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domingo, 28 de junho de 2015

Petrolao elevado a vigesima potencia: a roubalheira petralha denunciada - Veja

Teor integral da matéria da revista Veja sobre a delação premiada de um dos chefes das empresas extorquidas pelo PT, que resolveu contar tudo, com documentos em apoio.
Paulo Roberto de Almeida


À sombra do empreiteiro
 Revista Veja, 27 de junho de 2015

Ricardo Pessoa revela detalhes do esquema de corrupção da Petrobras e entrega a lista dos beneficiados com o dinheiro desviado: as campanhas eleitorais de Dilma e Lula, deputados, senadores e ministros do governo

A LISTA DOS ACUSADOS


Campanha de Dilma em 2014 7,5 milhões de reais
Campanha de Lula em 2006 2,4 milhões de reais
Ministro Edinho Silva (PT) *

Ministro Aloizio Mercadante (PT) 250 000 reais

Senador Fernando Collor (PTB) 20 milhões de reais
Senador Edison Lobão (PMDB) 1 milhão de reais

Senador Gim ArgelIo (PTB) 5 milhões de reais
Senador Ciro Nogueira (PP) 2 milhões de reais

Senador Aloysio Nunes (PSDB) 200 000 reais

Senador Benedito de Lira (PP) 400 000 reais

Deputado José de Fillipi (PT) 750 000 reais

Deputado Arthur Lira (PP) 1 milhão de reais

Deputado Júlio Delgado (PSB) 150 000 reais

Deputado Dudu da Fonte (PP) 300 000 reais

Prefeito Fernando Haddad (PT) 2,6 milhões de reais
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto 15 milhões de reais
O ex-ministro José Dirceu 3,2 milhões de reais
O ex-presidente da Transpetro Sergio Machado 1 milhão de reais
*COMO TESOUREIRO, ARRECADOU DINHEIRO PARA A CAMPANHA DE DILMA DE 2014

Achaque na campanha 2014
Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, tem contratos bilionários com o governo. Ele é apontado como o chefe do clube dos empreiteiros investigados pela Operação Lava-Jato e contratante das palestras do ex-presidente Lula. Desde a sua prisão, em novembro passado, ele ameaça contar em detalhes como petistas e governistas graúdos se beneficiaram do maior esquema de corrupção da história brasileira. Nos últimos meses, Pessoa pressionou os detentores do poder — por meio de bilhetes escritos a mão — a ajudá-lo a sair da cadeia e livrá-lo de uma condenação pesada. Ao mesmo tempo, negociava com as autoridades um acordo de delação premiada, em que se oferecia para revelar o muito que testemunhou graças ao acesso privilegiado aos gabinetes de Brasília. O Ministério Público queria extrair dele todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos 6 bilhões de reais dos cofres públicos. Essa negociação arrastada e difícil acabou na última semana, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de colaboração firmado entre o empresário e os procuradores.

VEJA teve acesso aos termos desse acerto. O conteúdo é demolidor. As confissões do empreiteiro deram origem a quarenta anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo. Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas. Ele disse que usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de dezoito figuras coroadas da República. Foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro às campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu, uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas pessoais. A UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa caminhada foi pavimentada com propinas. Altas somas. O empreiteiro delatou ao STF essas somas que entregou aos donos do poder, segundo ele, mediante achaques e chantagens. Relatou que teve três encontros em 2014 com Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma e atual ministro de Comunicação Social. Nos encontros, disse, ironicamente, ter sido abordado "de maneira bastante elegante". Contou ele: "O Edinho me disse: "Você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando"". A abordagem elegante lhe custou 10 milhões de reais, dados à campanha de Dilma. Um servidor do Palácio chamado Manoel de Araújo Sobrinho acertou os detalhes dos pagamentos diretamente com Pessoa. Documentos entregues pelo empresário mostram que foram feitos dois depósitos de 2,5 milhões de reais cada um, em 5 e 30 de agosto de 2014. Depois dos pagamentos, Sobrinho acertou com o empreiteiro o repasse de outros 5 milhões para o caixa eleitoral de Dilma. Pessoa entregou metade do valor pedido e se comprometeu a pagar a parcela restante depois das eleições. Só não cumpriu o prometido porque foi preso antes. Doar para campanhas não é crime, desde que a operação seja declarada e os recursos tenham origem lícita. Foi assim? Pessoa deixou claro que não. "O senhor tem obras no governo e na Petrobras. O senhor quer continuar tendo?", disse-lhe Edinho Silva. Fica a indagação para a Justiça: ameaçar doadores de campanha é lícito?

Senha: tulipa?...Contrasenha: caneco!

A campanha de Lula à reeleição recebeu dinheiro sujo das empreiteiras envolvidas no petrolão
Em 2006, Lula conquistou um novo mandato ao derrotar, em segundo turno, o tucano Geraldo Alckmin. Com a vitória, ele adotou como prática zombar dos efeitos eleitorais do mensalão, descoberto um ano antes e até então o maior esquema de corrupção política da história do país. As denúncias de compra de apoio parlamentar, dizia o líder petista, não haviam sido capazes de conter o projeto de poder do partido. Também pudera. Sem que ninguém soubesse, na campanha à reeleição, Lula contou com a ajuda do petrolão e recebeu uma bolada desviada dos cofres da Petrobras. Segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa, a UTC contribuiu com 2,4 milhões de reais em dinheiro vivo para a campanha à reeleição de Lula, numa operação combinada diretamente com José de Filippi Júnior, que era o tesoureiro da campanha e hoje trabalha como secretário de Saúde da cidade de São Paulo. Para viabilizar a entrega do dinheiro e manter a ilegalidade em segredo, o empreiteiro amigo de Lula e o tesoureiro do presidente-candidato montaram uma operação clandestina digna dos enredos rocambolescos de filmes sobre a máfia.
Pessoa contou aos procuradores que ele, o executivo da UTC Walmir Pinheiro e um emissário da confiança de ambos levavam pessoalmente os pacotes de dinheiro ao comitê da campanha presidencial de Lula. Para não chamar a atenção de outros petistas que trabalhavam no local, a entrega da encomenda era precedida de uma troca de senhas entre o pagador e o beneficiário. Ao chegar com a grana, Pessoa dizia "tulipa". Se ele ouvia como resposta a palavra "caneco", seguia até a sala de Filippi Júnior. A escolha da senha e da contrassenha foi feita por Pessoa com emissários do tesoureiro da campanha de Lula numa choperia da Zona Sul de São Paulo. Antes de chegar ao comitê eleitoral, a verba desviada da Petrobras percorria um longo caminho. Os valores saíam de uma conta na Suíça do consórcio Quip, formado pelas empresas UTC, lesa, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que mantém contratos milionários com a Petrobras para a construção das plataformas P-53, P-55 e P-63. Em nome do consórcio, a empresa suíça Quadrix enviava o dinheiro ao Brasil. A Quadrix também transferiu milhares de dólares para contas de operadores ligados ao PT.
Pessoa entregou aos investigadores as planilhas com todas as movimentações realizadas na Suíça. Os pagamentos via caixa dois são a primeira prova de que o ex-presidente Lula foi beneficiado diretamente pelo petrolão. Até agora, as autoridades tinham informações sobre as relações lucrativas do petista com grandes empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, mas nada comparável ao testemunho e aos dados apresentados pelo dono da UTC. Depois de deixar o governo, Lula foi contratado como palestrante por grandes empresas brasileiras. Documentos obtidos pela Polícia Federal mostram que ele recebeu cerca de 3,5 milhões de reais da Camargo Corrêa. Parte desse dinheiro foi contabilizada pela construtora como "doações" e "bônus eleitorais" pagos ao Instituto Lula. Conforme revelado por VEJA, a OAS também fez uma série de favores pessoais ao ex-presidente, incluindo a reforma e a construção de imóveis usados pela família dele. UTC, Camargo Corrêa e OAS estão juntas nessa parceria. De diferente entre elas, só as variações dos apelidos, das senhas e das contrassenhas. "Brahma", "tulipa" e "caneco", porém, convergem para um mesmo ponto.

