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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 28 de junho de 2015

Corrupcao companheira: os ratos comecam a temer, depois de treze anos de roubalheiras

Lula perde o eixo
Lula treme
O ex-presidente mostra desequilíbrio e desespero, vivendo o pior momento de sua história
Sérgio Pardellas
IstoÉ, domingo, 28 de junho de 2015

Temendo a prisão, Lula revela desespero ao criticar publicamente o PT. O ex-presidente, que tem dormido pouco, apresenta crises de choro, diz que o governo Dilma não tem mais jeito e avalia que a vitória de Aécio em 2014 poderia até ter sido melhor

O ex-presidente Lula anda insone. Segundo amigos próximos, o petista não consegue sossegar a cabeça no travesseiro desde a prisão, há duas semanas, de Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, e do executivo Alexandrino Alencar, considerados os seus principais interlocutores na empresa. Tem dormido pouco. Nem quando recebeu o diagnóstico de câncer na laringe, em 2011, o petista demonstrou estar tão apreensivo como agora. Pela primeira vez, desde a eclosão da Operação Lava Jato para investigar os desvios bilionários da maior estatal brasileira, a Petrobras, Lula teme amargar o mesmo destino dos empreiteiros. Até um mês atrás, o ex-presidente não esperava que sua história poderia lhe reservar outra passagem pela cadeia. Em 1980, o então líder sindical foi detido em casa pelo DOPS, a polícia política do regime militar. Permaneceu preso por 31 dias, chegando a dividir cela com 18 pessoas. Agora, o risco de outra prisão – desta vez em tempos democráticos – é real. Na quinta-feira 25, o tema ganhou certo frisson com a divulgação de um pedido de habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente impetrado na Justiça Federal do Paraná. Descobriu-se logo em seguida, no entanto, que a ação considerada improcedente pelo Tribunal Regional Federal não partiu de Lula nem de ninguém ligado a ele. Mas, de fato, o político já receia pelo pior. O surto público recheado de críticas ao governo Dilma Rousseff e petardos contra o partido idealizado, fundado e tutelado por ele nos últimos 35 anos expôs, na semana passada, como os recentes acontecimentos têm deixado Lula fora do eixo.

Em privado, o ex-presidente exibe mais do que nervos à flor da pele. Na presença de amigos íntimos, parlamentares e um ex-deputado com trânsito nos tribunais superiores, Lula desabou em choro, ao comentar o processo de deterioração do PT. Como se pouco ou nada tivesse a ver com a débâcle ética, moral e eleitoral da legenda, ele lamentou: "Abrimos demais o partido. Fomos muito permissivos", justificou. Talvez naquela atmosfera de emoção, Lula tenha recordado de suas palavras enunciadas em histórica entrevista à ISTOÉ no longínquo fevereiro de 78, quando na condição de principal líder sindical do ABC paulista começava a vislumbrar o que viria a ser o PT, criado em 1980. "Para fazer um partido dos trabalhadores é preciso reunir os trabalhadores, discutir com os trabalhadores, fazer um programa que atenda às necessidades dos trabalhadores. Aí pode nascer um partido de baixo para cima", disse na ocasião. Hoje, o PT, depois de 12 anos no poder, não reúne mais os trabalhadores, não discute com eles, muito menos implementa políticas que observem as suas necessidades. Pelo contrário, o governo Dilma virou as costas para os trabalhadores, segundo eles mesmos, ao vetar as alterações no fator previdenciário, mudar as regras do seguro para os demitidos com carteira assinada e adotar medidas que levam à inflação e à escalada do desemprego. Agora crítico mordaz da própria obra, Lula sabe em seu íntimo que não pode se eximir da culpa pela iminente derrocada do projeto pavimentado por ele mesmo.

Restaram os desabafos, sinceros ou não, e a preocupação com o futuro. Num dos momentos de lucidez, o ex-presidente fez vaticínios impensáveis para quem, até bem pouco tempo, imaginava regressar triunfante ao Planalto daqui a três anos. Em recentes conversas particulares no Instituto que leva o seu nome, em São Paulo, Lula desenganou o governo Dilma, sucessora que ele mesmo legou ao País. "Dilma já era. Agora temos que pensar em salvar 2018", afirmou referindo-se às eleições presidenciais. Para o petista, a julgar pelo quadro político atual, "teria sido melhor" para o projeto de poder petista e da esquerda "que (o senador tucano) Aécio Neves tivesse ganho as eleições" presidenciais do ano passado. Assim, no entender dele, o PSDB, e não o PT, ficaria com o ônus das medidas amargas tomadas na esfera econômica destinadas a tirar o País da crise, o que abriria estrada para o seu retorno em 2018. Como o seu regresso não é mais favas contadas, o petista tem confidenciado todo o seu descontentamento com a administração da presidente Dilma. Lula credita a ela e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o avanço da Lava Jato sobre sua gestão. Embora essa hipótese ainda seja improvável, petistas ligados ao ex-presidente não descartam a possibilidade de ruptura, o que deixaria a presidente ainda mais vulnerável para enfrentar um possível processo de impeachment. A atitude, se levada adiante, não constituiria uma novidade. Em outros momentos de intensa pressão, como no auge do mensalão e do escândalo do caseiro Francenildo, Lula não se constrangeu em rifar aliados e até amigos do peito, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Ricardo Berzoini.

Quem testemunhou as confidências de Lula na ampla sala de reuniões de seu Instituto, sediado na capital paulista, não chegou a ficar surpreso com o destempero verbal apresentado pelo petista na semana passada. Não se pode dizer o mesmo da maioria expressiva da classe política, impossibilitada de privar da intimidade do ex-presidente. De tão pesados e surpreendentes, os ataques de Lula a Dilma e ao PT foram recebidos com perplexidade. O primeiro tiro foi disparado na quinta-feira 18. Numa reunião com padres e dirigentes religiosos, Lula admitiu, em alusão ao nível baixo do sistema da Cantareira, que ele e Dilma estão no volume morto. "E o PT está abaixo do volume morto", avaliou. Na segunda-feira 22, Lula elevou ainda mais o tom. Só que contra o PT. Em debate com o ex-presidente do governo espanhol Felipe Gonzáles, disse que o partido "está velho, só pensa em cargos e em ganhar eleição". "Queremos salvar a nossa pele, nossos cargos, ou queremos salvar o nosso projeto?", questionou Lula, durante a conferência "Novos Desafios da Democracia". Nos dias subseqüentes às declarações, enquanto o meio político tentava interpretar o gesto do petista, o Planalto reagia a seu modo. Num primeiro momento, Dilma minimizou."Todos têm direito de fazer críticas, principalmente o presidente Lula". No dia seguinte, no entanto, Dilma orientou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a procurar Lula para tentar entender as razões de tamanha fúria. Paralelamente, o ex-presidente tratou de se proteger. Articulou junto à bancada do PT no Senado a divulgação de uma nota de desagravo a ele próprio. Criou, assim, mais uma jabuticaba política: fez com que o partido atacado emitisse um documento em apoio ao autor dos ataques. Na nota, o PT manifestou "total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de uma campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor". No fim da semana, ao perceber o ar rarefeito, Lula mandou emissários espalharem o suposto reconhecimento de que ele "se excedeu". Era tarde.

Para o cientista político da USP, José Álvaro Moisés, ao abrir confronto contra Dilma e o PT, Lula "jogou para a plateia". "Ele está vendo o navio fazer água, por isso age assim", avaliou. Para Oswaldo do Amaral, da Unicamp, ao dizer que o partido precisa de uma renovação, Lula tenta uma reaproximação com o eleitorado mais jovem, segmento hoje refratário a ele (leia mais em matéria na página 46). O jornalista José Nêumanne Pinto, autor do livro "O que sei de Lula", no qual conclui que o ex-presidente nunca foi efetivamente de esquerda, é mais contundente. Para ele, "Lula é sagaz e não tem escrúpulo nenhum para mudar seu discurso". "O ex-presidente tem circunstâncias e conveniências que ele manipula", afirmou. "Na verdade, ele não quer se descolar do PT e sim da Dilma. Com esse discurso da utopia, ele planeja atrair parte do PT que finge ser honesto", disse.

O mais espantoso na catilinária lulista é que o ex-presidente se comporta como se fosse um analista distante de uma trama da qual é personagem principal. Numa analogia com o futebol, recurso metafórico muito utilizado por Lula quando estava na Presidência, seria como se o zagueiro e então capitão da seleção brasileira David Luiz descrevesse os sete gols da Alemanha como se não tivesse assistido entre atordoado e impassível ao baile de Toni Kroos, Schweinsteiger e companhia em campo. No caso do ex-presidente há um agravante: Lula nunca foi apenas um mero integrante do time, mas o mentor, o grande líder e artífice da caminhada petista até aqui. Por isso mesmo, causou ainda mais espécie a repreensão de Lula ao PT por sua sede por cargos. Ora, o aparelhamento da máquina pública pelo PT e aliados começou e recrudesceu durante os dois mandatos do petista. Quando Lula chegou ao poder em 2003, havia 18 mil cargos de confiança na administração federal. Ao transmitir o cargo para Dilma, em 2011, já eram cerca de 23 mil.

