O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

1720) Exportacoes: governo preocupado com deficit

Se o governo está de fato preocupado, em lugar de manipulações cambiais e novos prêmios fiscais aos exportadores (acompanhados, geralmente, de mais protecionismo setorial, com aumento de barreiras tarifárias e não-tarifárias à importação de bens), deveria mirar os reais fatores de competividade do fabricante brasileiro.
O empresário brasileiro não consegue exportar, não por ser incompetente, preguiçoso, ou despreparado.
Não, ele não consegue competir por estar literalmente soterrado por uma montanha de impostos, taxas, contribuições, enfim, uma enorme carga fiscal à qual se acrescentam custos logísticos e ineficiência administrativa, de modo amplo. Ora, isto é de responsabilidade exclusiva do próprio governo.
O governo brasileiro deveria começar eliminando suas próprias ineficiências e o custo absurdo que ele impõe a empresários e a particulares. Essa seria a maneira correta de resolver o problema.
Aposto, porém, que o governo vai fazer um pouco de tudo o que apontei acima, ou seja, manipulações e "prêmios", menos corrigir suas próprias debilidades. Querem apostar?
Paulo Roberto de Almeida (20.01.2010)

Comércio exterior: Lula pede plano para recuperar exportações
Sergio Leo, de Brasília
Valor Econômico, 20/01/2010

Presidente está preocupado com resultado da balança neste começo do ano e cobra ministros

Preocupado com a queda nos resultados do comércio exterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou aos ministros do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e da Fazenda, Guido Mantega, uma estratégia para recuperar as exportações brasileiras. Nesta semana, Miguel Jorge começou a discutir as medidas com a equipe do próprio ministério, e, por sugestão de Lula, deve convidar empresários para participar da definição da nova estratégia. O ministério já defende uma proposta do setor têxtil, de mudar o regime Simples para empresas exportadoras, e teme que, sem medidas de impacto, o país consolide em 2011 saldos negativos na conta de comércio.

Na avaliação dos técnicos do Ministério do Desenvolvimento, o déficit registrado nas duas primeiras semanas de janeiro, de US$ 967 milhões, fortemente influenciado pela conta de petróleo, com nenhum embarque e volumosas importações, não indica ainda qual será a tendência da balança comercial de 2010. No ano passado, o movimento do comércio exterior também foi negativo no início do ano, período de entressafra e de redução de atividade econômica, agravado pelos efeitos da crise, mas se recuperou gradualmente.

O que preocupa o ministério, porém, é a forte perda de mercados externos, devido à maior competição externa e à retração dos exportadores brasileiros. Se o país não recuperar rapidamente os mercados perdidos no ano passado, quando as exportações para a América Latina caíram 32% e os embarques para os Estados Unidos mais de 42%, terá dificuldade em voltar a vender no exterior em volume semelhante ao que vendia antes da crise financeira. Essa é avaliação de uma das autoridades do governo envolvidas na discussão interna sobre a balança comercial.

Mais que criar novos instrumentos, o que o Ministério do Desenvolvimento defende é a aplicação e ampliação dos já existentes, de maneira mais eficiente. Nos próximos dias, o Ministério da Fazenda deve editar medida para eliminar dificuldades encontradas pelos empresários no uso do mecanismo de drawback, pelo qual os exportadores compram sem impostos os insumos usados na produção de mercadorias para exportação.

Na opinião de Miguel Jorge, a prioridade do governo deve ir para a redução da carga tributária que pesa indevidamente sobre exportações, e na melhoria das condições de logística, de portos, estradas e energia. Técnicos do ministério avaliam, porém, que o efeito do real sobrevalorizado é o obstáculo às exportações que, retirado, tem condições de produzir resultados mais rápidos sobre a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Mas sobre esse ponto não há nenhuma proposta ainda em debate no governo.

As notícias de reversão na tendência de valorização do real, divulgadas ontem pelo Valor, não animam o Ministério do Desenvolvimento, porque, sem alterações significativas no cenário econômico, o dólar deve chegar a 2011 ainda bem abaixo de R$ 2,00 ou R$ 2,10, o nível considerado aceitável pelos técnicos.

Uma das principais linhas de ação do Ministério do Desenvolvimento é a redução dos créditos devidos aos exportadores, por causa da cobrança indevida de impostos. Estimativas não oficiais indicam a retenção de pelo menos R$ 20 bilhões em impostos cobrados de forma imprópia dos exportadores.

Hoje, na primeira reunião do ano do Confaz, que agrega os secretários estaduais de Fazenda, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, assina convênio para facilitar o uso das informações de comércio exterior na tributação das empresas. Além de criar mecanismos para ajustar as regras federais ao controle tributário feito pelas secretarias estaduais, o governo quer abrir caminho para isentar automaticamente de ICMS os insumos de mercadorias destinadas à importação. Hoje, os regimes especiais de exportação isentam os exportadores de impostos federais, o IPI e a Cofins.

A intenção do governo federal é aumentar, nos Estados, o uso dos mecanismos de drawback que permitem a compra, sem impostos, no mercado interno, de matéria-prima, partes e peças para mercadorias destinadas à exportação. Segundo avaliação do Ministério do Desenvolvimento, o meio mais eficaz de evitar o acúmulo de créditos tributários é criar mecanismos automáticos de isenção, como o drawback, que evita a cobrança indevida dos impostos.

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) enviou ao ministério a sugestão de que micro e pequenas empresas possam abater as receitas com exportação da base de cálculo para enquadramento no sistema de tributação simplificada, o Simples. Hoje, para evitar cair no regime mais complexo de tributação, empresas pequenas evitam aumento de receita limitando o volume de exportações. O tema ainda terá de ser discutido com o Ministério da Fazenda, porém.

O presidente Lula deve se encontrar ainda em fevereiro com Miguel Jorge e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para decidir que medidas urgentes tomará contra a queda nos resultados do comércio exterior. Os técnicos do governo ainda acreditam em superávit no comércio exterior neste ano, mas temem um aumento maior que o esperado nas importações. Um dos grande inimigos do desempenho exportador é, também, o forte crescimento do mercado interno, que desestimula ainda mais as empresas menores a dirigir a produção para os mercados externos.

1719) Equador, avante, para tras, na confusao

Uma cronica do conhecido jornalista cubano (vivendo em Madrid) sobre um livro do presidente do Equador, que revela o estado de confusão mental que tomou conta daquele país, aliás, de vários paises da América Latina...

Rafael Correa, recetario para un desastre
Carlos Alberto Montaner
Firmaspress, Enero 2, 2010

Rafael Correa, el presidente de Ecuador, acaba de publicar un libro. Lo llamó Ecuador: de Banana Republic a la No República. Supone que el país, bajo su mando, dejó de ser una república bananera, gobernada arbitrariamente en beneficio de una oligarquía deshonesta y del capital extranjero, para convertirse en otra cosa que no es, tampoco, una república tradicional con su separación y equilibrio de poderes, su constitución neutral y sus instituciones abiertas que propician los cambios suavemente al amparo tranquilo del Estado de Derecho.

En la solapa del libro Correa aporta sus notables credenciales académicas y declara su filiación ideológica. Dice ser un seguidor de la doctrina social de la Iglesia y de la hoy muy desacreditada teología de la liberación. Pero es en el texto, compuesto por artículos previamente publicados, donde encontramos las claves de su visión de los problemas de Ecuador. Es ahí donde comparece una abultada lista de malos a los que fustiga junto a los buenos a los que cita elogiosamente.

La lista de los villanos es muy extensa: prácticamente todos los presidentes que lo precedieron en el poder, los organismos internacionales de crédito, “la nefasta burocracia internacional y sus corifeos'', el mercado y “la mano invisible'' que lo guía, el Consenso de Washington, la independencia del Banco Central, la dolarización del país, el comercio libre internacional (el ALCA), la privatización, lo que llama “la larga y triste noche neoliberal'', las concesiones de los servicios a la empresa privada y la “tercerización'' o contratación a terceros para evitar cargas fiscales o presiones sindicales. En la página 64 manifiesta una intención que me parece encomiable: “Liberar al Estado de los grupos de poder que lo controlan''.

Sus héroes son el Estado, la teoría de la dependencia, la planificación, el gasto público, el dirigismo desarrollista, una moneda nacional que sirva para encajar las crisis y compensar la improductividad del país, Raúl Prebisch, J. M. Keynes, James Petras --un disparatado economista marxista radical--, las protecciones arancelarias para desarrollar la industria nacional, cierta conveniente inflación y hasta Facundo Cabral y Eduardo Galeano, como para poner cierta nota folclórica a un texto que es semiacadémico.

El libro tiene algunos errores impropios de un economista formado en Estados Unidos como, por ejemplo, afirmar que el gobierno de F. D. Roosevelt revocó el patrón oro en 1933, algo que sucedió, realmente, durante la administración de Richard Nixon varias décadas más tarde. Roosevelt lo que hizo fue devaluar el dólar con relación al oro: de 20 dólares la onza a 35, medida que, en su momento, fue considerada por muchas personas como una violación de los derechos de propiedad.

Estamos, pues, ante un gobernante que posee cierta visión ideológica perfectamente calificable como estatista (“tercermundista'', le llamaba Carlos Rangel), acompañada por una acendrada desconfianza en la economía de mercado y en las intenciones de las grandes democracias desarrolladas. Lamentablemente, a esta equivocada forma de entender cómo debe gobernarse, cuarenta veces fracasada en América Latina a lo largo del siglo XX, se une un temperamento claramente autoritario, según su propio hermano, y la perniciosa arrogancia intelectual de quien no conoce la duda y se mantiene indiferente ante una realidad que desmiente constantemente las premisas de las que parte.

Si, de acuerdo con el análisis de Correa, la clase política ecuatoriana es totalmente venal e ignorante, y está rodeada por un ejército de funcionarios indolentes, ¿por qué cree que el Estado va a solucionar los problemas de la sociedad mejor que la sociedad civil? Si el sector público ecuatoriano es un minucioso desastre y su propio gobierno naufraga en medio de la corrupción y la ineficacia (según también opina su hermano) y ni siquiera pudo prever el anunciado colapso de la distribución de energía eléctrica, ¿qué le hace pensar que dándole más poder y entregándole más recursos ese Estado va a hacer mejor su trabajo?

En lugar de mirar hacia Venezuela, que es el modelo perfecto de cómo no debe gobernarse a una sociedad, el señor Correa debería observar cuidadosamente el tipo de Estado que los chilenos han construido a partir de los años ochenta, y luego, inteligentemente, han conservado y profundizado los posteriores cuatro gobiernos de la democracia, como hará el que salga electo en las próximas elecciones. Es verdad que los chilenos hacen lo contrario de lo que Correa prescribe, pero parece aconsejable imitar los ejemplos exitosos, no los fallidos.

Al final de su libro, Correa cita a dos economistas que, probablemente, no ha leído o, peor aún, no ha entendido, Ronald Coase y Douglas North, y asume con ellos que la prosperidad, el desarrollo y la estabilidad dependen de la calidad de las instituciones y del carácter predecible de las reglas. Exactamente lo opuesto a lo que hace su gobierno. Eso se llama cultivar la esquizofrenia intelectual.