O homem do "pixuleco"
Homem do dinheiro, João Vaccari Neto é citado em diferentes trechos da delação de Ricardo Pessoa. O tesoureiro do PT aparece cobrando propina, recebendo propina, tratando sobre propina. O empreiteiro contou que conheceu Vaccari durante o primeiro governo Lula, mas foi só a partir de 2007 que a relação entre os dois se intensificou. Por orientação do então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, um dos presos da Operação Lava-Jato, Pessoa passou a tratar das questões financeiras da quadrilha diretamente com o tesoureiro. A simbiose entre corrupto e corruptor era perfeita, a ponto de o dono da UTC em suas declarações destacar o comportamento diligente do tesoureiro: "Bastava a empresa assinar um novo contrato com a Petrobras que o Vaccari aparecia para lembrar: "Como fica o nosso entendimento político?"". A expressão "entendimento político", é óbvio, significava pagamento de propina no dialeto da quadrilha. Aliás, propina, não. Vaccari, ao que parece, não gostava dessa palavra.
Como eram dezenas de contratos e centenas as liberações de dinheiro, corrupto e corruptor se encontravam regularmente para os tais "entendimentos políticos". João Vaccari era conhecido pelos comparsas como Moch, uma referência à sua inseparável mochila preta. Ele se tornou um assíduo freqüentador da sede da UTC em São Paulo. Segundo os registros da própria empreiteira, para não chamar atenção, o tesoureiro buscava "as comissões" na empresa sempre nos sábados pela manhã. Ele chegava com seu Santa Fé prata, pegava o elevador direto para a sala de Ricardo Pessoa, no 9Q andar do prédio, falava amenidades por alguns minutos e depois partia para o que interessava. Para se proteger de microfones, rabiscava os valores e os porcentuais numa folha de papel e os mostrava ao interlocutor. O tesoureiro não gostava de mencionar a palavra propina, suborno, dinheiro ou algo que o valha. Por pudor, vergonha ou por mero despiste, ele buscava o "pixuleco". Assim, a reunião terminava com a mochila do tesoureiro cheia de "pixulecos" de 50 e 100 reais. Mas, antes de sair, um último cuidado, segundo narrou Ricardo Pessoa: "Vaccari picotava a anotação e distribuía os pedaços em lixos diferentes". Foi tudo filmado.

Propina de 15 milhões
Foi quanto a UTC pagou ao PT por um único contrato na Petrobras
Uma parte da delação premiada de Ricardo Pessoa se dedica exclusivamente ao sistema de arrecadação de propina montado por João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba sob a acusação de operar a coleta do "pixuleco" que as empreiteiras do petrolão reservavam ao partido do governo. O empreiteiro conta que só por uma única obra da Petrobras, a construção do Comperj, no Rio de Janeiro, a UTC destinou nada menos que 15 milhões de reais ao caixa clandestino do PT. Pessoa diz que o pagamento da propina era condição para que a empreiteira fosse escolhida para tocar o empreendimento. O Comperj, um complexo petroquímico projetado para ampliar a capacidade de refino da Petrobras, começou a ser construído em 2006. Foi orçado inicialmente em 6,1 bilhões de dólares, mas a conta já passa de 30 bilhões — e não há nem sinal de quando vai funcionar. O pacote de obras foi dividido. A UTC de Ricardo Pessoa ficou com o maior contrato, de 11,5 bilhões de reais, em consórcio com a Odebrecht e com a japonesa Toyo.
Pessoa contou também aos investigadores que o pagamento das "comissões" ficou a cargo dos integrantes do consórcio. A UTC foi encarregada de pagar ao PT. A Odebrecht, segundo ele, ficou responsável pelo suborno aos políticos do Partido Progressista (PP), representado nas negociações pelo então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e pelo doleiro Alberto Youssef. Os pagamentos de propina ao PT não se limitavam ao período eleitoral. Eram feitos, segundo o empreiteiro, "de modo contínuo", seja por meio de doações oficiais, seja por repasses de dinheiro vivo. Nessa segunda modalidade, a transação era pilotada diretamente com Vaccari nos encontros realizados na sede da UTC e retratados na reportagem anterior. Nos documentos que anexou ao processo, Ricardo Pessoa incluiu vídeos das câmeras de segurança da empresa que colocam o tesoureiro petista na cena do crime.
As planilhas em poder do Ministério Público demonstram que os repasses eram cuidadosamente contabilizados pelo empreiteiro, como se fosse uma conta-corrente. Havia a coluna dos "créditos" que o tesoureiro recebia como propina das obras da Petrobras e a dos "débitos" com as deduções de pagamentos solicitados por Vaccari ou pelo PT, como as "consultorias" fajutas do ex-ministro José Dirceu. Sob o título "JVN-PT" (João Vaccari Neto-PT), o documento traz valores pagos entre 2008 e 2013. Pessoa também informou os números dos telefones celulares a que Vaccari costumava atender — e listou encontros em hotéis de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde se reuniu com o petista para tratar do rateio da propina. "Nas principais obras da Petrobras existia um arranjo entre empresas concorrentes, que funcionava por intermédio de um pacto de não agressão e de fixação de prioridades na obra." O empreiteiro disse que pagava a propina ao PT para "evitar dificuldades no futuro e para manter a engrenagem funcionando".

