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terça-feira, 12 de setembro de 2023

A face brasileira do G20 - Marcos Magalhães (Metrópoles, Blog do Noblat)

 

A face brasileira do G20

Marcos Magalhães

Lula na busca da construção de um mundo mais justo e de um planeta sustentável

https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/a-face-brasileira-do-g20-por-marcos-magalhaes

Ricardo Stuckert/PR
Lula na Índia, com lenço no ombro e marca indiana na testa -- Metrópoles

“Um mundo justo e um planeta sustentável”. Esses são os dois ideais que vão orientar, a partir de dezembro, a presidência brasileira do G20, segundo anunciou no domingo em Nova Dehli o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ao final da cúpula do grupo.

As duas metas fazem sentido em um mundo ainda marcado por enormes desigualdades e por uma crise climática que começa a mostrar sua face em diversas partes do planeta.

Não basta, porém, que estejam em destaque na declaração final a ser aprovada na cúpula do Rio de Janeiro, em 2024.

Ambas precisam encontrar seu caminho no mundo real, onde as disputas de poder entre os Estados mais poderosos ditam a agenda de maneira mais intensa que as imagens de pessoas famintas e de fenômenos climáticos extremos.

Nas palavras do presidente brasileiro, a busca da construção de um mundo mais justo e de um planeta sustentável atende às duas prioridades estabelecidas pelo país para o comando rotativo do G20: a inclusão social e a transição energética. Ao lado de uma terceira prioridade – a reforma da governança global.

A pobreza só alcança os olhos dos habitantes dos países mais ricos por meio de fotos e imagens distribuídas por redes de televisão e canais de notícias na internet. Os números mostram, porém, como ela está presente no dia a dia da metade menos desenvolvida do planeta.

Mais de 700 milhões de pessoas enfrentam a fome, segundo o mais recente relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Outros 2,4 bilhões de seres humanos passam por insegurança alimentar moderada ou grave. Ou seja, quase 30% da população mundial.

Em artigo publicado na imprensa brasileira durante a cúpula da Índia, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, anunciou a intenção de estabelecer uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com foco na garantia de acesso a alimentos e no financiamento à geração de renda às populações mais vulneráveis.

“Desejamos cooperar e inspirar”, escreveu Vieira. “Já provamos uma vez que só podemos eliminar a fome por meio de políticas públicas que reduzam as desigualdades, eliminem a pobreza e garantam às populações a possibilidade de acesso a alimentos adequados, saudáveis e produzidos de forma sustentável”.

No mesmo artigo, o ministro lembrou ser prioridade do governo a adoção de medidas de combate à mudança climática, como o controle do desmatamento. Ao lado de estímulo à bioeconomia, com destaque para produtos derivados da biodiversidade brasileira.

O próprio presidente Lula, por sua vez, defendeu no encerramento da cúpula de Nova Dehli maior participação de países emergentes nas decisões de órgãos como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – além do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Dessa forma, por um lado seria possível equacionar de maneira mais favorável as dívidas contraídas por países em desenvolvimento junto às instituições multilaterais. Por outro, dar a esses países mais voz em decisões que afetam a estabilidade global.

Todas essas metas parecem dignas, pelo menos, de constar da pauta dos grandes debates globais. Mas elas vão concorrer, tanto nas mesas de negociação quanto nas manchetes dos principais órgãos mundiais de imprensa, com temas bem mais ligados às disputas de poder.

Os fatos que precederam a conferência na Índia já indicavam os desafios políticos do momento global. Ainda envolvido com a guerra na Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não foi a Nova Dehli. O presidente da China, Xi Jinping, também evitou o encontro devido a tensões crescentes com o país vizinho, onde se reuniria o G20.

Após a cúpula, contabilizaram-se perdas e ganhos. Políticos, naturalmente. A Índia saiu como grande vencedora, ao conseguir aprovar por consenso uma declaração final – com palavras mais leves sobre o conflito na Ucrânia. E se posicionou como líder do chamado Sul Global.

A Índia também anunciou a criação de uma frente de países em defesa dos biocombustíveis, como Brasil e Estados Unidos, e de uma nova conexão ferroviária do sul da Ásia com a Europa – em direta competição com os caminhos da chinesa Belt and Road Initiative.

Cientistas políticos ouvidos antes e depois da cúpula também demonstraram o peso das disputas políticas entre as principais potências. Foi o caso do professor John Ikenberry, da Princeton University, em entrevista à publicação Foreign Policy.

“Existe uma crescente divisão no mundo entre um bloco ocidental, do G7, e um bloco oriental, liderado por China e Rússia”, expôs Ikenberry. “Entre eles estão os países do Sul Global, que, por motivos pragmáticos, buscam uma oportunidade de apresentar sua agenda de desenvolvimento e de justiça social”.

Agora será a vez de o Brasil levar adiante essa agenda. Em um mundo de crescentes rivalidades geopolíticas, não será fácil colocar em primeiro plano temas como combate à pobreza e desenvolvimento sustentável. Mas vale a pena tentar.

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018



terça-feira, 25 de abril de 2023

BRICS debate expansão na próxima cúpula na África do Sul - Ana Flávia Castro (Metrópoles)

 O BRICS pode virar uma casa de Mãe Joana, nessa próxima cúpula na África do Sul: 


Brics recebeu 19 pedidos de adesão antes de cúpula na África do Sul
Representante sul-africano no Brics informou que o grupo debate a possibilidade de expandir membros antes da cúpula no país, em agosto
Ana Flávia Castro
Metrópoles, 25/04/2023

Os integrantes do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) receberam pelo menos 19 pedidos de adesão ao bloco econômico, segundo informou o representante da África do Sul para o Brics, Anil Sooklal. O tema será debatido em reunião com ministros das Relações Exteriores dos países membros, marcada para os dias 2 e 3 de junho na Cidade do Cabo.
A possibilidade de expansão é discutida de forma contundente desde a última cúpula na China, em 2022. O assunto, no entanto, é visto com ressalvas. Apesar de Pequim defender a entrada de outros países, os demais integrantes veem esse movimento com preocupação, pelos riscos envolvidos.