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Carlos Alberto Montaner nació en La Habana, Cuba, en 1943. Reside en Madrid desde 1970. Ha sido profesor universitario en diversas instituciones de América Latina y Estados Unidos. Es escritor y periodista. Varias decenas de diarios de América Latina, España y Estados Unidos recogen desde hace más de treinta años su columna semanal. La revista Poder lo ha calificado como uno de los columnistas más influyentes en lengua española. Se calcula en seis millones de lectores semanales quienes tienen acceso a sus artículos en español, inglés y portugués.

Montaner ha publicado una veintena de libros. Varios han sido traducidos al inglés, al portugués, el ruso y el italiano. Entre los mas conocidos y reeditados están Viaje al corazón de Cuba, Cómo y por qué desapareció el comunismo, Libertad: la clave de la prosperidad, y las novelas Perromundo y 1898: La Trama.

En 1978 la Editorial Planeta y la Universidad de Arkansas editaron un libro de crítica sobre su obra (La narrativa de Carlos Alberto Montaner). Dos de sus más polémicos y divulgados ensayos son los “best-sellers” Manual del perfecto idiota latinoamericano y Fabricantes de miseria, ambos escritos con la colaboración de Plinio Apuleyo Mendoza y Álvaro Vargas Llosa.

En 2001 publicó Las raíces torcidas de América Latina. En este libro Montaner aborda desde una perspectiva histórica uno de los asuntos más acuciantes de nuestra cultura: ¿por qué la América surgida de la colonización ibérica es el segmento más pobre e inestable de Occidente? Antes de esta obra, el autor, desde otros ángulos, había reflexionado sobre el tema en dos libros también publicados por Plaza & Janés: La agonía de América y No perdamos también el siglo XXI. En 2002, durante el primer centenario de la república, apareció Cuba: un siglo de doloroso aprendizaje, era el resultado de un ciclo de conferencias dictadas en la Universidad de Miami. En el 2003 publicó Los latinoamericanos y la cultura occidental.

En 1990 creó la Unión Liberal Cubana junto a exiliados y cubanos radicados en Cuba. El propósito era llevar el cambio democrático a la Isla por vías pacíficas. La ULC pronto se afilió a la Internacional Liberal. En 1992 Montaner fue elegido vicepresidente de la Internacional Liberal, cargo que ocupa desde entonces.

1718) Tragtenberg: um mestre sempre presente


Maurício Tragtenberg
A falência da política

Foi meu mestre, a quem admirava sinceramente pela inteligência, pela fina ironia, pela generosidade em distribuir seu conhecimento de forma tão natural e tão provocadora.
Aprendi muito com ele, e possivelmente teria aprendido muito mais se não tivesse saído do Brasil numa época decisiva em minha vida. Mas continuei acompanhando seus muitos textos, alguns deles transcritos nesta coletânea.

Título: A falência da política
Autor: Maurício Tragtenberg
Coleção: Maurício Tragtenberg
Número de páginas: 484
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 69
ISBN: 978-85-7139-959-4

Coletânea destaca a produção jornalística de Maurício Tragtenberg
O pensamento crítico de Maurício Tragtenberg vem
novamente à tona com a publicação de vários de seus
artigos, polêmicas e respostas divulgadas em jornais e
revistas de âmbito nacional, regional e até mesmo local,
em sua maioria escritas nos anos 1980. A coletânea está
disponível no livro A falência da política,
lançamento da Editora Unesp, que dá sequência à Coleção
Maurício Tragtenberg, e onde o leitor encontra uma visão
clara de como o autor entendia a política, o poder
político, o governo e o Estado.

A compilação, resultado da seleção do professor Evaldo
Amaro Vieira, é inédita e formada por textos que trazem a
crítica ácida de um pensador comprometido com um projeto
libertário da sociedade que permanece atual apesar dos
dez anos transcorridos desde o falecimento do sociólogo,
reconhecido por levar adiante o debate sobre poder,
educação e sociedade.

Para melhor apresentar os escritos de Tragtenberg, Vieira
incumbiu-se da tarefa de colher e organizar os artigos
fornecidos pela viúva do autor. Assim, A falência da
política apresenta-se dividida em três partes: na
primeira, estão as especulações teóricas sobre modelos
político-sociais adotados em todo o mundo, com
considerações críticas que abrangem de Paulo Maluf a
Vladimir Lênin e Francisco Franco.

Na segunda parte estão elencados os textos que
correspondem a fatos específicos comentados pelo autor,
como o implacável sistema educacional japonês, o conflito
entre Israel e Palestina, os casos de prisão,
interrogatórios e tortura praticados na Grã-Bretanha e na
Alemanha Social-Democrata, entre muitos outros.

O livro é finalizado com a questão política no Brasil
que, contando com um profícuo número de artigos, foi
dividido em três seções que trabalham o modo burocrático
de fazer política no país e a atenção dirigida à
educação, além de textos que abarcam a política
previdenciária e de saúde. A falência da política
apresenta-se, assim, como a reunião do trabalho de um
intelectual "que ensina a fazer da inteligência um ato de
liberdade e de conhecimento".

Sobre a Coleção Maurício Tragtenberg - A
relevância da obra de Maurício Tragtenberg, em que a
erudição acadêmica é temperada pela autonomia intelectual
e opções doutrinárias heterodoxas, evidencia a
importância de se reunir seus trabalhos dispersos e
variados. Este é o objetivo desta Coleção, coordenada por
Evaldo A. Vieira e lançada pela Editora Unesp. O
restabelecimento dos textos é feito por meio de
comparação com originais e cuidados formais que incluem
notas, compilação de artigos e revisão. A Coleção
Maurício Tragtenberg inclui a parcela mais representativa
do que foi produzido por este intelectual.


Na mesma editora, o catálogo ainda abriga outros livros do mestre, como estes:
REFLEXÕES SOBRE O SOCIALISMO
SOBRE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SINDICALISMO
ADMINISTRAÇÃO, PODER E IDEOLOGIA

Os livros da Fundação Editora da Unesp podem ser adquiridos pelo telefone (11) 3107-2623 ou pelos sites: www.editoraunesp.com.br ou www.livrariaunesp.com.br.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

1717) Um vento caro demais: de volta ao assunto dos Rafales

Vento, em qualquer lugar, sai de graça. Sim, às vezes, quando é forte demais, dá prejuizo. Mas, mesmo um país pobre, uma ilha deserta digamos, que não tenha quase nada, só vento, pode, teoricamente, mandar engarrafar o vento e conseguir alguma economia com isso. Refiro-me, obviamente, à energia eólica, que sempre é uma alternativa a países pobres, mas tão pobres (como o Haiti, por exemplo), que só dispõem de vento para"engarrafar".
Mas essa história de vento volta ao notíciário com a matéria abaixo em torno da compra dos aviões de combate para a Aeronáutica.
Parece que pagaremos pelo vento muito mais caro do que pagariam os indianos, caso se decidissem pelo Rafale, o que eles não fizeram. Descartaram o Rafale como a pior solução entre sete possibilidades "ventosas"...

A NEGOCIATA COM OS RAFALES: EIS O GRANDE ESCÂNDALO
do Reinaldo Azevedo, 19.01.2010 - 16:28

Não fosse essa espécie de abdução coletiva a que estamos todos submetidos, com “O Cara” deitando e rolando sobre as instituições — e a moralidade pública — , o caso dos caças Rafale seria tratado como aquilo que é: UM ESCÂNDALO, talvez o maior do governo Lula. Não é assim porque eu quero. É assim porque é. A Índia abriu uma concorrência internacional para a compra — ATENÇÃO!!! — de 126 caças. Valor que se dispõe a pagar a Força Aérea Indiana: US$ 10 bilhões. Seis modelos participaram da primeira rodada de seleção: os americanos F 18 e F 16, o Eurofighter Typhoon, o russo MiG 35, o sueco Gripen NG e o Rafale. Só um caça foi descartado no começo da disputa: o Rafale. Justificativa: não cumpria os requisitos mínimos de desempenho técnico exigidos pela Força Aérea Indiana.

Como vocês sabem, o Rafale é o caça que Lula decidiu comprar ao arrepio da recomendação da Aeronáutica, que é quem entende da área no Brasil. Lula, o Homem com o Isopor na Cabeça, é especialista em outros assuntos. Muitos indagarão: “Mas o escândalo está em ter a Força Aérea da Índia rejeitado o Rafale, que Lula quer comprar?” Não! Já contei onde está. É que a abdução em curso está nos impedindo de ver as coisas com a rapidez necessária. Já chego lá. Antes, algumas outras considerações. Ah, sim: depois de ler este post, você pode obter mais detalhes na concorrência indiana no site India Defence. Sigamos.

Enquanto o Rafale esteva na concorrência, Nicolas Sarkozy, o camelô de aviões e marido de Carla Bruni, fez o mesmíssimo lobby que vem fazendo no Brasil. A diferença é que, na Índia, a avaliação é realmente técnica. Por lá, não basta apenas adular o imperador absolutista, dispensar-lhe rapapés, elegê-lo “o homem do ano”, para embolsar alguns bilhões. Desde o começo da concorrência, informam os sites indianos que trataram do assunto, o Rafale era considerado a pior alternativa entre — atenção! — SETE MODELOS.

A chamada grande imprensa, que a canalha petralha acusa de ser “antigovernista” (podem rolar de rir), se interessou pelo assunto? Que eu tenha achado, só o Estadão Online publicou um despacho da Reuters no dia 16 de abril de ano passado. Depois o assunto sumiu. Como vocês sabem, a Força Aérea Brasileira também não quer o Rafale. Entre os três caças que avaliou, preferiu o sueco Gripen NG. Em segundo lugar, ficou o F-18. Em último, o avião francês. Como reagiu o governo do Homem do Ano do Le Monde? Considerou a hipótese de punir o que chamou de “vazamento” do relatório. Onde já se viu a Aeronáutica ficar se metendo com caças?

Celso Amorim, um gigante da filosofia, ainda maior por dentro do que por fora, deu-se a especulações metafísicas: “Às vezes, o barato sai caro”. Samuel Pinheiro Guimarães, o chefe da banda antiamericana do governo e da Sealopra, indagou se a gente compra um carro só pensando no preço… A mediocridade dessa gente é espantosa, especialmente quando tenta mimetizar Lula nas suas filosofadas e metáforas. O que, nele, aspira a um saber popular revela-se pelo que é na boca dos doutores: BOÇALIDADE PURA E SIMPLES.

E o escândalo, além do fato de que Lula anunciou o vitorioso quando a avaliação estava em curso??? Vamos lá. A Dassault, que fabrica os Rafales, se ofereceu para vender 126 caças à Índia por US$ 10 bilhões. Preço médio de cada avião: US$ 79.365.079,36. O Brasil está disposto a pagar R$ 10 bilhões por 36 aviões — ou US$ 5.681.818.181. Dividindo-se esse valor em dólar pelo número de aparelhos, chega-se ao custo unitário: US$ 157.828.282,82. Cada Rafale para o Brasil custa mais do que o dobro do que custaria para a Índia. Atenção: ESTAMOS FALANDO DO MESMO MODELO DE AVIÃO E DE CONCORRÊNCIAS FEITAS AO MESMO TEMPO.

Agora entendo o que o sr. Samuel Pinheiro Guimarães quer dizer quando afirma que a gente não compra um carro só pelo preço. No caso, parece que se compra também para agradar o fornecedor, não é mesmo? Que, sei lá, se não tiver o coração tão duro quanto o do faraó, dá ao menos um chaveiro de presente ao comprador. Já quanto a Amorim, o que pensar? Nem uma antítese tornada um clichê popular resiste a este monumento, logo involuindo para a tautologia: O CARO SAI CARO!