Do mesmo modo, Lula não pode lamentar, como fez em privado, que o crescimento do partido levou aos desvios éticos e à corrupção – hoje marca indissociável ao PT. O escândalo do mensalão, que resultou na condenação de dirigentes petistas em julgamento no STF, remonta ao seu governo. E o processo de abertura da legenda, bem como à rendição à política tradicional de alianças, baseada no fisiologismo e no toma lá, da cá, beneficiou o próprio Lula. Sem isso, o ex-presidente dificilmente se elegeria em 2002. Ao chegar ao Planalto, Lula cansou de dar demonstrações de que não sabia separar o público do privado. A mais chocante delas foi a ousadia de ornar os jardins do Alvorada com a estrela rubra do PT. O limite entre o público e o privado foi ultrapassado também quando Lula nomeou a amiga Rosemary Noronha para a chefia de gabinete de um escritório da Presidência em São Paulo. Hoje, Rosemary responde a uma ação na Justiça por formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva. Ela integraria um esquema de vendas de pareceres técnicos de órgãos públicos federais. Agora, a personagem muito próxima a Lula pode retornar ao noticiário numa outra vertente das investigações da Lava Jato. Trata-se da retomada das apurações do episódio envolvendo um suposto depósito milionário feito em Portugal por Rosemary. Para a PF, o caso converge com a investigação sobre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. É que Otávio Azevedo, preso na 14ª fase da Lava-Jato, foi representante da Portugal Telecom no Brasil. A empresa de telefonia era em grande medida controlada pelo Grupo Espírito Santo, parceiro da Odebrecht em vários empreendimentos em território português. "Tudo converge para os mesmos personagens.

Se já houver outra investigação em curso, também podemos colaborar", afirmou à ISTOÉ um delegado ligado a Lava Jato. Até hoje não se sabe o que houve com o ofício protocolado pelo então deputado Anthony Garotinho (PR/RJ) sobre o périplo de Rosemary em solo português. Em 2012, Garotinho denunciou o caso com base em relatos de um ex-delegado federal. Rosemary, segundo essa fonte, teria desembarcado em Lisboa com passaporte diplomático e autorização para transportar uma mala. Ao chegar à alfândega, questionada sobre o conteúdo da bagagem, teria revelado que transportava 25 milhões de euros para depositar na agência central do Banco Espírito Santo no Porto. Segundo a mesma versão, as autoridades alfandegárias sugeriram que ela contratasse uma empresa de transporte de valores. Para executar o serviço, a empresa Prosegur exigiu a contratação de um seguro, pelo que Rosemary teve de preencher uma declaração com a quantia e a titularidade dos recursos. Ela, então, teria identificado o próprio Lula como proprietário do dinheiro.

Não restam dúvidas de que a explosão do petista deriva principalmente dos rumos tomados pelas investigações da Lava Jato nas últimas semanas. Mas seus recentes arroubos guardam relação também com os resultados das últimas pesquisas de opinião. De janeiro para cá, os levantamentos mostram a vertiginosa queda de popularidade de Dilma e dele próprio, que já perderia para o senador Aécio Neves se as eleições presidenciais fossem hoje. De acordo com o último Datafolha, Aécio aparece com 10 pontos na frente de Lula. Segundo a mesma pesquisa, o governo Dilma foi reprovado por 65% dos eleitores. Este índice de reprovação só não é maior do que o do ex-presidente Fernando Collor no período pré-impeachment, em setembro de 1992. Na época, Collor era rejeitado por 68% dos brasileiros. No levantamento, o governo Dilma é classificado como bom ou ótimo por apenas 10% dos brasileiros. É a maior taxa de impopularidade da petista desde 2011. A taxa de aprovação da presidente no Sudeste é de apenas 7%. No Nordeste, histórico reduto eleitoral do PT, é de somente 14%.

Num cenário nada alvissareiro para Dilma como o atual, em que ela está às voltas com um processo no TCU que pode até levar ao seu afastamento, o pior dos mundos para ela seria um rompimento com o padrinho político. Nesse cenário, Lula levaria com ele para o outro lado da trincheira parte do PT que hoje critica severamente a política econômica do governo. Se uma ruptura oficial é improvável, o mesmo não se pode dizer de um racha na prática, mas não declarado. O embrião do que pode vir a ser um contraponto ao governo surgiu na quarta-feira 24, em reunião na casa do senador Randolfe Rodrigues, do PSOL. Nela estavam presentes parlamentares do PSB e petistas de proa, como o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o senador Lindbergh Farias (RJ). No encontro, articularam o que chamam de "Frente de Esquerda". Se o movimento florescer, o grande responsável pela ascensão e projeção política de Dilma – o ex-presidente Lula – poderá ser também o principal artífice do seu irremediável isolamento.

Corrupcao 6: aos que julgam injusta, ou exagerada, a prisao do presidente da Odebrecht

Eis a lista das propinas pagas pela Odebrecht


O laudo ao lado é da Polícia Federal e lista com todos os elementos principais das propinas pagas pela Odebrecht.

A divulgação visa satisfazer jornalistas amigos, advogados nem tão amigos, políticos muito amigos e quem mais interessar possa, todos compromissados com a organização criminosa formada pelo PT, sob a condução de Lula, para assaltar os cofres da Petroberás e enriquecer o Partido, suas campanhas eleitorais e seus dirigentes.

A Odebrecht usa todo seu poder de fogo, que não é pequeno, para perturbar as investigações, as oitivas e o noticiário da imprensa, sempre com o objetivo de embaralhar o jogo e favorecer seu líder, Marcelo Odebrecht, que se enviou como rato num chifre estreito.

É só ir atrás do dinheiro para verificar a origem e o destino das propinas pagas.

O caso vai cada vez mais na direção de outros negócios malcheirosos acertados com outras estatais federais.

Merval Pereira: a caminho do impeachment?

Chapa de Dilma pode vir a ser impugnada
Merval Pereira
O Globo, 27/06/2015

A famosa frase "Follow the money" ("Sigam o dinheiro") nunca foi dita por Mark Felt, o vice-diretor do FBI que ficou famoso como o informante Deep Throat do Watergate, para os repórteres do "Washington Post" Bob Woodward e Carl Bernstein. Foi inventada pelo diretor do filme, Alan J. Pakula, mas entrou para a história. 

Assim como em Watergate, a orientação de seguir a trilha do dinheiro é o caminho que o Ministério Público tem para validar a delação premiada do chefe do "Clube das Empreiteiras", Ricardo Pessoa da UTC.

Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu minuciosamente como financiou campanhas com o dinheiro desviado da Petrobras, confirmando a prática de lavar dinheiro fruto da corrupção em doações registradas legalmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), inclusive para as campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. 

A denúncia de Ricardo Pessoa confirma outra delação premiada, a do vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Eduardo Leite, que acusou o tesoureiro do PT João Vaccari de tê-lo coagido a fazer o pagamento de propinas como doações legais. 

Assim como o ex-gerente Pedro Barusco, subordinado de Duque na Petrobras, Ricardo Pessoa também forneceu detalhes que possibilitam verificar suas acusações, como as planilhas de distribuição de propinas com as datas. Cabe ao Ministério Público comparar os dias de desembolso de verbas para as obras da Petrobras e a chegada de dinheiro na conta do PT. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, já havia prorrogado por mais um ano o prazo para que as contas eleitorais da presidente Dilma permaneçam disponíveis na internet. A decisão foi motivada por suspeitas de outras irregularidades, que ele considera "gravíssimas", como o pagamento de R$ 20 milhões a uma gráfica fantasma ou a uma firma, a Focal, para montar palanques presidenciais, no valor de R$ 25 milhões. 

Há além disso outros dois processos no Tribunal Superior Eleitoral contra a campanha do PT e 2014, a partir de denúncias do PSDB, um com a ministra Maria Teresa, e outro com o ministro João Noronha, ambos do STJ. Paulo Roberto Costa e o doleiro Youssef já foram ouvidos sobre outras denúncias de uso de dinheiro desviado da Petrobras na campanha de 2014. 

A impugnação da chapa por "abuso de poder político e econômico" pode ser uma das consequências da denúncia, o que provocaria uma nova eleição se o caso for resolvido na Justiça Eleitoral nos dois primeiros anos de mandato, isto é, até o final de 2016. 

Caso ocorra uma decisão a partir do terceiro ano, haveria uma eleição indireta pelo Congresso, para o término do mandato. A gravidade de usar o TSE para "lavar" o dinheiro da corrupção pode gerar uma reação mais dura da Justiça Eleitoral, pois fere a credibilidade do tribunal, como já escrevi aqui. 

O processo no TSE pode gerar também o de impeachment, por crime de responsabilidade, além do questionamento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os crimes contra o Orçamento cometidos no último ano do primeiro mandato da presidente Dilma. 


Aos poucos vai se formando um cenário difícil de ser ignorado, tantas são as irregularidades cometidas durante o primeiro mandato, culminando com a eleição presidencial em 2014. Como as denúncias se referem a fatos ocorridos quando Dilma já era presidente da República, cabe o processo, ao contrário das denúncias rejeitadas pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, que se referiam à eleição de 2010, quando Dilma era ministra e candidata a presidente. As "pedaladas" fiscais e demais crimes contra o Orçamento pegam apenas a presidente Dilma, o que permitiria ao vice Michel Temer assumir o cargo em caso de impeachment. O financiamento eleitoral com o uso de dinheiro desviado do petrolão leva à impugnação da chapa.