Segundo Sooklal, 13 países fizeram pedidos formais para entrar no grupo, enquanto outros seis realizaram consultas informais sobre o assunto. O Brics criou um grupo de trabalho especificamente para o tema, focado em estabelecer regras e diretrizes para uma eventual expansão.
“O que vai ser discutido é a expansão dos Brics e a forma como isso vai acontecer”, afirmou o diplomata sul-africano, em entrevista à imprensa local nessa segunda-feira (24/4). “Treze países pediram formalmente para aderir, e outros cinco ou seis fizeram consultas informais. Estamos recebendo pedidos todos os dias”, completou.

“Aumentar o número de membros é algo que, a princípio, os nossos líderes concordaram, mas estamos discutindo sobre como e quando isso ocorrerá”, prosseguiu.

A expansão do Brics começou em 201o, com a adesão da África do Sul ao grupo de países emergentes. Entre as nações que formalizaram os pedidos para entrar no bloco estão Irã, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, na Ásia, Egito e Argélia, na África, e Argentina, na América Latina.

Impasse com a Rússia
A realização da próxima reunião dos Brics, entre os dias 22 e 24 de agosto na África do Sul, se tornou uma incógnita desde que o Tribunal de Haia emitiu um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em março deste ano.

Por reconhecer a jurisdição da Corte, a África do Sul teria como obrigação prender e extraditar Putin para a Holanda, onde o líder russo seria julgado pelo Tribunal de Haia.

Com a situação delicada envolvendo o presidente da Rússia, o porta-voz da presidência afirmou que o governo de Cyril Ramaphosa busca “mais compromissos em termos de como isso será gerenciado”, e que assim que as negociações forem concluídas os anúncios necessários serão realizados.

terça-feira, 4 de abril de 2023

O retorno da Teoria da Dependência de FHC: Lula adere à Rota da Seda chinesa - Rodrigo Rangel (Metrópoles)

 Se for verdade que Lula 3 fará o Brasil aderir de corpo e alma ao projeto chinês da Nova Rota da Seda, Belt and Road Initiative, isso pode significar uma irônica submissão e uma retardada adesão à fracassada Teoria da Dependência de FHC, apenas que com sinal trocado. O BRIC-BRICS já era um grande erro estratégico de Lula 1-2; essa tardia adesão apenas aprofundará à continuidade do erro, embora seus efeitos sobre o Brasil sejam mitigados, não pela falta de vontade chinesa, mas pela inconsistência de muitos dos nossos projetos, sem uma visão clara de quais são nossos problemas reais. O desespero curto-prazista de Lula 3 vai aprofundar a dependência brasileira da China: está buscando farto dinheiro para investimentos; pode colher deformações econômicas e diplomáticas que vão se exercer por longos anos, talvez pelo prazo que durar a nova Guerra Fria.

Paulo Roberto de Almeida

Brasil está em vias de aderir a megaprojeto chinês mesmo sob risco de melindrar EUA

Entrada na Nova Rota da Seda foi um dos pontos que a China pôs na mesa de negociação de acordos a serem anunciados por Lula e Xi Jinping

Xangai — Graduados diplomatas brasileiros da ativa apostam que há um segredo guardado a sete chaves na cúpula do Itamaraty e no Palácio do Planalto para ser anunciado, com pompa e circunstância, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiver em Pequim com o líder chinês Xi Jinping.

Esses diplomatas, que falaram sob reserva à coluna, creem que Lula assinará pelo menos um memorando de entendimento para a entrada do Brasil na chamada Nova Rota da Seda, também conhecida como “Belt and Road Initiative” (“Iniciativa do Cinturão e Rota”, na tradução livre do inglês).

Trata-se de um megaprojeto do governo da China que despeja cifras bilionárias em investimentos e projetos de infraestrutura pelo mundo afora e é um dos principais instrumentos da ofensiva chinesa para ampliar seu raio de influência no mundo e tentar fazer frente ao domínio dos Estados Unidos na geopolítica global.

A possível adesão do Brasil foi um dos principais pontos postos à mesa pelo governo chinês nas tratativas diplomáticas para chegar à versão final do comunicado oficial que sairá do encontro entre Lula e Xi Jinping, com uma síntese de todos os acordos acertados entre os dois governos.

documento está alinhavado desde antes de o presidente brasileiro cancelar a viagem à China por motivos de saúde. É possível que, com o adiamento da visita, ocorram alguns ajustes pontuais no texto, mas o que há de mais substancial já está definido.

Lula se encontraria com Xi Jinping no último dia 28 de março em Pequim, mas cancelou a viagem por recomendação médica após ser diagnosticado com pneumonia. Nesta sexta-feira, o Planalto anunciou que a visita foi remarcada para os dias 13 e 14 de abril. O embarque para a Ásia está programado para o dia 11.

Questão sensível

A possível adesão à Nova Rota da Seda é um tema delicado porque tem potencial para melindrar a boa relação que o Brasil mantém com os Estados Unidos, mais ainda nestes tempos de acirrada polarização global que opõem China e Rússia a americanos e europeus — a guerra na Ucrânia, como se sabe, tem pintado com cores fortes as diferenças.

contexto explica o secretismo em torno da adesão do Brasil ao megaprojeto. Justamente em razão da sensibilidade do assunto e de seus possíveis reflexos diplomáticos, as tratativas sobre esse tópico da agenda com a China têm sido limitadas à alta cúpula do Itamaraty e a um grupo restrito de assessores presidenciais.

Indagada sobre as chances de a adesão do Brasil — ou ao menos a intenção de aderir — ser anunciada na visita de Lula a Xi Jinping, uma fonte da cúpula do Itamaraty limitou-se a dizer que esse assunto foi “um dos pontos do comunicado proposto” pelo governo chinês.

A questão é, antes de tudo, política e está diretamente ligada à guinada na estratégia da diplomacia brasileira a partir da posse de Lula. Sob a orientação do ex-chanceler Celso Amorim, conselheiro do presidente para assuntos internacionais, o Brasil já sinalizou que pretende voltar a apostar no fortalecimento dos Brics, o bloco de países emergentes do qual faz parte junto com Rússia, Índia, China e África do Sul.