5 milhões: O preço de uma CPI
Foi quanto Gim Argello cobrou para "matar" a CPI da Petrobras em 2014
Quando parlamentares se empenharam em criar uma CPI para investigar denúncias de corrupção na Petrobras, em meados do ano passado, todos sabiam o potencial de destruição que o caso tinha. Instalada no Senado logo depois das primeiras revelações da Operação Lava-Jato, a comissão foi encerrada sem apurar absolutamente nada. E não foi por incompetência, negligência nem omissão. Sabe-se agora que congressistas foram pagos para fechar os olhos diante das evidências de corrupção. Enquanto posavam perante as câmeras como defensores do contribuinte, nos bastidores os principais integrantes da CPI extorquiam os empresários investigados pela Polícia Federal. 
A tática é antiga: os senadores anunciam a intenção de convocar para depor os empreiteiros envolvidos no escândalo e depois negociam a não convocação. Ricardo Pessoa corria o risco de ser intimado a depor, e ele mesmo se encarregou de contornar o problema. Mas custou caro. Uma bolada de 5 milhões de reais.
O pagamento, segundo ele, foi negociado pelo dono da UTC diretamente com o então senador Gim Argello, líder do PTB e vice-presidente da comissão. O empresário contou aos investigadores que as tratativas ocorreram por meio do senador porque ele exercia "forte influência" sobre o presidente da CPI, Vital do Rêgo, o atual ministro do Tribunal de Contas da União, e sobre o relator da comissão, o deputado Marco Maia (PT-RS). Na "conversa" com Argello em Brasília, Ricardo Pessoa foi orientado a pagar os 5 milhões de reais em forma de "doações oficiais" da UTC. O empreiteiro entregou às autoridades uma lista dos partidos que foram usados para receber o dinheiro e o nome do operador do esquema, um lobista chamado Paulo Roxo. Além de Gim Argello, Pessoa cita o nome do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que, segundo ele, ganhou 150 000 reais na mesma operação.

Consultoria na Papuda
A consultoria que não era consultoria
Depois de cair em desgraça durante o escândalo do mensalão, em 2005, o ex-ministro José Dirceu começou a atuar como lobista nos bastidores do governo. Como a Operação Lava-Jato já mostrou, as "consultorias" prestadas por Dirceu a empreiteiras e outras empresas com interesses na máquina pública renderam ao mensaleiro uma fortuna de 39 milhões de reais. 
Quando essa informação emergiu, Dirceu defendeu-se dizendo que havia realizado um trabalho legítimo de consultoria. As suspeitas de que contratos desses serviços seriam, na verdade, simulacros para esconder propina das obras da Petrobras eram refutadas com veemência pelos advogados do ex-ministro, que, temendo voltar à cadeia, e para provar que agia dentro da legalidade, se antecipou e encaminhou à Justiça cópias de todos os contratos assinados e a relação de seus clientes. Embora suspeito, parecia legal.
 A delação de Ricardo Pessoa, no entanto, mostra o que realmente fazia o consultor Dirceu. Ou melhor, o que não fazia. O dono da UTC contou aos investigadores que foi procurado pelo ex-ministro em meados de 2012. Dirceu, que exercia forte influência sobre os operadores petistas da Petrobras — Renato Duque, por exemplo, o diretor de Serviços que está preso, foi colocado no cargo por Dirceu —, ofereceu ao empreiteiro os seus serviços de consultor na prospecção de obras para a UTC junto ao governo do Peru. Ciente de que negar dinheiro a Dirceu poderia ser o começo de graves problemas nos contratos da Petrobras, o empreiteiro não teve dúvida. Fechou um contrato de 1,4 milhão de reais com o mensaleiro. Trabalho? Promessas de abrir portas para a empreiteira em países da América Latina. Nada aconteceu.
Um ano depois, porém, a UTC renovou o contrato de consultoria por mais 906 000 reais. No ano seguinte, ainda sem ver nenhum resultado no trabalho do consultor, Ricardo Pessoa assinou um segundo aditivo, dessa vez no valor de 840000 reais. E eis que surge a prova de que não havia mesmo serviço algum a ser prestado. O empreiteiro contou aos investigadores que, em plena vigência do primeiro aditivo, José Dirceu foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Recolhido ao Complexo da Papuda, em Brasília, o ex-ministro não teria mais como prospectar negócios para quem quer que fosse, muito menos em outro país. 
Mas Dirceu era Dirceu. A pedido do próprio mensaleiro, que alegava passar por dificuldades financeiras, a UTC continuou pagando a ele os gordos honorários. O dinheiro era entregue ao irmão, Luiz Eduardo, e era debitado diretamente da conta-corrente de propina que a UTC administrava por intermédio de João Vaccari Neto. Aliás, Ricardo Pessoa revelou que acertou a mesada de José Dirceu com o tesoureiro do PT, que autorizou o repasse de parte da propina diretamente ao mensaleiro. Assim como nos demais casos, Pessoa entregou ao Ministério Público toda a contabilidade do dinheiro pago ao ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil do governo Lula. Também dissecou os pagamentos detalhados do PT que, por ordem de Vaccari, foram canalizados para José Dirceu com o objetivo de quitar despesas pessoais e pagar aos seus advogados enquanto estava na cadeia.