Relacoes Brasil-EUA: algo de novo num cenario de altos e baixos? - Paulo Roberto de Almeida

Um artigo puramente analítico sobre o "não-estado" das relações bilaterais, que se arrastam, mais do que caminham...

Relações Brasil-EUA no início do século 21:desencontros

Paulo Roberto de Almeida

Mundorama, 28/06/2015
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O regime inaugurado em 2003 no Brasil introduziu mudanças significativas no padrão de relacionamento com os EUA, ainda que a retórica diplomática tenha procurado manter a aparência de continuidade. Na verdade, muitas das iniciativas tomadas pelos governos lulo-petistas foram no sentido de consolidar uma orientação dita “anti-hegemônica” na política externa e de constituir organismos de consulta e de coordenação regionais afastados da esfera de influência dos EUA, a começar pela implosão do projeto americano da Alca. Nesse sentido, o relacionamento passou pelo mesmo ciclo anterior de altos e baixos, com fases de reaproximação seguidas de afastamentos por falta de entendimentos políticos – como no caso da espionagem sobre as comunicações brasileiras feita pela National Security Agency – e por promessas de reativação das relações econômicas e comerciais que nem sempre se traduziram em ações concretas.

A campanha presidencial de 2002, ao antecipar fortes tendências mudancistas, tinha alimentado certo recrudescimento das preocupações dos mercados financeiros com a manutenção das linhas da política macroeconômica seguida na administração anterior, a de Fernando Henrique Cardoso. Essa desconfiança se manifestou nos indicadores de risco, com a sensível deterioração do câmbio, dos preços dos títulos negociados e a diminuição geral das linhas de crédito comercial e dos fluxos de investimentos (diretos e de portfólio). O comportamento moderado do candidato da oposição – que sinalizou seu apoio ao acordo com o FMI em agosto de 2002 e confirmou a aceitação dos princípios da intangibilidade dos contratos da dívida externa e da responsabilidade fiscal – permitiu desanuviar possíveis tensões com o governo conservador americano, que revelou então boa disposição para o diálogo tão logo confirmada a vitória do candidato Lula. O presidente Bush não apenas telefonou imediata e pessoalmente para cumprimentar o vitorioso desde o anúncio dos resultados, como formulou convite para uma primeira visita de contato e de discussão informal. Em estratégia diplomática muito bem medida, o candidato eleito definiu poucas viagens externas antes da posse, com destaque para uma visita aos mais importantes líderes do Cone Sul e a aceitação do convite feito pelo presidente americano.

Nessa primeira visita de trabalho a Washington, realizada em 10 de dezembro de 2002, registrou-se visível empatia entre o líder da principal potência mundial e o futuro presidente do maior país da América do Sul, ocorrendo a entrevista em ambiente descontraído e com boa disposição para dar início a uma agenda cooperativa entre os dois países. Partiu do mandatário americano a sugestão de uma reunião de alto nível (envolvendo membros do gabinete) ainda no decorrer do primeiro semestre de 2003 (o que por um momento pareceu ameaçado pelos desenvolvimentos do conflito dos EUA com o Iraque). Em sua primeira viagem a Washington, o presidente eleito do Brasil confirmou o interesse de seu governo em dar início a quatro anos de relações francas, construtivas e mutuamente benéficas para os dois países, desarmando assim os críticos conservadores dos EUA e surpreendendo grupos radicais no próprio Brasil.

De sua parte, os interlocutores americanos, que tomaram conhecimento nesse mesmo dia do nome do ministro da Fazenda designado, na pessoa de Antonio Palocci, um dos acompanhantes da delegação, ficaram positivamente impressionados pela confirmação da manutenção das grandes linhas da política macroeconômica anterior, o que sem dúvida desarmou o grave cenário de deterioração dos indicadores que vinha manifestando-se até então.

De fato, a inauguração e o início do governo Lula foram auspiciosos e mesmo surpreendentes em termos de ativismo diplomático. Confirmando a atenção especial a ser dada pelo seu governo aos países da região, a começar pelo fortalecimento do Mercosul, assim como a alguns grandes países em desenvolvimento, o presidente Lula afirmou, em seu discurso de posse, que procuraria ter com os EUA “uma parceria madura, com base no interesse recíproco e no respeito mútuo.” O novo chanceler, escolhido na pessoa do experiente diplomata profissional Celso Amorim (já ministro das relações exteriores de Itamar Franco), colocou as relações entre os dois países no patamar julgado adequado, ao buscar a coordenação e o diálogo em todos os terrenos de interesse comum, sem eludir, porém, as diferenças de posição em torno de pontos concretos (como as negociações comerciais multilaterais e hemisféricas, por exemplo).

Os pontos de divergência pareciam superar os de convergência, manifestando-se em especial em relação aos problemas da Venezuela, dos direitos humanos em Cuba e do problema do Iraque no Conselho de Segurança. A “agenda positiva” prometida por ambos presidentes pareceu algumas vezes comprometida em função do conflito no Iraque, cujo impacto negativo foi temido no Brasil não apenas como resultado de possíveis efeitos recessivos na economia mundial mas também por seus efeitos corrosivos no sistema político multilateral. A eventual incorporação do Brasil como membro permanente do CSNU realizaria um sonho acalentado pelas lideranças políticas e diplomáticas desde a era da Liga das Nações ou, pelo menos, desde a Conferência de São Francisco que criou a ONU, mas ele vem sendo postergado desde muitos anos não tanto em função das conhecidas limitações objetivas do Brasil, mas em decorrência das próprias dificuldades em se lograr aceitação de uma reforma da Carta da ONU. Os EUA sinalizaram seu apoio ao ingresso seletivo de novos membros, como sendo a Índia e o Japão e alguns países em desenvolvimento capazes de assumir responsabilidades na frente da segurança internacional, mas preferiram insistir, nos últimos anos, na tese da reforma da ONU enquanto organismo burocrático superdimensionado, deixando o espinhoso tema da reforma da Carta a ocasião mais oportuna.

Mas a relação também foi dificultada pela falta de entendimento em torno de algumas questões importantes, como a da Alca, por exemplo, o que colocou as duas administrações em posições díspares, uma vez que Lula e Amorim já tinha decidido implodir esse projeto americano, o que finalmente conseguiram, dois anos depois – na conferência de cúpula de Mar del Plata, em novembro de 2005 – com a ajuda dos aliados Kirchner, da Argentina, e Chávez, da Venezuela. O restante da primeira administração Lula e todo o seu segundo mandato foi ocupado, quase inteiramente, por iniciativas e projetos brasileiros de “afastamento” da América do Sul da influência dos EUA, consubstanciados na proposta da Comunidade Sul-Americana de Nações, que representaria, segundo seus promotores, um mecanismo de coordenação próprio à região e sem a “tutela do império”.

De fato, a implosão da Alca significou que muitos países do hemisfério, interessados no acesso de seus produtos ao grande mercado americano e na atração de investimentos dos EUA em suas economias, passaram a negociar diretamente com o gigante americano acordos de livre comércio e de facilitação de investimentos, num esquema não mais hemisférico, mas “minilateralista”, com os EUA determinando o padrão e o conteúdo dessas relações econômicas. Acabaram ficando de fora os países do Mercosul, e os chamados “bolivarianos” que, sob o comando de Hugo Chávez, se decidiram por uma bizarra Aliança Bolivariana dos Povos da América, feita mais de comércio administrado e de intercâmbios estatais do que de integração econômica.

O Brasil e o Mercosul passaram a promover mais ativamente a chamada diplomacia Sul-Sul, pretendendo criar uma “nova geografia do comércio mundial”, que se revelou, no entanto, extremamente modesta em seu escopo e alcance geográfico: apenas três modestos acordos de liberalização limitada do comércio, com parceiros não tradicionais – Israel e Palestina – e com a Índia, que sempre manteve a mesma postura protecionista e dirigista dos dois principais parceiros do Mercosul, o Brasil e a Argentina. Essa postura foi também agravada por desentendimentos persistentes com os EUA no âmbito das negociações comerciais multilaterais da Rodada Doha, que não apenas não foram concluídas durante o mandato originalmente acordado em 2001, como se prolongaram em diversas tentativas frustradas no decorrer dessa década, e se encontram praticamente estagnadas desde o início da presente década.

O caráter morno – para não dizer moroso – das relações bilaterais Brasil-EUA durante grande parte da era Lula, a despeito de uma retórica aparentemente amistosa e sempre declarada positiva, pode estar ligada à partidarização evidente da diplomacia brasileira sob a hegemonia do PT e do antiamericanismo indisfarçável de vários dos dirigentes lulo-petistas. Não deixa de ser um fato que o PT se apresenta como um típico partido esquerdista latino-americano, com maiores simpatias por certos aliados ditos “progressistas” – quando não declaradamente comunistas ou socialistas, como os regimes cubano e chavista – do que pelas democracias liberais de mercado, postura que dificulta o estabelecimento ou o reforço de diversas iniciativas diplomáticas que, de outra forma, poderiam estar sendo conduzidas pelo staff profissional do Itamaraty. Esse elemento, sempre negado oficialmente, se mostrou evidente em vários episódios das relações bilaterais ou no tratamento de diversos temas da agenda multilateral. Ainda que Lula procurasse destacar suas boas relações com George Bush, não foi registrada qualquer grande iniciativa econômica ou política que pudesse colocar essas relações em outro patamar.