O bloco foi pensado para funcionar como um polo alternativo de poder no tabuleiro da política global, historicamente dominado pelas nações mais ricas do mundo. Lula quer apostar nessa frente. A recente indicação, pelo governo brasileiro, de Dilma Rousseff para chefiar o banco de desenvolvimento criado pelos Brics, com sede em Xangai, tem sido apresentada como um gesto nesse sentido — a escolha de uma ex-presidente do Brasil para o posto é um sinal da importância que o país quer dar ao grupo.

Dentro do Itamaraty, há setores que veem nessa orientação um movimento muito mais ideológico, movido por resquícios da histórica visão antiamericana da esquerda, do que propriamente pragmático. Essas mesmas alas reconhecem, porém, que o estreitamento da relação com a China pode ajudar o país a destravar a economia.

Atração de investimentos

O discurso do governo brasileiro para justificar a possível adesão ao megaprojeto chinês nem precisa ser ensaiado: caso ela se confirme, Brasília dirá simplesmente que quer aprofundar, sem preconceitos, as relações com todos os países que possam ajudar a alavancar a atração de investimentos para o país.

despeito dos sobressaltos dos últimos anos, quando Jair Bolsonaro, movido por razões ideológicas, disparou sua metralhadora verbal contra a China repetidas vezes e esfriou a relação entre Brasília e Pequim, o Brasil mantém laços estreitos com a potência asiática, de longe o maior cliente das exportações brasileiras.

Ainda que a relação já seja suficientemente forte, o possível ingresso do país na Nova Rota da Seda seria um movimento importante para a China. Pela relevância do Brasil na América Latina, valeria como um troféu para o governo de Xi Jinping. Neste ano, o megaprojeto completa dez anos e a adesão brasileira seria uma maneira de marcar o aniversário com um anúncio de peso.

A Nova Rota da Seda conta hoje com 140 países. Duas dezenas deles estão na América Latina. Ao assinar um memorando de entendimento no início do ano passado durante um encontro com Xi Jinping, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou a promessa dos chineses de destinar US$ 23 bilhões ao país para obras e projetos.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Embaixador olavista e bolsonarista é exonerado do cargo na embaixada em Washington - Gabriel Bandeira (Metrópoles); carta de Paulo Roberto de Almeida

Antes da matéria abaixo, perrmito-me relembrar uma carta que escrevi ao bom diplomata Nestor Forster, quando ele foi nomeado embaixador em Washington: 

3760. “Carta aberta a meu bom aluno, Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington”, Brasília, 23 setembro 2020, 4 p. Cumprimentos ao novo embaixador e rememorando certas convicções do passado. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/carta-aberta-meu-bom-aluno-nestor.html). 


Itamaraty exonera embaixador do Brasil nos Estados Unidos


Nestor Forster foi indicado para o cargo pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e era defensor dos ideias do ex-presidente em Washington

Gabriel Bandeira
Metrópoles, 09/01/2023

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, foi exonerado do cargo pelo Itamaraty em publicação do Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (9/1). O diplomata assumiu a embaixada nos Estados Unidos por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao longo da sua trajetória, Forster defendeu a imagem de Bolsonaro para a imprensa americana, ao advogar a favor, por exemplo, da política adotada pelo antigo governo no combate à pandemia. Nessa ocasião, o diplomata chegou a enviar uma carta ao jornal norte-americano The New York Times para elogiar o ex-presidente.

A decisão foi assinada por Mauro Vieira na última sexta-feira (6/1) e, portanto, não tem relação com os atos de vandalismo registrados em Brasília nesse domingo (8/1).

Antes de assumir a cadeira, Forster coordenou o encontro de Jair Bolsonaro com representantes da direita nos Estados Unidos, como Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump.

Na sua sala de trabalho, um cartaz escrito “torne os bebês não nascidos bons de novo” (em inglês, Make unborn babies great again) fazia referência direta aos slogan do ex-presidente dos Estados Unidos e transparecia o pensamento conservador e religioso do embaixador.

Além disso, o diplomata contou com experiências no governo do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando foi chefe do Setor de Política Comercial da embaixada em Washington entre 1992 e 1995 e chefe do Setor Financeiro da mesma pasta entre 2003 e 2006.

Amizade com Olavo de Carvalho
Quando Olavo de Carvalho faleceu, em janeiro do ano passado, o embaixador utilizou as redes sociais para lamentar a morte do filósofo de extrema-direita.

“É uma perda imensurável para o Brasil e todos que o conheceram. Através de sua obra, ele deixa um legado eterno”, escreveu na época.

Forster era amigo próximo do pensador. Foi por meio do diplomata, inclusive, que Olavo e Ernesto Araújo, antigo ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro, se encontraram presencialmente pela primeira vez, como revelou o jornal O Estado de São Paulo.

Exoneração de cônsul em Nova Iorque
A mesma publicação oficial que exonerou Forster também comunicou a saída de Maria Nazareth Farani Azevêdo do cargo de cônsul do Brasil em Nova Iorque.

Farani Azevêdo foi representante brasileira permanente em assembleias das Nações Unidas e contou com mais de 20 anos de atuação em Genebra.

A diplomata ficou conhecida depois de discutir com o ex-deputado Jean Willys (PT) durante assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019, quando o antigo parlamentar responsabilizou Jair Bolsonaro pela morte da vereadora Marielle Franco.

O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, ainda não indicou quem assumirá os dois cargos vagos. No caso da Embaixada de Washington, a nomeação precisa passar pelo Senado Federal.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Brasil: fuga de cérebros disparou sob o bolsonarismo destruidor - Fábio Matos (Metrópoles)

 Número de profissionais que deixam Brasil rumo aos EUA bate recorde


A quantidade de profissionais do Brasil que se mudaram para viver e trabalhar nos EUA em 2022 aumentou 13 vezes em relação ao ano passado

Fábio Matos
Metrópoles, 27/12/2022

A quantidade de profissionais brasileiros com nível superior que deixaram o país para trabalhar nos Estados Unidos cresceu mais de 13 vezes em 2022, na comparação com o ano anterior. É o que mostra uma pesquisa do escritório de advocacia AG Immigration, que coletou dados referentes ao ano fiscal americano, que começa em 1º de outubro e termina em 30 de setembro do ano seguinte.

