 2009 que Bendine declarou ter R$ 200 mil em casa. No ano seguinte, ele voltou a informar ter a mesma quantia em espécie, após a aquisição e a reforma do apartamento. Ou seja, ele passou a ter novamente R$ 200 mil em dinheiro. Em 2011, declarou ter R$ 100 mil. Em 2012, R$ 50 mil.
O presidente do Banco do Brasil afirmou que adotou esse procedimento por considerá-lo na época a melhor maneira de corrigir o erro cometido no preenchimento de sua declaração, mas reconheceu que o correto teria sido apresentar uma declaração retificadora à Receita Federal.
Como determina a lei, o pagamento imediato do auto de infração, como fez Bendine, obriga a Receita a arquivar o caso, o que elimina a possibilidade de comunicar ao Ministério Público Federal a prática de eventuais crimes fiscais cometidos pelo contribuinte. O caso de Bendine foi arquivado em janeiro deste ano.

Destravar a politica externa - Sergio Amaral

É hora de destravar a política externa
Sérgio Amaral
Folha de S. Paulo, 20/08/2014

A economia brasileira é, hoje, uma das mais fechadas do mundo, com o comércio representando cerca de 20% do Produto Interno Bruto
Afora os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e as relações com Pequim, a política externa brasileira travou, inclusive em setores prioritários --como Mercosul, América do Sul e comércio exterior.
O Mercosul está paralisado, se não em retrocesso. Em pouco mais de uma década, as vendas brasileiras para o grupo declinaram de 17% a 8% das nossas exportações. Os investimentos também caíram, enquanto as instituições do Mercosul não fizeram qualquer progresso significativo.
Chegou a hora da verdade para o Mercosul. Os países-membros do grupo terão de tomar decisões fundamentais: querem consolidar o livre-comércio? Pretendem manter a união aduaneira? Querem continuar a proteger bens intermediários, em detrimento da integração das cadeias produtivas?
Quaisquer que sejam as opções, o importante será cumprir as regras acordadas, de modo a restaurar a credibilidade que o Mercosul perdeu. Com a adesão da Venezuela ao grupo, inclusive a cláusula democrática virou letra morta.
Na América do Sul, em vez de caminharmos para a integração, marchamos a passos firmes para a desintegração, com o traçado de uma nova linha de Tordesilhas que separa o Mercosul, a leste, da Aliança do Pacífico, a oeste. O último grupo representa 34% do PIB e 51% do comércio da América Latina.
Em três anos, a Aliança do Pacífico avançou, em vários setores, mais do que o Mercosul. A busca de uma convergência entre os dois grupos encontra, no entanto, a resistência do Brasil.
Por fim, em comércio colocamos todas as fichas na OMC (Organização Mundial do Comércio). Com o fracasso, provavelmente definitivo, da Rodada Doha, ficamos a ver navios, pois não negociamos os acordos de comércio, bilaterais e regionais, que a maioria de nossos parceiros já concluiu.
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o mais importante deles, ainda não foi finalizado --pela resistência da Argentina em aceitar concessões que os seus parceiros no Mercosul já fizeram, e pela recusa do Brasil em prosseguir nas negociações sem a Argentina, como, de fato, pode e deveria.
O custo para o Brasil será alto. Como relembrou José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, o Brasil poderá perder, entre outras vantagens, o acesso privilegiado ao mercado europeu de carne, caso as negociações com Washington avancem rapidamente, pois serão concedidas aos Estados Unidos as quotas que poderiam beneficiar o Brasil.
A abertura da economia é precondição para a retomada do crescimento. Assim como as reformas econômicas são um requisito para que a indústria possa competir.
A economia brasileira é, hoje, uma das mais fechadas do mundo. O comércio representa cerca de 20% do PIB --no caso da China, este percentual é de 53%. O presidente chinês, Xi Jinping, em sua visita recente ao Brasil, declarou que seu país não seria o que é hoje não fossem a abertura do comércio e as reformas da economia -- e Xi Jinping é insuspeito de inclinações neoliberais.
O travamento da política externa não ocorre apenas em setores prioritários. O comércio com a África continua a representar 5% de nossas exportações, como há várias décadas. As relações com Washington estão num ponto morto, exatamente no momento em que os Estados Unidos promovem uma revolução energética como prelúdio para um processo de reindustrialização, que abrirá oportunidades novas para cooperação e comércio.
É preciso não confundir visitas diplomáticas e comunicados conjuntos generosos com programas e parcerias efetivas. Infelizmente, temos sido pródigos na retórica e modestos nos resultados.

SERGIO AMARAL, 70, embaixador, foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (governo Fernando Henrique Cardoso)

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