Período recente: continuidade da inércia e pontos de conflito

A continuidade da gestão lulo-petista na presidência do Brasil, a partir de 2011, não veio trazer, a despeito das mesmas manifestações retóricas em favor das “boas relações”, nenhuma grande novidade nesse quadro de morosidade diplomática e de ausência de qualquer iniciativa de relevo, ainda que acordos de cooperação setorial tenham sido assinados episodicamente. Desde os ataques terroristas de 2001, os pontos preferenciais da agenda americana para a região se situam mais no terreno da segurança e do combate ao crime organizado – inclusive o narcoterrorismo – do que na promoção do desenvolvimento mediante políticas de sustentação ativa de investimentos, ao passo que o Brasil e outros países da região provavelmente prefeririam, por sua parte, insistir no apoio a políticas de desenvolvimento, transferência de tecnologia e, sobretudo, acesso a mercados, como condição de superação das amarras do subdesenvolvimento.

Esse tipo de desencontro tem sido uma constante desde o imediato pós-Segunda Guerra, quando os países latino-americanos insistiam por uma réplica do Plano Marshall aplicado à região e os EUA retrucavam com recomendações de abertura econômica, acolhimento do investimento estrangeiro, liberalização comercial e luta contra a corrupção e as desigualdades sociais. Nessa época, no imediato pós-Segunda Guerra, assim como tinha ocorrido nos tempos do Barão do Rio Branco, no início do século XX, falou-se muito de um relacionamento especial, uma espécie de “aliança não-escrita" entre o Brasil e os Estados Unidos, muito embora fossem evidentes os diferenciais de poder e as orientações diversas das agendas diplomáticas respectivas.

Um século depois, esse relacionamento parecia ter se esvaído completamente, quando do episódio da espionagem americana sobre as comunicações oficiais do Brasil, inclusive de empresas relevantes, como a Petrobras, justamente quando a presidente Dilma Rousseff se encontrava preparando uma visita de Estado a Washington, em meados de 2013. A viagem foi obviamente suspensa, mas a amplitude e a acrimônia da reação brasileira – bem mais intensas do que as registradas em países e por líderes políticos aliados, igualmente espionados, como a chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo – provavelmente tem mais a ver com considerações de natureza política doméstica do que propriamente com questões diretamente diplomáticas ou como resultado de um desentendimento fundamental em relação a temas diversos da agenda diplomática internacional. Afinal de contas, não é segredo para ninguém que os EUA, como grande potência mundial, arrogante e unilateralista como podem ser os hegemons, se dedicam a esses exercícios de espionagem – da mesma forma como todas as demais potências relevantes – e vão continuar recorrendo a esse tipo de expediente, à margem e independentemente da natureza de suas relações – de amizade, de cooperação ou de desconfiança ou mesmo de animosidade momentânea – com parceiros, aliados e, a mais forte razão, com países com os quais mantenham relações marcadas pela ambiguidade. Ora, não é tampouco segredo para ninguém que o regime lulo-petista tem entre seus aliados preferenciais alguns dos piores inimigos dos EUA – como cubanos, bolivarianos e adeptos de regimes “anti-hegemônicos” como China e Rússia, por exemplo – e com eles colabora abertamente em temas e agendas que têm como objetivo declarado “mudar a relação de forças” no mundo, num sentido “pós-imperial”.

Não se pode esperar, nessas circunstâncias, que o “império” mantenha o projeto de uma relação especial, estratégica ou cooperativa, com um governo que trabalha para minimizar as fontes e o exercício desse poder hegemônico em diferentes âmbitos do cenário mundial. De certo modo, foi o Brasil quem alimentou, historicamente, vãs esperanças e ilusões ingênuas de uma relação especial com os EUA. Recorde-se, por exemplo, a questão nem sempre bem colocada, e de certo modo totalmente artificial, da “opção” (ou da oposição) entre uma “política externa tradicional” – por definição “alinhada” – e uma “política externa independente”, problema dramatizado por anos de enfrentamento bipolar no cenário geopolítico global.

Superado, contudo, o invólucro ideológico da postura externa do Brasil nesse período ultrapassado (mas que parece estar voltando a partir das novas posturas da Rússia e da China), e mesmo os diversos “rótulos” com os quais se procurou classificar a diplomacia da era militar, assume importância primordial, atualmente, a questão do desenvolvimento econômico, verdadeiro leit motiv da diplomacia brasileira contemporânea. É por esse prisma que o Brasil identifica seus interesses prioritários e é nessa postura que ele espera confortar seus temores mais manifestos, entre eles o de uma dominação econômica americana, mais imaginada do que realmente realizada, sequer em estado potencial. Parece incrível, nesse particular, que os mesmos críticos da postura “arrogante” e “unilateralista” do império do passado (e do presente) não reconheçam na China os mesmos elementos de dominação econômica que sempre caracterizaram a presença das principais potências capitalistas ocidentais em direção do Terceiro Mundo em geral, e de alguns países periféricos em particular (em especial aqueles especialmente suscetíveis de serem inseridos de maneira produtiva na grande divisão internacional do trabalho).

Um século atrás, os colonialismos europeus, e os imperialismos ocidentais de maneira ampla, mantinham as mesmas práticas comerciais e faziam os mesmos tipos de investimentos utilitários em transportes e comunicações, em infraestrutura no seu sentido amplo, em direção da periferia colonizada ou semicolonial que hoje motivam a China e seus ávidos novos capitalistas nos grandes programas de penetração dos mesmos territórios e regiões suscetíveis de serem absorvidos pela grande máquina de produção de massa localizada no gigante da Ásia do Pacífico. O que haveria de fundamentalmente diferente com a atual postura chinesa, a não ser a ausência de uma motivação colonialista explícita?

De resto, no que se refere aos objetivos propriamente econômicos dos dois tipos de empreendimento, a ofensiva chinesa não parece ser muito diferente, no início do século XXI, em relação ao que se praticava um século atrás, embora as condições geopolíticas tenham sido fundamentalmente alteradas depois do encerramento dos dois grandes conflitos globais do início do século XX. No que se refere, por sua vez, a projetos de desenvolvimento em escala nacional, alguns países latino-americanos continuam a mostrar-se mais propensos a um modelo de desenvolvimento menos dominado pelos mercados e pelos empresários privados, e bem mais orientado pelos governos e burocracia nacionais e, de certa forma, parcialmente afastados das redes de integração produtiva que se desenham em outras regiões, em especial na Ásia e no Pacífico, justamente. Nem todos, porém, seguem as mesmas reticências protecionistas e temores de “desnacionalização”, que parecem motivar atualmente líderes da Argentina e do Brasil, entre outros; vários outros, aos quais se poderia aplicar o qualificativo de “globalizadores”, parecem bem mais propensos a se integrarem nessas redes, como são os membros da Aliança do Pacífico: Chile, Peru, Colômbia e México.

No caso da atual diplomacia brasileira, ao início do século XXI, e em grande medida graças ao exercício da diplomacia presidencial tanto por parte de FHC, como por Lula, o relacionamento do Brasil com os EUA parece ter se tornado mais maduro e isento de preconceitos ideológicos e de ilusões quanto a qualquer tipo de “relação especial”, como ocorreu em diversas ocasiões de um passado não tão remoto. A expectativa, registre-se, é bem mais, ou exclusivamente, brasileira, do que americana, uma vez que a grande potência do Norte não tem, ao Sul, nenhuma ameaça à sua segurança e portanto não atribui, às suas fronteiras meridionais o mesmo grau de atenção estratégica do que a outras regiões, a começar pela Ásia Pacífico, pelo Oriente Médio ou mesmo pela Europa central e oriental.

O Mercosul e a formação de um espaço econômico integrado na América do Sul há muito deixaram de ser vistos, na agenda diplomática “imperial”, como um desafio à sua hegemonia hemisférica, passando a ser olhados, naturalmente, como alavancas de um processo de desenvolvimento que pode beneficiar a todos. Eliminada a hipótese de uma grande área de livre comércio hemisférica, a Alca, patrocinada pelos Estados Unidos em moldes similares aos da primeira tentativa efetuada na conferência americana de 1889-90, o que ficou foi uma colcha de retalhos feita de diversos acordos minilateralistas com parceiros mais propensos a aceitarem essa relação pragmática proposta pelo império. Os temores, alimentados de forma recorrente durante anos, ou quiçá décadas, por parte de líderes políticos, de uma “dominação econômica” do Brasil pelo gigante hemisférico, há muito se esvaneceram, e começam a ser imaginados, doravante, os incômodos de uma grande dependência econômica e financeira da China, menos imperial, talvez, mas igualmente ambiciosa em suas pretensões econômicas unilaterais.