De acordo com o levantamento, em 2021, 147 brasileiros foram aprovados em uma das duas principais categorias de visto EB, conhecido como “green card”, que dá permissão para trabalho e moradia permanente nos EUA. Já em 2022, esse número saltou para 1.983, o maior já registrado.

A quantidade de profissionais do Brasil que se mudaram para viver e trabalhar nos EUA em 2022 supera a soma dos 19 anos anteriores da série histórica, iniciada em 2003.

Neste ano, o país foi o terceiro que mais teve aprovações nas principais categorias de visto EB. Em 2021, o Brasil ficou na 11ª colocação.

A pesquisa aponta que houve um aumento significativo na quantidade de brasileiros preenchendo vagas que exigem qualificação acadêmica nos EUA. Os profissionais que mais têm imigrado são os que atuam na área de tecnologia, como desenvolvedores, programadores, arquitetos e analistas de sistemas e gerentes de TI.

Também houve um crescimento expressivo de dentistas trabalhando nos EUA, pois se trata de uma profissão em que há escassez de profissionais no país. Em geral, os dentistas precisam fazer dois anos de pós-graduação para revalidar o diploma, mas já começam a receber propostas de trabalho em clínicas, consultórios e grandes redes antes mesmo de concluir o curso.

Segundo os últimos dados oficiais, os EUA têm atualmente cerca de 10,3 milhões de vagas abertas no mercado, para um contingente de desempregados que chega a 6 milhões. Ou seja, as empresas têm condições de absorver esse crescimento na oferta de profissionais brasileiros.

PIB dos EUA
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos registrou um crescimento de 2,9% no terceiro trimestre deste ano, na base de comparação anual, segundo uma nova estimativa oficial divulgada pelo Departamento de Comércio do governo americano.

A primeira estimativa havia projetado uma expansão de 2,6% da economia americana entre julho e setembro.

A nova projeção para o PIB dos EUA, divulgada no fim de novembro, veio acima das expectativas apuradas pelo consenso Refinitiv, que estimava uma alta de 2,7%.

Com o crescimento entre julho e setembro, o país interrompe uma sequência de dois trimestres consecutivos de retração econômica. No segundo trimestre de 2022, o PIB recuou 0,6%.

Em dólares correntes, o PIB americano subiu 7,3% na comparação anual no terceiro trimestre, para um nível de US$ 25,7 trilhões (R$ 136,3 trilhões). Trata-se de uma revisão para cima de US$ 35,7 bilhões (R$ 189,45 bilhões) em relação à estimativa inicial.

Apesar do bom resultado entre julho e setembro, a perspectiva é a de que os EUA enfrentem uma estagnação ou mesmo uma recessão econômica em meados do ano que vem.

https://www.metropoles.com/negocios/numero-de-profissionais-que-deixam-brasil-rumo-aos-eua-bate-recorde

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Biden e Lula trocaram juras de grande amizade nos próximos anos - Ricardo Noblat (Metrópoles)

O segredo que a cúpula do PT guarda a sete chaves

Quem poderá vir para a posse de Lula em janeiro

Ricardo Noblat
Metrópoles, 28/11/2022

Em 1964, o presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson autorizou o envio de força militar para, se necessário, garantir o sucesso do golpe do fim de março que derrubaria o presidente João Goulart e implantaria uma ditadura no Brasil.

A Operação Brother Sam consistiu no deslocamento da frota da Marinha norte-americana estacionada na região do Caribe para o litoral brasileiro. O apoio fora pedido pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, ligado aos golpistas.

O porta-aviões USS Forrestal partiu da Virgínia, bem como seis destróieres e quatro navios petroleiros. A viagem acabou abortada no meio do caminho, porque o golpe militar foi antecipado e não houve resistência. Não se disparou um único tiro.

No ano passado, pelo menos três emissários do presidente Joe Biden reuniram-se com autoridades civis e militares do governo Jair Bolsonaro para alertar que os Estados Unidos, desta vez, seriam contrários a qualquer tentativa de golpe.

O que eles apenas insinuaram, mas não disseram, uma vez que faltava mais de um ano para as eleições que ainda poderiam culminar com a vitória de Bolsonaro: se houvesse golpe, os Estados Unidos romperiam relações diplomáticas com o Brasil.

Não houve. Bolsonaro perdeu e Lula ganhou. E, no alto comando do PT, guarda-se a sete chaves a informação de que Biden foi convidado informalmente por Lula para vir à sua posse em 1º de janeiro. E que está estudando a possibilidade de vir.

Como vice do presidente Barack Obama, Biden visitou o Brasil duas vezes durante o governo Dilma – a primeira em maio de 2013, a segunda em junho de 2014. O que disse, na primeira visita, soou como elogio nos ouvidos do PT:

“O Brasil mostrou que não é preciso escolher entre a democracia e o desenvolvimento. Os brasileiros mostraram que política econômica e desenvolvimento social podem andar juntos”.

Biden foi o primeiro chefe de Estado que telefonou para Lula, na noite de 30 de outubro, parabenizando-o pela vitória. (Bolsonaro foi um dos últimos a parabenizar Biden por sua eleição.) Em nota distribuída à imprensa naquela mesma noite, Biden escreveu:

“Parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva por ser eleito o próximo presidente do Brasil após um processo eleitoral livre, justo e confiável. Espero trabalharmos juntos para continuar a cooperação entre nossos países nos próximos meses e anos”.

Dois anos antes, Biden celebrou sua vitória sobre Donald Trump que tentava se reeleger “como um triunfo da democracia” nos Estados Unidos. Agora, vê a de Lula como o triunfo da democracia no Brasil ameaçada por Bolsonaro nos últimos quatro anos.

Em junho do ano passado, Biden e Bolsonaro se encontraram pela primeira e única vez. Foi em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas, encontro que reuniu chefes de Estado e de governo da região. Na ocasião, Bolsonaro pediu ajuda para se reeleger.

Disse que os planos de Lula para governar iam contra os interesses americanos, e que os dele, a favor. Biden não respondeu, preferindo mudar de assunto. No dia seguinte, a Casa Branca deixou a informação vazar.