É incrível que um dos maiores negócios do governo Lula, com jeito, história e números de negociata, se faça sob o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa e, como não poderia deixar de ser, da oposição.

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Addendum em 20.01.2010.
Muita gente lê apenas o post e passa por cima dos comentários.
Recomendo que se os leia (perdão pelo Português arrevesado).
Acrescentei este comentário a um leitor anônimo (eles sempre tem vergonha de se apresentar com nome próprio, e dizer claramente qual posição defendem), que pretende ser crítico do jornalista acima transcrito:

Meu caro Anônimo (seja você quem for),
Não tenho procuração para defender Reinaldo Azevedo, nem ninguém, e não é minha intenção fazê-lo.
Mas, veja, trata-se, como ele próprio se classifica, de um jornalista que não entende necas de pitiribas de aviões militares, nem eu, aliás.
Eu entendo de poucas coisas, entre elas que o dinheiro que vai pagar esses aviões vai sair do meu, do seu, do nosso bolso, e portanto essa é a única coisa que nos interessa como cidadãos.
Jamais ele, nem eu (aliás, nem você) pretendeu discutir características físicas da Lua, de Marte ou de qualquer país terrestre, sequer discutiu objetivos militares, se os indianos vão enfrentar chineses, paquistaneses, gregos ou goianos.
O que ele fez, como bom jornalista, foi buscar informações e colocá-las à disposição de seus leitores, sim, acrescentado seus comentários que ele tem direito de fazer.
Seu único comentário relevante foi que o Rafale custa um bocado caro (algo que não precisa ser gênio militar para saber), e que os indianos aparentemente não estão dispostos a comprá-los.
Nem, aliás, a FAB, pelo que se sabe.
Assim, a única pergunta relevante que VOCÊ, EU e todo o POVO BRASILEIRO pode e tem o direito de fazer (já nem falo de governo, pois ele é um pouco, digamos, surrealista), é por que uma escolha prévia, por antecipação ao relatório técnico da FAB, pelos caças franceses.
Se você tem alguma resposta convincente para esta pergunta, pode mandar para mim, que publicarei com prazer...
Paulo Roberto de Almeida

Permito-me acrescentar apenas uma coisa: um governo que age de forma pouco transparente, que é capaz de torrar bilhões em recursos públicos (ou seja, dinheiro de cada um de nós) sem oferecer uma explicação convincente, que se refugia em argumentos tão calhordas como "relação estratégica", não merece obviamente a confiança de ninguém. Em qualquer democracia digna desse nome, os responsáveis seriam chamados numa comissão parlamentar para se explicar. Assim se passa em países sérios.
Em democracias aviltadas como a nossa, o direito dos cidadãos a uma informação decente é violado todos os dias.
Apenas uma palavra pode definir o que uma pessoa normal sente: asco!

1716) Manual de diplomacia prática: em publicacao...

Com base em artigo mais abrangente, que foi publicado em livro, compus uma série de pequenos artigos sobre "diplomacia prática", qeu vem sendo publicados no site de informação e opinião do RS, Via Política.

Estes os artigos publicados até aqui:

1) Manual de diplomacia prática, 1: clareza de intenções
Existem diversos elementos do “jogo diplomático” que devem ser considerados em qualquer política externa que se pretenda responsável. O primeiro deles é uma visão clara sobre os objetivos nacionais. (...)
aqui

2) Manual de diplomacia prática, 2: interação com a economia
Na concepção tradicional da diplomacia, isto é, nas considerações clássicas de política externa, essa relação dual se colocava entre a política externa e os instrumentos militares, ou seja, o poderio estratégico de um determinado país e sua projeção externa. Nas condições atuais, sobretudo para os países emergentes – mas também, no jogo diplomático das grandes potências – essa relação deve ser vista como envolvendo basicamente o mundo econômico (indústria, comércio, investimentos, finanças, tecnologia, recursos humanos, enfim, os grandes determinantes da produtividade e da competitividade contemporânea). (...)
aqui

3) Manual de diplomacia prática 3: avaliação dos meios
No plano das relações internacionais e do jogo diplomático, não existem nem podem existir aliados permanentes nem, obviamente, parceiros privilegiados, que o sejam a priori, incondicionalmente e sem qualquer critério de utilidade. A noção de que “aliados estratégicos” o sejam por simples declaração de intenções, de modo vago e sem clareza quanto aos objetivos, é ingênua e principista, sem atender a um claro critério de racionalidade quanto aos meios e fins. (...)
aqui

à suivre...

1715) Tropeçando na conjugação? Não seja por isso...

Se você também tem dúvidas, como eu por vezes tenho, sobre a exata forma de conjugar um verbo irregular, não precisa mais se preocupar: resolva imediatamente seu problema consultando este site gratuito:

http://linguistica.insite.com.br/cgi-bin/conjugue

De nada...

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Depois de publicada essa indicação, José Marcos mandou esta sugestão:

Meu conjugador online favorito:
http://www.flip.pt/FLiPOnline/Conjugador/tabid/578/Default.aspx

Obrigado, obrigado...
Não seremos reprovados por falta de conjugador automático...

1714) Autoritarios nunca desistem, inimigos da liberdade tampouco

Incrivel como em plena vigência do regime democrático no Brasil, inimigos da liberdade pretendam submeter o país a regime similar ao que vigora em ditaduras ditas socialistas.

Nova investida contra a democracia
Editorial O Estado de S.Paulo, Terça-Feira, 19 de Janeiro de 2010

Vem aí mais um ataque à liberdade de informação e de opinião, preparado não por skinheads ou outros grupos de arruaceiros, mas por bandos igualmente antidemocráticos, patrocinados e coordenados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A 2ª Conferência Nacional de Cultura, programada para março, foi concebida como parte de um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário. O controle dos meios de comunicação, da produção artística e da investigação científica e tecnológica é parte essencial desse projeto e também consta do Programa Nacional de Direitos Humanos, outra desastrosa proposta do governo petista. O texto-base da conferência poderia figurar num museu de teratologia política, como exemplo do alcance da estupidez humana. Antes de enviá-lo para lá, no entanto, será preciso evitar a sua conversão em roteiro oficial de uma política de comunicação, ciência e cultura.

A palavra cultura, naquele texto, é usada com tanta propriedade quanto o verbo "libertar" na frase famosa "o trabalho liberta", instalada sobre o portão de Auschwitz. "O monopólio dos meios de comunicação", segundo o documento, "representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos." É verdade, mas não existe esse monopólio no Brasil nem nas verdadeiras democracias. Um regime desse tipo existe em Cuba, como existiu noutras sociedades submetidas a regimes totalitários, sem espaço para a informação, a opinião e o confronto livre de ideias. Muitos dos companheiros do presidente Lula, entre eles alguns de seus ministros, nunca desistiram da implantação de algo semelhante no País. Segundo Lula, sua carreira política teria sido impossível sem a liberdade de imprensa, mas hoje essa liberdade é um empecilho a seus projetos de poder.

O documento defende "maior controle social" sobre a gestão de rádios e TVs públicas. Mas "controle social", em regimes sem liberdade de informação e de opinião, significa na prática o controle total exercido pelo pequeno grupo instalado no poder. Nenhum regime autoritário funcionou de outra forma. Também a palavra "social", nesse caso, tem um significado muito diferente de seu valor de face.

É preciso igualmente controlar a tecnologia: este princípio foi adotado desde o começo do governo Lula. Sua aplicação só não liquidou a Embrapa, um centro de tecnologia respeitado em todo o mundo, porque a maioria da comunidade científica reagiu. A imprensa teve papel essencial nessa defesa da melhor tradição de pesquisa. Isso a companheirada não perdoa. No caso do presidente Lula, o desagrado em relação à imprensa é reforçado por uma espécie de alergia: ele tem azia quando lê jornais.

Mas o objetivo não é apenas controlar a pesquisa. É também submetê-la a certos "modelos". "No Brasil, aprendemos pouco com as culturas indígenas; ao contrário, o País ainda está preso ao modelo colonial, extrativista, perdulário e sem compromisso com a preservação dos recursos naturais", segundo o documento.

Cultura extrativista, ao contrário do imaginado pelo companheiro-redator desse amontoado de bobagens, era, sim, a cultura indígena. O agronegócio brasileiro, modernizado, eficiente e competitivo, não tem nada de colonial, nem na sua organização predominante nem na sua tecnologia, em grande parte fornecida pela pesquisa nacional de mais alta qualidade. Ou talvez o autor daquela catadupa de besteiras considere colonial a produção de automóveis, tratores, equipamentos industriais e aviões. Não deixa de ter razão. Os índios não fabricavam nenhum desses produtos, mas indígenas das novas gerações não parecem desprezar essas tecnologias.

Segundo a secretária de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, Silvana Lumachi Meireles, nenhuma proposta contida no documento pode gerar polêmica. Todos os itens, argumentou, foram referendados em conferências regionais. Mas conferências desse tipo não têm o poder de transformar tolices em ideias inteligentes nem propostas autoritárias em projetos democráticos. O governo insistirá, a imprensa continuará resistindo. A oposição poderia ajudar a conter esse projeto insano, se deixasse o comodismo e mostrasse mais disposição para defender a democracia do que mostrou diante do ameaçador decreto dos direitos humanos.

1713) Falacias Academicas: 13, so far...

Comecei, no segundo semestre de 2008, uma série de trabalhos sobre as "falácias acadêmicas" mais comuns, ou seja, aqueles equívocos mais frequentemente presentes em trabalhos típicos de universitários e soi-disant intelectuais, no Brasil e em geral.
A lista é enorme, e eu suspeito que isso vai levar muito tempo para completar.
Como interrompi temporariamente a série, para terminar outros trabalhos, permito-me listar abaixo, em ordem inversa, as "falácias" já publicadas.

2047. “Falácias acadêmicas, 13: o mito do socialismo de mercado na China”, Brasília, 17 setembro 2009, 12 p.; revisão: Paris, 4 outubro 2009. Continuidade do exercício serial, com abordagem sintética da experiência chinesa em matéria de transição renovada ao capitalismo. Postado no site, link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2047Falacia13SocMercadoChina.pdf. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 101, outubro 2009; ISSN 1519-6186 (on-line); p. 41-50; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8295/4691). Relação de Publicados n. 926.

2040. “Falácias acadêmicas, 12: o mito da exploração capitalista”, Brasília, 26 agosto 2009, 11 p. Continuidade do exercício serial, contestando o caráter nocivo da exploração, tanto do homem pelo homem, quanto das sociedades pobres pelas ricas. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 100, setembro 2009, ISSN: 1519-6186; p. 142-150; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8068/4581). Revista Espaço da Sophia (ano 3, n. 30, setembro de 2009; link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/21-falacias-academicas-12-o-mito-da-exploracao-capitalista?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 916.

2029. “Falácias acadêmicas, 11: o mito da transição do capitalismo ao socialismo”, Brasília, 26 julho 2009, 20 p. Continuidade do exercício serial, com partes do trabalho 158. “A Transição do Socialismo ao Capitalismo” (Genebra, 27.03.1988. Estudo sobre o processo de transição do socialismo ao capitalismo, com base nas experiências chinesa e soviética, usado na redação de “Retorno ao Futuro”). Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 99, agosto 2009, p. 76-90; ISSN: 1519-6186; pdf: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/7792/4456). Revista Espaço da Sophia (ano 3, n. 29, agosto 2009, p. 1-20; ISSN: 1981-318X; link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/82-falacias-academicas-11-o-mito-da-transicao-do-capitalismo-ao-socialismo?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 916.