O relacionamento bilateral Brasil-EUA padeceu, durante muito tempo, de uma “crosta” feita de declarações contínuas de interesse recíproco de parte e outra, mas de um afastamento também contínuo ao longo do tempo, bem mais alimentado pelo Brasil do que pelos EUA (que de fato teriam uma “não-percepção do Brasil”). Existiria, talvez, um receio do Brasil de que uma aproximação com os EUA se faria em detrimento dos interesses do País, daí as tendências a querer ganhar tempo, achando que mais tarde estaríamos mais fortes e mais preparados. Isso obviamente nunca ocorreu, como tampouco ocorrerá em relação à China. Enquanto o Brasil não se lançar decisivamente nos circuitos sempre revoltos da globalização produtiva e da interdependência capitalista, ele nunca estará preparado, psicologicamente, para inserir-se de maneira autônoma nos grandes circuitos competitivos da economia global.

Os conflitos comerciais bilaterais ou multilaterais com os EUA e mesmo, dentro de certos limites, certa oposição de interesses estratégicos são, nessa visão, compatíveis com um bom nível geral de relacionamento político-diplomático, quando não com um entendimento no plano estratégico, ainda que essa vertente seja por muitos considerada prematura (pelas mesmas razões, percebidas e reais, de “assimetria estrutural”). Em todo caso, os dois países parecem ter dado início a um estilo de relações desprovido de a-prioris ou de condicionalidades estranhas ao próprio contexto bilateral e regional. O terreno foi semeado nesse sentido ao longo das últimas décadas de reformas econômicas no Brasil e pode estar sendo preparado, na atual fase de importantes ajustes econômicos por parte do Brasil, para uma nova etapa de colheitas políticas e diplomáticas que contribuirão provavelmente de maneira decisiva para a definição de uma nova relação dos EUA com o Brasil e com a América Latina.

O desafio da China nos planos global, regional e bilateral, não deixa de colocar novos elementos na agenda bilateral Brasil-EUA, e pode estar criando uma realidade inédita no hemisfério, ainda a ser confirmada pelos fatos e processos nos próximos anos: a de que os dois maiores países do continente precisam manter um nível adequado de entendimento em torno de questões relevantes nas áreas da segurança estratégica, da estabilidade democrática e do desenvolvimento econômico e social, inclusive para superar décadas, senão séculos, de divisão entre as duas partes do hemisfério. Se bem sucedido esse cenário, ele talvez nos leve de volta ao tipo de relação imaginado no começo do século XX por um chanceler tão distinguido quanto Rio Branco, que via na relação dos dois países uma das chaves para uma projeção estratégica favorável do Brasil na América do Sul.

Do ponto de vista da administração americana, por sua vez, a seleção de um “parceiro privilegiado” no continente não é matéria fácil, nos planos diplomático ou militar, e provavelmente ela não se fará de modo explícito, nem acarretará instrumentos exclusivos de coordenação político-militar. Mas, o fato de o governo brasileiro estar sendo ocupado por lideranças extraídas dos mesmos grupos que, no passado, relutavam na adesão a certas teses econômicas ou políticas de extração “liberal” – para não dizer que se opunham claramente ao “projeto americano” para a região – e o fato de que essas mesmas lideranças demonstrem, agora, maior dose de pragmatismo na condução dos negócios econômicos e da agenda diplomática, podem eventualmente significar que o Brasil passa a simbolizar, aos olhos dos EUA, a superação de velhos comportamentos atávicos na região, tendentes a equiparar anti-imperialismo e antiamericanismo ou a adesão a regras responsáveis de gestão governamental a uma suposta submissão a ditames econômicos emanados de um fantasmagórico “Consenso de Washington”.

Pode ser que essas ingenuidades esquerdistas e essas bobagens econômicas estejam sendo, finalmente, superadas em favor de uma agenda bilateral mais realista do que aquela imaginada pelos ideólogos anacrônicos do velho partido neobolchevique que pretendia “revolucionar” a região contra o império, e que ela passe a estar totalmente focada em resultados concretos. Pode ser: como no famoso teste britânico do pudim, a resposta só pode vir da prática que resulte na sua efetivação. Vamos esperar para ver…

Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).

A corrupcao da linguagem por quem voces ja sabem - Marli Goncalves

Nunca antes virou uma frase antologica, mas no caso da dupla que nos governou e governa a qualificação é obrigatória. Pela primeira (e unica) vez na nossa história linguística, que sempre foi muito pobre, uma mulher alegadamente sapiens, mas que não passa nos mais elementares testes de lógica e de percepção da realidade (houve erro de programação, com certeza), envergonha o país e o mundo com suas bizarrices sem sentido.
Acho que todo mundo já riu o bastante. Mas talvez seja o caso de chorar, pois a nossa educação, já por si periclitante, acaba de sofrer mais um rude golpe.
Paulo Roberto de Almeida

PALAVRAS, SENTIDOS E VERSÕES. OU PIADAS
MARLI GONÇALVES
27/06/2015

Semana animada essa. Algumas palavras entraram definitivamente no vocabulário usual, mutantes, passaram para a história, inclusive a política, nos fizeram rir para não chorar. Ganharam novos sentidos. Algumas palavras são realmente formidáveis, mas eu nunca tinha pensado, sei lá, que uma mandioca renderia tanto. Muito menos que o latim pudesse ser traduzido ao bel-prazer. Tem de ver isso aí; senão sabe-se lá onde vamos parar se continuar essa toada, e vergonha não é uma boa palavra para um país.

Meu primeiro contato e amor para com as palavras veio da leitura de Monteiro Lobato, especialmente o sensacional "Emília no País da Gramática". Para mim, dali em diante elas ganharam vida, perninhas, sentimentos, e até contradições. Lembro bem do livro e das prisões onde se encontravam encarcerados os vícios de linguagem, os cacófatos, os pleonasmos, os barbarismos, os solecismos, os hiatos, os arcaísmos, gerundismos e plebeísmos, entre outros. Caras feias e agressivas prontas a atacar frases e pensamentos.

Agora todos - a mim parece - foram soltos e estão aí pelas ruas aterrorizando. Não bastasse estão recrutando as palavras para nos infernizar. Sequestrando outras, para nos entristecer; como "obrigado" que, para voltar à voga, creio que teremos de pagar vultosa recompensa. Outras estão sendo torturadas, principalmente quanto tentam andar juntas, como liberdade e individual. E observem que estas são bem modernas; uma, um substantivo feminino; outra, um adjetivo ou substantivo de dois gêneros, uma coisa até transexual como hoje está tão em voga.

Esses criminosinhos da linguagem e das palavras se criaram e conseguiram uma aliada e tanto na nossa presidente que anda se esmerando ao esgrimi-las em improviso nos púlpitos da vida. Foi assim que a mandioca virou a redenção nacional, base da civilização, e a bola indígena, tosca, o brinquedo que nos faz humanos e, mais, criou-se uma surpreendente e nova variação da espécie, de uma Era nova, de evolução biológica, que ainda não nos havia sido apresentada. A mulher sapiens. Isso é que é feminismo: nada de homo para lá e para cá.

Por que não a mulieres sapiens?

- Pensou, tascou.

Mas aí é que a coisa foi pro brejo total. Vocês vão entender por que e peço que sejam perspicazes para que eu não tenha de gastar muitas palavras para explicar. Sabem o que diferencia o homo sapiens, o humano sábio ao pé da letra, e em toda a sua abrangência inacreditavelmente desconhecida da nossa presidente? Uns dez ítens. Vou citar alguns, mais significativos, para vocês irem ticando (e lembrem que eu estou daqui dando uma piscadela): postura ereta, cérebros bem desenvolvidos, destreza manual, fala articulada, aculturação e raciocínios complexos, olhos em foco, e a capacidade de corar.

Ela tinha mesmo de inventar outra espécie, não?

Mas quero voltar a falar apenas das palavras, essas preciosas. Que, quando lançadas, não voltam. Tantas podem ser cruzadas, de amor, exatas, engraçadas. As de gratidão andam sumidas, assim como as de gentileza e reconhecimento. As que trazem elogios estão sendo vilipendiadas, principalmente nas redes sociais. Vide "linda". Nosso senso estético massacrado, porque se aquilo é lindo, imagine o feio! E o que a gente acha lindo o que é mesmo, o que é....? Santas palavras hipócritas que lemos, ouvimos.

Mas, por outro lado, também nas redes encontramos as palavras de apoio, de conforto, consolo, de fé e de ânimo. As palavras amigas, amorosas e inspiradoras.

Os palavrões jorram também de várias fontes, a favor e contra, principalmente quando a guerra é político-ideológica, como a que vivemos nesse momento. Com gente usando a palavra para defender o indefensável. Palavra de honra que às vezes nem acredito que estou ouvindo algumas delas, sobre o poder, mas até o poder da palavra tem limites.

Principalmente quando são engraçadas as palavras que sabemos ditas por quem devia ter mais palavra depois de eleita com palavras falsas, cantadas, lançadas, quebradas e depois reveladas. Melhor mesmo que sejam assim só engraçadas como as desta semana.