 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Uma estratégia para as Américas - Marcos Magalhães (Metrópoles)

 Uma estratégia para as Américas (por Marcos Magalhães)

A presença de Lula na COP 27 serviu para mostrar ao mundo que o Brasil estava de volta, disposto a reassumir seu papel de liderança
Marcos Magalhães
Metrópoles, blog Guga Noblat, 22/11/2022

De volta do Egito, onde conquistou simpatias ao apresentar ao mundo uma nova versão do Brasil, o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva tem pela frente as delicadas tarefas de compor o ministério e tecer a estratégia de inserção do país em um mundo em transformação.

A escalação dos colaboradores mais diretos vai esboçar a face da nova administração. Os sinais estarão claros nas indicações de nomes para pastas emblemáticas como Fazenda, Planejamento, Justiça, Relações Exteriores e Educação.

Ao público interno esses sinais dirão muito sobre as alianças preferenciais de Lula, as suas opções sobre política econômica, as suas apostas em áreas sensíveis como meio ambiente e os reposicionamentos que pretende promover em setores como educação e política externa.

Ao mesmo tempo que analisará cada detalhe desse processo de composição do governo que assume em primeiro de janeiro, um outro público – composto por observadores internacionais – também vai começar a coletar sinais de uma nova geopolítica.

A presença de Lula na COP 27 serviu para mostrar ao mundo que o Brasil estava de volta, disposto a reassumir seu papel de liderança nas negociações mundiais sobre o tema ambiental e, especialmente, sobre a questão climática. A viagem foi a mensagem.

A partir de agora, porém, cada movimento ou declaração de Lula será acompanhado em detalhes por analistas empenhados em decodificar as opções preferenciais da futura gestão em um conturbado cenário global.

É verdade que algumas das mais importantes opções estarão ligadas a temas como as negociações de um acordo com a União Europeia, a guerra na Ucrânia e o modelo das novas relações com dois importantes parceiros do Brics, a Rússia e a China.

Mas é aqui mesmo nas Américas que se encontram desafios e oportunidades capazes de moldar uma parte significativa da nova inserção do Brasil no mundo.

Entre os principais desafios estão as relações com dois vizinhos da América do Sul – Argentina e Venezuela. Entre as mais promissoras oportunidades, por outro lado, está a construção de uma parceria inovadora com os Estados Unidos de Joe Biden.

Tradicionalmente a política externa ocupa discreto espaço nas campanhas presidenciais brasileiras. Neste ano, porém, o atual presidente, Jair Bolsonaro, a inseriu em sua tentativa de disseminar temores sobre os efeitos de uma vitória nas urnas de seu oponente.

A Venezuela foi o bicho papão mais frequente. A volta ao poder de Lula, repetiu Bolsonaro ao longo de toda a campanha, poderia levar o Brasil a seguir o mesmo modelo autoritário de esquerda adotado por Nicolás Maduro. Um modelo, ressaltou o atual presidente, que levou centenas de milhares de venezuelanos a buscar a sobrevivência em países vizinhos.

Em sua versão 3.0, Lula terá a dupla oportunidade de marcar suas diferenças com o modelo venezuelano – do qual já foi bastante próximo – e de relançar seu papel de liderança regional ao estimular negociações já em andamento com a oposição que levem à realização de eleições livres e transparentes no país vizinho, preferencialmente antes da data prevista de 2024.

As deficiências democráticas na Venezuela não são novas. O pedido de ingresso do país no Mercosul, do qual está suspenso justamente por causa do autoritarismo, chegou a ser debatido durante um ano no Senado antes da concessão do aval brasileiro.

Como o próprio Lula se elegeu neste ano a bordo de uma ampla frente democrática, contra as tendências autoritárias da gestão Bolsonaro, a participação ativa em um esforço pela volta da democracia à Venezuela poderia reforçar seu papel moderador na região.

Sobre a Argentina, os fantasmas são outros: alta inflação e estagnação econômica. O atual presidente brasileiro recorreu várias vezes aos números do insucesso argentino para advertir os eleitores dos riscos para a economia de uma vitória da oposição no Brasil. Algo como o antigo Efeito Orloff: eu sou você amanhã.

A presença heterodoxa na equipe de transição instalada em Brasília serviu para estimular os temores disseminados durante a campanha eleitoral. A falta de uma política clara de responsabilidade fiscal, repetem os críticos, poderia levar à volta de índices inaceitáveis para a inflação.

As respostas a essas inquietações começarão a ser elaboradas a partir da indicação da futura equipe econômica, nas próximas semanas. Enquanto isso, no país vizinho, as autoridades tentam evitar que a inflação alcance os 100% anuais. Os brasileiros mais velhos lembram bem o que é isso.

Também aqui Lula tem a chance da renovação. Pode mostrar que é possível retomar o crescimento com baixa inflação, como já fez em seu primeiro mandato. E pode retomar em novas bases um projeto de integração regional largamente desprezado por Bolsonaro.

Rumo ao Norte neste que os norte-americanos gostam de definir como o Hemisfério Ocidental, restará definir o novo modelo das relações entre o Brasil e os Estados Unidos.

Durante os dois primeiros anos do atual mandato, Bolsonaro tinha no então presidente Donald Trump não apenas um colega, mas um ídolo. Ou um modelo a ser seguido no Brasil, com todo seu conteúdo de arrogância, mentiras e enfrentamentos. A direita da direita.

Bolsonaro apostou em Trump até o fim, o que ajudou a tornar quase gélido o relacionamento bilateral após a vitória de Joe Biden. Agora, em Washington, assessores do atual presidente e acadêmicos ligados às questões políticas das Américas apostam em uma reaproximação.

E aqui residem, talvez, algumas das boas oportunidades que se podem oferecer ao novo governo brasileiro. Lula já teve um primeiro encontro no Egito com o representante de Washington para a questão climática, John Kerry.

O novo governo brasileiro tem sido visto pelos norte-americanos como parceiro preferencial na questão ambiental e na definição de novos modelos econômicos.

Como disse ao jornal O Globo a diretora para os Andes da ONG Escritório em Washington para a América Latina (WOLA), Gimena Sánchez-Garzoli, os Estados Unidos querem, junto ao Brasil de Lula, ser os líderes globais do meio ambiente. “Querem ser parceiros numa relação verde e numa economia verde”, definiu.