2019. “Falácias acadêmicas, 10: mitos sobre o sistema monetário internacional”, Brasília, 23 junho 2009, 9 p. Décimo artigo da série especial, sobre a fragilidade das recomendações pretensamente keynesianas a partir da crise econômica internacional. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 98, julho 2009, p. 15-21; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/7445/4364). Revista Espaço da Sophia (ano 3, n. 28, julho 2009; link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/93-falacias-academicas-10-mitos-sobre-o-sistema-monetario-internacional?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 905.

2009. “Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21”, Brasília, 24 maio 2009, 17 p. Nono artigo da série especial, desta vez sobre as loucuras econômicas de certos conselheiros do príncipe. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 97, junho 2009, p. 12-24; http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/7184/4136). Espaço da Sophia (ano 3, n. 27, junho 2009; link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/104-falacias-academicas-9-o-mito-do-socialismo-do-seculo-21?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 902.

2002. “Falácias acadêmicas, 8: os mitos da utopia marxista”, Brasília, 3 maio 2009, 15 p. Continuidade da série proposta, enfocando os principais equívocos do pensamento marxista nos campos do materialismo histórico e da análise econômica. Publicado na revista Espaço Acadêmico (ano 9, n. 96, maio 2009; link: http://www.espacoacademico.com.br/096/96esp_pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/096/96pra.pdf). Relação de Publicados n. 899.

1990. “Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964”, Brasília-Rio de Janeiro, 20 março 2009, 23 p. Continuidade do exercício, tocando no maniqueísmo construído em torno do golpe ou da revolução de 1964, condenando a historiografia simplista que converteu-se em referencia nos manuais didáticos e paradidáticos. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 95, abril 2009; link: http://www.espacoacademico.com.br/095/95pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/095/95pra.pdf). Dividido em quatro partes e publicado sucessivamente em Via Política: Os mitos em torno do movimento militar de 1964 (1): Uma historiografia enviesada (12.04.2009; link 1: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=93); (2) Mitos do Governo Goulart (19.04.2009; link 2: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=94); (3) Análise das alegadas ‘reformas de base’ (26.04.2009; link 3: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=95); (4) Balanço econômico do Governo Goulart (03.05.2009; link 4: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=96). Reproduzido na Revista Acadêmica Espaço da Sophia (ano 3, n. 26, maio 2009; link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/115-falacias-academicas-7-os-mitos-em-torno-do-movimento-militar-de-1964?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 898.

1986. “Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana”. Brasília, 1 de março de 2009, 17 p. Continuidade do exercício, tocando nos problemas do socialismo em Cuba. Publicado em Espaço Acadêmico (ano 8, n. 94, março 2009; link: http://www.espacoacademico.com.br/094/94esp_pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/094/94esp_pra.pdf). Reproduzido, sob o titulo de “Os Mitos da Revolução Cubana”, na revista Acadêmica Espaço da Sophia (Tomazina, PR; ISSN: 1981-318X, Ano 3, n. 25, p. 1-17, março de 2009 (edição eletrônica); link: http://www.espacodasophia.com.br/publicacoes/doc_view/125-os-mitos-da-revolucao-cubana?tmpl=component&format=raw). Relação de Publicados n. 894.

1976. “Falácias acadêmicas, 5: O mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres”, Brasília, 20 janeiro 2009, 11 p. Continuação da série, tratando desta vez das teses do economista Ha-Joon Chang. Publicado em Espaço Acadêmico (ano 8, n. 93, fevereiro 2009; link: http://www.espacoacademico.com.br/093/93pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/093/93pra.pdf). Reproduzido, sob o título de “Sobre o complô dos ricos contra os pobres”, no site Dom Total (16.04.2009; link: http://www.domtotal.com/colunistas/detalhes.php?artId=598). Relação de Publicados n. 891.

1952. “Falácias acadêmicas, 4: o mito do Estado corretor dos desequilíbrios de Mercado”, Brasília, 15 novembro 2008, 12 p. Da série programada, com críticas a economistas keynesianos. Espaço Acadêmico (ano VIII, nr. 91, dezembro 2008, link: http://www.espacoacademico.com.br/091/91pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/091/91pra.pdf).

1931. “Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico”, Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos. Espaço Acadêmico (ano VIII, nr. 89. outubro 2008, link: http://www.espacoacademico.com.br/089/89pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/089/89pra.pdf). Relação de Publicados nº .

1922. “Falácias acadêmicas, 2: o mito do Consenso de Washington”, Brasília, 3 setembro 2008, 16 p. Considerações em torno dos equívocos conceituais, históricos e empíricos de setores acadêmicos com respeito ao CW. Espaço Acadêmico (n. 88, setembro 2008, link: http://www.espacoacademico.com.br/088/88pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/088/88pra.pdf). Republicado no blog Ordem Livre (24.03.2009; link: http://www.ordemlivre.org/?q=node/528). Relação de Publicados nº 857.

1912. “Falácias acadêmicas, 1: o mito do neoliberalismo”, Brasília, 26 julho 2008, 9 p. Considerações em torno de equívocos conceituais, históricos e empíricos de acadêmico selecionado para avaliação crítica. Espaço Acadêmico (n. 87, agosto 2008, link: http://www.espacoacademico.com.br/087/87pra.htm; arquivo em pdf: http://www.espacoacademico.com.br/_bd.pdf/87pra.pdf). Reproduzido em março de 2009 no site Ordem Livre (http://www.ordemlivre.org/?q=node/512), que passa a ter seção com meus artigos (http://www.ordemlivre.org/taxonomy/term/203).

1930. “Falácias acadêmicas: a série”, Buenos Aires, 29 setembro 2008, 1 p. Lista de 20 mitos a serem desenvolvidos como falácias ao longo das próximas semanas, dois dos quais já desenvolvidos, sob os números 1912 (neoliberalismo) e 1922 (Consenso de Washington). Em curso de desenvolvimento.

1712) Livro Maquiavel revisitado - lancamento virtual


A Editora Freitas Bastos e Paulo Roberto de Almeida convidam para o lançamento virtual do livro (editado em forma eletrônica):

O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado)
(Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8); R$ 12,00;

disponível online neste link.

O lançamento, virtual, sob a forma de chat com o autor, será feito no próximo sábado, 23 de janeiro, das 17 as 18hs,
no site do Editora: www.freitasbastosebooks.com.br

Mais informacoes sobre o livro neste link.

1711) Assim caminha o Mercosul...

...ou não...

MAIS DO MESMO
Rubens Antonio Barbosa
O Estado de São Paulo, 12.01.2010

Em seu “Breviário dos Políticos”, o Cardeal Mazarin ensina que, em uma comunidade de interesses, o perigo começa quando um dos membros se torna muito poderoso. É o que está acontecendo com o Mercosul.
A Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursando na reunião do Conselho de Presidentes, disse “é chegado o momento de discutir os desequilíbrios do Mercosul, simplesmente analisando os números de suas economias”. Pensando no Mercosul e no Brasil, mas referindo-se à União Européia, disse que “o grande peso da integração foi carregado pela Alemanha, não por que os alemães eram mais europeus do que os outros, mas por que o tamanho da sua economia e o peso do seu capital permitiram que as demais nações tivessem a possibilidade de incorporar infra-estrutura e desenvolver um potente comércio intra-zonal”.
A diplomacia da generosidade e a paciência estratégica não são suficientes. O Brasil está se tornando tão forte que, na visão argentina, tem a obrigação de carregar os parceiros mercosulinos, inclusive a Venezuela.
Sob uma perspectiva histórica, a 38ª. Reunião do Conselho do Mercosul, realizada em Montevidéu, no inicio de dezembro, poderá ser vista como o momento em que o Brasil passou a admitir a irrelevância do grupo sub-regional para seus interesses econômicos e comerciais, ao contrário do discurso oficial muito positivo do atual governo.
Repetindo a retórica vazia que tem caracterizado os pronunciamentos dos lideres políticos sobre o Mercosul, os presidentes (incluindo Hugo Chaves), em longa Declaração Conjunta, reafirmaram seus compromissos com os princípios do Tratado de Assunção, entendendo que o fortalecimento do Mercosul é o caminho para uma inserção internacional mais sólida e uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento das sociedades de seus países.
Na realidade, os resultados da reunião foram decepcionantes e apontam em outra direção. O governo brasileiro se encarregou de esvaziar a reunião com a ausência dos seus principais representantes. O Presidente Lula fez um pit stop de dez horas em Montevideu, pronunciou um discurso de dez minutos, não participou do almoco de despedida do Presidente Tabare Vasques do Uruguai e voltou correndo a Brasilia. Em ostensiva coordenação, os Ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Henrique Meirelles, Presidente do Banco Central, não compareceram. O Ministro Celso Amorim tampouco se deu ao trabalho de viajar ao Uruguai, onde se fez representar pelo Secretário Geral do Itamaraty, Embaixador Antonio Patriota.
Os Presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Paraguai, Fernando Lugo, aproveitaram para cobrar do Brasil uma ação mais forte para a redução das assimetrias de modo a promover o crescimento dos parceiros. O Presidente da Venezuela utilizou, mais uma vez, o Mercosul como uma plataforma politica para criticar os EUA (“vão declarar guerra a toda a América do Sul”) e à Colômbia. O Secretário Geral do Itamaraty, jejuno nos assuntos do Mercosul, em mais um exemplo da distância entre a retórica oficial e a realidade, afirmou que o bloco terá um período mais promissor, dadas as boas perspectivas de crescimento do Brasil até 2014. O incremento do comércio regional, a partir de julho de 2009, reforçaria essas previsões otimistas. Em sua avaliação, esse novo cenário criaria uma janela de oportunidade para uma mais uma reflexão construtiva sobre o futuro do Mercosul e sobre as alterações institucionais que devem ser realizadas para enfrentar as novas circunstâncias do cenário internacional; o ambiente positivo favoreceria a integração produtiva e adequação das questões da dupla tributação da TEC e à necessidade de que o bloco "olhe para fora". Para tanto, exortou os países a examinarem suas posições na Rodada de Doha e a trabalharem conjuntamente em negociações com terceiros, especialmente na retomada das negociações com a UE por meio de uma necessária abordagem política. Adicionalmente, Patriota observou que o Parlamento do Mercosul será fortalecido com a contribuição do Brasil, que flexibilizou - isto é, cedeu mais uma vez - a posição no tema da proporcionalidade das representações nacionais. Finalmente, advogou a aprovação de concessões tarifárias ao Haiti em alguns produtos têxteis para apoio a sua estabilização econômica e política, proposta vetada pelo Paraguai.
As únicas medidas efetivas tomadas são protecionistas e contrárias ao livre comércio:
- adiamento da eliminação da lista de exceção da TEC, prevista para desaparecer em 2010 e que agora, por pressão argentina e aceitação resignada do Brasil, deverá ocorrer somente em 31/12/2011. Na realidade, já se pode imaginar que, quando chegar essa data, acabaremos aceitando nova postergação.
- aumento de tarifas, a pedido do Brasil, para fios e filamentos têxteis de 14 para 18%, e para 11 produtos lácteos (leite em pó e tipos de queijo) de 11 para 28%. A pedido da Argentina, para mochilas, malas e bolsas de 16 para 35%.
A Argentina propos a ampliação do uso da moeda local nas transações comerciais intra-regionais e a Venezuela saudou a constituição do Banco do Sul, medidas que encontram grandes dificuldades técnicas e politicas para serem implementadas.
Foi aprovado o aumento do orçamento do Fundo de Conversão Estrutural (FOCEM) para 2010 com maior contribuição do Brasil, apesar das dificuldades criadas pela Argentina para a aprovação do projeto da construção de linha de transmissão entre o Brasil e o Uruguai, em virtude da disputa sobre a construção da fábrica de celulose no Uruguai.
Para culminar essa comédia de equívocos, o Presidente Lula anunciou publicamente que o Senado brasileiro iria aprovar a adesão da Venezuela ao Mercosul naquele dia, o que só veio a ocorrer duas semanas mais tarde.

Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

1710) Os Brics (na pratica...)

Governo deve elevar hoje sobretaxa para calçados da China
Paula Nunes
Folha de S. Paulo, 19.01.2010

Medida tende a elevar preços; Abicalçados diz que tributação estancou prejuízos e freou demissões

Está marcada para hoje a audiência final que irá decidir se a sobretaxação provisória de US$ 12,47 para cada par de sapatos fabricado na China será mantida. Ela foi definida em setembro do ano passado e, de acordo com análise técnica de mais de 40 mil páginas produzida pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio exterior), o valor da sobretaxação tende a subir para US$ 18,44.
Milton Cardoso, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados), entidade que iniciou a ação, afirma que a tributação estancou as perdas do setor e brecou as demissões. Não detectamos nenhum efeito negativo com a medida.
Ivan Ramalho, ministro interino do MDIC, diz que o governo tem trabalhado para reduzir o prazo das investigações antidumping. Ramalho diz confiar que a taxação será mantida e que isso será uma vitória do setor calçadista no Brasil.
A sobretaxação é aplicada pela Camex (Câmara de comércio exterior) quando se verifica a prática de comércio desleal em determinado setor, como preços no mercado internacional menores que os praticados nos países fabricantes.

Consumo
O consumidor vai sentir no bolso a mudança. Tênis de alta performance, todos fabricados na China, tendem a encarecer ainda mais se a taxa for repassada ao cliente final. Já os sapatos nacionais também ficarão, em média, 3% mais caros a partir da próxima estação.

1709) Os Brics (na teoria...)

Brics estão longe da liderança, diz FT
Daniela Milanese
O Estado de S. Paulo, 19.01.2010

Jornal britânico vê diferença de interesses entre os países do grupo

Coloque uma onça, um urso, um tigre e um panda juntos e você poderá ter um bom espetáculo, mas não terá uma vida sossegada. Essa é a definição do Financial Times para a situação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), na série especial preparada pelo jornal britânico sobre o grupo dos principais emergentes do mundo.

Na avaliação do FT, apesar do avanço econômico dos últimos anos, esses países ainda não estão prontos para liderar uma mudança do centro de poder global, principalmente em razão das fortes diferenças existentes entre eles. Uma década de crescimento rápido não é suficiente para os Brics pegarem o bastão da liderança econômica global dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, diz o FT. O grupo pode ter surpreendido o mundo com o seu progresso nos últimos dez anos, mas será preciso uma melhora qualitativa, assim como mais crescimento, para consolidar a mudança de poder, avalia a publicação.

Conforme o Goldman Sachs, que inventou o acrônimo, a China deve se tornar a maior economia mundial antes de 2030. Atualmente, o grupo já tem a maior fatia do comércio. O movimento é reconhecido pelos investidores: as ações dos Brics encerraram a década valendo mais que o dobro de 2005, diz o jornal. Há uma década, apenas um deles tinha grau de investimento, hoje todos têm. Há 12 anos, o calote da Rússia e a crise cambial brasileira balançavam o mundo, agora esses países acumulam vastas reservas.

O desempenho levanta questionamentos sobre uma mudança do centro de gravidade da economia e governança globais. É este o centro de rotação como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, quando os confiantes e inovadores Estados Unidos colocaram de lado as fracas e endividadas economias da Europa e refizeram a arquitetura financeira global?, questiona o FT. A resposta mais provável é: ainda não. Para o jornal, o grupo é tão desigual que qualquer generalização é problemática. Assim como uma boy band, os países podem ter sido escolhidos mais por suas diferenças do que similaridades, compara o FT.

A China, membro dominante do grupo, ainda está baseada em um modelo econômico dependente da demanda externa. A Índia é conhecida pelo setor de software e serviços para negócios. O Brasil, apesar de alguns fabricantes bem-sucedidos, permanece como um dos exportadores de produtos agrícolas mais eficientes. E a Rússia, após algumas tentativas de diversificação, continua essencialmente vendendo apenas petróleo e gás.

A falta de interesses comuns também impede uma política conjunta, apesar das reuniões dos Brics a partir de 2008, na tentativa de fechar posição sobre questões econômicas. Temas como política cambial, modelo econômico e comércio mostram divergências. Um exemplo é o câmbio desvalorizado na China, que contraria os interesses do Brasil. (Os Brics) devem reconhecer que, conforme ficam mais ricos e mais poderosos, se amontoar na bandeira de solidariedade de países em desenvolvimento não ajudará nem a eles nem à economia mundial, afirma o editorial do FT, que também trata do tema.

1708) Desarmamento nuclear (para quem acredita...)

O desarmamento nuclear
José Goldemberg
Opinião O Estado de São Paulo, Segunda-Feira, 18 de Janeiro de 2010

Em 6 de agosto de 1945 um único avião lançou sobre Hiroshima, no Japão, uma bomba atômica que provocou a destruição que mil aviões de bombardeio com 50 toneladas de explosivos (e bombas incendiárias) causariam, matando cerca de 140 mil pessoas (civis, e não combatentes). Três dias depois outra bomba arrasou Nagasaki.

Os Estados Unidos, na época, acreditavam que conseguiriam manter o monopólio da posse de armas atômicas por muitos anos, o que não ocorreu. Apenas três anos depois, em 1948, a União Soviética produziu bombas com poder explosivo maior do que a bomba de Hiroshima, o que foi também conseguido logo após pela Inglaterra, pela França e, depois, pela China.

A corrida armamentista nuclear que se seguiu foi baseada na teoria da "destruição mútua", em que cada uma das potências nucleares (principalmente Estados Unidos e União Soviética) garantia sua segurança ameaçando seus adversários de destruição, caso fosse atacada com essas armas. Segundo alguns analistas, foi essa política de "deterrência" que impediu que a guerra fria se transformasse numa guerra nuclear, que provavelmente destruiria a civilização moderna como a conhecemos. Só para dar uma ideia de quão real seria essa possibilidade, mais de mil testes nucleares foram feitos antes que fossem proibidos por tratado internacional, uma vez que estavam "envenenando" a atmosfera com substâncias radioativas.

O horror causado pela destruição de Hiroshima e Nagasaki, no entretanto, deu início a um amplo movimento para a eliminação das armas nucleares. Antes disso, os próprios cientistas que as construíram haviam proposto ao governo dos Estados Unidos que não fossem utilizadas. Essas propostas não só foram ignoradas, mas ridicularizadas como provenientes de pacifistas ingênuos que não entendiam a realidade dos confrontos internacionais.

Decorrido mais de meio século, eis que surge nos Estados Unidos uma nova proposta de eliminação das armas nucleares, desta vez feita não por pacifistas, mas por experimentados "guerreiros" da guerra fria, como Henry Kissinger, ex-secretário de Estado, e William Perry, ex-secretário de Defesa, além de outros.

O que Kissinger e outros estão propondo agora é o que o Brasil e a Argentina fizeram em 1992, e que é frequentemente citado como um bom exemplo de como resolver o problema da competição nuclear: os dois países abandonaram programas de desenvolver armas nucleares porque decidiram que poderiam garantir melhor sua segurança com vizinhos que não possuíssem essas armas.

A motivação da proposta de Kissinger, considerado um "realista", é a seguinte: do ponto de vista técnico, é impossível impedir a proliferação das armas nucleares e eventualmente elas cairão nas mãos de países com governos problemáticos e até de terroristas, que não hesitarão em usá-las. Durante a guerra fria, os grandes adversários, Estados Unidos e União Soviética, possuíam estoques de mais de 50 mil bombas nucleares, muito mais poderosas do que a que destruiu Hiroshima, mas o papel delas era convencer o adversário de que não deveria usá-las, ou seja, elas eram, na realidade, "armas de dissuasão", que, efetivamente, nunca foram usadas. A "dissuasão", contudo, não se aplica a grupos terroristas, que não têm nada a perder, uma vez que não representam nações, cujos governantes hesitariam em usar armas nucleares sabendo que suas cidades seriam arrasadas em retaliação.

As grandes potências ? Estados Unidos, União Soviética (hoje Rússia), Inglaterra, França e China ? tentaram em 1968 evitar a proliferação nuclear a outros países, por meio do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Uma das premissas básicas desse tratado era a de que os "países não-nucleares" (na época) não desenvolveriam armas nucleares em troca do direito de desenvolverem energia nuclear para fins pacíficos, para o que poderiam contar com a ajuda tecnológica dos países nucleares (artigo IV).

Os que desenvolvessem armas não teriam essa ajuda e a Agência Internacional de Energia Atômica foi encarregada da fiscalização, para que isso não ocorresse. O recente acordo dos Estados Unidos com a Índia, promovido pelo governo Bush, desmoralizou essa premissa. A Índia desenvolveu armas nucleares e está recebendo ampla ajuda nessa área. É evidente que os outros países, como o Paquistão, estão reivindicando igual tratamento e até o Irã tem utilizado o artigo IV do TNP para justificar seus esforços para desenvolver um projeto de enriquecimento de urânio em grande escala. Como compensação, os "países não-nucleares" signatários do TNP receberam ? ao abrirem mão do desenvolvimento de armas nucleares ? a promessa de que os países que possuíam tais armas iniciariam "logo" negociações "em boa-fé" para cessar a corrida atômica e promover o desarmamento nuclear (artigo VI). Essa promessa nunca foi cumprida.

Esperar, portanto, que o TNP impeça completamente a proliferação de armas nucleares a outras nações não é uma opção muito realista. Uma solução mais pragmática seria eliminar as armas nucleares, proibir seu uso e reduzir, assim, os estímulos para obtê-las. Essa, em poucas palavras, é a proposta de Kissinger e seus colegas.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua campanha eleitoral prometeu eliminar armas nucleares a "médio prazo", bem como reduzir a "curto prazo" ? conjuntamente com a Rússia ? os amplos estoques de armas nucleares, que são hoje mais de 5 mil em cada um desses países.

A nova política nuclear dos Estados Unidos deverá ser anunciada brevemente e veremos então se o "novo realismo nuclear" é de fato para valer ou uma figura retórica.

José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo

1707) Por que o mundo é como é (e como ele poderia ser melhor...)

Volta ao mundo em 25 ensaios: 1. Por que o mundo é como é (e como ele poderia ser melhor...)
Paulo Roberto de Almeida
Ordem Livre, 18.01.2010

Imaginemos um viajante estratosférico, vindo para a Terra em sua espaçonave, procurando compreender o que vê, em aproximações sucessivas. Primeiro visualizaria aquele planeta azul de que falam os astronautas, depois veria enormes manchas cinzas ou verdes, segundo os oceanos focalizados, manchas interrompidas aqui e ali por grandes ou pequenas massas de cores distintas, correspondendo às regiões dos cinco ou seis continentes entrevistos do espaço: verde para as densas florestas tropicais, o amarelo ou ocre dos espaços desérticos, as tonalidades mais claras das regiões temperadas e o branco dos pólos. Depois, teria a grande variedade de cores exibida pelas implantações agrícolas e construções urbanas das distintas sociedades humanas.