Conexão no TCU
A UTC pagava por informações privilegiadas e acesso ao Tribunal de Contas da União
Além de pagar propina para obter contratos no governo federal, o empreiteiro Ricardo Pessoa mantinha uma rede de informantes em órgãos considerados estratégicos pela UTC. Um deles era o Tribunal de Contas da União (TCU). Na corte, que tem por atribuição fiscalizar o andamento das obras, identificar sinais de superfaturamento e punir eventuais desvios, o contato do empreiteiro era Tiago Cedraz, um jovem advogado de Brasília cujo escritório virou grife entre as bancas da capital por causa do sobrenome que carrega. Tiago é filho do atual presidente do TCU, Aroldo Cedraz. Segundo Pessoa, o advogado tinha acesso privilegiado a informações valiosas de interesse da UTC. O empreiteiro contou aos procuradores que, desde junho de 2012, o jovem Cedraz atuava como uma espécie de espião da UTC no TCU. Sem nenhum contrato ou registro em notas fiscais, Pessoa diz que pagava mensalmente a Tiago 50 000 reais em dinheiro vivo para obter o que ele chama de "informações de inteligência". O objetivo do empreiteiro era antecipar-se às ações de fiscalização dos auditores do TCU e, assim, evitar problemas.
O advogado também alertava o empreiteiro quando um processo de interesse da UTC estava prestes a ser julgado pelos ministros — e atuava para solucionar a pendenga. Segundo Pessoa, Tiago dizia que tinha acesso irrestrito ao tribunal, inclusive na área técnica. "Tiago não chegava a antecipar o resultado do julgamento, mas, diante da notícia de um possível resultado negativo, avisava "tem de tirar de pauta, se não vai dar problema" ", contou o empreiteiro. Ao ser perguntado sobre o porquê de ter feito os pagamentos, confessou, sem meias palavras: "contratar um tráfico de influência no TCU". Além dos pagamentos mensais, Tiago Cedraz era remunerado quando havia uma questão mais grave a ser solucionada. Para fazer lobby em defesa da UTC num processo sobre a construção da usina nuclear de Angra 3, recebeu um extra de 1 milhão de reais, segundo Ricardo Pessoa. O pagamento foi feito em espécie, em 23 de janeiro do ano passado. Uma parte do valor foi entregue em Brasília e a outra, retirada na sede da UTC. Os repasses a ele constam numa planilha intitulada "Tiago BSB", com 25 pagamentos feitos ao filho do ministro do TCU. Pessoa contou que, por vezes, o tesoureiro do partido Solidariedade, Luciano Araújo, retirava valores em nome de Tiago Cedraz. A VEJA, ele afirmou que nunca patrocinou nenhum caso da UTC no TCU e disse que está "à disposição das autoridades para fornecer as informações necessárias à correta compreensão dos fatos".

O senador de 20 milhões
Foi quanto o grupo de Fernando Collor embolsou num único negócio
Em troca de manter o seu apoio ao governo Lula, o senador Fernando Collor (PTB-AL) conseguiu emplacar o engenheiro José Zonis na diretoria de Operações e Logística da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Um excelente negócio — principalmente para o bolso do próprio senador. Depois da posse do diretor, Ricardo Pessoa foi procurado pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. Ex-ministro de Collor e amigo pessoal do ex-presidente, "PP", como é conhecido, falou abertamente de seus planos. Disse que a BR Distribuidora estava no raio de influência dele e ofereceu à UTC um pacote de 650 milhões de reais em contratos com a estatal. Em contrapartida, queria uma "comissão". Para convencer o empreiteiro, deixou claro que seu fiador no negócio era o amigo "Fernando" e, para provar que não era blefe, levou Ricardo Pessoa até José Zonis para uma primeira aproximação. O dono da UTC contou aos investigadores que, após a reunião com o diretor, a empreiteira aceitou o acordo, ganhou os contratos e pagou a Pedro Paulo e a Fernando Collor nada menos que 20 milhões de reais.
Questionado sobre o suborno, Pessoa esclareceu que seguira a tabela de corrupção da Petrobras durante o governo Lula — o padrão de 3% sobre o montante do contrato. O empreiteiro entregou ao Ministério Público as planilhas com a data dos desembolsos e narrou detalhes de como o dinheiro foi repassado a Pedro Paulo Leoni Ramos. Disse que só aceitara fechar o negócio, inclusive adiantando parte do suborno, por saber que o senador alagoano estava por trás das tratativas. 
O ex-presidente da República é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal desde o início da Operação Lava-Jato. Em abril do ano passado, os investigadores apreenderam no escritório do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, comprovantes de depósitos bancários na conta pessoal de Fernando Collor — num total de 50 000 reais. Quantia pequena se comparada aos volumes de propina movimentados pelos principais corruptos identificados até agora. Era apenas o começo. 
Em delação premiada, Rafael Ângulo, outro envolvido no escândalo, disse às autoridades que, em 2012, entregou outros 60 000 reais em dinheiro a Collor num apartamento em São Paulo. Mesmo assim parecia um suborno ínfimo para alguém com a biografia do ex-presidente. Com o depoimento de Ricardo Pessoa, fica evidente que tanto os depósitos em conta-corrente como os valores entregues em domicílio não passavam de gorjeta. Organizado, o empreiteiro anotou numa tabela as propinas repassadas ao grupo do senador. Os pagamentos começaram em dezembro de 2010 e se estenderam até julho de 2012, quando José Zonis se desentendeu com os padrinhos e acabou deixando a Petrobras. Para garantir os contratos, o empreiteiro deu um sinal de 2 milhões de reais e mais vinte parcelas de 900000. Total: 20 milhões. O típico mensalão.