A oportunidade está ao alcance do futuro governo brasileiro.

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.


segunda-feira, 7 de março de 2022

Diplomatas da gestão Bolsonaro celebram “apoio” de chanceler de Lula - Igor Gadelha (Metrópoles)

 Itamaraty abandonou a defesa do Direito Internacional, por pressão do Planalto, e essa postura une a direita bolsonarista e a esquerda petista, numa aliança de conveniência e oportunista que acaba se traduzindo numa postura "tucana", isto é, em cima do muro, indiferente, portanto, à Carta da ONU e às tradições, valores e princípios de nossa política externa. Fica feita minha denúncia.

Paulo Roberto de Almeida

Diplomatas da gestão Bolsonaro celebram “apoio” de chanceler de Lula
Atual gestão do Itamaraty comemora semelhanças entre sua posição sobre a Rússia e a de diplomatas ligados a opositores do governo Bolsonaro
Igor Gadelha
Metrópoles, 07/03/2022
Diplomatas brasileiros do alto escalão do Itamaraty têm celebrado, nos bastidores, as semelhanças entre as posições da atual gestão do Ministério das Relações Exteriores e de diplomatas ligados a partidos de oposição ao governo Jair Bolsonaro em relação à invasão russa na Ucrânia.
Integrantes da gestão Bolsonaro no Itamaraty ressaltam, principalmente, a posição do ex-ministro Celso Amorim, diplomata que foi chanceler brasileiro durante o governo Lula. Em entrevista à colunista Bela Megale, de O Globo, Amorim se colocou contra a adoção de sanções econômicas aos russos.
“Sou contra as sanções. Não vão resolver nada e criarão mais problemas para o mundo. O que tem que haver é a abertura do diálogo. Alguém que o presidente Vladimir Putin ouça precisa entrar nisso, talvez a China. Todos vamos ser afetados com o aumento de preços de fertilizantes, alimentos, entre outros itens”, disse o ex-chanceler.
A declaração de Amorim foi vista por atuais integrantes da cúpula do Itamaraty como um “apoio” à posição adotada pela atual gestão sobre o conflito. Em entrevistas recentes, o chanceler Carlos França defendeu que a posição do Brasil tem sido de “equilíbrio”, e não de “neutralidade”, como disse o próprio Bolsonaro.
Diplomatas que atuam na gestão Carlos França também destacam, nos bastidores, declarações dadas pelo ex-embaixador Rubens Barbosa, que comandou a embaixada do Brasil nos Estados Unidos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Na semana passada, Barbosa elogiou a atual postura do Itamaraty.
Segundo o ex-embaixador, “o Itamaraty está fazendo prevalecer a linha tradicional da chancelaria” perante o conflito no Leste Europeu. “O Itamaraty está atuando dentro de suas linhas, com uma posição muito clara sobre questões essenciais, como soberania e integridade territorial”, afirmou Barbosa ao jornal O Globo.
“Caminho certo”
Na avaliação da atual cúpula do Itamaraty, diante da “polarização política” existente no Brasil, as semelhanças de posicionamento e os elogios feitos por diplomatas ligados a opositores de Bolsonaro seriam demonstrações de que o Ministério das Relações Exteriores adotou “o caminho certo” perante o conflito na Ucrânia.
Essa comparação, no entanto, não agrada a todo mundo no atual governo. Como mostrou a coluna, auxiliares presidenciais que dão expediente no Palácio do Planalto admitem, nos bastidores, que a possível semelhança de posições apontada por adversários políticos tem repercutido mal na base bolsonarista.
Críticas a Bolsonaro
Tanto Rubens Barbosa quanto Celso Amorin, no entanto, fizeram críticas à postura e às falas de Bolsonaro em relação à Rússia. Logo antes da invasão da Ucrânia, o presidente brasileiro foi a Moscou e declarou, ao lado de Putin, que os brasileiros eram “solidários à Rússia”.
Bolsonaro também tem evitado condenar diretamente a Rússia pela invasão. Até agora, o Brasil condenou a ação russa em território ucraniano apenas por meio de posições no Conselho de Segurança, no Conselho de Direitos Humanos e na Assembleia-Geral da ONU.
Diplomatas da atual gestão do Itamaraty minimizam as críticas. Dizem que o que importa é a posição oficial do Brasil nos organismos internacionais, sobretudo no Conselho de Segurança, instância adequada para se discutir questões de conflitos entre nações. “O resto é procurar pelo em ovo”, diz um diplomata.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Covid afasta servidores de divisão do Itamaraty em trabalho presencial e acende alerta no órgão - Metropoles

 Covid afasta servidores de divisão do Itamaraty em trabalho presencial e acende alerta no órgão

Metrópoles Online
29 de Julho de 2021

Funcionários da Divisão de Comunicações e Arquivo do Itamaraty estão em trabalho presencial desde o início da pandemia

Três servidores públicos e dois funcionários terceirizados da Divisão de Comunicações e Arquivo do Ministério das Relações Exteriores estão afastados das atividades após terem testado positivo para a Covid-19 na semana passada. Eles trabalham presencialmente no prédio do Itamaraty, no setor que é responsável por serviços como a correspondência diplomática com embaixadas e consulados do Brasil pelo mundo.

Mesmo em órgãos públicos que adotaram majoritariamente o trabalho remoto ao longo da pandemia, como o próprio Itamaraty, setores considerados essenciais tiveram de se manter em expediente presencial dos servidores. É o caso da Divisão de Comunicações e Arquivo.

De acordo com o MRE, o setor tem 68 servidores lotados, dos quais 38 têm trabalhado presencialmente, mas em sistema de rodízio: metade numa semana, metade na outra. Os outros 30, segundo a pasta, estão em trabalho remoto.

Uma pessoa que trabalha no local relatou ao Metrópoles que uma servidora combinou de cobrir um colega na semana que não era a dela e compareceu ao trabalho presencial por 15 dias seguidos, os últimos com visíveis sintomas de Covid-19. Ao longo da semana passada, ela e em seguida mais quatro colegas desse mesmo setor acabaram testando positivo. Ainda de acordo com essa fonte, já há outros casos suspeitos - o que o Itamaraty não confirma ainda.