Chegando mais perto, ele veria que algumas dessas explorações rurais exibem um quadriculado perfeito, correspondendo ao que chamamos de agronegócio, enquanto outras estão dispersas em vastas zonas de ocupações irregulares, com muita destruição dos recursos naturais em volta e alguma degradação ambiental: são as unidades de exploração familiar, de subsistência e de baixa produtividade, geralmente nas regiões tropicais. Quanto às zonas urbanas, nosso viajante extraterrestre teria todos os tipos de paisagens: enormes cidades modernas, repletas de grandes edifícios modernos, cortadas por vias expressas; pequenas cidades do interior, de arquitetura mais tradicional; e uma variedade de grandes ou pequenas cidades com todos os tipos de habitações: condomínios de luxo, mansões espetaculares, mas também favelas urbanas e ajuntamentos periféricos, revelando a imensa desigualdade da condição humana nas sociedades que se distribuem por todas essas regiões e continentes.

Planando, agora, a baixa altura sobre essas cidades, nosso visitante exterior teria todas as combinações possíveis à sua disposição: pessoas de alta renda se deslocando em carros de luxo ou em helicópteros pessoais, cidadãos de classe média fazendo compras em shoppings multicoloridos pelos neons atrativos, trabalhadores especializados concentrados em fábricas ou escritórios, empregados informais em situação de exploração abjeta em negócios não registrados, capitalistas do campo aqui, agricultores miseráveis e trabalhadores volantes ali, em regiões de agricultura primitiva e de baixa produtividade. Nas ruas e semáforos, ele se depararia com carros fechados, passantes apressados, vendedores de ocasião e uma quantidade variável de pedintes andrajosos, dependendo do país ou região que estivesse sobrevoando. Nas zonas tropicais os contrastes seriam certamente mais fortes do que nas temperadas, embora as migrações humanas, legais e clandestinas, venham colorindo todo o planeta de todas as gradações possíveis no imenso leque de riquezas e misérias humanas.
(...)

Leiam o texto completo neste link.

Relação de originais n. 2071 e relação de publicados n. 947.
Outros textos do autor no Ordem Livre, neste link.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

1706) Haiti e ajuda humanitaria (4)

O Haiti não precisa de circo
Coluna do Augusto Nunes
16 de janeiro de 2010

Assim que o perigo passou, Nelson Jobim apareceu na zona conflagrada pronto para o que desse e viesse. Em caso de tsunami, baixaria numa praia do Haiti com a farda de almirante que ganhou na Rússia. Em caso de invasão espacial, sobrevoaria o Caribe com o traje de gala de brigadeiro francês. Como se tratava de um caso de terremoto, o ministro da Defesa incorporou o general Jobim e irrompeu em Porto Príncipe enfiado num uniforme de campanha.

A missão foi cumprida em três dias. No primeiro, o destemido forasteiro recomendou aos sobreviventes que hospitalizassem os feridos e enterrassem os mortos. No segundo, determinou aos militares brasileiros em ação na cidade sem água nem mantimentos que dessem de beber a quem tem sede e de comer a quem tem fome. No terceiro, descobriu que o governo brasileiro sofrera uma perda muito mais dolorosa que as provocadas pelo terremoto.

Jobim manteve a placidez de quem prepara um chimarrão no fim da tarde ao comentar a morte em combate da doce guerreira Zilda Arns, do diplomata Luiz Carlos da Costa e dos 14 jovens heróis engajados na força de paz da ONU. Isso acontece, sugeriu o sorriso de aeromoça. O que lhe pareceu insuportável foi a perda do controle do aeroporto da capital. “Não podemos admitir o comando unilateral dos Estados Unidos”, avisou ao saber que militares americanos, ao toparem com o aeroporto em colapso e sem comando efetivo, haviam assumido as rédeas e normalizado o tráfego dos aviões sem pedirem licença ao Brasil.

Irritado com a insolência, Jobim perdeu a paciência de vez com a notícia de que cargueiros da FAB haviam sido impedidos de pousar na capital haitiana por controladores de voo ianques, que lhes recomendaram aterrissar em pistas menos inseguras. “Tudo isso pode ser visto como algo natural” concedeu o chanceler Celso Amorim, “mas é importante ter a clareza de que nós estamos sendo tratados com a prioridade adequada”. Agora nas montanhas de escombros, o Itamaraty continua a procurar o atalho que leva à vaga no Conselho de Segurança da ONU.

O espetáculo do oportunismo rastaquera foi engrossado na sexta-feira pela embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luísa Viotti. “Estou em busca de informações sobre o caráter da presença das tropas americanas em Porto Príncipe”, revelou a diplomata, fustigada pela suspeita de sempre: depois de ter arrendado a Colômbia, o império de Barack Obama talvez tente a anexação do Haiti. Aliviou-se com a descoberta de que a missão é humanitária, mas ainda não sossegou. No momento, quer saber da Casa Branca se existe o risco de “interferências na missão de paz comandada por militares brasileiros”.

Segundo a ONU, uma nação miserável foi devastada pela maior tragédia ocorrida desde a fundação da entidade há 60 anos. Mergulhado no pesadelo incomparável, desprovido de tudo, o Haiti precisa de muito pão, mas no momento não precisa de circo. A trupe do governo está liberada para envergonhar o Brasil em outras paragens.

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Nossa embaixatriz: notas sobre a atuação diplomática
Blog: Pesquisadores da Unicamp no Haiti
16 de Janeiro de 2010

Após conversar com nossos colegas do Viva Rio, diante da chegada de novos quadros desta organização em Porto Príncipe e em função de uma situação volátil, que muda a cada instante do que diz respeito ao acesso à água e comida, optamos por pedir abrigo à embaixada do Brasil. Diga-se de passagem, há dias amigos e parentes do Brasil insistem em que deveríamos recorrer à embaixada. Afinal, somos um grupo de brasileiros que viu seu trabalho no Haiti interrompido pela violência do terremoto, e estamos na expectativa do que fazer: ficamos e ajudamos? Podemos ajudar? Ou devemos partir para o Brasil em meio uma situação incerta e que se agrava todos os dias? E se decidimos partir, como partir? Seguindo a orientação de nossos colegas do Viva Rio, nos preparamos para seguir para a embaixada hoje pela manhã. Acordamos às 6 da manhã, após mais uma noite dormindo no jardim, e nos preparamos para esperar o veículo que viria nos buscar.

Ela irrompeu o portão do Viva Rio por volta das 8:30 da manhã e pediu que nos chamassem. Trazia um vestido curto algo entre o roxo e o verde, quase um furta cor, apresentava uma expressão rígida e abatida. Na certa estava tocada pelos últimos eventos. Os cabelos devidamente penteados pra trás, uma maquiagem excessiva e um colar de ouro ostensivo. Enquanto permanecíamos na sombra, ela se manteve no sol. Aos poucos, enquanto sua proeminente testa e suas bochechas se enchiam de suor, ela discorreu sobre grandes temas, aliando ciência, religião e política de maneira única. Em poucos minutos, a embaixatriz do Brasil no Haiti explicou por que um rabino, as placas tectônicas, seu marido, os mortos e o Brasil eram interdependentes.

Ela não nos perguntou nada. Não sabia quem éramos, ou o que fazíamos aqui. Quando soube que de um grupo da Unicamp se tratava, não titubeou: “A EMBAIXADA NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A UNICAMP. O EMBAIXADOR PROIBIU QUE FOSSEM HOSPEDADOS EM NOSSAS DEPENDÊNCIAS. ELE É O EMBAIXADOR, ELE MANDA; SE HOSPEDAMOS VOCÊS TEMOS QUE HOSPEDAR TODOS”.

E seguiu, com pérolas: “A EMBAIXADA NÃO VAI EVACUAR NINGUÉM PORQUE EU NÃO VOU SAIR DAQUI. VOCÊS DEVEM VOLTAR PARA O BRASIL COMO VIERAM. VOCÊS SABEM ONDE FICA O AEROPORTO, COMPREM PASSAGEM; VOCÊS SABEM ONDE FICA A RODOVIÁRIA, DE LÁ SAEM ÔNIBUS PARA A REPÚBLICA DOMINICANA”. E prosseguiu com a máxima: “NÃO TEMOS NENHUMA RESPONSABILIDADE SOBRE VOCÊS. VOCÊS ESTAVAM NO LUGAR ERRADO NA HORA ERRADA, SINTO MUITO”.

Poderíamos reproduzir detalhes de suas observações sobre a situação atual do Haiti ou sobre a política haitiana. Não o fazemos porque, com franqueza, sentimos vergonha alheia. Seu auto-centramento e sua falta de sensibilidade quanto aos impasses vividos pelos haitianos não fizeram nada além de nos constranger: ela pode ocupar a posição que ocupa?

Nos restringiremos àqueles elementos que nos afetam diretamente: pode uma embaixatriz simplesmente dizer “VOCÊS ESTÃO PROIBIDOS DE SE HOSPEDAR NA EMBAIXADA”? Ela não nos perguntou nada, não sabe da nossa situação, nada. Suponhamos que tivéssemos passagens de avião saindo de Porto Príncipe. Como chegar ao aeroporto? Não há transporte, não há combustível. Porto Príncipe é uma cidade grande e destruída. A “rodoviária”, na verdade, não existe, é a garagem da Caribe Tours, de onde saem os ônibus diários para Santo Domingo, e fica em Pétionville. Como chegar a Pétionville? Há lugares no ônibus? Os telefones estão colapsados. Pode o Brasil ter como representante neste país alguém que manifesta tamanho descaso por seus concidadãos abdicando das obrigações mínimas de uma embaixada em qualquer lugar do mundo? O que o Haiti pode esperar de embaixador e embaixatriz que atuam desta maneira? O que aconteceu conosco não tem a menor importância. Só é revelador do lugar que o Haiti parece realmente ocupar no universo de nossas relações internacionais.

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Devido ao fato de termos postado este texto hoje pela manha alguns minutos antes de viajarmos, pois nao tivemos acesso a internet ontem (dia 15/01), esquecemos de colocar nossas assinaturas. Assinam este texto:

Omar Ribeiro Thomaz, Otavio Calegari Jorge, Diego Bertazzoli, Werner Garbers, Joanna da Hora, Cris Bierrembach, Daniel Santos, Rodrigo C. Bulamah, Marcos Rosa

domingo, 17 de janeiro de 2010

1705) Haiti e ajuda humanitaria (3)

Rottweiler sem dentes
Clovis Rossi
Folha de S.Paulo, 17.01.2010

O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n’alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.
Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de “assistencialismo unilateral”.
Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione.
No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: “Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos”.
É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio.
Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.
Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.
O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.

Comentário:
CELSO AMORIM É SÓ UM HOMEM RIDÍCULO
Reinaldo Azevedo, 17/01/2010

Não é meu, não. É de Clóvis Rossi, da Folha. Quando se trata de avaliação política, não me lembro de ter concordado com Rossi antes. E ele e seus admiradores podem ficar tranqüilos: não pretendo macular a sua reputação junto a certo leitorado — e, eventualmente, eleitorado — elogiando-o. Em benefício de Rossi, farei de tudo para que isso não aconteça. E sei que alguns se esquecerão de ligar a tecla SAP para ler o texto.