A turma do caixa dois
A UTC, como praticamente todas as grandes empreiteiras, financiou muitos políticos e partidos. Apenas na campanha de 2014, a empresa distribuiu quase 55 milhões de reais em doações eleitorais, incluindo aquelas que camuflavam o dinheiro desviado dos contratos superfaturados da Petrobras. Ao seu acordo de delação, Ricardo Pessoa anexou uma lista com todas as contribuições da empreiteira — as legais, as aparentemente legais e as completamente ilegais. A relação dos clientes dessa última categoria compromete figuras importantes da República.  
Segundo o empreiteiro, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, recebeu 500 000 reais para a sua campanha ao governo de São Paulo, em 2010
Desse total, 250000 reais foram repassados ao ministro em dinheiro vivo. Mercadante nega: "Desconheço qualquer ação não contabilizada para a minha campanha". O caixa dois do empreiteiro envolve também o ex-tesoureiro das campanhas de Lula e de Dilma, o atual secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo, José de Filippi Júnior. Ele recebeu 150 000 reais em doação oficial da UTC e outros 750 000 reais por fora para a sua campanha a deputado, em 2010. Para não chamar atenção, segundo Ricardo Pessoa, Filippi mandava um taxista de sua confiança buscar os pacotes de dinheiro na sede da empresa. 
O caixa dois do tesoureiro está registrado na planilha "Filippi Diadema" entregue pelo empreiteiro aos investigadores da Lava-Jato.
A lista dos beneficiários é extensa e envolve políticos de vários partidos. O senador Aloysio Nunes Ferreira recebeu 300 000 reais oficialmente e outros 200 000 reais em dinheiro. Constam ainda o senador Ciro Nogueira (2 milhões), o senador Benedito de Lira (400 000), o deputado Artur Lira (1 milhão) e o mensaleiro Valdemar Costa Neto (200000). Na campanha de 2012, quem recebeu recursos de maneira irregular foi o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Pessoa contou aos investigadores que foi procurado por João Vaccari, que pediu a ele que pagasse uma dívida de 2,6 milhões de reais do PT com uma gráfica. O gasto foi descontado da conta-corrente clandestina que o PT deixava sob a administração da UTC. 
Pessoa também revelou que pagava para não ter problemas. O senador Edison Lobão recebeu 1 milhão de reais para não atrapalhar as pretensões da empresa nas obras de Angra 3. Já o ex-senador Sergio Machado recebeu 1 milhão de reais como retribuição pelas gentilezas durante o período em que presidiu a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras. As operações políticas, quase sempre, eram bem-sucedidas. A exceção foi o deputado Dudu da Fonte. Líder do PP na Câmara, ele recebeu 300000 reais da UTC em troca de indicação da empreiteira para uma obra no Paraná. Ricardo Pessoa pagou, mas disse que, nesse caso, levou um tremendo "passa-moleque" do deputado. Todos os citados negam ter recebido dinheiro de caixa dois.

domingo, 5 de abril de 2015

Corrupcao: dicionario de linguas do PT, e Editorial do Estadao

Cultura inútil nunca é demais, embora a corrupção seja não só demais, como pornográfica, tendo atingido alturas estratosféricas no reinado dos companheiros mafiosos.
Duas postagens numa só cajadada: a palavra corrupto ou corrupção, em várias línguas, e o PT não escapa dessa, nem querendo, e um editorial desse jornal reacionário, da mídia golpista, o nefando órgão da direita não envergonhada, que tanto irrita os companheiros corruptos e totalitários.
Paulo Roberto de Almeida

O jornalista Claudio Tognolli* construiu a frase mais inteligente do ano:

“É IMPOSSÍVEL ESCREVER CORRUPTO SEM PT”

...E não apenas em Português! Vejamos:

Albanês - korruPTuar
Alemão - korruPT
Catalão - corruPTe
Dinamarquês - korruPTe
Espanhol - corruPTo
Esperanto - koruPTi
Galês - corruPTo
Haitiano Creole - corruPT
Holandês - corruPT
Húngaro - korruPT
Inglês - corruPT
Islandês - sPillT
Latim - corruPT
Norueguês - corruPT
Romeno - coruPT
Sueco - corruPT

O PT colaborando para a correta composição de 'CORRUPTO' em 17 ou mais idiomas, um recorde!
* http://en.wikipedia.org/wiki/Claudio_Tognolli

Consequências da corrupção

Editorial O Estado de S.Paulo
04 Abril 2015 | 02h 05 

Com a finalidade de compreender melhor a relação entre corrupção e crescimento econômico - e assim propor estratégias mais eficientes no combate ao crime -, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) promoveu um estudo sobre o impacto da corrupção em quatro setores fundamentais para o desenvolvimento: indústrias de extração, infraestrutura (e serviços públicos), saúde e educação. O foco era analisar como a corrupção distorce o desempenho de cada um desses setores e as consequências dessas distorções para a sociedade.
Em relação às indústrias de extração, que são o principal motor do desenvolvimento de muitos países, o estudo enumera alguns fatores que deixam o setor especialmente vulnerável à corrupção: alto grau de discricionariedade política; frequente confusão entre o interesse público, o dos acionistas e os interesses pessoais; cenário de competição limitada a algumas poucas empresas, ocasionando comportamentos cúmplices; e estruturas financeiras complexas, que dificultam o controle. Segundo o estudo, a corrupção ocorre a partir de negociações enviesadas entre agentes públicos e privados, implicando decisões equivocadas na seleção de empresas e no planejamento de investimentos.
No setor de serviços públicos e infraestrutura, a OCDE considera que a frequente situação de monopólio e a necessidade de regulamentação estatal propiciam muitas ocasiões para abuso de poder e pedidos de suborno. O estudo descobriu falhas similares e constantes em todas as regiões do mundo, que são um convite à corrupção: deficiências de planejamento, descontrole nos gastos e estimativas de demanda inflacionadas.
No setor de saúde, o estudo elencou os seis tipos de abuso mais frequentes: suborno na prestação de serviços médicos, corrupção nos contratos, relações de marketing antiéticas, abuso de poder em cargos de alto escalão, pedidos de reembolso indevidos, além de fraudes e desvios de medicamentos e serviços médicos. Na saúde, a OCDE conclui que a corrupção distorce especialmente as decisões sobre a alocação de recursos públicos.
Ainda que reconheça a existência de estudos macroeconômicos demonstrando uma relação positiva entre investimentos públicos na educação e crescimento econômico, a OCDE não titubeia em afirmar que esse potencial de crescimento é muitas vezes anulado pela corrupção. De acordo com o estudo, a corrupção no setor educacional gera distorções tanto nas grandes decisões de investimento e de orçamento público como nas decisões pontuais (por exemplo, localização das escolas, gestão de recursos humanos, compra e distribuição de material). Para a OCDE, as consequências dos desvios no setor educacional são evidentes: menos professores capacitados, menores níveis de qualificação dos alunos, diminuição da produtividade dos trabalhadores, aumento da desigualdade social, bem como uma diminuição da capacidade de um país desenvolver indústrias competitivas.
De acordo com o estudo, a corrupção pode ser vista como um preço extra informal. Nos quatro setores é evidente o aumento dos custos provocado pela corrupção. A OCDE ressalva, no entanto, que essa visão pode ocultar outra face da corrupção - os efeitos indiretos adicionais, que provocam consequências graves tanto no crescimento econômico quanto no desenvolvimento social, como a redução da pobreza. Não é apenas que os remédios fiquem mais caros, por exemplo. Por causa da corrupção, uma parcela significativa da população pode ficar sem remédio. Nesse sentido, a OCDE vê a corrupção como causa de escassez, além de outros perniciosos efeitos sistêmicos.
O estudo da OCDE é global, mas joga luzes sobre a situação brasileira. Ter uma noção mais nítida das consequências econômicas e sociais da corrupção pode ajudar a anular um discurso que coloca o combate à corrupção praticada por grandes empresas como algo prejudicial à economia nacional, e não como uma necessidade do País e uma exigência da Nação.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"PT of Interest": seriado americano foca quadrilha companheira