Outro ladoO MRE confirmou os cinco afastamentos de funcionários da Divisão de Comunicações e Arquivo após testes positivos de Covid-19 e alegou que segue protocolos para minimizar os riscos de contaminação.

"A área responsável pela limpeza e desinfecção do MRE foi comunicada dos resultados positivos e realizou limpeza cuidadosa das instalações", informou o órgão.

"Todos os servidores são orientados a usar máscara durante todo o expediente nos termos do Decreto 40.648 do GDF, de 23 de abril de 2020. Encontram-se disponíveis máscaras descartáveis e álcool em gel na unidade. O MRE adotou ainda rígido controle de segurança sanitária, com restrição de acesso, aferidor de temperatura nas portas de entrada, torres de álcool em gel, campanhas de conscientização, novo protocolo de tramitação digital de documentos e digitalização do atendimento sempre que possível", diz ainda a nota oficial.

A fonte que conversou com a reportagem reclamou, porém, que os protocolos não são seguidos por parte dos servidores e que não há cobrança para quem deixa, por exemplo, de usar máscara no ambiente de trabalho.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Pensamentos do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida, Metropoles

 Pensamentos do chanceler acidental

Paulo Roberto de Almeida

Antigamente, no tempo em que os animais falavam, havia o famoso livrinho vermelho dos “Pensamentos do Presidente Mao”, a bíblia dos jovens estudantes que estavam à frente da Revolução Cultural que o tirano chinês promoveu para se defender das acusações de seus adversários no PCC de que havia provocado a morte de 40 milhões de concidadãos com seu plano demencial do Grande Salto Para a Frente (1959-62).

Mao conseguiu matar mais 4 milhões de chineses (inclusive membros do partido) e destruir as universidades chinesas, superando largamente Stalin e Hitler (juntos) na sua sanha genocida.

Esqueçam tudo isso: depois, sob Deng Xiaoping, o PCC se transformou na maior máquina de construção do capitalismo num só país de toda a história econômica mundial, e conseguiu triunfalmente.

Agora, um poder mais alto se alevanta: o “Pensamento do Camarada Ernesto”, o patético chanceler acidental que conseguiu DESTRUIR uma das mais cultas instituições do Estado brasileiro, o Itamaraty, que afundou na lama o prestígio da diplomacia profissional brasileira, que rebaixou a níveis inimagináveis a imagem do Brasil no mundo e que ainda insiste em propagar a mediocridade sumamente ridícula de seu “pensamento” (sic três vezes), fazendo sua escolinha da pataquadas — no que ele transformou a Funag — publicar suas pérolas demenciais em referência de leitura para os diplomatas.

Mas isso ele vinha costurando desde o final de 2020, da mesma forma como já tinha feito uma coleção das bobagens que proclamou ao longo de 2019 no início do ano seguinte.

Nunca, em nenhum tempo na história do Itamaraty e da Funag, se tinha empenhado o tempo e o esforço de funcionários das duas instituições no esforço rigorosamente inútil de coletar tantas bobagens por centimetro quadrado, para tentar imitar a demência do presidente Mao. 

Nunca antes na história deste país, a loucura de um diplomata desequilibrado conseguiu ser difundida sob o abrigo, não de um, mas de dois ISBNs, que são os códigos sob os quais se catalogam os livros, esses discretos objetos de propagação de pensamentos úteis ao progresso da Humanidade.

Ainda falta mais uma contribuição da Funag para a difusão da mais demencial obra de confusão mental que um chanceler destrambelhado conseguiu imprimir ao já constrangido Itamaraty: coletar e publicar mais três meses (janeiro a março de 2021) do “pensamento” do camarada Ernesto, sem esquecer a culminação dessa loucura, que foi o seu mentiroso “balanço de gestão”, que eu estraçalhei numa avaliação que fiz e tornei disponível aos curiosos (neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/mentiras-falcatruas-e-falacias-do-ex.html?m=1).

O infeliz, patético e destruidor ex-chanceler acidental não se peja de se expor ao ridículo e de arrastar em sua demência precoce uma instituição tão respeitável quanto o Itamaraty. Mas não passa pelo meu crivo de resenhista implacável.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/04/2021


Itamaraty publica livro com o pensamento de Ernesto Araújo

Volume disponível para download gratuito traz discursos, entrevistas e artigos do ex-chanceler ao longo de 2020

Raphael Veleda

Metropoles, 25/04/2021 20:27

Demitido do cargo de ministro das Relações Exteriores há quase um mês, no dia 29 de março, o diplomata Ernesto Araújo está divulgando um livro que o Itamaraty publicou. Na obra “Política externa: soberania, democracia e liberdade”, figuram discursos, textos e entrevistas concedidas pelo então ministro ao longo de 2020.

Segundo a apresentação, trata-se de “fonte primária fundamental para todos os que se interessem por conhecer e estudar a nova política externa brasileira, baseada nos eixos da democracia; da transformação econômica e do desenvolvimento; da soberania; e dos valores da nação brasileira, eixos conjugados pelo conceito de liberdade”.

Entre os registros no livro está uma entrevista ao canal Terça Livre, do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito dos atos antidemocráticos e no das fake news, ambos sob a relatoria do ministro Alexandre de Morais.

Nessa entrevista, em fevereiro de 2020, Ernesto falou sobre “tecno-totalitarismo”, “democracias pós-nacionais” e “aliança liberal conservadora”, além de atacar o globalismo ao estilo de seu guru intelectual, o escritor Olavo de Carvalho.

Na época, o então chanceler compartilhou um trecho em vídeo de sua fala.

O volume traz ainda um dos textos mais famosos (e polêmicos) do ex-chanceler, intitulado “Chegou o comunavírus“, que ele publicou em seu blog em abril do ano passado, fazendo comparações entre a quarentena contra o coronavírus e os campos de concentração nazistas, gerando protestos da comunidade judaica no Brasil e até nos Estados Unidos.

O livro está disponível para download gratuito e foi editado pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), um braço do Itamaraty voltado à documentação.

