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sábado, 30 de maio de 2020

A oposição fundamental se dá entre bolsonarismo e civilização-Somos Muitos

Manifesto a favor da democracia une personalidades de ideologias diversas

Movimento com políticos, artistas, intelectuais e empresários cobra autoridades durante a crise

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SÃO PAULO
Até alguns meses atrás, seria improvável imaginar que os músicos Lobão e Caetano Veloso se unissem em defesa de uma mesma causa. Na sexta-feira (29), isso aconteceu.
Por meio de um manifesto publicado neste sábado (30) na edição impressa de jornais, entre eles a Folha, artistas, políticos, empresários, produtores e intelectuais lançaram um movimento que demanda a líderes que “exerçam com afinco e dignidade seu papel diante da devastadora crise sanitária, política e econômica que atravessa o país”.
O texto também foi divulgado por meio de um site criado pelo movimento, que foi intitulado “Estamos Juntos”.
O manifesto se propõe a unir pessoas de diferentes matizes ideológicas em defesa de temas como “a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia.
Nele, são chamados a “resgatar a identidade da nação” os líderes partidários, prefeitos, governadores, procuradores, deputados, juízes e outras autoridades —mas não o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), seus ministros ou as Forças Armadas.
Entre os signatários estão personalidades como a atriz Fernanda Montenegro, o youtuber e empresário Felipe Neto, o escritor Paulo Coelho, os apresentadores Luciano Huck e Serginho Groisman, o produtor Kondzilla, a socióloga e acionista do Itaú Maria Alice Setúbal e o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal)Nelson Jobim.
Também assinam o manifesto políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), o governador Flávio Dino (PC do B-MA) e o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (MDB).
“A gente não está entre o bolsonarismo e o comunismo, estamos entre o bolsonarismo e a civilização”, diz o escritor e colunista da FolhaAntonio Prata, um dos organizadores do movimento. Ele destaca a diversidade de pensamentos e opiniões das pessoas que assinam o manifesto.
“Tem todo mundo do chamado flá-flu de antes desse flá-flu de hoje, de quando a disputa política ainda era entre PT e PSDB”, diz.
Prata afirma que o movimento não é necessariamente antibolsonarista, nem defensor do impeachment do presidente, mas é principalmente antifascismo.
Ele diz que a possibilidade de escalada autoritária nas últimas semanas ajudou a unir as pessoas em uma mesma direção. “Nós estamos à beira de um golpe militar”, afirma o escritor.
Ainda não há um plano de como o movimento atuará. Inicialmente, a ideia é apenas tornar público o manifesto e “botar o bloco na rua”, ainda sem uma “convocação prática”. Mas o grupo pretende organizar para as próximas semanas uma sequência de apresentações musicais transmitidas ao vivo pela internet —as chamadas “lives”.
Reprodução de anúncio publicado na pág A5 da Folha de S.Paulo de 30.mai.2020. Foto: Reprodução
Reprodução de anúncio publicado na pág. A5 da Folha de S.Paulo de 30.mai.2020. - Reprodução
O episódio que deu origem ao Movimento Estamos Juntos tem apenas 20 dias, quando 512 artistas assinaram um manifesto contra a atriz Regina Duarte, então secretária especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro.
Em entrevista à CNN Brasil, ela minimizou as mortes, a censura e tortura do regime militar.Regina Duarte também relativizou o impacto da pandemia do novo coronavírus.
O manifesto dos artistas, uma nota de repúdio, dizia que a atriz não os representava. No último dia 20, ela deixou o cargo de secretária e foi indicada para a Cinemateca.
Uma das pessoas que coletaram as assinaturas foi a roteirista Carolina Kotscho. “A partir daquilo, veio uma onda de sentimento represado, ainda mais com todo mundo em casa, angustiado com a situação do país e querendo se juntar. Foi uma catarse”, afirma.
A partir da primeira nota, foi montado um grupo de Whatsapp que decidiu elaborar o novo manifesto e lançou o alicerce para o Estamos Juntos. Segundo a roteirista, até a noite de sexta já havia mais de 5.000 assinaturas.
Apesar de estar presente desde o início das discussões, Kotscho não gosta de ser vista como uma coordenadora ou líder do movimento, que “é de todos”, segundo ela.
A roteirista avalia que o grupo não deve se restringir a uma resistência às ações do governo Jair Bolsonaro, mas também refletir sobre “o que vem depois”.
“Não adianta ficar se mobilizando contra se não estiver organizado para trabalhar a favor. Temos que amadurecer muito politicamente. Todo mundo levou esse susto agora, mas é um momento de tomada de consciência da sociedade civil sobre a sua responsabilidade na condução desse país”, afirma.
O manifesto que circulou neste sábado afirmava que, apesar das ideias e opiniões diferentes, os signatários comungam “dos mesmos princípios éticos e democráticos”.
“Queremos combater o ódio e a apatia com afeto, informação, união e esperança. Vamos juntos sonhar e fazer um Brasil que nos traga de volta a alegria e o orgulho de ser brasileiro”, conclui o texto.​

Los ya podridos huesos decdon Quijote - Cervantes

Un epitafio de sepultura:

Yace aquí el hidalgo fuerte
que a tanto extremo llegó
de valiente, que se advierte
que la muerte no triunfó
de su vida con su muerte.

Tuvo a todo el mundo en poco,
fue el espantajo y el coco
del mundo, en tal coyuntura,
que acreditó su ventura
morir cuerdo y vivir loco.

Deje reposar en la sepultura los cansados y ya podridos huesos de don Quijote...

Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha, Edición del IV Centenario
Real Academia Española, Asociación de Academias de Lengua Española, 2004, p. 1195

Nazismo de esquerda? Holocausto do STF? Polêmicas em série irritam Israel - Raphael Veleda (Metrópoles)

Nazismo de esquerda? Holocausto do STF? Polêmicas em série irritam Israel

Em ao menos 6 oportunidades, autoridades como ministros de Estado e o próprio presidente Bolsonaro fizeram relações que incomodaram judeu

ATUALIZADO 29/05/2020 8:41
Longe de ser um grande parceiro comercial ou diplomático do Brasil historicamente, o Estado de Israel aceitou com satisfação as tentativas de aproximação do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que desde antes de ser eleito já fazia acenos àquele país como forma de agradar ao eleitorado evangélico no Brasil. A relação entre as duas nações se fortaleceu desde então e as autoridades israelenses resistiram muito a reclamar oficialmente de uma espécie de banalização de citações ao nazismo promovida por membros do governo brasileiro.
A resistência foi quebrada após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, invocar o massacre judeu para criticar a operação ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra suspeitos de produzir e distribuir notícias falsas.
A estrada até o fim da paciência diplomática, porém, teve outros trechos marcantes. 
O nazismo “de esquerda”
As polêmicas foram inauguradas pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e por causa da fixação bolsonarista pela esquerda, que é sempre apontada como o pior dos inimigos.
Antes de entrar no governo, o chanceler já havia escrito um texto dizendo que o nazismo era um movimento de esquerda, contrariando o consenso histórico sobre o tema: o movimento nasceu da direita radical alemã.
Questionado pela reportagem do Metrópoles sobre o tema no início de abril, durante visita oficial a Israel, Bolsonaro não titubeou: “Não há dúvida. Partido Socialista… como é que é? Da Alemanha… Partido Nacional Socialista da Alemanha. Não há dúvida [que era de esquerda]”, disse.
Weintraub em campo
ministro da Educação, Abraham Weintraub, que é cristão, mas tem família de origem judaica, entrou no governo em abril do ano passado e, em outubro, fez uma postagem comparando o terror nazista a uma agressão ocorrida na Universidade de São Paulo. O titular da Educação também aproveitou para relacionar o ditador nazista Adolf Hitler ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alvim x Goebbels
Em janeiro deste ano, o então secretário de Cultura do governo, Roberto Alvim, saiu confiante de uma das lives semanais do presidente Jair Bolsonaro, na qual foi muito elogiado, e gravou um vídeo que acabou com sua trajetória no órgão e manchou a imagem brasileira mundo afora.
Alvim ainda tentou se segurar garantindo que a citação não havia sido proposital, mas a enorme pressão o derrubou no mesmo dia, em 17 de janeiro de 2020.
A repercussão foi tão ruim que obrigou o presidente, que no dia anterior havia prestigiado Alvim, a fazer uma declaração de desculpas. “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, disse Bolsonaro na época, em nota.
Ernesto, o “comunavírus” e os campos de concentração
Poucos meses depois, em abril deste ano, o chanceler Ernesto Araújo voltou a provocar o repúdio de entidades judaicas no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel após comparar as medidas de isolamento social impostas por governadores para conter o avanço do coronavírus no Brasil aos campos de concentração nazistas.
“Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada”, reclamou o Comitê Judaico Americano em uma nota oficial que exigia desculpas do diplomata brasileiro. Mas Araújo não apenas não se desculpou, como acusou de ignorância quem não gostou das palavras.
Dando bandeira
Outro fato que causa incômodo em porta-vozes de entidades judaicas é o uso da bandeira de Israel em manifestações que também têm pautas antidemocráticas, como o fechamento do Congresso.
No dia 4 de maio, após o presidente Jair Bolsonaro aparecer ao lado de bandeiras de Israel e dos Estados Unidos em um desses atos (imagem em destaque desta reportagem), Fernando Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), divulgou uma nota dura em nome da entidade: “Lamentamos o uso da bandeira de Israel, uma democracia vibrante, em atos antidemocráticos. Isso pode passar uma mensagem errada sobre a comunidade, que é plural, com judeus e judias em todo espectro político”, dizia o texto.
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Weintraub e a “Noite dos Cristais”
O silêncio da diplomacia israelense mesmo diante de reclamações cada vez mais ruidosas da comunidade judaica no mundo foi quebrado nesta quinta-feira (28/05).
Após o ministro brasileiro usar suas redes sociais para comparar a ação policial ordenada pelo STF contra suspeitos de integrar um sistema de distribuição de fake news a um dos eventos mais dramáticos da perseguição nazista aos judeus europeus, houve críticas oficiais de Israel.
O cônsul geral do país em São Paulo, Alon Lavi, foi o mais contundente. Ele fez cinco postagens divulgando o repúdio de entidades como o Museu do Holocausto do Brasil, o Comitê Judaico Norte-Americano e a Confederação Israelita do Brasil, acompanhadas de uma frase sua dizendo que o assassinato de 6 milhões de judeus não tem comparação com “qualquer realidade politica no mundo”.
Já a Embaixada de Israel no Brasil divulgou comunicado oficial sem citar o ministro Weintraub ou outros membros do governo, mas reclamando que “houve um aumento da frequência de uso do Holocausto no discurso público, que de forma não intencional banaliza sua memória e também a tragédia do povo judeu”.
A instituição faz então um pedido ao governo e ao povo brasileiros: “Em nome da amizade forte entre nossos países, que cresce cada vez mais há 72 anos, requisitamos que a questão do Holocausto como também o povo judeu ou judaísmo fiquem à margem do diálogo político cotidiano e das disputas entre os lados no jogo ideológico”.
Diante das duras cobranças, Weintraub voltou ao Twitter na noite de quinta. E não foi para pedir desculpas.