Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 28 de junho de 2015
A corrupcao da linguagem por quem voces ja sabem - Marli Goncalves
Acho que todo mundo já riu o bastante. Mas talvez seja o caso de chorar, pois a nossa educação, já por si periclitante, acaba de sofrer mais um rude golpe.
Paulo Roberto de Almeida
PALAVRAS, SENTIDOS E VERSÕES. OU PIADAS
MARLI GONÇALVES
27/06/2015
Semana animada essa. Algumas palavras entraram definitivamente no vocabulário usual, mutantes, passaram para a história, inclusive a política, nos fizeram rir para não chorar. Ganharam novos sentidos. Algumas palavras são realmente formidáveis, mas eu nunca tinha pensado, sei lá, que uma mandioca renderia tanto. Muito menos que o latim pudesse ser traduzido ao bel-prazer. Tem de ver isso aí; senão sabe-se lá onde vamos parar se continuar essa toada, e vergonha não é uma boa palavra para um país.
Meu primeiro contato e amor para com as palavras veio da leitura de Monteiro Lobato, especialmente o sensacional "Emília no País da Gramática". Para mim, dali em diante elas ganharam vida, perninhas, sentimentos, e até contradições. Lembro bem do livro e das prisões onde se encontravam encarcerados os vícios de linguagem, os cacófatos, os pleonasmos, os barbarismos, os solecismos, os hiatos, os arcaísmos, gerundismos e plebeísmos, entre outros. Caras feias e agressivas prontas a atacar frases e pensamentos.
Agora todos - a mim parece - foram soltos e estão aí pelas ruas aterrorizando. Não bastasse estão recrutando as palavras para nos infernizar. Sequestrando outras, para nos entristecer; como "obrigado" que, para voltar à voga, creio que teremos de pagar vultosa recompensa. Outras estão sendo torturadas, principalmente quanto tentam andar juntas, como liberdade e individual. E observem que estas são bem modernas; uma, um substantivo feminino; outra, um adjetivo ou substantivo de dois gêneros, uma coisa até transexual como hoje está tão em voga.
Esses criminosinhos da linguagem e das palavras se criaram e conseguiram uma aliada e tanto na nossa presidente que anda se esmerando ao esgrimi-las em improviso nos púlpitos da vida. Foi assim que a mandioca virou a redenção nacional, base da civilização, e a bola indígena, tosca, o brinquedo que nos faz humanos e, mais, criou-se uma surpreendente e nova variação da espécie, de uma Era nova, de evolução biológica, que ainda não nos havia sido apresentada. A mulher sapiens. Isso é que é feminismo: nada de homo para lá e para cá.
Por que não a mulieres sapiens?
- Pensou, tascou.
Mas aí é que a coisa foi pro brejo total. Vocês vão entender por que e peço que sejam perspicazes para que eu não tenha de gastar muitas palavras para explicar. Sabem o que diferencia o homo sapiens, o humano sábio ao pé da letra, e em toda a sua abrangência inacreditavelmente desconhecida da nossa presidente? Uns dez ítens. Vou citar alguns, mais significativos, para vocês irem ticando (e lembrem que eu estou daqui dando uma piscadela): postura ereta, cérebros bem desenvolvidos, destreza manual, fala articulada, aculturação e raciocínios complexos, olhos em foco, e a capacidade de corar.
Ela tinha mesmo de inventar outra espécie, não?
Mas quero voltar a falar apenas das palavras, essas preciosas. Que, quando lançadas, não voltam. Tantas podem ser cruzadas, de amor, exatas, engraçadas. As de gratidão andam sumidas, assim como as de gentileza e reconhecimento. As que trazem elogios estão sendo vilipendiadas, principalmente nas redes sociais. Vide "linda". Nosso senso estético massacrado, porque se aquilo é lindo, imagine o feio! E o que a gente acha lindo o que é mesmo, o que é....? Santas palavras hipócritas que lemos, ouvimos.
Mas, por outro lado, também nas redes encontramos as palavras de apoio, de conforto, consolo, de fé e de ânimo. As palavras amigas, amorosas e inspiradoras.
Os palavrões jorram também de várias fontes, a favor e contra, principalmente quando a guerra é político-ideológica, como a que vivemos nesse momento. Com gente usando a palavra para defender o indefensável. Palavra de honra que às vezes nem acredito que estou ouvindo algumas delas, sobre o poder, mas até o poder da palavra tem limites.
Principalmente quando são engraçadas as palavras que sabemos ditas por quem devia ter mais palavra depois de eleita com palavras falsas, cantadas, lançadas, quebradas e depois reveladas. Melhor mesmo que sejam assim só engraçadas como as desta semana.
Mas os maiores problemas que vejo estão agora claramente localizados nas palavras do dia, as de fé. Principalmente como estão agora sendo pregadas e empregadas de forma absurda em leis e em lugares absolutamente inadequados e onde tem apenas uma, uma só que deveria ser a mais respeitada.
A palavra laico.
São Paulo, 2015
Marli Gonçalves é jornalista -- - - A palavra-chave do momento é serenidade. Uma expressiva palavra de mãe, daquelas que a gente não questiona. Segue. Obedece. No mínimo, para saber e aprender no que vai dar. Palavra final.
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quarta-feira, 9 de abril de 2014
O que nos distingue das especies animais ou de certa "popozuda"? (estou falando de um livro...)
Pois bem, o livro selecionado nesta quarta-feira, 9 de Abril de 2014, é um sobre o surgimento da linguagem e sobre como esse fator nos permitiu, melhor dito, permitiu a certos hominídeos, nos distinguir dos demais espécies de primatas superiores, adquirindo uma alavanca e uma ferramenta poderosa para estabelecer a cooperação entre membros da mesma espécie, para defesa conjunta contra predadores e, portanto, conquista do meio ambiente e seleção natural em direção de um futuro de sobrevivência e progresso.
Eu disse progresso?
Sim, mas esta é uma palavra iluminista que não precisa ser dominante o tempo todo.
Em alguns casos pode haver retrocesso, ou involução, como observado no recente caso de uma prova de colégio em Brasília, onde um professor, que não honra seu nome de família (de um ex-presidente, o que justamente construiu Brasília, aliás contra o orçamento, e sem orçamento), propôs como questão algo relacionada ao caráter de grande pensadora do Brasil, quem sabe da Humanidade, certa representante da espécie que deve sua sobrevivência na selva atual de predadores de mercado mais a certos atributos físicos do que propriamente a sua capacidade cognitiva ou dons de linguagem. Acho que me fiz entender.
Mas, o que mais me choca não é a "popozuda" em questão, ou mesmo o professor primário que colocou uma questão indecente, e incompreensível para primatas superiores, a alunos inocentes da mesma espécie.
O que me chocou, sobremaneira, foi o "debate" que se seguiu, inclusive televisionado ou rádio-difundido. O que ouvi, ou li, de representantes de uma outra espécie superior, a de supostos acadêmicos do terceiro ciclo (ou o que passa por isso), foi a defesa feita desse professor primata por universitários primatas, que tampouco parecem dominar adequadamente os dons da linguagem adquiridos por nossos ancestrais 200 ou 300 mil anos atrás.
Foi a confirmação definitiva de que eu necessitava para continuar assegurando que a educação brasileira não corre nenhum risco de melhorar, e que ela só pode continuar alegremente seu caminho para o brejo.
Como diria alguém, que país é este?
Que futuro pode ter um país que tem primatas não superiores no ensino superior?
Paulo Roberto de Almeida
This Fleeting World
David Christian
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The 'Florisbad Skull' classified as Homo helmei
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