Mas os maiores problemas que vejo estão agora claramente localizados nas palavras do dia, as de fé. Principalmente como estão agora sendo pregadas e empregadas de forma absurda em leis e em lugares absolutamente inadequados e onde tem apenas uma, uma só que deveria ser a mais respeitada.

A palavra laico.

São Paulo, 2015

Marli Gonçalves é jornalista -- - - A palavra-chave do momento é serenidade. Uma expressiva palavra de mãe, daquelas que a gente não questiona. Segue. Obedece. No mínimo, para saber e aprender no que vai dar. Palavra final.
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Petrolao elevado a vigesima potencia: a roubalheira petralha denunciada - Veja

Teor integral da matéria da revista Veja sobre a delação premiada de um dos chefes das empresas extorquidas pelo PT, que resolveu contar tudo, com documentos em apoio.
Paulo Roberto de Almeida


À sombra do empreiteiro
 Revista Veja, 27 de junho de 2015

Ricardo Pessoa revela detalhes do esquema de corrupção da Petrobras e entrega a lista dos beneficiados com o dinheiro desviado: as campanhas eleitorais de Dilma e Lula, deputados, senadores e ministros do governo

A LISTA DOS ACUSADOS


Campanha de Dilma em 2014 7,5 milhões de reais
Campanha de Lula em 2006 2,4 milhões de reais
Ministro Edinho Silva (PT) *

Ministro Aloizio Mercadante (PT) 250 000 reais

Senador Fernando Collor (PTB) 20 milhões de reais
Senador Edison Lobão (PMDB) 1 milhão de reais

Senador Gim ArgelIo (PTB) 5 milhões de reais
Senador Ciro Nogueira (PP) 2 milhões de reais

Senador Aloysio Nunes (PSDB) 200 000 reais

Senador Benedito de Lira (PP) 400 000 reais

Deputado José de Fillipi (PT) 750 000 reais

Deputado Arthur Lira (PP) 1 milhão de reais

Deputado Júlio Delgado (PSB) 150 000 reais

Deputado Dudu da Fonte (PP) 300 000 reais

Prefeito Fernando Haddad (PT) 2,6 milhões de reais
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto 15 milhões de reais
O ex-ministro José Dirceu 3,2 milhões de reais
O ex-presidente da Transpetro Sergio Machado 1 milhão de reais
*COMO TESOUREIRO, ARRECADOU DINHEIRO PARA A CAMPANHA DE DILMA DE 2014

Achaque na campanha 2014
Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, tem contratos bilionários com o governo. Ele é apontado como o chefe do clube dos empreiteiros investigados pela Operação Lava-Jato e contratante das palestras do ex-presidente Lula. Desde a sua prisão, em novembro passado, ele ameaça contar em detalhes como petistas e governistas graúdos se beneficiaram do maior esquema de corrupção da história brasileira. Nos últimos meses, Pessoa pressionou os detentores do poder — por meio de bilhetes escritos a mão — a ajudá-lo a sair da cadeia e livrá-lo de uma condenação pesada. Ao mesmo tempo, negociava com as autoridades um acordo de delação premiada, em que se oferecia para revelar o muito que testemunhou graças ao acesso privilegiado aos gabinetes de Brasília. O Ministério Público queria extrair dele todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos 6 bilhões de reais dos cofres públicos. Essa negociação arrastada e difícil acabou na última semana, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de colaboração firmado entre o empresário e os procuradores.

VEJA teve acesso aos termos desse acerto. O conteúdo é demolidor. As confissões do empreiteiro deram origem a quarenta anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo. Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas. Ele disse que usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de dezoito figuras coroadas da República. Foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro às campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu, uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas pessoais. A UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa caminhada foi pavimentada com propinas. Altas somas. O empreiteiro delatou ao STF essas somas que entregou aos donos do poder, segundo ele, mediante achaques e chantagens. Relatou que teve três encontros em 2014 com Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma e atual ministro de Comunicação Social. Nos encontros, disse, ironicamente, ter sido abordado "de maneira bastante elegante". Contou ele: "O Edinho me disse: "Você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando"". A abordagem elegante lhe custou 10 milhões de reais, dados à campanha de Dilma. Um servidor do Palácio chamado Manoel de Araújo Sobrinho acertou os detalhes dos pagamentos diretamente com Pessoa. Documentos entregues pelo empresário mostram que foram feitos dois depósitos de 2,5 milhões de reais cada um, em 5 e 30 de agosto de 2014. Depois dos pagamentos, Sobrinho acertou com o empreiteiro o repasse de outros 5 milhões para o caixa eleitoral de Dilma. Pessoa entregou metade do valor pedido e se comprometeu a pagar a parcela restante depois das eleições. Só não cumpriu o prometido porque foi preso antes. Doar para campanhas não é crime, desde que a operação seja declarada e os recursos tenham origem lícita. Foi assim? Pessoa deixou claro que não. "O senhor tem obras no governo e na Petrobras. O senhor quer continuar tendo?", disse-lhe Edinho Silva. Fica a indagação para a Justiça: ameaçar doadores de campanha é lícito?

Senha: tulipa?...Contrasenha: caneco!

A campanha de Lula à reeleição recebeu dinheiro sujo das empreiteiras envolvidas no petrolão
Em 2006, Lula conquistou um novo mandato ao derrotar, em segundo turno, o tucano Geraldo Alckmin. Com a vitória, ele adotou como prática zombar dos efeitos eleitorais do mensalão, descoberto um ano antes e até então o maior esquema de corrupção política da história do país. As denúncias de compra de apoio parlamentar, dizia o líder petista, não haviam sido capazes de conter o projeto de poder do partido. Também pudera. Sem que ninguém soubesse, na campanha à reeleição, Lula contou com a ajuda do petrolão e recebeu uma bolada desviada dos cofres da Petrobras. Segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa, a UTC contribuiu com 2,4 milhões de reais em dinheiro vivo para a campanha à reeleição de Lula, numa operação combinada diretamente com José de Filippi Júnior, que era o tesoureiro da campanha e hoje trabalha como secretário de Saúde da cidade de São Paulo. Para viabilizar a entrega do dinheiro e manter a ilegalidade em segredo, o empreiteiro amigo de Lula e o tesoureiro do presidente-candidato montaram uma operação clandestina digna dos enredos rocambolescos de filmes sobre a máfia.
Pessoa contou aos procuradores que ele, o executivo da UTC Walmir Pinheiro e um emissário da confiança de ambos levavam pessoalmente os pacotes de dinheiro ao comitê da campanha presidencial de Lula. Para não chamar a atenção de outros petistas que trabalhavam no local, a entrega da encomenda era precedida de uma troca de senhas entre o pagador e o beneficiário. Ao chegar com a grana, Pessoa dizia "tulipa". Se ele ouvia como resposta a palavra "caneco", seguia até a sala de Filippi Júnior. A escolha da senha e da contrassenha foi feita por Pessoa com emissários do tesoureiro da campanha de Lula numa choperia da Zona Sul de São Paulo. Antes de chegar ao comitê eleitoral, a verba desviada da Petrobras percorria um longo caminho. Os valores saíam de uma conta na Suíça do consórcio Quip, formado pelas empresas UTC, lesa, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que mantém contratos milionários com a Petrobras para a construção das plataformas P-53, P-55 e P-63. Em nome do consórcio, a empresa suíça Quadrix enviava o dinheiro ao Brasil. A Quadrix também transferiu milhares de dólares para contas de operadores ligados ao PT.
Pessoa entregou aos investigadores as planilhas com todas as movimentações realizadas na Suíça. Os pagamentos via caixa dois são a primeira prova de que o ex-presidente Lula foi beneficiado diretamente pelo petrolão. Até agora, as autoridades tinham informações sobre as relações lucrativas do petista com grandes empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, mas nada comparável ao testemunho e aos dados apresentados pelo dono da UTC. Depois de deixar o governo, Lula foi contratado como palestrante por grandes empresas brasileiras. Documentos obtidos pela Polícia Federal mostram que ele recebeu cerca de 3,5 milhões de reais da Camargo Corrêa. Parte desse dinheiro foi contabilizada pela construtora como "doações" e "bônus eleitorais" pagos ao Instituto Lula. Conforme revelado por VEJA, a OAS também fez uma série de favores pessoais ao ex-presidente, incluindo a reforma e a construção de imóveis usados pela família dele. UTC, Camargo Corrêa e OAS estão juntas nessa parceria. De diferente entre elas, só as variações dos apelidos, das senhas e das contrassenhas. "Brahma", "tulipa" e "caneco", porém, convergem para um mesmo ponto.