Veja a divulgação que Ernesto fez de seu livro neste domingo (25/4):

Pensamento completo do ex-chanceler

A Funag já havia editado um livro com textos e entrevistas de Ernesto em 2019, o “A nova política externa brasileira: seleção de discursos, artigos e entrevistas do Ministro das Relações Exteriores”.

O link para baixar o novo livro do ex-chanceler é este. São, ao todo 62 textos, que ocupam mais de 700 páginas.

https://www.metropoles.com/brasil/itamaraty-publica-livro-com-o-pensamento-de-ernesto-araujo


sábado, 30 de maio de 2020

Nazismo de esquerda? Holocausto do STF? Polêmicas em série irritam Israel - Raphael Veleda (Metrópoles)

Nazismo de esquerda? Holocausto do STF? Polêmicas em série irritam Israel

Em ao menos 6 oportunidades, autoridades como ministros de Estado e o próprio presidente Bolsonaro fizeram relações que incomodaram judeu

ATUALIZADO 29/05/2020 8:41
Longe de ser um grande parceiro comercial ou diplomático do Brasil historicamente, o Estado de Israel aceitou com satisfação as tentativas de aproximação do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que desde antes de ser eleito já fazia acenos àquele país como forma de agradar ao eleitorado evangélico no Brasil. A relação entre as duas nações se fortaleceu desde então e as autoridades israelenses resistiram muito a reclamar oficialmente de uma espécie de banalização de citações ao nazismo promovida por membros do governo brasileiro.
A resistência foi quebrada após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, invocar o massacre judeu para criticar a operação ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra suspeitos de produzir e distribuir notícias falsas.
A estrada até o fim da paciência diplomática, porém, teve outros trechos marcantes. 
O nazismo “de esquerda”
As polêmicas foram inauguradas pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e por causa da fixação bolsonarista pela esquerda, que é sempre apontada como o pior dos inimigos.
Antes de entrar no governo, o chanceler já havia escrito um texto dizendo que o nazismo era um movimento de esquerda, contrariando o consenso histórico sobre o tema: o movimento nasceu da direita radical alemã.
Questionado pela reportagem do Metrópoles sobre o tema no início de abril, durante visita oficial a Israel, Bolsonaro não titubeou: “Não há dúvida. Partido Socialista… como é que é? Da Alemanha… Partido Nacional Socialista da Alemanha. Não há dúvida [que era de esquerda]”, disse.
Weintraub em campo
ministro da Educação, Abraham Weintraub, que é cristão, mas tem família de origem judaica, entrou no governo em abril do ano passado e, em outubro, fez uma postagem comparando o terror nazista a uma agressão ocorrida na Universidade de São Paulo. O titular da Educação também aproveitou para relacionar o ditador nazista Adolf Hitler ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alvim x Goebbels
Em janeiro deste ano, o então secretário de Cultura do governo, Roberto Alvim, saiu confiante de uma das lives semanais do presidente Jair Bolsonaro, na qual foi muito elogiado, e gravou um vídeo que acabou com sua trajetória no órgão e manchou a imagem brasileira mundo afora.
Alvim ainda tentou se segurar garantindo que a citação não havia sido proposital, mas a enorme pressão o derrubou no mesmo dia, em 17 de janeiro de 2020.
A repercussão foi tão ruim que obrigou o presidente, que no dia anterior havia prestigiado Alvim, a fazer uma declaração de desculpas. “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, disse Bolsonaro na época, em nota.
Ernesto, o “comunavírus” e os campos de concentração
Poucos meses depois, em abril deste ano, o chanceler Ernesto Araújo voltou a provocar o repúdio de entidades judaicas no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel após comparar as medidas de isolamento social impostas por governadores para conter o avanço do coronavírus no Brasil aos campos de concentração nazistas.
“Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada”, reclamou o Comitê Judaico Americano em uma nota oficial que exigia desculpas do diplomata brasileiro. Mas Araújo não apenas não se desculpou, como acusou de ignorância quem não gostou das palavras.
Dando bandeira
Outro fato que causa incômodo em porta-vozes de entidades judaicas é o uso da bandeira de Israel em manifestações que também têm pautas antidemocráticas, como o fechamento do Congresso.
No dia 4 de maio, após o presidente Jair Bolsonaro aparecer ao lado de bandeiras de Israel e dos Estados Unidos em um desses atos (imagem em destaque desta reportagem), Fernando Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), divulgou uma nota dura em nome da entidade: “Lamentamos o uso da bandeira de Israel, uma democracia vibrante, em atos antidemocráticos. Isso pode passar uma mensagem errada sobre a comunidade, que é plural, com judeus e judias em todo espectro político”, dizia o texto.
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Weintraub e a “Noite dos Cristais”
O silêncio da diplomacia israelense mesmo diante de reclamações cada vez mais ruidosas da comunidade judaica no mundo foi quebrado nesta quinta-feira (28/05).
Após o ministro brasileiro usar suas redes sociais para comparar a ação policial ordenada pelo STF contra suspeitos de integrar um sistema de distribuição de fake news a um dos eventos mais dramáticos da perseguição nazista aos judeus europeus, houve críticas oficiais de Israel.
O cônsul geral do país em São Paulo, Alon Lavi, foi o mais contundente. Ele fez cinco postagens divulgando o repúdio de entidades como o Museu do Holocausto do Brasil, o Comitê Judaico Norte-Americano e a Confederação Israelita do Brasil, acompanhadas de uma frase sua dizendo que o assassinato de 6 milhões de judeus não tem comparação com “qualquer realidade politica no mundo”.
Já a Embaixada de Israel no Brasil divulgou comunicado oficial sem citar o ministro Weintraub ou outros membros do governo, mas reclamando que “houve um aumento da frequência de uso do Holocausto no discurso público, que de forma não intencional banaliza sua memória e também a tragédia do povo judeu”.
A instituição faz então um pedido ao governo e ao povo brasileiros: “Em nome da amizade forte entre nossos países, que cresce cada vez mais há 72 anos, requisitamos que a questão do Holocausto como também o povo judeu ou judaísmo fiquem à margem do diálogo político cotidiano e das disputas entre os lados no jogo ideológico”.
Diante das duras cobranças, Weintraub voltou ao Twitter na noite de quinta. E não foi para pedir desculpas.