Ocorre que há circunstâncias em que as pessoas que têm compromisso com os fatos — independentemente do lugar que ocupem no espectro ideológico ou das opiniões que tenham sobre isso ou aquilo — são obrigadas a constatar… os fatos!!!

A canalha esquerdopata se fingiu de chocada quando escrevi o texto “Haiti: palco e atoleiro”, em que acusei, de pronto, o assanhamento protagonista de Lula. Escrevi depois um outro texto afirmando que não será a tragédia a me impedir de pensar. Alguns pessoas até de boa fé e muitos bocós vieram me dar conselhos: “Pô, numa hora como essa, você diz essas coisas; os haitianos estão precisando…” Como se eu estivesse contra o auxílio àqueles pobres coitados, vítimas dos homens, vítimas da natureza…

Não! Eu sou favorável à ajuda, é evidente. Eu só percebi a mobilização assanhada para tentar desempenhar o papel de um grande líder — e nada posso fazer, a não ser relatar a vocês o que vejo, se fui mais rápido do que os outros; admito que tem acontecido com freqüência. Acontece que a tragédia era imensamente maior do que a jactância de Lula e Celso Amorim. Pedia a intervenção de alguém acostumado a se comportar como sede do Império (alguns acham ruim; eu, como sou imperialista, acho bom). Em questão de horas, os EUA tinham conseguido mobilizar recursos para nós inimagináveis porque intangíveis — não, melhor usar uma palavra mais forte: INEXISTENTES.

E Celso Amorim fez o quê? Começou a rosnar. Ficou à beira de gritar: “Abaixo o imperialismo” quando os EUA resolveram botar ordem no caos do espaço aéreo, uma precondição para se tentar fazer alguma coisa no espaço terrestre, onde o inferno persiste. E passou a bater os pezinhos de anão enciumado (refiro-me à sua estatura interna, não à externa, como sempre). A inenarrável tragédia haitiana abria uma janela de oportunidades para o nosso… protagonismo!!! Ou melhor: “deles”. Abro uma janela para falar nos soldados brasileiros e retorno ao ponto.

Os soldados brasileiros
Não! Isso nada tem a ver com o duro trabalho, certamente heróico, dos nossos soldados naquele país. Muitos perderam a vida. Mesmo antes do terremoto, faziam um trabalho meritório, embora lutassem, NÃO POR VONTADE DAS FORÇAS ARMADAS, a guerra errada. Já estavam lá por causa desse complexo de rottweiler desdentado, enviados pelo governo Lula. Nelson Jobim diz agora que o Brasil deve ficar mais cinco anos por lá… Ele está chutando. Se não sabia, no caos relativo, quanto tempo permaneceríamos nos comportando como polícia em Cité Soleil, como vai saber agora, no caos absoluto? Ele fala o que lhe dá na telha.

A ONU, para não variar, largou o Haiti ao Deus-dará. E o Brasil ficou pendurado na brocha. Nos quase seis anos de intervenção, quase nada havia mudado por lá. O país continuava praticamente sem instituições. As tropas da ONU, lideradas pelos soldados brasileiros, já se viam obrigadas a intervir, militarmente mesmo, em confrontos armados entre gangues. Antes desse terremoto, houve outros, só que políticos. A pá de cal no país foi jogada por um ex-padre esquerdista, doidivanas e, tudo indica, ladrão também chamado Jean-Bertrand Aristide, que governou o país, pela última vez, entre 2001 e 2004. A grande idéia deste cretino para evitar a instabilidade militar foi extinguir as Forças Armadas… Sabem o que isso significava e significa? Que as forças da ONU haviam assumido esse papel. Cinco anos? Jobim não tem noção do que está falando. Agora, Aristide diz estar pronto para deixar seu conforto na África do Sul, onde está exilado, e voltar ao país. Será que sobrou alguma cadeia na parte do país não atingida pelo terremoto?

Retorno ao ponto
A crítica política — assim como a econômica, a gastronômica ou outra qualquer — não deve ser insensível aos dramas humanos. Ao contrário: a rigor, eles são a razão essencial que nos leva a escrever sobre qualquer assunto: de um tratado de engenharia a um tratado moral. Em tese ao menos, estamos todos empenhados em melhorar a vida do homem.

E uma das formas que a crônica e a análise política têm de demonstrar a sua sensibilidade é acusar a manipulação, a marquetagem, a patifaria. O mundo viu o senhor Celso Amorim tentando medir forças com o governo dos EUA para ver quem iria liderar a ajuda ao Haiti. O gigante não entendeu, até agora, o que é integrar forças da ONU. Por qualquer razão, ele passou a se comportar como uma espécie de governo de fato do Haiti, cobrando que os EUA lhe dessem satisfações sobre os seus atos. É um despautério.

O Haiti pede todos os esforços que estiverem ao nosso alcance. Mas nem aquela tragédia terá feito o número de mortos que um terremoto humano no Sudão chamado Omar Hassan al-Bashir já fez. Este é o nome do ditador daquele país: responde por, ATENÇÃO!!!, 300 MIL MORTOS. E o Brasil de Celso Amorim, não o nosso, nega-se sistematicamente a votar contra o déspota na ONU. Ao contrário: já atuou para protegê-lo. Por quê? Porque quer o apoio dos países islâmicos, especialmente árabes, para ser membro permanente do Conselho de Segurança. Entenderam?

Em nome do protagonismo, o governo Lula tanto pode ignorar os 300 mil mortos de Darfur como pode reivindicar uma espécie de mando sobre os estimados 100 mil mortos do Haiti. Montanhas de cadáveres não são fronteira para as ambições de Lula e Celso Amorim.

E eu continuarei a chamar as coisas pelo nome que as coisas têm. Ainda que isso aborreça muita gente. É o compromisso que tenho firmado com os meus leitores.

1704) Haiti e ajuda humanitaria (2)

Amorim nunca me deixa errar. Nunca!
Reinaldo Azevedo, 16/01/2010
(a propósito do post anterior, 1703)

É, meus caros, Tio Rei não é, assim, um Matusalém, mas já viveu o bastante para antecipar alguns lances do jogo. Escrevi ontem o post “Haiti, palco e atoleiro”, em que acusei a lentidão do governo brasileiro no atendimento às vítimas das enchentes em contraste com a prontidão em tentar assumir a liderança na ajuda ao Haiti. E, obviamente, deixei claro que o erro não estava em prestar socorro aos haitianos, mas na desídia com os brasileiros. E apontei, vejam lá, o esforço para fazer da tragédia haitiana um palco para protagonismo. Aí a canalha gritou: “Está explorando politicamente a tragédia!!!” Eu???

Então releiam o post abaixo e observem o que diz este sem-noção e sem-limite chamado Celso Amorim. Reparem como ele especula sobre a liderança do Brasil, a atuação dos outros países, a cobertura da imprensa estrangeira. E, no auge da inconveniência, Amorim resolve moderar as críticas porque, oh!!!, mais importante é socorrer as vítimas.

Por mais severo que eu seja, Celso Amorim é o homem que nunca me deixa errar. Que os brasileiros destacados para ajudar os haitianos dêem o melhor de si. Isso não faz com que o chanceler brasileiro deixe de ser quem é. Ele se define por suas palavras. E não teme a escala que vai da tolice à abjeção. Não, meus caros, eu não estava sendo muito severo. Estava sendo apenas realista.

1703) Haiti e ajuda humanitaria (1)

Itamaraty critica ajuda financeira de países ricos
DENISE CHRISPIM MARIN
Agencia Estado, quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

BRASÍLIA - Em plena fase de articulação de uma Conferência de Doadores para o Haiti, o Itamaraty criticou hoje a promessa de ajuda financeira de países ricos ao Haiti. Mostrou-se igualmente preocupado com a montagem de canais para que os recursos cheguem ao país atingido pelo terremoto da última terça-feira.

Descontadas as ofertas do Brasil, de US$ 15 milhões, e dos Estados Unidos, que prometeu US$ 100 milhões, a diplomacia brasileira considerou "acanhada" a ajuda prometida pela União Europeia, de 4 milhões de euros, e do Canadá, de US$ 5 milhões. "Consideramos que os países ricos poderiam ser mais generosos", afirmou um diplomata que acompanhou as reuniões internas do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Segundo o diplomata, o Itamaraty iniciou hoje conversas com os cerca de 20 países e com os organismos internacionais que compõem o grupo de doadores para o Haiti. A boa recepção do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teria dado o aval para o começo dessas articulações. Em abril do ano passado, a mesma agrupação havia prometido a remessa de um total de US$ 324 milhões para ajudar o país, que havia enfrentado a passagem de vários furacões em 2008.

Em princípio, o Itamaraty considera que a ideia da realização da conferência está em linha com a sugestão do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de convocar uma reunião entre a França, Estados Unidos e Brasil para tratar da reconstrução do Haiti.

Minustah
Membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas desde 1º de janeiro, o Brasil já começou a se movimentar também para a alteração do mandato da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), força que foi criada em 1993 e que sempre esteve sob o comando brasileiro.

O Itamaraty avalia que os militares da Minustah, dentre os quais os brasileiros, assumirão funções que não estão previstas no mandato original e terão de se coordenar com forças que não a compõem. Entre elas, as tropas enviadas ao Haiti pelo governo Obama no porta-aviões Carl Vinson, da Quarta Frota americana.

Embora Obama tenha dito claramente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os soldados americanos se coordenariam com os brasileiros, o Itamaraty está ciente que, por doutrina, as tropas dos Estados Unidos não se subordinam a oficiais de outros países.

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Brasil recua nas críticas de falta de ajuda internacional ao Haiti
Márcio Falcão
Folha Online, 15.01.2010

O governo brasileiro mudou o tom do discurso e recuou nas críticas ao valor das doações de países, especialmente europeus, para ajudar na reconstrução do Haiti –atingido por um forte terremoto na última terça-feira.

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) afirmou nesta sexta-feira que o momento é de “solidariedade” e que muitos países prometem reforçar a ajuda financeira ao longo do processo de reconstrução do país.

Amorim afirmou ainda que a ideia lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a convocação de uma reunião dos países doadores foi bem recebida pela comunidade internacional. O encontro deve ocorrer na sede da ONU (Organização das Nações Unidas).

O ministro evitou comentar se as doações de países desenvolvidos estão tímidas. Até agora, Brasil ofereceu US$ 15 milhões, Estados Unidos US$ 100 milhões, Austrália US$ 10 milhões, e Canadá US$ 5 milhões. Outros países, em especial europeus, doaram entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões. Nos bastidores, integrantes do ministério afirmavam que as doações de alguns países estavam um pouco “acanhadas” diante da necessidade dos haitianos.

“Eu não vou comentar. É momento de solidariedade. Eu acho que os EUA, o número prometido é bastante substancial, de US$ 100 milhões. O Brasil está proporcional, até um pouco mais, um número adequado levando em conta o nosso interesse. Alguns países podem complementar, alguns dizem que a cooperação é inicial”, disse.

Amorim lembrou que a doação brasileira recebeu destaque internacional. “O sentido geral de solidariedade é muito grande. Eu acho que a percepção do que nós temos feito é muito grande não só no Brasil, mas no mundo. BBC deu destaque à oferta brasileira, aos aviões brasileiros, o que é normal e é importante que ocorra”, afirmou.