O homem do "pixuleco"
Homem do dinheiro, João Vaccari Neto é citado em diferentes trechos da delação de Ricardo Pessoa. O tesoureiro do PT aparece cobrando propina, recebendo propina, tratando sobre propina. O empreiteiro contou que conheceu Vaccari durante o primeiro governo Lula, mas foi só a partir de 2007 que a relação entre os dois se intensificou. Por orientação do então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, um dos presos da Operação Lava-Jato, Pessoa passou a tratar das questões financeiras da quadrilha diretamente com o tesoureiro. A simbiose entre corrupto e corruptor era perfeita, a ponto de o dono da UTC em suas declarações destacar o comportamento diligente do tesoureiro: "Bastava a empresa assinar um novo contrato com a Petrobras que o Vaccari aparecia para lembrar: "Como fica o nosso entendimento político?"". A expressão "entendimento político", é óbvio, significava pagamento de propina no dialeto da quadrilha. Aliás, propina, não. Vaccari, ao que parece, não gostava dessa palavra.
Como eram dezenas de contratos e centenas as liberações de dinheiro, corrupto e corruptor se encontravam regularmente para os tais "entendimentos políticos". João Vaccari era conhecido pelos comparsas como Moch, uma referência à sua inseparável mochila preta. Ele se tornou um assíduo freqüentador da sede da UTC em São Paulo. Segundo os registros da própria empreiteira, para não chamar atenção, o tesoureiro buscava "as comissões" na empresa sempre nos sábados pela manhã. Ele chegava com seu Santa Fé prata, pegava o elevador direto para a sala de Ricardo Pessoa, no 9Q andar do prédio, falava amenidades por alguns minutos e depois partia para o que interessava. Para se proteger de microfones, rabiscava os valores e os porcentuais numa folha de papel e os mostrava ao interlocutor. O tesoureiro não gostava de mencionar a palavra propina, suborno, dinheiro ou algo que o valha. Por pudor, vergonha ou por mero despiste, ele buscava o "pixuleco". Assim, a reunião terminava com a mochila do tesoureiro cheia de "pixulecos" de 50 e 100 reais. Mas, antes de sair, um último cuidado, segundo narrou Ricardo Pessoa: "Vaccari picotava a anotação e distribuía os pedaços em lixos diferentes". Foi tudo filmado.

Propina de 15 milhões
Foi quanto a UTC pagou ao PT por um único contrato na Petrobras
Uma parte da delação premiada de Ricardo Pessoa se dedica exclusivamente ao sistema de arrecadação de propina montado por João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba sob a acusação de operar a coleta do "pixuleco" que as empreiteiras do petrolão reservavam ao partido do governo. O empreiteiro conta que só por uma única obra da Petrobras, a construção do Comperj, no Rio de Janeiro, a UTC destinou nada menos que 15 milhões de reais ao caixa clandestino do PT. Pessoa diz que o pagamento da propina era condição para que a empreiteira fosse escolhida para tocar o empreendimento. O Comperj, um complexo petroquímico projetado para ampliar a capacidade de refino da Petrobras, começou a ser construído em 2006. Foi orçado inicialmente em 6,1 bilhões de dólares, mas a conta já passa de 30 bilhões — e não há nem sinal de quando vai funcionar. O pacote de obras foi dividido. A UTC de Ricardo Pessoa ficou com o maior contrato, de 11,5 bilhões de reais, em consórcio com a Odebrecht e com a japonesa Toyo.
Pessoa contou também aos investigadores que o pagamento das "comissões" ficou a cargo dos integrantes do consórcio. A UTC foi encarregada de pagar ao PT. A Odebrecht, segundo ele, ficou responsável pelo suborno aos políticos do Partido Progressista (PP), representado nas negociações pelo então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e pelo doleiro Alberto Youssef. Os pagamentos de propina ao PT não se limitavam ao período eleitoral. Eram feitos, segundo o empreiteiro, "de modo contínuo", seja por meio de doações oficiais, seja por repasses de dinheiro vivo. Nessa segunda modalidade, a transação era pilotada diretamente com Vaccari nos encontros realizados na sede da UTC e retratados na reportagem anterior. Nos documentos que anexou ao processo, Ricardo Pessoa incluiu vídeos das câmeras de segurança da empresa que colocam o tesoureiro petista na cena do crime.
As planilhas em poder do Ministério Público demonstram que os repasses eram cuidadosamente contabilizados pelo empreiteiro, como se fosse uma conta-corrente. Havia a coluna dos "créditos" que o tesoureiro recebia como propina das obras da Petrobras e a dos "débitos" com as deduções de pagamentos solicitados por Vaccari ou pelo PT, como as "consultorias" fajutas do ex-ministro José Dirceu. Sob o título "JVN-PT" (João Vaccari Neto-PT), o documento traz valores pagos entre 2008 e 2013. Pessoa também informou os números dos telefones celulares a que Vaccari costumava atender — e listou encontros em hotéis de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde se reuniu com o petista para tratar do rateio da propina. "Nas principais obras da Petrobras existia um arranjo entre empresas concorrentes, que funcionava por intermédio de um pacto de não agressão e de fixação de prioridades na obra." O empreiteiro disse que pagava a propina ao PT para "evitar dificuldades no futuro e para manter a engrenagem funcionando".

5 milhões: O preço de uma CPI
Foi quanto Gim Argello cobrou para "matar" a CPI da Petrobras em 2014
Quando parlamentares se empenharam em criar uma CPI para investigar denúncias de corrupção na Petrobras, em meados do ano passado, todos sabiam o potencial de destruição que o caso tinha. Instalada no Senado logo depois das primeiras revelações da Operação Lava-Jato, a comissão foi encerrada sem apurar absolutamente nada. E não foi por incompetência, negligência nem omissão. Sabe-se agora que congressistas foram pagos para fechar os olhos diante das evidências de corrupção. Enquanto posavam perante as câmeras como defensores do contribuinte, nos bastidores os principais integrantes da CPI extorquiam os empresários investigados pela Polícia Federal. 
A tática é antiga: os senadores anunciam a intenção de convocar para depor os empreiteiros envolvidos no escândalo e depois negociam a não convocação. Ricardo Pessoa corria o risco de ser intimado a depor, e ele mesmo se encarregou de contornar o problema. Mas custou caro. Uma bolada de 5 milhões de reais.
O pagamento, segundo ele, foi negociado pelo dono da UTC diretamente com o então senador Gim Argello, líder do PTB e vice-presidente da comissão. O empresário contou aos investigadores que as tratativas ocorreram por meio do senador porque ele exercia "forte influência" sobre o presidente da CPI, Vital do Rêgo, o atual ministro do Tribunal de Contas da União, e sobre o relator da comissão, o deputado Marco Maia (PT-RS). Na "conversa" com Argello em Brasília, Ricardo Pessoa foi orientado a pagar os 5 milhões de reais em forma de "doações oficiais" da UTC. O empreiteiro entregou às autoridades uma lista dos partidos que foram usados para receber o dinheiro e o nome do operador do esquema, um lobista chamado Paulo Roxo. Além de Gim Argello, Pessoa cita o nome do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que, segundo ele, ganhou 150 000 reais na mesma operação.

Consultoria na Papuda
A consultoria que não era consultoria
Depois de cair em desgraça durante o escândalo do mensalão, em 2005, o ex-ministro José Dirceu começou a atuar como lobista nos bastidores do governo. Como a Operação Lava-Jato já mostrou, as "consultorias" prestadas por Dirceu a empreiteiras e outras empresas com interesses na máquina pública renderam ao mensaleiro uma fortuna de 39 milhões de reais. 
Quando essa informação emergiu, Dirceu defendeu-se dizendo que havia realizado um trabalho legítimo de consultoria. As suspeitas de que contratos desses serviços seriam, na verdade, simulacros para esconder propina das obras da Petrobras eram refutadas com veemência pelos advogados do ex-ministro, que, temendo voltar à cadeia, e para provar que agia dentro da legalidade, se antecipou e encaminhou à Justiça cópias de todos os contratos assinados e a relação de seus clientes. Embora suspeito, parecia legal.
 A delação de Ricardo Pessoa, no entanto, mostra o que realmente fazia o consultor Dirceu. Ou melhor, o que não fazia. O dono da UTC contou aos investigadores que foi procurado pelo ex-ministro em meados de 2012. Dirceu, que exercia forte influência sobre os operadores petistas da Petrobras — Renato Duque, por exemplo, o diretor de Serviços que está preso, foi colocado no cargo por Dirceu —, ofereceu ao empreiteiro os seus serviços de consultor na prospecção de obras para a UTC junto ao governo do Peru. Ciente de que negar dinheiro a Dirceu poderia ser o começo de graves problemas nos contratos da Petrobras, o empreiteiro não teve dúvida. Fechou um contrato de 1,4 milhão de reais com o mensaleiro. Trabalho? Promessas de abrir portas para a empreiteira em países da América Latina. Nada aconteceu.
Um ano depois, porém, a UTC renovou o contrato de consultoria por mais 906 000 reais. No ano seguinte, ainda sem ver nenhum resultado no trabalho do consultor, Ricardo Pessoa assinou um segundo aditivo, dessa vez no valor de 840000 reais. E eis que surge a prova de que não havia mesmo serviço algum a ser prestado. O empreiteiro contou aos investigadores que, em plena vigência do primeiro aditivo, José Dirceu foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Recolhido ao Complexo da Papuda, em Brasília, o ex-ministro não teria mais como prospectar negócios para quem quer que fosse, muito menos em outro país. 
Mas Dirceu era Dirceu. A pedido do próprio mensaleiro, que alegava passar por dificuldades financeiras, a UTC continuou pagando a ele os gordos honorários. O dinheiro era entregue ao irmão, Luiz Eduardo, e era debitado diretamente da conta-corrente de propina que a UTC administrava por intermédio de João Vaccari Neto. Aliás, Ricardo Pessoa revelou que acertou a mesada de José Dirceu com o tesoureiro do PT, que autorizou o repasse de parte da propina diretamente ao mensaleiro. Assim como nos demais casos, Pessoa entregou ao Ministério Público toda a contabilidade do dinheiro pago ao ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil do governo Lula. Também dissecou os pagamentos detalhados do PT que, por ordem de Vaccari, foram canalizados para José Dirceu com o objetivo de quitar despesas pessoais e pagar aos seus advogados enquanto estava na cadeia.