Faz sentido: os seriados americanos são muito rápidos em transformar eventos da vida corrente -- mesmo a mais sórdida, como parece ser a que atualmente se desenvolve no Brasil -- em dramas televisivos, com direito a simplificações, troca de Buenos Aires por qualquer coisa próxima do portunhol, mas com fartas doses de realismo, que obviamente fica muito aquém da realidade.
Não sei se apareceu algum cadáver de prefeito nesse seriado americano, dólares na cueca, ou pilhas de dinheiro em hoteis de aeroportos, enfim, tudo é possível, inclusive porque a realidade supera muito, e como, a ficção.
Se os roteiristas precisarem de alguma assessoria quanto aos hábitos do guerrilheiros reciclados, inclusive daqueles treinados pela Seguridad cubana, eu posso talvez ajudar, já que sei como certos personagens patéticos, que se tomam por Richelieu do cerrado central, foram treinados para não deixar rastros nas patifarias imensas que estão habituados a cometer.
Os americanos são profissionais, mas existem profissionais ainda mais profissionais do que eles...
Paulo Roberto de Almeida 

Seriado americano liga PT a fraudes
Globo online, 23/11/2012

Nem o boom econômico nem o julgamento do mensalão conseguiram evitar que a política brasileira deixasse de ser tachada como corrupta em produções de origem americana. No capítulo do seriado “Person of interest” exibido no Brasil na última quarta-feira pela Warner Channel, a protagonista era Sofia Campos, filha de um diplomata brasileiro que sempre se atrasa para eventos oficiais e que pretende concorrer à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo o episódio, que usa reportagens fictícias escritas em português como imagens de apoio para dar corpo à trama, o grupo político que está no poder no país desde 2002 está envolvido em fraudes eleitorais e tem membros suscetíveis a subornos.

A série “Person of interest” faz sucesso desde o ano passado ao narrar a história de um bilionário misterioso que desenvolveu um programa de computador capaz de vigiar indivíduos e antecipar sua participação em crimes — seja como vítima, agressor ou testemunha. Em cada capítulo, o espectador acompanha a solução de um único caso.

No terceiro capítulo da segunda temporada, exibido na americana CBS no dia 18 do mês passado, os políticos brasileiros estão na mira. A morena Sofia Campos, interpretada pela mexicana Paloma Guzmán, é a filha indomável de Hector Campos — diplomata destacado para atuar no fictício consulado de Nova York e que é candidato à presidência do Brasil pelo PT.

“Sofia foi aceita em Oxford” — explica a voz do misterioso milionário em off já no segundo minuto da trama. “E o partido político do pai dela foi acusado de fraude na última eleição. Sequestros políticos não são incomuns no país dela”.

E, enquanto apresenta a protagonista, o seriado usa como imagens de apoio matérias fictícias publicadas por sites brasileiros sobre o PT. Numa delas, o título é claro: “DEM acusa de fraude o comitê eleitoral do PT”. No corpo da matéria, informa-se que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga o partido.

Quando Hector Campos entra em cena, a voz do milionário volta ao off e destaca que o diplomata não aprova o namoro de Sofia com um “mauricinho” de Nova York chamado Jack. “A campanha política de Hector salienta igualdade socioeconômica para todos. Enquanto isso, sua filha passeia pela cidade com um cara rico”.

Enquanto Sofia se envolve com narcotraficantes, o seriado levanta a hipótese de uma conexão entre a máfia e a política brasileira. E Sofia não colabora. “Ela já teve mais de seis seguranças este ano, ninguém consegue acompanhá-la” — explica o pai, ao contratar mais um brutamontes. “Nem os seguranças do consulado?” — questiona ele. “Não. Eles são brasileiros. Suscetíveis ao suborno político, à espionagem, a vazar fofocas para a imprensa.”

domingo, 14 de outubro de 2012

Antigamente, no tempo em que os animais falavam...

...muito antigamente, um certo partido que dizia se pautar na ética para fazer política -- ou será que ele apenas fazia a política da ética, usando esta última de forma fraudulenta apenas para ter vantagens políticas? -- tinha por hábito expulsar de seus quadros todos aqueles que tinha incorrido em desvios éticos, justamente, e a mais forte razão todos aqueles que fossem condenados por atos de corrupção, de malversação, de roubo, enfim, de qualquer crime tipificado no Código Penal.
Lembro-me de dois ou três casos nessa linha, um, pelo menos, envolvendo um parlamentar, os demais funcionários do partido ou simples militantes da causa.

Pois bem: quando é que esse partido vai expulsar três, pelo menos, dos seus condenados?
Estamos esperando.
Ou aquela postura não era para valer?
Ou valia só para os "bagrinhos", e não para os "mais iguais"?

Ficam as perguntas, mas não espero respostas...
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 10 de julho de 2012