O ministro disse que ficou surpreso com o empenho do governo australiano. “Falei hoje com autoridades australianas e o país está dando colaboração de US$ 10 milhões, o que é importante, país que está longe da situação”, disse.

Segundo o chanceler, a reunião do grupo de doadores pode ocorrer nos próximos dias. A avaliação do governo brasileiro é de que o encontro é importante para evitar o confronto de ações.

“O importante é coordenar para evitar problemas no terreno, evidentemente, porque às vezes muita gente querendo ajudar esbarra um no outro e não dá certo. [...] Eu não excluo que se possa convocar [uma reunião] nos próximos dias, se chegar à conclusão que a necessidade de recursos até mesmo para emergência é muito grande. Isso estamos conversando permanentemente com todos os interlocutores”, disse Amorim.

O ministro defendeu que o controle das ações seja da ONU. “É preciso que alguém coordene. E acho que quem tem que coordenar do ponto de vista das definições das necessidades são a própria Nações Unidas. Só as Nações Unidas têm as informações que chegam de todos os lados”, disse.

1703) Direitos humanos recicláveis - Demétrio Magnoli

Direitos humanos recicláveis
Demétrio Magnoli
O Estado de S. Paulo, 17/01/2010

Conceito deixou de se aplicar a indivíduos reais para exprimir prerrogativas de coletividades imaginadas

Samuel Pinheiro Guimarães, o número 2 do Itamaraty feito secretário de Assuntos Estratégicos, renomeou os direitos humanos como "direitos humanos ocidentais" e qualificou a sua defesa como uma política que dissimula "com sua linguagem humanitária e altruísta as ações táticas das grandes potências em defesa de seus próprios interesses estratégicos". O ataque frontal aos direitos humanos é ineficaz e desqualifica o agressor. Os inimigos competentes dos direitos humanos operam de outro modo, pela sua usurpação e submissão a programas ideológicos estatais. O Plano Nacional de Direitos Humanos há pouco anunciado é uma ilustração acabada dessa estratégia. Desgraçadamente, os movimentos e ONGs que falam em nome dos direitos humanos não são apenas cúmplices, mas inspiradores da ofensiva de âmbito internacional.

A política internacional de direitos humanos nasceu de fato com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. O texto célebre inscreve-se na tradição da filosofia política das Luzes, que se organiza ao redor do indivíduo. Ele proclama direitos das pessoas, não de coletividades étnicas, sociais ou religiosas. Tais direitos circulam na esfera política, mesmo quando se referenciam no mundo do trabalho ou da cultura. Por esse motivo, a sua defesa solicita, sempre e inevitavelmente, o confronto com o poder político que viola ou nega direitos. A Declaração de 1948 é, essencialmente, um instrumento de proteção dos indivíduos contra os Estados. Não é fortuito que seus detratores clássicos sejam os arautos das utopias totalitárias: o fascismo, o comunismo, o ultranacionalismo, o fundamentalismo religioso.

Na sua fase heroica, as ONGs engajadas na defesa dos direitos humanos figuravam na lista de desafetos dos Estados, inclusive das democracias ocidentais. Elas denunciavam implacavelmente a censura, a repressão política, as detenções ilegais e as torturas promovidas pelos regimes tirânicos, mas também as violações cometidas pelos serviços secretos das potências democráticas, a pena de morte, a discriminação oficial contra imigrantes, o preconceito racial nos sistemas judiciário e policial. Nada disso servia para a obtenção de financiamentos de governos, instituições multilaterais ou fundações filantrópicas globais. O ramo dos direitos humanos não era um bom negócio.

O giro estratégico começou há menos de duas décadas, por meio de uma reinterpretação fundamental dos direitos humanos. As ONGs inventaram a tese útil de que os direitos humanos, tal como expressos na Declaração de 1948, representam apenas direitos "de primeira geração". Eles deveriam ser complementados por direitos econômicos, "de segunda geração", e direitos culturais, "de terceira geração". A operação de linguagem gerou um oceano de direitos indefinidos, um livro vazio a ser preenchido pelos detentores do poder de preenchê-lo. Simultaneamente, propiciou a aliança e a cooperação entre as ONGs de direitos humanos e os Estados.

Sob o amplo guarda-chuva dos direitos "de segunda geração", quase todas as doutrinas políticas podem ser embrulhados no celofane abrangente dos direitos humanos. A reforma agrária promotora da agricultura camponesa converte-se num direito humano, tanto quanto a coletivização geral da terra, que é o seu oposto, segundo a vontade soberana do poder estatal de turno. O Plano de Direitos Humanos apresentado pelo governo Lula declara o "neoliberalismo", rótulo falseador usado como referência genérica às políticas de seu antecessor, como um atentado aos direitos humanos. As políticas assistenciais de distribuição de dinheiro transfiguram-se em princípios indiscutíveis de direitos humanos. Aqui ao lado, em nome dos direitos "de segunda geração", Hugo Chávez destrói meticulosamente aquilo que resta da economia produtiva venezuelana.

Os direitos "de terceira geração", por sua vez, funcionam como curingas dos tiranos e das lideranças políticas que fabricam coletividades étnicas, raciais ou religiosas. A perseguição à imprensa independente, nas ditaduras e nos regimes de caudilho, adquire a forma da proteção de direitos sociais contra o "poder midiático". A introdução de plataformas ideológicas no sistema educacional é envernizada com a cera dos direitos culturais. O mesmo pretexto propicia um discurso legitimador para a implantação de políticas de preferências étnicas ou religiosas no acesso aos serviços públicos, ao ensino superior e ao mercado de trabalho. O Plano de Direitos Humanos contém um pouco de tudo isso, refletindo a intrincada teia de acordos firmados entre o governo, os chamados movimentos sociais e redes diversas de ONGs.

A revisão do significado dos direitos humanos empreendida por iniciativa das ONGs esvaziou o sentido original da política internacional de direitos humanos. Eles deixaram de exprimir direitos dos indivíduos reais para se transfigurarem em direitos de coletividades imaginadas. O "negro" ou "afrodescendente" genérico, supostamente representado por uma organização política específica, tomou o lugar do indivíduo realmente esbulhado pela discriminação racial. O "índio" abstrato, "representado" pelo Instituto Sócio-Ambiental, sequestrou a voz do grupo indígena concreto que não tem acesso a remédios ou escolas. O Plano de Direitos Humanos contempla todas as coletividades fabricadas pela "política de identidades", inclusive as quebradeiras de coco. Ao reconhecimento oficial de cada uma dessas coletividades vitimizadas corresponde uma promessa de privilégios para seus "representantes", que são ativistas internacionais do próspero negócio dos direitos humanos.

Os direitos humanos de "segunda geração" e "terceira geração" diluíram os direitos humanos. As ONGs de direitos humanos incorporaram-se à paisagem geopolítica das instituições multilaterais e seus ativistas ingressaram numa elite pós-moderna de altos funcionários do sistema internacional. Em contrapartida, pagaram o preço de uma renúncia jamais explicitada, mas nítida e evidente, a fustigar as violações de direitos humanos praticadas pelos Estados.

A "guerra ao terror" de George W. Bush, com suas operações encobertas de transferência de presos para ditaduras cruéis, suas prisões off-shore e suas técnicas heterodoxas de interrogatório, escapou relativamente incólume do bombardeio das ONGs amestradas. A submissão do sistema judicial da Rússia de Vladimir Putin às conveniências políticas do Estado quase desapareceu dos radares dos ativistas. A vergonhosa deportação dos boxeadores cubanos por um governo brasileiro disposto a violar tratados internacionais precisos não mereceu uma denúncia no âmbito da OEA. O fechamento de emissoras de TV e a nova figura dos prisioneiros políticos na Venezuela não merecem manifestações significativas dos altos executivos de direitos humanos. A agressão recente à blogueira cubana Yoani Sánchez não gera nem mesmo uma protocolar nota de protesto das organizações que redigiram junto com Paulo Vannuchi o Plano de Direitos Humanos. De certo modo, Samuel Pinheiro Guimarães triunfou.

1702) Corrida ao ouro...

Well, sort of. Nada de garimpagem, depredação do meio ambiente, homens brutos atrás da pepita salvadora, bebendo demais em bares miseráveis, assediando mulheres e filhas do local, não, nada disso.
Uma corrida civilizada, só para quem tem dinheiro para investir. Bem, pode-se perder dinheiro, também, mas muitos vão tentar...

L'or dure, mais...
Le Monde, 16.01.2010

Matières premières

Ruez-vous sur l'or, car la fête de l'once ne devrait pas se prolonger au-delà de cette année. C'est Philip Klapwijk, le président du cabinet GMFS réputé pour le sérieux de ses études sur les métaux précieux, qui l'a dit, mercredi 13 janvier à Londres, en présentant les perspectives du marché : "La lune de miel ne sera pas éternelle."

Quelle lune de miel ? L'or devrait retrouver et battre son record historique de décembre 2009 à 1 226,56 dollars. Vendredi, l'once est retombée à 1 131 dollars à Londres, mais M. Klapwijk "pense qu'au second semestre, nous pourrions voir les prix pousser au-delà des 1 300 dollars". A condition qu'un courant vigoureux d'argent frais se dirige vers le marché de l'or, "en provenance des institutions comme les compagnies d'assurances, les fonds de pension et les fonds souverains de plus en plus actifs".

Qu'est-ce qui inciterait ces riches moutons de Panurge à miser sur le métal précieux ? "La peur d'une rechute dans la récession, la persistance d'énormes déficits publics, une politique monétaire très laxiste et la conviction qu'une inflation forte, sinon galopante, va faire son retour", explique le patron de GMFS. "Comme la reprise économique sera molle, poursuit-il, il y aura donc peu ou pas de tour de vis monétaire dans les grandes économies cette année, et cela soulève de sérieuses questions sur la solvabilité des gouvernements."

"Cela tisse une toile de fond qui reste très favorable à l'investissement or", poursuit-il. Autrement dit, la vocation de coffre-fort de l'or devrait se confirmer de façon éclatante. C.Q.F.D.

Mais alors pourquoi M. Klapwijk parle-t-il de "lune de miel" qui pourrait tourner mal ? Pourquoi, après nous avoir fait miroiter un eldorado, parle-t-il de "possibilité d'une correction significative dans les six prochains mois" ?

D'abord parce que, comme tous les prévisionnistes, il se protège en disant que le contraire de ce qu'il annonce peut arriver. On ne sait jamais. Ensuite, parce que la pierre philosophale pourrait tout à fait fonctionner à l'envers, changeant l'or en métal plus vulgaire.

Si le dollar redresse la tête, parce que l'euro pâtit des malheurs de la Grèce, les investisseurs miseront sur le billet vert et plus sur l'or. Si les belles Indiennes persistent à snober la bijouterie en or devenue hors de prix (- 23 % pour la demande mondiale en 2009), l'argent en profitera.

Sauve-qui-peut
Si la production minière (+6 % en 2009) et le recyclage (+27 %) continuent à doper l'offre d'or, les investisseurs pourraient y voir les prémices d'une baisse des cours et se lancer dans un sauve-qui-peut.

Si la reprise économique et un retour du goût pour le risque se confirment, on verra les capitaux quitter le douillet refuge de l'or et se placer dans des valeurs de vraie croissance.

Combien pariez-vous que le cours du beau métal qui ne craint "ni la rouille ni les vers" sera tout sauf un long fleuve tranquille en 2010 ?

Alain Faujas
Article paru dans l'édition du 17.01.2010