Conexão no TCU
A UTC pagava por informações privilegiadas e acesso ao Tribunal de Contas da União
Além de pagar propina para obter contratos no governo federal, o empreiteiro Ricardo Pessoa mantinha uma rede de informantes em órgãos considerados estratégicos pela UTC. Um deles era o Tribunal de Contas da União (TCU). Na corte, que tem por atribuição fiscalizar o andamento das obras, identificar sinais de superfaturamento e punir eventuais desvios, o contato do empreiteiro era Tiago Cedraz, um jovem advogado de Brasília cujo escritório virou grife entre as bancas da capital por causa do sobrenome que carrega. Tiago é filho do atual presidente do TCU, Aroldo Cedraz. Segundo Pessoa, o advogado tinha acesso privilegiado a informações valiosas de interesse da UTC. O empreiteiro contou aos procuradores que, desde junho de 2012, o jovem Cedraz atuava como uma espécie de espião da UTC no TCU. Sem nenhum contrato ou registro em notas fiscais, Pessoa diz que pagava mensalmente a Tiago 50 000 reais em dinheiro vivo para obter o que ele chama de "informações de inteligência". O objetivo do empreiteiro era antecipar-se às ações de fiscalização dos auditores do TCU e, assim, evitar problemas.
O advogado também alertava o empreiteiro quando um processo de interesse da UTC estava prestes a ser julgado pelos ministros — e atuava para solucionar a pendenga. Segundo Pessoa, Tiago dizia que tinha acesso irrestrito ao tribunal, inclusive na área técnica. "Tiago não chegava a antecipar o resultado do julgamento, mas, diante da notícia de um possível resultado negativo, avisava "tem de tirar de pauta, se não vai dar problema" ", contou o empreiteiro. Ao ser perguntado sobre o porquê de ter feito os pagamentos, confessou, sem meias palavras: "contratar um tráfico de influência no TCU". Além dos pagamentos mensais, Tiago Cedraz era remunerado quando havia uma questão mais grave a ser solucionada. Para fazer lobby em defesa da UTC num processo sobre a construção da usina nuclear de Angra 3, recebeu um extra de 1 milhão de reais, segundo Ricardo Pessoa. O pagamento foi feito em espécie, em 23 de janeiro do ano passado. Uma parte do valor foi entregue em Brasília e a outra, retirada na sede da UTC. Os repasses a ele constam numa planilha intitulada "Tiago BSB", com 25 pagamentos feitos ao filho do ministro do TCU. Pessoa contou que, por vezes, o tesoureiro do partido Solidariedade, Luciano Araújo, retirava valores em nome de Tiago Cedraz. A VEJA, ele afirmou que nunca patrocinou nenhum caso da UTC no TCU e disse que está "à disposição das autoridades para fornecer as informações necessárias à correta compreensão dos fatos".

O senador de 20 milhões
Foi quanto o grupo de Fernando Collor embolsou num único negócio
Em troca de manter o seu apoio ao governo Lula, o senador Fernando Collor (PTB-AL) conseguiu emplacar o engenheiro José Zonis na diretoria de Operações e Logística da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Um excelente negócio — principalmente para o bolso do próprio senador. Depois da posse do diretor, Ricardo Pessoa foi procurado pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. Ex-ministro de Collor e amigo pessoal do ex-presidente, "PP", como é conhecido, falou abertamente de seus planos. Disse que a BR Distribuidora estava no raio de influência dele e ofereceu à UTC um pacote de 650 milhões de reais em contratos com a estatal. Em contrapartida, queria uma "comissão". Para convencer o empreiteiro, deixou claro que seu fiador no negócio era o amigo "Fernando" e, para provar que não era blefe, levou Ricardo Pessoa até José Zonis para uma primeira aproximação. O dono da UTC contou aos investigadores que, após a reunião com o diretor, a empreiteira aceitou o acordo, ganhou os contratos e pagou a Pedro Paulo e a Fernando Collor nada menos que 20 milhões de reais.
Questionado sobre o suborno, Pessoa esclareceu que seguira a tabela de corrupção da Petrobras durante o governo Lula — o padrão de 3% sobre o montante do contrato. O empreiteiro entregou ao Ministério Público as planilhas com a data dos desembolsos e narrou detalhes de como o dinheiro foi repassado a Pedro Paulo Leoni Ramos. Disse que só aceitara fechar o negócio, inclusive adiantando parte do suborno, por saber que o senador alagoano estava por trás das tratativas. 
O ex-presidente da República é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal desde o início da Operação Lava-Jato. Em abril do ano passado, os investigadores apreenderam no escritório do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, comprovantes de depósitos bancários na conta pessoal de Fernando Collor — num total de 50 000 reais. Quantia pequena se comparada aos volumes de propina movimentados pelos principais corruptos identificados até agora. Era apenas o começo. 
Em delação premiada, Rafael Ângulo, outro envolvido no escândalo, disse às autoridades que, em 2012, entregou outros 60 000 reais em dinheiro a Collor num apartamento em São Paulo. Mesmo assim parecia um suborno ínfimo para alguém com a biografia do ex-presidente. Com o depoimento de Ricardo Pessoa, fica evidente que tanto os depósitos em conta-corrente como os valores entregues em domicílio não passavam de gorjeta. Organizado, o empreiteiro anotou numa tabela as propinas repassadas ao grupo do senador. Os pagamentos começaram em dezembro de 2010 e se estenderam até julho de 2012, quando José Zonis se desentendeu com os padrinhos e acabou deixando a Petrobras. Para garantir os contratos, o empreiteiro deu um sinal de 2 milhões de reais e mais vinte parcelas de 900000. Total: 20 milhões. O típico mensalão.

A turma do caixa dois
A UTC, como praticamente todas as grandes empreiteiras, financiou muitos políticos e partidos. Apenas na campanha de 2014, a empresa distribuiu quase 55 milhões de reais em doações eleitorais, incluindo aquelas que camuflavam o dinheiro desviado dos contratos superfaturados da Petrobras. Ao seu acordo de delação, Ricardo Pessoa anexou uma lista com todas as contribuições da empreiteira — as legais, as aparentemente legais e as completamente ilegais. A relação dos clientes dessa última categoria compromete figuras importantes da República.  
Segundo o empreiteiro, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, recebeu 500 000 reais para a sua campanha ao governo de São Paulo, em 2010
Desse total, 250000 reais foram repassados ao ministro em dinheiro vivo. Mercadante nega: "Desconheço qualquer ação não contabilizada para a minha campanha". O caixa dois do empreiteiro envolve também o ex-tesoureiro das campanhas de Lula e de Dilma, o atual secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo, José de Filippi Júnior. Ele recebeu 150 000 reais em doação oficial da UTC e outros 750 000 reais por fora para a sua campanha a deputado, em 2010. Para não chamar atenção, segundo Ricardo Pessoa, Filippi mandava um taxista de sua confiança buscar os pacotes de dinheiro na sede da empresa. 
O caixa dois do tesoureiro está registrado na planilha "Filippi Diadema" entregue pelo empreiteiro aos investigadores da Lava-Jato.
A lista dos beneficiários é extensa e envolve políticos de vários partidos. O senador Aloysio Nunes Ferreira recebeu 300 000 reais oficialmente e outros 200 000 reais em dinheiro. Constam ainda o senador Ciro Nogueira (2 milhões), o senador Benedito de Lira (400 000), o deputado Artur Lira (1 milhão) e o mensaleiro Valdemar Costa Neto (200000). Na campanha de 2012, quem recebeu recursos de maneira irregular foi o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Pessoa contou aos investigadores que foi procurado por João Vaccari, que pediu a ele que pagasse uma dívida de 2,6 milhões de reais do PT com uma gráfica. O gasto foi descontado da conta-corrente clandestina que o PT deixava sob a administração da UTC. 
Pessoa também revelou que pagava para não ter problemas. O senador Edison Lobão recebeu 1 milhão de reais para não atrapalhar as pretensões da empresa nas obras de Angra 3. Já o ex-senador Sergio Machado recebeu 1 milhão de reais como retribuição pelas gentilezas durante o período em que presidiu a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras. As operações políticas, quase sempre, eram bem-sucedidas. A exceção foi o deputado Dudu da Fonte. Líder do PP na Câmara, ele recebeu 300000 reais da UTC em troca de indicação da empreiteira para uma obra no Paraná. Ricardo Pessoa pagou, mas disse que, nesse caso, levou um tremendo "passa-moleque" do deputado. Todos os citados negam ter recebido dinheiro de caixa dois.