A porcaria da nossa politica nacional - Ricardo Vélez-Rodríguez,


Lulismo, malufismo, patrimonialismo

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ, coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas 'Paulino Soares de Sousa', da UFJF. E-mail: rive2001@gmail.com
O Estado de S.Paulo, 9/07/2012
"Lula malufou" ou "Maluf lulou"? Eu responderia: ambas as coisas, mas Lula age como diretor da orquestra. Porque tanto Lula quanto Maluf são encarnações da cultura política patrimonialista, aquela identificada por Oliveira Vianna (em Instituições Políticas Brasileiras) como "política alimentar" e que Max Weber chamara de patrimonialismo, ou seja, aquela forma de organização política em que o Estado emerge como hipertrofia de um poder patriarcal original, que alarga a sua dominação doméstica sobre territórios, pessoas e coisas extrapatrimoniais, administrando tudo como se fosse sua propriedade. Era o que John Locke (1632-1704), na sua juventude, quando viajou pela França na época de Luís XIV, identificou como "o mal francês", na pequena obra intitulada De Morbo Gallico, fazendo referência ao absolutismo do rei que falava de si mesmo: "L'État c'est moi".
O Partido dos Trabalhadores, como demonstrou Antônio Paim na obra Para Entender o PT (Londrina: Instituto Humanidades, 2002), constitui, na História republicana contemporânea, a mais completa encarnação do patrimonialismo. Lula tem conduzido o seu partido nessa direção, afastando-o, ciosamente, dos extremos reformista-modernizador e revolucionário e conservando-o no patamar da estratégia de privatização do poder para enriquecimento próprio e dos seus confrades.
É o que o PT tem feito ao longo destes dez anos: ocupar a máquina do Estado como se fosse sua propriedade particular, tentando cooptar os outros partidos. O mensalão seria apenas expediente tático dessa estratégia. E a aproximação com as tradicionais lideranças patrimonialistas (Sarney, Maluf, etc., identificados por Lula como "pessoas especiais") constituiria uma decorrência natural dela. Nesse sentido, o ex-presidente da República prestou um grande serviço para o esclarecimento da natureza alimentar da política petista, tendo posto a nu a sua índole nitidamente patrimonialista e cooptativa. Nessa negociação de apoios cooptados entrou a própria Igreja Católica (mãe do PT, no início dos anos 1980, juntamente com o novo movimento sindical), quando pareceu afastar-se do pragmatismo lulista, que ameaçou, pela boca do ministro Gilberto Carvalho, privilegiar os evangélicos. Brizola, na sua retórica dos pampas, identificou a tendência às cooptações amplas do lulismo com aquela frase que ficou famosa: "O PT é a esquerda que a direita gosta". Trocado em miúdos, Lula tem disposição para cooptar todo mundo que apareça no cenário político, não importando a ideologia.
Lula é animado, nessa estratégia patrimonialista, pelo modelo ético identificado com o princípio de "levar vantagem em tudo", que se aproxima do imperativo comportamental totalitário ao acreditar que, nessa empreitada, "os fins justificam os meios". Essa constitui, a meu ver, a variante destrutiva do lulopetismo, que ignora qualquer outro imperativo ético, bem como a natureza das instituições republicanas, em função da estratégia dominante de conquista do poder para benefício exclusivo da agremiação partidária. Tudo deve ser cooptado: partidos da base aliada, oposição, imprensa, bem como os outros Poderes. O que resta de toda essa força centrípeta é o mar de lama a transbordar no recipiente da História republicana contemporânea. Infeliz pragmatismo que está conduzindo o Brasil à entropia da vida política e social, aproximando-nos lastimavelmente do caudilhismo peronista e do chavismo.
Octavio Paz caracterizou a feição cooptativa e punitiva do Estado patrimonial mexicano na sua clássica obra intitulada O Ogro Filantrópico (1983). Lula está deixando registrada, nos anais dessa modalidade de Estado, uma narrativa que poderíamos intitular O Ogro Pilantrópico, tamanha a desfaçatez com que o guru e os seus seguidores aceitam qualquer tipo de malfeitos, conquanto praticados em benefício da agremiação partidária e dos seus filhotes, e ameaçam, com a mais decidida perseguição, aqueles que ousarem contrapor-se ao projeto de dominação em andamento: a imprensa livre, a oposição e os empresários independentes.
A economia vai mal justamente porque, nesse terreno, impera também a cooptação, mediante a seleção prévia dos empresários amigos que serão guindados às alturas graças às benesses dos empréstimos oficiais subsidiados via BNDES. É a velha prática lusitana do pombalismo em matéria econômica, que constitui o nosso colbertismo tupiniquim. O caso Cachoeira-Delta está a revelar a extensão dessa prática deletéria na economia brasileira. De nada adiantam as articulações do PT e da base aliada para obedecer às ordens da liderança petista no sentido de criar obstáculos ao comparecimento da cúpula da empresa em questão à CPI.
A sociedade brasileira já pressente, na inflação que regressa, o tamanho do rombo. Os excedentes obtidos a partir da valorização das commodities que exportamos foram utilizados pelo governo para encher os bolsos dos companheiros ou cooptar os "movimentos sociais", deixando de fazer o dever de casa no que tange às obras de infraestrutura, que potencializariam o nosso desempenho comercial no mundo globalizado.
Especialistas calculam que o montante a ser aplicado nessas obras de infraestrutura deveria situar-se na faixa dos R$ 800 bilhões, mais ou menos a cifra que, ao longo dos governos petistas, foi despejada pelo ralo da corrupção e da cooptação. Resultados indesejáveis num mundo em grave crise financeira, que não perdoa cochilos das lideranças. Aproximamo-nos, nesse desleixo, da preguiça macunaímica do herói sem nenhum caráter que acordava, na narrativa de Mário de Andrade, pronunciando o bom-dia das sociedades sugadas pelo mostrengo patrimonialista: "Ai que preguiça!".

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Estado brasileiro a favor da corrupcao...

Sinto muito, mas é a única conclusão a que posso chegar ao olhar, com olhos de neófito, de total outsider, para esses eventos, processos, fatos que vejo desenrolando-se aos meus olhos, apenas lendo notícias de corrupção pelos jornais, e constatando que todos, absolutamente todos os envolvidos, continuam fora das grades, alegres e lampeiros, em empregos públicos, em cargos eletivos, sonhando e burlando das leis e da Constituição. Tudo isso com com a ajuda do governo, do Judiciário e de outras altas instâncias.
Sim, o Estado brasileiro é a favor da corrupção, torce pela corrupção, vive da e na corrupção, se refestela na corrupção e até se dá muito bem nisso tudo.
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 12/10/2011 - 15:58:15

Leiam o que informa Luciana Marques, na VEJA Online. Comento no próximo post:
A segunda marcha contra a corrupção realizada este ano em Brasília reuniu cerca de 20.000 pessoas [segundo estimativa final da Polícia Militar do DF] no centro da capital, segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. As vias do Eixo Monumental foram fechadas durante três horas para a passagem dos manifestantes. Eles partiram do Museu da República rumo ao Congresso Nacional por volta das 11 horas munidos de vassouras, apitos e vestindo fantasias ou camisetas pretas, simbolizando luto. A estimativa da organização do movimento, que se declara apartidário, era chegar a 19.000 manifestantes até o fim do protesto - mesma quantidade reunida na primeira manifestação, em 7 de setembro. O número, porém, foi inferior.
Além de protestar contra políticos corruptos O Movimento Todos Juntos Contra a Corrupção tem alvos definidos. Os principais são o fim do voto secreto no Congresso, a aprovação da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa no Supremo Tribunal Federal (STF) e a manutenção do poder de fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre os juízes, que está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). As poucas tentativas de partidarizar a manifestação acabaram em vaias. Foi o que aconteceu quando bandeiras do Psol apareceram.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, que participou da caminhada, reclamou da falta de transparência no Judiciário. “A sociedade está pedindo ao Judiciário que cumpra sua parte e seja transparente”, declarou. “Retirar os poderes do CNJ é tornar um passado negro dentro da estrutura do Judiciário, em que tudo era colocado para debaixo do tapete”. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu a aprovação imediata da Lei da Ficha Limpa no STF. “A Ficha Limpa tem que valer para a eleição no ano que vem”, afirmou.
Vaias
As poucas tentativas de partidarizar a manifestação acabaram em vaias. Foi o que aconteceu quando bandeiras do Psol apareceram. Marcus Rodrigues, 20 anos, um dos organizadores, diz que o objetivo imediato do grupo é a aprovação dos projetos anticorrupção no Congresso e a defesa das ações pela transparência no Judiciário. “Ainda não temos condições de apresentar um projeto popular, porque precisamos de um milhão de assinaturas”, observa. “Esse é nosso plano para o futuro. Por enquanto, queremos a aprovação do que permanece engavetado no Congresso”.
“Que País é Esse?”
Um dos alvos dos manifestantes foi o domínio político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Sarney, ladrão, devolve o Maranhão”, gritavam. Há uma semana, o ex-presidente da República também foi criticado publicamente durante o Rock in Rio. Outro alvo foi o deputado petista cassado José Dirceu que, embora seja acusado de comandar o mensalão, ainda exerce grande influência em algumas esferas do governo. “Esse movimento é contra essas figuras”, diz a servidora pública Cristia Lima. “É preciso respeitar isso aqui”, completou, apontando para um exemplar da Constituição que trouxe de casa.
Também participaram da marcha dezenas de grupos que protestam contra outros aspectos da roubalheira nacional. É o caso dos mascarados que reclamam da relação promíscua do governo com grandes empresas. “Representamos um sentimento coletivo”, declara um desses manifestantes, recusando-se a dizer o nome para não “personificar” o movimento. “Temos uma única voz e um único rosto”.
A advogada Aline Oliveira levou os filhos, de 10 e 3 anos, com o objetivo de transformar esse Dia das Crianças no início de uma vivência democrática. “Isso vai marcar a formação deles”, acredita. “Meus pais me levaram para ver as Diretas Já, nos anos 80, o que foi muito importante para mim”.




Reinaldo Azevedo, 12/10/2011 - 16:52:18

DE OLHOS BEM ABERTOS - Milhares que participaram da Marcha Contra a Corrrupção protestam em frente ao Palácio da Justiça, em Brasília (Foto: Gustavo Miranda/O Globo)
Em Brasília, estima-se em 20 mil (ver post anterior) os que marcharam contra a corrupção; em São Paulo, 2,5 mil. Havia protestos marcados em outras cidades. Não há um balanço geral. De todo modo, à diferença do que diz a canalha oficialista, é bastante gente, sim! Até porque, sabemos, os ditos “movimentos sociais” e as organizações de caráter sindical, inclusive a UNE, não só estão fora do movimento como o sabotam. “O diferencial é que este é um movimento do povo, sem vinculações com sindicatos ou partidos. A UNE nem nos procurou porque está comprada pelo PT”, afirmou ao jornal O Globo a organizadora do evento em Brasília, Daniela Kalil, de 32 anos, corretora de imóveis.

Na mosca! Como afirmei no dia 8 de setembro, a UNE e os ditos movimentos sociais não comparecem porque estão contando dinheiro. E dinheiro oficial, que sai do bolso dos brasileiros, as vítimas dos corruptos. A lógica cristalina indica, pois, que aquela gente que já foi chamada, um dia, “sociedade civil” é, hoje, sócia da corrupção.
O PT privatizou quase todas as organizações da dita sociedade civil; tornaram-se aparelhos do partido, meros porta-vozes do oficialismo. Isso responde, como sabem, àquela questão já tornada clássica de Juan Arias, correspondente do jornal El País no Brasil: “Por que os brasileiros não se indignam?” Eles se indignam, sim. Ocorre que a “massa na rua” nunca é um fenômeno que se dá por geração espontânea; sempre há os profissionais da organização, que são os líderes de sindicatos e movimentos sociais. Como essa gente toda está no bolso do PT - e com os respectivos bolsos cheios -, então se tem essa impressão de pasmaceira.
É por isso que afirmo que os 20 mil de Brasília - ou mesmo os 2,5 mil de São Paulo - são uma medida de sucesso do movimento. De fato, como fica a cada dia mais evidente, estamos falando de cidadãos não-engajados no melhor sentido que a expressão pode ter: NÃO ESTÃO NA RUA A SERVIÇO DE NINGUÉM, A NÃO SER DA PRÓPRIA INDIGNAÇÃO. Se querem saber, intimamente, os petralhas temem mais uma reação como essa do que um eventual movimento organizado da oposição. Nesse caso, eles catalogariam facilmente o protesto: “É coisa de tucano; é coisa de democratas”. Bem, o que se vê nas ruas é coisa de quem está com o saco cheio da corrupção oficial e do modo como se faz política - é bem possível que os que protestam não morram de amores nem pela oposição, o que seria absolutamente compreensível.
Os petralhas gostam de ironizar os indignados, de submetê-los ao ridículo, porque temem que esse sentimento difuso em defesa da ética, da moralidade e da decência se espalhe. Fica mais difícil combater o que eu chamaria de uma “pauta imaterial”, que tem a ver com valores - a oposição jamais conseguiu trabalhar esse elemento da política; atém-se a uma crítica puramente administrativista do governo, sugerindo que fará mais e melhor quando chegar ao poder… É por isso que não faz verão e que acaba comida pelo PT e seus aparelhos…
Os que têm coragem de ir para as ruas não devem desanimar. Ignorem todas as críticas que sustentarem que o movimento é tímido demais, que não vai dar em nada; ignorem todos os conselhos para que vocês se subordinem a grupos, a partidos ou o que seja. Sua força está justamente em não dever nada a ninguém. Caso alguém lhes pergunte algo assim: “Mas, afinal, o que é que vocês querem?”, não tenham receio de dizer:  “Queremos decência!”
É um bom motivo para tomar as ruas.